POR
NATUREZA GIGANTE
Olhando sua mão
levantada, agora se dava conta que a idade não podia se esconder justo nelas.
Pensando no que
os médicos tinham falado dele, não estaria vivo a muito tempo, mas ele
continuava existindo, indo em frente, agora com quase oitenta anos.
Tinha nascido
antes do tempo, porque era muito grande, segundo os médicos um movimento seu no
útero de sua mãe, poderia matá-la.
Pesava quase seis quilos, na hora que o retiraram mediante uma cesárea.
Sua avó reclamava
que ele já era muito pesado desde criança, o único que aguentava estar mais
tempo com ele no colo, eram seu avô, seu pai, pois eram altos. Os dois tinham por volta de um metro e
noventa.
Quando foi a
escola, ele sempre era o maior da turma, os pediatras estavam preocupados que
não fosse inteligente o suficiente.
Quando fizeram testes com ele, olhava na cara deles, pediam aqueles
jogos de colocar as peças dentro dos seus respectivos lugares, eles nunca
entenderam que ele fazia ao contrário de proposito, pois aquilo lhe parecia
chato. Amontoava todas como se fosse
uma construção, algumas vezes deixava a última em equilíbrio.
Quem prestou atenção
nisso foi uma psicóloga, o deixou brincando com todas as peças ali no chão, ele
construiu coisas diferentes, não colocou nenhuma nas caixas correspondentes.
Ela o deixou
fazer o que queria, no final disse, me ajudas agora a guardar tudo isso, ele imediatamente
colocou tudo aonde devia, inclusive separando por cores.
Virou-se para sua
mãe, teu filho não tem problema nenhum de retraso, ao contrário vocês vão ter
problemas, porque ele é inteligente.
Com 12 anos tinha
1,70 de altura, isso assustava seus companheiros, que fugiam dele no recreio,
até o dia que estava ali sentado, um grupo de mais idade jogava basquete, a
bola veio parar nos seus pés. De aonde
estava, numa diagonal, no final da quadra, pegou a bola, jogou como tinha visto
fazerem na televisão, a bola apesar da distância, passou pelo aro, o treinador
viu aquilo, ficou de boca aberta.
O único problema
era que ele usava óculos, para miopia.
Quando o chamaram
para jogar basquete, aceitou, só para poder fazer amigos, com isso acabou
capitão da equipe. Estavam em último
lugar na tabela de classificação, nos torneios escolares, ele conseguiu subir a
equipe até a final. Dizem as más línguas
que perderam a final, por um problema técnico.
Mas nos anos
seguintes, foram para cima sempre, ele além disso era o melhor aluno, em
qualquer matéria, tinha uma cabeça privilegiada.
Fez amigos, mas
aquela das garotas estarem atrás dele, todo mundo, baterem nas suas costas,
como se ele fosse o melhor do mundo, não o conquistou muito, pois entendeu que
tudo era por interesse.
Mas seguiu
jogando, quando entendeu que era a oportunidade de ir a universidade, pois seus
pais jamais iriam poder bancar a mesma para ele.
O que se
espantavam os olheiros, os que veem das faculdades para olhar os jogadores,
eram que suas notas eram excelentes, da maioria, nunca eram.
Era respeitoso,
com o entrenador, porque tinha aprendido isso em casa. Com 16 anos, quase véspera de ir à
universidade, começou um dia a passar mal. Sangrava, pensaram primeiro que era
pelo anus, depois dos exames médicos, descobriram que ele era
hermafrodita. Seus pais que eram
religiosos, ficaram chocados, mas ele sabia que no fundo, sua mãe sabia disso
tudo.
A coisa agora
era, ocultar isso, para conseguir a universidade ou desistir.
Fizeram um exames
mais exaustivo, os médicos se assustaram, porque ele tinha útero, além de com o
tempo, se não fizesse ginastica, teria peitos.
Pelo menos uma
universidade se interessou nele por causa das notas. Por sorte era do outro lado do pais, assim o
caso não seria um escândalo.
A principio se
sentiu confuso, sempre tinha se sentido homem, inclusive era bem dotado nesse
aspecto. A decisão do basquete era por
fazer amigos, quando percebeu que isso só tinha uma vantagem de ir à
universidade, foi deixando de lado.
Falaram com
muitos médicos, mas claro, os psicólogos, diziam que podia fazer uma série de
operações, a partir do momento que ele decidisse qual o sexo que queria.
Ele nunca tinha
sido burro, ao contrário, estava provado que seu Coeficiente era altíssimo, parou
uns dias para pensar, depois de conversar com um psicólogo, em quem sentiu
confiança.
Este lhe dizia
que a decisão tinha que ser só sua, pois quem viveria com isso o resto da vida
seria ele.
Seu pai, bem com
seu avô queriam que optasse por ser homem.
Mas claro isso implicaria numa série de procedimentos, operações, anos
de operações. Não estava disposto a
isso, porque quando consultava diretamente os médicos, agora ele exigia falar
com eles em solitário, sem sua família se meter no assunto.
A maioria, lhe
dizia que não saberia como se sentiria no futuro. Se até agora ele se sentia uma pessoa
completa, não viam por que se operar. O
que falavam do sangramento, tinha sido sua primeira menstruação.
Imaginem um homem
de 1,98 de altura menstruado, seria a gozação de todos.
Seu psicólogo,
lhe disse que resolvesse, não deixasse que nenhum especialista o analisasse,
vais virar um elefante de circo, te levarão para todos os congressos médicos,
para te exibirem.
Sua avô tinha um irmão
que vivia em Los Angeles, era casado sem filhos. O acolheram, trocou de nome,
pois isso se podia fazer.
Começou a ir a
universidade, fazia duas ao mesmo tempo, as pessoas diziam que uma não
encaixava na outra, estudava física, bem como literatura, sempre tinha amado os
livros.
Quando terminou a
universidade tinha finalmente 2,15 metros de altura. A coisa mais complicada
era comprar roupas, embora ele adorasse andar sempre de bermudas, como os
surfistas, ter camisetas imensas, seguia fazendo exercícios, tomou hormonas
para os peitos não crescerem. Tênis só
por encomenda, tamanho 48, mas o mais interessante é que tinha um ritmo
alucinante para seu tamanho.
Fez graduação no
MIT em física quântica, aos mesmo tempo que fazia um curso de escritura.
Mas chegou um
momento que a física deixou de interessa-lo, mesmo assim, acabou a graduação,
embora tivesse convites de trabalhos.
Pensou muito a respeito. Como o
seu psicólogo tinha falado, ele sempre se sentia um elefante de feira.
De repente seu
crescimento parou, teve uma mudança súbita no seu metabolismo, os médicos não
entendiam por quê. Os que o acompanhavam
a tempo, não entendiam em absoluto por quê.
Nesse período, se
sentia confuso, ansioso, calores. Um dos
médicos chegou à conclusão de que ele estava na menopausa, pela sua parte
feminina.
Pensava que puta
confusão, como posso ter menopausa, se não tenho nem trinta anos, mas claro os
exames concordavam. Foram meses de uma
sensação estranha.
Foi passar uns
dias com sua família, pela primeira ver percebeu que os incomodava, para seus
avôs que tinham idade, ele era uma aberração da natureza.
Aquele
aparentemente homem de 2,15 metros, que era ao mesmo tempo um homem/mulher.
Seus pais, no
fundo se sentiam confusos, eles mesmo tinham se acusado entre si, para saber de
quem era a culpa de ele ser assim.
Chegou à
conclusão que nunca poderia viver ali com eles.
O melhor era seguir mantendo uma relação à distância.
Seus tios, ao
contrário o queriam como filho, arrumou para dar aulas na universidade de Los
Angeles, em física e física quântica.
Ganhava bem,
alugou um apartamento só para ele, dizia que estava cansado de dormir com os
pés fora da cama, na verdade necessitava de espaço para sua vida.
Mandou fazer uma
cama especial para ele, sua tia confeccionou seus lençóis, o apartamento não
era imenso, mas para ele era perfeito.
Tinha tudo que precisava, um espaço para seus livros, uma grande
poltrona que mandou fazer, para se sentar para ler.
Uma boa mesa de
trabalho para preparar aulas no seu laptop, tinha assim conseguido um
equilíbrio. Na universidade, se dava
bem com todo mundo, embora sempre quisessem arrumar uma namorada para ele.
Quando ia a
praia, ia muito cedo, na hora que esta não estava muito cheia, ou no final do
dia.
Seguia fazendo
largas caminhadas, fazia exercícios, na barras que tinham perto do posto salva
vidas. Mas o que incomodava as pessoas,
era sua introspecção.
As vezes ria, se
sentia atraído por uma mulher, em seguida por um homem, mas nunca se decidia
dar um passo além.
Um dos
companheiros de universidade, quase tão alto quanto ele, estava passando por um
momento difícil. Um dia estava sentado
nos jardins, lendo um livro, ao mesmo tempo comendo um sanduiche. Este se sentou na sua frente.
As vezes sinto
inveja de ti, foi seu primeiro comentário.
Aparentemente estas sempre em paz, não ter vejo nervoso, mas bem sim
controlado.
Eu ao contrário,
estou sempre descontrolado. Meus
relacionamentos, sempre dão errado, pois acham que com todo esse tamanho sou
tonto, o que não é verdade.
Muita gente se
apaixona pelo que tenho no meio das pernas, mas depois de saciarem sua curiosidade,
me deixam de lado, minhas conversas, os assuntos que me interessam, não fazem
parte do universo deles.
Lhe respondeu que
disso ele entendia, que os assuntos que o fascinavam, a maioria das pessoas,
não se interessavam. Um psicólogo que
me acompanhou durante muito tempo, me dizia que eu tinha que tomar cuidado para
não virar um elefante de circo de variedades.
Começaram a
conversar, com o tempo virou uma amizade.
Gordon Brown, ao
contrário tinha sido uma estrela no basquete, tinha deixado, por um acidente.
Mas tinha feito universidade com notas excelentes, ele era professor de
Literatura americana.
Discutiam muito a
falta de escritores negros.
O pessoal falava
dos dois, imagina aqueles dois, desse tamanho sem namoradas.
Scott na verdade
passava disso, as vezes alguma pessoa se aproximava, se insinuava, inclusive
alunas, pois ele não era feio. Pedia
desculpas, mas dizia que tinha um compromisso sério.
Um dia estavam
entrando em sua casa, para emprestar uns livros para o Gordon, quando este no
corredor, pegou sua cabeça entre as mãos, o beijou.
Foi um susto,
pois não esperava. Se separou, perdão
Gordon, temos que conversar, eu não quero perder um amigo.
Gordon, lhe
confessou que sempre tinha sido gay, as complicações que isso implicava, quando
comecei a falar contigo, eu tinha sido abandonado por um companheiro, ele só
queria o meu piru.
Pela primeira vez
na sua vida, se abriu, falou que era hermafrodita.
Gordon,
respondeu, não me importo muito, pois na verdade creio que somos como dizem
sempre, a meia laranja, ou a alma gêmea um do outro.
Um dia disse ao
Gordon que ia ao médico que o acompanhava a anos, precisava saber os cuidados a
tomar.
Então vou contigo,
já que estamos juntos, nada mais certo que eu sabia dos limites que tenho.
Quando se
apresentaram juntos o médico riu, disse que ele tinha não só arrumado alguém a
sua altura, bem como podia compartir sua vida.
Só não te
aconselho a ficar gravido, pois isso é uma coisa que pode acontecer, tens o
útero não desenvolvido, pelo tamanho dos dois, seria uma criança grande demais,
poderia te matar.
Talvez seja a
hora dos dois conversarem, decidirem qual seria tua opção, homem ou mulher,
antes que o tempo passe demais.
Foi o que
fizeram, conversaram muito, ele ainda foi várias vezes ao seu psicólogo para
conversar, tinha que tomar uma decisão, gostava de ser homem como o Gordon na
cama se davam bem, nunca tinha se sentido uma mulher com ele. Sabia que ele o queria como homem também,
pois tinha conversado a respeito.
Esperou chegar a
época das férias, fez a operação, Gordon não saiu do seu lado, retirou o útero,
ficando somente com sua parte masculina.
Quando se refez
de tudo isso, Gordon um dia soltou, se um dia os dois quisessem filhos, podiam
adotar, pois ele próprio tinha sido adotado num orfanato.
Tive sorte, de
ter uns pais adotivos que me queriam.
Infelizmente morreram anos atrás num acidente de carro, não tinham como
esconder que eu era adotado, pois eram brancos, eu negro. Mas o mais importante era isso, me queriam,
eu era o filho que eles desejavam, por isso me esforcei ao máximo para ser bom
aluno, um atleta, pois meu pai adorava o basquete.
Portanto se um
dia pensamos, tem muita criança no mundo esperando um pai adotivo.
Um dia foi com
ele ao orfanato, justo naqueles dias, uma jovem, queria dar seus filhos em
adoção, eram gêmeos, um branco, outro negro, de pais diferentes. Ela conversou com eles, estava na
universidade, tinha sonhos, fui irresponsável confesso, mas meus pais são muito
estritos, nunca aceitaram isso.
Adotaram os dois,
como ainda não existiam os casamentos gays, cada um adotou um, assim não eram
separados.
Nunca pensaram
que seriam tão felizes, os companheiros falavam, mas eles passavam por cima
disso. Depois de quase 15 anos juntos,
quando saiu os primeiros casamentos gays em San Francisco, se casaram
tranquilamente, sem confusão.
Sua tia era a
única que sabia de tudo, os apoiou, adorava os meninos, tinha sempre com ela,
uma foto dos dois, um em cada braço.
Agora trinta anos
depois, olhava para trás, Gordon, estava ao seu lado como sempre, estavam
aposentados, levavam uma vida tranquila, numa cidade perto de San Diego, a
beira do mar.
Os meninos, tinham
crescido, achavam natural, um pai branco, outro negro, já que eram assim.
Sabiam que era
adotados, mas isso não lhes importava. Um
era médico, o outro era um dos escritores mais promissores da América.
A mãe deles tinha
aparecido algumas vezes, mas claro estava o fator de que nunca tinham convivido
com ela. A tratavam bem, com educação,
como tinham sido ensinados. Mas não iam
muito além disso.
Porque olhas
tanto tua mão, lhe perguntou Gordon?
Porque nelas
posso ver que o tempo passou, que sobrevivi, vivi, sou feliz contigo, tinham
enfrentado todos os problemas juntos, sempre.
Nada do famoso comeram perdizes, foram felizes, mas estavam sempre
dentro da realidade.
Quando ele teve
câncer nos peitos, talvez porque nunca se desenvolveram, Gordon esteve aí como
sempre, o apoiando.
Ele quando teve
câncer de próstata, foi igual, ficou ao seu lado para tudo.
Os dois agora
tinham os cabelos brancos, esperavam por netos, mas os meninos não estavam para
esse labor.
O que era médico
trabalhava em Urgência, sua grande paixão, dizia que não sobrava tempo, o
outro, vivia indo pelo mundo, era jornalista, além de escrever livros muito
solicitados.
Eles agora estava
sos outra vez, as aves tinham voado do ninho, como dizia o Gordon, mas tinham
um ao outro.
As vezes algum
vizinho passava pela rua, via aqueles dois homens imensos, de mãos dadas,
balançava a cabeça, como dizendo, como é possível. Mas para eles isso não significava nada.
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