lunes, 23 de enero de 2023

GRITOS SURDOS

 

                                

 

Lamentava o que tinha acontecido na noite anterior, mas sabia sempre o caminho a tomar, por isso estava de novo no seu psicólogo.  Esse ia estranhar, mas como uma bofetada, seus pesadelos tinham voltado.

No dia anterior, seu irmão mais novo, com o qual não tinha tido muita convivência, a partir que era filho de seu pai, com sua segunda esposa, tinha aparecido de visita, quando abriu a porta o viu vestido de militar, tinha explodido.

Esse puto velho te convenceu, lhe disse que sequer dizer bom dia ou qualquer outro cumprimento.  Espumava de ódio, demorou para se acalmar, piorou quando o outro lhe contou que tinha entrado para o exército, porque seu pai lhe contava seus logros.

Tudo mentira desse velho asqueroso.  Não entendeste ainda que é um hipócrita, tudo bem é um coronel, mas nunca foi a guerra, se limita a treinar as pessoas, mas nunca matou ninguém, tampouco viu morrer nenhum companheiro em seus braços, nunca viu a miséria dos países que outros como ele dizem que temos que ir para salvar o mundo.

Não é o que ele diz.  Mostra seus galões triunfantes, conta histórias.

Nada disso é real, venha comigo, mal deu o tempo de seu irmão colocar a bagagem no chão o saiu arrastando, antes lhe mostrou sua prótese da perna direita, ele te falou disso?

Não sabia que tinhas uma prótese.

Pois essa é a verdade, tampouco te contou que levo anos entrando, saído de clínicas, por causa dos meus problemas psicológicos, tentando deixar as drogas para dormir, para despertar, coisas que me faça esquecer o que passei.

O enfiou em seu jeep, de malas maneiras, o levou a casa de um general retirado, se apresentou como sempre ali, de supetão, fez o mesmo lhe contar ao irmão quem era seu pai na verdade.

O General o chamou de lambe botas, de puxa saco, esse filho da puta nunca foi a uma guerra, aproveitou que seu pai foi militar, para sempre escapar.

Ele gravou a conversa inteira com o General, pediu para o irmão chamar o pai, este atendeu, pensando que ele estava em algum campo de treinamento.  Ele tirou o celular da mão do irmão, disse estou mandando esta gravação para todos teus amigos do Pentágono, bem como para teus amigos que você vive contando mentiras.  Manda mais um filho para morrer, em nome da tua idiotice, estás fudido, mando também para todos os jornalistas de Washington, para publicarem umas verdades sobre ti.

O velho gritava para que ele não fizesse isso, mas já tinha apertado o botão, ali estava gravada a conversa do general, com seu irmão, bem como coisas que ele sabia.  Tinha convencido seu irmão menor de ir a guerra quando ele estava em Iraque.  Este morreu na primeira saída, pois não estava preparado.

Fazia o mesmo com esse agora, mandou a gravação para a mãe dele também, assim saberia com quem estava casada.

Voltaram para sua casa, pediu que o irmão colocasse outra roupa, lhe disse claramente, não te conheço, mas se fosse tu, saia do pais, mas não ia para o exército.

Foram para a praia, o foi apresentando uma série de ex-militares, como ele todos com problemas, um lhe faltava um braço, outro um olho, enfim mil misérias.

De noite, acordou de uma maneira que não se lembrava a muito tempo, aos gritos, que iam aumentando de volume, para acabar num grito surdo como ele dizia, um grito sem som nenhum, com os olhos arregalados.

Quando seu irmão conseguiu por fim acalma-lo, resmungou, mais uma vez terei de mudar de casa, pois os vizinhos vão reclamar, embora vivesse no último andar, se escutava tudo.

Passou uma duas horas, chorando, se lembrando de tudo, principalmente da última vez, o comboio tinha entrado numa aldeia, no centro da mesma embaixo de uma árvore estavam todos os velhos, crianças, mulheres mortos, mal entraram sofreram um ataque massivo.

Ele foi um dos poucos que sobreviveu, quem conseguiu avisar a base.

Mas da maneira que tinha caído, olhava para um garoto morto, com a boca escancarada num grito surdo como ele chamava, se via que estava gritando na hora de sua morte.

Isso tinha acabado com o pouco de tinha de cabeça, mais ainda quando voltou, depois de meses na Alemanha, aonde tinha acabado por amputar sua perna. Desde um pouco abaixo da articulação, usava uma prótese, tinha acabado caindo da cama.

Seu irmão estava horrorizado.

Ele se levantou, usando as muletas, foi para o banheiro, se colocou embaixo do chuveiro, chorando como uma criança, pediu que ele fosse embora, mas que o escutasse, encontre com tua mãe uma maneira de escapar disso.  Ela é rica, pode te ajudar.

Ele ao contrário tinha entrado para o exército, porque mal podiam viver da miséria de mesada que seu pai dava para ele, e seus irmãos, eram mais três, duas garotas depois dele, além do pequeno que tinha morrido.  Isso levou sua mãe ao desespero.

Mas o coitado tinha procurado seu pai, pedindo ajuda, este o convenceu de entrar para o exército como tinha feito com seu único filho desse segundo casamento.

Esperou um bom tempo, pois não tinha consulta marcada, contou tudo para o psicólogo, volto a ter pesadelos, creio que quando volte, encontrarei o proprietário pedindo que saia do mesmo.

Isso já tinha acontecido mil vezes.   Pior agora não tinha dinheiro para entrar para um clínica, as do exército nem pensar.

Quando saiu da consulta, seu celular tinha várias chamadas, viu que era da mulher de seu pai, chamou, estava meio histérica.   Perguntou se realmente era verdade?

Sim, ele vai negar mas é tudo verdade, nunca foi a guerra nenhuma, conta mentiras para todo mundo, eu fui a guerra porque não podia ir a uma universidade, já não tinha direito a pensão dele.   Mas o filho da puta convenceu meu irmão pequeno quando foi pedir ajuda para ir à universidade que fizesse o mesmo, morreu dois dias depois ao chegar.

É isso que a senhora quer para seu filho. Que volte dentro de um caixão, que tenha que viver o resto de sua vida com uma bandeira, que nem serve para limpar a bunda.

Só a escutou dizer, o coloquei hoje para fora da minha casa, estou movendo tudo, para evitar que meu filho siga no exército, me chamou chorando, é um menino que não tem experiencia nenhuma de vida.

Quando chegou em casa, não viu o proprietário, tomou duas pastilhas para dormir, fechou tudo, ficou com a casa no escuro.  Tirou a prótese, se jogou na cama.

Despertou outra vez de madrugada, usava para evitar os gritos, uma espécie de mordaça, tinha aprendido com um amigo seu, colocava um aparelho desses que usam os que tem bruxismo, para proteger os dentes, bem como uma mordaça de uma fita adesiva, como essas que se viam em filmes policiais, assim os gritos ficavam baixos.

Sabia que o sonho ia se repetir uma e outra vez.

Viu que seu celular, tinha mensagens de suas duas irmãs, graças a deus as duas tinha escapado de um destino horrível.  Uma era enfermeira num dos melhores hospitais de Los Angeles, a outra advogada num bom escritório.

Quando se livrou de tudo isso, as chamou as duas disseram o mesmo, leia os jornais, bem como olhe os tele diários.

Era sobre o seu pai, entrevistavam vários amigos dele, que pensavam que eram um homem curtido das guerras.  Outros o consideravam um bufão.

O pentágono o tinha colocado na rua, por falsificar, papeis que atestavam que tinha estado na frente de batalha.

Quando abriu a porta para sair, para ir comprar pão, deu de cara com ele, apontava uma arma para ele.

Ficou rindo, pois a arma estava travada, lhe deu um murro na cara, o deixando desacordado, chamou a polícia, o denunciou.

Se negou a retirar os cargos, ele o tinha ameaçado com uma arma, se sentia melhor se vingando dele.

No dia que o julgavam, ficou sentado na última fila, a quantidade de papeis que o fiscal tinha conseguido contra ele era muita.

Pelo visto tinha vivido sua vida inteira uma imensa mentira, podia ser julgado pelos militares, mas estes abriram mão por causa do escândalo, que tinha provocado.

60 por cento dos papeis de suas promoções, eram falsos.

Se via que ele estava alterado, quando o chamaram para depois, ele exigiu que falassem dos títulos que tinha, mas o fiscal se dirigiu a ele, por seu nome normal.  Lhe disse que o exército, tinha lhe retirado qualquer título.

Quando o juiz leu sua sentença de 15 anos de prisão por falsidade ideológica, ele espumava, foi então que se levantou, deixando que o visse.

Vou te matar filho da puta, ninguém pode comigo.  Pensaram que ele estava ameaçando o juiz, que lhe deu mais cinco anos de presente.

Saiu dali, no seu velho jeep, que era a única coisa que tinha de valor, estava seu saco de roupa, foi embora sem destino.  Tinha uma pequena paga de pensão por invalidez, daria para viver em alguma cidade pequena do interior.

Saiu sem destino, rindo feliz pela primeira vez em muitos anos.

Era uma vingança, ele sabia disso. Mas se olhasse para trás, o abandono que esse homem tinha feito com sua família.  Tinha passado a vida inteira arrotando caviar, quando devia comer merda do chiqueiro que era mentalmente.

Tinha visto sua mãe ir fenecendo, lentamente, trabalhando como uma louca como costureira, para os manter alimentado, vivendo num edifício miserável, enquanto ele vivia numa mansão, claro as custas da atual mulher.

Agora pelo menos estaria no meio da escoria a que pertencia.

Passou vários dias acampando no deserto, tinha parado para pensar, pois se tinha pesadelos, ali podia gritar à vontade, quando muito espantaria os escorpiões.

Quando acabou seus mantimentos, foi até a cidade mais próxima, mas foi acampar outra vez, aos pés de uma montanha.

Encontrou por ali, um pequeno riacho que desaparecia de repente no meio das pedras.

Ali pela primeira vez conseguiu dormir sem tomar remédio nenhum.

Um dia despertou com um velho índio, sentado de cócoras em cima de uma pedra o observando.

Ele lhe disse bom dia, colocou sua prótese, se levantou, colocou mais lenha na pequena fogueira para fazer café, estendeu uma caneca limpa com café ao homem, que seguia o olhando sem dizer nenhuma palavra.

Quando viu, estava contando para o homem sua história, falando inclusive dos seus traumas, seus pesadelos.

O homem seguia sem falar, o pegou pela mão, entrou numa cova, logo em seguida de aonde estava, só então entendeu que tinha acampado num lugar sagrado pelos índios, pediu desculpas, não sabia.

O homem o fez entrar numa gruta, que estava iluminada com tochas molhadas talvez em petróleo.  Viu então de aonde vinha a agua do riacho, o homem se sentou, lhe disse para fazer o mesmo.

Ele tirou a prótese, mas claro para isso tinha que tirar suas calças, o homem disse que devia ficar como estava, ali sentado no chão na frente dele.

Fechou os olhos, começou uma viagem que nunca poderia imaginar, sem tomar drogas, nada que o induzisse.

Toda sua vida passada, enfrentando o mesmo homem, o que era atualmente seu pai, um sujeito que sempre tinha sido egoísta, covarde, para não citar coisas mais complicadas.

Em nenhuma vida, ele tinha deixado de lutar contra ele.  Agora entendia a raiva que tinha dele desde criança.  Era um homem frio com os filhos.

Foi ficando ali com o velho índio, quando esse disse que tinha passado esse tempo refletindo sobre a vida, o levou até aonde vivia, num povoado de casebres, aonde ele era o chamã, ninguém perguntou nada a respeito dele.

Foi aprendendo com o velho uma série de coisas, o ajudava em sua horta com as ervas, agora com a chegada do inverno, era o tempo de recolher o que se podia, fazer pequenas porções, deixar para secar.   Aprendeu o uso de cada uma.  Uma vez por semana, ia até a cidade mais próxima, para usar num locutório, um telefone, para chamar as irmãs, assim sabia noticias delas, bem como de sua mãe.

Um ano depois, soube que tinham assassinado seu pai em prisão, alguém descobriu que as histórias que contavam era mentiras, tinham lido na biblioteca, jornais antigos sobre ele.

Cada um tem o fim que merece, foi tudo que comentou.  Sua irmã que era advogada, ainda comentou que tinha se juntado a um grupo de raça ária, que esses não tinham perdoado suas mentiras.  Isso era uma coisa compulsiva nele.

Nenhuma de suas irmãs, pensava em casar-se ter filhos, tinham tido uma vida muito desgraçada, para desejar colocar filhos no mundo.

Ele foi ficando, só sabia mais ou menos do tempo, contando as estações, primavera, verão, outono, inverno, pelo que plantava em cada uma.

Agora se reunia com os outros homens que tinham sobrado da tribo, numa velha cabana, aonde o velho praticava antigos rituais, levou um bom tempo, apareceu um homem que tinha servido o exercito como ele, tinha os mesmos problemas, o velho lhe disse que ele devia cuidar desse homem.   O levou para essa cabana, aonde usavam ervas, nas brasas, isso além de escutar tudo que o outro falava que tinha visto, como tinha sido usado pelos seus superiores, contava que dali tinham saído cinco rapazes, enganados pelos recrutadores, mas que agora ele jamais ia permitir que voltassem ali.   Só ele tinha retornado, tinha sido colocados num regimento, aonde só existiam como dizia um comandante a escoria da sociedade, negros, mexicanos, homens que para escapar da prisão entravam no exército, eram uma bucha de canhão perfeita, ninguém ia sentir falta deles.

Os dois podia levar dias conversando.  Se tornaram amigos, ele sempre estava ali, quando o outro tinha pesadelos, agora já podia falar dos seus com alguém.

Os dois ajudavam o velho em tudo, inclusive com suas economias, tinham comprado um trator de segunda mão, que Osborne consertou, aravam a terra, ajudando a tribo, plantando milho, trigo o que fosse necessário.  Iam nas terras sem cultivar das pessoas da tribo, quando fizeram a primeira colheita de milho, já não necessitavam de ajuda do governo, depois fizeram a de trigo, estudaram uma maneira de guardar o que sobrava para os meses de inverno, para distribuir entre as pessoas.  Algumas mulheres, sempre traziam tortas de trigo que faziam para eles, mas também aprenderam a fazer.    Um dos homens trouxe vários cavalos, misturados de Mustang, com outros abandonados.  Esse se dedicava a ir pelas fazendas, comprar cavalos, éguas que as pessoas não queriam mais.  Davam ali seu repouso de guerreiro.  Construíram entre todos um grande celeiro, aonde deixar os animais durante os meses mais pesados de inverno.

Como por milagre, algumas éguas tiveram potros, que eram a alegria da criançada.

Nesses meses como não podia ir à escola da vila mais próxima, eles, que tinham aprendido um pouco ensinavam as crianças.  Tinham encontrado o equilíbrio numa vida simples, não permitiam aos jovens, porque lhes ensinava com exemplos, bebida, drogas, a maioria das vezes conseguiam.

Quando apareceram recrutadores, os expulsaram dali, desta vez não levavam nenhum jovem para serem bucha de canhão.

Eles agora tinham aprendido do velho, ensinavam os valores antigos da raça, Osborne, ria muito quando o velho o chamava de cavalo tonto, quando lhe perguntou por que, lhe disse que era por sua maneira de andar com a prótese.

No inverno seguinte, fizeram uma coisa os dois, se documentaram aonde, existiam índios que tinham perdido tudo por culpa do exército, que viviam pelas ruas como homeless, ou nas drogas, os catequisavam, construíram uma cabana imensa, a moda antiga, com uma grande lareira ao centro, os que quiseram vir, eles purgavam, ensinavam a conviver outra vez ali, se recaiam nas drogas, o mandavam voltar de aonde tinham saído, mas a maioria ficava, tinham todos largas conversas pelo que tinham passado, quando chegava a primavera, ajudavam a todos no campo, eles mesmos cultivavam uma boa parcela de terra, plantando o que necessitavam, milho, batatas, trigo, assim tinham como se manter no inverno.

Todos tinham uma pensão do exército, conseguiram na cidade uma índia que era professora, entre todos construíram uma escola para os mais pequenos.

Esta acabou se casando com um dos homens recuperados por eles.

Outros, que tinham sofrido na carne abusos sexuais, criavam casais entre eles.

Numa das idas a cidade, uma senhora se aproximou, tinha ido visitar uma irmã sua que era freira num orfanato, ali estava duas crianças descendentes de índios, que ninguém sabia de aonde eram.   Conseguiram com a ajuda desta trazer as crianças, a casa do velho agora era deles, as criavam como seus filhos.

Tinha com o Osborne uma relação, baseada na confiança, no amor que acabaram descobrindo entre eles.

O velho ninguém sabia a idade certa, nem ele mesmo, um dia faleceu, antes de morrer, disse que ele estava preparado para ajudar ali, veja tudo que vocês dois fizeram pela gente daqui, continuem ajudando.

Os dois chegaram a ver seus dois filhos adotivos, bem como outras crianças, irem à universidade, com bolsas de estudos, eles batalhavam para isso.

Chegou um momento que sua irmã que era enfermeira veio viver ali com eles, os ajudava a cuidar dos enfermos.  Falava com a outra, sem querer encontrei a paz que buscava a tanto tempo, passou a viver com um dos homens que ali estava, já a muito tempo recuperado, mas seguiam fazendo o de sempre, a temporada que ia buscando irmãos perdidos, não lhes importava a que tribo pertencessem ali, formava uma tribo a parte.

Chegou um momento que perdeu noção também da idade que tinha, com o tempo deixou de usar a prótese, para andar com muletas.   Uma vez voltou com Osborne aonde o velho o tinha encontrado, estiveram ali retirados quase um mês, durante o inverno.

Quando voltaram a sensação que tinham era que voltavam para seu lar, ou o que fosse isso, tudo tinha seguido funcionando como se eles estivesse sempre presente, isso era salutar.

Nas parcelas de terras agora, todos tinham cavalos, o homem que tinha trazido os primeiros, seguia fazendo o mesmo, saia pelos rodeios, trazia cavalos que ninguém mais queriam, cuidavam dos mesmos, seguindo os ensinamentos do velho, cada família tinha agora, pequenos celeiros para terem seus animais.   Juntaram durante muito tempo, todos com os excedentes que vendiam como uma cooperativa, trouxeram ovelhas, que alguns criavam, as mulheres aprenderam a trabalhar em teares, que Osborne construiu seguindo um livro antigo, agora eram capaz de fazerem mantas como as antigas faziam.  Ele tanto movimentou que conseguiu que um senador, conseguisse, um grupo pequeno de búfalos, os começaram a criar livres, só comiam a carne dos que ficavam mais velhos.   As crianças voltaram a aprender a usar arco e flecha, para voltarem ao tempo passado.  Aprendiam a usar os cavalos sem artefatos como os homens brancos.  Ele mesmo, cavalo manco, montava, usando somente uma perna, levou tempo, mas conseguiu encontrar o equilíbrio.

Na vez seguinte quando foram para o retiro espiritual como ele chamava, levaram um grupo de jovens, para alguns a princípio, era como ir de excursão, quando chegaram lá, viram que era outra coisa, todos se compenetraram.

Um dos seus garotos que tinha estudado medicina, voltou, foi aprendendo ajuntar o que tinha aprendido na universidade, as medicinas do velho, que já sabia desde criança.

Ele foi a revelação dessa última viagem deles, pois viram que tinham um poder de cura, muito particular, seria o próximo chamã, nem ele, tampouco Osborne se consideravam chamamés, mas sim um discípulo do velho.

Peter montou uma pequena clínica, no meio do caminho entre aonde viviam, e a vila mais próxima, assim podia atender a todos, sua irmã que era enfermeira, ensinou tudo a um grupo de garotas, algumas foram estudar fora, outras ficaram ali ajudando.

Sempre havia uma que estudava para professora, para seguir cuidando das crianças.

Alguns iam fazer universidade, não voltavam, ninguém dizia nada, pois como o velho tinha lhe falado, as pessoas têm direito a voar com suas própria asas e destino.

Agora velhos, se sentavam na varanda da cabana, ficavam olhando os mais jovens trabalhando no campo.  Tinham meios de subsistência próprios, o orgulho voltava a existir entre eles.

Ele que estava perdido, tinha encontrado seu caminho.  Agora sonhava muito com o velho que lhe dizia que sua próxima vida teria outro caminho a seguir.

Sabia que mais dias, menos dias, deixaria de existir, mas isso já não importava, tinha feito algo de valor.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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