lunes, 9 de enero de 2023

FRIEND'S FOREVER

 


 

 

Olho para trás, sinto um vazio imenso.  Sou o único que resta de uma amizade entre três amigos, ontem me aposentei, a festa foi concorrida, embora sentisse já esse vazio, faltavam meus amigos mais íntimos ali.  Olhava pelo vasto salão, cheio a rebentar, mas não os encontrava, me dei conta que finalmente estou ficando velho, que olho para trás procurando esses amigos que já não estão.

Foram tantos anos de amizade, que só de pensar, as lagrimas escorrem pela minha cara, sem vergonha nenhuma.  Neste casarão que pertenceu a minha família por gerações, que em breve ficará vazio, o deixarei para uma instituição de caridade, que o venda, faça bom uso dele.

Olho os quadros de J. Mara pelas paredes, fico pensando, se pudesse levar para o outro lado, qual levaria, todos tem grande importância na minha vida.  Mas acredito que levaria, um que tenho na minha mesa de cabeceira, que Jiro fez, quando estávamos na escola, é um desenho a lápis, aonde estamos os três.  Ele dizia que tinha se colocado no retrato, porque sempre seriamos amigos de alma.   Grande verdade.

Nos conhecemos no primeiro dia de aula, os três descobrimos depois, nascemos com dias de diferença, mas na mesma semana.  Íamos de mãos dadas com nossas mães, os três diferentes como gotas de água. Jiro descendente de japonês, Bruno de italianos, eu de irlandeses, nada mais distantes um do outro.  Mas nós olhamos, vimos que o resto da turma não interessava.

Nos sentamos todos juntos, um perto do outro, quando a professora disse o nome de cada um, o guardamos para sempre, no recreio já nos juntamos.

Cada um também tinha pais com empregos ou trabalho diferentes, meu pai, era advogado, o do Jiro tinha um restaurante de Sushi, além de dar classe de artes marciais, o do Bruno era gerente de um restaurante italiano em Little Italy, mas vivíamos todos no mesmo quarteirão em Staten Island.

Acabou que nossas mães tão diferentes uma da outra, acabaram amigas, pois todos os dias iam nos levar, como buscar.  Com o tempo, começaram depois de nos deixar, irem tomar um café, fazer compras juntas, foram amigas para o resto de suas vidas.

Já nossos pais, foi mais difícil, meu pai dizia que o pai do Bruno era da Máfia, pois o restaurante que dirigia pertencia a uma família mafiosa.  Descobriria depois que ele odiava esse trabalho, quanto ao pai do Jiro, não gostava por causa das artes marciais.

Mas sem querer acabaram amigos. 

Sem dúvida nenhuma devíamos ser uma grande decepção para eles, nenhum dos três, gostava muito do esporte, mas nos saímos bem nas aulas do pai do Jiro.  Acabaram indo nos ver lutar, nisso na verdade erámos bons, todos chegamos à faixa preta a categoria máxima, creio que foi isso que no final os uniu.   Num dos campeonatos, defendendo Staten Island, ganhamos os três, fizeram uma comemoração conjunta, imagine a confusão de comida, churrasco, com sushi e macarrão, isso virou uma coisa de sempre, pois passamos a comemorar nossos aniversários juntos.

Depois já maiores, não necessitávamos que nossas mães nos levassem, os três caminhávamos para a escola todos os dias, o ponto de partida era a esquina da minha casa, dali partíamos.

Começamos a aprender artes marciais, pois, o famoso bullying que se fala hoje em dia, já existia.  Assim nos defendíamos uns aos outros.  O que incomodava os outros, era que estávamos sempre conversando, fazíamos tudo juntos, um ia ao banheiro, os outros dois também, se jogávamos bola, ou basquete, na mesma equipe sempre.  Não adiantava o professor tentar nos separar, nos recusávamos a fazer o que ele dizia.

Em contrapartida, fomos sempre as notas mais altas da classe, um ensinava ao outro o que não entendia.  Nas provas os professores nos separavam, pois achavam que copiávamos um do outro, o que não era verdade.

Quando chegou a idade de descobrir o sexo, o fizemos juntos, nos escondíamos no porão da casa do Bruno, experimentamos tudo.  No fundo creio que nos amávamos muito, quanto ao amor de um pelo outro, descobri muito mais tarde que era como um círculo.

Mas sexo, descobrimos com um vizinho do Bruno.  Esse um dia nos contou que tinha um vizinho, inspetor de polícia, que a mulher tinha abandonado, vivia ao lado de sua casa, de sua janela dava para ver o quarto do homem.  Ele chegava em casa, ficava de cuecas nada mais que isso.

Tinha um corpo fantástico.  Descobriu um dia que Bruno o olhava, mas nunca fechou cortina, nada disso.

Um dia nos pegou os três olhando através da cortina, mas sabia, que estávamos os três nos masturbando por causa disso.

Nessa época, nossas mães, voltaram a trabalhar, minha mãe era secretária em um escritório de advogados, a mãe do Bruno, era caixa no restaurante que trabalhava seu pai, a do Jiro, ajudava o marido no restaurante.  Então estávamos depois da escola os três juntos.

Teve um ano que pedimos o mesmo de presente de aniversário, um Walk Talkie, nunca deixávamos de nos falar o tempo todo.

Dias depois, estávamos indo para a casa do Bruno, quando vimos fumaça saindo por baixo da porta da garagem do homem, tentamos levantar a porta da mesma, era impossível, Bruno sabia que ele nunca fechava a porta da cozinha, entramos por ela.  Ele estava na garagem, com o motor ligado, já estava desmaiado, Bruno abriu a porta do carro, desligou o motor, entre os três o arrastamos para a cozinha. 

Semanas antes aprendemos numa das aulas, os primeiros socorros.  Começamos a nos revezar a fazer respiração assistida.  Gostei de colocar meus lábios em cima do seu.

Quando ele voltou a si, ficou olhando para nós, dava pena.

Estava completamente nu. Jiro lhe trouxe água, ele só perguntou por que o salvamos, ele não queria viver, se sentia sozinho.

Se tornou a partir desse dia nosso mentor.  Uma coisa nos ligava, os três amávamos os livros, ele também, por toda a casa, estava cheia de livros.

Ele se levantou, colocou um shorts, nos contou tudo.  Sua mulher o tinha abandonado, porque descobriu que ele era gay.  Se divorciaram, em seguida ela tinha se casado com outro.

Meu amante também me deixou, pois queria aventuras, minha vida perdeu sentido.  Viu que Jiro tinha um livro nas mãos que tinha encontrado no chão.  Sem querer começamos a comentar o mesmo, os três já conhecíamos a história.  Foi algo sensacional, cada um tinha um ponto de vista diferente, quando vimos estávamos sentados na cozinha, comendo uma pizza, falando de livros.

Por aonde se andava na casa, tinha livros.  Ele disse que era sua paixão desde criança.

Quando falamos em sexo, ele nos olhou, perguntando se fazíamos sexo entre os três.

Rimos muito, lhe dissemos que a muito tempo, era esse nosso grande segredo.

Quando vimos estávamos na cama com ele, seu corpo era alucinante. Fomos amantes dele, mais de 5 anos.  Nos seus dias livres nos avisava, nos levava a praia, muitos pensávamos que éramos seus filhos adotivos, nunca desmentimos.

Chegou um momento que começou a frequentar o lugar que aprendíamos artes marciais, um dia se apaixonou por um japonês, passaram a viver juntos, através do pai do Jiro, se tornou amigo dos nossos pais.  Descobríamos anos mais tarde, que seguia fazendo sexo com Bruno.

Chegou a época de ir à universidade, discutimos muito com nossos pais, bem como entre nós, com ele, Bernal tinha uma cabeça para entendermos perfeita, não colocava as dúvidas que nos colocavam nossos pais.   Não argumentava, mas sim nos fazia pensar.

Eu queria fazer direito, bem como o Bruno, já Jiro queria fazer Belas Artes, ele era o mais decidido, já Bruno queria fazer direito, para me acompanhar.

Fomos juntos a universidade, Bernal nos ensinou a conduzir, nos deu de presente o carro que tinha sido de sua mulher, estava a tanto tempo abandonado na garagem, mandou arrumar o motor, nos deu de presente no Natal.

Creio mesmo que as três famílias se juntaram por uma coisa, meus pais, tinham imaginado ter muitos filhos, principalmente por causa da casa imensa que ele tinha herdado, mas minha mãe quase morreu no meu parto, ficou incapacitada para ter mais filhos.  A mãe do Bruno foi a mesma coisa.  Já os pais do Jiro, porque queriam ter um filho só, mas que pudesse ter futuro, que eles não tinham tido.

Bruno também era o primeiro da sua família a ir à universidade, o sonho de sua mãe.  Mas ao contrário dos nossos companheiros, não saímos de casa.  Íamos de manhã os três juntos, voltávamos de tarde, ainda usávamos o Walk Talkie para nos comunicar, até surgir o celular.

Fizemos outros conhecidos, mas amigos nem pensar.

Eu estava entusiasmado com a universidade, já o Bruno não.  Um dia tivemos uma conversa séria com o Bernal.  Ele tinha escutado seus pais, falando com um parente, que era mafioso, esse dizia que com o Bruno como advogado, não iam mais precisar contratar nenhum advogado.

Isso o colocava com um pé atrás.   Ele era intuitivo, inteligente, Bernal o questionou de que lado queria estar.   Ele respondeu que da lei.  No último ano da universidade, a deixou, conversou com seus pais primeiro a respeito, entrou para a academia de polícia.  Com o curso mesmo inacabado, entraria depois como inspetor. 

Perdi meu companheiro de debates sobre as coisas do curso.  Jiro sim tinha conhecido muita gente louca, nos apresentou, mas ele nunca se drogava como os outros.

Foi interessante, pela primeira vez tínhamos aventuras com outros rapazes.  Nessa época Bernal, tornou a ficar sozinho. Seu companheiro disse que estava farto de dividi-lo conosco, pois se estávamos juntos, a conversa girava em torno ao que estávamos fazendo.

Agora ia conosco pela noite de NYC, de uma certa maneira nos protegia, contra os que andavam nas drogas essas coisas.  Descobri anos depois, que todos encontrávamos uma maneira de estar com ele só para nós.   Eu adorava ter longos papos com ele, fazíamos sexo, depois ficávamos fumando, conversando sobre lei, como eu devia encarar o que devia fazer a seguir.  Nunca escondemos um do outro isso, mas creio que ele gostava mesmo era do Bruno.

Me questionou muito se queria ser como meu pai, um advogado de um escritório, ele achava isso chato, me dizia que eu devia tentar primeiro ser fiscal.  Fazer uma carreira, além destes terem um bom salário.   Podes ser que ganhes menos, mas poderás construir uma carreira.

O mesmo fazia com o Jiro, um dos programas que fazíamos, por causa dele, era irmos a exposições, ao museus, ver o que havia de novo.  Isso gerava papos homéricos, em seguida, pois com ele podíamos falar de tudo.

Talvez por isso de uma certa maneira estávamos apaixonados por ele.  Ele gostava disso, dizia nunca me encaixei em turma nenhuma, mas com vocês me sinto vivo.  A única coisa que dizia era que nunca entrássemos para o exército, para não ser bucha de canhão.

Os livros agora o comprávamos de uma maneira interessante, cada um comprava um, as visitas as livrarias eram todos juntos, íamos passando um para o outro, inclusive, fazíamos anotações em papeis a parte, marcando o número da página, o que pensávamos a respeito.

Depois claro isso gerava largas discussões.  Não sei se nossos pais, algum dia desconfiaram de alguma coisa, mas nunca falaram a respeito.

No inverno alugamos uma vez uma cabana, para ir esquiar, mas nunca fizemos tanto sexo como desta vez.

Eu tinha uma certa paixão pelo Jiro, seu corpo liso, sem pelos, me excitava sempre. Eu pensava que ele também, pois estava sempre me desenhando.  Hoje pela casa inteira, tenho retratos meus.

Bruno conseguiu ir trabalhar na mesma delegacia do Bernal, esse foi seu instrutor durante muito tempo. 

Eu entrei para os escritórios de fiscais, como ajudante de um que me indicou o Bernal, o sujeito era mal-humorado, estava sempre com a cara fechada, mas nunca aprendi tanto com alguém como ele.  Me dizia leia todo o processo, analise, mil vezes, de todos os ângulos possíveis, olhe bem as provas, bem como as analises dela.  Não deixe escapar nada.  Foi o melhor professor que tive.   Um dia me soltou em plena cara, me olhando muito sério, estávamos almoçando no escritório, estou apaixonado por ti.

Fiquei olhando para ele de boca aberta, sabia que tinha se divorciado a muitos anos atrás, Bernal comentou alguma coisa a respeito. 

Um dia acabei na cama com ele, tudo ficou mais completo.  Mas era um sujeito fechado em si mesmo.  Tinha sido capitão do exército, as vezes quanto tinha muita pressão, tinha pesadelos.

Se agarrava a mim, como se fosse seu salva vida.

Tudo acabou de uma maneira bruta, acabava um julgamento, que tínhamos conseguido a vitória, ele estava falando com os jornalistas, eu estava mais atrás, de repente vi saído entre as colunas, um sujeito com uma arma na mão, gritei, mas aquela confusão de jornalistas falando ao mesmo tempo, ele não escutou, levou um tiro na cabeça.  Fiquei ali segurando a mesma nos meus joelhos.

Foi meu primeiro encontro com a morte, uma bofetada das duras.  Mas meus amigos estava aí para me ajudar.

Nessa época, dividíamos um apartamento imenso no Soho, ainda não era famoso, Jiro acabava de ter sua primeira individual, já tinha dado entrevistas na televisão, era cotado como uma revelação, seus trabalhos tinha influências orientais, bem como adorava usar papel. Depois de ganhar um bom dinheiro, foi passar um ano no Japão, aprendendo técnicas de lá.  Nas férias fomos os outros passar uns 20 dias com ele.

Na volta, outro pancada na cabeça, meu pai morreu, de uma maneira totalmente idiota, vinha andando pela rua, tinha ido visitar um cliente, de repente, começou um tiroteio na rua, voaram sua cabeça.   Mas claro, todos se juntaram para nos apoiar.

Minha mãe tomou uma resolução dura, fechou a casa, como eu vivia na cidade, ela foi viver com uma irmã dela, que era viúva, essa sim falava das nossas vidas.  Dizia que não entendia esses garotos, todos bonitos, solteiros.  Minha mãe respondia, que a vida era nossa, que podíamos fazer o que quiséssemos com ela.

Depois foi o pai do Bruno, uma briga entre facções da Máfia, entraram pelo restaurante adentro dando tiros, ele se jogou em cima de sua mulher para defende-la, acabou ele morrendo.

Todo mundo junto outra vez.   Minha mãe, que estava farta de sua irmã, voltou para casa, convidou a mãe do Bruno para viver com ela.  Anos depois foi a mãe do Jiro, seu pai teve um largo processo contra o câncer, as três se juntaram para cuidar dele.

Depois o mesmo, as três foram viver juntas.  Claro, aniversários, todas as festas, nos deslocávamos para lá.  Bernal estava para se aposentar, as ajudava no que elas não podiam resolver.   Depois da morte do meu namorado, me agarrei a ele como um salva vidas, os dois tinham a mesma idade.  Ele ria, estava com os cabelos ficando branco.  Talvez dos três foi o quem mais perto esteve dele.  Analisava isso, como cada um o via.   Para Bruno ele era como o mestre, para o Jiro, alguém que o entendia na sua arte, na sua busca.  Mas a mim, tinha me orientado, podia discutir com ele os casos.  Quando me nomearam fiscal, pedi para que ele viesse trabalhar comigo, como meu inspetor.   Foram os melhores anos da minha vida.  Todo mundo achava natural, ele estar sempre ao meu lado.

Foi talvez a melhor época da minha vida, era a pessoa que podia discutir de tudo.  Os outros sentiam ciúmes, isso se via, mas claro, o dividia menos com eles.  Bruno estava num relacionamento com um sujeito que nenhum de nós gostava, mas era a vida dele, ninguém interferia, estávamos sempre para ele, quando vinha lamber suas feridas.

Jiro ao contrário tinha se fechado completamente, o mais importante para ele era seu trabalho.

As vezes passava semana sem vê-lo, mas quando nos encontrávamos, eram horas falando, cada um do seu trabalho.   Sua última exposição tinha sido um sucesso tão grande, que o convidaram para fazer uma em Paris.  Lá foi ele, mas nós falávamos horas pelo telefone, quando tiramos férias fomos visita-lo.  Bernal lhe perguntou num jantar, por que ele não tinha namorado?

Soltou que a pessoa que ele amava, estava com outra pessoa.

Vimos sua exposição, saímos pela cidade com ele, nos mostrou o lugar que ele adorava, ficaria mais dois anos por lá.  Desta primeira vez, um dia que Bernal saiu para comprar um presente de última hora, ele se agarrou a mim, fizemos sexo, em pé no corredor do seu studio.  Me disse ao ouvido, te amo muito.

Depois descobri que Bernal tinha feito de propósito, me diria que não sentia ciúmes, porque sabia que ele me amava.

A seguinte perda balançou todo mundo, Bruno morreu no famoso 11S, estava justamente no andar que entrou o primeiro avião, para prender um homem envolvido numa desses desfalques piramidais.   Não sobrou nada dele, se sabia que estava ali, pois tinha falado instantes antes com seu superior, morreu ele, bem como seu companheiro, além de outros dois policiais.

Foi uma porrada em toda regra.  Para Bernal, foi outra vez como perder mais um amigo querido, levamos todos muito tempo para nos recuperar.

Nesse dia os dois fomos buscar o Jiro no aeroporto, pois voltava para NYC, vimos de longe o que acontecia.   Foi uma tragédia impressionante.   Sua mãe quando recebeu a notícia, teve um enfarte fulminante, ele era seu garoto, tinha falado com ele essa manhã.

A ele não conseguimos enterrar, o enterro foi o dela.   Depois foi como conta gotas, minha mãe, a do Jiro, ao final ficamos os três.  Convenci o Jiro de usar dois quartos grandes da casa como studio, nos dois também voltamos a viver nela.

A tristeza do Bernal, era impressionante, se aposentou, se sentia desorientado, foi quando descobrimos que tinha Alzheimer, nos tocou aos dois cuidar dele.   Na mesma época, consegui meu cargo final, ser juiz. Tinha um bom salário, sabia investir o que ganhava, como não tinha que pagar aluguel, além do carro de juiz, com um chofer, era mais fácil.  Pagávamos dois enfermeiros que se revezavam para cuidar dele.

Acho que a única coisa, real que disse, antes de se fechar num mutismo impressionante, foi para o Jiro, cuide do meu garoto, amo os dois.    Meses depois morreu dormindo.

Se não fosse o Jiro, nem sei o que seria de mim.  Me ajudou, eu tinha realmente chegado a amar profundamente o Bernal.  Tinha sido meu mentor, meu amigo, meu protetor, era muita coisa na vida de uma pessoa.

Agora na casa só sobrávamos os dois, as nossas conversas de noite quando chegava, era impressionante, seguíamos lendo os livros, comentando entre nós dois.

Um dia Jiro me disse, que tinha descoberto que me amava, num dia que fazíamos sexo todos juntos, que eu fazia sexo com ele, não queria que eu saísse de dentro dele, me queria só para ele.   A partir desse dia foi assim.   Apesar dos convites, só aceitava expor fora, se pintasse no seu Studio, que viesse buscar, eu ia com ele as vernissages, voltávamos juntos.

Seguimos com o hábito de ir a exposições, aos museus, dizia que comigo podia discutir qualquer coisa.  Que ele um tempo tinha pensado que amava o Bruno, mas esse como ele dizia gostava de explorar horizontes novos.

A dez anos atrás, cheguei em casa, estava tudo a escuras, subi para os quartos que ele usava como studio, o encontrei morto, sentado na sua mesa de trabalho, debruçado sobre um dos muitos retratos que fazia de mim.  Um dia me explicou, cada artista tem uma mania, um desenham mãos, ou alguma outra parte do corpo, antes de começar uma nova série, eu desenho a ti, pois eres meu talismã.   Tinha acabado uma trabalho imenso, que a maioria tinha ido para museus de vários países.  Tudo em papel, ali estava ele me desenhando novamente, quando teve um enfarte.

Senti abrir um buraco embaixo de mim, tudo que pude fazer, foi chamar a emergência, a tempos tínhamos conversado sobre dinheiro.  Bernal deixou tudo que tinha para mim, eu tinha a casa dos meus pais.  Ele dinheiro do seu trabalho, gastávamos pouco, então decidimos, que ajudaríamos a gente jovem.  Ele deixava dinheiro para bolsas de estudos, para jovens com talento.  Tudo estava estipulado.   Eu tinha feito o mesmo, para algum bom estudante de direito, que pensasse em fazer pós-graduação.

Segui trabalhando, pois era o único que tinha, viver na mesma casa seria um suplício, fiz o que minha mãe tinha feito, embora algumas pessoas não entendesse, aluguei um pequeno apartamento sem luxo nenhum, só necessitava de uma mesa grande para colocar os processos que levava para ler em casa.   Tentava me confraternizar com os outros juízes, fiscais, mas os via como uns tontos que não tinham vivido nada.

Escolhi como ajudante um jovem negro, com um futuro promissor, tinha sido fiscal adjunto, era brilhante.  Foi como o filho que não tive, quando resolvi voltar a viver na casa, ele veio junto, as conversas eram impressionante, me surpreendia sua inteligência, ele tinha usado uma das bolsas de estudos que eu pagava para seguir em frente, se sentia agradecido.

Um dia lhe contei toda a história dos meus amigos.  Ele ria, me chamava de velho malandro. Um dia me contou que quando jovem tinha sofrido abuso de uma gang, que depois disso, nunca mais tinha feito sexo.   É o meu companheiro do ocaso, agora será fiscal, nomeado pelo novo governador, eu me aposentei, contei para ele o que tinha sentido na festa, ele estava ao meu lado, mas os outros três não.

Agora o espero chegar todos os dias, para conversar, colocar em dia as novidades, da cidade.

Lhe disse que no momento que se apaixone por uma pessoa mais jovem, ele está livre para voar.  Me diz que nem pensar, que primeiro o ensinei a amar a si mesmo, que me ama com paixão.   Fazemos dois tipo diferente, eu velho, cabelos brancos, posso ser seu pai, ele negro, com uma barba imensa, pois é mulçumano, me ensinou a rezar com ele.

Um dia o surpreendi em seu escritório quando trabalhava comigo, abrindo um tapete, rezando, eu tinha perdido a fé a muito tempo, começamos a conversar sobre isso.  Aprendi a rezar, não vou a nenhuma mesquita, como ele vai, mas rezo em casa, arrumei uma poltrona, que fica em direção a Meca, rezo pensando nos meus amigos, que dia desses com certeza irei encontrar novamente.

As vezes sonho com eles, esperando ansiosamente esse dia, como será vivermos juntos outra vez, mesmo que seja em outro plano.  Na verdade amei a todos, mas nenhum como o Bernal, me lembro sempre, que quando o tiramos do carro, que fazíamos respiração assistida, o primeiro beijo que lhe dei, como ele dizia, pois foi na hora que voltou a si.  Disse que nunca tinha esquecido aqueles lábios contra os seus, nem eu tampouco.  Anos depois me daria beijos larguíssimos, que eu adorava.

Com ele sonho muito, as vezes me desperto procurando por ele, mas já falta pouco, isso espero.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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