Despertou rindo,
tinha sonhado com São Jorge falando com ele, de fundo escutava a música de
Jorge Ben Jor, ria sempre com isso, pois sabia que seu dia seria melhor.
Sua mãe era
apaixonada por Jorge Ben Jor, quando ele compôs essa música ela não duvidou
nenhum minuto em coloca-la no bebê que estava por nascer, todo mundo ria, pois
ela não tinha ideia se seria homem ou mulher.
Meu pai foi
contra desde o princípio, ele era filho de santo de Xangô, queria que meu nome
fosse o símbolo do mesmo. Ficava dizendo
o tempo todo que ela iria contrariar seu santo.
Pior nasci no dia
que se comemorava São Jorge, uma grande festa ali no centro da cidade, na
igreja dedicada a ele, ela trabalhava numa loja justo em frente, viviam os dois
na mangueira.
Logo cedo, quando
o sino da igreja começou a tocar, ela trabalhava tranquilamente, pois tinha
errado nas contas, achava que eu só nasceria um mês depois.
Estava atendendo
uma cliente, que aproveitava que tinha vindo trazer oferenda na igreja, quando
rompeu águas.
O menino nasceu
ali mesmo, as amigas logo disseram, nasceu no dia dele, vai ser protegido por
ele. Imagina nascer ali em pleno Saara,
na Rua da Alfândega, foi um corre, corre, desgraçado, acho que nesse momento,
ficou marcada a minha vida, estar sempre no meio da confusão, mas com São Jorge
me protegendo.
Imagina alguém se
chamar Jorge da Capadócia Silva Santos, pois bem esse é meu nome. Um pouco
grande para um pobre. Quando na escola
na lista de chamada, como havia por ali muitos Jorge, a professora dizia alto
em bom som, Jorge da Capadócia, todo mundo ria.
Eu a princípio
ficava zangado, mas depois me acostumei.
Minha mãe no meu aniversário, para contrariar meu pai, colocava em vez
de parabéns, Jorge da Capadócia, cantada por Jorge Ben Jor.
Eles iam
trabalhar, me deixava ali numa escola, perto do Campo de Santana, aonde eu
passava o dia inteiro. Ela trabalhou
nessa loja até morrer, ele trabalhava na construção. Vivíamos num barraco lá na
Mangueira.
Minha mãe dizia
que eu não podia escutar a bateria, que começa a dançar, em pequeno, era como
se me colocasse uma bateria.
Mas talvez o fato
de terem que me deixar em algum lugar para trabalhar, me isolou dos garotos da
favela, que desde jovem caiam nas drogas.
Meu pai tinha um
padrinho, um coronel da aeronáutica, esse quando fiquei maior, me meteu na
escola interno em Barbacena, talvez tenha sido minha salvação. Só vinha para casa nas férias, era uma
festa, ela também tirava férias para estar com seu filho querido. Eu sempre me questionava por que a vida deles
nunca melhorava, levei anos para entender isso, claro com o salário de merda
que ganhavam, sobreviviam. Isso ela não
queria para mim.
O Coronel Antônio
dos Prazeres entendia meus pais, pois seu único filho tinha se perdido justo aí,
nas drogas, ele bem como sua mulher que eu chamava de madrinha, praticamente me
adotaram quando eu tinha uns 15 anos, minha mãe morreu, num assalto no ônibus,
voltando para casa, cansada do trabalho.
Entrou um filho da puta no ônibus para assaltar para comprar drogas,
como ninguém queria dar, deu um tiro, acertando justamente nela.
Meu pai ficou
perdido, pois quem vestia as calças em casa era ela. Só assentou cabeça quando encontrou outra
mulher dura de roer, mas que não me queria em sua casa.
O jeito foi
seguir na escola, depois vim morar na casa do Coronel dos Prazeres. Eles dois ficaram me incentivando a entrar
para a universidade, pois esse era o sonho dos dois, vivíamos ali no Rio
Comprido. Eu de uma certa maneira estava cansado de estar preso, como tinha
estado interno na escola.
Pensei muito bem
o que queria fazer, ele riu. Imaginem um
mulato claro, cabelos crespos, olhos verdes, que herdei de algum antepassado, 1,85
metros de altura. Queria fazer arquitetura. Eles me deram força, bem como um carro de
segunda mão, para me deslocar a universidade do Fundão. Tinha sido bom aluno, passei com uma boa
colocação no vestibular.
No final do
primeiro ano, eu pensando quando chegasse as férias ia poder fazer uma coisa
que amava, me dedicar ao surf, com minha velha prancha de segunda mão. Nada disso o Coronel arrumou para que fosse
trabalhar durante as férias num escritório de arquitetura de um amigo dele no
centro da cidade. Entre centro da
cidade, Ipanema, havia uma grande diferença.
Mas fui, adorava
a madrinha, bem como respeitava o coronel, sabia que devia demasiado a eles que
me queriam como filho. Eu entendia, eles
não queriam de maneira nenhuma que eu caísse nas tentações da juventude.
Quando começavam
os ensaios da mangueira, íamos uma vez por mês, assim eu via meu pai, acabado,
frustrado com sua vida, sempre que me via, falava da minha mãe, que mulher como
ela eu jamais encontraria, eu concordava.
Nos outros finais
de semana, eu ia a praia com minha velha prancha para fazer surf, todos me
olhavam de lado, pois a maioria tinha das novas.
Não me
incomodava, eu gostava mesmo era de estar dentro d’água, aonde me sentia um
peixe a mais.
No escritório eu
não passava a principio de um office boy, pau para toda obra, mas não me
importava, pois ganhava algo.
Eu escutava
sempre alguém falado ou reclamando dos cálculos de estrutura, no escritório, o
contratavam por fora para os grandes projetos, sem eles nada parava em pé.
Tinha um
companheiro que cada vez que via um sujeito trazendo o cálculo do projeto,
dizia esse sim sabe ganhar dinheiro.
Me interessei
sobre o assunto, pois era fera em matemática, mas depois descobri que ia além
disso. Fui a secretária me informar, me
disseram que eu poderia já ir fazendo por fora, como uma especialização, ou
terminar o curso dentro de dois anos para fazer. Se o vais fazendo agora, quando acabe o
curso, terás dois diplomas.
Falei com o padrinho,
junto com a madrinha, para saber o que achavam.
Ele foi se informar, era uma verdade, cada projeto, o arquiteto que
fazia os cálculos, ganhavam uma boa mordida no orçamento.
Me disse que
fosse em frente, eu conseguia conciliar meus horários, embora não me deixasse
tempo para nada, já ia bem adiantado no curso, quando um dia escutei um
engenheiro que trabalhava ali, reclamar, que havia algum erro no projeto, pois
tinha se esquecido, que claro o edifício ficava na Barra da Tijuca, seria
construído em cima da areia.
Vi o projeto ali
jogado, me sentei comecei a fazer os cálculos, realmente havia um erro,
recomecei outra vez, vi aonde estava o erro, comentei com o engenheiro, ele me
arrastou ao escritório do chefe, tive que comentar que estava fazendo o curso
nesse momento, me faltavam meses para acabar, que quando terminasse, teria dois
diplomas.
Agora cada
projeto que chegava do escritório que fazia os cálculos, me pedia para refazer.
Rápido me dei
conta, porque um colega trabalhava ali, que raramente iam olhar o local,
examinar a terra, até uma certa profundidade, uma coisa essencial nos cálculos.
Tinha aprendido que teria que analisar
a terra, a inclinação, tudo a respeito aonde ia se construir.
Com isso fui
refazendo os projetos todos, que voltavam, para ver se estava certo, não
reclamava, pois estava aprendendo. Ia
até o local da obra, analisava tudo, voltava com um bloco cheio de anotações.
Quando acabei o
curso, além da festa que meus padrinhos fizeram, veio meu pai também com seu
filho pequeno. Ele tinha inveja de mim,
eu dele, por estar perto do meu velho.
No dia seguinte o
arquiteto chefe me chamou, pensei, claro já não necessitam de um estagiário,
vão me colocar na rua.
Era ao contrário,
tinha feito uma reunião, ele bem como seu sócio, queriam me contratar, para ao
contrário de mandarem os cálculos para fora, que eu os fizesse. Me pagariam bem, para mim era um bom
dinheiro.
Falei com os
padrinhos.
A resposta sempre
certa do velho coronel, era, tens que começar em algum lugar, ai eles já te
conhecem, tudo bem se fosses por fora, ias ganhar mais, mas ninguém te conhece,
deixe teu nome aparecer no projeto, isso era uma coisa obrigatória, pois tinha
que aparecer quem tinha feito o cálculo de estrutura.
Aceitei, tinha
agora uma sala só para mim, além da inveja dos outros. Mas eu pensava sempre, Jorge me protege.
Ao contrário dos
outros ia as obras, observava as pessoas trabalhando, me atrevia a examinar
cada detalhe. Um dia notei que o
cimento era uma merda, estava muito molhado.
Era uma empresa subcontratada, falei com o chefe, este ficou uma fúria,
pois a mesma era do seu cunhado. Esse
filho da puta, sempre querendo ganhar mais dinheiro.
No que mandou
analisar, fez um escândalo imenso, pois claro havia um perigo nisso, as
construções na Barra da Tijuca, tinham que ser perfeitas.
Um dos problemas,
era que os arquitetos mal saiam do escritório. Alegavam que ir a Barra da
Tijuca e voltar, perdiam muito tempo.
Ele como sempre
explodia, resolveu mudar o escritório para lá.
Eu arrumei um pequeno apartamento, logo no inicio na parte antiga, que
em alguns anos iria desaparecer, para dar lugar a edifícios imensos. Nos finais de semana, os padrinhos, vinham
com meu pai, que estava agora com a cabeça quase toda branca, tinha se
aposentado, mas ganhava uma miséria, quando ia embora, eu sempre arrumava um
jeito de lhe enfiar dinheiro no bolso.
Ele sorria, eres
igual tua mãe, fazia tudo muito simples, para ninguém prestar atenção. Ela
estaria feliz com o rumo da tua vida.
Não tinha muito
tempo para nada, mas a menor folga, escapava para a praia, fazer surf, isso era
uma delícia. A empresa estava construindo por ali, tinham
demolido dois edifícios antigos, iam construir um de uma maneira que queria
experimentar, mais moderna, grandes com varanda de frente para o mar. Trabalhei como um louco nesse projeto, pois
por baixo tinha um lençol de água, fiquei estudando todas as opções, pois no
momento que demoliram os dois edifícios, se viu que a estrutura estava toda
enferrujada.
Comecei a ler,
sobre um sistema novo que se usava na Europa.
Meu chefe muito esperto, me deu um bilhete de avião, bem como contato
com os fabricantes, para ver como funcionava.
Imaginem que
apesar de ter estudado na escola da aeronáutica, nunca tinha feito um voo tão
grande. Se tratava de saber mais que os
outros, estudar, isso era comigo.
Madrinha se
preocupava porque não tinha nenhum romance sério. Era uma verdade, tinha romances relâmpagos de
uma só noite, nada mais. Garotas que se
impressionavam comigo, mas quando viam meu velho carro, não tinha coragem de me
desfazer dele, davam no pé.
Ou quando viam
meu apartamento pequeno, apertado, cheio de livros, projetos pelas paredes,
deviam pensar esse não vai a lugar nenhum.
Mal sabiam que eu
estava fazendo uma caixinha para um dia desses montar um escritório só para
mim, já era conhecido.
Embarquei, não
sei por que me veio a cabeça a música preferida da minha mãe, Jorge da
Capadócia. Aquilo foi como um estalo na
minha cabeça. Ainda pensei, Jorge, abre
meus caminhos.
Foi o que
aconteceu. Fui para passar uns 15 dias na fábrica, me viram tão empenhados,
embora todos falassem francês, o meu era rudimentar, entendia, anotava, procurava
encontrar defeitos.
Antes de ir
embora, fui convidado para almoçar com o dono da fábrica. Foi claro comigo, preciso de gente como tu,
que se esforça ao máximo, para isso.
Queres vir trabalhar
aqui, escreveu num papel, o que me pagaria por mês, era meu salário de dois
anos, fiz os cálculos mentalmente, transformando os valores ao câmbio do dia.
Me faziam um
contrato para dois anos, depois me associaria ao projeto que tinham para as
zonas de praia do Brasil. Disse que ia pensar.
No hotel, apesar
do fuso horário, telefonei para os padrinhos, levam um susto de fazer gosto.
Contei para eles
o que tinham me oferecido, o que achavam que devia fazer?
Nunca cuspa no
prato que comeste esse tempo todo. Acho
que deves vir até aqui, resolver esse projeto, falar da oferta, voltar para aí,
vamos sentir tua falta, mas é a tua vida.
Falei outra vez
com o dono da empresa.
Mandariam um
sistema para resolverem o problema imediato do edifício, mas eu tinha que
assinar um contrato antes.
Sai da sala dele,
telefonei para o meu chefe no Rio, comentei, ele aplaudia, acho fantástico,
diga a ele que me interessa ser sócio dele quando venha para o Brasil.
Venha nos oriente
nesse projeto, depois a vida é tua.
Foi o que fiz, ia
sentir muita falta do mar. Mas antes de
ir embora, fui a igreja de São Jorge, na frente aonde tinha nascido, rezei
muito pela minha mãe, que ele me desse proteção. Nunca tinha tido tempo para ser muito
religioso. Mas ele sempre estava na
minha cabeça.
Depois atravessei
a rua, me apresentei para algumas amigas da minha mãe, que riram muito, a
maioria estava para se aposentar, como elas diziam com um salário de
merda. Uma delas, que tinha inclusive ajudado
minha mãe no parto, riu, imagine, era meu primeiro dia aqui, a chefa na minha
frente diz ui, só vejo água caído pelas suas pernas, com a confusão da festa de
São Jorge imagina como estava isso aqui.
Corri por um
lençol, na loja do lado, logo em seguida nasceste tu.
Me contou que
nunca tinha se casado, pois não queria filhos, meus irmãos todos acabaram nas
drogas, numa vida desgraçada. Eu nunca
pude estudar, mas fico feliz em te ver, imagino como estaria tua mãe sabendo
disso.
Meu pai, apareceu
no almoço de despedida que os padrinhos fizeram ali no Rio Comprido, estava
baleado, de tanto trabalhar, em coisas que já nem podia. Como sempre vinha com
o seu filho pequeno. Este estava
chateado, pois queria seguir estudando, mas claro não havia dinheiro. Me afastei com ele, perguntei o que queria
estudar.
Quero ser médico,
foi taxativo.
Muito bem, vou te
ajudar, falarei com meu padrinho, enviarei dinheiro para teu curso, através
dele, está velho, mas não se esqueça é um coronel.
Eu sei, ele já
vem me ajudando. Me disseram para vir viver aqui, mas quem vai cuidar do velho,
minha mãe desapareceu a muito tempo, agora somos só os dois.
Me sentei quando
foram embora com os padrinhos, falei longamente com eles, eu mandaria dinheiro
sempre, mas que eles controlassem. Nos
fundos da casa deles, tinha um pequeno apartamento em cima da garagem, já disse
para teu pai vir viver aqui, mas ele acha que é por caridade. Nesse dia subi a mangueira de noite para
falar com o velho, arrastei os dois sem admitir discussão nenhuma, lhe fiz ver
que o menino tinha direito a seguir em frente.
Os padrinhos tinham me ajudado, senão não estaria aonde estou. Tanto falei que ele aceitou.
Fui embora mais
tranquilo, assim pelo menos ele teria um final de vida mais cuidado, ao lado
dos amigos de sempre, bem como meu irmão, Juca poderia ir à universidade.
Cumpri o
prometido, todos os meses fazia um deposito para o Coronel, assim ele
controlava tudo. Dizia quando eu
telefonava, que mandava a mais, mas dizia que era para os remédios do velho.
Mandava fotos do
apartamento que o dono da empresa tinha alugado para mim, me dediquei a
trabalhar, fazia um curso pelas noites para falar melhor a língua, poder me
comunicar com os operários.
Sem querer o
trabalho me proporcionou, oportunidades, que nunca poderia agradecer, quando
eram consultados por algum pais, para um projeto, me mandavam, primeiro ir
olhar a estrutura que queriam restaurar, examinar o que existia ali, nisso
conheci a Espanha, Itália, Alemanha, mas principalmente a própria França.
Fiz nome, escrevi
artigos para revistas, falando do nosso produto, explicando o uso, como se
devia analisar tudo. Fui convidado para
dar palestras em universidades. Estava
feliz, claro o único que me faltava era uma família, principalmente a praia.
Quando meu pai
morreu, voei na mesma noite para o Rio de Janeiro, chegar, sentir o mal cheiro
da cidade, que te batia na cara mal saia do Aeroporto, era foda.
Lá estava meu
irmão Juca, mais bonito do que eu me lembrava.
Estava arrasado, eu sentia, porque era meu pai, mas sentiria mais se
fossem os padrinhos.
Fizemos o
enterro, o coloquei ao lado da minha mãe, Juca chorou nos meus braços, ele em
breve acabava medicina, queria fazer uma especialização, lhe disse que podia
contar comigo.
Os padrinhos
também estavam velhos, era duro ver isso.
Juca estava
fazendo especialização ali no hospital da Aeronáutica, ali no Rio Comprido, me
disse em que. Fiquei de olhar para ele,
assim ele poderia ir para fora.
Mais uma vez ele
me disse, como vou deixar esses dois sozinhos.
Quem estava na porta, foi o velho coronel.
O abraçou, nem
pensar, os filhos são para voar, se teu irmão te consegue isso, iremos para uma
casa de pessoas de idade lá pelos lados de Jacarepaguá, teremos uma boa vida no
final, mas o melhor foi ter ajudado vocês dois que foram como filhos para nós,
a ir em frente.
Seis meses
depois, consegui o que ele queria, um hospital em Paris, que trabalhava
justamente no que ele queria.
Meu chefe é
claro, mediou tudo.
Um dia estava
conversando com ele, tinha se divorciado recentemente, teve que soltar um bom
lastre de dinheiro para a ex-mulher, pelo divórcio, ela ameaçava um escândalo,
que para ele seria uma merda.
Me soltou a
queima roupa, descobriu que eu tinha um romance, com um velho companheiro de
universidade. Eu conhecia o sujeito, era
também casado.
Mas deu uma só
cacetada, levei duas, pois ele, aceitou uma oferta de sua empresa que queria a
anos que fosse para os Estados Unidos. Me largaram na sarjeta.
Os dois começamos
a sair juntos, ir jantar, tomar um vinho, acabamos na cama nem sei como.
Me contou a crise
de ciúmes que seu namorado anterior tinha tido, quando me contratou, dizia que
tinha outros interesses.
Só que esses
interesses levaram anos para acontecer.
Nas primeiras
férias juntos, o levei ao Rio de Janeiro, para conhecer o carnaval. Quando me viu sambando ficou como louco. Me dizia depois ao ouvido, só de pensar que
eres meu, ficava orgulhoso.
Matei a vontade
de fazer surf. Voltamos, um dia que
estava com ele em Paris, dei de cara com meu irmão Juca.
Este estava
acompanhado de uma loira daquelas de capa de revista. Disse que iria acabar o curso em breve, lhe
apresentei o Jean dizendo que ele tinha feito possível seu sonho, não fui eu quem
conseguiu isso para ti.
Me perguntou se
eu tinha mudado de endereço, enquanto Jean conversava com sua namorada, dei uma
volta com ele ao quarteirão, contei o que tinha acontecido, que eu agora vivia
com ele.
Fui honesto,
nunca pensei que fosse amar a um homem, mas aconteceu, além de ser meu melhor
amigo.
Contei que tinha
ido com o Jean, muitas vezes visitar os padrinhos em Jacarepaguá, me disseram
que os chama sempre. Pois é, estão
velhos, dei um dinheiro por fora, para eles poderem ter uma boa vida lá, afinal
nos ajudaram aos dois.
Não sabia disso?
Pois é, custa
caro, ele mantém tudo com sua aposentadoria, sabe como é na pátria amada,
enquanto produzes bem, depois estás de escanteio.
Me perguntou se
pensava em voltar ao Brasil, para montar a tal fabrica.
Andamos olhando,
mas vejo que os interesses não são os mesmos. Querem como sempre ganhar
dinheiro fácil, enganar o sócio estrangeiro.
Jean, como eu,
não tem filhos, esta contente com o que conseguiu. Eu mais ainda porque me projetou para o mundo
vamos dizer assim. Esse mês iremos para
Londres, darei durante uma semana aulas em Oxford, para alunos que se
especializam.
Não posso pedir
mais da vida. Rindo contei para ele, que
tinha levado o Jean, para visitar o lugar que tinha nascido. Tive que explicar muito, a loja que minha mãe
trabalhava, não existe mais, tudo está vindo abaixo ali no Saara.
E tu, pensas em
voltar?
Tive um convite
para ficar, mas queria justamente falar contigo. O que achas.
Nos sentamos numa
mesa, fiz os cálculos com ele, valia a pena ele ficar. Qualquer coisa te ajudo.
Nada disso, isso
já fizeste o bastante, senão teria terminado como meus irmãos, no tráfico de
drogas, fudidos, nem sei se algum esta vivo hoje em dia.
Ele foi ficando,
chegou a se casar com aquela beleza toda, os dois filhos dele, são meus
afilhados.
Jean, foi meu primeiro
amor com outro homem, quando se cansou, passou a fábrica para frente, eu fui dar
aulas a convite da universidade em Aix en Provence, seguimos vivendo por lá,
pelo menos eu tinha o mar por perto.
Mas tinha um
sonho, sem querer por dar aulas na universidade, fui com os alunos a Capadócia
na Turquia, foi como voltar para casa, me apaixonei.
Consegui com o
governo Turco licença para fazer um estudo sobre as cidades subterrâneas,
imaginar como tinham sido concebidas.
Foi o máximo, fui para ficar um mês, acabei me interessando por milhões
de coisas da área, aprendi a língua, acabei dando aulas na universidade de lá.
Me interessava apesar
de parecer absurdo para alguns, como tinham se engenhado para construir essas
cidades, pois, era como ir escavando para baixo sempre. Fazia mapas detalhados do lugar, depois
explorava o do andar de baixo, documentava tudo. Para ver como se encaixavam no
final.
Escrevi um livro
sobre isso. Fiz aulas com um professor
da universidade de Istambul, ele me levou para conhecer a cidade subterrânea,
que existia por debaixo da cidade. Era
impressionante, por isso podia viver muito tempo, durante qualquer cerco a
cidade.
Estava explorando
uma via de acesso, que tinham certeza de que iria dar ao porto, por aonde podia
receber abastecimento.
Jean dizia que
esse professor estava apaixonado por mim. Um dia
comentou de durante minha ausência tinha conhecido outra pessoa, que estava
apaixonado. Eu entendi, estava fora de
casa meses, lhe desejei boa sorte na sua nova aventura.
Consegui
financiamento para explorar tudo o que estava fazendo, o governo Turco me deu
permissão para seguir com o professor Ismael, fazendo o trabalho, íamos
detalhando tudo, ele sabia como eu era bom desenhando mapas, observando,
medindo as estruturas, a pouco tempo, na construção de um edifício muito alto
nessa zona, ao colocarem as novas estruturas, tinham afundado. Fizemos os dois um informe detalhado,
acabamos encontrado a via que dava justamente ao túnel que ia até o porto,
inclusive uma via, que levava fora da muralha.
Estava feliz, era
como se pagasse ao Jorge da Capadócia tudo que tinha feito por mim.
Recebi junto ao
Ismael, uma comenda do governo turco.
Agora falava bem a língua, contei a minha história. No dia seguinte saia nos Jornais. Para essa cerimonia, veio meu irmão com a
família. Foi uma festa.
Ismael, um dia
que quase morremos numa das nossas aventuras embaixo da terra, ele tinha ficado
preso, embaixo de um desmoronamento, mandei buscar socorro, mas fiquei com ele,
pensou que ia morrer, se declarou para mim.
Passamos a viver
juntos, numa vila que comprei com o dinheiro que tinha, uma vez por ano, saia
pelos países que me convidavam para falar sobre a Capadócia, bem como nosso
trabalho em Istanbul, íamos os dois, eram nossas férias.
Quando ficamos
mais velhos, numa das pesquisas que fazíamos, descobrimos, uma cidade antiga,
tudo começou por curiosidade, já sabíamos que ali, se levanta uma pedra,
descobre algo. A pequena cidade,
embaixo, era uma dessas de veraneio, simplesmente.
Tinha uma pequena
enseada. Subíamos a montanha que estava
por detrás, para fazer fotos, achei estranho, uma parte de terra que tinha
desmoronado, começamos a imaginar, encontramos uma torre, a equipe de
arqueólogos, nos convidou para participar, tínhamos nos conhecido em Istambul,
durante nosso trabalho.
Encontrei uma
nova paixão, junto com o Ismael, participávamos com os jovens estudantes
abrindo a terra para encontrar uma cidade, que devia ter sido comercial, a
torre era como um sistema de vigia.
Datava de séculos antes de Cristo, foi emocionante. A cidade nos agradeceu, encontramos uma casa,
ficamos vivendo lá, eu encantado, pelo menos podia tomar banho de mar. Acabamos escrevendo dois livros sobre o
local, agora nos estudavam pelo que tínhamos feito em Istambul, bem como dessa
nova descoberta.
Chegamos a
acreditar, inclusive ao encontrarmos uma espécie de cripta, que por ali tinham
andado os cruzados, mas quando os arqueólogos examinaram, era um lugar de
repouso de algum guerreiro de Saladino.
A cidade tinha sido destruída justamente nessa época, pelos cruzados, o
tempo a sepultou.
Quando
escrevíamos era ao mesmo tempo, eu o fazia em francês, ele em árabe, depois
trocávamos ideias a respeito.
Recebi um convite
para ir ao Rio de Janeiro falar sobre isso.
Me informei direito, era para meia dúzia de gatos pingados, foi mais
fácil convida-los através do governo Turco para que viesse, conhecessem em
primeira mão, o que tinha feito por ali.
Se uniu ao grupo o embaixador brasileiro, o tratei como qualquer um,
estivemos na Capadócia, aonde contei o porquê do meu nome, depois o que o
trabalho por debaixo da cidade, por sorte o tal embaixador sofria claustrofobia
não se atreveu a descer. Depois os levei
ao último trabalho, que não tinha acabado ainda.
Por isso queriam
que fosse a Brasília para receber uma comenda, me recusei, já não pensava mais
em voltar ao Brasil, quando me entrevistaram a respeito, eu soltei na cara, já
não devia favores a ninguém, muito menos para o governo. Soltei que deviam ajudar mais aos estudantes
para irem em frente, claro como sempre não gostaram.
Mas tinha minha
vida organizada ali, vivia feliz com o Ismael, estávamos sempre mergulhados no
que ainda se ia descobrindo, ao final, agora se chegava aonde tinha sido a
muralha que protegia a cidade.
Mas nossa casa a
beira do mar, era fantástica. Agora era
só esperar o final, pois tinha noção que isso aconteceria, tinha passado por
muitos estágios em minha vida. Afinal
tinha uma paz interior, fantástica, pois imaginem um garoto que nasceu ali em
plena rua da Alfandega, na frente da Igreja de São Jorge, chegar aonde cheguei.
Meu irmão Juca
hoje era famoso em sua especialidade, tinha a mesma noção do que eu, que nunca
dariam valor ao que ele fazia. Vinha
agora todas as férias passar dias conosco.
Nunca poderíamos
esquecer dos Padrinhos, soubemos que tinham morrido, já meses depois de os
terem enterrados, mas na minha última ida até lá, ele foi também, visitamos os
dois no cemitério, mandamos rezar uma missa na igreja de São Jorge, para eles.
Fechei a porta,
para qualquer lembrança do pais, pois não valia a pena.
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