lunes, 29 de agosto de 2022

SAM ROOKE

 

                                      

 

Me chamo Sam Rooke, algumas vezes sentado diante do espelho do meu camarim, fico pensando quando começou minha vida louca, mas sempre sou interrompido, pois me chamam para mais uma atuação.

Trabalho a muitos anos, num cabaré decadente, na parte de Castro, San Francisco, não preciso dizer que é o bairro gay por excelência.

Me apresentam como Sammy ou Tammy, porque as vezes me faço passar por Debbie Reynolds cantando a música do mesmo nome.

Nota, o cabaré é meu, mas claro é hora de pensar em talvez vende-lo, pois tem uma imobiliária me pressionando, quer construir um desses magníficos edifícios sem personalidade, claro também me pesa a idade, mas tenho muitas meninas como eu que passaram por aqui, ou ainda estão comigo.   Do outro lado esta Tom, ele continua comigo a trancas e barrancas.

Descobri muitas coisas da vida através dele.

O dia que ele chegou lá em casa, para mim foi uma festa, minha mãe dizia que eu falava sem parar com ele, que me olhava espantado.

Primeiro, Tom é surdo/mudo, era sobrinho do meu pai, que nunca entendeu por que um belo dia seu irmão mais velho, um bala perdida, apareceu depois de anos, deixou o Tom na varanda com um bilhete, explicando que ia para mais uma aventura, que não podia levar um garoto como ele junto.  Ali estava também uma certidão de nascimento, bem como uma carta dando poder ao meu pai para cria-lo.

Enquanto eu falava sem parar, meu pai, que normalmente as coisas passavam por ele sem dizer nem MU, estava furioso.  Seu irmão nunca aprenderia nada, tinha sido mal estudante, tinha escapado de casa com sua namorada, tiveram um filho, ela desapareceu no mundo, ele ficou com o garoto, nunca parava em emprego nenhum, a anos que não sabia dele.

Tom era um ano mais velho do que eu.    O problema era que nas casas vizinhas só tinham garotas, que queriam que eu brincasse com elas, de tomar chá com suas tacinhas de brinquedo, ou brincar com bonecas.   Odiava isso.

Tom coitado estava espantado, mas eu não queria saber, o primeiro que fiz, foi dar um grande abraço nele, beija-lo, foi o primeiro de muitos beijos ao longo desta vasta vida.

Minha mãe era uma mulher pratica, no dia seguinte conseguiu uma professora para nos ensinar a língua dos signos, o Tom se virava como podia, o ensinou também, chegou um momento que eu falava com ele, mais rápido que ele se matava de rir comigo.

Dizia que eu era um cômico.

Quando chegou a época de ir à escola, não tive dúvida, se ele ia a uma escola especial eu iria também, meu mundo girava em torno dele.

Meu pai só dizia abaixando o jornal, esses meninos têm futuro.

Meus pais trabalhavam no armazém que ele tinha no bairro, um desse de secos e molhados, que vendem de tudo.  O jeito foi tentarmos que Tom acompanhasse as classes numa escola normal, ele se divertia, pois sentávamos na última fila, eu ia ensinando tudo para ele, mas por signos, mas na verdade acabamos numa escola especial, pois ali ele não aprendia.   Eu ao contrario adorava essa escola especial, pois falava como um louco pelos signos, segundo uma professora pela minha cara, esse menino vai acabar num palco, sem dúvida nenhuma, não estava de todo errada.

Uma coisa que eu adorava, era chegar em casa, me sentar na frente do espelho de minha mãe, me pintar como ela, Tom ficava olhando divertido, sei que nunca me denunciaria.

Nosso primeiro grande beijo foi com uns dez anos, lhe perguntei se queria experimentar beijar alguém com Baton nos lábios.  Primeiro foi divertido, mas em seguida, estávamos nos beijando de verdade.

No final ele me disse, gostei, quero sempre mais.

Juntos descobrimos o sexo, no porão de casa, construímos um lugar para brincar, um dia jogávamos de Tarzan, ficamos os dois de cuecas, tínhamos uns doze anos, sabia que o piru dele era maior que o meu, quando vi, o estava chupando, ficamos nos masturbando juntos.

Isso virou um hábito de todo dia.    Nunca nos descobriram, mas meu pai quase pega a gente no flagra uma vez.   

Meu pai, adorava jogar basquete no fundo da casa, ali tinha colocado um aro, nos seus momentos livres estávamos com ele.    Tinha sido capitão de sua equipe na escola, aonde estudávamos tinha futebol, mais nada, uma bola que alguém escondia quando vinha algum professor.  Um dia me perguntou muito sério se eu não me incomodava de ir à mesma escola que ia o Tom.    

Como explicar a ele, que pelo Tom eu iria até o inferno.   Lhe disse simplesmente que era como ir a outra qualquer, ele não entendeu, pois nunca aprendeu a linguagem dos signos, dizia que estava velho demais para isso.

Minha mãe achava um absurdo, quando tínhamos 16 anos, ele 17, meu pai teve um enfarto no armazém da loja, caiu duro.

Os dois deixamos a escola para ir trabalhar com ela, havia dividas para pagar, tínhamos que viver de alguma coisa.   Meu pai falava do irmão, mas era imprevidente, não tinha seguro de vida, seus livros de contabilidade era um caos.   Tom que era bom de matemática, passou a administra tudo. Os dois cuidávamos do armazém também, era muito para minha mãe, isso nos fez ficar fortes, pois tínhamos que mover sacos, nessa época muitos garotos se metiam conosco, mas tínhamos punhos para nos defender.

Claro existia um problema, os dois erámos garotos bonitos, altos loiros, de cabelos compridos, eu adorava mexer nos seus cabelos, ele que eu fizesse isso.   Minha mãe reclamava, se estávamos vendo televisão, eu mexendo nos seus cabelos, me dizia deixa seu irmão em paz.

Ele fazia sinal para continuar.

Íamos ao cinema juntos, as pessoas reclamavam que não parava de fazer sinais para ele, explicando alguma coisa que tinha passado por cima.   Tivemos a melhor juventude que podíamos ter.  Eu via algumas fotos de algum travesti, mostrava para o Tom.  Numas férias fomos para San Francisco, nesse época já fazíamos sexo um com o outro, eu me metia todas as noites na sua cama, quando sabia que minha mãe me chamaria, corria para a minha.

Fomos assistir um show num cabaré, fiquei como louco, ele se matava de rir, lhe disse esse era meu sonho, me olhou sério soltou, se é teu sonho vamos por ele.   Seu sonho ao contrário era estar sempre comigo.

Já tínhamos 18 anos, minha mãe, abriu uma conta no banco para cada um, aonde ele como fazia contabilidade, depositava nosso salário.  Guardávamos tudo, para nosso sonho, na verdade o meu.

Quando minha mãe, descobriu que tinha câncer, tínhamos já uns 24 ou 25 anos, foi uma tragedia, os dois a queríamos com loucura.   Sua irmã veio ficar conosco, disse que nunca tinha visto uma casa tão silenciosa, pois claro os três falávamos o tempo todo pela linguagem dos signos.

Ela ao contrário, percebeu alguma coisa, pois dizia esses meninos assim nunca vão arrumar uma noiva.   Minha mãe um dia se aborreceu, soltou na cara dela que ficou vermelha como um pimentão, não entendes que um vive para o outro, eles se amam.

Ficamos os dois de boca aberta, depois ela comentou conosco, nunca vou criticar vocês, sei desde o primeiro dia, quando meu filho ficou louco quanto te viu Tom.  A partir desse momento entendi que iria te amar para sempre.

Era uma verdade, estar sem ele, era estar sem ar.

Nessa época, nunca soubemos como, apareceu sua mãe verdadeira, ele nem se lembrava dela, estava muito bem casada, com um homem rico, queria saber se ele queria viver com ela.

Me olhou, eu estava sentindo o chão desaparecer embaixo de mim.

Pior que não sabia falar com ele, falava rápido demais.  Minha mãe, salvou a situação, não achas que depois de tanto tempo, não vais conseguir te comunicar com ele. Eu sou sua mãe, sempre viveu comigo, o cuidei como meu.  Não vou permitir que você venha com esse carro fantástico, queira levar meu menino.   Só por cima do meu cadáver.

Fora daqui sua lambisgoia.  A empurrou para fora de casa.  Ainda lhe soltou uma ladainha, aonde estava quando ele precisava de ti, quando tinha dores, quando não sabia expressar o que sentia.  Somos a família dele, desapareça.

Tom se matava de rir, porque minha mãe falava tudo isso, ao mesmo tempo fazendo a linguagem dos signos, quem visse, pareceria uma louca.

Morreu um ano depois, depois de tanto tratamento, colocamos uma peruca na sua cabeça, para estar arrumada no caixão, entre os dois a lavamos, lhe colocamos o melhor vestido, o padre fez uma missa bonita, apesar de nunca irmos à igreja, os clientes foram todos, estava lotado. Nesse mesmo dia, um chinês se aproximou, perguntou se queríamos vender a loja, bem como o armazém com tudo que tinha dentro.  Ele teve que negociar com o Tom que era duro na queda.

Nessa noite conversamos, agora dormíamos juntos como um casal, adorava sentir seu cheiro tão particular, dormimos a vida inteira agarrados um ao outro.

Quando o advogado disse que no testamento de minha mãe, tudo era para os dois, resolvemos ir à luta, vendemos o negócio, mas deixamos a casa como um seguro, falamos muito nisso.

Me preparei para ir à luta, ele só não me permitiu, raspar as pernas, disse que adorava passar a mão pelas minhas pernas peludas.

Comecei a me apresentar pelas espeluncas do bairro gay, até que tive a firmeza de me apresentar no cabaré que hoje é meu.  O homem que levava o mesmo, dizia que eu devia fazer um show, falando, contando histórias, ensaiamos muito com ele, eu levava mais da metade do show, interferia nos show dos outros, fazia sempre um personagem, que se sentava na plateia, começava a questionar quem estava no palco, dizia que tinham desafinado, um deles fazia o papel do irritado, com voz horrorosa, como posso ter desafinado se era um playback.  A plateia vinha abaixo.

Ele soube que era o Tom que administrava tudo que tínhamos, o contratou, ele fazia toda a contabilidade, pagava os artistas, alguns eram atrevidos com ele, eu botava logo a banca, eu vi primeiro.

Ninguém poderia acreditar, que nunca estivemos com outra pessoa que não fosse o outro.

Um idiota uma vez perguntou quem dava para quem, bom o Tom deu uma aula, especial para o dito cujo, na linguagem dos signos.

Mas na verdade acabava o show, eu limpava a cara, íamos para casa, de braços dados, mas vestidos de homens.

Erámos muito parecidos, uma vez bolei um ato, em que entravamos os dois, ele de costa para mim, a parte dele vestida de homem, eu de mulher, era difícil de fazer, isso ficou no show anos, pois o pessoal alucinava, pensava que era só uma pessoa.

No final, como as roupas estavam presas com velcro, nos separávamos para agradecer, mas quem cantava o tempo todo era eu.

Aprendi a cantar, modular minha voz, não fazia playback, o pessoa gostava, não se sentia enganado.   Depois do show, sempre levava uma cantada, eu dizia que fazia bem ao meu ego, mas pedia desculpas, mas tinha compromisso.

Um dia um despeitado, disse que era horrível o que fazíamos, erámos irmãos, que isso era um incesto.

Até explicar para o sujeito que queria chamar a polícia, que éramos primos, foi um custo.

Gerard que era dono local, acabou chamando a polícia, sempre tinha um na entrada, para controlar as confusões.  Botou o sujeito para correr.   Era um tipo bonito, dizia que queria ir com os dois para cama.

Um dia estávamos fazendo sexo, Tom começou a rir, perguntei o que passava, ele contou, estou imaginando esse policial aqui, o levaríamos a loucura, ele pensando em comer a gente, a gente fazendo ao contrário.

Perguntei se ele queria fazer isso, mas já com mau humor.

Me olhou sério, sempre tive a ti, nunca precisei de mais ninguém, isso estragaria tudo, vamos imaginar que ele se apaixona pelos dois, nunca íamos tira-lo de cima de nós.

Um dia estávamos jantando, num domingo, comendo pizza, o policial, apareceu a paisana, era realmente um tipo.  Tinha intimidade para se sentar com a gente.

No final foi claro, fico alucinado pensando em fazer sexo com vocês.

Rimos muito, lhe contei o que o Tom tinha falado, ele parou para pensar, lhe contei desde quando nos amávamos, era um tipo fantástico, disse, tens razão, eu não quero estragar a vida de ninguém.    Tempos depois, apareceu com um outro polícia, nos contou que estava tentando ter uma relacionamento.   Iam sempre lá em casa nos dias que não trabalhava, se por acaso eles estavam livres.   Nos contavam tudo, como iam as coisas, os problemas que podiam suplantar.

Não se davam conta, mas eram muito parecidos um com o outro.

Stan, que era o nome do nosso amigo, ficou arrasado, quando o outro morreu num tiroteio.

Passou mais de dois meses lá em casa, não conseguia ir para a sua, chorava, dizia que tinha perdido uma parte dele.   Mas o controlávamos para que não se metesse em drogas, em bebida nada disso, sempre foi nosso melhor amigo.

Quando Gerard disse que queria vender o local, vendemos a casa que estava alugada, com nossas economias compramos o local.   Fizemos algumas reformas, melhoramos os camarins, que todo mundo reclamava.  Tom administrava tudo com mãos de ferro.

Stan vinha todos os dias depois do trabalho, tinha alugado um apartamento ao lado do nosso, erámos como uma família, quando alguém se aproximava dele, perguntava se devia ou não ir.

Quando se começou a falar da Aids, lhe dizíamos para tomar cuidado, ele obedecia, por isso foi um dos que se salvou.

Vimos morrer um monte de gente, íamos mais a enterro que festas, ajudamos a muita gente, fizemos show para arrecadar dinheiro, íamos aos hospitais, para animar o pessoal, embora saíssemos arrasados.   Stan dizia que agora tinha medo de fazer sexo.

Um dia chegou um policial, que vinha transferido de aonde o judas perdeu a bota, era inspetor, foi ficando amigo do grupo, vinha a casa do Stan.   Um dia me chamou de lado, não tem jeito, vim para cá, para sair do armário, me apaixono logo por esse idiota que convive com vocês, mas me olha com medo.

Contei o que tinha passado com Stan, ele entendeu, foi devagar, finalmente conseguiu, mas eu lhe avisei se fizesse mal a ele, lhe cortava as bolas.

Se casaram antes da gente, logo Paul adotou dois garotos, irmãos, que tinham perdido a família, iriam para adoção, mas claro queriam separar os dois, ele conseguiu convencer ao juiz, que era sério para ter uma família.

Um dia veio um homem do serviço de tutela, sem querer bateu na porta errada, eu o reconheci como um cliente, que ia ao cabaré, mas que fazia tudo escondido.

Bati na outra porta, aonde o estavam esperando, soltei ao Paul, um velho cliente do Cabaré.

Ele entendeu que éramos fora dali, pessoas normais.

Mexeu os papeis rápido, os dois meninos conseguiram uns pais fantásticos.

Agora somos uma família, acabamos comprando o prédio em que vivemos aos poucos, inclusive a loja que está embaixo, quem leva ali um restaurante é um outro amigo nosso.

Aos poucos, o prédio virou um reduto de amigos, todos nos conhecemos, fazemos os aniversário de todos, passamos Ação de Graça, Natal, todos juntos, estamos sempre nos apoiando uns aos outros.

Quando me surgiu a oferta de vender o local do cabaré.  Fizemos uma reunião, já tínhamos discutidos isso antes, mas quem sabe escutávamos alguma coisa, sobre a luz no final do túnel.

Na verdade estava cansado, eram muitos anos andando por esta estrada, sentia que Tom queria uma vida mais simples.

Agora era a vez dele, pensei.   Stan sempre dizia que eu tinha sorte, a maioria dos proprietários de casas assim, perdiam dinheiro, pois não sabiam administrar o local, Tom ao contrário, tinha aprendido com o Gerard, levava as contas justas.

O pessoal que trabalhava, confiava nele, nunca errava nada. Inclusive quando tinham problemas, ele ajudava.   O que era interessante, dizia para a pessoa, que a ideia era minha.

Eu as vezes levava um susto, vinham me agradecer de alguma coisa, não sabia do que estavam falando, mas deduzia que tinha sido ele.

O que me fez tomar a decisão, foi quando ele teve um princípio de enfarte.

Hoje é o último show, estão todos emocionados, hoje de manhã, assinamos os papeis de venda, eu me matei de rir, quando o que queria comprar, começou a falar comigo.   Pedi desculpas, mas essas coisas ele tinha que negociar com o Tom.

Ele sorriu, pensou o cara é surdo/mudo, é fácil de engambelar, foi ao contrário, saiu o tiro pela culatra.  Tom colocou um preço muito acima do valor real, sabia que estavam desesperados, pois já tinham comprado os apartamentos de cima do cabaré.

Cada vez que tentava me colocar na conversa, eu dizia que não, era a ele que tinham que convencer.

Saímos ganhando, Tom fez uma coisa que me pareceu fantástico, esse dinheiro a mais, fez como uma indenização de todos que trabalhavam conosco.  Na verdade só duas pessoas eram fixas, os garotos que levavam o bar.  O pessoal do show, ele contabilizou os anos que trabalhavam conosco, preparou os papeis, entregou um envelope com o dinheiro.

Uma das mais antigas, me disse na cara, se não é porque tenho medo de ti, roubava esse homem para mim.   Ficamos rindo.

O show, foi com a casa cheia, como já tínhamos liquidado tudo, o dinheiro do dia, foi para uma organização LGBT. Assim fechamos com chave de ouro tudo.

Me desfiz de todas as roupas, perucas, com as meninas, elas riam como pode alguém que calça 46 subir nesses sapatos altos, 44.   Técnica dizia eu.

Os últimos meses, levamos debatendo o que faríamos primeiro.

Tom soltou pela primeira vez que tinha um sonho.

Qual é meu amado?

Queria ir conhecer Paris, assistir os shows famosos ao vivo. Mas o melhor foi que Stan e Paul vieram juntos com os garotos, na verdade os shows foram bons, mas nunca tinha visto o Tom se divertir, como quando fomos a Paris Disney.     Ele ria como um louco com os garotos, entraram em todos as coisas, comprava as coisas que eles gostavam.  Quando Stan reclamava, lhe dizia, os avôs são para isso, estragar os netos.   Era uma verdade, tínhamos idade para sermos avós desses garotos.

Foram 15 dias de farra.  Quando voltamos para casa, recebemos a visita de um advogado, sua mãe tinha morrido, deixava sua herança para ele.

Quando ele viu os números, fez uma coisa.

Stan, bem como o Paul que viviam dos seus salários, Tom fez um fideicomisso, para os garotos irem à universidade.  Quando quiseram reclamar, ele soltou que nós dois não pudemos ir porque tínhamos que trabalhar, essa mãe, para ele não significava nada. Portanto o dinheiro era para gastar.

Com uma parte, compramos uma casa numa praia, entre San Francisco e Carmel, Tom pareceu rejuvenescer, ia a praia com os garotos, quando começaram a aprender surf, ele se apontou também, Stan não entendia o que se passava, mas eu lhe expliquei, ele tinha sacrificado a vida inteira por mim, querendo que eu fosse feliz.   Agora é seu momento, quero que ele seja feliz, eu o amei desde o momento que vi, portanto ele merece isso é muito mais.

O mais interessante era ver como os jovens vinha falar com ele, como se o fato de ser surdo/mudo, ele não pudesse contar o que escutava, mas era divertido, vê-lo dando broncas nesses jovens, os meninos que tinha aprendido linguagem dos signos se matavam de rir.

Um dia veio reclamar, esses garotos pensam que porque sou surdo/mudo, sou um idiota, se enganam.  Nessa noite o amei mais que tudo na vida, esse era meu garoto.

A varanda da casa sempre estava cheia de jovens, vinham conversar com esses dois velhos.

Agora passávamos mais tempo nessa casa que em San Francisco, a casa tinha uma lareira fantástica para as noites de inverno.

Desfrutávamos muito, conversando, relembrando coisas da nossa infância, juventude, quando estavam Stan, Paul com os garotos mais.   Eles reclamava que estavam ficando velhos, pois em breve os garotos iam a universidade.  Quando se aposentaram, ficavam cada vez mais.

Tom morreu dormindo, simplesmente tinha um sorriso na cara.

Deixou tudo que tinha para os garotos, no testamento, dizia quero que eles tenham tudo que nós não tivemos.  Porque eles me alegraram muito minha vida, já tinha 75 anos.

Uma carta para mim, que era uma declaração de amor, dizia que quando seu pai o levou para a casa dos meus pais, era consciente que o ia abandonar, porque nunca mais apareceu. Tinha medo, mas nunca esperou que eu o recebesse como fiz.  Me deste amor desde o primeiro momento, fui feliz cada segundo ao teu lado.   Aproveite com nossos amigos os anos que te restem.

No enterro, quem estavam arrasados eram os garotos, porque o adoravam, um deles virou-se para mim, soltou, quem agora vai nos fazer entender a vida.

Nunca tinha desconfiado disso, ele era o confidente dos garotos.

Lhes respondi, que poderia tentar ajuda-los, podiam confiar em mim, nunca imaginei que me metia em camisa de onze varas, mas que no fundo me ajudou a superar muitas coisas.

Além e claro do Stan, que se confessava comigo.  Eu escutava a todos, sem jamais comentar qualquer coisa, me coloquei na pele do Tom.

Só espero não viver muito mais, pois sinto imensa falta dele.

 

 

 

 

 

 

 

 

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