martes, 6 de septiembre de 2022

O

 

                                                   

                                                   TUDO ERRADO

 

Parado na beira da estrada, debruçado sobre o volante, chorava como um bebê desmamado, não era para menos, mais uma vez a coisa saia como um bofetada na cara.

Tinha até medo de ligar o motor, seguir adiante, podia ter vontade de jogar o carro embaixo de outro, provocar uma acidente, mas pensou, assim não só vou matar a mim mesmo, mas outras pessoas que nada tem a ver como meu problema.

Tom Snouter, era um homem de 1,90 de altura, mas quando nasceu, ao contrário de seu irmão mais velho, era pequeno.  O começaram a chamar de Puck, como o personagem do duende de sonho de uma noite de verão, da obra de Shakespeare que sua mãe adorava.

Seus pais tinham um escritório de advogados, um dos melhores de NYC, eram os dois famosos, por serem brilhantes no seu trabalho.  Cada um era especializado num setor, mas na verdade o escritório era de sua mãe que o tinha herdado de seu pai.

Em casa era uma coisa dividida, a menina dos olhos de sua mãe, era seu irmão mais velho, tinha dois metros de altura, forte, vamos dizer bonito, para não dizer lindo, ele o adorava, era completamente diferente dele, que tinha saído ao seu pai, moreno, cabelos crespos, olhos escuros, era alto, mas o irmão mais.

Ele era louco pelo irmão, pelo pai, que era quem o colocava na cama, conversava com ele, era quem lhe dizia que nunca pensasse em ser advogado que era uma merda.

A primeira bomba, foi quando tinha dezesseis anos, os pais se separaram, seu pai conheceu a irmã de uma cliente, era o oposto de sua mãe, morena, cabelos vermelhos de irlandesa, olhos verdes, se apaixonou como um adolescente.  Mas foi honesto, falou com sua mulher, deixou o escritório, foi ser fiscal do distrito.

Ele e sua mãe de uma maneira singular, continuaram sendo amigos, só eram inimigos no tribunal, mas mesmo assim se falavam.   Seu irmão mais velho levou a coisa muito mal, mas foi para a faculdade, fora da cidade, para estudar direito.

Vivia numa hermanidade, aonde estavam outros companheiros como ele, filhos de pais ricos, a maioria queria festas, claro aconteciam muitas.  Raramente vinha a casa, era como se sentisse incomodo, mas veio pelo seu aniversário, seu presente, foi um carro, com a promessa de vir mais vezes.   Tentei falar com ele sobre o que lhe incomodava tanto.

Me olhou na cara, Puck, não de das conta, não somos mais uma família.  Esse filho da puta do nosso pai, destroçou tudo.

Voltou para a faculdade, orgulhoso do seu carro, iriam fazer uma festa pelo seu aniversário, perguntei se não podia ir, me disse olhando nos olhos, melhor não Puck, ainda não eres homem.  Fiquei furioso, claro que eu era homem, lhe respondi que tinha inclusive o piru maior que o dele.   Ficou rindo, estávamos na quadra aonde jogávamos basquete com seus amigos de antigamente.

O piru não faz o homem, o perde, nada mais que isso.  Parece que nunca podemos deixar o mesmo em paz.

Foi embora de tarde, eu fiquei olhando junto a minha mãe na calçada, enquanto ele se afastava.

No dia seguinte, era um domingo, eu me levantei mais cedo, pois ia correr com uns colegas pelo central Park, quando abri a porta do apartamento, tinham dois policiais discutindo quem dava a notícia.

Eu perguntei que noticia, pensando que alguma coisa tinha acontecido com meu pai.  Perguntaram pela minha mãe, ela sim quando lhe disse que estavam dois policiais na porta, se levantou correndo de camisola sem se importar.

A primeira coisa que disse, aconteceu algum acidente com meu filho?

Frank tinha morrido de overdose, misturou álcool, com todas as drogas que rolavam na sua festa.

Eu corri ao telefone, avisei meu pai, que saiu disparado para NYC, ele vivia em New Haven, numa urbanização, fora do centro, aonde viviam muitos advogados, gente rica.

Ele disse que ia imediatamente para aonde estava meu irmão.

Nos dois, fomos no próprio carro de polícia, minha mãe, não dizia nenhuma palavra, tinha a cabeça baixa, com as lagrimas escorrendo sem parar, apertando minha mão, que doía, mas não tinha coragem de retirar.

Quando chegamos, já o estavam levando para a morgue.

Foi uma porrada, segundo os amigos, tinha chegado alterado, mesmo com o carro novo, algo tinha acontecido.   Seu melhor amigo, que vivia em outro lugar, se afastou com meu pai, lhe contou o que tinha acontecido.

Eu escutei tudo, foi como outra merda no ventilador, dizia que meu irmão tinha um romance com um amigo dele a anos, mas que este tinha cortado com ele, porque ia se casar.  Eu não podia acreditar, fiquei abraçado ao meu pai, minha mãe, não queria soltar a mão do meu irmão, chorava deitada na maca que o levava para fazer autopsia.

Finalmente meu pai, a convenceu de deixar que ele se fosse.   Ele conseguiu que tudo fosse feito rápido, para na semana seguinte fazer o enterro.

Eu adorava meu irmão, ele a mim me incentivava, sabia que eu gostava de desenhar, de fotografia, pintar, que a minha não era fazer uma universidade careta como dizia ele.

Tudo foi como passar uma rasteira, consegui com seu amigo, saber quem era que tinha dado o fora no meu irmão fui tomar satisfação.   Mas cheguei tarde, tinha se suicidado.

Eu nunca desconfiei dos dois, o conhecia desde criança também, tinham sido amantes desde sempre, mas quando os via juntos, pareciam dois machotes, disputando as garotas, afinal eram muito bonitos, um dia me peguei imaginando os dois na cama, devia ser uma coisa linda.

Minha mãe, não se recuperou, começou a beber muito, meu pai sempre encontrava um jeito de aparecer em casa, afinal seguiam sendo amigos.  Estava preocupado, dizia que ela bebia muito.

Um dia se sentaram os dois comigo, me perguntaram de um tiro só, se eu pensava em estudar direito.   Eu tinha horror a essa profissão.  Lhes disse que se para eles fosse importante o fazia, mas não era meu sonho.

Isso queríamos escutar, tu tem que ir pelos teus sonhos, não o meu, nem de sua mãe, pense sempre assim.

Ela vendeu o escritório, aos outros sócios, o que foi pior, pois passou a beber mais, eu não conseguia a controlar, me dizia Puck me deixa em paz com a minha dor.

Eu não tinha vida própria, fazia as compras, vinha uma senhora limpar, cozinhar, duas vezes por semana.   Eu nem saia de casa nos finais de semana, pois sabia que eram os piores dias.

Um dia a encontrei desmaiada no banheiro, chamei meu pai, que veio o mais rápido possível.

Enquanto esperávamos o médico, ele me disse que se surpreendia, sempre tinha pensado que minha mãe, era a mais forte dos dois, me enganei, descobri que não sou capaz de exteriorizar o que sinto, ela ao contrário, se afoga na bebida.

Quando o médico depois de exames exaustivos nos chamou, queira que a terra me tragasse, tinha um câncer muito avançado, dos piores, acentuado pela bebida, que tinha acelerado o processo.  Só temos uma solução, cuidados para aliviar a dor, os problemas relativos a isso.

Meu pai consultou vários especialistas,

Agora alguns dias ficava conosco, tínhamos uma enfermeira, mas eu que tinha começado a estudar artes na Parsons School, tranquei a matricula, não podia pensar em estar ao seu lado.

Foi um ano tremendo, eu as vezes despertava chorando, pensava se meu irmão estivesse ali, a coisa iria melhor.   Apesar de todo apoio do meu pai, ele agora tinha dois filhos pequenos, tinha sua outra família também, mas foi um cara estupendo, esteve sempre presente, nos últimos dias dela, não saiu do seu lado.  Ela morreu segurando a mão dos dois, seus últimos momentos lúcidos foi para me dizer que se eu necessitasse, acudisse ao meu pai, ele sempre iria me querer.  Puck querido, cuide se, realize seus sonhos.

Ela se culpava do meu irmão ter ido estudar direito, para seguir com o escritório que era da família.

Me deixou de herança todo o dinheiro que estava aplicado, bem como o apartamento que agora parecia imenso para mim.

Fiquei desnorteado, me senti completamente perdido.  Minha única distração, era ir jogar basquete com o pessoa de sempre.  Voltei para a Parsons, para pelo menos fazer alguma coisa, me dediquei mais a pintura.

Foi quando escutei falar de um studio no final do Soho, de um pintor que tinha falecido a pouco tempo, com ajuda do meu pai, vendi o apartamento, comprei esse studio, podia viver nele.

Aproveitei muitas coisas que estavam ali no studio, a família levou uns meses para retirar todos os quadros dele.

Eu comecei a pintar como um louco, tinham que ir me buscar para jogar, para me relaxar, conheci um membro novo do grupo, era como meu irmão, alto, sempre sorrindo, não sei se foi por isso me aproximei dele.   Ele um dia foi ao studio para olhar meu trabalho, estudava na Parsons também, mas se dedicava a fotografia, a vídeos.

Se insinuou, eu fui honesto, apesar de parecer um adulto, nunca tinha feito sexo com ninguém, nem sabia direito como me comportar, acabamos na cama, mas algo não funcionou, ficamos amigos, com ele podia falar de tudo, se chamava Bill, nunca parávamos de falar, agora tinha um amigo.

Ele fez fotografias do meu trabalho, mostrou para um dos professores, que foi lá olhar, depois voltou com o dono de uma galeria, que me disse, que precisava que tivessem pelo menos mais dez quadros, que me lançaria no mercado, que meu trabalho era excelente.

Falei com meu pai, que um dia veio com os meninos, conhecer direito o meu trabalho, se apaixonou por um quadro que era o Frank, lhe disse coloco na exposição, mas será seu, meu velho como eu o chamava.  Os meninos faziam coro, meu velho.  Ele ria, todas essas coisas, fizeram que seus cabelos agora fossem brancos, o que lhe dava um ar distinto.

Um dia estava sentado num Starbucks, tomando um café, fazendo anotações de uma cena do outro lado da rua.  Levantei a cabeça, vi que um homem olhava fixamente a mim, evidentemente era mais velho do que eu, alto, loiro, com um bigode grande, uns olhos que pareciam um mar.

Passou ao meu lado olhou o que eu estava fazendo puxou conversa, eu estava com as perna moles, com a desculpa de mostrar meu trabalho o levei para o studio, mas bem para minha cama.    Foi como encontrar o parceiro ideal, se via que tinha mais experiencia, me foi ensinando o que fazer, sei que foi uma loucura, depois perguntou se podia voltar, mas tinha compromissos.  Se vestiu, me beijando, eu estava com falta de ar, já não podia imaginar outra coisa.  Quando ele foi embora, sentia uma energia imensa, comecei a pintar o que tinha anotado, bem como um outro quadro ao mesmo tempo, ele olhando aquele edifício através do cristal do Starbucks, segui pintando até de noite, me chamou, se via que estava num carro, começou a falar comigo, que nunca podia ter imaginado isso, se podia voltar no dia seguinte. Assim foi durante, dias e dias, o pessoal da equipe de basquete, ria da minha cara, agora tinha um sorriso de lado a lado.

Bill era o que fazia mais gozação, vejo que encontraste alguém, eu lhe contei por cima que tinha me apaixonado, que tinha encontrado a pessoa perfeita.

Quando os catálogos, convites ficaram prontos, os quadros já estavam na galeria, eu resolvi levar pessoalmente o do meu pai, assim via os garotos, sua mulher me tratava muito bem, sem avisar peguei o carro que antigamente era do meu irmão, coloquei gasolina, fui até lá.

Quando cheguei na sua casa, só estava a babá com as crianças, me disse que meu pai, estava com sua mulher numa festa num club ali perto.  Fiquei um tempo jogando com os meninos, que se divertiam comigo.

Peguei a direção do club, fui até lá, quando cheguei vi num grupo, meu pai, com mais homens, sua mulher Peggy me viu primeiro, chamou meu pai, quando ele se virou, vi que um dos homens era o Bill, o primeiro que pensei, o que faz ele aqui, veio junto com meu pai, lhe entreguei o convite, com o catalogo, disse aos dois, que esperava que fossem.  Peggy, já marcarei com a babá para ficar com eles, assim ficamos num hotel.  Bill se aproximou, não sabia que eras filho do Frank, venha vou apresentar meus pais, hoje fazem 25 anos de casados, por isso a festa.

Quando o casal se virou para mim, senti meu mundo cair com um estrondo, o pai do Bill, era o homem por quem eu estava apaixonado, estenderam a mão, mas não pude, as lagrimas caiam pela minha cara, como uma cachoeira, sair correndo entrei no carro, fui embora, o último que me lembro foi a cara de interrogação do Bill.

Por isso estava ali, não podia pensar, como ele tinha feito isso comigo, esconder que tinha uma família, que era o pai do meu melhor amigo.  Agarrava a direção com todas minhas forças, chegavam a doer, era isso que eu precisava, uma dor externa para poder me controlar.

Nisso parou atrás de mim um carro da polícia.  Um homem alto se aproximou, ficou me olhando me sacudir chorando.   Me perguntou se estava bem, sem saber por que lhe contei, o tipo ficou me olhando, me disse, que azar.  É uma merda que as vezes acontece.

Lhe contei que tinha vindo trazer um convite para o meu pai.

Seu pai mora por aqui, pode estar preocupado contigo, lhe dei o numero do seu celular, meu pai apareceu em seguida.

Quando ele chegou o policial, que era impressionante de alto, estava olhando o catalogo, eu já estava mais calmo, meu pai agradeceu, mas antes ele me pediu um convite, lhe entreguei.

Meu pai se sentou ao meu lado no carro, perguntou o que tinha acontecido, sem saber por que lhe contei tudo.  Estava uma fúria, não comigo, mas com seu amigo.   Mas se ele tem idade para ser teu pai.

Tive que convencer meu pai para não fazer nenhum escândalo.  Ele chamou a Peggy que alguém fez o favor de levar, depois me levou para o studio.

Andava de um lado para o outro, como ele pode fazer isso contigo, eu sempre desconfiei dele, pois uma vez no clube, saindo do chuveiro se insinuou para mim.

Não sabemos como ele faz, mas amanhã, faras um exame de sangue.

Lhe disse que não era necessário pois tinha tomado todo cuidado.   O senhor não está aborrecido por saber que eu sou gay.

Não meu filho, eu sempre soube, te amo muito, para criar mais problemas para ti, já basta tudo que tiveste nesse tempo todo, primeiro teu irmão, depois tua mãe, nosso divórcio. Mas veja a Peggy adora tua companhia, bem como os meninos, quando apareces depois temos que aguentar que não param de falar de ti, dos desenhos que fizeram junto contigo.

Não tenho nada contra a Peggy, sempre me tratou bem, aos meninos eu adoro pai, são como se eu visse o senhor quando criança.  Os dois eram divertidos, porque eram gêmeos, falavam sempre ao mesmo tempo, ou um começava uma frase, o outro acabava.

As vezes queriam desenhar no mesmo papel.

Pedi ao meu pai para não fazer nada, pois poderia ser um problema para meu amigo Bill, ele não sabe de nada, pior que agora podem dizer que sou uma puta, pois fiz sexo com os dois.

Meu pai abriu a boca, Bill é gay também, mas ao mesmo tempo tem uma namorada de muitos anos.   Tal pai, tal filho foi o que soltou.

Quando viu que estava calmo, foi para casa, chamou um Uber para leva-lo, ia custar uma fortuna, mas ele não se importava.

De noite apareceu o Bill, queria saber o que tinha passado.  Lhe disse que meu pai, tinha me contado que tinha uma namorada.

Sim é verdade, não posso imaginar se meus pais sabem disso.  Estávamos os dois falando, quando tocaram na porta, quando abri era seu pai.  Ai a coisa ficou feia.

A cara do Bill era um espanto só.  Agora começava a entender, foi em direção ao seu pai, com os punhos fechados.

Papai, então o senhor é o culpado do que aconteceu.   Seu pai me olhou, pediu desculpas, saiu arrastando o Bill.

Fiquei sozinho, meu mundo tinha desmoronado mais uma vez, mais tarde me chamou, mas não respondi, imagina, estar metido no meio dos dois.   Foi como num momento tivesse descoberto que eu era o mais forte, tinha colocado para fora tudo, sem pensar, comecei a pintar, uma cena diferente, ali parado nas estrada, o policial, me olhando, a cara dele era fantástica, não era um tipo bonito, mais bem um tipo que alguém devia ter dado um murro no nariz, pois se via que tinha brigado muito.

Não sabia por que, o sujeito tinha sido simpático comigo, poderia ter me olhado como mais um viado na praça, ou com qualquer outro adjetivo.   Mas não ficou sim foi me consolando, dizendo que essas coisas aconteciam, que nada era perfeito na vida, que havíamos que seguir em frente.

Fiquei pensando que policial faz isso.

Depois me joguei na cama, pensei em que merda me meti, como posso ser tão ingênuo assim, será que nunca vou aprender.

No domingo, o celular chamou várias vezes, mas só atendi meu pai, porque sabia que ia se preocupar.  Confirmava que no dia seguinte estariam na galeria sem falta, não venda o meu quadro, mostrei a foto para a Peggy que adorou.  O duro é que os meninos querem ir de qualquer maneira, prometi leva-los no final de semana, não param de falar do irmão pintor.

Tiraram da minhas mãos o catalogo, quase saíram no tapas, pois querem olhar o tempo todo.

Vou guardar dois catálogos, assim os dois tem um recordação do irmão mais velho.

Quando falei isso, tudo que senti foi isso, estou ficando mais velho, era um absurdo, pois só tinha 23 para 24 anos.

O dia seguinte, fui para a galeria, acabar de ajudar para colocar os quadros na parede, quando vi o que tinha feito do pai do Bill, tinha pensado inicialmente dar de presente para ele, mas mudei de ideia.  Se fosse vendido pelo menos saia da minha vida.

Fui para casa, antes passei num barbeiro, mandei raspar minha cabeça, como em sinal de luto, me vesti todo de negro, da cabeça aos pés.

Primeiro chegaram os amigos da Parsons, vi que Bill não estava, que merda pensei, perdi um amigo, depois começaram a chegar os convidados da galeria, jornalistas, cronistas de arte de revistas, todos falavam comigo, dois me pediram uma entrevista, chegou meu pai com a Peggy, abracei os dois, agradeci terem vindo, ela, passou a mão pela minha cabeça como minha mãe fazia, estas de luto verdade.  Me entendia.

Mas não tocou no assunto, falou foi dos meninos, espera, antes que me esqueça fui buscar os envelopes, que estavam os catálogos para os dois, fiz uma brincadeira expliquei, coloquei nos envelopes os nomes trocados, mas dentro tem uma dedicatória para cada um.  Sabes que os adoro Peggy.

Então vi na porta parados, Bill como sua mãe, tive que engolir em seco, fui falar com eles, pedi desculpas da cena do outro dia, ela segurou minha mão com as duas suas, não tem importância meu filho.  Bill me abraçou, dizendo que durante essa semana nós falávamos.

Estava ali parado, talvez esperando seu pai, quando vi subindo o policial, saberia que era ele dentro de uma multidão.  Se aproximou, primeiro me perguntou como estava?

Superando, obrigado pelo outro dia, não tive tempo de te agradecer, inclusive pintei um quadro imaginando a cena.

Está aqui?

Não está no studio.

Quero ver se me colocaste bonito no quadro.

O apresentei direito ao meu pai, bem como a Peggy, os dois o conheciam, meu pai agradeceu o do sábado, ele tirou valor do assunto, dizendo, coisas que acontecem.

As pessoas foram indo embora, vi que o quadro que tinha feito do pai do Bill, tinha sido comprado, na verdade 80% dos quadros tinham sido vendidos, meu pai inclusive tinha comprado um para colocar no seu escritório, além o do meu irmão que iria para sua casa, Peggy fez um comentário que gostei, assim os meninos, ficam sabendo que tinham outro irmão, te prepares que farão mil perguntas.

O pessoal da Parsons, me perguntou se queria comemorar, mas dei uma desculpa que estava cansado.

Quando sai, o policial estava me esperando.   Tenho que te escoltar até teu studio, pois dizem que cometeste uma infração, pintando um policial em serviço secreto.

Mas estendeu a mão, eu não sabia o seu nome, ele sim o meu, James Osborne, ao seu serviço senhor Puck.

Me perguntou se esse nome tinha a ver com “sonho de uma noite de verão”, eu lhe expliquei a história.   Me contou que quando adolescente, tinha feito esse papel no teatro da escola, meu sonho era fazer teatro, mas imagina alguém do meu tamanho no palco, fiz uma vez um casting, me disseram que eu parecia um elefante no meio dos outros atores.

Quem te rebentou o nariz?

Ele se matou de rir, isso dá por viver no meio de 8 irmãos, todos irlandeses, se sangue quente, meu pai era espanhol, minha mãe irlandesa, se parece com a mulher do teu pai.

Se começávamos a brigar, ela se sentava, ficava olhando, só dava atenção, para curar as feridas.  Até hoje é assim, sua casa, sempre parece um vendaval, eu vou voltar a trabalhar aqui em NYC, ela quer que eu viva com ela, mas me acostumei ao silêncio, ou santo Silêncio como digo.

Eu também trabalho em silêncio, antigamente, escutava música, mas percebi que só escutava a primeira, o resto desaparecia, pois me concentrava no que estava fazendo.

Tínhamos ido andando até o studio, alguns momentos, nossas mãos se roçavam, eu gostei do contato.

Quando chegamos, estavam ali dos dois trabalhos, o da cena do carro, como se eu estivesse de longe observando, o outro era seu retrato, ele me olhando espantando.

Caramba, como memorizaste minha cara?

Foste meu salvador, me acalmaste, na verdade a história parecia ir bem demais para ser verdade, pior o filho da puta, nunca me disse que era casado, pai do meu melhor amigo.

Mas conversei com meu pai, parece que não é a primeira vez que faz isso.

Já o borrei da minha cabeça, sou muito jovem para ficar sofrendo por um desgraçado.

Fazes bem, não vale a pena.  Quanto queres pelo meu retrato?

Nada, é teu. O interessante, que depois, só podia me lembrar de ti, meu amigo veio até aqui preocupado, no que íamos conversar, o pai apareceu, ele entendeu em seguida.

Não tive que falar nada.   Saíram os dois, me chamaram, mas me neguei a falar no assunto.

Não posso perder tempo pensando nisso, me senti uma puta, mas como as putas, seguem em frente vou seguir como elas.

Tu não eres uma puta, apenas, foste usado por uma pessoa sem escrúpulos.

Bom me fale de ti, James?

Bom já sabe que sou de uma família imensa, não sobrava dinheiro para ir a universidade, nem para estudar teatro, meu pai era polícia, por isso entrei para o corpo, o admirava.

Agora venho para ser inspetor, de uma delegacia aqui perto.   Assim posso tomar conta de ti.

Se aproximou, fui casado, mas me divorciei, seis meses depois, não podia dar certo, não era o que eu queria.  Ela me dizia que parecia que eu estava fazendo sexo com outro homem.

Tinha razão, não consegui te tirar da minha cabeça, não tenho experiencia, se tens paciência podemos experimentar.  Se aproximou mais, pegou minha cara com suas duas imensas mãos, me beijou com carinho, daí foi um pulo para tudo.

Acabou dormindo, me disse que tinha uma semana de folga, se eu não queria ir com ele para uma cabana que tinha sua família, na praia.  Concordei que ia, vamos no meu carro, ou num carro de patrulha.  De brincadeira, já que ele não ia usar mais uniforme, perdi a oportunidade de fazer sexo com um policial de uniforme.

Passamos pela casa de sua mãe para pegar a chave, bem como roupa para ele.

Ela me recebeu muito bem, me deu dois beijos estalados na cara.  Tens quem vir, quando todos os bandidos desta família estejam presentes, vais querer ter uma pistola para dar um tiro para cima, para pedir silencio.

Contei para o James tudo que tinha acontecido nos últimos tempos comigo, a semana passou voando, nenhum dos dois, atendeu o celular, vivemos um para o outro todo o tempo, falamos muito da vida de cada um.

Na última noite, ficamos olhando um para o outro, me disse, quando te vi, pensei, que passa com esse garoto, queria te pegar no colo, mas eres muito grande.

Terei agora que arrumar um apartamento para viver.

Tudo tinha ido tão bem, que lhe perguntei se ele não queria experimentar a viver comigo, terás sim que te acostumar a sentir o cheiro de pintura.

Na verdade do studio, o quarto, ficava mais afastado, com a cozinha, o banheiro, por último o quarto, por isso o cheiro não chegava.

Se posso ter meus livros, não incomodo muito.  Adoraria compartir contigo minha vida, mas sabes que as vezes é complicado, pelas merdas que vejo.

Quando voltamos, a partir que colocamos o celular para funcionar, as chamadas não paravam, olhei, atendi primeiro do meu pai, os gêmeo queriam falar comigo.  O mais divertido deles, disse que eu me preparasse que ia pintar melhor do que eu.  Porque tinha um quadro no salão, queriam um para o quarto deles. Com o Puck.

Depois tinham chamadas do Bill, uma inclusive com recado, se seu pai estava comigo.

Lhe respondi com um outro mensagem, que não sabia nada dele.

Já o James, tinha recados da delegacia, dizendo o horário, que tinha de se apresentar no dia seguinte, outro de sua mãe, dizendo que tinha se encantando com seu namorado, que a família inteira queria me conhecer, terminada dizendo, coitado não sabe aonde se meteu.

Quando chegamos, o Bill estava sentado na porta do Edifício. Como escutei ruido de carro imaginei que estivesses vindo para casa.

O apresentei o James.

Subimos, por que estás procurando teu pai?

Desapareceu, finalmente minha mãe resolveu encarar a situação, sabia a muito tempo de suas aventuras, mas desapareceu, inclusive, levando todo o dinheiro do banco, só não pode usar a conta dela particular, mas a do escritório, toda, os sócios estão como loucos.

Não tenho a menor ideia, sinto muito, mas passei uma semana com o James, na cabana de sua família, na praia.

Vocês estão juntos, me mostrou o retrato do James.  Impressionante os detalhes.

Sim nos conhecemos no fatídico dia da festa, ele era policial lá, viu meu carro parado, chamou meu pai.

James perguntou que delegacia estava levando o caso do pai?

Quando ele disse, é aonde vou trabalhar, me informarei a respeito, depois falo contigo.

Como estás Bill, lhe disse quando o acompanhava a porta.

Mal, pois ele sabia que eras meu amigo, fez isso com mais dois amigos meus, que filho da puta, é como se estivesse disputando comigo os homens com quem eu andava.

Era muito confuso, pois todos tinham idade para ser seu filho.

Comentei isso com o James, amanhã descubro alguma coisa.

Fomos dormir, ele me perguntou como podia preferir a ele, que não era bonito, invés de um rapaz como o Bill.

Estivemos na cama, não funcionou, na verdade creio precisávamos de amigos isso sim, me disse que terminou seu namoro, que não queria ser como seu pai.

Me dá pena, agora terei também que voltar para terminar o curso da Parsons, depois já veremos.

No dia seguinte só voltou a ver o James, na hora que voltou para casa, disse que o companheiro que tinha designado era um tio idiota.

Quando perguntei pelo caso, queria saber por que, investigou muito pouco, falou só com um advogado do escritório, que era novo, não sabia de nada.

Tampouco é que insistiu muito, eu disse que conhecia a família, pois tinham casa aonde trabalhava.   Virou-se para mim, não me diga que vivia numa comunidade gay.

Lhe disse que nem sabia o que era o homem, só o conhecia de vista.

Parece que recentemente houve um escândalo, ele ia a caça dos namorados do filho, é um depredador, namora os jovens depois desaparece.

A mulher quer passar o caso para o FBI, por causa do dinheiro que desapareceu.

Mas ele até agora não usou nenhum cartão de credito, ou coisa parecida, seu celular está fora do ar.

O caso acabou indo para o FBI, começaram a fuçar inclusive vieram falar comigo, mas lhes disse que não tinha ideia.  Que era amigo do filho também, mas pelo que sabia, não tinha ideia.

Tempos depois usou seu cartão de crédito, em Berlin, lá o conseguiram capturar, acompanhado de um menor de idade.

Andava agora nas drogas, com esse rapaz, quando o trouxeram, Bill me contou depois, que estava um trapo.  Não sabemos em que andou metido, mas se nega a falar.

Não quis sequer me ver, mas insisti muito, me disse que fazia isso com meus amigos, para não fazer comigo, que se seguisse seus instintos, teria a mim dentro de casa para abusar, por isso nunca se aproximava muito de mim, a não ser nas festas que fazia questão de posar ao meu lado.

Acabou internado num hospital, lhe diagnosticaram esquizofrenia.

Assinou o divórcio, pediu ao filho que não o fosse visitar, nem sua mulher.

Que coisa mais patética, comentei com o James, menos mal que ele nunca abusou do filho, mas o Bill está arrasado, conseguiu um trabalho com o um jornalista para fazer a semana da moda de Paris, fará a parte de vídeo, que é o que gosta.  Espero que tenha sorte.

Ele agora estava trabalhando em outras ideias, tinha já engatilhado uma outra exposição, mas queria ir com calma.

Uma agência chamou o James, para fazer um casting, parece que ele encaixava no tipo, quando soube que era um personagem gay, pediu para ler o roteiro, fazia o papel de um homem que não encaixava dentro dos padrões, por ser alto, forte, os amigos todos eram gays, era como retorno aos homens da banda, uma peça antiga.  Mas esta acabava num crime, quem descobria era justamente o personagem dele.

Aceitou fazer, vou me arriscar, pediu uma baixa temporal, para fazer o espetáculo, pensava que duraria 3 meses como muito, mas acabou durando um ano.  A mesma ia virar um filme, o contrataram para fazer o mesmo papel.

O bom que eu tinha mobilidade, mas pensei, agora será conhecido, me deixará de lado.

Era ao contrário, me queria mais, me soltou que eu lhe dava sorte, tinha deixado de ter medo.

Nesse meio tempo aconteceu a famosa reunião da família dele, era um escândalo, sua mãe tinha razão, mas ela colocava ordem no pedaço, levantava a voz, todos se calavam.

Que vergonha que vai pensar o Tom dessa família, mas ao contrário eu estava era me divertindo, quando contei para o meu pai, como era, ele convidou todo mundo para um churrasco no sábado.   O melhor, foi ver os sobrinhos dele, misturados com meus irmãos.

Eu peguei uma cena interessante, os dois mostrando aos outros, o quadro com o retrato do meu irmão, eles contando à sua maneira, que era o irmão mais velho deles, que tinha sofrido um acidente, nos sentamos aqui, rezamos por ele.

Peggy fez amizades com as mulheres todas, mas meu pai, adorava era conversar com a mãe do James.

A escutei dizendo, rezei tanto para meu filho dar certo com alguém, que ele pudesse realizar seus sonhos, agora parece que tudo veio junto.  Eles se amam, fiquei preocupada quando o James começou fazer teatro, agora cinema, mas ele só pensa no Tom

A criançada só me chamava de Puck. 

Chamaram o James para fazer uma nova montagem de “Sonho de uma noite de verão”, a ritmo de rock, mas ele não gostou do texto, como queriam montar.  Creio que tinha sexto sentido, pois foi um fracasso de bilheteria.

Fui com ele para Londres, ia fazer um filme, eu passava meus dias andando pela cidade, desenhando, captando ideias, para um próximo trabalho.   Um dia lhe esperava no set de filmagem, um homem se aproximou, ficou vendo o que eu fazia, me perguntou se não podia, desenhar o cartaz do filme, queriam como se fazia antigamente, desenhado.

O fiz, foi muito bom, meu nome aparecia na parte baixa.

Dali passamos 10 dias em Paris, queria ir aos museus, conhecer a obra dos artistas modernos da cidade.

Um paparazzi, nos flagrou numa foto, quis chantagear o James, que ficou rindo da cara do sujeito, esse é meu namorado, pretendo me casar com ele, pode publicar isso.

Me disse hoje tantos artistas saíram já do armário, para que vou ficar dando dinheiro para esse sem vergonha que veio me chantagear, se posso usar esse dinheiro, para quando me casar ir de lua de mel com meu namorado.

Ele passava das festas, dizia que sempre tinha horror dos encontros de família, essas festas cheias de drogas, bebidas, o irritavam, todo mundo é muito falso.

Quando fizemos 10 anos juntos, nos casamos, imaginem a confusão que foi a festa, não sei como sua mãe convenceu um padre católico, que era parente seu, para nos abençoar.

Agora só me faltam mais netos. Pensávamos em alugar uma barriga destas de aluguel, mas sem querer, o irmão pequeno do James, sofreu um acidente, de carro com sua mulher, bem como seus dois filhos pequeno, tinha um casal.   Ele morreu de imediato, mas ela ficou em coma muito tempo, ele conseguiu a guarda dos meninos, quando vieram estavam assustados, eu aluguei o apartamento embaixo do studio, passamos a viver ali, os meninos se acostumaram aos dois, já nos conheciam, o que tornava a coisa fácil.

A mãe acabou morrendo, James conseguiu adotar os meninos, agora quando íamos a casa do meu pai era um festa, eles tinham mais ou menos a mesma idade dos gêmeos, eu adorava ficar escutando as conversas.

Seguimos adiante, James gostava mais de fazer, teatro, sempre estava fazendo algum trabalho, um dia foi comparado com dois atores antigos, pelo seu tipo de cara, eu ria muito, claro os dois tinham o nariz achatado como o dele, Karl Maldem era um deles.

Quando o chamaram para fazer um filme de cowboy, fomos a família juntos, nos divertimos horrores, meu pai trouxe os meninos, para passarem uns dias conosco, estávamos hospedados num rancho perto do lugar de filmagem, as crianças se divertiram horrores andando a cavalo.

Eu fiz muitos desenhos, trabalhava num ritmo mais lento, por cuidar dos meninos.

James, dizia que nunca tinha imaginado que seria assim.  Às vezes me dizia ao ouvido, me apaixonei por essa pessoa sensível que estava parada num carro.

Eu sabia que alguns atores dava em cima dele. Ele fazia uma coisa, o vi fazendo, tirava o celular, começava a mostrar as fotos, meu maravilhoso marido, meus filhos.  A pessoa sabia que dali não ia sair nada, mas se insistiam ele se levantavam com toda sua altura, dizia a cara da pessoa, vá te catar, idiota.

Nossas noites eram fantásticas, eu brincava dizendo que ele tinha sido um aluno brilhante, ai de sacana me dizia, professor, pode me ensinar mais alguma coisa.

Ficávamos rindo, quando não estava filmando, os meninos se jogavam na nossa cama, demorou, mas chegou o dia que nos passaram a chamar de pai.   Um dia ele pegou os dois dizendo para os gêmeos, que tinham sorte, temos dois pais, fantásticos.

Quando nos pediram para uma reportagem, me consultou antes, lhe disse que nem pensar, não gostava disso para os garotos, por mais que se queira esconder deles algumas coisas, não fique bem.   A não ser que precises de publicidade, mas para isso existem outras maneiras.

Quando ganhou um Tony por seu último trabalho, o dedicou a mim, que o fazia forte, para enfrentar a vida, bem como a sua mãe que estava ao meu lado.

Os anos vão passando, meu trabalho é respeitado, o dele também, nossa família vai bem obrigado.

As coisas erradas que aconteceram ao princípio, acabaram nos fortalecendo.  Somos uma família com todos os problemas que essa palavra inclui, vamos levando em frente.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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