TUDO ERRADO
Parado na beira
da estrada, debruçado sobre o volante, chorava como um bebê desmamado, não era
para menos, mais uma vez a coisa saia como um bofetada na cara.
Tinha até medo de
ligar o motor, seguir adiante, podia ter vontade de jogar o carro embaixo de
outro, provocar uma acidente, mas pensou, assim não só vou matar a mim mesmo,
mas outras pessoas que nada tem a ver como meu problema.
Tom Snouter, era
um homem de 1,90 de altura, mas quando nasceu, ao contrário de seu irmão mais
velho, era pequeno. O começaram a chamar
de Puck, como o personagem do duende de sonho de uma noite de verão, da obra de
Shakespeare que sua mãe adorava.
Seus pais tinham
um escritório de advogados, um dos melhores de NYC, eram os dois famosos, por
serem brilhantes no seu trabalho. Cada
um era especializado num setor, mas na verdade o escritório era de sua mãe que
o tinha herdado de seu pai.
Em casa era uma
coisa dividida, a menina dos olhos de sua mãe, era seu irmão mais velho, tinha
dois metros de altura, forte, vamos dizer bonito, para não dizer lindo, ele o
adorava, era completamente diferente dele, que tinha saído ao seu pai, moreno,
cabelos crespos, olhos escuros, era alto, mas o irmão mais.
Ele era louco
pelo irmão, pelo pai, que era quem o colocava na cama, conversava com ele, era
quem lhe dizia que nunca pensasse em ser advogado que era uma merda.
A primeira bomba,
foi quando tinha dezesseis anos, os pais se separaram, seu pai conheceu a irmã
de uma cliente, era o oposto de sua mãe, morena, cabelos vermelhos de
irlandesa, olhos verdes, se apaixonou como um adolescente. Mas foi honesto, falou com sua mulher, deixou
o escritório, foi ser fiscal do distrito.
Ele e sua mãe de
uma maneira singular, continuaram sendo amigos, só eram inimigos no tribunal,
mas mesmo assim se falavam. Seu irmão
mais velho levou a coisa muito mal, mas foi para a faculdade, fora da cidade,
para estudar direito.
Vivia numa
hermanidade, aonde estavam outros companheiros como ele, filhos de pais ricos,
a maioria queria festas, claro aconteciam muitas. Raramente vinha a casa, era como se sentisse
incomodo, mas veio pelo seu aniversário, seu presente, foi um carro, com a
promessa de vir mais vezes. Tentei
falar com ele sobre o que lhe incomodava tanto.
Me olhou na cara,
Puck, não de das conta, não somos mais uma família. Esse filho da puta do nosso pai, destroçou
tudo.
Voltou para a faculdade,
orgulhoso do seu carro, iriam fazer uma festa pelo seu aniversário, perguntei
se não podia ir, me disse olhando nos olhos, melhor não Puck, ainda não eres
homem. Fiquei furioso, claro que eu era
homem, lhe respondi que tinha inclusive o piru maior que o dele. Ficou rindo, estávamos na quadra aonde
jogávamos basquete com seus amigos de antigamente.
O piru não faz o
homem, o perde, nada mais que isso.
Parece que nunca podemos deixar o mesmo em paz.
Foi embora de
tarde, eu fiquei olhando junto a minha mãe na calçada, enquanto ele se
afastava.
No dia seguinte,
era um domingo, eu me levantei mais cedo, pois ia correr com uns colegas pelo
central Park, quando abri a porta do apartamento, tinham dois policiais
discutindo quem dava a notícia.
Eu perguntei que
noticia, pensando que alguma coisa tinha acontecido com meu pai. Perguntaram pela minha mãe, ela sim quando
lhe disse que estavam dois policiais na porta, se levantou correndo de camisola
sem se importar.
A primeira coisa
que disse, aconteceu algum acidente com meu filho?
Frank tinha
morrido de overdose, misturou álcool, com todas as drogas que rolavam na sua
festa.
Eu corri ao
telefone, avisei meu pai, que saiu disparado para NYC, ele vivia em New Haven,
numa urbanização, fora do centro, aonde viviam muitos advogados, gente rica.
Ele disse que ia
imediatamente para aonde estava meu irmão.
Nos dois, fomos
no próprio carro de polícia, minha mãe, não dizia nenhuma palavra, tinha a
cabeça baixa, com as lagrimas escorrendo sem parar, apertando minha mão, que
doía, mas não tinha coragem de retirar.
Quando chegamos,
já o estavam levando para a morgue.
Foi uma porrada,
segundo os amigos, tinha chegado alterado, mesmo com o carro novo, algo tinha
acontecido. Seu melhor amigo, que vivia
em outro lugar, se afastou com meu pai, lhe contou o que tinha acontecido.
Eu escutei tudo,
foi como outra merda no ventilador, dizia que meu irmão tinha um romance com um
amigo dele a anos, mas que este tinha cortado com ele, porque ia se casar. Eu não podia acreditar, fiquei abraçado ao
meu pai, minha mãe, não queria soltar a mão do meu irmão, chorava deitada na
maca que o levava para fazer autopsia.
Finalmente meu
pai, a convenceu de deixar que ele se fosse.
Ele conseguiu que tudo fosse feito rápido, para na semana seguinte fazer
o enterro.
Eu adorava meu
irmão, ele a mim me incentivava, sabia que eu gostava de desenhar, de
fotografia, pintar, que a minha não era fazer uma universidade careta como
dizia ele.
Tudo foi como
passar uma rasteira, consegui com seu amigo, saber quem era que tinha dado o
fora no meu irmão fui tomar satisfação.
Mas cheguei tarde, tinha se suicidado.
Eu nunca
desconfiei dos dois, o conhecia desde criança também, tinham sido amantes desde
sempre, mas quando os via juntos, pareciam dois machotes, disputando as
garotas, afinal eram muito bonitos, um dia me peguei imaginando os dois na cama,
devia ser uma coisa linda.
Minha mãe, não se
recuperou, começou a beber muito, meu pai sempre encontrava um jeito de
aparecer em casa, afinal seguiam sendo amigos.
Estava preocupado, dizia que ela bebia muito.
Um dia se
sentaram os dois comigo, me perguntaram de um tiro só, se eu pensava em estudar
direito. Eu tinha horror a essa
profissão. Lhes disse que se para eles
fosse importante o fazia, mas não era meu sonho.
Isso queríamos
escutar, tu tem que ir pelos teus sonhos, não o meu, nem de sua mãe, pense
sempre assim.
Ela vendeu o
escritório, aos outros sócios, o que foi pior, pois passou a beber mais, eu não
conseguia a controlar, me dizia Puck me deixa em paz com a minha dor.
Eu não tinha vida
própria, fazia as compras, vinha uma senhora limpar, cozinhar, duas vezes por
semana. Eu nem saia de casa nos finais
de semana, pois sabia que eram os piores dias.
Um dia a
encontrei desmaiada no banheiro, chamei meu pai, que veio o mais rápido
possível.
Enquanto
esperávamos o médico, ele me disse que se surpreendia, sempre tinha pensado que
minha mãe, era a mais forte dos dois, me enganei, descobri que não sou capaz de
exteriorizar o que sinto, ela ao contrário, se afoga na bebida.
Quando o médico
depois de exames exaustivos nos chamou, queira que a terra me tragasse, tinha
um câncer muito avançado, dos piores, acentuado pela bebida, que tinha
acelerado o processo. Só temos uma
solução, cuidados para aliviar a dor, os problemas relativos a isso.
Meu pai consultou
vários especialistas,
Agora alguns dias
ficava conosco, tínhamos uma enfermeira, mas eu que tinha começado a estudar
artes na Parsons School, tranquei a matricula, não podia pensar em estar ao seu
lado.
Foi um ano
tremendo, eu as vezes despertava chorando, pensava se meu irmão estivesse ali,
a coisa iria melhor. Apesar de todo
apoio do meu pai, ele agora tinha dois filhos pequenos, tinha sua outra família
também, mas foi um cara estupendo, esteve sempre presente, nos últimos dias
dela, não saiu do seu lado. Ela morreu
segurando a mão dos dois, seus últimos momentos lúcidos foi para me dizer que
se eu necessitasse, acudisse ao meu pai, ele sempre iria me querer. Puck querido, cuide se, realize seus sonhos.
Ela se culpava do
meu irmão ter ido estudar direito, para seguir com o escritório que era da
família.
Me deixou de
herança todo o dinheiro que estava aplicado, bem como o apartamento que agora
parecia imenso para mim.
Fiquei
desnorteado, me senti completamente perdido.
Minha única distração, era ir jogar basquete com o pessoa de
sempre. Voltei para a Parsons, para pelo
menos fazer alguma coisa, me dediquei mais a pintura.
Foi quando
escutei falar de um studio no final do Soho, de um pintor que tinha falecido a
pouco tempo, com ajuda do meu pai, vendi o apartamento, comprei esse studio,
podia viver nele.
Aproveitei muitas
coisas que estavam ali no studio, a família levou uns meses para retirar todos
os quadros dele.
Eu comecei a
pintar como um louco, tinham que ir me buscar para jogar, para me relaxar,
conheci um membro novo do grupo, era como meu irmão, alto, sempre sorrindo, não
sei se foi por isso me aproximei dele.
Ele um dia foi ao studio para olhar meu trabalho, estudava na Parsons
também, mas se dedicava a fotografia, a vídeos.
Se insinuou, eu
fui honesto, apesar de parecer um adulto, nunca tinha feito sexo com ninguém,
nem sabia direito como me comportar, acabamos na cama, mas algo não funcionou,
ficamos amigos, com ele podia falar de tudo, se chamava Bill, nunca parávamos
de falar, agora tinha um amigo.
Ele fez
fotografias do meu trabalho, mostrou para um dos professores, que foi lá olhar,
depois voltou com o dono de uma galeria, que me disse, que precisava que
tivessem pelo menos mais dez quadros, que me lançaria no mercado, que meu
trabalho era excelente.
Falei com meu
pai, que um dia veio com os meninos, conhecer direito o meu trabalho, se
apaixonou por um quadro que era o Frank, lhe disse coloco na exposição, mas
será seu, meu velho como eu o chamava.
Os meninos faziam coro, meu velho.
Ele ria, todas essas coisas, fizeram que seus cabelos agora fossem
brancos, o que lhe dava um ar distinto.
Um dia estava
sentado num Starbucks, tomando um café, fazendo anotações de uma cena do outro
lado da rua. Levantei a cabeça, vi que
um homem olhava fixamente a mim, evidentemente era mais velho do que eu, alto,
loiro, com um bigode grande, uns olhos que pareciam um mar.
Passou ao meu
lado olhou o que eu estava fazendo puxou conversa, eu estava com as perna
moles, com a desculpa de mostrar meu trabalho o levei para o studio, mas bem
para minha cama. Foi como encontrar o
parceiro ideal, se via que tinha mais experiencia, me foi ensinando o que
fazer, sei que foi uma loucura, depois perguntou se podia voltar, mas tinha
compromissos. Se vestiu, me beijando, eu
estava com falta de ar, já não podia imaginar outra coisa. Quando ele foi embora, sentia uma energia
imensa, comecei a pintar o que tinha anotado, bem como um outro quadro ao mesmo
tempo, ele olhando aquele edifício através do cristal do Starbucks, segui
pintando até de noite, me chamou, se via que estava num carro, começou a falar
comigo, que nunca podia ter imaginado isso, se podia voltar no dia seguinte.
Assim foi durante, dias e dias, o pessoal da equipe de basquete, ria da minha
cara, agora tinha um sorriso de lado a lado.
Bill era o que
fazia mais gozação, vejo que encontraste alguém, eu lhe contei por cima que
tinha me apaixonado, que tinha encontrado a pessoa perfeita.
Quando os
catálogos, convites ficaram prontos, os quadros já estavam na galeria, eu
resolvi levar pessoalmente o do meu pai, assim via os garotos, sua mulher me
tratava muito bem, sem avisar peguei o carro que antigamente era do meu irmão,
coloquei gasolina, fui até lá.
Quando cheguei na
sua casa, só estava a babá com as crianças, me disse que meu pai, estava com
sua mulher numa festa num club ali perto.
Fiquei um tempo jogando com os meninos, que se divertiam comigo.
Peguei a direção
do club, fui até lá, quando cheguei vi num grupo, meu pai, com mais homens, sua
mulher Peggy me viu primeiro, chamou meu pai, quando ele se virou, vi que um
dos homens era o Bill, o primeiro que pensei, o que faz ele aqui, veio junto
com meu pai, lhe entreguei o convite, com o catalogo, disse aos dois, que
esperava que fossem. Peggy, já marcarei
com a babá para ficar com eles, assim ficamos num hotel. Bill se aproximou, não sabia que eras filho
do Frank, venha vou apresentar meus pais, hoje fazem 25 anos de casados, por
isso a festa.
Quando o casal se
virou para mim, senti meu mundo cair com um estrondo, o pai do Bill, era o
homem por quem eu estava apaixonado, estenderam a mão, mas não pude, as
lagrimas caiam pela minha cara, como uma cachoeira, sair correndo entrei no
carro, fui embora, o último que me lembro foi a cara de interrogação do Bill.
Por isso estava
ali, não podia pensar, como ele tinha feito isso comigo, esconder que tinha uma
família, que era o pai do meu melhor amigo.
Agarrava a direção com todas minhas forças, chegavam a doer, era isso
que eu precisava, uma dor externa para poder me controlar.
Nisso parou atrás
de mim um carro da polícia. Um homem
alto se aproximou, ficou me olhando me sacudir chorando. Me perguntou se estava bem, sem saber por
que lhe contei, o tipo ficou me olhando, me disse, que azar. É uma merda que as vezes acontece.
Lhe contei que
tinha vindo trazer um convite para o meu pai.
Seu pai mora por
aqui, pode estar preocupado contigo, lhe dei o numero do seu celular, meu pai
apareceu em seguida.
Quando ele chegou
o policial, que era impressionante de alto, estava olhando o catalogo, eu já
estava mais calmo, meu pai agradeceu, mas antes ele me pediu um convite, lhe
entreguei.
Meu pai se sentou
ao meu lado no carro, perguntou o que tinha acontecido, sem saber por que lhe
contei tudo. Estava uma fúria, não
comigo, mas com seu amigo. Mas se ele
tem idade para ser teu pai.
Tive que
convencer meu pai para não fazer nenhum escândalo. Ele chamou a Peggy que alguém fez o favor de
levar, depois me levou para o studio.
Andava de um lado
para o outro, como ele pode fazer isso contigo, eu sempre desconfiei dele, pois
uma vez no clube, saindo do chuveiro se insinuou para mim.
Não sabemos como
ele faz, mas amanhã, faras um exame de sangue.
Lhe disse que não
era necessário pois tinha tomado todo cuidado.
O senhor não está aborrecido por saber que eu sou gay.
Não meu filho, eu
sempre soube, te amo muito, para criar mais problemas para ti, já basta tudo
que tiveste nesse tempo todo, primeiro teu irmão, depois tua mãe, nosso
divórcio. Mas veja a Peggy adora tua companhia, bem como os meninos, quando
apareces depois temos que aguentar que não param de falar de ti, dos desenhos
que fizeram junto contigo.
Não tenho nada
contra a Peggy, sempre me tratou bem, aos meninos eu adoro pai, são como se eu
visse o senhor quando criança. Os dois
eram divertidos, porque eram gêmeos, falavam sempre ao mesmo tempo, ou um
começava uma frase, o outro acabava.
As vezes queriam
desenhar no mesmo papel.
Pedi ao meu pai
para não fazer nada, pois poderia ser um problema para meu amigo Bill, ele não
sabe de nada, pior que agora podem dizer que sou uma puta, pois fiz sexo com os
dois.
Meu pai abriu a
boca, Bill é gay também, mas ao mesmo tempo tem uma namorada de muitos anos. Tal pai, tal filho foi o que soltou.
Quando viu que
estava calmo, foi para casa, chamou um Uber para leva-lo, ia custar uma
fortuna, mas ele não se importava.
De noite apareceu
o Bill, queria saber o que tinha passado.
Lhe disse que meu pai, tinha me contado que tinha uma namorada.
Sim é verdade,
não posso imaginar se meus pais sabem disso.
Estávamos os dois falando, quando tocaram na porta, quando abri era seu
pai. Ai a coisa ficou feia.
A cara do Bill
era um espanto só. Agora começava a
entender, foi em direção ao seu pai, com os punhos fechados.
Papai, então o
senhor é o culpado do que aconteceu.
Seu pai me olhou, pediu desculpas, saiu arrastando o Bill.
Fiquei sozinho,
meu mundo tinha desmoronado mais uma vez, mais tarde me chamou, mas não respondi,
imagina, estar metido no meio dos dois. Foi como num momento tivesse descoberto que
eu era o mais forte, tinha colocado para fora tudo, sem pensar, comecei a
pintar, uma cena diferente, ali parado nas estrada, o policial, me olhando, a
cara dele era fantástica, não era um tipo bonito, mais bem um tipo que alguém
devia ter dado um murro no nariz, pois se via que tinha brigado muito.
Não sabia por que,
o sujeito tinha sido simpático comigo, poderia ter me olhado como mais um viado
na praça, ou com qualquer outro adjetivo.
Mas não ficou sim foi me consolando, dizendo que essas coisas
aconteciam, que nada era perfeito na vida, que havíamos que seguir em frente.
Fiquei pensando
que policial faz isso.
Depois me joguei
na cama, pensei em que merda me meti, como posso ser tão ingênuo assim, será
que nunca vou aprender.
No domingo, o
celular chamou várias vezes, mas só atendi meu pai, porque sabia que ia se
preocupar. Confirmava que no dia
seguinte estariam na galeria sem falta, não venda o meu quadro, mostrei a foto
para a Peggy que adorou. O duro é que os
meninos querem ir de qualquer maneira, prometi leva-los no final de semana, não
param de falar do irmão pintor.
Tiraram da minhas
mãos o catalogo, quase saíram no tapas, pois querem olhar o tempo todo.
Vou guardar dois
catálogos, assim os dois tem um recordação do irmão mais velho.
Quando falei
isso, tudo que senti foi isso, estou ficando mais velho, era um absurdo, pois
só tinha 23 para 24 anos.
O dia seguinte,
fui para a galeria, acabar de ajudar para colocar os quadros na parede, quando
vi o que tinha feito do pai do Bill, tinha pensado inicialmente dar de presente
para ele, mas mudei de ideia. Se fosse
vendido pelo menos saia da minha vida.
Fui para casa,
antes passei num barbeiro, mandei raspar minha cabeça, como em sinal de luto,
me vesti todo de negro, da cabeça aos pés.
Primeiro chegaram
os amigos da Parsons, vi que Bill não estava, que merda pensei, perdi um amigo,
depois começaram a chegar os convidados da galeria, jornalistas, cronistas de
arte de revistas, todos falavam comigo, dois me pediram uma entrevista, chegou
meu pai com a Peggy, abracei os dois, agradeci terem vindo, ela, passou a mão
pela minha cabeça como minha mãe fazia, estas de luto verdade. Me entendia.
Mas não tocou no
assunto, falou foi dos meninos, espera, antes que me esqueça fui buscar os
envelopes, que estavam os catálogos para os dois, fiz uma brincadeira
expliquei, coloquei nos envelopes os nomes trocados, mas dentro tem uma
dedicatória para cada um. Sabes que os
adoro Peggy.
Então vi na porta
parados, Bill como sua mãe, tive que engolir em seco, fui falar com eles, pedi
desculpas da cena do outro dia, ela segurou minha mão com as duas suas, não tem
importância meu filho. Bill me abraçou,
dizendo que durante essa semana nós falávamos.
Estava ali
parado, talvez esperando seu pai, quando vi subindo o policial, saberia que era
ele dentro de uma multidão. Se
aproximou, primeiro me perguntou como estava?
Superando, obrigado
pelo outro dia, não tive tempo de te agradecer, inclusive pintei um quadro
imaginando a cena.
Está aqui?
Não está no
studio.
Quero ver se me
colocaste bonito no quadro.
O apresentei
direito ao meu pai, bem como a Peggy, os dois o conheciam, meu pai agradeceu o
do sábado, ele tirou valor do assunto, dizendo, coisas que acontecem.
As pessoas foram
indo embora, vi que o quadro que tinha feito do pai do Bill, tinha sido
comprado, na verdade 80% dos quadros tinham sido vendidos, meu pai inclusive
tinha comprado um para colocar no seu escritório, além o do meu irmão que iria
para sua casa, Peggy fez um comentário que gostei, assim os meninos, ficam
sabendo que tinham outro irmão, te prepares que farão mil perguntas.
O pessoal da
Parsons, me perguntou se queria comemorar, mas dei uma desculpa que estava
cansado.
Quando sai, o
policial estava me esperando. Tenho que
te escoltar até teu studio, pois dizem que cometeste uma infração, pintando um
policial em serviço secreto.
Mas estendeu a
mão, eu não sabia o seu nome, ele sim o meu, James Osborne, ao seu serviço senhor
Puck.
Me perguntou se
esse nome tinha a ver com “sonho de uma noite de verão”, eu lhe expliquei a
história. Me contou que quando
adolescente, tinha feito esse papel no teatro da escola, meu sonho era fazer
teatro, mas imagina alguém do meu tamanho no palco, fiz uma vez um casting, me
disseram que eu parecia um elefante no meio dos outros atores.
Quem te rebentou
o nariz?
Ele se matou de
rir, isso dá por viver no meio de 8 irmãos, todos irlandeses, se sangue quente,
meu pai era espanhol, minha mãe irlandesa, se parece com a mulher do teu pai.
Se começávamos a
brigar, ela se sentava, ficava olhando, só dava atenção, para curar as
feridas. Até hoje é assim, sua casa,
sempre parece um vendaval, eu vou voltar a trabalhar aqui em NYC, ela quer que
eu viva com ela, mas me acostumei ao silêncio, ou santo Silêncio como digo.
Eu também
trabalho em silêncio, antigamente, escutava música, mas percebi que só escutava
a primeira, o resto desaparecia, pois me concentrava no que estava fazendo.
Tínhamos ido
andando até o studio, alguns momentos, nossas mãos se roçavam, eu gostei do
contato.
Quando chegamos,
estavam ali dos dois trabalhos, o da cena do carro, como se eu estivesse de
longe observando, o outro era seu retrato, ele me olhando espantando.
Caramba, como
memorizaste minha cara?
Foste meu
salvador, me acalmaste, na verdade a história parecia ir bem demais para ser
verdade, pior o filho da puta, nunca me disse que era casado, pai do meu melhor
amigo.
Mas conversei com
meu pai, parece que não é a primeira vez que faz isso.
Já o borrei da
minha cabeça, sou muito jovem para ficar sofrendo por um desgraçado.
Fazes bem, não
vale a pena. Quanto queres pelo meu
retrato?
Nada, é teu. O
interessante, que depois, só podia me lembrar de ti, meu amigo veio até aqui
preocupado, no que íamos conversar, o pai apareceu, ele entendeu em seguida.
Não tive que
falar nada. Saíram os dois, me
chamaram, mas me neguei a falar no assunto.
Não posso perder
tempo pensando nisso, me senti uma puta, mas como as putas, seguem em frente
vou seguir como elas.
Tu não eres uma
puta, apenas, foste usado por uma pessoa sem escrúpulos.
Bom me fale de
ti, James?
Bom já sabe que
sou de uma família imensa, não sobrava dinheiro para ir a universidade, nem
para estudar teatro, meu pai era polícia, por isso entrei para o corpo, o
admirava.
Agora venho para
ser inspetor, de uma delegacia aqui perto.
Assim posso tomar conta de ti.
Se aproximou, fui
casado, mas me divorciei, seis meses depois, não podia dar certo, não era o que
eu queria. Ela me dizia que parecia que
eu estava fazendo sexo com outro homem.
Tinha razão, não
consegui te tirar da minha cabeça, não tenho experiencia, se tens paciência
podemos experimentar. Se aproximou mais,
pegou minha cara com suas duas imensas mãos, me beijou com carinho, daí foi um
pulo para tudo.
Acabou dormindo,
me disse que tinha uma semana de folga, se eu não queria ir com ele para uma
cabana que tinha sua família, na praia.
Concordei que ia, vamos no meu carro, ou num carro de patrulha. De brincadeira, já que ele não ia usar mais
uniforme, perdi a oportunidade de fazer sexo com um policial de uniforme.
Passamos pela
casa de sua mãe para pegar a chave, bem como roupa para ele.
Ela me recebeu
muito bem, me deu dois beijos estalados na cara. Tens quem vir, quando todos os bandidos desta
família estejam presentes, vais querer ter uma pistola para dar um tiro para
cima, para pedir silencio.
Contei para o
James tudo que tinha acontecido nos últimos tempos comigo, a semana passou
voando, nenhum dos dois, atendeu o celular, vivemos um para o outro todo o
tempo, falamos muito da vida de cada um.
Na última noite,
ficamos olhando um para o outro, me disse, quando te vi, pensei, que passa com
esse garoto, queria te pegar no colo, mas eres muito grande.
Terei agora que
arrumar um apartamento para viver.
Tudo tinha ido
tão bem, que lhe perguntei se ele não queria experimentar a viver comigo, terás
sim que te acostumar a sentir o cheiro de pintura.
Na verdade do
studio, o quarto, ficava mais afastado, com a cozinha, o banheiro, por último o
quarto, por isso o cheiro não chegava.
Se posso ter meus
livros, não incomodo muito. Adoraria
compartir contigo minha vida, mas sabes que as vezes é complicado, pelas merdas
que vejo.
Quando voltamos,
a partir que colocamos o celular para funcionar, as chamadas não paravam,
olhei, atendi primeiro do meu pai, os gêmeo queriam falar comigo. O mais divertido deles, disse que eu me
preparasse que ia pintar melhor do que eu.
Porque tinha um quadro no salão, queriam um para o quarto deles. Com o
Puck.
Depois tinham
chamadas do Bill, uma inclusive com recado, se seu pai estava comigo.
Lhe respondi com
um outro mensagem, que não sabia nada dele.
Já o James, tinha
recados da delegacia, dizendo o horário, que tinha de se apresentar no dia
seguinte, outro de sua mãe, dizendo que tinha se encantando com seu namorado,
que a família inteira queria me conhecer, terminada dizendo, coitado não sabe
aonde se meteu.
Quando chegamos,
o Bill estava sentado na porta do Edifício. Como escutei ruido de carro
imaginei que estivesses vindo para casa.
O apresentei o
James.
Subimos, por que
estás procurando teu pai?
Desapareceu,
finalmente minha mãe resolveu encarar a situação, sabia a muito tempo de suas
aventuras, mas desapareceu, inclusive, levando todo o dinheiro do banco, só não
pode usar a conta dela particular, mas a do escritório, toda, os sócios estão
como loucos.
Não tenho a menor
ideia, sinto muito, mas passei uma semana com o James, na cabana de sua família,
na praia.
Vocês estão
juntos, me mostrou o retrato do James.
Impressionante os detalhes.
Sim nos
conhecemos no fatídico dia da festa, ele era policial lá, viu meu carro parado,
chamou meu pai.
James perguntou
que delegacia estava levando o caso do pai?
Quando ele disse,
é aonde vou trabalhar, me informarei a respeito, depois falo contigo.
Como estás Bill,
lhe disse quando o acompanhava a porta.
Mal, pois ele
sabia que eras meu amigo, fez isso com mais dois amigos meus, que filho da
puta, é como se estivesse disputando comigo os homens com quem eu andava.
Era muito
confuso, pois todos tinham idade para ser seu filho.
Comentei isso com
o James, amanhã descubro alguma coisa.
Fomos dormir, ele
me perguntou como podia preferir a ele, que não era bonito, invés de um rapaz
como o Bill.
Estivemos na
cama, não funcionou, na verdade creio precisávamos de amigos isso sim, me disse
que terminou seu namoro, que não queria ser como seu pai.
Me dá pena, agora
terei também que voltar para terminar o curso da Parsons, depois já veremos.
No dia seguinte
só voltou a ver o James, na hora que voltou para casa, disse que o companheiro
que tinha designado era um tio idiota.
Quando perguntei
pelo caso, queria saber por que, investigou muito pouco, falou só com um advogado
do escritório, que era novo, não sabia de nada.
Tampouco é que
insistiu muito, eu disse que conhecia a família, pois tinham casa aonde
trabalhava. Virou-se para mim, não me
diga que vivia numa comunidade gay.
Lhe disse que nem
sabia o que era o homem, só o conhecia de vista.
Parece que
recentemente houve um escândalo, ele ia a caça dos namorados do filho, é um
depredador, namora os jovens depois desaparece.
A mulher quer
passar o caso para o FBI, por causa do dinheiro que desapareceu.
Mas ele até agora
não usou nenhum cartão de credito, ou coisa parecida, seu celular está fora do
ar.
O caso acabou
indo para o FBI, começaram a fuçar inclusive vieram falar comigo, mas lhes
disse que não tinha ideia. Que era amigo
do filho também, mas pelo que sabia, não tinha ideia.
Tempos depois
usou seu cartão de crédito, em Berlin, lá o conseguiram capturar, acompanhado
de um menor de idade.
Andava agora nas
drogas, com esse rapaz, quando o trouxeram, Bill me contou depois, que estava
um trapo. Não sabemos em que andou
metido, mas se nega a falar.
Não quis sequer
me ver, mas insisti muito, me disse que fazia isso com meus amigos, para não
fazer comigo, que se seguisse seus instintos, teria a mim dentro de casa para
abusar, por isso nunca se aproximava muito de mim, a não ser nas festas que
fazia questão de posar ao meu lado.
Acabou internado
num hospital, lhe diagnosticaram esquizofrenia.
Assinou o
divórcio, pediu ao filho que não o fosse visitar, nem sua mulher.
Que coisa mais
patética, comentei com o James, menos mal que ele nunca abusou do filho, mas o
Bill está arrasado, conseguiu um trabalho com o um jornalista para fazer a
semana da moda de Paris, fará a parte de vídeo, que é o que gosta. Espero que tenha sorte.
Ele agora estava
trabalhando em outras ideias, tinha já engatilhado uma outra exposição, mas
queria ir com calma.
Uma agência
chamou o James, para fazer um casting, parece que ele encaixava no tipo, quando
soube que era um personagem gay, pediu para ler o roteiro, fazia o papel de um
homem que não encaixava dentro dos padrões, por ser alto, forte, os amigos
todos eram gays, era como retorno aos homens da banda, uma peça antiga. Mas esta acabava num crime, quem descobria
era justamente o personagem dele.
Aceitou fazer,
vou me arriscar, pediu uma baixa temporal, para fazer o espetáculo, pensava que
duraria 3 meses como muito, mas acabou durando um ano. A mesma ia virar um filme, o contrataram para
fazer o mesmo papel.
O bom que eu
tinha mobilidade, mas pensei, agora será conhecido, me deixará de lado.
Era ao contrário,
me queria mais, me soltou que eu lhe dava sorte, tinha deixado de ter medo.
Nesse meio tempo
aconteceu a famosa reunião da família dele, era um escândalo, sua mãe tinha
razão, mas ela colocava ordem no pedaço, levantava a voz, todos se calavam.
Que vergonha que
vai pensar o Tom dessa família, mas ao contrário eu estava era me divertindo,
quando contei para o meu pai, como era, ele convidou todo mundo para um
churrasco no sábado. O melhor, foi ver
os sobrinhos dele, misturados com meus irmãos.
Eu peguei uma
cena interessante, os dois mostrando aos outros, o quadro com o retrato do meu
irmão, eles contando à sua maneira, que era o irmão mais velho deles, que tinha
sofrido um acidente, nos sentamos aqui, rezamos por ele.
Peggy fez
amizades com as mulheres todas, mas meu pai, adorava era conversar com a mãe do
James.
A escutei
dizendo, rezei tanto para meu filho dar certo com alguém, que ele pudesse
realizar seus sonhos, agora parece que tudo veio junto. Eles se amam, fiquei preocupada quando o
James começou fazer teatro, agora cinema, mas ele só pensa no Tom
A criançada só me
chamava de Puck.
Chamaram o James
para fazer uma nova montagem de “Sonho de uma noite de verão”, a ritmo de rock,
mas ele não gostou do texto, como queriam montar. Creio que tinha sexto sentido, pois foi um
fracasso de bilheteria.
Fui com ele para
Londres, ia fazer um filme, eu passava meus dias andando pela cidade,
desenhando, captando ideias, para um próximo trabalho. Um dia lhe esperava no set de filmagem, um
homem se aproximou, ficou vendo o que eu fazia, me perguntou se não podia,
desenhar o cartaz do filme, queriam como se fazia antigamente, desenhado.
O fiz, foi muito
bom, meu nome aparecia na parte baixa.
Dali passamos 10
dias em Paris, queria ir aos museus, conhecer a obra dos artistas modernos da
cidade.
Um paparazzi, nos
flagrou numa foto, quis chantagear o James, que ficou rindo da cara do sujeito,
esse é meu namorado, pretendo me casar com ele, pode publicar isso.
Me disse hoje
tantos artistas saíram já do armário, para que vou ficar dando dinheiro para
esse sem vergonha que veio me chantagear, se posso usar esse dinheiro, para
quando me casar ir de lua de mel com meu namorado.
Ele passava das
festas, dizia que sempre tinha horror dos encontros de família, essas festas
cheias de drogas, bebidas, o irritavam, todo mundo é muito falso.
Quando fizemos 10
anos juntos, nos casamos, imaginem a confusão que foi a festa, não sei como sua
mãe convenceu um padre católico, que era parente seu, para nos abençoar.
Agora só me
faltam mais netos. Pensávamos em alugar uma barriga destas de aluguel, mas sem
querer, o irmão pequeno do James, sofreu um acidente, de carro com sua mulher,
bem como seus dois filhos pequeno, tinha um casal. Ele morreu de imediato, mas ela ficou em coma
muito tempo, ele conseguiu a guarda dos meninos, quando vieram estavam
assustados, eu aluguei o apartamento embaixo do studio, passamos a viver ali,
os meninos se acostumaram aos dois, já nos conheciam, o que tornava a coisa
fácil.
A mãe acabou
morrendo, James conseguiu adotar os meninos, agora quando íamos a casa do meu
pai era um festa, eles tinham mais ou menos a mesma idade dos gêmeos, eu
adorava ficar escutando as conversas.
Seguimos adiante,
James gostava mais de fazer, teatro, sempre estava fazendo algum trabalho, um
dia foi comparado com dois atores antigos, pelo seu tipo de cara, eu ria muito,
claro os dois tinham o nariz achatado como o dele, Karl Maldem era um deles.
Quando o chamaram
para fazer um filme de cowboy, fomos a família juntos, nos divertimos horrores,
meu pai trouxe os meninos, para passarem uns dias conosco, estávamos hospedados
num rancho perto do lugar de filmagem, as crianças se divertiram horrores
andando a cavalo.
Eu fiz muitos
desenhos, trabalhava num ritmo mais lento, por cuidar dos meninos.
James, dizia que
nunca tinha imaginado que seria assim. Às
vezes me dizia ao ouvido, me apaixonei por essa pessoa sensível que estava
parada num carro.
Eu sabia que
alguns atores dava em cima dele. Ele fazia uma coisa, o vi fazendo, tirava o
celular, começava a mostrar as fotos, meu maravilhoso marido, meus filhos. A pessoa sabia que dali não ia sair nada, mas
se insistiam ele se levantavam com toda sua altura, dizia a cara da pessoa, vá
te catar, idiota.
Nossas noites
eram fantásticas, eu brincava dizendo que ele tinha sido um aluno brilhante, ai
de sacana me dizia, professor, pode me ensinar mais alguma coisa.
Ficávamos rindo,
quando não estava filmando, os meninos se jogavam na nossa cama, demorou, mas
chegou o dia que nos passaram a chamar de pai. Um dia ele pegou os dois dizendo para os
gêmeos, que tinham sorte, temos dois pais, fantásticos.
Quando nos
pediram para uma reportagem, me consultou antes, lhe disse que nem pensar, não
gostava disso para os garotos, por mais que se queira esconder deles algumas
coisas, não fique bem. A não ser que
precises de publicidade, mas para isso existem outras maneiras.
Quando ganhou um
Tony por seu último trabalho, o dedicou a mim, que o fazia forte, para
enfrentar a vida, bem como a sua mãe que estava ao meu lado.
Os anos vão
passando, meu trabalho é respeitado, o dele também, nossa família vai bem
obrigado.
As coisas erradas
que aconteceram ao princípio, acabaram nos fortalecendo. Somos uma família com todos os problemas que
essa palavra inclui, vamos levando em frente.
No hay comentarios:
Publicar un comentario