lunes, 22 de agosto de 2022

DESAGRADÁVEL

 

                                                   DESAGRADÁVEL

 

Me chamo Rodrigo Sánchez, como muitos latinos, minha mãe era descendente de Mexicanos, meu pai, ah esse era um filho da puta de muito cuidado.  Pertencia a uma gang, das muitas que existe por NYC, principalmente no Bronx.  Quando nasci ele estava já na prisão, tinha uma sentença inteira para cumprir, 23 anos.

Eu tinha acabado de fazer 22, estava terminando a universidade, sempre com a notas altíssima, tinha estudado graças a bolsas de estudo, por ser um aluno brilhante, nunca precisei ser um atleta, embora, tivesse 1,80 de altura.

Ela deu um duro desgraçado para irmos em frente, passou a viver na casa de sua irmã em Long Island, esta era casada com um italiano, muito boa gente, que tinha uma oficina mecânica.

Minha paixão diga-se de passagem.

Como não era casada com ele, se casou com o homem que era seu chefe, ele me adotou, já que eu só levava o nome dela.  Depois de alguns anos indo visita-lo em prisão, resolveu que isso atrapalhava o futuro dela.

Os dois tinham morrido, justamente nas primeiras férias que tiravam fora do pais, puseram um mapa, fecharam os olhos acabaram escolhendo uma praia na Tailândia, mas claro nunca nada é perfeito, justamente estavam na praia quando ocorreu um famoso Tsunami, desapareceram do mapa, levaram tempo para encontrar seus corpos, a muito custo, o governo americano os trouxe para casa, em caixões lacrados, os enterramos, mas segui vivendo na casa que vivíamos, pois me tocou como herança.

Levei muito tempo para me recuperar, mas tinha apoio de minha tia, de sua família, além é claro do meu namorado, um sujeito espetacular, que tinha se formado um ano antes de mim, em direito.

Eu fazia engenharia mecânica, afinal era louco por motores, desde criança meus momentos livres eram na oficina mecânica do meu tio.

Justamente estava ali com ele examinando um motor de um Cadillac antigo, que estávamos recuperando juntos.

Nisso parou um carro justo na frente, com uns tipos muito estranhos.    A cara de meu tio foi ótima, entendi no momento o que era.

Saiu um homem mais baixo do que eu, se daqui alguns anos eu continuasse vivo teria essa cara, mas não tantos tatuagens como ele.

Saiu do carro gingando como os da sua laia, veio na minha direção, olhou na minha cara, me perguntou se era assim que eu recebia o meu pai.

Sinto, mas meu pai morreu a pouco mais de dois anos, tanto ele como minha mãe, o outro um idiota que se achava o rei do mundo, morreu no dia que entrou na prisão.

Virei, continuei mexendo no carro, não queria nada com ele.  Não o conhecia para nada.

Ficou uma fera, como podia desrespeitar ao seu próprio pai.

Meu tio, que era mais calmo, como espera que te receba como seu pai, se nunca te viu na vida, foi criado de outra maneira, longe do Bronx, longe de tudo isso.

Pois eu saí da prisão ontem, tudo que sonhava era ver meu filho.

Virei me para ele, sabia que tinha filhos com outra mulher, por um acaso já viste teus outros filhos, fui enumerando, dois morreram traficando drogas, um está na prisão, a garota coitada, se prostitui, vens procurar a mim que nunca te vi na vida.  Tenha paciência, eu tenho uma vida, não penso sequer conversar contigo.

Contigo não, deves dizer com o senhor, mas respeito.

Perdi a paciência, era mais alto que ele, podia ser mais forte do que eu, mas eu também sabia brigar, tinha lutado muito, para não ser vítima de abusos.

Me coloquei na frente dele, o olhei diretamente nos olhos, alguma vez te preocupaste se precisávamos de dinheiro, eu de um pai que me aconselha-se, que estivesse presente nos meus bons e maus momentos.   Não, estava preso, por tráfico de drogas, por vender essa merda aos jovens.   Olhe teus outros filhos, seguiram teus passos, aonde foram parar.   Nem pensar, sinto muito, mas não quero nada contigo.

Vi que seus homens, tinha a mão na cintura, sinal de que estavam armados.

Voltei ao carro, segui trabalhando como se não estivesse ali, creio que se deu conta que não valia a pena insistir, ainda tentou argumentar com meu tio, que tinha o direito de me conhecer.

Escutei que meu tio falava baixo com ele, é como tu, cabeça dura, tens que entender que ele não tem nada a ver com o teu mundo.  No final do ano, será um engenheiro mecânico, tudo porque estudou, lutou para chegar lá, sem ajuda de ninguém.

Depois só escutei o ruido do carro indo embora.

Sabia que não ficaria livre dele por muito tempo. Mas fiz tudo para me concentrar, segui mexendo no carro.

Quando chegamos na casa do meu tio, minha tia já sabia da história.   Estava nervosa, como ia ser agora.

A deixei tranquila, não queria nada com ele, isso ela podia ter certeza.

Durante a semana, eu fazia aulas de manhã, depois trabalhava num restaurante, cuidando do caixa, atendendo clientes.

Um dia ele apareceu, com um traje passado de moda, que cheirava a naftalina, queria uma mesa, sem tirar os olhos da cara dele, perguntei se tinha reserva?

Aqui só atendemos clientes com reserva, sinto muito.  Quis forçar a barra, mas justo nesse momento parou um carro da polícia atrás do seu.

Foi embora.

Contei tudo ao Brando, avisei que tivesse cuidado, nessa noite estava eufórico, tinha sido convidado para trabalhar com um fiscal que tinha muito nome.

Fui claro para ele, meu pai não vai me deixar em paz, creio que isso pode ser um problema para ti, eu te quero, tanto que não quero estragar tua vida.   Acho melhor passares um tempo na casa dos teus pais.

Uma semana depois, cheguei em casa morto de cansado, tinha uma prova final no dia seguinte, vi seu carro parado diante do edifício.   Já estava chateado porque o Brando pensou bem, resolveu aceitar meu argumento, seguíamos nos vendo, mas já não ficava na minha casa.

Não o vi por ali, mas estava dentro do meu apartamento.

Que bem vives, me soltou, não me disse boa noite, nada.

Fui até ele, soltei, tenho que estudar, por favor vá embora, pois senão eu chamarei a policia o denunciarei como invasão de domicilio.

Não vão fazer nada, essa é a casa do meu filho.

Como vais provar isso, fazendo uma exame de ADN urgente, se sequer levo teu nome, me deixa em paz, por favor, tenho uma prova importante, prometo que quando esteja terminado o curso, falo contigo, mas agora não.

Se levantou, escreveu num papel o número de seu celular, foi embora, passou raspado por mim, espero que me chames.

Foi difícil me concentrar nos livros essa noite, falei com meu tio, terei que enfrentar essa fera, mas não quero nada com ele.

Acabei os exames, tive sorte, em saber me concentrar, passei com a nota máxima, receberia um diploma cum laude.

Lhe chamei, disse que podia vir essa noite na minha casa, mas que viesse sozinho, sem esse carro horroroso, nada que chamasse atenção.

Ficou puto quando chegou, se deu conta que eu tinha trocado toda fechadura, agora eram várias de máxima segurança.

Estava vestido simplesmente com uma calças jeans, uma camiseta.

Lhe disse na cara, que assim estava melhor, fui até ele, retirei dois cordões imensos dourados que tinha em volta do pescoço, coloquei na sua mão, com isso pareces um idiota.

Como foi teus exames, já acabaram?

Sim, acabaram, me vou diplomar em uma semana, depois irei embora daqui, estarei fora do pais algum tempo, vou trabalhar para uma fábrica de aviões em outro lugar.

Ficou me olhando, sem saber se eu falava sério ou não.

O senhor não me conhece, sou uma pessoa franca, apesar que meu outro pai, minha mãe me ajudaram, eu sempre trabalhei, consegui estudar com bolsas de estudo, fiz a faculdade porque tinha notas excelentes, tudo por meu esforço próprio, não quero nada teu.

Quem era o rapaz que vivia aqui contigo?

Vejo que andaste fisgando minha vida.  Bom esse rapaz, é ou era meu namorado, como vai trabalhar com um fiscal, lhe pedi que se afastasse de mim, pois minha companhia, a partir que tenho um pai, que acaba de cumprir pena de 23 anos, isso podia prejudicar sua carreira, não queria mas aceitou o que lhe pedi.   Sim sou gay.

Ele ficou olhando, começou a chorar, tinha um companheiro que dizia que tudo que fazemos aqui, aqui se paga.

Eu quando entrei para a prisão, fui carne fresca, abusaram de mim, depois abusei de todos os novos que chegaram, depois tinha um garoto, que era meu, fazia o papel de minha mulher, agora descubro que meu filho é gay.   Ironia do destino.

Tens vergonha de mim?

Na verdade não, porque nunca te considerei meu pai, só emprestaste teu esperma, para que eu nascesse, mas o pai que me criou, foi outro, o amava, levei muito tempo para me repor a morte dos dois.

Como morreram?

Contei para ele, trabalhavam duro, a primeira oportunidade que tinham de fazer uma férias, escolheram ir para uma praia em outro pais.  Fizeram um jogo, em cima de um mapa, foram para a Tailândia, foram tragados por uma onda imensa, num tsunami.

Tive que explicar para ele o que era.

Ficou me olhando com a boca aberta, impressionado.

Perdi os dois ao mesmo tempo, mas tinham me educado bem, apesar que o apartamento agora é meu, trabalho, o senhor viu, comecei como garçom, mas hoje dirijo o restaurante.

Acabei meu curso, fui escolhido por essa empresa, para trabalhar para eles, ao mesmo tempo fazer práticas, sobre motores de avião.

Senti que estava orgulhoso de mim.

Me perguntou se eu usava drogas?

Jamais, sequer bebo, nesta casa nunca se permitiu isso, nem eu tive tempo para perder na vida com nada disso.

Fazes bem, olha aonde eu vim parar.   Mas sou honesto, outro dia fiquei ofendido, nunca tive outros filhos além de ti.   Esses meninos, eram filhos do meu irmão, ele morreu na prisão.  Entramos juntos, mas ele morreu dois anos depois.

Eu era um idiota renomado, agora tenho que escapar disso tudo, mal sai da prisão, foram me buscar, acham que tenho mais vivência, por ter convivido com outro marginais.

Tenho sim vivência em me proteger, para conseguir sair vivo de lá.     Na verdade venho me despedir, sairei de tua casa, vou desaparecer por algum tempo, não quero que tenhas vergonha de mim.

Espero que sim, tens dinheiro?

Não, mas sei trabalhar, durante o tempo que estive na prisão, trabalhei na oficina mecânica, entendo de carros.  Não se preocupe por mim.

Por um tempo não terei celular, mas chamarei ao teu com um desses que se usam agora, que ninguém sabe de aonde vem.

Na hora de ir embora, se levantou, sorriu, fico orgulhoso de ti, espero que daqui algum tempo não tenhas vergonha de mim.   Posso te dar um abraço?

Lhe disse que sim, me abraçou, me beijou dos dois lados da cara, disse que estava orgulhos.

Seja feliz.

Uma semana depois embarquei para Londres, de lá para a cidade aonde ia trabalhar.

Me despedi do Brando, sabia que ele já estava com outra pessoa, mais conveniente para ele.

Um ano depois, recebi uma chamada dele, disse que agora tinha outro nome, passava a se chamar Antônio Vargas, que tinha um emprego, que estava tentando borrar todo o passado.

Me chamou de novo na véspera de Natal, me perguntou como ia comemorar?

Lhe respondi que como estava cansando, tinha uma semana de folga, ia passar uma semana em Paris, sozinho.

Já encontraras uma pessoa que te queira.  Feliz Natal meu filho.

Fiquei com pena dele, imaginava como seria os natais na prisão.  Mas minha mãe sempre dizia que cada um escolhe seu destino, tem que aguentar com isso.

Deveria ter escolhido ir para NYC, passar com meus tios, mas estes tinham resolvido se mudar, para Miami, pois minha tia nunca tinha suportado o inverno, os meninos, iriam dentro de breve a uma universidade lá.

Falei com eles, fui para Paris, foi ótimo, apesar de que passar essa noite sozinho foi pesado, mas me distrai do meu trabalho.

Quando voltei, fui procurado por uma pessoa que vinha acompanhando meus progresso, recebi um convite para ir trabalhar em Everret, no estado de Washington, na fábrica da Boeing, era uma coisa boa para mim, além de um bom salário, podia seguir em frente.

Quando meu pai me chamou em janeiro, lhe disse aonde estava.

Ele perguntou se podia me visitar?

Lhe disse que sim, assim que tivesse um apartamento ou casa, lhe avisaria.

Ele veio quando lhe disse, estava diferente, já não usava os cabelos como antigamente, vi que tinha borrado as tatuagens mais chamativas, me disse que trabalhava numa oficina mecânica em Toronto.

Passou um final de semana comigo.  Foi me contando como tinha sido sua vida na prisão, foi claro comigo, estou vivendo com o menino que foi meu companheiro nos últimos anos, quando fui embora, ele tinha saído, o levei comigo.  Estamos tentando que dê certo, de certa maneira ele gosta de mim.   Mas está difícil, sempre usou drogas, estou tentando lhe ajudar, mas fica complicado, se ele não se ajuda.

Quando voltou, me telefonou avisando que tinha que mudar de cidade, pois o rapaz tinha desaparecido, com certeza por culpa das drogas.  Já me daria notícias.

Soube depois que estava em Vancouver, me disse que o desagradável de tudo, foi ter que ver seu companheiro morto por overdose, era muito jovem, uma pena.  Tens razão, fui inconsciente na minha juventude, agora pago por isso.

Tinha feito algumas amizades no trabalho, o sujeito que me ajudava, Rick Nelson, era a gozação, sempre estavam pedindo para cantar, por causa do nome.  Num primeiro momento ficou chateado, pois ele esperava o meu lugar, com o tempo ficamos, amigos, era muito mais velho do que eu, queria esse projeto novo como um filho.

Mas ao me ver jogar no trabalho, ficou meu amigo, nos entendíamos bem, as vezes olhava para ele, estava tão concentrado como eu no trabalho.

Me chamou um dia, dizendo, todas as semanas nos reunimos na minha casa, um grupo de amigos para jogar cartas, tomar uma cerveja, falar da vida.

Pensei o típico encontro de heterossexuais, não vou gostar disso.

Primeiro perguntou se eu tinha alguma coisa contra os gays?

Não, por quê?

Porque todos somos gays, alguns trabalham aqui, mas em outros setores.

Fiquei de ir.    Um dia voltando do trabalho, fazia sempre o mesmo caminho, descia do ônibus, não tinha carro nesse momento, vinha caminhando, a semanas cruzava alguns dias com um rapaz bonito, que me atraia, nessa noite resolvi dizer boa noite.

Parou de repente, me soltou, já não era sem tempo, nos olhamos, mas sequer dizemos olá, ou boa noite.

Me estendeu a mão, se apresetou, Bill.

Eu o convidei para comer alguma coisa, estava morto de fome, ele me levou a um bar desses que ficam abertos a noite inteira, que tinha uns sanduiches fantásticos, me disse para comer o de pastrami, que era muito bom.  Com efeito era.

Me contou que era médico, trabalha em urgências, trabalhava 24 horas, tinha as outras 24 livre.

Fomos para minha casa, pois me disse que morava com seu pai.

Foi fantástico, nunca tinha me sentindo assim com ninguém, nem com o Brando, que conhecia desde jovem.  Foi como entrar numa explosão, sem dizer nada, ficou para dormir, de manhã me disse que fazia tempo que procurava alguém que o fizesse se sentir assim.

Tomamos juntos o café da manhã, lhe expliquei que tinha que ir para a fábrica, me deu seu numero de celular, perguntou se podíamos nos ver essa noite.

A partir desse momento, foram muitas noites impressionantes. Na semana seguinte Rich Nelson, me lembrou do jogo de cartas de sua casa, como tinha prometido ir, fui, sabia que Bill, iria trabalhar até uma determinada hora.

Fazia tempo que não me sentia tão à vontade com um grupo de pessoas, eu não conhecia nenhum deles, eram todos gays, mas nenhum deles era afetados, eu odiava isso.  Dois que estavam ali, formavam um casal, contavam que tinham se casado a meio ano, que estavam agora na fila de uma adoção, os dois queremos ser uma família.

A conversa durante um tempo, derivou nisso, um deles virou-se para o Rick, dizendo, tu pelo menos tem teu filho.

Ele mais ou menos me contou a história, fui casado, foi antes de servir o exército, na unidade de veículos blindados, era o mecânico de todos eles.   Mas claro, tive aventuras com outros homens, me descobri, quando voltei, claro o menino tinha nascido, mas ela estava com outro homem, foi uma disputa incrível, fizemos teste de ADN, era realmente meu, ela bebia muito, acabei conseguindo a guarda do meu filho.

Nos damos muito bem, é um senhor tipo.

Eu estava sentado de costa para a porta, escutei uma voz dizendo, estás outra vez contando a história da ninha vida?

Venha conhecer meu chefe, quando virei era o Bill, ele riu, já nos conhecemos, veio até mim me deu um beijo na boca.

Então é dele que não paras de falar?

Sim pai, é dele, mas não vai contar nada, verdade?

Eu estava completamente sem graça, devia estar vermelho.

Rick, bateu no meu ombro, não passa nada, fica tudo em família.

A partir de então, estávamos sempre juntos.

Um dia perguntei ao Rick por que não tinha ninguém?

Eu me dediquei a cuidar do meu filho, quando era pequeno era difícil escapar para noitadas, não tinha família.  Depois nunca encontrei uma pessoa para me apaixonar.

Eu estava feliz, era isso que valia, um dia meu pai, chegou com um carro, tinha vindo desde Vancouver conduzindo, me trazia esse que tinha recuperado de presente.  Me disse, assim não tens que ir de ônibus ao trabalho.

Como tinha chegado cansado, logo foi dormir, no quarto que tinha montado para quando ele viesse.  Nem tive tempo de falar do Bill.

Este veio tarde da noite, lhe disse que meu pai estava ali, já tinha contado minha história para ele, isso não pareceu lhe incomodar.

Estivemos muito tempo deitados, abraçados um ao outro, falando aos sussurros.

No dia seguinte de manhã, meu pai abriu a porta para dizer que o café estava pronto, nos pegou dormindo nus, abraçados.

Nisso o Bill despertou, ele como se nada estivesse acontecendo, se sentou ao meu lado na cama, riu, peguei meu filho no flagra, riu, me despertei, o vi ali sentado.  Só me disse, não me contaste nada.  Vou preparar mais café, assim tomamos todos juntos.

Bill pensou que ele ia fazer um escândalo.

Ao despedirmos, nos abraçou a cada um, nos deu um beijo, disse ao ouvido do Bill, faça feliz meu garoto, que ele merece.

Nessa noite tínhamos jogo, perguntei se queria ir?

Vou limpar esses bunda moles dos teus amigos.

Lhe disse que ia ser divertido, pois jogávamos por cêntimos.

Mas foi, passei por casa para tomar um banho, não contei que Rick era pai do Bill.

Rick quando viu meu pai, o olhava muito, tinha que avisa-lo, mas deixei passar.

Eles todos bebiam, menos eu, sempre tinha latas de coca cola para mim.

Quando Bill chegou, cansado, da porta soltou, vou tomar um banho, já me reúno com vocês, fui junto com ele.

Rick então comentou, finalmente meu filho encontrou alguém que possa amar, construir uma família.

Meu pai, soltou, eu os peguei essa manhã na cama, pensei que Rodrigo estava sozinho, mas teu filho me parece fantástico.

Quando voltamos estavam conversando como velhos amigos.  Ao levantar para ir embora, para minha surpresa Rick soltou, porque não ficas para conversarmos mais.

Fiquei preocupado, Rick era uma pessoa excelente.

Estava falando com Bill sobre isso, quando escutei meu pai voltando.

No dia seguinte, me disse, antes que o Rick fizesse ou quisesse qualquer coisa, contei meu passado para ele, não quero que tenhas ilusão de encontrar um homem perfeito, ficamos de jantar hoje.   Prefiro assim, ele me atrai, mas tem que saber aonde pisa.

Lhe dei um abraço, assim se faz.

Fui trabalhar, quando voltei de noite, não estava, apareceu eufórico no outro dia, que homem fantástico me soltou.  Me disse que não se importava em absoluto meu passado, que todos tínhamos alguma coisa negra atrás da gente.

Agora éramos quatro, Rick, arrumou um emprego para ele, numa oficina de um amigo dele, passaram a viver juntos.

Eu por desconfiança nunca deixava de observar meu pai. Agora era um homem mais relaxado, sorria mais, estava feliz.

Um dia chegou em casa apavorado, me disse que tinha se cruzado com dois traficantes da época dele, não me reconheceram, mas por pouco, um deles ficou me olhando desconfiado, claro agora não tenho tatuagens, nem a que sinalizava os da gang.   Mas meu medo é por causa do Rick.

Fico, enfrento isso, ou vou embora como sempre?

Fale com ele, vocês agora são felizes, acho que tens que lutar pelo que tens.

Conversaram muito pelo visto.

Mas a coisa ficou feia, queria que ele distribuísse drogas ali na cidade, ele se negou, lhe deram um castigo exemplar, primeiro porque descobriram que era gay, lhe deram uma surra, foi parar em urgência, completamente desacordado, esteve em coma vários dias, Rick, não saiu do seu lado.  Mas por azar, ficou uma figura horrível, tinham lhe cortado a cara toda, como num jogo, as cicatrizes era horríveis, pernas quebradas, bem como um braço, sua recuperação foi lenta, mas tinha Rick, além de nós ao seu lado.

Quando estivemos sozinhos, me disse que pensou que tinha morrido, que estava pagando por todas as merdas que tinha feito quando jovem.  Eu quando fui para a prisão não sabia que tua mãe estava gravida, talvez, tivesse tentado mudar de vida, mas meu irmão mais velho estava metido até o gasganete nessa merda.

Quando soube que ia ser pai, fiquei contente, mas de repente tua mãe deixou de ir, entendi que tinha direito a ter uma nova vida.   Tinha vergonha de terem abusado tantas vezes de mim, inclusive cheguei a gostar das maldades que me faziam, pois assim parecia que estava pagando o preço do que tinha feito de errado.

Nunca me esquecerei, justo dias antes de ser preso, um dos jovens a quem tinha vendido drogas, foi encontrado morto, a primeira pessoa que o viu fui eu.   Era meu companheiro na escola, fiquei horrorizado, disse ao meu irmão que me largava, me deu uma porrada em plena cara, dizendo, quando entras, já não podes sair, seu idiota.

Mas resultou que foi ele quem tinha matado o rapaz, por uma droga de má qualidade, depois quando ficou na prisão, viu que não podia me proteger, que abusavam de mim, uma e outra vez, pensei que ia me defender, olhou lentamente na minha cara, me disse que eu não passava disso de um viado de muito cuidado, basta olhar sempre tuas maneiras, te coloquei na gang para ver se viravas homem, mas errei.  

Deixou de falar comigo, até incentivava que me abusassem. Um dia fui parar no hospital, alguém entrou de madrugada, tentou me matar, era ele, aproximou sua boca ao meu ouvido, dizendo que tinha vergonha de mim, que era melhor que eu morresse.  Por sorte um guarda o pegou, eu já não conseguia respirar, não podia me defender, pois tinha os braços presos por correia.

Quando falaste dos filhos dele, pensando que eram meus, pensei, Deus já o castigou.

Mas essas revanches, com sabor de vingança, na verdade nos deixa com a boca amarga, quando finalmente me aceitaste, eu quase morri de felicidade, mas nunca quis te atrapalhar, tenho orgulho do que eres.

Mas agora terei que ir embora, pois voltaram uma e outra vez, cada vez farão pior, tenho medo por causa do Rick, finalmente alguém me ama, eu também o quero muito, por isso não sou capaz de ficar aqui.

Entre todos tentamos convence-lo, mas eu entendia, era como eu, quando colocava uma coisa na cabeça era difícil de tirar.

O jeito foi convence-lo de primeiro fazer uma cirurgia, Bill tinha falado com um cirurgião de estética, que lhe operou a cara inteira.   Rick, alugou uma casa no campo, para ficar com ele lá até sua recuperação.

Pior, resolveram que iriam embora os dois juntos.  Rick estava loucamente apaixonado por ele.

Por momento, me chamaram para dar aulas no MIT, dentro do processo de motores elétricos, que desenvolvia junto com Rick, concordei se ele fosse.  Foi a solução, Bill conseguiu um emprego lá, fomos os quatros, agora vivíamos todos juntos, num campo fora da cidade, ele com o Rick, montaram num celeiro uma garagem, agora tinha medo de ir à cidade, que o vissem, embora depois da cirurgia tenha ficado completamente diferente.  Lhe dava medo.

Um dia sentados os dois na varanda, me contou que tinha medo pela primeira vez na sua vida. Não só por ele, mas por nós.   Não sei aonde conseguiu uma arma, estava sempre de sobreaviso.

Um dia desapareceu, ficamos alucinados, só deixou um bilhete, não posso viver com esse medo, tenho que deixar de ser a caça para ser o caçador.

Não tínhamos ideia de aonde poderia ter ido.  Na verdade voltou a cidade aonde vivíamos antes, matou os dois que tinham feito com ele essa maldade, entregou para a policia toda a quadrilha, depois de tudo feito, se suicidou, pois sabia que viriam mais por ele.

Para mim que tinha aprendido a ama-lo, foi uma porrada na cara.

Mas estávamos preocupado pelo Rick, este ainda tinha esperanças que ele voltasse.

Me disse um dia, o amei no momento que entraste com ele pela porta, tinha nele alguma coisa escura do seu passado.   Mas antes sequer de me dar um beijo, me contou toda sua vida, que tentava te recuperar, depois de todos os erros de sua juventude.

Aos poucos deixava de ter pesadelos, que eram horrorosos, me avisou deles, proviam dos abusos que tinha sofrido ao entrar na prisão.

Me contou do seu irmão, aqui no campo a princípio parecia feliz, mas os pesadelos tinham voltado piores.

Agora toca levar adiante essa vida.

Convenci Rick de continuar comigo no projeto, mas claro ver o sofrimento do pai, afetou muitíssimo ao Bill, maldisse uma vez o fato de eu ter apresentado meu pai, ao seu.

Foi se afastando de mim, um dia recebeu um convite para ir trabalhar num hospital em NYC, foi embora, apenas me disse adeus, arrastou seu pai com ele.

Fiquei sozinho, de repente tinha um vazio imenso, tinha perdido o pai que tinha recuperado, o homem da minha vida, além de um grande amigo.

O projeto ficou desinteressante, mas as duras penas terminei de fazer.

Recebi um convite para ir trabalhar em Osaka no Japão.  Nem pensei duas vezes, o contrato era bom, tinha economizado todos esses anos, para uma aventura assim.

Aceitei, aproveitei meu projeto, fiz pequenos arranjos nos mesmo, para patinetes, vespas modernas movidas a energia limpa.  A vida me ia bem, mas tinha me tornado totalmente fechado em mim mesmo.

No edifício que morava, tinha como vizinho, um sujeito que pensei que era da Yakuza, sempre me dizia bom dia, boa noite, já falava bem o japonês, um dia me ajudou a subir com as compras, na hora que abriu sua porta, saiu um garoto, me apresentou seu filho, era um garoto com síndrome de Dow, o garoto sempre que me via, vinha me abraçar.

Um dia passeando pelas ruas, fazendo compras, vi que ele era na verdade um tatuador, me explicou que tinha tatuagens para chamar a atenção, fomos ficando amigos.

Um dia me pediu se podia ficar com seu filho, pois tinha que atender um cliente justamente da Yakuza, a babá não tinha aparecido, ele já estava atrasado.

Fiquei no seu apartamento, não podia ser mais japonês, o garoto não podia ser mais inteligente, aparentemente tinha a cara de um garoto com síndrome, mas conversava direito, gostava de jogos, ganhava sempre ele, se matava de rir.

Quando ele chegou, estávamos nos divertindo muito, colocou o garoto para dormir, com muito carinho, fiquei observando.  Depois me convidou para uma cerveja, lhe disse que não bebia, ele tinha pensado que sim, tinha comprado como uma forma de me agradecer.

No que foi abrir a porta, nossas mão se chocaram, dai foi um passo para acabamos na cama, ou melhor dizendo no tatame.

Depois, ria muito, disse que não tinha muita prática, como os americanos, me explicou que na verdade o garoto era seu sobrinho, dizia que era seu filho, para não complicar muito a coisa, meu irmão o ia abandonar, leva-lo a um campo, o deixar perdido, não pude consentir.

Nos tornamos inseparáveis, estávamos sempre com Bobby, eu passei a chama-lo assim, ele gostava.

Comecei a construir coisas que serviam para uma criança, o Bobby era meu cobaia, se ele gostava, sabia que ia dar certo.

Kim, estava todo o seu tempo livre comigo, resolvemos tentar viver juntos, foi o máximo, tínhamos uma ligação forte.   O que mais gostava, era ele me provocar ao máximo, esperar que eu tivesse o orgasmo, para ter isso junto.

Meu contrato chegava ao final, não haviam muitas escolas para crianças assim por ali, perguntei por que não voltava comigo para os Estados Unidos, podíamos nos casar, eu vinha ensinando inglês ao Bobby, ele falava perfeitamente.   Para ele sempre haveria campo de trabalho, pois suas tatuagens eram perfeitas.

Fomos viver numa cidade pequena, mas que tinha escola para o Bobby, tínhamos o mar, que ele adorava, vivíamos quase na frente de uma pequena praia, perto de San Francisco.

No verão Kim não dava abasto de tanto trabalho, eu também, porque abri uma pequena oficina, um dos meus primos veio viver conosco, trouxe sua mulher, seus dois filhos, estes eram pequenos, adoravam o Bobby que inventava milhões de jogos com eles.

Eu as vezes tenho medo de tanto coisa boa, quando o Bobby ficou doente, quase morri, tinha me apegado tanto a ele, que não podia imaginar minha vida sem meu filho adotivo.

Ele quase morreu, mas um médico conseguiu salva-lo, quando fui lhe agradecer, levei um susto era o Bill.   Estava muito diferente, a cara fechada, dura, me olhou de cima a baixo, me disse na cara, vejo que continuas a sobreviver.

Na hora não entendi, depois me contou, Rick tinha se suicidado, não conseguia imaginar a vida sem meu pai.  Então entendia a raiva dele.

Tentei argumentar, mas não houve jeito, quando conheceu o Kim, vi que lhe interessava, começou fazendo uma tatuagem, Kim que era muito tímido, me disse depois que durante a tatuagem tinha tentado fazer sexo com ele.  Quando me neguei se colocou furioso, acredito que teu amigo, toma drogas.

Não podia acreditar, quando falei com ele a respeito, me disse que sim, que eu o tinha abandonado.

Mas o caso era ao contrário.  Lhe disse que deixasse o Kim em paz, pois era um homem simples, não entendia o que ele estava fazendo.

Um dia apareceu em casa, nunca o tinha visto assim, vinha armado, disse que eu tinha destroçado a vida dele.   Não sei se de ver em filmes, Bobby chamou a polícia, que apareceu em seguida.

Falei com o Kim de irmos embora dali, ele disse que nem pensar, lembra-se que me contaste de teu pai, quanto mais fugia, mais complicada ficava sua vida.

Não colocamos denuncia nenhuma, mas Bill, foi obrigado a fazer um tratamento.  Se não fosse porque era um excelente médico perdia o emprego.

Tentou se aproximar de novo, mas lhe disse que respeitava além de amar meu marido, ao meu filho também.

Tempos depois soube que tinha conseguido uma transferência para outro hospital em Miami.

Meu primo me disse um dia, que se lembrava de mim de criança, que as coisas sempre aconteciam comigo, mas que de alguma maneira, eu continuava sobrevivendo.

Era verdade, minha vida estrava cheia de coisas desagradáveis, mas eu sempre me suplantava.

Quando surgiu a ocasião do Bobby ir para a faculdade, deixamos que ele escolhesse o que queria fazer.

Queria ser engenheiro mecânico, pois estava sempre me ajudando com os carros, os meninos do meu primo não se interessavam, mas ele era ao contrário, nem precisávamos dizer o que tinha que fazer, íamos pedir alguma ferramenta, lá estava ele, com ela na mão.

As vezes nos dizia de aonde vinha o ruido.

Quando Kim morreu de um câncer, foi um tratamento longo, muito duro, mas aguentei firme ao lado dele.  Bobby disse um dia, que quando era criança pensava pelos filmes que via, que se alguma coisa se estragasse nas pessoas, era só trocar, como um motor.

Kim morreu segurando a mão dos dois, nenhum tratamento resolveu nada, no final disse que queria ir para casa, morrer olhando o mar.   A estas alturas, já tínhamos 60 tacos, a dor, além da falta dele, quase me fizeram morrer, mas Bobby chegou um dia, me disse que sempre tinha confiado em mim, que não o deixasse sozinho no mundo.

Seguimos vivendo, agora tínhamos um barco, com meu primo, saímos para pescar, o filho da puta sempre pegava o peixe maior.  Era um concurso que ele fazia com os filhos do meu primo que o adoravam.    Depois sempre íamos a uma enseada pequena para nadarmos.

Ele ensinou os garotos, como eu o tinha ensinado a nadar.

Agora com quase setenta anos, sigo com ele ao meu lado.  Quando lhe pergunto se não tem uma namorada, ele ri.  Apesar de ser inteligente, elas olham para mim, não sou um surfista, nem um atleta, tampouco sou bonito, sou mas bem invisível para elas.

Mas a grande surpresa foi que um dia o Bill apareceu, estava muito melhor, disse que tinha feito um tratamento intenso para botar para fora tudo que sentia.  Lastimava a morte do Kim, mas ficou pouco tempo, o que queria era ir para a cama comigo, me neguei, isso não daria certo.

Voltou trazendo um jovem que se sentia como o Billy, tinha síndrome de Dow, mas era médico, os dois se entenderam de maravilha.  Eu dizia que era um complô do Bill para me deixar sozinho.

Mas se era isso o tiro saiu pela culatra, o Jean, arrumou um emprego num hospital lá perto, atende em casa também quem não pode pagar.  Os dois vivem um para o outro, Bobby diz que vive como vivíamos eu e seu pai.  Nunca lhe dissemos que não era seu filho.

Agora os dois entre eles me cuidam.

Pelos menos, me sinto entre dois anjos, pois os dois são fantásticos a sensação que na minha vida acontecem coisas desagradáveis, nunca terminara, mas tenho esperanças.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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