DESAGRADÁVEL
Me chamo Rodrigo Sánchez,
como muitos latinos, minha mãe era descendente de Mexicanos, meu pai, ah esse
era um filho da puta de muito cuidado.
Pertencia a uma gang, das muitas que existe por NYC, principalmente no
Bronx. Quando nasci ele estava já na
prisão, tinha uma sentença inteira para cumprir, 23 anos.
Eu tinha acabado
de fazer 22, estava terminando a universidade, sempre com a notas altíssima,
tinha estudado graças a bolsas de estudo, por ser um aluno brilhante, nunca
precisei ser um atleta, embora, tivesse 1,80 de altura.
Ela deu um duro
desgraçado para irmos em frente, passou a viver na casa de sua irmã em Long
Island, esta era casada com um italiano, muito boa gente, que tinha uma oficina
mecânica.
Minha paixão
diga-se de passagem.
Como não era
casada com ele, se casou com o homem que era seu chefe, ele me adotou, já que
eu só levava o nome dela. Depois de
alguns anos indo visita-lo em prisão, resolveu que isso atrapalhava o futuro
dela.
Os dois tinham
morrido, justamente nas primeiras férias que tiravam fora do pais, puseram um
mapa, fecharam os olhos acabaram escolhendo uma praia na Tailândia, mas claro
nunca nada é perfeito, justamente estavam na praia quando ocorreu um famoso
Tsunami, desapareceram do mapa, levaram tempo para encontrar seus corpos, a
muito custo, o governo americano os trouxe para casa, em caixões lacrados, os
enterramos, mas segui vivendo na casa que vivíamos, pois me tocou como herança.
Levei muito tempo
para me recuperar, mas tinha apoio de minha tia, de sua família, além é claro
do meu namorado, um sujeito espetacular, que tinha se formado um ano antes de
mim, em direito.
Eu fazia
engenharia mecânica, afinal era louco por motores, desde criança meus momentos
livres eram na oficina mecânica do meu tio.
Justamente estava
ali com ele examinando um motor de um Cadillac antigo, que estávamos
recuperando juntos.
Nisso parou um
carro justo na frente, com uns tipos muito estranhos. A cara de meu tio foi ótima, entendi no
momento o que era.
Saiu um homem
mais baixo do que eu, se daqui alguns anos eu continuasse vivo teria essa cara,
mas não tantos tatuagens como ele.
Saiu do carro
gingando como os da sua laia, veio na minha direção, olhou na minha cara, me perguntou
se era assim que eu recebia o meu pai.
Sinto, mas meu
pai morreu a pouco mais de dois anos, tanto ele como minha mãe, o outro um
idiota que se achava o rei do mundo, morreu no dia que entrou na prisão.
Virei, continuei
mexendo no carro, não queria nada com ele.
Não o conhecia para nada.
Ficou uma fera,
como podia desrespeitar ao seu próprio pai.
Meu tio, que era
mais calmo, como espera que te receba como seu pai, se nunca te viu na vida,
foi criado de outra maneira, longe do Bronx, longe de tudo isso.
Pois eu saí da
prisão ontem, tudo que sonhava era ver meu filho.
Virei me para
ele, sabia que tinha filhos com outra mulher, por um acaso já viste teus outros
filhos, fui enumerando, dois morreram traficando drogas, um está na prisão, a
garota coitada, se prostitui, vens procurar a mim que nunca te vi na vida. Tenha paciência, eu tenho uma vida, não penso
sequer conversar contigo.
Contigo não,
deves dizer com o senhor, mas respeito.
Perdi a paciência,
era mais alto que ele, podia ser mais forte do que eu, mas eu também sabia
brigar, tinha lutado muito, para não ser vítima de abusos.
Me coloquei na
frente dele, o olhei diretamente nos olhos, alguma vez te preocupaste se
precisávamos de dinheiro, eu de um pai que me aconselha-se, que estivesse
presente nos meus bons e maus momentos.
Não, estava preso, por tráfico de drogas, por vender essa merda aos
jovens. Olhe teus outros filhos,
seguiram teus passos, aonde foram parar.
Nem pensar, sinto muito, mas não quero nada contigo.
Vi que seus
homens, tinha a mão na cintura, sinal de que estavam armados.
Voltei ao carro,
segui trabalhando como se não estivesse ali, creio que se deu conta que não
valia a pena insistir, ainda tentou argumentar com meu tio, que tinha o direito
de me conhecer.
Escutei que meu
tio falava baixo com ele, é como tu, cabeça dura, tens que entender que ele não
tem nada a ver com o teu mundo. No final
do ano, será um engenheiro mecânico, tudo porque estudou, lutou para chegar lá,
sem ajuda de ninguém.
Depois só escutei
o ruido do carro indo embora.
Sabia que não
ficaria livre dele por muito tempo. Mas fiz tudo para me concentrar, segui
mexendo no carro.
Quando chegamos
na casa do meu tio, minha tia já sabia da história. Estava nervosa, como ia ser agora.
A deixei tranquila,
não queria nada com ele, isso ela podia ter certeza.
Durante a semana,
eu fazia aulas de manhã, depois trabalhava num restaurante, cuidando do caixa,
atendendo clientes.
Um dia ele
apareceu, com um traje passado de moda, que cheirava a naftalina, queria uma
mesa, sem tirar os olhos da cara dele, perguntei se tinha reserva?
Aqui só atendemos
clientes com reserva, sinto muito. Quis
forçar a barra, mas justo nesse momento parou um carro da polícia atrás do seu.
Foi embora.
Contei tudo ao
Brando, avisei que tivesse cuidado, nessa noite estava eufórico, tinha sido
convidado para trabalhar com um fiscal que tinha muito nome.
Fui claro para
ele, meu pai não vai me deixar em paz, creio que isso pode ser um problema para
ti, eu te quero, tanto que não quero estragar tua vida. Acho melhor passares um tempo na casa dos
teus pais.
Uma semana
depois, cheguei em casa morto de cansado, tinha uma prova final no dia
seguinte, vi seu carro parado diante do edifício. Já estava chateado porque o Brando pensou
bem, resolveu aceitar meu argumento, seguíamos nos vendo, mas já não ficava na
minha casa.
Não o vi por ali,
mas estava dentro do meu apartamento.
Que bem vives, me
soltou, não me disse boa noite, nada.
Fui até ele,
soltei, tenho que estudar, por favor vá embora, pois senão eu chamarei a
policia o denunciarei como invasão de domicilio.
Não vão fazer
nada, essa é a casa do meu filho.
Como vais provar
isso, fazendo uma exame de ADN urgente, se sequer levo teu nome, me deixa em
paz, por favor, tenho uma prova importante, prometo que quando esteja terminado
o curso, falo contigo, mas agora não.
Se levantou,
escreveu num papel o número de seu celular, foi embora, passou raspado por mim,
espero que me chames.
Foi difícil me
concentrar nos livros essa noite, falei com meu tio, terei que enfrentar essa
fera, mas não quero nada com ele.
Acabei os exames,
tive sorte, em saber me concentrar, passei com a nota máxima, receberia um
diploma cum laude.
Lhe chamei, disse
que podia vir essa noite na minha casa, mas que viesse sozinho, sem esse carro
horroroso, nada que chamasse atenção.
Ficou puto quando
chegou, se deu conta que eu tinha trocado toda fechadura, agora eram várias de
máxima segurança.
Estava vestido
simplesmente com uma calças jeans, uma camiseta.
Lhe disse na cara,
que assim estava melhor, fui até ele, retirei dois cordões imensos dourados que
tinha em volta do pescoço, coloquei na sua mão, com isso pareces um idiota.
Como foi teus
exames, já acabaram?
Sim, acabaram, me
vou diplomar em uma semana, depois irei embora daqui, estarei fora do pais
algum tempo, vou trabalhar para uma fábrica de aviões em outro lugar.
Ficou me olhando,
sem saber se eu falava sério ou não.
O senhor não me
conhece, sou uma pessoa franca, apesar que meu outro pai, minha mãe me
ajudaram, eu sempre trabalhei, consegui estudar com bolsas de estudo, fiz a
faculdade porque tinha notas excelentes, tudo por meu esforço próprio, não
quero nada teu.
Quem era o rapaz
que vivia aqui contigo?
Vejo que andaste fisgando
minha vida. Bom esse rapaz, é ou era meu
namorado, como vai trabalhar com um fiscal, lhe pedi que se afastasse de mim,
pois minha companhia, a partir que tenho um pai, que acaba de cumprir pena de
23 anos, isso podia prejudicar sua carreira, não queria mas aceitou o que lhe
pedi. Sim sou gay.
Ele ficou
olhando, começou a chorar, tinha um companheiro que dizia que tudo que fazemos
aqui, aqui se paga.
Eu quando entrei
para a prisão, fui carne fresca, abusaram de mim, depois abusei de todos os
novos que chegaram, depois tinha um garoto, que era meu, fazia o papel de minha
mulher, agora descubro que meu filho é gay.
Ironia do destino.
Tens vergonha de
mim?
Na verdade não,
porque nunca te considerei meu pai, só emprestaste teu esperma, para que eu
nascesse, mas o pai que me criou, foi outro, o amava, levei muito tempo para me
repor a morte dos dois.
Como morreram?
Contei para ele,
trabalhavam duro, a primeira oportunidade que tinham de fazer uma férias,
escolheram ir para uma praia em outro pais.
Fizeram um jogo, em cima de um mapa, foram para a Tailândia, foram
tragados por uma onda imensa, num tsunami.
Tive que explicar
para ele o que era.
Ficou me olhando
com a boca aberta, impressionado.
Perdi os dois ao
mesmo tempo, mas tinham me educado bem, apesar que o apartamento agora é meu,
trabalho, o senhor viu, comecei como garçom, mas hoje dirijo o restaurante.
Acabei meu curso,
fui escolhido por essa empresa, para trabalhar para eles, ao mesmo tempo fazer práticas,
sobre motores de avião.
Senti que estava
orgulhoso de mim.
Me perguntou se
eu usava drogas?
Jamais, sequer
bebo, nesta casa nunca se permitiu isso, nem eu tive tempo para perder na vida
com nada disso.
Fazes bem, olha
aonde eu vim parar. Mas sou honesto,
outro dia fiquei ofendido, nunca tive outros filhos além de ti. Esses meninos, eram filhos do meu irmão, ele
morreu na prisão. Entramos juntos, mas
ele morreu dois anos depois.
Eu era um idiota
renomado, agora tenho que escapar disso tudo, mal sai da prisão, foram me
buscar, acham que tenho mais vivência, por ter convivido com outro marginais.
Tenho sim vivência
em me proteger, para conseguir sair vivo de lá. Na verdade venho me despedir, sairei de
tua casa, vou desaparecer por algum tempo, não quero que tenhas vergonha de
mim.
Espero que sim,
tens dinheiro?
Não, mas sei
trabalhar, durante o tempo que estive na prisão, trabalhei na oficina mecânica,
entendo de carros. Não se preocupe por
mim.
Por um tempo não
terei celular, mas chamarei ao teu com um desses que se usam agora, que ninguém
sabe de aonde vem.
Na hora de ir
embora, se levantou, sorriu, fico orgulhoso de ti, espero que daqui algum tempo
não tenhas vergonha de mim. Posso te
dar um abraço?
Lhe disse que
sim, me abraçou, me beijou dos dois lados da cara, disse que estava orgulhos.
Seja feliz.
Uma semana depois
embarquei para Londres, de lá para a cidade aonde ia trabalhar.
Me despedi do
Brando, sabia que ele já estava com outra pessoa, mais conveniente para ele.
Um ano depois,
recebi uma chamada dele, disse que agora tinha outro nome, passava a se chamar
Antônio Vargas, que tinha um emprego, que estava tentando borrar todo o
passado.
Me chamou de novo
na véspera de Natal, me perguntou como ia comemorar?
Lhe respondi que
como estava cansando, tinha uma semana de folga, ia passar uma semana em Paris,
sozinho.
Já encontraras
uma pessoa que te queira. Feliz Natal
meu filho.
Fiquei com pena
dele, imaginava como seria os natais na prisão.
Mas minha mãe sempre dizia que cada um escolhe seu destino, tem que
aguentar com isso.
Deveria ter
escolhido ir para NYC, passar com meus tios, mas estes tinham resolvido se
mudar, para Miami, pois minha tia nunca tinha suportado o inverno, os meninos,
iriam dentro de breve a uma universidade lá.
Falei com eles,
fui para Paris, foi ótimo, apesar de que passar essa noite sozinho foi pesado,
mas me distrai do meu trabalho.
Quando voltei,
fui procurado por uma pessoa que vinha acompanhando meus progresso, recebi um
convite para ir trabalhar em Everret, no estado de Washington, na fábrica da Boeing,
era uma coisa boa para mim, além de um bom salário, podia seguir em frente.
Quando meu pai me
chamou em janeiro, lhe disse aonde estava.
Ele perguntou se
podia me visitar?
Lhe disse que
sim, assim que tivesse um apartamento ou casa, lhe avisaria.
Ele veio quando
lhe disse, estava diferente, já não usava os cabelos como antigamente, vi que
tinha borrado as tatuagens mais chamativas, me disse que trabalhava numa
oficina mecânica em Toronto.
Passou um final
de semana comigo. Foi me contando como
tinha sido sua vida na prisão, foi claro comigo, estou vivendo com o menino que
foi meu companheiro nos últimos anos, quando fui embora, ele tinha saído, o
levei comigo. Estamos tentando que dê
certo, de certa maneira ele gosta de mim.
Mas está difícil, sempre usou drogas, estou tentando lhe ajudar, mas
fica complicado, se ele não se ajuda.
Quando voltou, me
telefonou avisando que tinha que mudar de cidade, pois o rapaz tinha
desaparecido, com certeza por culpa das drogas.
Já me daria notícias.
Soube depois que
estava em Vancouver, me disse que o desagradável de tudo, foi ter que ver seu
companheiro morto por overdose, era muito jovem, uma pena. Tens razão, fui inconsciente na minha
juventude, agora pago por isso.
Tinha feito
algumas amizades no trabalho, o sujeito que me ajudava, Rick Nelson, era a
gozação, sempre estavam pedindo para cantar, por causa do nome. Num primeiro momento ficou chateado, pois ele
esperava o meu lugar, com o tempo ficamos, amigos, era muito mais velho do que
eu, queria esse projeto novo como um filho.
Mas ao me ver
jogar no trabalho, ficou meu amigo, nos entendíamos bem, as vezes olhava para
ele, estava tão concentrado como eu no trabalho.
Me chamou um dia,
dizendo, todas as semanas nos reunimos na minha casa, um grupo de amigos para
jogar cartas, tomar uma cerveja, falar da vida.
Pensei o típico
encontro de heterossexuais, não vou gostar disso.
Primeiro
perguntou se eu tinha alguma coisa contra os gays?
Não, por quê?
Porque todos
somos gays, alguns trabalham aqui, mas em outros setores.
Fiquei de
ir. Um dia voltando do trabalho, fazia
sempre o mesmo caminho, descia do ônibus, não tinha carro nesse momento, vinha caminhando,
a semanas cruzava alguns dias com um rapaz bonito, que me atraia, nessa noite
resolvi dizer boa noite.
Parou de repente,
me soltou, já não era sem tempo, nos olhamos, mas sequer dizemos olá, ou boa
noite.
Me estendeu a mão,
se apresetou, Bill.
Eu o convidei
para comer alguma coisa, estava morto de fome, ele me levou a um bar desses que
ficam abertos a noite inteira, que tinha uns sanduiches fantásticos, me disse
para comer o de pastrami, que era muito bom.
Com efeito era.
Me contou que era
médico, trabalha em urgências, trabalhava 24 horas, tinha as outras 24 livre.
Fomos para minha
casa, pois me disse que morava com seu pai.
Foi fantástico,
nunca tinha me sentindo assim com ninguém, nem com o Brando, que conhecia desde
jovem. Foi como entrar numa explosão, sem
dizer nada, ficou para dormir, de manhã me disse que fazia tempo que procurava
alguém que o fizesse se sentir assim.
Tomamos juntos o
café da manhã, lhe expliquei que tinha que ir para a fábrica, me deu seu numero
de celular, perguntou se podíamos nos ver essa noite.
A partir desse
momento, foram muitas noites impressionantes. Na semana seguinte Rich Nelson, me
lembrou do jogo de cartas de sua casa, como tinha prometido ir, fui, sabia que
Bill, iria trabalhar até uma determinada hora.
Fazia tempo que
não me sentia tão à vontade com um grupo de pessoas, eu não conhecia nenhum
deles, eram todos gays, mas nenhum deles era afetados, eu odiava isso. Dois que estavam ali, formavam um casal,
contavam que tinham se casado a meio ano, que estavam agora na fila de uma
adoção, os dois queremos ser uma família.
A conversa
durante um tempo, derivou nisso, um deles virou-se para o Rick, dizendo, tu
pelo menos tem teu filho.
Ele mais ou menos
me contou a história, fui casado, foi antes de servir o exército, na unidade de
veículos blindados, era o mecânico de todos eles. Mas claro, tive aventuras com outros homens,
me descobri, quando voltei, claro o menino tinha nascido, mas ela estava com
outro homem, foi uma disputa incrível, fizemos teste de ADN, era realmente meu,
ela bebia muito, acabei conseguindo a guarda do meu filho.
Nos damos muito
bem, é um senhor tipo.
Eu estava sentado
de costa para a porta, escutei uma voz dizendo, estás outra vez contando a
história da ninha vida?
Venha conhecer
meu chefe, quando virei era o Bill, ele riu, já nos conhecemos, veio até mim me
deu um beijo na boca.
Então é dele que
não paras de falar?
Sim pai, é dele,
mas não vai contar nada, verdade?
Eu estava
completamente sem graça, devia estar vermelho.
Rick, bateu no
meu ombro, não passa nada, fica tudo em família.
A partir de
então, estávamos sempre juntos.
Um dia perguntei
ao Rick por que não tinha ninguém?
Eu me dediquei a
cuidar do meu filho, quando era pequeno era difícil escapar para noitadas, não
tinha família. Depois nunca encontrei
uma pessoa para me apaixonar.
Eu estava feliz,
era isso que valia, um dia meu pai, chegou com um carro, tinha vindo desde
Vancouver conduzindo, me trazia esse que tinha recuperado de presente. Me disse, assim não tens que ir de ônibus ao
trabalho.
Como tinha
chegado cansado, logo foi dormir, no quarto que tinha montado para quando ele
viesse. Nem tive tempo de falar do Bill.
Este veio tarde
da noite, lhe disse que meu pai estava ali, já tinha contado minha história
para ele, isso não pareceu lhe incomodar.
Estivemos muito
tempo deitados, abraçados um ao outro, falando aos sussurros.
No dia seguinte
de manhã, meu pai abriu a porta para dizer que o café estava pronto, nos pegou
dormindo nus, abraçados.
Nisso o Bill
despertou, ele como se nada estivesse acontecendo, se sentou ao meu lado na
cama, riu, peguei meu filho no flagra, riu, me despertei, o vi ali
sentado. Só me disse, não me contaste
nada. Vou preparar mais café, assim
tomamos todos juntos.
Bill pensou que
ele ia fazer um escândalo.
Ao despedirmos,
nos abraçou a cada um, nos deu um beijo, disse ao ouvido do Bill, faça feliz
meu garoto, que ele merece.
Nessa noite
tínhamos jogo, perguntei se queria ir?
Vou limpar esses
bunda moles dos teus amigos.
Lhe disse que ia
ser divertido, pois jogávamos por cêntimos.
Mas foi, passei
por casa para tomar um banho, não contei que Rick era pai do Bill.
Rick quando viu
meu pai, o olhava muito, tinha que avisa-lo, mas deixei passar.
Eles todos
bebiam, menos eu, sempre tinha latas de coca cola para mim.
Quando Bill
chegou, cansado, da porta soltou, vou tomar um banho, já me reúno com vocês,
fui junto com ele.
Rick então
comentou, finalmente meu filho encontrou alguém que possa amar, construir uma
família.
Meu pai, soltou,
eu os peguei essa manhã na cama, pensei que Rodrigo estava sozinho, mas teu
filho me parece fantástico.
Quando voltamos
estavam conversando como velhos amigos.
Ao levantar para ir embora, para minha surpresa Rick soltou, porque não
ficas para conversarmos mais.
Fiquei
preocupado, Rick era uma pessoa excelente.
Estava falando
com Bill sobre isso, quando escutei meu pai voltando.
No dia seguinte,
me disse, antes que o Rick fizesse ou quisesse qualquer coisa, contei meu
passado para ele, não quero que tenhas ilusão de encontrar um homem perfeito,
ficamos de jantar hoje. Prefiro assim,
ele me atrai, mas tem que saber aonde pisa.
Lhe dei um
abraço, assim se faz.
Fui trabalhar, quando
voltei de noite, não estava, apareceu eufórico no outro dia, que homem
fantástico me soltou. Me disse que não
se importava em absoluto meu passado, que todos tínhamos alguma coisa negra
atrás da gente.
Agora éramos
quatro, Rick, arrumou um emprego para ele, numa oficina de um amigo dele,
passaram a viver juntos.
Eu por
desconfiança nunca deixava de observar meu pai. Agora era um homem mais
relaxado, sorria mais, estava feliz.
Um dia chegou em
casa apavorado, me disse que tinha se cruzado com dois traficantes da época
dele, não me reconheceram, mas por pouco, um deles ficou me olhando
desconfiado, claro agora não tenho tatuagens, nem a que sinalizava os da
gang. Mas meu medo é por causa do Rick.
Fico, enfrento
isso, ou vou embora como sempre?
Fale com ele, vocês
agora são felizes, acho que tens que lutar pelo que tens.
Conversaram muito
pelo visto.
Mas a coisa ficou
feia, queria que ele distribuísse drogas ali na cidade, ele se negou, lhe deram
um castigo exemplar, primeiro porque descobriram que era gay, lhe deram uma
surra, foi parar em urgência, completamente desacordado, esteve em coma vários
dias, Rick, não saiu do seu lado. Mas
por azar, ficou uma figura horrível, tinham lhe cortado a cara toda, como num
jogo, as cicatrizes era horríveis, pernas quebradas, bem como um braço, sua
recuperação foi lenta, mas tinha Rick, além de nós ao seu lado.
Quando estivemos
sozinhos, me disse que pensou que tinha morrido, que estava pagando por todas
as merdas que tinha feito quando jovem.
Eu quando fui para a prisão não sabia que tua mãe estava gravida,
talvez, tivesse tentado mudar de vida, mas meu irmão mais velho estava metido
até o gasganete nessa merda.
Quando soube que
ia ser pai, fiquei contente, mas de repente tua mãe deixou de ir, entendi que
tinha direito a ter uma nova vida.
Tinha vergonha de terem abusado tantas vezes de mim, inclusive cheguei a
gostar das maldades que me faziam, pois assim parecia que estava pagando o
preço do que tinha feito de errado.
Nunca me
esquecerei, justo dias antes de ser preso, um dos jovens a quem tinha vendido
drogas, foi encontrado morto, a primeira pessoa que o viu fui eu. Era meu companheiro na escola, fiquei
horrorizado, disse ao meu irmão que me largava, me deu uma porrada em plena
cara, dizendo, quando entras, já não podes sair, seu idiota.
Mas resultou que
foi ele quem tinha matado o rapaz, por uma droga de má qualidade, depois quando
ficou na prisão, viu que não podia me proteger, que abusavam de mim, uma e
outra vez, pensei que ia me defender, olhou lentamente na minha cara, me disse
que eu não passava disso de um viado de muito cuidado, basta olhar sempre tuas
maneiras, te coloquei na gang para ver se viravas homem, mas errei.
Deixou de falar
comigo, até incentivava que me abusassem. Um dia fui parar no hospital, alguém
entrou de madrugada, tentou me matar, era ele, aproximou sua boca ao meu
ouvido, dizendo que tinha vergonha de mim, que era melhor que eu morresse. Por sorte um guarda o pegou, eu já não
conseguia respirar, não podia me defender, pois tinha os braços presos por
correia.
Quando falaste
dos filhos dele, pensando que eram meus, pensei, Deus já o castigou.
Mas essas
revanches, com sabor de vingança, na verdade nos deixa com a boca amarga,
quando finalmente me aceitaste, eu quase morri de felicidade, mas nunca quis te
atrapalhar, tenho orgulho do que eres.
Mas agora terei
que ir embora, pois voltaram uma e outra vez, cada vez farão pior, tenho medo
por causa do Rick, finalmente alguém me ama, eu também o quero muito, por isso
não sou capaz de ficar aqui.
Entre todos
tentamos convence-lo, mas eu entendia, era como eu, quando colocava uma coisa
na cabeça era difícil de tirar.
O jeito foi
convence-lo de primeiro fazer uma cirurgia, Bill tinha falado com um cirurgião
de estética, que lhe operou a cara inteira. Rick, alugou uma casa no campo, para ficar
com ele lá até sua recuperação.
Pior, resolveram
que iriam embora os dois juntos. Rick
estava loucamente apaixonado por ele.
Por momento, me
chamaram para dar aulas no MIT, dentro do processo de motores elétricos, que
desenvolvia junto com Rick, concordei se ele fosse. Foi a solução, Bill conseguiu um emprego lá,
fomos os quatros, agora vivíamos todos juntos, num campo fora da cidade, ele com
o Rick, montaram num celeiro uma garagem, agora tinha medo de ir à cidade, que
o vissem, embora depois da cirurgia tenha ficado completamente diferente. Lhe dava medo.
Um dia sentados
os dois na varanda, me contou que tinha medo pela primeira vez na sua vida. Não
só por ele, mas por nós. Não sei aonde
conseguiu uma arma, estava sempre de sobreaviso.
Um dia
desapareceu, ficamos alucinados, só deixou um bilhete, não posso viver com esse
medo, tenho que deixar de ser a caça para ser o caçador.
Não tínhamos
ideia de aonde poderia ter ido. Na
verdade voltou a cidade aonde vivíamos antes, matou os dois que tinham feito
com ele essa maldade, entregou para a policia toda a quadrilha, depois de tudo
feito, se suicidou, pois sabia que viriam mais por ele.
Para mim que
tinha aprendido a ama-lo, foi uma porrada na cara.
Mas estávamos
preocupado pelo Rick, este ainda tinha esperanças que ele voltasse.
Me disse um dia,
o amei no momento que entraste com ele pela porta, tinha nele alguma coisa
escura do seu passado. Mas antes sequer
de me dar um beijo, me contou toda sua vida, que tentava te recuperar, depois
de todos os erros de sua juventude.
Aos poucos
deixava de ter pesadelos, que eram horrorosos, me avisou deles, proviam dos
abusos que tinha sofrido ao entrar na prisão.
Me contou do seu
irmão, aqui no campo a princípio parecia feliz, mas os pesadelos tinham voltado
piores.
Agora toca levar
adiante essa vida.
Convenci Rick de
continuar comigo no projeto, mas claro ver o sofrimento do pai, afetou
muitíssimo ao Bill, maldisse uma vez o fato de eu ter apresentado meu pai, ao
seu.
Foi se afastando
de mim, um dia recebeu um convite para ir trabalhar num hospital em NYC, foi
embora, apenas me disse adeus, arrastou seu pai com ele.
Fiquei sozinho,
de repente tinha um vazio imenso, tinha perdido o pai que tinha recuperado, o
homem da minha vida, além de um grande amigo.
O projeto ficou
desinteressante, mas as duras penas terminei de fazer.
Recebi um convite
para ir trabalhar em Osaka no Japão. Nem
pensei duas vezes, o contrato era bom, tinha economizado todos esses anos, para
uma aventura assim.
Aceitei,
aproveitei meu projeto, fiz pequenos arranjos nos mesmo, para patinetes, vespas
modernas movidas a energia limpa. A vida
me ia bem, mas tinha me tornado totalmente fechado em mim mesmo.
No edifício que
morava, tinha como vizinho, um sujeito que pensei que era da Yakuza, sempre me
dizia bom dia, boa noite, já falava bem o japonês, um dia me ajudou a subir com
as compras, na hora que abriu sua porta, saiu um garoto, me apresentou seu
filho, era um garoto com síndrome de Dow, o garoto sempre que me via, vinha me
abraçar.
Um dia passeando pelas
ruas, fazendo compras, vi que ele era na verdade um tatuador, me explicou que
tinha tatuagens para chamar a atenção, fomos ficando amigos.
Um dia me pediu
se podia ficar com seu filho, pois tinha que atender um cliente justamente da
Yakuza, a babá não tinha aparecido, ele já estava atrasado.
Fiquei no seu
apartamento, não podia ser mais japonês, o garoto não podia ser mais
inteligente, aparentemente tinha a cara de um garoto com síndrome, mas conversava
direito, gostava de jogos, ganhava sempre ele, se matava de rir.
Quando ele chegou,
estávamos nos divertindo muito, colocou o garoto para dormir, com muito
carinho, fiquei observando. Depois me
convidou para uma cerveja, lhe disse que não bebia, ele tinha pensado que sim,
tinha comprado como uma forma de me agradecer.
No que foi abrir
a porta, nossas mão se chocaram, dai foi um passo para acabamos na cama, ou
melhor dizendo no tatame.
Depois, ria
muito, disse que não tinha muita prática, como os americanos, me explicou que
na verdade o garoto era seu sobrinho, dizia que era seu filho, para não
complicar muito a coisa, meu irmão o ia abandonar, leva-lo a um campo, o deixar
perdido, não pude consentir.
Nos tornamos
inseparáveis, estávamos sempre com Bobby, eu passei a chama-lo assim, ele
gostava.
Comecei a
construir coisas que serviam para uma criança, o Bobby era meu cobaia, se ele
gostava, sabia que ia dar certo.
Kim, estava todo
o seu tempo livre comigo, resolvemos tentar viver juntos, foi o máximo,
tínhamos uma ligação forte. O que mais
gostava, era ele me provocar ao máximo, esperar que eu tivesse o orgasmo, para
ter isso junto.
Meu contrato
chegava ao final, não haviam muitas escolas para crianças assim por ali,
perguntei por que não voltava comigo para os Estados Unidos, podíamos nos
casar, eu vinha ensinando inglês ao Bobby, ele falava perfeitamente. Para ele sempre haveria campo de trabalho,
pois suas tatuagens eram perfeitas.
Fomos viver numa cidade
pequena, mas que tinha escola para o Bobby, tínhamos o mar, que ele adorava,
vivíamos quase na frente de uma pequena praia, perto de San Francisco.
No verão Kim não
dava abasto de tanto trabalho, eu também, porque abri uma pequena oficina, um
dos meus primos veio viver conosco, trouxe sua mulher, seus dois filhos, estes
eram pequenos, adoravam o Bobby que inventava milhões de jogos com eles.
Eu as vezes tenho
medo de tanto coisa boa, quando o Bobby ficou doente, quase morri, tinha me
apegado tanto a ele, que não podia imaginar minha vida sem meu filho adotivo.
Ele quase morreu,
mas um médico conseguiu salva-lo, quando fui lhe agradecer, levei um susto era
o Bill. Estava muito diferente, a cara
fechada, dura, me olhou de cima a baixo, me disse na cara, vejo que continuas a
sobreviver.
Na hora não
entendi, depois me contou, Rick tinha se suicidado, não conseguia imaginar a
vida sem meu pai. Então entendia a raiva
dele.
Tentei
argumentar, mas não houve jeito, quando conheceu o Kim, vi que lhe interessava,
começou fazendo uma tatuagem, Kim que era muito tímido, me disse depois que
durante a tatuagem tinha tentado fazer sexo com ele. Quando me neguei se colocou furioso, acredito
que teu amigo, toma drogas.
Não podia
acreditar, quando falei com ele a respeito, me disse que sim, que eu o tinha
abandonado.
Mas o caso era ao
contrário. Lhe disse que deixasse o Kim
em paz, pois era um homem simples, não entendia o que ele estava fazendo.
Um dia apareceu
em casa, nunca o tinha visto assim, vinha armado, disse que eu tinha destroçado
a vida dele. Não sei se de ver em
filmes, Bobby chamou a polícia, que apareceu em seguida.
Falei com o Kim
de irmos embora dali, ele disse que nem pensar, lembra-se que me contaste de
teu pai, quanto mais fugia, mais complicada ficava sua vida.
Não colocamos
denuncia nenhuma, mas Bill, foi obrigado a fazer um tratamento. Se não fosse porque era um excelente médico
perdia o emprego.
Tentou se
aproximar de novo, mas lhe disse que respeitava além de amar meu marido, ao meu
filho também.
Tempos depois
soube que tinha conseguido uma transferência para outro hospital em Miami.
Meu primo me
disse um dia, que se lembrava de mim de criança, que as coisas sempre
aconteciam comigo, mas que de alguma maneira, eu continuava sobrevivendo.
Era verdade,
minha vida estrava cheia de coisas desagradáveis, mas eu sempre me suplantava.
Quando surgiu a
ocasião do Bobby ir para a faculdade, deixamos que ele escolhesse o que queria
fazer.
Queria ser
engenheiro mecânico, pois estava sempre me ajudando com os carros, os meninos
do meu primo não se interessavam, mas ele era ao contrário, nem precisávamos
dizer o que tinha que fazer, íamos pedir alguma ferramenta, lá estava ele, com
ela na mão.
As vezes nos
dizia de aonde vinha o ruido.
Quando Kim morreu
de um câncer, foi um tratamento longo, muito duro, mas aguentei firme ao lado
dele. Bobby disse um dia, que quando era
criança pensava pelos filmes que via, que se alguma coisa se estragasse nas
pessoas, era só trocar, como um motor.
Kim morreu
segurando a mão dos dois, nenhum tratamento resolveu nada, no final disse que
queria ir para casa, morrer olhando o mar.
A estas alturas, já tínhamos 60 tacos, a dor, além da falta dele, quase
me fizeram morrer, mas Bobby chegou um dia, me disse que sempre tinha confiado
em mim, que não o deixasse sozinho no mundo.
Seguimos vivendo,
agora tínhamos um barco, com meu primo, saímos para pescar, o filho da puta
sempre pegava o peixe maior. Era um
concurso que ele fazia com os filhos do meu primo que o adoravam. Depois sempre íamos a uma enseada pequena para
nadarmos.
Ele ensinou os
garotos, como eu o tinha ensinado a nadar.
Agora com quase
setenta anos, sigo com ele ao meu lado.
Quando lhe pergunto se não tem uma namorada, ele ri. Apesar de ser inteligente, elas olham para
mim, não sou um surfista, nem um atleta, tampouco sou bonito, sou mas bem
invisível para elas.
Mas a grande
surpresa foi que um dia o Bill apareceu, estava muito melhor, disse que tinha
feito um tratamento intenso para botar para fora tudo que sentia. Lastimava a morte do Kim, mas ficou pouco
tempo, o que queria era ir para a cama comigo, me neguei, isso não daria certo.
Voltou trazendo
um jovem que se sentia como o Billy, tinha síndrome de Dow, mas era médico, os
dois se entenderam de maravilha. Eu
dizia que era um complô do Bill para me deixar sozinho.
Mas se era isso o
tiro saiu pela culatra, o Jean, arrumou um emprego num hospital lá perto,
atende em casa também quem não pode pagar.
Os dois vivem um para o outro, Bobby diz que vive como vivíamos eu e seu
pai. Nunca lhe dissemos que não era seu
filho.
Agora os dois
entre eles me cuidam.
Pelos menos, me
sinto entre dois anjos, pois os dois são fantásticos a sensação que na minha
vida acontecem coisas desagradáveis, nunca terminara, mas tenho esperanças.
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