Despertou com o ruido de alguém
chamando, primeiro pensou que era o celular, mas ao mesmo tempo chamavam na
porta.
Desceu vestindo a cueca, tinham
feito sexo até as quatro da manhã, seu companheiro de noitada, estava num sono
profundo.
Quando abriu a porta deu de cara
com dois policiais, levou um susto, o primeiro que perguntou se tinha
acontecido alguma coisa com seu irmão.
Perguntaram se podiam entrar,
disse que sim, vestiu uma bermuda que estava jogada no sofá, aonde tinham
começado a primeira parte, com ele dizia a perfumaria do sexo.
Se viram outra bermuda, bem como a
cueca jogada no chão, não demonstraram.
Primeiro perguntaram seu nome,
Ralph Bronson, concordou com a cabeça, ao mesmo tempo fazendo um exercício de
respiração, sabia que as notícias não podiam ser boas.
Um dos homens perguntou se tinha
estado em Washington por esses dias?
Não, nunca vou até lá, sempre
passo sim pelo menos uma semana em NYC, na casa da minha avó, com meu irmão,
ele nunca sai de casa, uma larga história que vocês já devem saber.
Bom as notícias são de Washington,
ontem à noite depois de uma festa na casa dos teus pais, os dois foram
assassinados.
Abriu a boca, mas não saia nenhum
ruido. Seu pai era juiz do supremo
tribunal, sua mãe apesar de ser uma mulher de meia idade, era lindíssima, tinha
sido a flor da sociedade em sua época dourada.
Nunca entenderia por que mantinha esse casamento de fachada, sendo que
nem ele, tampouco seu irmão viviam lá.
Poderia estar vivendo com sua avô, como seu irmão, ele mesmo na época da
faculdade tinha vivido lá.
Não se falava com seu pai, desde
que tinham editado seu segundo livro, em que falava da fachada de um juiz do
supremo, que não correspondia com a realidade.
Tinha se sentido ofendido, pois achava que o retratava, mas na verdade
tinha juntado todos os juízes que conhecia, num personagem só.
A muito pediam que escrevesse a
história de seu irmão, mas se negava rotundamente, inclusive nunca falava no
assunto com ninguém, era um tabu a família.
Respondeu a todas as perguntas,
como tinha colocado som no celular, este chamou, era sua avó, comentou que já
sabia da história, que pegaria o primeiro avião para NYC, preocupado com seu
irmão. Ela comentou que tinha chamado
seu psiquiatra, que este lhe tinha dado um relaxante que agora estava dormindo,
mas antes só queria saber de ti.
Os homens se retiraram, lhe
desejaram uma boa viagem, infelizmente nos toca de vez em quando dar más
notícias.
Despertou Jules, pois tinha que ir
para NYC, teve que explicar tudo a ele, se arrumou de mal humor como sempre,
foi para sua casa. Ele jogou algo de
roupa numa bolsa, pegou seu laptop, pelo menos poderia seguir trabalhando, no
roteiro do filme que estava escrevendo.
Saiu de casa, entrou imediatamente
num Uber que tinha chamado, assim que acabou de comprar o bilhete de avião em primeira
classe, telefonou para sua avô, ela mandaria o chofer ir busca-lo no aeroporto.
Não dormiu de imediato, ficou
pensando que sua família, era sempre pasto de tragedias, tudo na verdade por
culpa de seu pai. Não tinha conseguido
descobrir muita coisa sobre o crime, mas claro para ele estava ligado ao
trabalho do velho, como o chamava.
Seu pai, era pelo menos 10 anos
mais velho que sua mãe, daqui dois anos se aposentava do Supremo. Era um homem complicado, feito a si mesmo,
tinha feito a universidade com bolsa de estudos, pois vinha de uma família
pobre.
Foi subindo na hierarquia, foi
fiscal, depois juiz, finalmente juiz do Supremo Tribunal, era conhecido pelas
suas sentenças, sempre muito duras.
Inimigos, ele tinha aos montes,
não só os homens quem tinha condenado, mas também políticos que tinha fuçado a
vida.
Seu irmão tinha sido o primeiro a
pagar por isso, ele tinha 14 para 15 anos, quando seu irmão foi sequestrado,
era cinco anos mais velho, adorava seu irmão menor. Estava na escola, quando esse foi
sequestrado. Quem ia buscar seu irmão na escola, era sua
baba, uma mulher que tinha trabalhado a vida inteira para sua avó, agora estava
de novo lá cuidando dele, era a única pessoa que ele permitia chegar perto
dele, era o centro da atenção dele.
Também era a única que o fazia entrar em razão quando teimava com alguma
coisa.
Estavam saindo da escola, quando
um furgão se aproximou, lhe deram uma apunhalada no peito, a jogando no chão,
levaram meu irmão.
Foi um escândalo, minha mãe,
mandou o chofer, me buscar na escola, mas não me disseram nada até chegar em
casa, saber que Baba Esther, estava no hospital muito mal, me transtornou,
afinal tinha cuidado de mim desde bebê.
Ela era judia, como a família de
minha mãe, então a comida em casa sempre era Kasher, meu pai odiava.
Quando cheguei, minha mãe me
contou que tinha sequestrado o meu irmão, foi como se tivessem aberto um buraco
no chão, estavam ali no salão com meu pai, minha mãe, me perguntaram se eu
tinha notado alguma coisa diferente.
Lhe perguntei o que ele queria
dizer com diferente?
Alguém vigiando a casa?
Não, vigiado estamos sempre, pois
meu pai, sempre tinha seus guarda-costas, mesmo que na casa tivesse vigilância
através de vídeo.
Realmente não tinha visto nada,
além de que, normalmente iam me buscar na escola, todos os dias, se tinha algum
jogo, algum desses homens ficava me esperando para levar para casa, nunca pude
sair com os amigos, isso não estava permitido.
Em casa seguíamos todos os ritos
judaicos, por vontade de minha mãe, meu pai não tinha religião, a única que
tinha era sua verdade em tudo.
Quando chamaram pedindo o resgate,
ele disse na cara do sequestrador, que nunca pagava nada, senti um aperto no
peito horrível, isso seria a condenação do meu irmão. Devo ter ficado furioso, pois quando ele
colocou o telefone no gancho, lhe dei um murro na cara, gritando é meu irmão.
Quando chamaram a segunda vez,
disseram que estavam mandando a prova de vida do meu irmão, ele não estava,
minha mãe disse que pagaria o resgate.
Ela, bem como minha avó que tinha
vindo urgente de NYC, juntaram dinheiro para pagar o resgate, eu estava
furioso, pois meu pai tinha ido trabalhar como se nada estivesse acontecendo.
Uma semana depois devolveram meu
irmão, era um trapo, tinha abusado dele sexualmente, vinha com um bilhete, o
mesmo tinha acontecido com o sequestrador na prisão, por culpa do meu pai.
Ele ficou furioso com minha mãe
por pagar o sequestro. Nunca descobriram
quem tinha sido, analisaram todas as hipóteses, mas meu irmão levou dois anos
para falar de novo, isso porque Esther cuidava dele, só falava com ela, comigo. Passou a dormir no meu quarto, mijava todas
as noites na cama, tinha pesadelos horríveis.
De dia estava agarrado a Esther, quando eu voltava da escola, comigo.
Raramente saia do quarto, não
podia ver meu pai, que começava a chorar.
A solução foi o levar para NYC, tiveram que droga-lo para colocar na
ambulância, fomos eu e Esther com ele, caso despertasse.
Sua nova vida o deixou mas
tranquilo, mas seguiu sem sair de casa, era necessário que o psiquiatra que o
conquistou aos poucos, viesse para falar com ele.
De NYC, quando soube que o corpo
de minha mãe estava liberado, fui até lá para busca-lo, quando perguntaram
sobre o do meu pai, lhe disse que o supremo que o enterrasse como quisesse.
O de minha mãe, seguimos o rito
judaico, rezei um Kadish ao pé do túmulo, foi enterrada junto ao resto da
família. Depois fomos ao advogado para
ver a leitura do testamento, minha mãe me deixava responsável pelo meu irmão,
por Esther, bem como minha avó, a herança era boa, o apartamento estava em nome
de minha avó.
Logo em seguida, recebi, um
envelope, com fotografias, eram estranhas à primeira vista, se via meu pai, no
seu quarto, minha mãe no dela. Depois
ela continuava sozinha, com um martini na mão, tinha começado a beber muito
depois do sequestro do meu irmão.
As fotos seguinte, eram de meu
pai, no quarto com um rapaz, a cara do mesmo estava borrada de proposito,
primeiro ele fazendo uma felação no velho, depois ele no rapaz.
Recebi um telefonema, me pedindo
dinheiro, para não divulgarem as fotos, eu comecei a rir, devo ter
desconcertado a pessoa. Acho que erraste
de lugar para pedir dinheiro, eu não daria um tostão para manter a memória
desse filho da puta. Se quiserem fazer
chantagem façam com o supremo, a mim não
me importa um caralho se saem publicadas.
Chamei o FBI, entreguei o
envelope, com as fotos dentro, contei o que tinha dito, ficaram de falar com o
supremo. Ninguém mexeu um dedo, soube
depois que no seu enterro, não tinha ninguém.
As fotos foram publicadas num
jornal sensacionalista, não pude sair de casa uns quantos dias, pelo assedio
dos jornais, da televisão.
Não me importei, pois estava
trabalhando em casa. Falava com meu
namorado, que me contou que o FBI tinha feito um interrogatório, minucioso, se
eu estava realmente em Los Angeles.
Tinham falado com todo mundo com
quem eu trabalhava. Não me importei,
pois não tinha nada a esconder.
Um dia vi meu irmão gritando,
corri, ele estava na janela para baixo, sinalizando, dizia que era o homem que
tinha abusado nele, mas eu só conseguia ver uns sapatos aonde ele sinalizava, a
pessoa devia ter-se escondido, chamei a polícia bem como o FBI, nesse momento
dei graças a Deus, ele se negar a sair do quarto. Quando uma voz de homem, chamou querendo
falar com ele, fiz um verdadeiro escândalo.
Talvez ele tenha escutado atrás da
porta. Não conseguiam localizar a
chamada. Esta passou a ser diária, o FBI
criou um desvio da mesmas, ou seja em casa ninguém atendia.
Meu irmão estava muito nervoso,
era uma pessoa frágil, parecia não ter passado nem um dia do seu sequestro, não
tinha crescido, para alimenta-lo era difícil, necessário uma verdadeira
paciência, dar a comida na boca, que o conseguia melhor era a Esther.
Um dia ela me chamou atenção, como
estava minha avó, foi uma batalha para a levar ao médico, para fazer um
check-up, pior foram os resultados.
Estava com problemas sérios de coração, segundo o médico, era como uma
folha de papel.
Agora eu tampouco saia muito de
casa, precisava ir para Los Angeles, acabei mandando o roteiro do filme para a
produtora, por internet.
O meu namorado, telefonou, dizendo
que estava sendo seguido, que iria passar um tempo fora, me desculpe, mas teus
problemas estão afetando minha vida.
Tive que concordar, não era fácil
para mim, imagine para outra pessoa que não tinha nada a ver com o assunto.
Meu irmão agora vivia pegado a
janela, corria para aonde eu estava, me mostrava alguém na rua, mas a policia
estava por, ali, eu descrevia a pessoa que ele dizia, mas não tinha nada a ver.
Um dia despertei, não o vi na sua
cama, quando vi a janela de seu quarto estava aberta, vivíamos num 10 andar,
quando olhei para baixo, ele estava jogado na calçada, sai como estava de
pijama, a polícia já tinha chegado.
Foi uma porrada bem dada na minha
cabeça, fiquei ali parado chorando, como isso podia ter acontecido, no dia
anterior, ele estava tranquilo.
Minha avó, coitada, foi parar no
hospital, muito mal, tiveram que entubar, desta vez, foram dois os enterrados,
rezei Kadish pelos dois. Esther ao meu
lado, rezava muito, tinha vivido a vida inteira com a família. Estava
destroçada, meu irmão era como seu filho.
Agora eu herdava também a parte de
minha avó.
Quando Esther me disse que ia
visitar uns parentes seus em Israel, fui com ela, não sabia o que fazer da
minha vida, comprei dois bilhetes de avião, agora usava sobrenome judeu, deixei
de ser Bronson, para ser Kleinstock, fomos de primeira classe.
Meus documentos eram novos, bem
como da Esther, nos hospedamos num apartamento que consegui, fomos a procura de
seus parentes. Ela só encontrou uma
prima distante, que a recebeu em sua casa, mas como sempre, um parente vindo da
América, pensavam que ela era milionária.
Aluguei um carro, visitamos tudo que pudemos, voltamos para casa.
Tínhamos aproveitado para
conversar, ela tinha umas amigas da sinagoga, que viviam agora em Miami, numa
residência para pessoas de idade, como pequenas casas, fui com ela até lá, para
olhar.
Ela tinha me dito que eu devia
seguir com minha vida, que bastava de tantas desgraças, mas ainda voltou comigo
para NYC, para desfazermos do apartamento de minha avó.
Eu guardei fotos do meu irmão,
algumas da minha mãe quando jovem, da minha avó com Esther, o resto me desfiz
de tudo.
Coloquei o apartamento a venda, o
rendimento dele, pagaria o lugar que Esther ia viver.
A levei de volta até lá.
Fui para Los Angeles, alguém tinha
entrado no meu apartamento, chamei a polícia, mas não descobriram nada. Como tinham destruído tudo, mandei vender o
mesmo, fui para um apart-hotel, perto da produtora, me distrai acompanhando a
filmagem do meu roteiro.
Um dia recebi, uma cópia de um
livro, na hora não entendi, eu não era um editor, mas tinha um bilhete na
frente, dizendo leia, que entenderas tudo.
Tirei uma cópia, com luvas, para
não tocar o papel. Comecei a ler minha
cópia.
Fui entendendo tudo, meu pai
quando era juiz, tinha condenado um rapaz, sem culpa nenhuma, a primeira parte
do livro, era justamente o calvário que esse rapaz tinha sofrido, tinha sido
condenado a 20 anos de reclusão, tinha 17 anos, o julgaram como um adulto, seu
advogado era desses de oficio, não fez nada por ele.
Já no seu primeiro dia da prisão,
abusaram dele, foi parar várias vezes na enfermaria, mas sobreviveu, descobriu
que a solução era se tornar amante de um dos homens poderosos entre os
presos. Segundo ele contava, tinha
virado a puta do mesmo.
Os dois saíram ao mesmo tempo, em
condicional, montaram todo um esquema de vingança, a primeira parte foi
justamente o sequestro do meu irmão, contava com detalhes como o tinham
prisioneiro, numa casinha de cachorro, com coleira, corrente, tinha que beber e
comer como um animal, tinha mandado o vídeo para o meu pai diretamente.
Ele nunca falou nisso com ninguém.
Depois os dois abusaram dele
diariamente, até o entregar.
Eu chorava como um condenado, lendo
toda essa descrição, falavam ainda que depois de cada abuso, meu irmão
desmaiava. Que ao final não opunha mais
nenhuma resistência.
Quando minha mãe, junto com minha
avó pagaram o resgate, tiravam seu brinquedo, ainda pensaram em seguir com meu
irmão, mata-lo. Mas claro tinham
descoberto de alguma maneira que ao meu pai, isso não importava. Que não faria nada para recuperar seu filho.
Tinha vigiado
a partir daí a vida dele. Pois viram que
eu ia a escola com dois seguranças armados, que minha mãe pouco saia, sabiam
das duas tentativas de suicídio, do meu irmão, uma aos 15 anos, outra aos 16,
como eu não tinha ideia era como sabiam detalhes.
Comentava que tinha colocado
dispositivos no apartamento de minha avó, que sabiam tudo que acontecia na
casa.
Inclusive comentava dos meus
livros, que o primeiro era interessante, mas o que tinha escrito sobre o juiz,
me chamava de covarde, por não ter escrito realmente o que pensava do meu pai.
O texto era terrível.
Me desafiava a publicar esse
texto, inclusive publicar fotos minhas com meus namorados.
Não pensei duas vezes, chamei o
homem do FBI, com quem tinha travado certa amizade, eles começaram analisar
todos os que tinha ido para a cadeia por causa do meu pai.
No texto, encontraram uma
impressão de um dedo, finalmente conseguiram dar com os dois, quando foram
presos, o mais jovem confesso ter matado meu pai. O outro matou minha mãe, só porque tinha
entrado no quarto, por causa dos gritos.
Tinham um verdadeiro arquivo sobre
meu pai, todos seus movimentos, fotos, vídeos, um registro diário de sua vida,
com quem se via, o que fazia.
O mais jovem depois de ser
condenado, pediu para falar comigo.
Me desculpa da morte de teu irmão,
mas me apaixonei por ele, estava sempre na janela, eu aluguei um apartamento em
frente só para observar como ele ia.
Ah uma coisa que deves saber, teu
pai não fez nada, porque pensava que não era filho dele, mal sabia que na
verdade quem não era filho, eras tu.
Tua mãe quando casou, estava
gravida de um companheiro da universidade, disse inclusive o nome do
mesmo. Mas ele foi para o exército, por
isso não se casou.
A solução dela foi casar-se com o
que pensavas que era teu pai, para não manchar o nome da família.
Isso tudo era de uma morbidez
incrível, se não fosse pelo vidro que nos separava o tinha matado ali com
minhas mãos.
Me disse que me entregariam uma
chave, aonde estava guardadas as fotos, bem como os vídeos de meu irmão. Quando teu pai recebeu o vídeo, não fez
nenhum movimento, para liberar o mesmo, foi quando cheguei a conclusão que era
um monstro.
Por isso, esperamos o tempo
necessário para mata-lo.
Nessa noite ele tinha pedido um jovem
para fazer sexo, eu fui no lugar do mesmo, ele sempre levava jovens para dentro
da própria casa. Sou eu que apareço nas fotos, por isso a cara estava
borrada. Foi quando aproveitei para
mata-lo, quando ele menos esperava.
A policia não contou que ele foi
encontrado com um consolador de metal no cu, esconderam tudo isso.
Sai da prisão arrasado, minhas
pernas tremiam, o mais interessante, ele só me pediu desculpas pela morte do
meu irmão, o resto fazia parte de sua vingança.
O FBI, ainda tinha amostras de
sangue do meu pai, consegui, para fazer teste de ADN, realmente não era filho
dele. Comecei a analisar tudo que me
lembrava a respeito de como me tratava.
Nunca chegava perto de meu irmão, ou de mim. Só aparecia com as mãos nos ombros dos dois
em fotos oficiais. Caso contrário nunca.
Nunca nos tinha colocado na cama,
ou conversado como fazia um pai, sempre estava cansado do trabalho, das festas
que era obrigado a ir. Quem fazia tudo
isso, era minha mãe.
Agora entendia, as desculpas que
ela pedia na carta que me deixou.
Fui consultar o psiquiatra que
tinha cuidado do meu irmão, conversamos muito, lhe dei o texto do livro para
ler.
Eu lhe disse que queria fazer algo
diferente, na primeira hora da manhã, nos sentávamos num parque perto do seu
consultório, falávamos tomando café, durante uma hora, fui colocando para fora
tudo o que tinha, até me sentir vazio, durante esse tempo, não consegui me
sentar para ler, nem escrever.
Fui passar um tempo com a Esther,
mas nunca falei nada a respeito, a não ser da descoberta que não era filho
desse homem que odiava com todo coração.
Ela sabia da verdade, mas nunca
tinha falado, por respeito a família.
Confirmou o nome do meu pai
verdadeiro. Pesquisei sobre o mesmo,
agora trabalhava no pentágono, sabia que era solteiro.
Telefonei, perguntei se podia
falar com ele. Quando me identifiquei,
dizendo de quem era filho, se fez um silencio, mas quando pedi para falar com
ele, concordou.
Me disse que estaria em NYC no dia
seguinte.
Quando o vi, no saguão do hotel,
foi como me olhar num espelho, realmente eu, bem como meu irmão éramos
diferentes um do outro. Agora entendia.
Me apertou a mão, contei tudo que
sabia, se ele não se importasse, gostaria de fazer um teste de ADN, para saber
quem realmente sou.
Ele concordou, fizemos, passamos os
dias conversando, ele me contou o outro lado da história, tinha realmente
conhecido minha mãe na universidade, tinham feito sexo umas duas vezes, mas
quando ela o apresentou a família, meu avô, não aprovou, pois ele era
descendente de Irlandeses, pobres.
No fundo eu nem sabia o que era,
era um jovem confuso, por isso entrei para o exército, era mais fácil fazer uma
carreira, me especializei em computação, por isso trabalho no Pentágono,
dirigia um departamento especializado, era coronel.
No dia que saiu o resultado, fomos
buscar juntos, olhamos um para o outro, nos abraçamos, eu agora recuperava uma
família.
Ele me contou que era gay, que
vivia com outro militar, que estava ao par do assunto.
Passamos várias férias juntos, até
ele se aposentar do seu trabalho, a partir desse momento, passei a viver com
eles, tinha essa necessidade de uma família.
A minha tinha sido totalmente destruída.
Tinha medo inclusive de ter um
relacionamento, que pudesse acontecer alguma coisa.
Mas aos pouco fui entrando em
razão, seguia escrevendo, agora pequenas historias que ia alinhavando para
fazer como coisas paralelas que se cruzavam, para um filme.
Na filmagem conheci um ator, era o
tipo de galã, que até agora fazia papel de mochinho, tinha aceitado nesse filme
fazer um papel de gay, era o personagem mais dramático.
Um dia conversando com ele, falávamos
sobre o personagem, me perguntou se tinha muita coisa minha no personagem. De uma certa maneira sim, se interessou,
contei minha história.
Ao final, me convidou para jantar
na sua casa, dai para o resto foi um pulo, fui ficando, de meu só o laptop para
escrever. Quando dei por mim, faziam
cinco anos que estávamos juntos, ele nunca se escondeu, vivíamos uma vida
normal, inclusive escrevi uma peça de teatro para ele.
Fez muito sucesso, depois foi para
o cinema, mas ele queria mesmo o trabalho diário do palco.
Quando fizemos oito anos juntos,
me disse que queria casar-se comigo, foi toda uma surpresa, pois sabia que não
estava atrás do dinheiro que eu poderia ter, pois tinha tanto quanto eu.
Falei com meu pai, esse riu, pois
tinha se casado com seu companheiro fazia já algum tempo.
Arrisca, senão não saberás. Faltando um mês para o casamento, ele ficou
doente, pensei que ia perder o homem da minha vida, mas uma operação resolveu
tudo.
Nos casamos, numa cerimonia
simples, nenhum dos dois queria publicidade tonta. Vivemos juntos já fazem 15 anos. Ele me entende, é carinhoso comigo, mas sabe
que nunca poderei esquecer meu irmão.
Uma vez falamos em filhos, só de tocar no assunto, chorei muito.
Ele entendeu, nunca mais falou.
Tinha medo de ter um filho, de
perde-lo, como tinha perdido o irmão que eu adorava.
A vida segue em frente, mas tem
coisas do nosso passado que nos assustam, nos fazem pensar sempre, são como uma
ferida que nunca pode cicatrizar.
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