lunes, 3 de enero de 2022

SOLITARY

 

                                       SOLITARY

 

Estava como gostava, no meio do nada, escutava ao longe a voz de seus companheiros de final de semana.   Tinham saído a cavalgar, guiado por um empregado de seu pai.  O escutava dedilhando a guitarra.  Mas não se aproximou,

Ali deitado em cima de seu saco de dormir, com as mãos cruzadas embaixo da sua cabeça, pensava no futuro, a larga conversa que tinha tido com Madie, sua madrasta, a terceira esposa de seu pai.  Esta tinha muita estrada, como ela mesma dizia, tinha saído do Arkansas para triunfar na Broadway, com toda inocência do mundo, aprendi o que devia, bem como o outro lado.

Tens que fazer o que gostas, nada de ir a universidade, fazer uma coisa que teu pai queira, ele fez direito, mas nunca trabalhou como tal, fez porque teu avô queria.

Meu irmão mais velho Jimmy, tinha feito o que meu pai queria, por isso trabalhava com ele, era uma pessoa extremamente desagradável.

Esse era filho do primeiro casamento de meu pai, sua mãe, era uma milionária do Texas, mas ele dirigia a empresa do pai em NYC. 

Meu pai tinha se casado com todas suas mulheres com um contrato de separação de bens, com Madie era igual, mas ela tinha fortuna própria, era viúva quando conheceu meu pai, primeiro viveram junto alguns anos, pois não entendia porque tinha que se casar de novo.

Meu pai achava que se casando, ela era uma propriedade sua, nada, tinha sua própria maneira de pensar, nunca se dobrava para ele.

Dois dias atrás, os vi discutindo na biblioteca, ela queria que passasse a fazenda para o meu nome, como ele tinha feito com os negócios, estavam em nome de meu irmão.  Se te acontece algo, ele está protegido.  Alias tirando a mim, é o único que gosta deste lugar.

A casa tinha sido refeita totalmente por ela, bem como decorada, não chamou nenhum decorador da moda, como faria minha mãe.   Simplesmente andou pela cidades vizinhas, foi montando tudo, comigo ao seu lado.

Eu a respeitava como minha mãe, pois ela como nunca teve filhos, me adotou desde o primeiro momento que me viu.

Jimmy tinha sido criado pela sua mãe, mas eu fiquei sobre a guarda de meu pai, pois minha mãe, uma estrela da Broadway, do cinema, era dada a escândalos.  Foi fácil conseguir minha guarda, alias ele poderia ter feito um teste de ADN para saber se eu era seu filho ou não, mas não quis saber, eu era super parecido com ele.

Era interessante, vivíamos no Central Park, minha mãe, vivia no Dakota, ia uma vez por semana no seu dia de folga do teatro, mas nesse dia estava sempre de enxaqueca, motivo para me dispensar rapidamente.   As vezes me cruzava com algum homem que subia, com os anos foram se transformando em cada vez mais jovens.

Ali olhando as estrelas, pensava nas minhas possibilidades, os dois rapazes da minha idade, tinham vindo com seus pais, passar o final de semana, tinham negócios com o meu, as mulheres tinham ficado encantadas com a decoração da casa.  Dolores a senhora mexicana que me criou, comandava a cozinha, tinha preparado lautos sanduiches para essa noite ao ar livre.

Era outono, as folhas começavam a cair, mas o céu estava limpo, tinha escutado os planos dos dois rapazes, quando terminassem as aulas, iriam passar um ano sabático viajando pela Europa.

Me perguntaram se queria ir.  Olhei bem para os dois, pensei, nem pensar, estudavam na mesma escola que ia, mas nunca falavam comigo, estavam sempre metidos em confusões.  Eu tinha rido muito, pois os dois nunca tinham andado a cavalo, estavam reclamando que a bunda doía muito.    Isso que não tínhamos ido longe.   James o homem que nos acompanhava, sabia que eu adorava esse lugar, tinha sido ele te tinha me ensinado a ir.  Estávamos na beira de um lago, no verão se podia tomar banho, de manhã o faria, apesar da água fria.  Pensei esses dois ficaram horrorizados.

Tinha analisado com o orientador da escola todos os cursos, nenhum me interessava muito, talvez Belas Artes, pois adorava desenhar.  Mas não me via como um pintor, gostava, mas para mim mesmo.

A semanas atrás, quando fui ver minha mãe, Madie não me permitia faltar, cheguei estava com um professor, ele o conhecia de sempre.   Ela estava se preparando para fazer um musical, mas fazia tempo que não cantava.   Ele insistia numa música, eu ali sentado já conhecia a mesma de ter visto esse musical no cinema.

Ela não conseguia alcançar as notas mais altas.  Ele se virou para mim, soltou, aposto que até teu filho consegue, essa música é fácil.

Insistiu muito, ela já meio nervosa, quem sabe herdaste de mim, alguma coisa pela arte.

Ele começou a música a cantei inteiro como sabia, estava na minha cabeça.

Quando acabei, ele disse, viu como é fácil, menino tens uma voz muito bonita, devias trabalhar um pouco, poderias ficar com esse papel. Se matou de rir com a brincadeira, ela ao contrário furiosa, disse que era melhor que eu fosse embora, será que não via que estava trabalhando.

Sai cantando a música mais alto ainda, ele me alcançou no elevador, me deu seu cartão dizendo, se queres fazer aulas de canto, me procure.

Voltei para casa cantando, quando entrei, vi que meu pai, Madie discutiam na biblioteca, Dolores, me levou para seus domínios a cozinha.

A coisa está feia. Tinha um jeito muito especial de falar as coisas.

Justo no dia seguinte, fomos para o La Guardia aonde meu pai deixava seu avião particular, Madie ia com a cara fechada, Dolores como adorava estar na fazenda, mais contente, meu pai sequer tinha me olhado.

Tornaram a discutir, mas desta vez escutei a historia de colocar a fazenda no meu nome.

Sei que no outro dia de manhã, ele foi para a cidade logo cedo.   De tarde tinham chegado os amigos.

Estava pensando que achava estranho ver Madie tão nervosa, como se alguma coisa a incomodasse.

James, veio se sentar num tronco, atrás de mim, venha vamos cantar aquela música que gostamos, era uma country que ele adorava.   Me recostei no tronco, cantei com ele, falava das estrelas, da lua, do amor.   Os outros dois nem se moveram de aonde estavam, com certeza devia achar ridículo, pois no caminho tinha falado muito de uma discoteca nova que tinha aberto, que iam muito.

Não tinha nada a ver comigo.  Meu prazer era estar ali ao ar livre, cada vez odiava NYC, menos mal que Madie detestava dar festas em casa.   Dizia que depois o trabalho era demais.

Acredito que tinha ainda dentro dela a alma daquela garota de Arkansas. 

No dia seguinte pela manhã, James me chamou, os dois tiramos a roupa, nos jogamos a água fria, os outros lavaram a cara reclamando, o mesmo fizeram com o café forte que ele tinha feito, comeram o que Dolores tinha mandado, fazendo cara de asco.

Estava louco para os ver pela costa, fui adiante conversando com o James, íamos cantando uma música Country que ele disse que era nova.

Menino, sempre me chamava de menino, tens uma voz bonita, um dia devias te dedicar a isso.

Nessa noite, fizeram uma festa com os vizinhos, vi que as duas mulheres, estavam se salto altíssimo, enquanto Madie, usava botas.

Lá pelas tantas James começou a tocar a música nova, me chamou para perto dele, comecei a cantar, depois cantamos a da noite anterior, o pessoal aplaudiu.   Madie me abraçou, me soltou, se tudo der merda, sempre poderás ser um cantor.

No dia seguinte fomos embora, no avião falei do professor, ela me olhou como sempre fazia, diretamente nos olhos, por que não?    Eu pago as aulas, se for pedir ao teu pai, vai te dizer não.

Assim comecei a fazer aulas com o professor, um dia me disse, tens uma voz mais bonita que a da tua mãe, o musical tinha começado, ele disse que ia mal de bilheteria.

Meses depois estourou uma bomba em casa, estava no meu quarto estudando, quando ouvi barulho insistente.  Quando sai a casa estava cheia de agentes do FBI, estavam atrás do meu pai.

Madie, fez um gesto como dizendo silêncio.

Entraram na biblioteca, examinaram tudo, tiraram os quadros da parede, para saber se tinha algum cofre ali, o mesmo fizeram no quarto dela, eu tinha voltado para o meu, fizeram a mesma coisa, a casa quando foram embora, estava toda revirada.

Eles só pararam porque ela chamou o advogado do meu pai.

Ninguém sabia aonde estava.  Soube por que o James a chamou, que tinham feito o mesmo na casa.   Eu ainda tinha meus últimos exames no dia seguinte.  Me disse, fazes o exames, arrumamos a casa, nos vamos para a fazenda.   O que achei estranho, era que ela pegava todas suas joias, saia com elas numa bolsa, de tonta não tinha um pelo, levou tudo para o banco aonde tinha conta, nunca se sabe me disse.

Ela tinha seu próprio dinheiro aplicado, como me ensinou a fazer depois.

Na escola foi uma merda, pois todos falavam do assunto, os dois rapazes, não estavam na escola, soube depois que seus pais estavam presos.

No avião, para a cidade mais próxima, íamos os três, desta vez na classe turística, segundo ela para não chamar a atenção.  Me contou que meu pai tinha se metido em alguma coisa que ela nem queria saber o que era, para não se ver involucrada.

James nos esperava, disse se preparem.  Tinha revirado a casa inteira, estava tudo de patas ao ar, as empregadas arrumando.

Ele comentou, mandei o pessoal, levar o gado para o pasto mais apartado, pois falavam em interditar tudo.  Quando passamos na cidadezinha mais próxima, mandou que ele parasse no advogado que meu pai usava ali, voltou com um envelope, por se acaso, soltou ela, estava mais tranquila, só disse, pela primeira vez esse filho da puta me escutou.

Depois da casa toda arrumada nos sentamos no escritório, me disse não tens que te preocupar, a fazenda é tua, não podem fazer nada, eu tampouco perco coisa nenhuma, pois me casei com separação de bens.   Interditaram o apartamento de NYC, pelas dividas, Jimmy se salva porque tem bens no seu nome, mas o escritório também está interditado.   Pelo que sei, teu pai está por aí, o advogado não quer me dizer.

Mais tarde por surpresa minha mãe chamou, dizendo que tinham estado em sua casa, mas como não tinham uma ordem de busca, sequer abriu a porta.  Seu advogado já tinha entrado em contato com o FBI, que ela não tinha nada ver com isso.  Como se não basta-se o musical ir mal, agora isso.   Em nenhum momento perguntou como eu estava, se precisasse de algo, nada.

Da mesma maneira que ligou, desligou, nem adeus, até breve, porra nenhuma.

Madie, para me consolar disse, ela é assim mesmo.  Tinham trabalhado juntas num espetáculo a muitos anos atrás, ela chegava, não dizia nem mu, entrava no seu camarim, só saia para se apresentar, ia embora como tinha chegado.   Depois se casou com teu pai, passou uma temporada sem atuar, mas como tinha se casado com separação de bens, mal nasceste voltou a atuar.

Era uma verdade, não me lembrava dela brincando comigo, ou me levando a escola, nada, tudo era a Dolores.

Está tinha um mantra, agora nesses dias, fique tranquilo, nós duas estamos contigo.

Era interessante, quando Madie entrou nas nossas vidas, ela não gostou muito, seus domínios era a cozinha, a primeira vez que tomava café da manhã em casa, perguntou se queria que a ajudasse em alguma coisa, Dolores resmungou algo.   Ela soltou sua gargalhada, já entendi, aqui são teus domínios, só disse como gostava do café, se sentou ali na cozinha, como ninguém fazia a não ser eu.   Passou a me perguntar como ia nas aulas, o que eu gostava o que não, como fiquei um momento em silêncio, Dolores soltou, não seja mal educado, responda.

Com o tempo ficaram amigas, consultavam uma a outra, como fazer alguma coisa, o mesmo chegávamos na fazenda, a cozinha, o que tinha que se comprar ou não era tudo com ela.

Eu fazia 18 anos, no dia seguinte, estranhei que ela fosse dirigindo o jeep que usava o James, temos que ver com o advogado, se podes aceder o dinheiro que teu pai tinha no banco, pois senão estamos ferrados, temos que pagar o pessoal.  Não sei como, ela conseguiu que tudo fosse para meu nome, ainda não interditaram as contas, tinha uma procuração de meu pai, para poder fazer isso, tinha chegado via fax ao advogado.  Ela passou todo o dinheiro dessa conta, bem como dos outros bancos.  Só não pode fazer isso de um de NYC que já tinham interditado a conta, que era conjunta com meu irmão.

Temos dinheiro pelo menos durante três meses, me disse, já falei com o James, hoje a tarde, tens que assumir algumas coisas, a fazenda é tua, tens que aprender a dirigir, nada melhor do que ele para te ajudar.

Inclusive terei que te pedir se posso me hospedar aqui?

Imagina Madie, eres mais minha mãe, que a que me pariu.

Sentamos de tarde quando James desceu dos pastos de cima, disse que não podia manter o gado lá pois fazia muito frio.

O que você sugere James.

Bom eu venderia uma parte, posso separar tem um matadouro que está interessado, dispensar a maior parte dos cowboys, nos apanhamos com o que temos, melhor ficar com os que tem família aqui, porque colocar essa gente no inverno para fora é covardia.

Temos dinheiro para pagar o salário uns três meses, pelos meus cálculos disse Madie.

Mas se vendemos o excedente, pagamos o pessoal com esse dinheiro, pelo menos por um bom tempo.

Mostrou as contas que ele tinha, me ensinou como controlar a venda do gado.  No dia seguinte passei a trabalhar com o pessoal, ele separou os que queria, bem como os que tinham família, mandou o resto falar com o advogado que acertou com todos.

Fomos separando o gado, ele sabiamente, separou os bois excelentes para cruzar, os foi colocando com a vacas que valiam a pena, quando chegar o verão, já teremos reses novas.

Me ensinou a ser um cowboy.   Agora na casa Dolores compartia com Madie os serviços, embora ela dissesse que não estava bem. 

Um dia ela soltou, Dolores, na casa da minha família erámos dez filhos, cinco mulheres, tínhamos que fazer de tudo, depois da escola, cada uma tinha sua tarefa, nada disso me assusta, se fosse de outra maneira, eu teria ficado em NYC, pedido meu apartamento de volta, mandaria um pedido de divórcio, que tudo fosse as favas, mas tem o James no meio, não posso fazer isso.

Não escutei Dolores, nunca mais falar nada.

Depois conversei com ela, sobre isso, disse que podia me apanhar sozinho.

Eres o mais próximo que tenho de um filho, seria covardia, depois ia perder o prazer de estar aqui, sabes o quanto amo este lugar.   Menos mal que consegui convencer teu pai, que passasse tudo para teu nome.

Jimmy saiu mal parado, mas sua mãe tem muito dinheiro, mas voltou a viver no Texas.

Volta e meia, aparecia o advogado, se negava a falar certas coisas por telefone, pois podia estar interditado.    Não sabia muito bem aonde meu pai tinha se metido, sabia sim que a muito tempo mandava dinheiro para as Ilhas Cayman, talvez estivesse por la, pois cada vez me chama de um lugar diferente.

Mandei teus papeis de divórcio, ele acabou aceitando, devolveu assinado, o envelope veio do México, não sei se está metido em algum negócio por lá.

Junto me mandou uma carta, prescindindo de meus serviços, pois lhe disse que estava me colocando numa situação difícil.

Seguimos nossas vidas, quando começaram os rodeios as festas nas cidades ao lado, eu ia com o James para cantar, ele arrumou um grupo de cowboys que tocavam alguns instrumentos, íamos por aí, ganhávamos uns trocados, repartíamos todos entre nós.

Numa cidade destas, um caçador de talentos me descobriu, estava muito preocupado, pois as despesas da fazenda eram imensas.  James tinha dado uma solução, que acabamos aceitando, repartir as terras, de uma maneira que podíamos alugar, ficávamos com uma parte dos pastos de baixo, bem como os da montanha, as outras terras serviam para plantarem milho, o advogado agora estava do nosso lado, conseguiu gente honesta para cuidar dessas terras, mas mesmo assim, as contas eram justas no final do mês, ela queria colocar dinheiro dela, mas não permiti.

A oferta do homem era interessante, me conseguia contratos em todas as feiras ao longo do estado para que ganhasse forma minha maneira de cantar.  Lhe disse que aceitava se Madie fosse minha manager.   Ela adorou a ideia, James ficava tomando conta da fazenda, saímos pelo mundo como ela dizia, logo alugamos um trailer, era como estar de férias, mas ganhando dinheiro.    Só me disse uma coisa, cuidado, nada de bebidas, de garotas fáceis, drogas, nem jogo.  Vamos cimentar tua carreira.

Já no final da temporada, havia um concurso em Nashville, fomos até lá, os concorrentes eram bons, todos já com seu clube de fans.   Mas ela me deu força.  Quando chegou minha vez de cantar, cantei duas músicas que sabia que fazia bem.  Fui muito aplaudido, passei para a final.

Vários compositores me ofereceram músicas.  James veio me ajudar, escolheu duas. Trabalhamos as duas sem parar durante uma semana.  Depois me disse uma coisa, que fiquei quieto ao escutar.   Sorria, cantas muito sério, os rapazes te olham como se fossem te comer, mas com essa cara, nem as garotas te querem.   Lembra-se dos momentos no lago, quando cantamos juntos, pense nisso.

Quando fui me apresentar, ele sentado com Madie, bateu o dedo na cabeça, como dizendo lembre-se.   Sem querer sorri.

Fechei os olhos um momento, quase podia conseguir ver as estrelas, comecei a cantar uma balada triste, mas muito melodiosa, do meio para o final a musica subia, o que era mais difícil de fazer, mas consegui, os aplausos foram imensos, sorri agradecendo ao público, ele tinha razão, em seguida os aplausos ficaram mais fortes.   A segunda era uma dessas músicas que nas vilas o pessoal gosta de dançar, era muito rápida, tinha que ter um folego impressionante para cantar.

Quando vi, ria porque as pessoas ficaram em pé se embalando ao ritmo.  Isso foi um ponto favorável, porque os outros cantores, cantaram baladas nada mais.   James tinha sabido ao me ajudar a escolher as músicas.

No momento final, erámos três finalistas, ele me disse, cante a rápida, foi um sucesso, o pessoal já sabia o refrão, cantava junto como dançavam.  Ganhei o concurso.  Fiquei contente, pois o dinheiro dava para pagar pelo menos todo o inverno o salário do pessoal da fazenda, agora um rancho, por ter sido tão dividido.

James, me ajudou com um experto a montar um show, com músicas que encaixavam comigo, logo estava me apresentando por todos os lugares, gravei um disco, que tocava muito, dava entrevista nas rádios das cidades que passávamos, mas fomos para o Natal em casa.

Estava morto de vontade de comer a comida da Dolores, a apertei muito nos meus braços, ela se emocionou, imagina eu aqui sentada na frente da televisão, torcendo por ti.

James, conseguiu que um parente dela tomasse conta da fazenda, iria me acompanhar durante a temporada, Madie, disse que ficava, pois achava que já tinha feito o suficiente.

Quando passou as festas, ela agora cuidava dos contratos, tinha aprendido com o advogado a ler as letras pequenas dos mesmo.  Tínhamos muita estrada pela frente, compramos uma motorhome de segunda mão, ela nos encontrava no meio do caminho, para fazer a contabilidade junto com o James, este estava mais deslumbrado do que eu com esse mundo.

Notei que bebia muito, quando falei, não gostou, que sabes tu, eres um fedelho, que te deram tudo de bandeja, inclusive essa voz.   Saiu furioso, no dia seguinte, tive que o ir buscar na delegacia, tinha se metido numa briga.

O pessoal da banda me avisou, esta se metendo em drogas, acha que ele é que devia fazer sucesso não tu.

Tentei conversar com ele, mas fiquei surpreso, realmente era como se eu tivesse roubado seu sonho, mas como ele dizia, para ele já era tarde.  Um dia depois de um show, tínhamos que viajar de noite para chegar a uma feira de gado em Santa Fé, tínhamos músicas novas para trabalhar.   Nada de encontrar o filho da puta, quando o afinal o encontramos era tarde, não sei aonde tinha se metido, nem com quem, tinha levado uma facada no abdômen, tinha as tripas todas para fora.  Mas já era tarde demais.   Avisei a Madie, mandei o corpo para a fazenda, foi enterrado lá.   Os outros tocamos o pé na estrada para não chegar muito tarde, o jeito foi me virar, fazer os arranjos como gostava de cantar, os músicos gostaram, pois sempre o James interferia.

Inclusive, cantei duas músicas que não eram Country, as meninas vinham abaixo, depois queriam autógrafos, outras se ofereciam.  Mas seguia os conselhos da Madie, ia com cuidado.

Ela veio no último dia, teria que assumir o papel de manager outra vez.   Já sentia falta da estrada disse.

Mas aconteceu uma coisa que nos surpreendeu, se aproximou um homem, estendeu seu cartão a cada um, perguntou se eu gostaria de fazer um teste para um filme de cowboy, que ia dirigir, vim assistir a esta feira, justamente procurado uma cara nova.  Perguntou se eu sabia andar a cavalo, essas coisas.   Nos levou aonde era o rodeio, pediu para me ver em ação, lançando o laço essas coisas que eu sabia fazer.

Ofereceu um contrato, que a Madie analisou bem.   Fomos ver o que eles tinham filmado, o homem dizia que eu engolia a câmera, de uma maneira queria dizer que me saia bem.

Não era o típico homem lindo vamos dizer assim, mas minha cara tinha a marca do sol da fazenda, tinha corpo por causa do trabalho.

Como tinha acabado os contratos já assinados, os rapazes da banda alguns iam participar do filme, pois apareciam tocando comigo numa cena, numa noite de estrelas.   Disse ao diretor o lugar perfeito para filmar isso, poderíamos usar o gado da fazenda.

Afinal mais ou menos tudo foi filmado lá.

Eu tinha dúvidas, mas o filme fez sucesso, principalmente no sul do pais, ou na américa profunda como se dizia.  Filme serio de cowboy, que ainda por cima cantava, a música era de um compositor muito conhecido, era o tema do filme, foi candidata ao Oscar.   Lá fui eu, para Los Angeles, por conta da cinematográfica, ficamos num puta hotel, numa suíte.  Madie se comprou um vestido deslumbrante, queria que eu fosse com a mocinha do filme, mas disse que não tinha prometido ir com minha mãe.  Ela tinha sido uma chata durante as filmagens, as cenas com ela, tinha que ser fazer várias vezes, pois sempre errava o texto.

Madie me ajudou com a roupa, disse que teria que usar uma roupa diferente, depois trocaria para me apresentar para defender a música.

A puta música ganhou um Oscar, subi com o compositor, para receber o mesmo. Era um sujeito divertido.  Eu agradeci somente a duas pessoas, a Madie, a Dolores, mas no final pensei, James foi um sujeito que me descobriu, soltei vai por ti James.

Todo mundo queria saber quem era o James, tive que contar.

Fomos convidados para muitas festas, mas estava zonzo com tanta confusão, piorou, pois me encontrei com minha mãe, que tinha vindo como convidada para apresentar alguma coisa.

Quis forçar que eu aparecesse ao seu lado, mas fiquei furioso, me afastei rapidamente, chamei a Madie fomos embora.

Depois de todos esses anos, aparecia, queria ser minha mãe, fiquei resmungando o máximo possível.

Chega James, quer queria quer não, ela é tua mãe.

Depois vendo o vídeo ela tinha vindo entregar um prêmio de toda carreira de um ator.  Ou seja a consideravam uma velha.  Seus últimos espetáculos não tinham ido bem.

Fomos passar uns dias na fazenda, agora um rancho pelo tamanho, analisamos as contas, não fechavam, falamos com o advogado, isso só funciona se o patrão está. Quer um conselho, a casa pode ficar, pois a estrada vem justamente até aqui, pouca terras, nada de gado, alugue o resto que assim pagara a despesa da casa, pelo menos a Dolores tinha aonde viver.

Eu tinha contrato por todos os lados, o mais surpreendente, um grande diretor me queria no seu filme, sabia que era de New York, a história se passava lá, foi, um sucesso, era um tipo normal, que de repente se vê no meio de uma grande confusão, fica sem saber o que está acontecendo, até que encontra o fio da meada, vai à luta.

Fiz uns três filmes seguidos, depois sempre encontrava um jeito de ir passar uns dias com a Dolores.    Madie tinha recuperado seu apartamento em NYC que estava alugado.

Um dia encontrei por um acaso minha mãe, tinha ido jantar com um diretor, que me queria em seu filme.  Quando soube que ela era minha mãe, a convidou para fazer o mesmo papel no cinema, mas quando viu o roteiro se negou.   Era uma mãe, exatamente como ela, que deixas os filhos para viver a sua vida.

A atriz que o fez, ganhou vários prêmios por isso.   Eu quase desisti porque não queria fazer nada com ela.

Na entrega dos Oscar, dancei, cantei uma das músicas do filme, foi um sucesso.

Recebi um convite para fazer um filme na Europa, precisamente em Paris, mostrei o roteiro para a Madie, que ria muito.   Era a história de um homem que vai de férias, é confundido com um da máfia, o perseguem por todos os lados, por mais que prove que não é o mafioso, ninguém acredita.    O final era surpreendente, pois fazia o outro papel também, os dois eram irmãos separados ao nascer.

Ri muito fazendo essa parte, pois era cheia de técnicas, uma parte gravada antes, outra depois, acoplada digitalmente.

Justo ao voltar para NYC, Madie me avisou que queriam falar com os dois, tinham finalmente encontrado meu pai, na Colômbia, o estavam extraditando para os Estados Unidos.

Era uma sombra do que era antes.  Nenhum advogado queria defende-lo, Jimmy acabou aceitando, mesmo sabendo que perderiam.   Mas nem chegou a ir a julgamento, acabou morrendo num hospital.   Tinha um câncer muito avançado.

Ninguém sabia do dinheiro que tinha levado embora do pais.

Jimmy agora era mais agradável, tinha refeito sua vida, casado, pais de dois filhos, reclamava agora ter que explicar aos filhos que o avô tinha morrido na prisão.

Fui umas quantas vezes a sua casa.    Mas na verdade erámos dois estranhos que por um acaso se conhecem.

Agora tinha um bom agente que me defendia, me ofereciam tantos filmes, mas nenhum era interessante.

Estava ficando velho isso sim, sem família minha, se falava de milhões de romances, mas na verdade tinha algumas aventuras nada mais.   Tampouco me sobrava tempo

Fui passar o Natal com Dolores, desta vez Madie não vinha, estava saindo com um senhor, que tinha conhecido, se gostavam, ia conhecer a família dele.   Era viúvo como ela.

Passamos as festas só os dois, o que foi um descanso.

Precisava disso, agora tinha dinheiro, recuperei algumas terras que estava alugadas, comprei gado outra vez, contratei gente para isso, bem como uma senhora para ajudar na casa.

Os contratos que me apareciam, me parecia a repetição da mesma coisa.

Tinha aprendido com Madie, todo o dinheiro que fui ganhando no cinema, com a música, tinha ido aplicando, não era uma pessoa de esbanjar dinheiro, portanto podia viver tranquilo.

Me chamaram para fazer uma série de cowboys, quando conheceram aonde vivia, perguntaram se podia filmar ali, bem como na cidade, era perfeito não tinha que me mover muito.  Alugavam a casa para fazer algumas cenas, ou seja ganhava de dois lados.

Ficamos anos fazendo a mesma. Mas de um lado a solidão as vezes era tremenda.  Um final de semana agora que tínhamos recuperado a parcela perto do lago, fui acampar ali para pensar.

Estava como gostava, tinha feito uma fogueira, montando uma tenda, por se acaso chovesse, mas estava ali, olhando as estrelas o que me dava um paz incrível.

Quando escutei alguém chorando, era uma mulher jovem, que estava a ponto de parir, só pude chamar um helicóptero para leva-la ao hospital mais próximo.

Era uma larga história.    Me deu pena da garota, devia ter uns 16 anos quando muito.

Pariu duas crianças, um menino e uma menina.

Acabei os adotando, pois tinha feito uma Cesária, alguma coisa saiu mal, morreu dias depois, que me deu a guarda das crianças.   Madie largou tudo que estava fazendo, disse que tinha sido um engodo, o homem estava interessado, mas queria viver uma boa vida com ela.

Agora já não posso ter romances, sou avó.  Disputava as crianças, com a Dolores, na hora de escolher os nomes foi difícil, a menina ficou como Dolores, o menino Manuel, pois eram descendentes de mexicanos.   Isso me deu uma estabilidade que não tinha antes, tinha que pensar neles.

Segui me apresentando, quando me chamava para cantar, ia outra vez ao festival de Nashville, diziam que tinha recuperado meu mundo.   Um dia escutei a Dolores cantado para os dois uma canção mexicana, aprendi, cantei.  Meus fans gostaram, agora sempre tinha uma música assim.

A fazenda produzia, dava dinheiro, pois estávamos lá para controlar.

Um dia Madie me surpreendeu, vendeu tudo que tinha em NYC, minha vida é aqui, para que quero isso, entrou de sócia comigo, mas usando as crianças como sendo sua parte.  Assim sempre teriam algo.

As vezes me cobrava o que passava comigo, que nunca tinha ninguém.  Parava para analisar isso mil vezes, antes porque não parava, eram fodas de uma noite, sejam com homens ou mulheres, mas tampouco queria mais.  Agora maduro, ficava difícil.

Me faltava alguma coisa.

Um dia o novo xerife da cidade veio nos avisar, que tinham escapado uns garotos do mesmo lugar da mãe dos meninos, ficou ali conversando, gostei do sujeito.

Depois nos encontramos várias vezes na cidade, uma noite eu cantava na festa da mesma, agora tocava a guitarra eu mesmo, pois as vezes me apresentava sozinho.   O vi na plateia, estava sem o uniforme, não sei por que, a princípio não me toquei, cantei uma música que tinha cantado a muitos anos atrás, olhando em direção dele.

Depois veio me agradecer, era sua música preferida do meu repertório.  Se apresentou como Carter.  Daí surgiu uma amizade, desta a algo mais, em breve realmente tinha uma família.

Um dia um advogado de NYC me chamou para avisar que minha mãe tinha morrido, de uma maneira horrível, a tinham encontrada morta sozinha no apartamento, devia estar a dias assim, ninguém deu por sua falta.  Tinha despedido a última empregada, pois mal tinha dinheiro para pagar o condomínio do Dakota.

Fomos a família inteira, incluindo o mais novo Carter, que foi para me dar apoio, ficamos num hotel simples, paguei todo o enterro, ela era católica, se colocou um anúncio na coluna fúnebre, apareceu muita gente para lhe render homenagem, mas não passou disso.

Fomos ver o apartamento com o advogado, estava basicamente vazio, tinha ido vendendo tudo de valor, para se manter ali, o guarda-roupa, estava basicamente vazio, me lembrava dele, cheio de roupas de marcas.   Localizada a última empregada, na verdade tinha saído, pois não lhe pagava a meses.  Deu a dica para quem vendia as coisas.

Sobrava pouca coisas no apartamento. Na leitura do testamento deixava para mim o mesmo.

Mandei vender, coloquei no banco para o futuro dos meninos para a universidade. Um fideicomisso.   Que esse dinheiro servisse para alguma coisa.

Carter deixou a polícia se transformou num cowboy, íamos muito ao meu lugar preferido, ficávamos ali, conversando.  Quando os meninos ficaram maiores, íamos com eles.

Eram noites incríveis, que ficaram para sempre na lembrança deles.  Sempre que perguntava o que queriam fazer, diziam lago.

Quando chegou a época de irem à universidade, tive uma surpresa, Manuel, resolveu ser veterinário, adorava os animais, principalmente os cavalos.    Dolores queria ser professora, ou seja tudo estável.

Dolores mal os meninos foram para a universidade morreu, foi enterrada ali mesmo, amava aquele lugar.  Madie foi ficando, agora nos sentávamos no escritório, lembrando as vezes de alguma coisa.

Tempos depois recebi uma chamada do Jimmy, queria falar comigo em particular.  Tinha afinal descoberto aonde estava o dinheiro, num banco na Suiça.  O duro seria tirar de lá, ele não tinha deixado ordem para ninguém.  Ele queria entrar na Justiça.  Lhe disse, pode ficar com tudo, a mim não me interessa, não quero nada disso.  Esse dinheiro foi roubado de pessoas que confiaram nele.

Acho que ele pensou bem, avisou o FBI, eles que se virassem, pois o processo contra meu pai, estava como que parado em via morta, voltou outra vez, as pessoas foram indenizadas.

Pelo menos, ficamos tranquilos, nunca dei entrevista a respeito, não me interessava.

Madie, disse que nunca tinha entendido direito isso, ele não precisava ter feito isso, tinha embarcado numa aventura de ganhar dinheiro fácil, sem motivos.

Carter era uma pessoa especial, quando levávamos mais de 15 anos juntos, saiu a lei do matrimonio gay, nos casamos.  Claro fomos comemorar os dois no lago.

Disse para ele como gostava de ficar ali, com as mãos atrás da cabeça, olhando as estrelas.

Tinha deixado de ser solitário, agora tinha um companheiro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No hay comentarios: