OUTLIVE – SOBREVIVER
Com a cabeça
apoiada no respaldo de sua cadeira, pensava no passado, queriam lhe nomear para
um cargo importante, ninguém entendeu por que se negava, normalmente os
jornalistas iam rebuscar a vida inteira do filho da puta que aceitasse. Simplesmente respondeu que estava no momento
de parar sua vida para reflexionar, o que estava fazendo agora, mudar o rumo.
Mudar o rumo, era
o que tinha feito a vida inteira.
Um negro como
ele, acostumado a que lhe chamassem de negrata imundo, outras coisas piores,
mas que tinha sobrevivido, aonde será que estão os outros se perguntava, pois
ao longo de sua vida nunca tinha cruzado com nenhum que disse-se te conheço,
sei do buraco imundo que saíste, ou sei que foste um dos que comandaram tudo.
Na verdade o
comandante tinha sido Abraham, o negro que mais levava chibatadas do diretor do
orfanato, porque não se dobrava.
Nesse orfanato no
meio de um campo no Louisiana, pouco aparecia gente que quisesse adotar alguma
criança, eram 80 por cento garotos negros, que se chegassem à idade de 16 anos
quando deviam sair dali, eram muito poucos.
A maioria morria antes, tinham de tudo, desnutrição, doenças simples
matava os mais fracos, era como um lugar, ou sobrevives ou morres. Ele tinha voltado lá, muitos anos depois,
já não existia nem sobra do lugar, o encontrou, porque sabia aonde estava.
Quando atingiam a
idade de uns 10 anos, ou mesmo se antes já fosse grandes, eram colocados a
disposição do melhor postor, para fazer a colheita do algodão, milho, qualquer
outra coisa, o diretor do orfanato montado em cima de sua caminhonete, ficava
fiscalizando, sempre ia com seu capanga, que levava um fuzil. Não se podia parar, ao meio-dia lhe serviam
um rango, que mataria até uma mosca de ruim que era. Mas
tinham que comer, não havia outra maneira, ou morrer ali mesmo de
insolação. A água que serviam era uma
merda, tinha gosto de podre.
A única coisa que
isso servia, era para chegar, cair numa cama que nem lençol tinha, dormir morto
de cansado.
Um dos últimos
lugares da temporada, era sempre o mais cuidado, pois ao lado passava uma linha
de trem. Alguma vezes algum louco se
atrevia, a se esconder por ali, para tentar fugir num trem de carga, mas sempre
o pegavam na cidade mais próxima aonde o trem parava.
Abraham tinha
falado com um dos rapazes que tinha sido recapturado, tinha levado uma surra de
fazer gosto para servir de exemplo.
Segundo o rapaz o
erro era esse, havia que descer antes, dar a volta na cidade, se esconder,
pegar o trem seguinte. Mais adiante.
Esse sonho de
fugir era de todos.
Ele achava que nesse
ano tinha feito 16 anos, mas quando foi falar com a secretaria do filho da
puta, disse que não, que ele tinha 13 anos.
Sabia que mentia, pois quando tinha feito cinco anos, começou a marcar
na cabeceira da merda da sua cama, cada ano que passava.
O mesmo acontecia
com Abraham, tinha certeza de ter 17 anos, eles mal sabiam ler ou escrever, o
professor tinha sido mandado embora pois discordava dos métodos do diretor.
Ali, um ensinava
ao outro o pouco que sabia, desenhando na terra. O pior
era o inverno, o frio de rachar, de vez em quando um pequeno amanhecia morto,
era enterrado num lugar, que nem uma cruz colocavam.
Esse ano vamos
escapar disse o Abraham. Quando chegaram
na última fazenda, o dono tinha comprado um trator, estava ali, para
aproveitar, arrancar as pedras que dificultavam a plantação. Ele disse para o Abraham, se o trator estava
ali em cima, fazia uma linha reta aonde estava a caminhonete do diretor com
seus dois homens em cima, era uma ribanceira, ele irá em cima deles.
Num determinado
momento, Abraham desapareceu do seu lado, quando disfarçadamente olhou para
trás, o viu justamente lá em cima, dando um soco no proprietário, o trator não
podia estar em melhor sitio, motor ligado, ele só teve que soltar o freio, veio
limpando tudo que estava na sua frente, os meninos começaram a fazer ruído,
gritando, isso, não deixou que os da caminhonete escutassem o trator que passou
por cima deles, o Abraham ainda veio correndo atrás, pegou a primeira
espingarda que voou, jogou uma segunda para mim, corremos até aonde estavam,
matamos um a um.
Foi uma debandada
geral, os meninos não sabiam para que lado correr, nos dois com outros mais
velhos, corremos para a via de trem, fomos seguindo, em breve sentimos a terra
tremer, era o trem que se aproximava, todos corremos até os vagões, o rapaz que
tinha fugido antes, disse, teremos que saltar, assinalou mais ou menos o lugar.
De qualquer
maneira, sabíamos que não dariam falta da gente até o anoitecer, que era a hora
que eles voltavam para o orfanato.
Mas claro tinha o
dono da fazenda.
Fizemos o
combinado, saltamos mal o trem começou a se aproximar da cidade. Mas não podíamos ir em grupo. Eu fui com dois mais, Abraham foi pelo outro
lado. Fui talvez mais esperto, porque
fui marginando a cidade, quando me dei conta de madrugada, tínhamos caminhado
muito, um dos que me seguiam ficou para trás, pois tinha cortado o pé, não
tínhamos como ajudar, ele fez sinal que seguíssemos. Nos escondemos embaixo de uma ponte, de
noite não aconteceu nada, aproveitamos para nos lavar, como fazia muito calor,
lavamos a roupa, as deixamos secando.
Mas de manhã, aquilo parecia uma loucura, mas já estávamos do outro
lado, tínhamos feito uma coisa, o rio ali era baixo, descemos o rio mais um
pouco aonde se podia atravessar andando, tiramos a roupa toda, assim o fizemos,
se escutava ao longe o ruído dos carros, nos embrenhamos numa mata, subimos com
dificuldade uma arvore muito alto, para ficar observando. Passaram muito longe, a barrica roncava de
fome, mas aguentamos, a isso estávamos acostumados.
No segundo dia,
tínhamos visto desde cima que a linha do trem fazia uma curva, fomos por esse
lado. Ficamos esperando escondidos,
Quanto o trem passou subimos.
Esse só foi parar
em San Antonio, para carregar lenha, saímos pelo lado contrário, pois vimos que
uns controladores verificavam os vagões, mas nem chegaram aonde estávamos, pois
era noite, creio que já tinham carregado.
Depois parou outra vez em El Passo, para a mesma coisa, creio que
trocaram de pessoal, era um largo caminho, estávamos desesperado para comer,
Vimos que
descarregavam caixas de um vagão mais adiante, eram poucas pessoas, me
arrisquei, fui correndo peguei uma caixa que estava no chão, voltei correndo.
O trem seguiu, vimos
que o pessoal discutia que faltava uma caixa. Rimos, quando abrimos a caixa,
eram latas de feijão, passamos a noite comendo aquele feijão, mas controlando,
tinham que aguentar. Cada um comeu duas latas, depois tivemos que colocar a
bunda para fora do trem para irmos cagando.
Riamos muito pois fazia frio.
Quando ele parou
em Tucson, fizemos a mesma coisa, mas desta vez examinaram tudo, encontraram a
caixa, falaram muitos palavrões, mas tínhamos feito uma coisa, tínhamos saído
pela outra porta, deixado encostada sem fechar, quando o trem começou a andar
novamente corremos, abrimos a porta estava um homem armado ali, eu me joguei
para trás, mas ele pegou meu companheiro.
Respirando
profundamente pois me doíam as costelas, fui me esconder por ali, encontrei um
barracão que caia os pedaços, fiquei ali escondido.
Como o trem não
parou, fiquei quieto.
De manhã sai
pelas redondezas, numa casa vi roupa num varal, eram quase do meu tamanho, só
não tinha sapatos, roubei uma calça, uma camiseta, fui embora, joguei a roupa
velha, suja numa lixeira. Mais adiante,
tinham um homem dormindo bêbado num beco, vi que seus sapatos davam para mim,
com muito cuidado tirei o primeiro, vi que se despertava, arranquei o segundo,
sai disparado, quase que um carro me pega.
Olhei numa loja,
parecia ter crescido muito, parecia um homem.
Vi que todos os vagabundos iam a uma direção ali perto da estação, davam
comida, um lugar para dormir, tomar banho, riram de mim porque não tinha
cuecas.
Mas pude comer
duas vezes, mas tive que levantar de noite para cagar. Estava ali cagando, vi um cartaz que li com
certa dificuldade, era o famoso carta do Tio Sam, chamando homens para defender
a pátria.
Arranquei o mesmo
guardei no bolso, o dia começava a amanhecer, dava café com pão, peguei o meu,
comi, perguntei aonde era a direção que dizia ali, a mulher riu, disse que duas
ruas mais a frente, mal sai, vi que a polícia vinha fiscalizar os homens que
estavam ali.
Mas eu já estava
mais a frente. Olhei para trás, o nome
que dizia em cima da placa era “Abrigo Dawson”.
Já tinha um nome,
todo mundo me chamava de Carter, acrescentei o Dawson, encaixava perfeitamente,
enquanto esperava que abrisse o lugar, fiquei sentado na numa praça em frente,
como fazíamos no orfanato, fiquei escrevendo o nome na terra, até saber fazer
direito.
Quando abriu, fui
um dos primeiros. Dei meu nome, disse
que tinha saído do orfanato, mas que não tinha papeis, isso não pareceu
importar, me fizeram exames, eu era forte pelos trabalhos pesados, alto, magro,
mas tinha músculos. Passei no exame,
mandaram me raspar a cabeça, logo apareceu um ônibus, vi que todos eram mais ou
menos como eu, gente pobre procurando uma oportunidade.
Fomos para uma
base da marinha, eu que nem sabia nadar, quando vi o mar em San Diego me deu
medo.
Mas no dia
seguinte, foi essa mesma pergunta que fizeram, quem sabia nadar, ninguém dali
sabia, vinham todos do interior. Foi
nossa primeira lição, gostei, os exercícios não me assustavam, gostava era do
rancho, não era uma comida maravilhosa, mas melhor que a do orfanato era. Viram que não tinha medo de nada, fui
trocando de grupos, estava mais alto, como se a desnutrição me tivesse colocado
freios para crescer, por sorte aparentemente estávamos em tempo de paz.
Nas primeiras
saída, aproveitava para conhecer a cidade, meus companheiros, quase todos iam
encher a cara, ir de putas. Eu queria
guardar dinheiro, me informei com o sujeito que nos pagava no final de
semana. Era boa gente, abri uma conta
num banco que tinha uma filial ali mesmo no quartel. Depois comecei a estudar de noite nos cursos
que davam ali mesmo, foi um achado, tinha ânsia por aprender, tudo que tinha me
sido negado. De vez em quando tinha
pesadelo com o trator vindo para cima do pessoal da caminhonete, no momento que
demos os tiros, vi que alguns garotos não tinham corrido, estavam mortos.
Quando começaram
as aulas de tiro, me sai bem, não tinha medo da arma, tinha usado uma. Logo era
campeão, foram me treinando para atirador, me fizeram exames de vista, pois
diziam que eu tinha uma ligeira desvio na retina, passei a usar óculos, minhas
notas nas aulas chamaram a atenção de um sargento que falou com seu comandante,
nunca tinham visto alguém aprender assim. Dois anos depois eu era assistente do
comandante, quando fomos a primeira vez para a frente, era a guerra do Golfo,
agora tinha mais experiencia, tinha ido de putas, sabia como era a coisa, mas
não bebia, nem me metia em confusão, estava sempre com o uniforme impecável. Me
levantava cedo, para fazer minhas necessidades, tomar um banho tranquilo, quando
os outros se levantavam, eu já estava pronto, era um dos primeiros na cantina,
para tomar o café, estava recém feito, era melhor, também os outros pratos
pareciam melhor, depois era um deus nos acudam.
Da guerra não vi
nada, pois estávamos na retaguarda, no quartel general, reparei que eu era um
dos poucos negros ali, mas meu comandante era um mulato claro, creio que por
isso não se incomodava. Nossa conversa
era normalmente, bom dia senhor, sim senhor, até amanhã senhor. Não íamos mais longe nisso.
Fazia o meu
trabalho com atenção, sabia toda terminologia que usavam ali, quando não
entendia, anotava num papel para saber, depois consultava um dicionário. Entrou um dia depois da reunião, me viu
fazendo isso, me perguntou o que estava fazendo. Lhe expliquei quando alguém usava uma palavra
diferente, consultava o dicionário, não queria passar por um idiota. Ele riu, esse que usou essa palavra, foi
porque veio do West Point, se crê mais esperto que os outros, note que ele
sempre usa palavras complicadas, a maioria ri dele por isso.
Fiquei com pena
do sujeito, mas depois descobri que era filho de um deputado, por isso estava
ali, na retaguarda, o que ele falava não se escrevia, como dizia meu
comandante, ele se estivesse no campo de batalha, ia ser o primeiro a levar um
tiro.
Mas chegou o
momento é claro que tive que enfrentar a dura realidade, fui como o comandante
visitar os postos avançados, hospitais de campanha, com os rapazes mutilados,
algumas vezes, mortos, esperando que alguém o tirasse dali.
Era chocante. Quando voltávamos, o comboio foi atacado,
tive a oportunidade, talvez pelos meus reflexo, salvar o comandante que tinha
levado um tiro, o arrastei para fora do carro, o escondi, me preparei para
enfrentar o famoso inimigo.
Creio que
imaginaram que era um comboio de armas, ao não encontrar nada, foram embora,
todos os carros pegavam fogo, o único que não, era um jeep que estava adiante,
como estava numa curva, tinham esquecido dele. O motorista estava morto, o
coloquei atrás, coloquei o comandante ao meu lado, tinha feito um torniquete
como tinha aprendido a fazer em primeiros socorros, peguei estrada, quando
cheguei ao quartel, avisei do que tinha acontecido, como tinha sido rápido, acompanhei
o comandante até a sala de operações, pois tinha entrado com ele nos braços.
Fiquei esperando,
nem vi que sangrava também, quem viu foi uma enfermeira, me arrastou com ela, o
herói sempre tem isso, a adrenalina não o deixa sentir dor.
Rasgaram a minha
roupa, a bala tinha me atravessado, talvez por isso não sentia dor, mas me
levaram para ser operado, a anestesia me fez sentir no céu. Era isso que pensava, vendo as pessoas desde
cima, tinha saído do meu corpo.
Depois fui puxado
outra vez para ele, quando me deram choques para voltar ao corpo. Tinha estado
morto por segundos.
Quando despertei,
estava numa cama ao lado do comandante, queriam me tirar dali, ele não
permitiu, esse rapaz quase morre para me salvar, tem que ter o mesmo tratamento
que eu tenho.
A partir desse
dia, conversávamos. Os dois voltamos
para casa. Ou seja ele para a dele, eu
para o quartel, fui promovido, agora tinha um quarto só para mim. Ficava num barracão com outros que tinham o
mesmo privilegio. Agora podia retirar
livros da biblioteca, enquanto me recuperava, passei a ler jornais, me informar
do que existia no mundo.
Escutava falar de
protestas contra a guerra, que os governos sempre estava em guerra para ganhar
dinheiro, essas coisas, foi quando escutei pela primeira vez falar em “Bucha de
Canhão” que eram os jovens como eu, que não tinham aonde cair morto, eram
treinados para morrer.
Fiquei chocado,
meu comandante quando falei isso com ele, me disse, tiveste sorte, tua ânsia de
estudar, aprender, te ajudou. Me
indicou para cursos de carreira. Não
tinha nada a perder, inclusive ostentava uma medalha no uniforme, bem como meu
grau. Na minha turma erámos só dois
negros, eu é um sabe tudo, que era filho de um deputado negro.
Mas ele não se
enturmava comigo, seu grupo era outro, dos filhos de protegidos, mas não me
importava, não queria que me distraíssem do que queria alcançar.
O comandante me
elogiou pelas notas, me promoveu a seu ajudante formal. Discutia agora os
assuntos comigo, gostava da minha perspectiva.
Voltamos outra
vez ao frente, agora já em Bagdá, era como viver numa cidade, dentro de outra
cidade. Quando saia, era sempre para
acompanha-lo a alguma coisa.
Quando as coisas
ficaram calmas, ele foi designado para Washington, me levou com ele, agora
ganhava suficiente, para ter dinheiro para viver fora da base. Consegui um apartamento pequeno, coisa que
era difícil lá, mas chegava rápido no Pentágono. Diziam que eu era sério demais
para tudo. Me convidavam para noitadas,
mas sempre tinha uma desculpas, quando estava necessitado, ia a algum puteiro
de negras, diziam que eu parecia um bebe na cama, não sabia realmente fazer
sexo.
Aprendi
informática ali mesmo, nos cursos que davam, fui ascendendo, logo fui trabalhar
afastado dele, mas com um coronel, duro de roer, no serviço de
informações. Quando fui designado para
a embaixada de Londres, fiquei assustado, falei com meu antigo comandante, que
riu, não tenha medo, faça o que te pedem, tens futuro.
Passei dois anos
lá, nas minhas folgas ia conhecendo a cidade, mas agora não saia vestido de
militar, tinha observado o pessoal da embaixada, comentavam aonde compravam
roupas, como ganhava mais podia me dar esse luxo. Talvez tivesse um gosto inato, pois me vestia
bem, olhava a loja aonde tinha comprado, depois procurava pelas outras mais
baratas.
Tinha que
economizar para o dia que saísse dali.
Agora servia ao
embaixador, ele conhecia o comandante, que tinha me recomendado, as vezes me
consultava para alguma coisa, mas sabia o que se falava ali, não saia. Tinha por hábito, trocar de roupa, sair pela
saída de empregados, um dia um homem se aproximou, se identificou como
jornalista, queria que eu roubasse informação para ele. Marquei com o sujeito no dia seguinte, mas
avisei ao embaixador, creio que me confundiu com algum funcionário normal, montamos
uma arapuca. O MI5 com os agentes da
embaixada conseguiram pegar o homem.
Em seguida fui
transferido para Paris, uau, foi o máximo.
Tinha visto em filmes pela televisão, mas era mais bonito ali ao
vivo. Passei as primeiras semanas
conhecendo a cidade, um dia um dos homens do serviço secreto me chamaram, havia
uma fuga de informação na embaixada, queria minha ajuda, que eu ficasse de olho
aberto, passei a fazer a mesma coisa, saia pela saída de empregados, ficava
observando, notei que uma das funcionárias, saia sempre muito nervosa, que um
homem a esperava na esquina, entravam num carro, avisei aos do serviço secreto, não deu outra. Logo queria que trabalhasse para eles, mas
não era a minha, falei inclusive com o comandante. Isso vai te desviar do teu caminho.
Ele arrumou um
jeito de voltar para Washington, ele depois de um tempo no Pentágono, estava na
Casa Branca, não gostava muito, mas me levou como seu assessor, sabia que podia
confiar em mim. Meu salário era alto, mas
meus gastos eram mínimos, pois passava todo dia fechado lá dentro, comia
grátis, como eu dizia até o papel higiênico era grátis, o melhor dos que tinha
usado na vida. Um dia estava cagando,
comecei a rir, pois me lembrei da historia do trem depois que tínhamos comido
feijão da lata, tínhamos que nos agarrar a porta, colocar a bunda para fora, a
cena agora na distância parecia divertida.
Quando sai, estava um dos funcionários do gabinete do presidente, fiquei
esperando para saber o que era divertido.
Aqui dentro nada é divertido.
Me lembrei de uma
história da minha infância. Comentei com
ele, o seguinte, que o papel higiênico era de primeira qualidade, que na minha
casa era jornal, isso era um fato do orfanato, que muitos limpavam no mesmo
papel, ficavas procurando um pedaço que não tivesse sujo, até ele riu da
imagem.
Ficamos amigos,
por duas vezes coincidimos na hora de sair.
Ele achava interessante eu sair a paisana. Me convidou para beber alguma coisa, pedi
desculpas, mas eu não bebia, nesse dia devido a um contratempo só tinha tido
tempo comer um sanduiche.
Então vamos comer
alguma coisa. Ficamos conversando, ele
disse que acompanhava o secretário do presidente, mesmo antes das eleições, na
universidade me interessei por política, assim foi como comecei.
Eu lhe disse que
sentia lastima, mas não tinha podido fazer uma universidade, tudo que tinha
aprendido tinha sido no exército.
Inclusive quando vim para cá, aprendi informática, lhe disse que tinha
trabalhado nessa área antes de ir para Londres, depois Paris.
Dias depois o
comandante me chamou, parece que estão invadindo o sistema da Casa Branca,
podes dar uma mão, os ajudei a pegar o hacker.
A merda, era um garoto de uns 15 anos, pensei, este está fudido, lhe
mandei um mensagem em código, corra que a polícia vai chegar.
Quando chegaram
no armazém que usava, já não tinha ninguém lá. Dias depois ao sair, foi abordado pelo
mesmo, ele tinha me visto, bem como eu a ele.
Por que me
avisaste?
Lhe dei uma
bronca monumental, sabe o que ia acontecer contigo, ia te mandar para a prisão,
lá dentro iam abusar desse seu cuzinho branco até não poder mais, depois te
obrigar a trabalhar para eles. Isso
queres para ti.
Ficou parado me
olhando, estás falando sério?
Experimente mais
uma vez, depois me conta como te viras.
Me contou sua
vida, era uma merda, quase lhe contei a minha, pois aproveite essa merda, faça
tijolos como os africanos, vá à luta, mas honestamente, não precisa fazer essas
coisas para te sentir o maior.
Volta e meia nos
víamos. Lhe disse que parasse com isso,
pois podia ser um problema para mim, ele era um menor de idade, eu já tinha
trinta e tantos, pelas minhas contas no exército.
Parou,
desapareceu no mapa.
Voltei a
trabalhar de novo no pentágono.
Agora saia do
trabalho, exausto, era como um serviço de vigilância, continuo. Chegou um momento que estava estressado, pedi
ajuda ao comandante que agora tinha um posto clave, me ajudou mais uma
vez. Fui com ele para a China, um trabalho
complicado, ele era o adido militar da embaixada, eu seu assessor entre aspas, o
trabalho era vigiar se não tínhamos interferências nas comunicações. Mas isso era continuo, eles tinham hackers
invadindo totalmente o sistema. Por mais
que se usasse corta-fogos, era quase impossível, pois era uma coisa continua.
Os funcionários
tinham proibido usar celulares dentro da embaixada, um dia peguei um fazendo
fotos de um mapa. Fechei a porta, chamei
a segurança, tinham oferecido uma fortuna ao sujeito. Fiquei com pena dele, mas se aposentava
dentro em breve, tinha dois divórcios nas costas, pagar as pensões alimentícias
dos filhos tudo isso.
Como não tinha
vazado nada, o mandaram para casa. Era
difícil saber como conseguiam se aproximar, resolvi com o comandante, ser a
isca, combinamos tudo. Logo se aproximou
um sujeito me convidando para jogar.
Entendi que era uma isca, fui, ganhei horrores, muito dinheiro, no outro
dia perdi tudo, me ofereceram muito dinheiro para fazer isso.
Tinha nesse meio
tempo colocado, microfones na sala de jogo, bem como na sala aonde tinham me
levado para fazer a proposta. Eram
micros.
A coisa agora era
como proceder. Mas isso ficava nas mãos
da CIA. Eu fui transferido, me fizeram sair da embaixada algemado, mas no
aeroporto, dentro do avião me soltaram, fui promovido outra vez.
Me queriam em
dois lugares. Um dia fui ao banco, para
olhar minha conta, o gerente ria, o senhor é um cliente importante, pois é
nosso cliente desde que é soldado, gasta um mínimo, aplica o dinheiro me disse
quanto tinha. Fiquei com a boca aberta,
nunca tinha dado atenção a isso, quando estava nas embaixadas, meu salário que
já por si só era bom, dobrava.
Mas vivia
modestamente sempre. Nada de luxos,
roupas caras, carros caros, me movia como o resto das pessoas, ônibus, metro,
coisas assim.
Com isso podia
fazer uma faculdade.
Fui falar com o
meu comandante, lhe contei tudo. Ele
ria, chegou a tua hora, eu estou louco também para deixar tudo. Acabo de me
divorciar, minha mulher se fartou de ficar vivendo cada x tempo em um lugar,
diz que assim as crianças não têm uma educação como deve. Mas sei que é uma desculpa, nosso matrimonio
foi para o brejo a muito tempo.
Apertou minha
mão, ficou segurando mais do normal, obrigado todo esse tempo por estar comigo,
bem como por ter-me salvado a vida, nunca te esquecerei.
Pedi a demissão,
os cursos todos que tinha feito na marinha, serviam como base para entrar na
universidade. Fui estudar direito,
sempre tinha querido fazer isso.
Eu era como o avô
da turma, o mais velho, com mais experiencia, segui levando a mesma vida de
sempre, o bom foi que a Marinha me deu uma bolsa de estudos pelos excelentes
serviços que tinha prestado. Assim
podia estudar confortavelmente.
Quando fui fazer
as práticas, fui trabalhar com um fiscal, daqueles que querem subir na vida
para fazer política, vi muita coisa errada.
Estava numa sinuca de bico, não sabia o que fazer.
Estava almoçando
num restaurante com um advogado que queria me consultar sobre algo, quando vi o
comandante sem uniforme almoçado com um rapaz.
Fui até, ele, apertamos as mãos, o rapaz era seu filho. Disse que tinha que ir para a universidade, já
te vi pelo campos, dizem que eres o avô da tua turma.
Veja lá como fala
garoto, chamou o pai atenção.
Espere um
momento, pedi desculpas ao advogado, mas precisava conversar com esse senhor,
era muito importante.
Ficávamos
conversando um tempo, me disse que tinha aberto um escritório de advocacia, a
pouco tempo, mas que as coisas não iam bem.
Pensei que com meus contatos, seria mais fácil.
Contei o problema
que tinha. A primeira coisa que me
perguntou se tinha provas. Lhe disse que
sim. Peça para sair, porque isso vai
explodir, esse sujeito deve estar sendo observado pelo FBI, venha trabalhar
comigo.
Nem precisou
falar duas vezes, acabei as práticas, disse que não seguia, que iria para uma
trabalho fora. Entreguei os papeis a
ele, foi um deus nos acuda, pois tinham uns quantos políticos no meio, mas
esses como sempre caem em pé. O puto
fiscal foi para a casa do caralho.
Vi o que tinha
errado no seu escritório, ele tinha pensado em atender a seus velhos
conhecidos, esses trabalhavam com grandes escritórios, isso nunca ia dar certo.
Tens razão,
falou, errei meu direcionamento.
Paramos para
analisar, o que podia ser contornado, mas não dava certo. Na verdade era para passar seu tempo, estava
aposentado, inclusive ria dele por estar defasado com as leis.
Mas lhe indicou
para um escritório de San Francisco, aonde tinha muito relacionamento. O melhor foi chegar, me examinaram de cima a
baixo, aquele negro retinto, bem vestido, com cara limpa. Falei com uma secretária, disse meu nome
Carter Dawson, tenho uma entrevista com o chefe. Este saiu, quando me viu, fez a mesma cara,
mas num esforço estendeu a mão, eu comentei o comandante não lhe disse que eu
era negro, é isso.
Sim, 99% dos
nossos clientes são brancos, queres experimentar para saber como funciona, me
ofereceu um salário baixíssimo, eu lhe disse que nem pensar, ganhava pelo menos
três vezes mais no Pentágonos, além dos convites que tinha da CIA, lhe disse o
nome de um agente que vivia me chamando para trabalhar, peça informação a ele,
lhe deu meu número de celular, qualquer coisa entre em contato comigo.
Sai pelas ruas,
ruminando, ou seja ali a aparência era importante ou melhor dizendo ser branco
era importante. Vi um protesto na rua,
fui me aproximando para ver. Me interessei, era uma ONG que protestava por um
abuso cometido pela polícia, me aproximei, escutei o que um deles dizia.
Depois me
aproximei, me fale do que vocês reclamam.
Ele me contou o caso, eu lhe disse que era advogado. Me levou a um edifício antigo, que usavam
como quartel general, na rua foi dizendo, trabalhamos com todos os tipos de
problemas, defendemos, gays, transexuais, qualquer pessoa, branco ou negra que
tenha problemas, sem recursos para pagar.
Mas quem banca
tudo isso?
Ele riu, uma
larga história. Entramos numa sala, mas
o ruído era muito, lhe disse pode fechar a porta para que eu possa ler
tranquilamente todos os documentos.
Me indicou uma
sala do lado. Achei estranho, lhe
disse, confias em mim assim?
Tens cara de
honesto, nunca me engano com as pessoas, só pedi um bloco, lápis.
Fui anotando tudo
que via de errado, nem percebi o tempo passando, só parei quando senti meu
estomago roncando. Da porta alguém riu,
era ele.
O advogado que
conhecemos, não que seja má pessoa, chegou olhou, disse que era uma causa
perdida.
Pois eu acho que
não. Veja, se ampliarmos as fotos,
podemos ver as placas dos policiais, isso teríamos alguém a quem alcançar, aqui
diz que tem um vídeo, aonde está a cópia.
Teriam que ter pedido o mesmo, fui dizendo tudo que estava errado.
Me perguntou se
eu tinha emprego. Lhe contei o que tinha
acontecido, vivi muitos anos atrás aqui, mas conheço pouco a cidade. Estou num hotel, para ficar teria que ter um
lugar para viver, um lugar para trabalhar, necessito silêncio.
Lhe entreguei meu
curriculum, ficou com a boca aberta.
Se não te
incomoda, no meu apartamento tenho um quarto, mas aviso, sou gay, atualmente
vivo sozinho. Quando começaste a falar
comigo, pensei que estavas ligando comigo.
Ri, meu amigo,
tua vida é tua, como a minha é minha, não me interessa me meter na vida de
ninguém. Preciso sim trabalhar.
Saímos para
comer, justo nesse momento, tocou o telefone, era o diretor da firma de
advocacia,
Quando escutou
seu nome meu companheiro de mesa, Jonatan Schiver, escutou a proposta que me
faziam, pediu o telefone, olá papai, vejo que continuas igual, pois esse homem,
em segundo destrinchou um processo que vocês preferiram ficar com o outro
lado. Vamos a pôr todas, eu o contratei.
Fiquei rindo. É
teu pai?
Sim, um idiota
emproado, mas não pode comigo, me expulsou de casa, meu avô me deixou uma
herança, me ensinou a administrar a mesma, eu gasto o que ganho nessa ONG,
posso pagar o que queres. Mas aviso,
temos batalhas impressionantes.
Aceitei, conseguimos
um vídeo que estava trucado, anotei de aonde era o vídeo, eles tinham um
hacker, conseguimos o original, se via que o homem, um negro jovem, estava
sentado no meio fio. Tremia, estava mal
fisicamente, chegou a polícia, os dois simplesmente lhe desceram porrada. Anotou o nome e a matricula de cada um.
Preciso de alguém
que investigue esses dois, pois tem cara que sempre são violentos.
Fui viver no seu
apartamento, era imenso, meu quarto ficava basicamente isolado do seu, com uma
vista maravilhosa da Bahia.
Um mês depois,
fomos a julgamento, quem defendia os policiais era seu pai. Na primeira vista, olhei os dois que estavam
ali. Protestei imediatamente, senhor
Juiz, esses dois não são os policiais do vídeo, veja, as caras não
correspondem, nem as placas. O Juiz
ficou furioso, a polícia mais uma vez tenta enganar este velho juiz. Virou-se para o advogado, disse, te dou uma
hora para se apresentar esses dois aqui, senão dou ganho de caso o lado
contrário.
De fato, uma hora
depois os dois estavam ali. Apresentei
a prova do vídeo, comentando que o que nos tinham fornecido estava manipulado,
que tínhamos conseguido o original. O
advogado tentou impugnar, mas já tinha o juiz contra ele.
Depois fui
apresentando todos os antecedentes dos dois policiais, documentados com vídeos,
fotos, reportagens.
O juízo que seria
a portas fechadas, com o que tinham feito, o juiz deixou entrar jornalistas,
televisão, toda uma maquinaria.
Os dois policiais
foram condenados, perderam suas placas, tudo, o juiz me chamou até seu
gabinete, me perguntou quem eu era, lhe apresentei meu curriculum.
Preciso de uma
pessoa como tu, para trabalhares comigo.
Podes seguir com a ONG, mas assim até posso julgar esses processos
sabendo do que estou falando.
Na saída encontrei pai e filho conversando. O
pai ameaçava o filho de cortar o dinheiro que recebia de sua herança, se não
parece de besteiras.
A mim me
perguntou se queria um cargo de advogado Sênior.
Sinto muito acabo
de ter outra oferta de emprego, vou trabalhar com o Juiz.
A cara do homem
foi um esgar horroroso, sabes aonde está te metendo, esse juiz é horroroso.
Por isso mesmo
aceitei.
Agradeci ao meu
amigo, lhe contei depois que assim agora seria mais fácil, pois estaria dentro
da máquina.
No seguinte caso,
eu já estava numa sala ao lado do juiz, com direito a uma secretária, bem como
um detective, para pesquisar o que eu achasse conveniente.
Era como uma
suprema corte do estado. Os julgamentos
normalmente não tinha jurado.
Analisei o caso
seguinte, apontei todos os erros, ele gostou, que eu não registrasse no computador,
era da velha escola, escrevia mão suas decisões.
Era justamente
sobre um Hacker, tinha entrado no sistema, justamente porque tinha sido
maltratado pela polícia. Conversei com o
rapaz, disfarçadamente me passou um pen drive, aqui encontrarás tudo que
descobrir, por isso querem me tirar de circulação.
Os detetives que
o tinha interrogado, tinha usado violência, mas não deixaram que fosse
analisado por um forense. Ele sem que
os dois soubesse, tinha gravado todo o interrogatório.
Analisou
tudo. Quando chamou os detetives para
conversar, se colocaram na defensiva, esperavam encontrar um sujeito branco,
quando me viram ali, um negro pomposo, um deles murmurou entre os dentes
negrata, não sabia que estavam sendo gravados em vídeo.
Se negaram a
falar comigo. Quando saíram, soltaram desde a porta vamos te fuder negrata, bem
como esse garoto, verá que a surra que lhe demos, não foi nada como será a
próxima.
No julgamento,
estava de novo o pai do meu amigo, bem como todo o alto mando do departamento
de polícia, convidado pelo juiz.
Meu assistente,
atuara como advogado de defensa do rapaz, já que o advogado de oficio, foi
espantando pela polícia. Ali estavam os dois policiais sentados
calmamente ao lado do advogado.
Apresentei a primeira prova, que era tudo que tinham feito no
interrogatório.
O hacker depois
tinha entrado no sistema da delegacia, recuperou em vídeo tudo.
O advogado deles
objetou.
O juiz muito
calmo, soltou, aqui não estamos num julgamento com júri, sim num de apelação, essas
objeções não têm sentido, realmente estamos usando material de um hacker, mas
isso não impede sua validez, pois se tivesse pedido na delegacia essa gravação,
chegaria adulterada até aqui. O
seguinte foi mostrar o registro do local do Hacker, ele tinha sido gravados
destruindo tudo, segundo o hacker, era porque os tinha gravado recebendo
suborno. Pensaram que as provas estavam
aí. O pen drive que me tinha passado era
isso.
Depois mostrei
pois não sabiam que eu gravava, toda a má vontade da delegacia em ajudar, o alto
mando da polícia se mexia desconformemente nas cadeiras.
Por último,
mostrei o que tinham feito na minha sala.
O advogado não podia fazer nada, eles mesmo tinham se condenado.
O juiz, chamou o
mesmo, com o chefe do alto mando policial, para sua sala junto comigo.
Ou vocês melhoram
essas delegacias, ou serão obrigados a ficarem pagando altas somas de dinheiro
a todas as pessoas maltratadas, nesse caso, o rapaz pede 20 milhões de dólares,
por danos morais, isso porque eu conversei com ele, para ele desistir do resto.
O advogado disse
que era um absurdo.
Bom o senhor
quando conversou com seus clientes, sabia de alguma coisa destas?
Menor ideia.
Vê, se eu fosse o
senhor, entregaria seu diploma imediatamente, mais, penso demandar seu
escritório, por negligência. Quando será que o senhor vai entender, que esse
departamento de justiça, agora mudou, aqui não tem ninguém que frequente a
sociedade, que conviva com seus amigos. Mais,
posso mostrar o vídeo para o departamento da Policia, em que o senhor foi tão
relapso que disse a esses homens que não tinha problema nenhum. Mas os tratou como clientes mafiosos que
estas acostumado a defender na justiça comum.
Achando que o dinheiro pode com tudo.
Se fosse o departamento de polícia, retiraria os seguintes casos do seu
escritório, para que quando venham aqui, não percam tempo. Que vejam realmente que na justiça tem um
lugar decente.
Por isso, condeno
que seu escritório pague a metade desse dinheiro, a central de polícia outro
tanto. Mas virou-se para o chefe do
departamento, creio que chegou a hora de moralizar tudo isso.
Jonatan,
telefonou depois para ele, cuidado, meu pai está uma fera contigo, andou
fuçando tua vida em Washington, tuas amizades, tudo isso, mas parece que o que
lhe irrita, que não tem nada, pois todos falam bem de ti.
O seguinte caso,
era de um policial gay, que tinha movido uma ação contra o departamento de
polícia, por tinham invadido sua intimidade, bem como a delegacia que
trabalhavam, o chefe tinha lhe mandado dar um corretivo.
Ele muito
esperto, disse o nome de todos, ao serem chamados por mim, cada um já sabia o
que acontecia ali, ou a verdade, ou iam buscar a fundo a mesma.
Dois que tinha
participado do corretivo, não estavam mais nessa delegacia.
Abriram o jogo,
tinham pedido transferência, pois imagina, esse delegacia, ficava em pleno
Castro, o Chefe era um homófono ferrenho.
Chegou perseguindo todos que o desafiavam.
Nesse momento o
chefe do departamento de Policia querendo escapar de uma caça as bruxas
renunciou, pois tinha sido ele que tinha dado essa ordem de moralizar a
delegacia de qualquer maneira.
Tudo acabou com
um escândalo monstruoso, que o governador, ordenou que essa delegacia fosse a
primeira delegacia, em que os policiais gays podia trabalhar livremente.
Mais uma vitória
para o Juiz, bem como o Carter.
Assim foram até o
final do mandato do Juiz, agora o queriam colocar no lugar do mesmo, disse que
nem pensar, tinha trabalhado dez anos juntos para isso dar resultado, os
candidatos eram poucos, ninguém queria esse cargo, a partir que era para um
trabalho especifico, um juiz de recursos, que analisava profundamente as
causas.
Seu contrato
também tinha chegado ao final, a quantidade de gente que o queria ver pelas
costas era imenso, ao mesmo tempo uma grande porcentagem de pessoas que
acompanhavam sua carreira, lhe pedia para aceitar.
Mas ele sabia que
ia buscar, sabia pelo seu amigo comandante, que tinham tentado descobrir tudo
em sua ficha de ingresso na Marinha, mas isso era confidencial. Como ele, muita gente entrava para o
exército, sem saber sua real procedência. Isso significaria, criar todo um regulamento
que não existia.
Se alguém chegava
sem documentos, dizendo seu nome, idade, sendo considerado apto, era aceito sem
restrições. Não tinham por aonde pegar.
Foi quando um
granjeiro comprou as terras aonde tinha sido anteriormente o orfanato, arando
encontrou o cemitério. Foi um escândalo
sem precedentes. Pior, não existiam
registro do mesmo, não podiam dizer nada.
O governo da região, tinha sempre omitido todos os dados desses
orfanatos, bem como não faziam registros de nenhuma criança de proposito, a
maioria era negros, os outros filhos de emigrantes que não vinham o caso.
Ficou se
debatendo sobre se devia botar a boca no mundo, contando tudo que passava ali,
ou calar-se.
Foi falar com o
velho Juiz, que nesse momento, estava na corte suprema em Washington, falaram
fora de qualquer circuito, contou sua história, a do orfanato.
Ninguém sabe que
saíste de lá. Vou pedir que o caso seja
meu, que tu sejas o fiscal do mesmo, assim podes desentranhar tudo. Esses governos sulista, sempre se acharam
acima do bem e do mal.
No dia que ele
foi designado como fiscal especial do caso, os jornais falaram do assunto, mas ele
se achava nesse momento em férias em lugar desconhecido.
Tinha desmontado
sua imagem de Dândi, como era chamado, pela maneira como se vestia, para se
transformar num simples negro, que vai a um estado conflitivo. Andou por toda essa zona, ninguém o
conhecia. Foi ver as terras, ali estava
abandonado o cemitério, bem como o homem que tinha encontrado o mesmo estava na
justiça, contra o governo que tinha vendido essas terras para ele.
Em seguida,
chegou uma equipe enorme de forenses, comandadas por ele, foram analisando todo
o terreno, andou com eles, pelos restos da construção, aguentou firme, embora
pelas noites dormia mal. Num
subterrâneo, encontraram finalmente os arquivos, enterrados, graça a um sistema
moderno. A terra seca, tinha mantido
todos esses arquivos a salvo.
O tremendo eram as
anotações nas fichas das crianças mortas.
Algumas diziam assim “menos um”.
Nas analises dos
esqueletos, demonstravam desnutrição a um grado impressionante. Quando os
arquivos estiveram todos organizados.
Encontraram os mandantes das ordens.
Conseguiram abrir os arquivos do Governos daquela época. Foi um escândalo impressionante.
Mas nunca
apareceram os que tinha escapado dali.
Os que ficaram pela região, se descobriu que tinham sido caçados a tiro,
só encontraram dois garotos que foram escondidos por pessoas de bem.
Esses declararam
tudo que tinham visto. Relataram o que
tinham sofrido nesses lugares, o desencadeante de tudo, o Abraham, a história
do trabalho que eram obrigados a fazer. Foram interrogados todos os granjeiros
que usavam essa mão de obra. Jogavam a
culpa nos dirigentes do município que os obrigavam a contratar essa mão de
obra, alguns ainda eram vivos, era como uma cascata, um ia jogando a culpa no
outro.
Os dois rapazes,
foram colocados sobre proteção policial.
Quando dois anos depois tudo terminou, estava exausto. O mais interessante, foi descobrir, fichas
com o nome de Carter, pelo menos existiam uns dez ali. Todos eram negros, de sua mesma idade.
Todos que
acobertavam isso, foram julgados, alguns ainda eram políticos, hoje senadores,
deputados. Foi um escândalo nacional.
Quando o supremo
fechou o caso, em que todos esses perderam seus cargos, sendo obrigados a
permanecer confinados em um presidio de máxima segurança, aonde tinha uma vida
parecida com os meninos.
Ele, saiu para
uma largas férias, saiu do pais, se refugiou num lugar em que não destoasse,
foi para o Senegal, mas no momento que enfrentou a realidade Africana, sentiu,
vim para o lugar errado.
Voltou para San
Francisco, procurou usar um perfil baixo, vivendo modestamente, nenhum de seus
vizinhos tinha noção de quem ele era.
Mais uma vez o
chamaram para algum caso específico.
Mas se recusava sair de seu retiro.
O seu próprio
caso tinha sido demais para ele. Eles
tinham escapado, mas os outros, tirando esses dois, a maioria na verdade tinha
sido caçados como animais, para desaparecerem do mapa.
Escreveu um
livro, que foi considerado como ficção, contando a história imaginaria dos que
teriam escapado. Analisou a roteiro
que teria seguido Abraham com os seus, fez pesquisas nessa região, nada
constava em registro. Até que deu com
uma zona pesqueira. Alguns tinham
chegado ali, arrumaram emprego, família.
O que tinha
escapado com ele, se ferido no pé, não constava nada na região, o outro
companheiro que tinha sido preso no trem, esse sim tinha ido parar num
reformatório, aonde saiu com 18 anos, sua ficha policial era imensa, cumpria
prisão perpetua, por assalto e assassinato de dois policiais.
Aparentemente ele
era o único que tinha escapado de tudo isso, se lembrou da cena de estar
cagando, olhando a imagem do Tio Sam, o chamando a armas. Nunca poderia se esquecer disso, aquilo o
tinha salvado.
O livro fez um
sucesso incrível, dizia que estava baseado nas pesquisas que tinha feito para a
Corte Suprema, mas era sua história registrada.
Já com idade
avançada, foi procurado por um casal, que se diziam filhos de Abraham, esse
tinha escapado num barco, ido para o México, quando aonde construiu uma família,
que hoje em dia era imensa. Nosso pai
morreu com a idade de 70 anos, decorrente de toda má nutrição de sua infância e
juventude. Mas falava dos que tinham
conseguido escapar.
Ele na verdade
não sabia o nome de nenhum, dizia que como era o mais velho, os chamava de meus
meninos.
Tampouco sabia
nada dos que tinham escapado com ele, contava para os seus como tinha
idealizado a fuga, a partir do que tinha contado para ele, como o tinham pegado,
falava sempre no trator, dos que tinha matado, infelizmente muitos morreram
ali, aonde o trator despencou.
Nunca deixou de
ser semi analfabeto, o orgulho que tinha quando seu primeiro filho se formou,
numa escola secundária, depois um neto que foi a universidade.
Quase disse a
eles, sou o que estava ao seu lado nisso tudo.
Mas pensou para que. Já fiz minha parte, levantando todo esse horror.
Foi quando
descobriu que tinha falhas mentais.
Quando fez o exames todos, lhe disseram que tinha principio de
Alzheimer, entendeu que em breve sua memoria se borraria, que apagaria todo seu
sofrimento todos esses anos. Quando
morreu, aparentemente jovem, ele nunca soube sua idade verdadeira. Foi homenageado na Suprema Corte americana.
Sua amigo o velho
Juiz, que também se retirava aos quase 85 anos, ainda pensou como ele, acabou
borrando definitivamente tudo o que tinha sofrido da sua memória.
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