lunes, 17 de enero de 2022

OUTLIVE - SOBREVIVER

 

                            OUTLIVE – SOBREVIVER

 

Com a cabeça apoiada no respaldo de sua cadeira, pensava no passado, queriam lhe nomear para um cargo importante, ninguém entendeu por que se negava, normalmente os jornalistas iam rebuscar a vida inteira do filho da puta que aceitasse.   Simplesmente respondeu que estava no momento de parar sua vida para reflexionar, o que estava fazendo agora, mudar o rumo.

Mudar o rumo, era o que tinha feito a vida inteira.

Um negro como ele, acostumado a que lhe chamassem de negrata imundo, outras coisas piores, mas que tinha sobrevivido, aonde será que estão os outros se perguntava, pois ao longo de sua vida nunca tinha cruzado com nenhum que disse-se te conheço, sei do buraco imundo que saíste, ou sei que foste um dos que comandaram tudo.

Na verdade o comandante tinha sido Abraham, o negro que mais levava chibatadas do diretor do orfanato, porque não se dobrava.

Nesse orfanato no meio de um campo no Louisiana, pouco aparecia gente que quisesse adotar alguma criança, eram 80 por cento garotos negros, que se chegassem à idade de 16 anos quando deviam sair dali, eram muito poucos.   A maioria morria antes, tinham de tudo, desnutrição, doenças simples matava os mais fracos, era como um lugar, ou sobrevives ou morres.    Ele tinha voltado lá, muitos anos depois, já não existia nem sobra do lugar, o encontrou, porque sabia aonde estava.

Quando atingiam a idade de uns 10 anos, ou mesmo se antes já fosse grandes, eram colocados a disposição do melhor postor, para fazer a colheita do algodão, milho, qualquer outra coisa, o diretor do orfanato montado em cima de sua caminhonete, ficava fiscalizando, sempre ia com seu capanga, que levava um fuzil.   Não se podia parar, ao meio-dia lhe serviam um rango, que mataria até uma mosca de ruim que era.   Mas tinham que comer, não havia outra maneira, ou morrer ali mesmo de insolação.  A água que serviam era uma merda, tinha gosto de podre.

A única coisa que isso servia, era para chegar, cair numa cama que nem lençol tinha, dormir morto de cansado.

Um dos últimos lugares da temporada, era sempre o mais cuidado, pois ao lado passava uma linha de trem.  Alguma vezes algum louco se atrevia, a se esconder por ali, para tentar fugir num trem de carga, mas sempre o pegavam na cidade mais próxima aonde o trem parava.

Abraham tinha falado com um dos rapazes que tinha sido recapturado, tinha levado uma surra de fazer gosto para servir de exemplo.

Segundo o rapaz o erro era esse, havia que descer antes, dar a volta na cidade, se esconder, pegar o trem seguinte. Mais adiante.

Esse sonho de fugir era de todos.

Ele achava que nesse ano tinha feito 16 anos, mas quando foi falar com a secretaria do filho da puta, disse que não, que ele tinha 13 anos.  Sabia que mentia, pois quando tinha feito cinco anos, começou a marcar na cabeceira da merda da sua cama, cada ano que passava.

O mesmo acontecia com Abraham, tinha certeza de ter 17 anos, eles mal sabiam ler ou escrever, o professor tinha sido mandado embora pois discordava dos métodos do diretor.

Ali, um ensinava ao outro o pouco que sabia, desenhando na terra.   O pior era o inverno, o frio de rachar, de vez em quando um pequeno amanhecia morto, era enterrado num lugar, que nem uma cruz colocavam.

Esse ano vamos escapar disse o Abraham.  Quando chegaram na última fazenda, o dono tinha comprado um trator, estava ali, para aproveitar, arrancar as pedras que dificultavam a plantação.   Ele disse para o Abraham, se o trator estava ali em cima, fazia uma linha reta aonde estava a caminhonete do diretor com seus dois homens em cima, era uma ribanceira, ele irá em cima deles.

Num determinado momento, Abraham desapareceu do seu lado, quando disfarçadamente olhou para trás, o viu justamente lá em cima, dando um soco no proprietário, o trator não podia estar em melhor sitio, motor ligado, ele só teve que soltar o freio, veio limpando tudo que estava na sua frente, os meninos começaram a fazer ruído, gritando, isso, não deixou que os da caminhonete escutassem o trator que passou por cima deles, o Abraham ainda veio correndo atrás, pegou a primeira espingarda que voou, jogou uma segunda para mim, corremos até aonde estavam, matamos um a um.

Foi uma debandada geral, os meninos não sabiam para que lado correr, nos dois com outros mais velhos, corremos para a via de trem, fomos seguindo, em breve sentimos a terra tremer, era o trem que se aproximava, todos corremos até os vagões, o rapaz que tinha fugido antes, disse, teremos que saltar, assinalou mais ou menos o lugar.

De qualquer maneira, sabíamos que não dariam falta da gente até o anoitecer, que era a hora que eles voltavam para o orfanato.

Mas claro tinha o dono da fazenda.

Fizemos o combinado, saltamos mal o trem começou a se aproximar da cidade.  Mas não podíamos ir em grupo.  Eu fui com dois mais, Abraham foi pelo outro lado.  Fui talvez mais esperto, porque fui marginando a cidade, quando me dei conta de madrugada, tínhamos caminhado muito, um dos que me seguiam ficou para trás, pois tinha cortado o pé, não tínhamos como ajudar, ele fez sinal que seguíssemos.    Nos escondemos embaixo de uma ponte, de noite não aconteceu nada, aproveitamos para nos lavar, como fazia muito calor, lavamos a roupa, as deixamos secando.   Mas de manhã, aquilo parecia uma loucura, mas já estávamos do outro lado, tínhamos feito uma coisa, o rio ali era baixo, descemos o rio mais um pouco aonde se podia atravessar andando, tiramos a roupa toda, assim o fizemos, se escutava ao longe o ruído dos carros, nos embrenhamos numa mata, subimos com dificuldade uma arvore muito alto, para ficar observando.   Passaram muito longe, a barrica roncava de fome, mas aguentamos, a isso estávamos acostumados.

No segundo dia, tínhamos visto desde cima que a linha do trem fazia uma curva, fomos por esse lado.   Ficamos esperando escondidos, Quanto o trem passou subimos.

Esse só foi parar em San Antonio, para carregar lenha, saímos pelo lado contrário, pois vimos que uns controladores verificavam os vagões, mas nem chegaram aonde estávamos, pois era noite, creio que já tinham carregado.   Depois parou outra vez em El Passo, para a mesma coisa, creio que trocaram de pessoal, era um largo caminho, estávamos desesperado para comer,

Vimos que descarregavam caixas de um vagão mais adiante, eram poucas pessoas, me arrisquei, fui correndo peguei uma caixa que estava no chão, voltei correndo.

O trem seguiu, vimos que o pessoal discutia que faltava uma caixa. Rimos, quando abrimos a caixa, eram latas de feijão, passamos a noite comendo aquele feijão, mas controlando, tinham que aguentar. Cada um comeu duas latas, depois tivemos que colocar a bunda para fora do trem para irmos cagando.  Riamos muito pois fazia frio.

Quando ele parou em Tucson, fizemos a mesma coisa, mas desta vez examinaram tudo, encontraram a caixa, falaram muitos palavrões, mas tínhamos feito uma coisa, tínhamos saído pela outra porta, deixado encostada sem fechar, quando o trem começou a andar novamente corremos, abrimos a porta estava um homem armado ali, eu me joguei para trás, mas ele pegou meu companheiro.

Respirando profundamente pois me doíam as costelas, fui me esconder por ali, encontrei um barracão que caia os pedaços, fiquei ali escondido.

Como o trem não parou, fiquei quieto.

De manhã sai pelas redondezas, numa casa vi roupa num varal, eram quase do meu tamanho, só não tinha sapatos, roubei uma calça, uma camiseta, fui embora, joguei a roupa velha, suja numa lixeira.   Mais adiante, tinham um homem dormindo bêbado num beco, vi que seus sapatos davam para mim, com muito cuidado tirei o primeiro, vi que se despertava, arranquei o segundo, sai disparado, quase que um carro me pega.

Olhei numa loja, parecia ter crescido muito, parecia um homem.  Vi que todos os vagabundos iam a uma direção ali perto da estação, davam comida, um lugar para dormir, tomar banho, riram de mim porque não tinha cuecas.

Mas pude comer duas vezes, mas tive que levantar de noite para cagar.  Estava ali cagando, vi um cartaz que li com certa dificuldade, era o famoso carta do Tio Sam, chamando homens para defender a pátria.

Arranquei o mesmo guardei no bolso, o dia começava a amanhecer, dava café com pão, peguei o meu, comi, perguntei aonde era a direção que dizia ali, a mulher riu, disse que duas ruas mais a frente, mal sai, vi que a polícia vinha fiscalizar os homens que estavam ali.

Mas eu já estava mais a frente.  Olhei para trás, o nome que dizia em cima da placa era “Abrigo Dawson”.  

Já tinha um nome, todo mundo me chamava de Carter, acrescentei o Dawson, encaixava perfeitamente, enquanto esperava que abrisse o lugar, fiquei sentado na numa praça em frente, como fazíamos no orfanato, fiquei escrevendo o nome na terra, até saber fazer direito.

Quando abriu, fui um dos primeiros.  Dei meu nome, disse que tinha saído do orfanato, mas que não tinha papeis, isso não pareceu importar, me fizeram exames, eu era forte pelos trabalhos pesados, alto, magro, mas tinha músculos.  Passei no exame, mandaram me raspar a cabeça, logo apareceu um ônibus, vi que todos eram mais ou menos como eu, gente pobre procurando uma oportunidade.

Fomos para uma base da marinha, eu que nem sabia nadar, quando vi o mar em San Diego me deu medo.

Mas no dia seguinte, foi essa mesma pergunta que fizeram, quem sabia nadar, ninguém dali sabia, vinham todos do interior.  Foi nossa primeira lição, gostei, os exercícios não me assustavam, gostava era do rancho, não era uma comida maravilhosa, mas melhor que a do orfanato era.   Viram que não tinha medo de nada, fui trocando de grupos, estava mais alto, como se a desnutrição me tivesse colocado freios para crescer, por sorte aparentemente estávamos em tempo de paz.

Nas primeiras saída, aproveitava para conhecer a cidade, meus companheiros, quase todos iam encher a cara, ir de putas.  Eu queria guardar dinheiro, me informei com o sujeito que nos pagava no final de semana.    Era boa gente, abri uma conta num banco que tinha uma filial ali mesmo no quartel.   Depois comecei a estudar de noite nos cursos que davam ali mesmo, foi um achado, tinha ânsia por aprender, tudo que tinha me sido negado.  De vez em quando tinha pesadelo com o trator vindo para cima do pessoal da caminhonete, no momento que demos os tiros, vi que alguns garotos não tinham corrido, estavam mortos.

Quando começaram as aulas de tiro, me sai bem, não tinha medo da arma, tinha usado uma. Logo era campeão, foram me treinando para atirador, me fizeram exames de vista, pois diziam que eu tinha uma ligeira desvio na retina, passei a usar óculos, minhas notas nas aulas chamaram a atenção de um sargento que falou com seu comandante, nunca tinham visto alguém aprender assim.   Dois anos depois eu era assistente do comandante, quando fomos a primeira vez para a frente, era a guerra do Golfo, agora tinha mais experiencia, tinha ido de putas, sabia como era a coisa, mas não bebia, nem me metia em confusão, estava sempre com o uniforme impecável. Me levantava cedo, para fazer minhas necessidades, tomar um banho tranquilo, quando os outros se levantavam, eu já estava pronto, era um dos primeiros na cantina, para tomar o café, estava recém feito, era melhor, também os outros pratos pareciam melhor, depois era um deus nos acudam.

Da guerra não vi nada, pois estávamos na retaguarda, no quartel general, reparei que eu era um dos poucos negros ali, mas meu comandante era um mulato claro, creio que por isso não se incomodava.  Nossa conversa era normalmente, bom dia senhor, sim senhor, até amanhã senhor.  Não íamos mais longe nisso.

Fazia o meu trabalho com atenção, sabia toda terminologia que usavam ali, quando não entendia, anotava num papel para saber, depois consultava um dicionário.  Entrou um dia depois da reunião, me viu fazendo isso, me perguntou o que estava fazendo.  Lhe expliquei quando alguém usava uma palavra diferente, consultava o dicionário, não queria passar por um idiota.   Ele riu, esse que usou essa palavra, foi porque veio do West Point, se crê mais esperto que os outros, note que ele sempre usa palavras complicadas, a maioria ri dele por isso.

Fiquei com pena do sujeito, mas depois descobri que era filho de um deputado, por isso estava ali, na retaguarda, o que ele falava não se escrevia, como dizia meu comandante, ele se estivesse no campo de batalha, ia ser o primeiro a levar um tiro.

Mas chegou o momento é claro que tive que enfrentar a dura realidade, fui como o comandante visitar os postos avançados, hospitais de campanha, com os rapazes mutilados, algumas vezes, mortos, esperando que alguém o tirasse dali.

Era chocante.  Quando voltávamos, o comboio foi atacado, tive a oportunidade, talvez pelos meus reflexo, salvar o comandante que tinha levado um tiro, o arrastei para fora do carro, o escondi, me preparei para enfrentar o famoso inimigo.

Creio que imaginaram que era um comboio de armas, ao não encontrar nada, foram embora, todos os carros pegavam fogo, o único que não, era um jeep que estava adiante, como estava numa curva, tinham esquecido dele. O motorista estava morto, o coloquei atrás, coloquei o comandante ao meu lado, tinha feito um torniquete como tinha aprendido a fazer em primeiros socorros, peguei estrada, quando cheguei ao quartel, avisei do que tinha acontecido, como tinha sido rápido, acompanhei o comandante até a sala de operações, pois tinha entrado com ele nos braços.

Fiquei esperando, nem vi que sangrava também, quem viu foi uma enfermeira, me arrastou com ela, o herói sempre tem isso, a adrenalina não o deixa sentir dor.

Rasgaram a minha roupa, a bala tinha me atravessado, talvez por isso não sentia dor, mas me levaram para ser operado, a anestesia me fez sentir no céu.  Era isso que pensava, vendo as pessoas desde cima, tinha saído do meu corpo.

Depois fui puxado outra vez para ele, quando me deram choques para voltar ao corpo. Tinha estado morto por segundos.

Quando despertei, estava numa cama ao lado do comandante, queriam me tirar dali, ele não permitiu, esse rapaz quase morre para me salvar, tem que ter o mesmo tratamento que eu tenho.

A partir desse dia, conversávamos.   Os dois voltamos para casa.  Ou seja ele para a dele, eu para o quartel, fui promovido, agora tinha um quarto só para mim.  Ficava num barracão com outros que tinham o mesmo privilegio.  Agora podia retirar livros da biblioteca, enquanto me recuperava, passei a ler jornais, me informar do que existia no mundo.

Escutava falar de protestas contra a guerra, que os governos sempre estava em guerra para ganhar dinheiro, essas coisas, foi quando escutei pela primeira vez falar em “Bucha de Canhão” que eram os jovens como eu, que não tinham aonde cair morto, eram treinados para morrer.

Fiquei chocado, meu comandante quando falei isso com ele, me disse, tiveste sorte, tua ânsia de estudar, aprender, te ajudou.   Me indicou para cursos de carreira.  Não tinha nada a perder, inclusive ostentava uma medalha no uniforme, bem como meu grau.  Na minha turma erámos só dois negros, eu é um sabe tudo, que era filho de um deputado negro.

Mas ele não se enturmava comigo, seu grupo era outro, dos filhos de protegidos, mas não me importava, não queria que me distraíssem do que queria alcançar.

O comandante me elogiou pelas notas, me promoveu a seu ajudante formal. Discutia agora os assuntos comigo, gostava da minha perspectiva.

Voltamos outra vez ao frente, agora já em Bagdá, era como viver numa cidade, dentro de outra cidade.  Quando saia, era sempre para acompanha-lo a alguma coisa.

Quando as coisas ficaram calmas, ele foi designado para Washington, me levou com ele, agora ganhava suficiente, para ter dinheiro para viver fora da base.  Consegui um apartamento pequeno, coisa que era difícil lá, mas chegava rápido no Pentágono. Diziam que eu era sério demais para tudo.  Me convidavam para noitadas, mas sempre tinha uma desculpas, quando estava necessitado, ia a algum puteiro de negras, diziam que eu parecia um bebe na cama, não sabia realmente fazer sexo.

Aprendi informática ali mesmo, nos cursos que davam, fui ascendendo, logo fui trabalhar afastado dele, mas com um coronel, duro de roer, no serviço de informações.   Quando fui designado para a embaixada de Londres, fiquei assustado, falei com meu antigo comandante, que riu, não tenha medo, faça o que te pedem, tens futuro.

Passei dois anos lá, nas minhas folgas ia conhecendo a cidade, mas agora não saia vestido de militar, tinha observado o pessoal da embaixada, comentavam aonde compravam roupas, como ganhava mais podia me dar esse luxo.   Talvez tivesse um gosto inato, pois me vestia bem, olhava a loja aonde tinha comprado, depois procurava pelas outras mais baratas.

Tinha que economizar para o dia que saísse dali.

Agora servia ao embaixador, ele conhecia o comandante, que tinha me recomendado, as vezes me consultava para alguma coisa, mas sabia o que se falava ali, não saia.  Tinha por hábito, trocar de roupa, sair pela saída de empregados, um dia um homem se aproximou, se identificou como jornalista, queria que eu roubasse informação para ele.  Marquei com o sujeito no dia seguinte, mas avisei ao embaixador, creio que me confundiu com algum funcionário normal, montamos uma arapuca.  O MI5 com os agentes da embaixada conseguiram pegar o homem.

Em seguida fui transferido para Paris, uau, foi o máximo.   Tinha visto em filmes pela televisão, mas era mais bonito ali ao vivo.  Passei as primeiras semanas conhecendo a cidade, um dia um dos homens do serviço secreto me chamaram, havia uma fuga de informação na embaixada, queria minha ajuda, que eu ficasse de olho aberto, passei a fazer a mesma coisa, saia pela saída de empregados, ficava observando, notei que uma das funcionárias, saia sempre muito nervosa, que um homem a esperava na esquina, entravam num carro, avisei aos do serviço  secreto, não deu outra.   Logo queria que trabalhasse para eles, mas não era a minha, falei inclusive com o comandante.   Isso vai te desviar do teu caminho.

Ele arrumou um jeito de voltar para Washington, ele depois de um tempo no Pentágono, estava na Casa Branca, não gostava muito, mas me levou como seu assessor, sabia que podia confiar em mim.  Meu salário era alto, mas meus gastos eram mínimos, pois passava todo dia fechado lá dentro, comia grátis, como eu dizia até o papel higiênico era grátis, o melhor dos que tinha usado na vida.   Um dia estava cagando, comecei a rir, pois me lembrei da historia do trem depois que tínhamos comido feijão da lata, tínhamos que nos agarrar a porta, colocar a bunda para fora, a cena agora na distância parecia divertida.  Quando sai, estava um dos funcionários do gabinete do presidente, fiquei esperando para saber o que era divertido.  Aqui dentro nada é divertido.

Me lembrei de uma história da minha infância.  Comentei com ele, o seguinte, que o papel higiênico era de primeira qualidade, que na minha casa era jornal, isso era um fato do orfanato, que muitos limpavam no mesmo papel, ficavas procurando um pedaço que não tivesse sujo, até ele riu da imagem.

Ficamos amigos, por duas vezes coincidimos na hora de sair.  Ele achava interessante eu sair a paisana.  Me convidou para beber alguma coisa, pedi desculpas, mas eu não bebia, nesse dia devido a um contratempo só tinha tido tempo comer um sanduiche.

Então vamos comer alguma coisa.  Ficamos conversando, ele disse que acompanhava o secretário do presidente, mesmo antes das eleições, na universidade me interessei por política, assim foi como comecei.

Eu lhe disse que sentia lastima, mas não tinha podido fazer uma universidade, tudo que tinha aprendido tinha sido no exército.  Inclusive quando vim para cá, aprendi informática, lhe disse que tinha trabalhado nessa área antes de ir para Londres, depois Paris.

Dias depois o comandante me chamou, parece que estão invadindo o sistema da Casa Branca, podes dar uma mão, os ajudei a pegar o hacker.  A merda, era um garoto de uns 15 anos, pensei, este está fudido, lhe mandei um mensagem em código, corra que a polícia vai chegar.

Quando chegaram no armazém que usava, já não tinha ninguém lá.    Dias depois ao sair, foi abordado pelo mesmo, ele tinha me visto, bem como eu a ele.

Por que me avisaste?

Lhe dei uma bronca monumental, sabe o que ia acontecer contigo, ia te mandar para a prisão, lá dentro iam abusar desse seu cuzinho branco até não poder mais, depois te obrigar a trabalhar para eles.   Isso queres para ti.

Ficou parado me olhando, estás falando sério?

Experimente mais uma vez, depois me conta como te viras.

Me contou sua vida, era uma merda, quase lhe contei a minha, pois aproveite essa merda, faça tijolos como os africanos, vá à luta, mas honestamente, não precisa fazer essas coisas para te sentir o maior.

Volta e meia nos víamos.  Lhe disse que parasse com isso, pois podia ser um problema para mim, ele era um menor de idade, eu já tinha trinta e tantos, pelas minhas contas no exército.

Parou, desapareceu no mapa.

Voltei a trabalhar de novo no pentágono.

Agora saia do trabalho, exausto, era como um serviço de vigilância, continuo.  Chegou um momento que estava estressado, pedi ajuda ao comandante que agora tinha um posto clave, me ajudou mais uma vez.   Fui com ele para a China, um trabalho complicado, ele era o adido militar da embaixada, eu seu assessor entre aspas, o trabalho era vigiar se não tínhamos interferências nas comunicações.   Mas isso era continuo, eles tinham hackers invadindo totalmente o sistema.  Por mais que se usasse corta-fogos, era quase impossível, pois era uma coisa continua.

Os funcionários tinham proibido usar celulares dentro da embaixada, um dia peguei um fazendo fotos de um mapa.  Fechei a porta, chamei a segurança, tinham oferecido uma fortuna ao sujeito.   Fiquei com pena dele, mas se aposentava dentro em breve, tinha dois divórcios nas costas, pagar as pensões alimentícias dos filhos tudo isso.

Como não tinha vazado nada, o mandaram para casa.  Era difícil saber como conseguiam se aproximar, resolvi com o comandante, ser a isca, combinamos tudo.  Logo se aproximou um sujeito me convidando para jogar.  Entendi que era uma isca, fui, ganhei horrores, muito dinheiro, no outro dia perdi tudo, me ofereceram muito dinheiro para fazer isso.

Tinha nesse meio tempo colocado, microfones na sala de jogo, bem como na sala aonde tinham me levado para fazer a proposta.   Eram micros.

A coisa agora era como proceder.  Mas isso ficava nas mãos da CIA. Eu fui transferido, me fizeram sair da embaixada algemado, mas no aeroporto, dentro do avião me soltaram, fui promovido outra vez.

Me queriam em dois lugares.  Um dia fui ao banco, para olhar minha conta, o gerente ria, o senhor é um cliente importante, pois é nosso cliente desde que é soldado, gasta um mínimo, aplica o dinheiro me disse quanto tinha.  Fiquei com a boca aberta, nunca tinha dado atenção a isso, quando estava nas embaixadas, meu salário que já por si só era bom, dobrava.

Mas vivia modestamente sempre.  Nada de luxos, roupas caras, carros caros, me movia como o resto das pessoas, ônibus, metro, coisas assim.

Com isso podia fazer uma faculdade.

Fui falar com o meu comandante, lhe contei tudo.   Ele ria, chegou a tua hora, eu estou louco também para deixar tudo. Acabo de me divorciar, minha mulher se fartou de ficar vivendo cada x tempo em um lugar, diz que assim as crianças não têm uma educação como deve.  Mas sei que é uma desculpa, nosso matrimonio foi para o brejo a muito tempo.

Apertou minha mão, ficou segurando mais do normal, obrigado todo esse tempo por estar comigo, bem como por ter-me salvado a vida, nunca te esquecerei.

Pedi a demissão, os cursos todos que tinha feito na marinha, serviam como base para entrar na universidade.   Fui estudar direito, sempre tinha querido fazer isso.

Eu era como o avô da turma, o mais velho, com mais experiencia, segui levando a mesma vida de sempre, o bom foi que a Marinha me deu uma bolsa de estudos pelos excelentes serviços que tinha prestado.   Assim podia estudar confortavelmente.

Quando fui fazer as práticas, fui trabalhar com um fiscal, daqueles que querem subir na vida para fazer política, vi muita coisa errada.   Estava numa sinuca de bico, não sabia o que fazer.

Estava almoçando num restaurante com um advogado que queria me consultar sobre algo, quando vi o comandante sem uniforme almoçado com um rapaz.  Fui até, ele, apertamos as mãos, o rapaz era seu filho.  Disse que tinha que ir para a universidade, já te vi pelo campos, dizem que eres o avô da tua turma.

Veja lá como fala garoto, chamou o pai atenção.

Espere um momento, pedi desculpas ao advogado, mas precisava conversar com esse senhor, era muito importante.

Ficávamos conversando um tempo, me disse que tinha aberto um escritório de advocacia, a pouco tempo, mas que as coisas não iam bem.  Pensei que com meus contatos, seria mais fácil.

Contei o problema que tinha.  A primeira coisa que me perguntou se tinha provas.  Lhe disse que sim.    Peça para sair, porque isso vai explodir, esse sujeito deve estar sendo observado pelo FBI, venha trabalhar comigo.

Nem precisou falar duas vezes, acabei as práticas, disse que não seguia, que iria para uma trabalho fora.   Entreguei os papeis a ele, foi um deus nos acuda, pois tinham uns quantos políticos no meio, mas esses como sempre caem em pé.   O puto fiscal foi para a casa do caralho.

Vi o que tinha errado no seu escritório, ele tinha pensado em atender a seus velhos conhecidos, esses trabalhavam com grandes escritórios, isso nunca ia dar certo.

Tens razão, falou, errei meu direcionamento.

Paramos para analisar, o que podia ser contornado, mas não dava certo.  Na verdade era para passar seu tempo, estava aposentado, inclusive ria dele por estar defasado com as leis.

Mas lhe indicou para um escritório de San Francisco, aonde tinha muito relacionamento.  O melhor foi chegar, me examinaram de cima a baixo, aquele negro retinto, bem vestido, com cara limpa.  Falei com uma secretária, disse meu nome Carter Dawson, tenho uma entrevista com o chefe.   Este saiu, quando me viu, fez a mesma cara, mas num esforço estendeu a mão, eu comentei o comandante não lhe disse que eu era negro, é isso.

Sim, 99% dos nossos clientes são brancos, queres experimentar para saber como funciona, me ofereceu um salário baixíssimo, eu lhe disse que nem pensar, ganhava pelo menos três vezes mais no Pentágonos, além dos convites que tinha da CIA, lhe disse o nome de um agente que vivia me chamando para trabalhar, peça informação a ele, lhe deu meu número de celular, qualquer coisa entre em contato comigo.

Sai pelas ruas, ruminando, ou seja ali a aparência era importante ou melhor dizendo ser branco era importante.  Vi um protesto na rua, fui me aproximando para ver. Me interessei, era uma ONG que protestava por um abuso cometido pela polícia, me aproximei, escutei o que um deles dizia.

Depois me aproximei, me fale do que vocês reclamam.  Ele me contou o caso, eu lhe disse que era advogado.    Me levou a um edifício antigo, que usavam como quartel general, na rua foi dizendo, trabalhamos com todos os tipos de problemas, defendemos, gays, transexuais, qualquer pessoa, branco ou negra que tenha problemas, sem recursos para pagar.

Mas quem banca tudo isso?

Ele riu, uma larga história.  Entramos numa sala, mas o ruído era muito, lhe disse pode fechar a porta para que eu possa ler tranquilamente todos os documentos.

Me indicou uma sala do lado.   Achei estranho, lhe disse, confias em mim assim?

Tens cara de honesto, nunca me engano com as pessoas, só pedi um bloco, lápis.

Fui anotando tudo que via de errado, nem percebi o tempo passando, só parei quando senti meu estomago roncando.  Da porta alguém riu, era ele.

O advogado que conhecemos, não que seja má pessoa, chegou olhou, disse que era uma causa perdida.

Pois eu acho que não.  Veja, se ampliarmos as fotos, podemos ver as placas dos policiais, isso teríamos alguém a quem alcançar, aqui diz que tem um vídeo, aonde está a cópia.  Teriam que ter pedido o mesmo, fui dizendo tudo que estava errado.

Me perguntou se eu tinha emprego.  Lhe contei o que tinha acontecido, vivi muitos anos atrás aqui, mas conheço pouco a cidade.  Estou num hotel, para ficar teria que ter um lugar para viver, um lugar para trabalhar, necessito silêncio.

Lhe entreguei meu curriculum, ficou com a boca aberta.

Se não te incomoda, no meu apartamento tenho um quarto, mas aviso, sou gay, atualmente vivo sozinho.   Quando começaste a falar comigo, pensei que estavas ligando comigo.

Ri, meu amigo, tua vida é tua, como a minha é minha, não me interessa me meter na vida de ninguém.  Preciso sim trabalhar.

Saímos para comer, justo nesse momento, tocou o telefone, era o diretor da firma de advocacia,

Quando escutou seu nome meu companheiro de mesa, Jonatan Schiver, escutou a proposta que me faziam, pediu o telefone, olá papai, vejo que continuas igual, pois esse homem, em segundo destrinchou um processo que vocês preferiram ficar com o outro lado.  Vamos a pôr todas, eu o contratei.

Fiquei rindo. É teu pai?

Sim, um idiota emproado, mas não pode comigo, me expulsou de casa, meu avô me deixou uma herança, me ensinou a administrar a mesma, eu gasto o que ganho nessa ONG, posso pagar o que queres.  Mas aviso, temos batalhas impressionantes.

Aceitei, conseguimos um vídeo que estava trucado, anotei de aonde era o vídeo, eles tinham um hacker, conseguimos o original, se via que o homem, um negro jovem, estava sentado no meio fio.   Tremia, estava mal fisicamente, chegou a polícia, os dois simplesmente lhe desceram porrada.  Anotou o nome e a matricula de cada um.

Preciso de alguém que investigue esses dois, pois tem cara que sempre são violentos.

Fui viver no seu apartamento, era imenso, meu quarto ficava basicamente isolado do seu, com uma vista maravilhosa da Bahia.   

Um mês depois, fomos a julgamento, quem defendia os policiais era seu pai.  Na primeira vista, olhei os dois que estavam ali.  Protestei imediatamente, senhor Juiz, esses dois não são os policiais do vídeo, veja, as caras não correspondem, nem as placas.  O Juiz ficou furioso, a polícia mais uma vez tenta enganar este velho juiz.  Virou-se para o advogado, disse, te dou uma hora para se apresentar esses dois aqui, senão dou ganho de caso o lado contrário.

De fato, uma hora depois os dois estavam ali.   Apresentei a prova do vídeo, comentando que o que nos tinham fornecido estava manipulado, que tínhamos conseguido o original.  O advogado tentou impugnar, mas já tinha o juiz contra ele.

Depois fui apresentando todos os antecedentes dos dois policiais, documentados com vídeos, fotos, reportagens.

O juízo que seria a portas fechadas, com o que tinham feito, o juiz deixou entrar jornalistas, televisão, toda uma maquinaria.

Os dois policiais foram condenados, perderam suas placas, tudo, o juiz me chamou até seu gabinete, me perguntou quem eu era, lhe apresentei meu curriculum.

Preciso de uma pessoa como tu, para trabalhares comigo.  Podes seguir com a ONG, mas assim até posso julgar esses processos sabendo do que estou falando.

 Na saída encontrei pai e filho conversando. O pai ameaçava o filho de cortar o dinheiro que recebia de sua herança, se não parece de besteiras.

A mim me perguntou se queria um cargo de advogado Sênior.

Sinto muito acabo de ter outra oferta de emprego, vou trabalhar com o Juiz.

A cara do homem foi um esgar horroroso, sabes aonde está te metendo, esse juiz é horroroso.

Por isso mesmo aceitei.

Agradeci ao meu amigo, lhe contei depois que assim agora seria mais fácil, pois estaria dentro da máquina.

No seguinte caso, eu já estava numa sala ao lado do juiz, com direito a uma secretária, bem como um detective, para pesquisar o que eu achasse conveniente.

Era como uma suprema corte do estado.  Os julgamentos normalmente não tinha jurado.

Analisei o caso seguinte, apontei todos os erros, ele gostou, que eu não registrasse no computador, era da velha escola, escrevia mão suas decisões.

Era justamente sobre um Hacker, tinha entrado no sistema, justamente porque tinha sido maltratado pela polícia.  Conversei com o rapaz, disfarçadamente me passou um pen drive, aqui encontrarás tudo que descobrir, por isso querem me tirar de circulação.

Os detetives que o tinha interrogado, tinha usado violência, mas não deixaram que fosse analisado por um forense.   Ele sem que os dois soubesse, tinha gravado todo o interrogatório.

Analisou tudo.  Quando chamou os detetives para conversar, se colocaram na defensiva, esperavam encontrar um sujeito branco, quando me viram ali, um negro pomposo, um deles murmurou entre os dentes negrata, não sabia que estavam sendo gravados em vídeo.

Se negaram a falar comigo. Quando saíram, soltaram desde a porta vamos te fuder negrata, bem como esse garoto, verá que a surra que lhe demos, não foi nada como será a próxima.

No julgamento, estava de novo o pai do meu amigo, bem como todo o alto mando do departamento de polícia, convidado pelo juiz.

Meu assistente, atuara como advogado de defensa do rapaz, já que o advogado de oficio, foi espantando pela polícia.    Ali estavam os dois policiais sentados calmamente ao lado do advogado.  Apresentei a primeira prova, que era tudo que tinham feito no interrogatório.

O hacker depois tinha entrado no sistema da delegacia, recuperou em vídeo tudo.

O advogado deles objetou.

O juiz muito calmo, soltou, aqui não estamos num julgamento com júri, sim num de apelação, essas objeções não têm sentido, realmente estamos usando material de um hacker, mas isso não impede sua validez, pois se tivesse pedido na delegacia essa gravação, chegaria adulterada até aqui.   O seguinte foi mostrar o registro do local do Hacker, ele tinha sido gravados destruindo tudo, segundo o hacker, era porque os tinha gravado recebendo suborno.   Pensaram que as provas estavam aí.  O pen drive que me tinha passado era isso.

Depois mostrei pois não sabiam que eu gravava, toda a má vontade da delegacia em ajudar, o alto mando da polícia se mexia desconformemente nas cadeiras.

Por último, mostrei o que tinham feito na minha sala.  O advogado não podia fazer nada, eles mesmo tinham se condenado.

O juiz, chamou o mesmo, com o chefe do alto mando policial, para sua sala junto comigo.

Ou vocês melhoram essas delegacias, ou serão obrigados a ficarem pagando altas somas de dinheiro a todas as pessoas maltratadas, nesse caso, o rapaz pede 20 milhões de dólares, por danos morais, isso porque eu conversei com ele, para ele desistir do resto.

O advogado disse que era um absurdo.

Bom o senhor quando conversou com seus clientes, sabia de alguma coisa destas?

Menor ideia.

Vê, se eu fosse o senhor, entregaria seu diploma imediatamente, mais, penso demandar seu escritório, por negligência. Quando será que o senhor vai entender, que esse departamento de justiça, agora mudou, aqui não tem ninguém que frequente a sociedade, que conviva com seus amigos.  Mais, posso mostrar o vídeo para o departamento da Policia, em que o senhor foi tão relapso que disse a esses homens que não tinha problema nenhum.    Mas os tratou como clientes mafiosos que estas acostumado a defender na justiça comum.   Achando que o dinheiro pode com tudo.   Se fosse o departamento de polícia, retiraria os seguintes casos do seu escritório, para que quando venham aqui, não percam tempo.    Que vejam realmente que na justiça tem um lugar decente.

Por isso, condeno que seu escritório pague a metade desse dinheiro, a central de polícia outro tanto.   Mas virou-se para o chefe do departamento, creio que chegou a hora de moralizar tudo isso.

Jonatan, telefonou depois para ele, cuidado, meu pai está uma fera contigo, andou fuçando tua vida em Washington, tuas amizades, tudo isso, mas parece que o que lhe irrita, que não tem nada, pois todos falam bem de ti.

O seguinte caso, era de um policial gay, que tinha movido uma ação contra o departamento de polícia, por tinham invadido sua intimidade, bem como a delegacia que trabalhavam, o chefe tinha lhe mandado dar um corretivo.

Ele muito esperto, disse o nome de todos, ao serem chamados por mim, cada um já sabia o que acontecia ali, ou a verdade, ou iam buscar a fundo a mesma.

Dois que tinha participado do corretivo, não estavam mais nessa delegacia.

Abriram o jogo, tinham pedido transferência, pois imagina, esse delegacia, ficava em pleno Castro, o Chefe era um homófono ferrenho.   Chegou perseguindo todos que o desafiavam.

Nesse momento o chefe do departamento de Policia querendo escapar de uma caça as bruxas renunciou, pois tinha sido ele que tinha dado essa ordem de moralizar a delegacia de qualquer maneira.

Tudo acabou com um escândalo monstruoso, que o governador, ordenou que essa delegacia fosse a primeira delegacia, em que os policiais gays podia trabalhar livremente.

Mais uma vitória para o Juiz, bem como o Carter.

Assim foram até o final do mandato do Juiz, agora o queriam colocar no lugar do mesmo, disse que nem pensar, tinha trabalhado dez anos juntos para isso dar resultado, os candidatos eram poucos, ninguém queria esse cargo, a partir que era para um trabalho especifico, um juiz de recursos, que analisava profundamente as causas.

Seu contrato também tinha chegado ao final, a quantidade de gente que o queria ver pelas costas era imenso, ao mesmo tempo uma grande porcentagem de pessoas que acompanhavam sua carreira, lhe pedia para aceitar.

Mas ele sabia que ia buscar, sabia pelo seu amigo comandante, que tinham tentado descobrir tudo em sua ficha de ingresso na Marinha, mas isso era confidencial.   Como ele, muita gente entrava para o exército, sem saber sua real procedência.    Isso significaria, criar todo um regulamento que não existia.

Se alguém chegava sem documentos, dizendo seu nome, idade, sendo considerado apto, era aceito sem restrições.   Não tinham por aonde pegar.

Foi quando um granjeiro comprou as terras aonde tinha sido anteriormente o orfanato, arando encontrou o cemitério.   Foi um escândalo sem precedentes.  Pior, não existiam registro do mesmo, não podiam dizer nada.   O governo da região, tinha sempre omitido todos os dados desses orfanatos, bem como não faziam registros de nenhuma criança de proposito, a maioria era negros, os outros filhos de emigrantes que não vinham o caso.

Ficou se debatendo sobre se devia botar a boca no mundo, contando tudo que passava ali, ou calar-se.

Foi falar com o velho Juiz, que nesse momento, estava na corte suprema em Washington, falaram fora de qualquer circuito, contou sua história, a do orfanato.

Ninguém sabe que saíste de lá.  Vou pedir que o caso seja meu, que tu sejas o fiscal do mesmo, assim podes desentranhar tudo.  Esses governos sulista, sempre se acharam acima do bem e do mal.

No dia que ele foi designado como fiscal especial do caso, os jornais falaram do assunto, mas ele se achava nesse momento em férias em lugar desconhecido.

Tinha desmontado sua imagem de Dândi, como era chamado, pela maneira como se vestia, para se transformar num simples negro, que vai a um estado conflitivo.  Andou por toda essa zona, ninguém o conhecia.  Foi ver as terras, ali estava abandonado o cemitério, bem como o homem que tinha encontrado o mesmo estava na justiça, contra o governo que tinha vendido essas terras para ele.

Em seguida, chegou uma equipe enorme de forenses, comandadas por ele, foram analisando todo o terreno, andou com eles, pelos restos da construção, aguentou firme, embora pelas noites dormia mal.  Num subterrâneo, encontraram finalmente os arquivos, enterrados, graça a um sistema moderno.   A terra seca, tinha mantido todos esses arquivos a salvo.

O tremendo eram as anotações nas fichas das crianças mortas.  Algumas diziam assim “menos um”.

Nas analises dos esqueletos, demonstravam desnutrição a um grado impressionante. Quando os arquivos estiveram todos organizados.  Encontraram os mandantes das ordens.  Conseguiram abrir os arquivos do Governos daquela época.  Foi um escândalo impressionante.

Mas nunca apareceram os que tinha escapado dali.  Os que ficaram pela região, se descobriu que tinham sido caçados a tiro, só encontraram dois garotos que foram escondidos por pessoas de bem.

Esses declararam tudo que tinham visto.  Relataram o que tinham sofrido nesses lugares, o desencadeante de tudo, o Abraham, a história do trabalho que eram obrigados a fazer. Foram interrogados todos os granjeiros que usavam essa mão de obra.   Jogavam a culpa nos dirigentes do município que os obrigavam a contratar essa mão de obra, alguns ainda eram vivos, era como uma cascata, um ia jogando a culpa no outro.

Os dois rapazes, foram colocados sobre proteção policial.  Quando dois anos depois tudo terminou, estava exausto.  O mais interessante, foi descobrir, fichas com o nome de Carter, pelo menos existiam uns dez ali.   Todos eram negros, de sua mesma idade.

Todos que acobertavam isso, foram julgados, alguns ainda eram políticos, hoje senadores, deputados.  Foi um escândalo nacional.

Quando o supremo fechou o caso, em que todos esses perderam seus cargos, sendo obrigados a permanecer confinados em um presidio de máxima segurança, aonde tinha uma vida parecida com os meninos.

Ele, saiu para uma largas férias, saiu do pais, se refugiou num lugar em que não destoasse, foi para o Senegal, mas no momento que enfrentou a realidade Africana, sentiu, vim para o lugar errado.

Voltou para San Francisco, procurou usar um perfil baixo, vivendo modestamente, nenhum de seus vizinhos tinha noção de quem ele era.

Mais uma vez o chamaram para algum caso específico.   Mas se recusava sair de seu retiro.

O seu próprio caso tinha sido demais para ele.   Eles tinham escapado, mas os outros, tirando esses dois, a maioria na verdade tinha sido caçados como animais, para desaparecerem do mapa.

Escreveu um livro, que foi considerado como ficção, contando a história imaginaria dos que teriam escapado.    Analisou a roteiro que teria seguido Abraham com os seus, fez pesquisas nessa região, nada constava em registro.  Até que deu com uma zona pesqueira.  Alguns tinham chegado ali, arrumaram emprego, família.

O que tinha escapado com ele, se ferido no pé, não constava nada na região, o outro companheiro que tinha sido preso no trem, esse sim tinha ido parar num reformatório, aonde saiu com 18 anos, sua ficha policial era imensa, cumpria prisão perpetua, por assalto e assassinato de dois policiais.

Aparentemente ele era o único que tinha escapado de tudo isso, se lembrou da cena de estar cagando, olhando a imagem do Tio Sam, o chamando a armas.   Nunca poderia se esquecer disso, aquilo o tinha salvado.

O livro fez um sucesso incrível, dizia que estava baseado nas pesquisas que tinha feito para a Corte Suprema, mas era sua história registrada.

Já com idade avançada, foi procurado por um casal, que se diziam filhos de Abraham, esse tinha escapado num barco, ido para o México, quando aonde construiu uma família, que hoje em dia era imensa.   Nosso pai morreu com a idade de 70 anos, decorrente de toda má nutrição de sua infância e juventude.  Mas falava dos que tinham conseguido escapar.

Ele na verdade não sabia o nome de nenhum, dizia que como era o mais velho, os chamava de meus meninos.

Tampouco sabia nada dos que tinham escapado com ele, contava para os seus como tinha idealizado a fuga, a partir do que tinha contado para ele, como o tinham pegado, falava sempre no trator, dos que tinha matado, infelizmente muitos morreram ali, aonde o trator despencou.

Nunca deixou de ser semi analfabeto, o orgulho que tinha quando seu primeiro filho se formou, numa escola secundária, depois um neto que foi a universidade.

Quase disse a eles, sou o que estava ao seu lado nisso tudo.   Mas pensou para que. Já fiz minha parte, levantando todo esse horror.

Foi quando descobriu que tinha falhas mentais.  Quando fez o exames todos, lhe disseram que tinha principio de Alzheimer, entendeu que em breve sua memoria se borraria, que apagaria todo seu sofrimento todos esses anos.  Quando morreu, aparentemente jovem, ele nunca soube sua idade verdadeira.  Foi homenageado na Suprema Corte americana.

Sua amigo o velho Juiz, que também se retirava aos quase 85 anos, ainda pensou como ele, acabou borrando definitivamente tudo o que tinha sofrido da sua memória.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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