lunes, 31 de agosto de 2020

ZERO A ESQUERDA

 

                                                     ZERO  A  ESQUERDA

 

Omar, estava aturdido, nas vésperas do seu casamento sua mãe, morreu de um enfarte, depois de receber uma chamada de telefone dos Estados Unidos, ninguém sabia o que era a chamada.

De uma certa maneira ele estava contente, assim se adiava o casamento, seu pai, dizia que não tinha cabeça no momento para isso.

Ele precisava de uns documentos, para agilizar os papeis.

Eles viviam perto de Safed, numa colônia ultra ortodoxa, reunida em volta de um rabino, que ele achava que estava louco.  Desde que tinha consciência, usava aquelas roupas negras, que no verão eram um inferno.  Aqueles rabichos laterais, eram para ele como uma praga.  Esse casamento, em que só tinha visto a noiva duas vezes assim mesmo sentada entre mulheres, a tinha achado horrorosa.  Quando falou isso para sua mãe, levou uma bofetada na cara.

Sua mãe Shira, com seu pai Ariel, tinham emigrado para Israel, ele era um bebê.  Não se lembrava de nada disso.

Era rara a sensação que tinha, se ver livre de sua mãe, afinal era ela que comandava a casa, se fazia passar por uma esposa dócil, uma mãe carinhosa, mas na verdade era tudo ao contrário.

A tempo atrás tinha lido um livro, que encontrou abandonado num banco de jardim, falava sobre isso a hipocrisia.   Ele concordou com o livro inteiro, o tinha escondido em seu quarto, atrás de um armário velho.

Alias ele sempre tinha sido do contra, mas isso em silencio, tudo que era proibido lhe encantava, nunca tinha tentado arrastar ninguém para suas aventuras, pois sabia que falariam do assunto.   Era coisas que não estava disposto a compartir com ninguém.

Achou uma caixa dentro do armário dela, seu pai estava na rua preparando o enterro, falando com o rabino para oficializar a cerimônia.

Nunca tinha visto a caixa, abrira o armário, porque seu pai na confusão o deixou aberto.

Viu uma série de papeis, documentos de seus pais, com outros nomes, mas bem americanos que de judeus,  encontrou uma certidão de nascimento de Yosef Ben Cohen, com todos os datos que se referiam a ele.   Mas os nome dos pais, não correspondiam com ninguém.

Depois recortes de jornais, contando como dois avós tinham fugido com seu neto, procurado pelo seu genro.  Depois cartas de chantagens, ameaçando contar tudo para as autoridades.

Parou como sempre fazia analisou tudo.  Sempre os tinha achado velhos demais para serem seus pais.  Sua mãe quando alguém comentava, dizia que era um milagre da natureza, de acreditar em Deus.

Agora certas coisas na sua cabeça faziam sentido,  por debaixo disso, encontrou envelopes com dinheiro, tanto séquel, dólares, quantidades, correu ao seu quarto, encheu uma mochila com eles, tempos atrás para suas escapadas, tinha roubado numa casa, em que as roupas estavam no varal, umas duas camisetas, calças jeans, um tênis.

Foi ao banheiro, sem contemplação nenhuma, cortou os rabichos,  tirou toda sua roupa, alisou seu piru, vais ser livre bandido disse para o mesmo, adorava se masturbar, o que era um grave delito.   Bem como gostava de ficar olhando a bunda dos homens, mas sempre o fazia discretamente, adorava ver os garotos com calças apertadas, ficava imaginando tira-las, passar a mão naquelas bundas, começou a rir baixinho.  Tens que ser rápido, chamou a atenção dele mesmo.

Passou uma água pelo seus cabelos crespos, passou o pente. Nunca mais ia usar gomas para segurar. Atirou o Kipa pela janela, foda-se coisa fedorenta.

Saiu de mansinho pela porta traseira que dava a uma pequena varanda, fez como fazia sempre que escapava, como um gato, atravessou o muro até a casa vizinha, desceu por um tubo.  Correu rua acima, seu pai passou por ele do outro lado da rua, de cabeça baixa.

Entrou no primeiro ónibus que viu para a estação de ônibus, foi tudo uma correria louca, entrou em outro em direção a Tel Aviv, iria a embaixada americana com todos esses documentos.

 Só relaxou quando estava chegando a Tel Aviv, sabia que talvez não conseguisse entrar pois não tinha hora marcada.

Chegou no embaixada, viu que um homem olhava o relógio, este o confundiu com alguém, venha temos que aproveitar nossa hora.

Só depois entendeu que o mesmo era um advogado.   Entrou, com ele, até a sala de alguém importante.  Quando o homem começou a falar no seu caso, pediu licença.   O senhor me confundiu com seu cliente, mas estou mesmo precisando de um advogado, retirou da mochila, todos os recortes, os documentos, as cartas de chantagem.

Hoje a pessoa que pensava que era minha mãe morreu, com o sentimento de me livrar de algo, fui procurar meus documentos, era uma casa que tudo estava sempre fechado a chave, as perguntas nunca foram respondidas, quando alguém perguntava como tinha conseguido ter filhos tão velhos, contavam que era um milagre de Deus, creio que o rabino sabe, os acobertando.  Nunca me senti filho deles, odeio ser ultra ortodoxo, queriam me obrigar a casar, eu só tenho 16 anos nada mais.

Gostaria que pudessem verificar isso. 

O homem o olhava, te vejo muito maduro, me conta que mais fizeste, ele riu, meu símbolo de liberdade, tirou um vidro pequeno da bolsa, a mecha de cabelo que tinha cortado do seu lado direito.

E essa roupa?

Posso ser honesto?

Claro que sim.

Eu desde que soube que tinha que me casar, passei a escapar de noite, quando estavam em alguma reunião, roubei uma calças jeans, duas camisetas, um tênis,  que ficaram me servindo para minhas escapadas. 

O homem da embaixada ria, pelo que vejo gostas de aventura?

O senhor já se sentiu ameaçado?

Pois eu fui a vida inteira, tudo era motivo para castigo, se não lia a tora, castigo, se não decorava castigo, tudo era motivo para me pegarem.   Quando disse que a noiva era muito feia, levei uma bofetada, cada vez que me negava a isso, uma dele, outra dela.

Fora as vezes que me pegavam com cinturão, sem a menor cerimônia, tirou a camiseta, bem como abaixou as calças,  se viam muitas marcas por ali.

Havia um furo numa das partes da bunda, aqui a fivela se enterrou.  Mas o castigo seguia, porque não havia curativos, para todos efeitos, estava com febre em casa.   Nesses dias me davam água, um troço de pão velho.  O senhor acha que os pais fazem isso.

O homem, que depois ficou sabendo que se chamava Robert Daltrige, o advogado que olhava sua maneira de falar, com a boca aberta, Sr. Wailler.

O senhor Robert, chamou um homem que disse que era do serviço secreto americano, lhe passou a informação, veja se consegue descobrir alguma coisa desses recortes, é urgente.

Já comeste hoje lhe perguntou?

Não senhor, não como nada deste ontem.

Venha comigo ao refeitório dos funcionários.  Estavam já fechando, mas pediu que lhe fizessem um sanduiche.  Perguntou de que queria.    Ele riu, pois tinha provado na sua última escapada, um cheeseburger.   Provei um da última vez que escapei.

Lhe trouxeram uma coca cola, o sanduiche.

Estavam ali, conversando, o advogado aproveitando falando do seu caso, que era similar ao seu, uma mãe que tinha fugido para Israel com seu filho, sem autorização do pai.

Uma hora depois, apareceu o homem do serviço secreto, pensou como podem ser do serviço secreto, se basta olhar para saber que é.

Falou ao ouvido do Robert, que ele depois descobriu que era o cônsul americano.

É parece que tua história tem fundamento.   O homem que diz ser teu pai, está tomando imediatamente um avião, para cá.   Conheces alguém, tens aonde ficar?

Não senhor, mas posso dormir na praça, me escondo bem, ninguém vai me descobrir.

Deixa disso, chamou o mesmo homem, lhe disse para arrumar um lugar para ele ficar.

Mandou preparar outro sanduiche pois ele poderia ter fome de noite.  Acredito que o homem que pode ser seu pai, estará aqui amanhã.  Pediremos um teste de ADN, para confirmar, ao mesmo tempo que mandaremos reter o que disse ser seu pai.

Ele agradeceu ao senhor Roberto, muito obrigado, me arrisquei, a história podia ser tonta, mas tinha que tentar saber quem eu sou.

O do serviço secreto, deu um sorriso torto,  me siga.  O foi seguindo, observando sua bunda apertada nas calças, morria de vontade de passar a mão.   Num dado momento, lhe disse sem se voltar, para de ficar olhando a minha bunda, não tens vergonha.

Não gosto de olhar, ela é muito bonita, me atrai.  O outro parou, olhou para ele disse que era muito sem vergonha.

O que não sou, é hipócrita.  Disse uma verdade.

O outro, fez sinal que o seguisse, mas nem se atreva a passar a mão nela, o último que tentou ficou sem mãos.  Ele riu da ameaça, estou imaginando a cena, que maldade.

Na verdade, estou tão acostumado a ser castigado por dizer o que penso, que talvez me atrevesse ficar sem mãos.

O outro o fez entrar num quarto ali no pátio, eu vivo no quarto ao lado, qualquer coisa me chame, meu nome é Jameson.  Viu que no quarto tinha uma geladeira, não tinha fome no momento, colocou o sanduiche lá, por causa do calor, tirou sua roupa, tomou um banho, se masturbou pensando na bunda do Jameson.  Como era bom pecar.  Queria ter perguntado a ele quem era o homem que dizia ser seu pai.

Vestiu outra vez a calça jeans, colocou a outra camiseta que estava na mochila. Bateu porta ao lado.    Jameson, pode me dar alguma informação sobre esse homem que vem amanhã que diz ser meu pai.

Boa tentativa, mas não tenho autorização para falar, melhor esperar, para não fazeres ilusão.

As vezes a realidade é outra coisa completamente diferente.

Vá descansar, sem pensar besteiras.

Já fiz uma besteira, me masturbei pensando em ti.

O Jameson, não sabia se ria ou não.   Deixa de ser atrevido, porque senão te levo para a masmorra.

Ele voltou ao quarto, se jogou na cama, nem queria ver televisão.  Sempre tinha morrido de vontade de ver filmes, essas coisas, mas era proibido.

Acabou dormindo, por tanta confusão, como se relaxou, a adrenalina também foi abaixando.

Se despertou de madrugada, ficou pensando se estava louco, será que era realmente filho desse homem que vinha.

Afinal não sabia o que podia ser tantas coisas.   O que lhe intrigava era a quantidade de dinheiro, o deixaria escondido enrolado na camiseta suja, para caso necessitasse de um plano B.

Logo de manhã o Consul Robert mandou lhe chamar, tinham prendido o que se fazia passar por seu pai.   Este confessou que realmente não era filho dele, mas se recusou a falar mais nenhuma coisa.

Estavam levantando a vida do casal nos Estados Unidos.

Se concentrou, procurando retalhos da sua infância, se lembrou que de vez em quando ela se ausentava, voltava com alguma criança, que desaparecia em seguida.  Ficou lembrando que quando isso acontecia, o trancavam no quarto, só abrindo para deixar comida, quando ele saia a criança tinha desaparecido.    Tinha que mijar num pinico, quando vinha levar a comida, levavam, depois traziam limpo.

Será que o dinheiro era disso.  Por enquanto tinha que ficar quieto.

Pediu para falar com o Consul outra vez, disse que tinha se lembrado desse detalhe, das crianças, que o rabino, sempre estava presente nessas ocasiões em que chegavam crianças.

Mandaram prender o Rabino, esse montou uma grande confusão.

Quando foi apresentado ao homem, não sabia bem por que, não gostou dele.

Lhe tiraram sangue, bem como do mesmo.  Este queria ir para um hotel com ele, lhe contar toda a história. O Jameson, disse que enquanto não saísse o teste do ADN, não podia ficar a sos, precisavam ter certeza. 

Quando o levava para o quarto, disse ao Jameson, não gostei desse sujeito, tem cara de complicado.

Estamos levantando o desaparecimento de jovens entre a época do teu nascimento, se existem mais denúncias.  Principalmente se eram crianças judias.

Mais tarde, já quase final do dia, veio o Jameson, com um agente da Mossad, já sabiam que ele não era filho do tal sujeito.   O Rabino tinha contado que o casal, ajudava as famílias que não tinham filhos, trazendo em adoção dos Estados Unidos.  Que ele Omar, não tinha sido aceito pela família que estava destinado, porque sem querer souberam que a mãe, tinha sido viciada em drogas.   Normalmente, as crianças mal nasciam, eram embarcadas para Israel.

Localizaram o filho do sujeito, atualmente servia no exército.   Já tinha se rebelado contra o sistema ultra ortodoxo.  Nessa confusão, ele descobriu que tinha já 18 anos, não 16 como pensava.  Tinham inventado um nome para ele, nada era verdadeiro, quem tinha o nome de sua família americana era o Rabino.

Ao ser contatada, a família disse que sentia muito, mas que sua filha tinha morrido depois do parto, que tinha já uma família grande.  Não o iriam reclamar.

Pediu ao Jameson que o ajudasse, não vão me deixar sair daqui.  Preciso de um passaporte para ir embora.

Ele disse que ia ver o que podia fazer, já que ele era maior de idade.  Brincando disse que com essa podia pensar em deixar passar a mão na sua bunda.   Ficou de pau duro imediatamente.

Dois dias depois, lhe trouxe um bilhete de avião, bem como um passaporte. Aqui tem o nome de tua família, mas terás que usar esse nome que tens Omar Ben Simon.

Amanhã vou levar-te ao aeroporto.

Ok, nem sei como te agradecer.

Não é preciso nada. Riu que ele continuava ficando excitado cada vez que falava com ele.

Perdão não posso controlar, sinto uma atração incrível por ti.

Nessa noite, bateram na porta, Jameson entrou.  Sentou-se numa poltrona, estava de bermuda e camiseta. 

Foi direto, perguntou se ele era virgem.

Claro que sim, mas sempre me senti atraído por homens, sempre gostei de ficar observando na rua a bunda deles.

Como fizeste com a minha?

A tua é muito bonita, mas sou honesto de te dizer que nem sei como se faz sexo com outro homem.

Quando Jameson se levantou, pensou que ia embora, ia lhe pedir para conversar mais um pouco, o que ele fez foi tirar toda sua roupa, o corpo era um espetáculo, foi até ele, foi tirando a sua lentamente, tens um caralho considerável, vais fazer sucesso.

O colocou na boca, ele enlouqueceu, chegou a colocar a mão na boca, pois tinha medo do ruído que podia fazer de prazer.

Teve uma ejaculação de tanto prazer que sentia, mas seguiu com o mesmo duro, Jameson se deitou do lado dele, você é muito bonito.

Não sei fazer essas considerações.

Tens um corpo de garoto, talvez pela má alimentação, mas faça exercício.  O que pretendes fazer quando chegar lá.

Sou sincero em dizer para ti, que não sei.  Pois se essa família não me quer, porque vou procura-los, quero fazer uma universidade, estudar algo.  Mas tudo é complicado, preciso de um emprego. Um lugar estável.

O que sempre nos impressionou desde o primeiro momento, é que tens uma inteligência superior, uma linha de pensamento maduro, descobriste algo errado desde o momento que resolveste fugir.

Para de falar, falamos depois, não posso me controlar, se agarrou a ele, passando a mão por aquele corpo perfeito, ia fazer exercício sim para ficar igual, pois parecia um garoto, só o seu caralho era de um adulto.

Como eres sem vergonha.  A culpa é tua Jameson, desde que te vi, fiquei interessado em ti. O Jameson se deixou penetrar por ele, queria gritar de prazer, isso ele não faria com aquela garota feia que tinham arrumado para ser sua mulher.

Fizeram mais uma vez, até que Jameson, eres incansável.

Vou fazer uma coisa, meus pais vivem sozinhos, em New Jersey, ele tem um negócio de madeiras, minha irmã acabou de casar-se, vou perguntar se podem te receber, até decidires o que vai fazer da tua vida.   Quem sabe podes trabalhar para ele.

Gostei da ideia, assim terei esperança ver-te novamente.

Pode ser, estou meio farto disso, não era o que eu pensava.  Talvez volte para fazer um doutorado, mas ainda são planos.

Ele ia, embora, pediu que ficasse para dormir com ele, se agarrou a ele como uma tabua de salvação.  Calma, disse rindo, assim não posso respirar.

Se despertaram os dois super excitados, fizeram sexo outra vez, Jameson, disse ao seu ouvido, nunca ninguém entrou assim tantas vezes em mim, nem me deu tanto prazer.   Não vás chegar agora em NYC sair fazendo sexo com todo mundo.

Não, vou te esperar, prometo.

Jameson, voltou vestido, ele estava com a mesma roupa. Não tens um casaco, em NYC vai estar nevando.

Não só tenho isso.   Espera, logo voltou com um casaco de plumas, tem um rapaz da cozinha que tem um corpo igual ao teu.   

Ele ficou furioso, não queria aceitar.

Por que isso?

Sinal de que fazes sexo com ele.

Nem pensar, não é interessante, tampouco inteligente como tu, além de saber me deixar louco.

No meio do caminho, ele passou várias vezes a mão pelas pernas, pelo sexo do Jameson.  Quando chegaram ao aeroporto, foram ao banheiro, ele pediu se podia chupar seu sexo outra vez, acabaram transando no banheiro. 

Menino, comporte-se.

Se ficas comigo Jameson, fico aqui.

Não o melhor é ires embora antes que comecem a te chamar para depor nos juízo contra o Rabino, e o velho.   Podem acontecer muitas coisas, o Consul acha que é a melhor maneira de te proteger.

Mostrou uma foto para ele, meu pai vai te buscar no aeroporto,

Ele de brincadeira disse que era mais bonito do que ele, vou me jogar em cima dele.

Jameson disse ao seu ouvido, irei em breve para casa, pedi licença para passar o natal, aí resolvo minha vida. 

Menos mal, vou estar louco de saudade de partes do teu corpo.

Garoto deixa de ser sem vergonha.  O arrastou para trás de uma coluna lhe deu um beijo na boca.  Cuida-te, deixe que meus velhos te ajudem, são boas pessoas.

Queria se agarrar a ele, para ficar, ficou olhando ele se afastar, pois tinha que passar para o embarque,  de manhã sozinho tinha contado o dinheiro, tinha suficiente para um bom tempo, mas ficaria na casa dos pais do Jameson, para poder espera-lo, estava desesperadamente apaixonado.

No avião escutou alguém reclamando que tinham lhe retirado o dinheiro que pensava levar.

Ufa tive sorte, pois como o Jameson o tinha levado, não passou no controle, afinal só tinha a mochila, meio vazia, o dinheiro tudo nota grande, estava enrolado na camiseta suja.

Acabou dormindo, só despertando em NYC.   Saiu confuso do avião, ainda com sono, passou os controles, quando finalmente chegou fora, viu o pai do Jameson, era ele mais velho.  Pensou com um sorriso na cara, se ele ficar assim continuarei o amando.

O homem se apresentou, Jimmy.

Ele pediu que falasse devagar com ele, pois não dominava muito a língua, nem se tinha dado conta que sempre conversava com o Jameson em sua língua.   Nunca em inglês.

Ficou embasbacado com a visão da cidade.  Jimmy lhe perguntou se nunca tinha visto nada da cidade, na televisão, no cinema.

Não senhor, em casa não tinha televisão, era pecado, cinema nem pensar, eram muito estritos.

Ele avisou, minha mulher fala muito rápido, mas é um anjo de pessoa.   Vamos passar na escola, aonde trabalha para irmos almoçar.  Tinham passado dois tuneis, isso o tinha feito rir, era como uma criança descobrindo coisas novas.

Jimmy ria com ele, procurou entender como devia ser uma pessoa em que tudo está proibido.

Parou o carro, subiu uma mulher morena, linda, o abraçou e beijou, ele não estava acostumado, explicou isso. Posso parecer desajeitado conforme o tratamento amoroso das pessoas.

Ela era muito diferente do Jameson, pois era morena.  Quando verbalizou isso, ela riu, saiu a ele, disse que ele era descendente de irlandeses, ela de italiano, uma bela combinação.

Jimmy pediu que ela falasse mais devagar, pois ele não tinha vocabulário, precisa pensar para responder.

Foram a um restaurante italiano, da irmã da Maria, as duas falando, o deixaram tonto, não entendia nada.   Jimmy ria a bessa, não se preocupe que as vezes eu tampouco entendo.

Quando viu tanta comida, não sabia aonde atacar primeiro. Na casa de seus falsos pais, comiam normalmente uma sopa, cheia de pão velho, uma salada, nada mais.   Carne nunca.

Maria percebeu, explicou para ela o que comia na sua casa.  

Por isso meu Jameson disse que estavas desnutrido, mas eu vou cuidar de ti.

Quando chegaram em casa, ela perguntou pela sua maleta. 

Só tenho essa mochila com uma camiseta, nada mais.

Está o olhou de cima a baixo, saiu.  Ele não entendia.

Aqui todos somos amigos, com certeza ela já sabe teu tamanho, deve ter ido pedir roupa que esteja pequena para suas amigas.  

De verdade voltou com duas bolsas de roupa, roupa de inverno, camisetas, calças jeans.

Ele agradeceu.

Não acredito, ele agradece, o Jameson, ficava furioso, não gostava aproveitar roupa dos outros.

Venha, vou deixar você descansar um pouco.   Quando iam subir, tocou o telefone, era ele falou com os pais. Depois falou com ele em hebraico. Como sabia que os pais não entendiam, disse sem pensar, tenho saudades de ti.

Eu também, perguntou da viagem, da primeira impressão, logo estarei aí, um beijo.

Ele sentiu realmente o beijo.   Quando chegou no quarto, Maria disse que era o quarto do Jameson, o que era da minha filha, vamos reformar, está cheio de coisas.

Ela tentava falar devagar, mas se atropelava.

Mostrou o banheiro, tome um bom banho, descanse.

Ele queria ficar dentro do quarto, abriu o armário, tinha roupa do Jameson ali, sentir seu perfume o deixava doido.  Viu fotos dele, em cima de uma estante, uma em traje de banho, abraçou a fotografia, podia sentir sua pele junta a dele.

Se deitou na cama, imaginando que estava ali com ele, começou a chorar baixinho, lhe doía o corpo todo, talvez tenha pensado, ele é a única pessoa que me quis, me deu carinho em tão poucos dias, mas foram verdadeiros.

Desceu depois vestido, conversou com a Maria, preciso de umas aulas de conversação.

Vamos ver o que podemos fazer.  Eu dou aula de teatro na escola, queres vir, assim escuta as pessoas falando, estou como todos os anos montando um espetáculo de final de ano, esse para ser diferente, resolvemos fazer um apanhado de tudo que já fizemos.

Foi com ela, estava com problemas, ninguém queria fazer Yentl, cantar “papa can you hear me” que segundo ela cantava Barbra Streisand, quando montamos, quem cantou foi o Jameson, pois ninguém queria cantar.   Meu filho tem uma voz linda.

Ele disse que não sabia quem era a cantora.

Quando ela lhe perguntou se tinha visto o filme, afinal era uma história judia.

Teve que contar outra vez que em casa não tinham televisão, era proibido ir ao cinema.

De noite estava irritada, com isso, o Jimmy estava vendo um futebol americano na televisão, perguntou se ele gostava?

Nunca joguei nada disso, acho um absurdo ficarem brigando por causa de uma bola.

Maria ria horrores, penso o mesmo.

Tirou toda sua roupa na hora de dormir, ficando nu, pegou um blusa de capuz do Jameson, vestiu, tudo para poder sentir o cheiro dele.

Despertou de madrugada, com alguém cantando, se vestiu, desceu, era Maria vendo o pedaço do filme que cantavam a música que ela queria que os alunos cantassem.

Ficou sentado na escada prestando atenção, buscando entender a história.  Ela o viu, ele perguntou o que era a história.    Lhe explicou, ele riu, eu querendo escapar disso tudo.

Realmente as mulheres na sinagoga ultra ortodoxa, é como se não existissem.  Ficam totalmente a parte. Os cantores são homens. Quer ver como é.  Começou a cantar baixinho, uma das coisas que eles cantavam.

Que voz tens?

Vê se consegues cantar essa.   Eu escutei três vezes, mas posso tentar.  Cantou de um folego só a capela.

Maria ria, me salvaste, mais mostrar a esses meninos como se faz, mas vamos fazer diferente, imagina que estas na sinagoga, em vez de ser essa música religiosa, cante a do filme.

Ele fechou os olhos, começou baixinho.  Na sua cabeça traduziu para o Hebreu, quando terminou recomeçou cantando em sua língua.

Ela batia tantas palmas que Jimmy se levantou para ver o que acontecia.

Ela comentou, que era um segredo dele, dela, ele ia salvar a apresentação, para o final de semana.   O bom que o Jameson já estará aqui.

Ele abriu os olhos, como?

Jimmy, soltou, eu disse que não contasse para ti, não sabes ficar de boca fechada.

Ele voltou para a cama, estava excitado só de imaginar ele ao seu lado.  Fechou os olhos imaginando passar as mãos pelo seu corpo, ejaculou sem sequer segurar seu caralho.

Voltou com ela a escola no dia seguinte, ela trabalhou com os alunos, sem comentar nada, quando todos foram embora, ela falou com os que a ajudavam.  Vamos fazer um Yentl diferente.                     O Omar, vai cantar em hebreu e inglês.

Vamos tentar encaixa-lo na música.

Ele disse que não, tinha que ser a capela, porque senão não fazia sentido.

Assim fez, fechou os olhos tentou imaginar que estava na sinagoga, cantando uma música profana.

Ela gravou para depois mostrar para ele.

A pergunta dele, era se o Jameson ia gostar?

Claro que sim.

Sem se preocupar, então soltou, vou cantar para ele, o meu salvador.

A semana passou voando, Maria conseguiu a roupa como ele disse, inclusive os chales usado pelo cantor. 

Era uma segredo entre os dois.  Jameson, chegou na sexta feira de manhã, mas tinha ido diretamente a Washington, para resolver suas coisas.

No sábado de manhã, tinha chegado muito cedo, ele ainda estava dormindo, depois de falar com os pais, disse vou ver meu menino.

A mãe soltou, ele te ama muito, todos os dois sabiam que ele era gay, sempre tinha confiado nos pais.

Tome cuidado para não magoa-lo, pois se vê que não sabe que caminho tomar.

Subiu descalço para não fazer barulho, abriu a porta do quarto, riu quando o viu vestido com sua roupa, deu a volta na cama, tirou toda sua roupa, se deitou ao lado dele, falou no seu ouvido, estou aqui em carne e osso.

Ele soltou um grito de felicidade.  Mas já estava sendo beijado, não posso deixar de pensar em ti.   Nem pensei que soubesse o que era amor.  Senti tua falta, falava com você na minha cabeça.

Calma, estas parecendo minha mãe falando, só que ele falava hebreu.

Estavam os dois de pau duro, mas se contiveram.  Vou tomar banho, para descermos para tomar café, estão esperando.

Posso ir contigo, ele ficou sentado enquanto Jameson tomava banho, não entrava, porque sabia que acabariam fazendo sexo.  Depois tomou banho frio, Jameson disse que estava louco, ele mostrou seu sexo duro, é o jeito.

Quando desceram os pais os esperavam sentados. Tentou acompanhar a conversa deles, não tinha entendido uma coisa.  Lhe perguntou o que tinha dito aos pais em Hebreu. 

Que deixei meu emprego, não quero mais fazer esse tipo de trabalho, vou fazer uma pós graduação em filologia, lhe explicou o que era, em língua árabe, tenho um posto vacante na universidade, volto a dar aulas que gosto.   Não gosto disso de ser espião, não vai comigo.

Não gostaram muito, mas disse que não queria continuar.

Não vais mais embora?

Não, estas contente.

Nem precisava perguntar a cara dele, era de felicidade.

Almoçaram, depois ele e Maria foram ensaiar, Jameson foi dormir, pois estava cansando.

Gostas do meu filho, verdade Omar.

Eu o adoro, ele me entendeu desde o primeiro momento, se negou a fazer sexo comigo, porque pensava que eu era menor de idade, eu também pensava, só aceitou porque viu que eu já tinha 18 anos, que realmente estava apaixonado por ele.

Ela ria, tenho medo pelos dois, pois eres mais jovem que ele, não tens vivência.

Senhora Maria, sim sou jovem, estou inclusive descobrindo quem sou, pois na verdade não sei, a única coisa que tenho certeza, que é o que me salva, é saber que o quero.

No final do dia Jimmy junto com o filho, vieram assistir o espetáculo, estava lotado, sabiam que Maria, convidava muita gente das escolas de música e teatro.  Dali já tinham saído dois atores, uma cantora que já era conhecida.  Ela tinha telefonado para dois professores da Juilliard que eram seus amigos.  Quero que conheçam uma pessoa diferente ao cantar.

Tinha deixado o número dele, para o final.  Este ano, fizemos diferente, em vez de montar um musical, fizemos um apanhado de tudo que já fizemos.  Agora para o final, o rapaz não é aluno da escola, acabou de chegar ao pais, uma larga história.  Como ninguém queria cantar essa música, ele resolveu me ajudar, me convenceu a fazer de outra maneira.

As luzes se apagaram, ele apareceu no meio do palco, com a indumentaria completa de um cantor de sinagoga.   Se concentrou como tinha aprendido a fazer, mentalmente pensou isso é para ti Jameson.

Começou a cantar a música a capela, como faria um cantor durante uma cerimônia, mais ou menos no meio, passava para o hebreu, o silencio em volta dele era impressionante, voltou a cantar em inglês.

O público aplaudiu em pé.  Ele viu quase no final o Jameson ao lado do Jimmy, sorriu para ele.

Batiam tantas palmas, queriam que cantasse outra vez.  Ele tinha escutado num walkman velho uma música, que na caixa estava escrito, minha música preferida.  Concordou em cantar outra música.   Cantou Moon River a capela, olhando em direção aonde o Jameson estava sentado.

Quando acabou tudo, viu que Maria falava com dois homens, um muito branco, outro muito negro.  Apresentou os dois, são professores de música da melhor escola daqui.  Querem que te apresentes lá para conseguir uma bolsa de estudo, a seleção é depois do ano novo.  Queres fazer.

Ele foi honesto, como não sei o que fazer da minha vida, aceito, pelo menos movo a inercia.

Ficaram olhando para ele, Jameson que chegava, explicou o que ele queria dizer, a história do Omar, é muito especial, nem meus pais sabem direito.  Ele conhecia os dois, se quiserem venham amanhã almoçar, eu conto, junto com o Omar sua história.

Iam comer no restaurante, ele disse que seria impossível, do lado de fora se escutava todo o ruído, fico confuso.  Prefiro comer um hamburguer como aquele que me conseguiste no primeiro dia.

Passaram num Mcdonalds, compraram para levar, nem sabia que existia isso.  Depois ficaram os quatros comendo em silencio.

Jimmy foi quem soltou, eu entendo nada de música, mas a Maria entende, se não tivesse casado comigo, teria sido uma grande cantora, colocou a mão sobre a dele, te amo meu coração.

Como sabias que aquela música era minha preferida?

Estava escrito na caixa da fita do walkman.  Dormi dois dias escutando a mesma. Me fazia sentir mais perto de ti.

Nessa noite fizeram sexo com cuidado, porque ele disse que seus pais podiam escutar.

Mas só o fato dele estar ali, lhe completava.

Temos que ir ver um apartamento perto de aonde vou estudar e trabalhar, se entras para a Juilliard, também.   Queres viver comigo?

Mas tenho que arrumar um emprego, como vamos repartir as despesas.

Eu sei que pegaste o dinheiro da caixa dos velhos, ele disse que só podia ter sido tu.  Tanto reclamou que a polícia lhe disse que não ia precisar dele mais, pois ia passar o resto dos dias presos, pois trazer crianças de contrabando para Israel, é crime.  

Eles tinham um complô com o rabino, os jovens que fossem parentes próximos demais, eles conseguiam crianças, para não terem na comunidade risco de crianças retardadas.

É verdade, tem muito retardado, mas eles escondem.

De manhã, sabiam que seus pais iam a missa, fizeram sexo como aos dois gostavam, disse ao Jameson, eres meu primeiro homem, espero que sejas o último.

Jameson disse que ele já estava diferente, mais gordinho. Terás que fazer exercício, para ficar com um corpo como o meu.

Começaram tudo de novo, um determinado momento, perguntou se ele podia lhe penetrar, tenho que saber como é, pois não é justo só eu fazer isso.

Com muito cuidado Jameson o penetrou, ficou alucinado, sentado em cima dele, os olhos dele, brilhavam.  Se sentiu em fogo, a cara do Jameson o excitava, era como uma roda viva, quanto mais um ficava excitado, mais ficava o outro.  Terminaram ao mesmo tempo. Beijando-se como loucos.

Jameson soltou que nunca em sua vida tinha tido uma experiencia assim. 

Só posso dizer que te quero, meu homem.

Depois Jameson percebeu que tinha livros fora da estante.  

Sim estou lendo esses dois ao mesmo tempo, porque os assuntos, são contrários entre si, mas ao mesmo tempo se completam.

Como chegaste a essa conclusão, depois ele ficou admirado com a logica que ele usava, acredito que serias um excelente aluno ou de filosofia, ou de literatura comparada.  Buscou entre seus livros, dois de autores demasiados extremistas, lhe deu para ler, vamos ver como se sai nessas.  

Omar colocou os dois na sua mochila, sorriu dizendo que teria que passar numa papelaria para fazer compras

Ele achou graça como ele se comportava.                           Mas foram olhar apartamentos perto da Universidade, Jameson, no seu trabalho tinha conhecido muita gente, foi falar com um agente imobiliário que tinha conhecido numa investigação.  Explicou o que queria.

Tenho um exatamente como queres, o venho guardando para um cliente especial, visto pertencer a minha tia, ela vive no mesmo edifício, só a pouco tempo descobriu que esse apartamento lhe pertencia, mas claro, nesse tempo o inquilino não pagou nada, sequer o condomínio.   Ela se viu num aperto, depois de muita briga, conseguiu colocar o mesmo para fora.

Ficava no último andar de um edifício antigo, precisava de uma boa mão de pintura, no salão que tinha o chão de tabuas de madeiras, inteiras, teria que pedir ao seu pai para conseguir arranjar, tinham arrancado todas.   Tinha dois quartos, dois banheiros, uma cozinha americana pequena, uma parte da varanda era fechada, mas o chão estava estragado porque tinha deixado aberta, com chuva e neve, foi a merda.

Chamou seu pai, Jimmy, olhou examinou tudo, sorriu , deixa comigo, no dia seguinte começaram a arrumar tudo.   Jameson tinha os moveis de seu antigo apartamento guardados no armazém do pai.

Iriam usar o segundo quarto para uma sala de estudos.  Mas claro nem tudo era perfeito, tudo era em número singular, pois ele sempre tinha vivido sozinho.  Então o jeito foi comprar uma nova poltrona para o salão, mas deixou que Omar escolhesse tudo.  

No dia 5 de janeiro, ele tinha a prova na Juilliard, estava nervoso, tinha ensaiado muito, Maria o tinha acompanhado ao piano, para se apresentar.   Escolheu bem as músicas, que se adaptassem a sua voz.   

Mas ele se apaixonou por uma das músicas preferidas do Jameson, “Good Morning Heartch”, lhe cantava no ouvido de manhã, este ficava louco, lhe dizia com voz rouca, assim não saímos da cama.  

A outra que preparou sozinho, foi Summertime, mas a fazia a capela, como um cantor de Sinagoga, como que declamando a mesma com uma voz rouca.  Teve o trabalho de mudar a letra para o Hebreu, Maria quando descobriu, incluiu tocar para ele.

Acabava ela chorando como uma Madalena.

Ele tinha crescido, o médico tinha dito que seu estado de desnutrição, era perigoso, pois podia ter uma tuberculose, que devia se proteger bem no inverno.

Nesse dia fazia um frio infernal, nevava.  Ela tinha comprado para ele em segredo, uma calças negras, bem como uma blusa de lã do gola alta.  Parecia um brinquedo nas mãos dela.

Estava no fundo mais nervosa que ele.  Teria que cantar três músicas, ele começou com Good Morning Heartch, depois passou para Moon River, ai fez o Summertime, a cara da banca era impressionante, duas professoras tinham a boca aberta, pois a vocalização dele era perfeita, quando terminou, uma senhora de cabelos brancos perguntou emocionada se ele podia cantar Hasidic Kadish,  ele fechou os olhos, se lembrou de uma vez que tinham ido visitar uma sinagoga no centro de Jerusalém, que um cantor cantava essa música, fez um sinal de um minuto.

Com os olhos fechados cantou, com todas as nuances dessa música, ficou cantando como fosse para a mãe que não tinha conhecido, já morta.

Quando terminou, a mulher chorava copiosamente, se levantou da mesa, foi abraça-lo, meu pai morreu ontem em Israel, não pude ir ao enterro.  Muito obrigado meu filho.

Maria ria, agora os professores disputavam entre si quem ia ser seu professor.  A senhora perguntou se ele sabia ler partituras.

Nem sei o que é isso, lhe respondeu.

Pois serás meu aluno de aprender a ler, escrever partituras.   Estava feliz da vida.

Entregaram a Maria, cada um, uma folha do que podiam ensinar, ele que escolhesse.

Ela ria como uma louca, venha, vamos visitar um parente meu, Jameson e Jimmy já estão lá nos esperando.   Era um restaurante dos antigos de Little Italy, depois do Soho, ela só faltava dançar pelas ruas, ele estava aturdido, lhe dizia para falar com calma, pois estava confuso, as paredes o escutavam, mas ela dizia, depois te explicarei,  mas preciso falar, desabafar.   Pararam numa praça, ela tirou uma garrafinha de água da bolsa, tomou uns goles, passou para ele, que a olhava assustado.

Verás, eu fiz essa prova, fui classificada, mas já estava gravida do Jameson, tinha que escolher entre meu filho que ia nascer ou uma carreira.   Escolhi meu filho.   Agora você se classifica melhor do que eu.  É um sonho.

Quando chegaram ao restaurante, ela falou com os parentes, quando sentou-se à mesa, perguntaram então.

Omar, estendeu a mão, ela responde.

A cara dos dois era ótima, parecia que tinham aberto uma comporta de palavras, ela misturava italiano com inglês.   Quando fez uma pausa para tomar água, Jimmy tomou as rédeas, não entendemos nada, respire fundo, fale devagar, sabia como controlá-la, olhe estão todos olhando para cá, pensam que estas louca.

Ela respirou fundo, começou a falar lentamente.  Os professores no final, estavam brigando por causa dele, todos o querem como seu aluno.  Sinal que tem potencial.  Contou o que ele tinha cantado para a professora de partituras.   A mulher chorou muito, pois não ido ao enterro de seu pai em Israel.

Jimmy de gozação disse, vais precisar rápido de um agente, pois quando começarem os contratos, tem que ser alguém que te conheça bem.  Ele olhou para o Jameson, este ria, o Jimmy a mesma coisa.   Mas ao responder a pergunta, foi com outra.

O que faz essa pessoa, nunca ouvi falar num agente, só conheço do de polícia.

Riram horrores com sua inocência.  Maria lhe estalou dois beijos na cara.  Agora já estava se acostumando a esses arranques dela.

Quando lhe explicaram, ele balançou a cabeça, mas se é isso já tenho um, sinalizou a Maria, foi ela que arrumou toda essa loucura para minha vida. 

Ai de ti se não me escolhesse.

Jameson ria dizendo, salvo pelo gongo.

Dali iriam a Universidade, já tinha seus papeis da escola Hebraica.  Tinha resolvido fazer Literatura, depois faria literatura comparada.

Novamente Jameson tinha mexido seus conhecimentos, o levou para ser entrevistado por um senhor muito maior.

Simplesmente perguntou o que ele estava lendo, ele tirou os dois livros da mochila, Jameson me disse para ler isso.

Sem parar, foi falando, fico pensando como duas pessoas, em época distintas, podem falar a mesma coisa, mas com palavras diferentes, à primeira vista, parece que esse mais moderno está renovando alguma coisa, mas tudo é uma manipulação exclusiva da palavra.

Falou durante cinco minutos, o senhor, lhe estendeu um copo d’água, estava rindo, ele deve ter feito isso de propósito, o muito filho da puta.   Sabe que eu batalho com esses dois livros com os alunos, nenhum faz o que você acabou de fazer.

Ele me disse que lês a muito pouco tempo?

Sim, era pecado ler livros que não fosse os sagrados.

Contou do livro que tinha achado, e que tinha lido mil vezes escondido, tem uma página que gosto muito, repetiu de cabeça tudo que tinha lido.   Desde que cheguei aqui fui lendo por sequência, os livros que estão na estante do quarto, da primeira, li primeiro os que via muito manuseados, pois era evidente que ele gostava desses textos.

Mas o que gostei mesmo, pois parece uma história de um homem se debatendo continuamente com suas próprias ideias, porque se paro para analisar, cada momento, no fundo ele está analisando seus atos, mesmo quando se pode imaginar que está louco, não está, analisa essa loucura transitória.

De que livro falas tu?

Don Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes, fiz uma série de anotações sobre o assunto, mostrou ao professor, a cada capitulo, ele analisava o que realmente entendia do personagem.

Quando lhe perguntou a idade, respondeu, eu pensava que tinha 16, resulta que tenho mais de 18 anos, uma larga história.  Me aborrecia nas aulas, com 10 anos sabia a Torá totalmente decorada folha por folha. 

O homem fechou os olhos, lhe perguntou a página 134, o que diz?

Ele em hebraico, recitou a página inteira.

Acreditas nisso?

Honestamente não, pois prega uma inverdade, o homem não é piedoso nunca, ao contrário, é hipócrita, mentiroso, invejoso, muitas coisas mais.

Ok, pode chamar teus pais, ele chamou a Maria, com o Jimmy,  eles são o mais próximo que tenho de pais.

Bom posso conseguir uma bolsa de estudos para ele sem problema nenhum, pois demonstrou que tem uma cabeça privilegiada, mas exijo que faça aulas comigo de literatura comparada, não posso perder a oportunidade, de dar os dois últimos anos de aulas nessa faculdade, sem ter um aluno brilhante.

Ele não tinha entendido muito bem?   Que quis dizer com tudo isso.

Bom, terás uma bolsa de estudo, financiada por algum homem rico, que deduz isso dos seus impostos, o que terás é dinheiro para estudar.  Vivendo com o Jameson, estarás coberto.

Depois te explicou direito, vendo que ele ficava confuso.

Foram passar um final de semana fora, para relaxar de arrumar apartamento, transferir os livros do Jameson. 

Este viu que ele já tinha uma caixa de cadernos, perguntou o que era.

Você não vai querer que eu escreva nas laterais do livros, comprei isso, assim vou anotando o que penso.

Veja, como aqui a página é dupla, de um lado anoto o que pensei de um sobre o assunto, busco o mesmo assunto no outro, escrevo do outro lado, depois analiso os dois.  Tudo era muito organizado.

Tiveram que alugar roupa de frio, para andar na neve, mas ele adorou, finalmente tinha uma família.

Quando voltaram foram para o apartamento novo, havia alguns momentos, principalmente na hora de comer que sentia falta da Maria, o som de sua voz, era sempre quente.  Quando disse isso ao Jameson, ele riu.   As vezes também sentia falta disso, principalmente quando estava sozinho.    Uma vez no deserto, imaginei ela ali falando aos quatro ventos.

Iam sempre comer no domingo com eles, sabiam que hora voltava da missa.

Omar lhe perguntou por que não ia a missa?

Deixei de acreditar em Deus.

Porque, eu apesar de tudo continuo acreditando, imagina, se ele não tivesse me ajudado, não teria te encontrado, nem a essa família que ansiava.

Quando começaram as aulas, umas fazia de manhã, outras de tarde, de noite os dois se reunião para jantar.  Maria tinha uma chave do apartamento, levava comida para eles.

Ele dizia que era como estar em casa, ao mesmo tempo sentia falta dela.   Jameson dizia a Jimmy, esse sem vergonha quer roubar minha mãe.   Ela como boa italiano, batia no peito dizendo nesse coração tem lugar igual para os dois.

Estavam preparando na Juilliard um especial, pela morte de Leonard Cohen, ele cantaria duas músicas, agora já sabia cantar com a orquestra feita pelos companheiros, a primeira seria Hallelujah, a cantaria em Hebreu, a outra cantaria com o grupo.

Tinha lhe pedido que cantasse o Kadish, por ele ao final, mas que ele fizesse a música.  Ficou semanas ensaiando, construindo uma letra com a Maria, ia todos os dias a sua casa pela manhã, voltava no final do dia.   Nos dois últimos dias, dormiu lá.

Jameson não gostou muito, me tens abandonado, não vê, que não posso viver sem ti.

Ele ria, já te compenso esta noite depois do espetáculo.

O mesmo foi um sucesso, o cantor anterior foi muito literal, a música deixava as pessoas distraídas, quando ele começou a cantar Hallelujah, fez uma coisa que tinha escutado, mas nunca tinha feito, o ruído que faziam os homens e mulheres com a língua.  Todo mundo parou o que estava olhando ou falando, ai então começou a cantar.

No final, quando disseram que ele ia cantar um Kadish, muita gente ia começar a se levantar, quando ele entrou paramentado de cantor de sinagoga, fazendo o som com a língua.  Mostrem respeito por um grande compositor, escritor, cantor, um homem que honrava sua música, sua língua.

Parou no meio do palco, vazio, só ele sem acompanhamento nenhum começou a falar primeiro o Kadish, soltando a voz, mas não cantando, para que as pessoas entendesse o que ele iria dizer, isso o tinha preparado com a Maria, depois soltou sua voz maleável cantando a ode que tinha preparado.  Terminou com Hallelujah, a parte final. Tinham combinado que entraria todos os cantores com Hava Maguila, os jovens da orquestra, entravam tocando, dançado ao mesmo tempo.

O público se levantou cantando junto.

Quando saiu do palco, Maria, o abraçava, ficou perfeito.  Estava ao lado dela, um homem, viu logo que era um rabino, ela o apresentou, Abed Wailler, rabino de uma sinagoga, pequena, integrada por negros, bem como alguns drusos.  Queria que no domingo fosses cantar para eles.   Não podem pagar muito.

Gostou da cara do homem, se via que era jovem.   Estava rindo com ele, quando Jameson chegou, se conheciam, disse que tinham estudado juntos na universidade.

Maria acertou sua agenda, iriam todos.

A cara do Jameson, mamãe, a senhora precisa perder essa mania de organizar tudo, incluindo todos.   Não nos perguntou a mim, nem ao papai se queremos ir.

Eu quero ir, conheci o pai desse garoto, ele teve uma vida complicada, pai alcoólatra, uma mãe que esfregava o chão de muito judeu rico.   Ela era drusa, se sentia rejeitada por todos da comunidade deles.   Tua mãe era a única amiga que ela tinha.  Todos esperavam que esse garoto fosse  cair na drogas ou nas más companhia, ao contrário, era a melhor nota da escola, conseguiu uma bolsa de estudos para fazer universidade.  Se tornou rabino, de uma comunidade de excluídos, negros, judeus pobres marroquinos, etiopês, drusos.   É uma pessoa muito séria.

Jameson não teve outra maneira que ir também. 

Ele não cantou paramentado, pois sabia que a comunidade era pobre.

Quando chegaram, viu que uma família chorava muito, perguntou o que se passava, o pai tinha morrido na rua a um dia atrás, tiveram que o enterrar rápido, nenhum filho tinha rezado o Kadish, pois não sabiam como rezar.

O fazemos no final, o senhor reúne todos os filhos, faço junto com eles.

O templo era pequeno, uma velha igreja católica que tinha sido cedida a anos pela prefeitura, não tinha dinheiro para recuperar a estrutura.

Ele oficializou com o rabino toda a cerimônia cantando.  Ao final o rabino chamou a família, para o Kadish.  Ele primeiro falou, façam comigo todos os primeiros movimentos, da oração, faremos juntos, devagar, depois ele começou a cantar em hebreu.   

No final, junto ao rabino, ficaram ali apertando as mãos de todas as cores.  Tinha se sentido emocionado, isso para ele era mais comunhão que tinha sentido aonde tinha sido criado.  Sabia todo o ritual porque era um observador.

Dois jovens se aproximaram, podíamos falar contigo.

Sim claro, que posso fazer por vocês.  

Éramos um grupo, mas nosso cantor virou cantor Pop, entrou para um concurso, também precisamos alguém na percussão, mas que entenda de música árabe/judia.

Um indicou ao outro, ele é druso, eu descendente de judeus com árabes, gostaríamos que escutasse nossa música.   Para ver se podemos nos encaixar, queríamos cantar aqui na sinagoga, o rabino já nos ofereceu o lugar, a acústica você viu é maravilhosa.

Em vez de dizer vou pensar, soltou quando nos vemos?

Amanhã a noite pode ser, por volta das seis, pois os dois trabalhamos.

Ok, estarei aqui, o rabino que estava ao lado sorria, assim poderia captar mais jovens para sua comunidade.

Vou ver se na Juilliard encontro um percussionista.

Jameson, no caminho de volta ia reclamando, agora isso, daqui a pouco não sobrara tempo para mim.

Maria estalou, deixa de ser egoísta, devias te juntar para ajudar esses jovens, tiveste tudo, eles lutam por uma vida melhor.  Toma vergonha na cara, eu não te criei para que fosses o melhor do mundo, mas sim para que fosse um homem justo.

O silencio até em casa foi ótimo.

Quando Jimmy, que tinha saído para comprar pão voltou, o silencio na casa era ótimo.  Mas foi dizendo que tinha encontrado o padre da paroquia, que tinha perguntado aonde tinha estado que Maria não tinha ido à missa.   Era um homem muito estrito, além de velho rabugento.

Devia ter dito que mudei de religião, agora sou de uma religião que é o mundo de Deus.  Estou farta de estar fechada numa igreja que não faz nada pelos outros.

Ninguém ousava discutir quando ela ficava irada.

Omar não disse nada, mas não estava disposto a perder a abertura que tudo isso estava lhe dando, era o melhor aluno da universidade, as discussões com o velho professor, era ótimas, os outros alunos, a princípio não entenderam.  Estavam os dois discutindo numa análise de dois livros que ele tinha indicado, buscando uma terceira via para entender o que os dois escritores tinha realmente buscado transmitir.    Aulas mais tarde, ele provocava que algum outro estudante comentasse com ele como tinha feito anteriormente.   Poucos se destacava, porque havia realmente que ler profundamente um livro, analisar as frases, procurar um duplo sentido nelas.

Com o tempo alguns aderiram, se preparavam profundamente, porque sabiam que a batalha com o Omar não seria fácil.    Um dia Jameson que passava pela classe do velho professor, ficou parado na porta, sem que o visse, como Omar defendia as suas ideias, ele mesmo tinha lido e relido os dois livros, não tinha entendido o que ele explicava.

Um dos colegas dizia, que não estava escrito exatamente isso.

Ora, soltou o Omar, esse escritor esteve sob o julgo da censura em seu Pais muitos anos, tu crés que ele seria idiota de escrever realmente o que pensava.  Ah, que ler o subtexto, bem como nas entre linhas.   Se pegas esta frase, a solta pelo ar, escreveu a mesma no quadro.  Ela não quer dizer nada, é banal, idiota até, mas se a dividimos assim.  Cortou a frase em quatro, leia só esse pedaço da frase, quer dizer uma coisa totalmente diferente, agora o segundo, o silencio era impressionante, o professor no fundo da sala, ria.  Falou, eu sempre achei essa frase perdida nesse mar de palavras, mas como você analisa, parecem formar ondas.

Jameson, percebeu, que até a voz do professor estava mais jovem.

Quando chegaram ao final, a frase resultava totalmente diferente, fazendo um sentido, como uma mensagem em código.

Cada escritor, espero não estar sendo louco ao dizer isso, principalmente dos países complicados, sempre usaram uma linguagem dupla.   Estou enganado professor.

Ah, quero dar uma notícia antes de responder, hoje foi aprovado, ficarei mais dois anos na universidade.

Meu filho não estas errado, se analisamos a primeira edição de Arquipélago Gulag, de Aleksandr Solzhenitsyn, verificamos, que tem pontos diferentes da segunda edição.

O primeiro foi mandado para fora da Rússia, ele ainda era um prisioneiro, muitas coisas estavam em doble sentido, nas entre linhas.  Por mais aberta que era a escritura, muitos intelectuais ficaram sem entender, principalmente os que se diziam comunista.

Para estes era uma bofetada em tudo que acreditavam.

Vou ver se consigo uma cópia da primeira para analisarmos.

Ficou sentado no pátio de longe, quando viu o professor saindo com a mão nos ombros do Omar, falava com ele, como se fosse um igual a ele em tudo.

Ele estava orgulhoso, agora entendia, que já não tinha só um garoto na cama para fuder, mas sim um homem, com uma cabeça privilegiada.  Nesse momento se deu conta que o amava profundamente.   Os dois continuavam fazendo um sexo, que nenhuma experiencia anterior tinha conseguido chegar.   Com ele era uma coisa completa.

Ele conseguiu um rapaz que tocava guitarra, que também tocava o alaúde árabe, o percussionista foi fácil, viu um rapaz moreno, uma cor distinta, não era negro, disse que era da Etiópia, concordou levar dois aparelhos que ele gostava de tocar para ver se encaixava.

Um logo na primeira reunião, Maria compareceu, riram muito, pensava que ela seria cantora, mas como todos eram jovens se encaixaram.  Cada um mostrou o que sabia tocar.  Gostaram do local de ensaio, bem como o horário, todos tinham outras ocupações.   Um dos dois que ele tinha conhecido primeiro, pediram que cantasse a capela, como tinha feito outro dia, vamos ver como nos saímos te acompanhando. Ensaiavam todos os dias, ele estava ficando com um horário complicado, de manhã uma parte Universidade, depois Juilliard, depois ensaio.

Estava entre os tempos, escrevendo tudo que se lembrava da sua infância. Queria escrever sobre isso, para ao mesmo tempo entender as coisas, achava que tinha que preencher lacunas.

Dormia agarrado ao Jameson, como se tivesse medo de perde-lo.   Um dia esse despertou, com ele no meio de um pesadelo.   Estava sonhando com o dia, que o velho tinha lhe dado a primeira surra, o chamava de bastardo, lhe retirava o prato de comida, hoje não comes, ele não conseguia saber qual o motivo, era como se aí tivesse alguma coisa oculta. Se fixou que a mulher, tinha uma folha de papel nas mãos.

Ele dizia a ela, vês, tudo porque não deste atenção ao atestado do hospital, aonde informava que a mãe deste bastardo, vivia nas drogas.   Está tudo escrito nessa página.  Essa tua sede de ganhar dinheiro, ainda nos vai levar a ruína.        Agora infelizmente ficamos com o idiota, pois seus avos dizem que não o querem, tampouco temos documentos de nada disso.

Ela se levantava da cadeira, olhava para ele, lhe dava uma bofetada, escutou o velho falando, nem pense em mata-lo, pois nos comprometeria.

Estava nisso, quando despertou com o Jameson o sacudindo.

Lhe contou tudo do sonho, acho que tenho que saber a verdade ao fundo.   Quem são esses daqui que são meus avôs, porque não me queriam.

Entre tudo isso que tenho em mãos, estou escrevendo tudo que me lembro a respeito, foi o que me pediu o psicólogo, creio que sem querer abri uma gaveta que estava fechada a chave na minha cabeça.

Eu te ajudo, tenho os contatos, podemos ir dar uma olhada, verificar o porquê rejeitaram a filha e a ti.

Ficou agarrado a ele para dormir, mas sua cabeça dava voltas e voltas.

Pela primeira vez, perdeu a hora de levantar-se, teve que se arrumar as pressas para a faculdade.  Se as aulas estiverem chatas, ou não conseguir se concentrar me manda um WhatsApp, vamos dar uma olhada no endereço que tenho.

Realmente não conseguia se concentrar.   Avisou que podia sair.

Jameson levava os papeis que tinha com o endereço.

Era em Williamburg, Jameson, estava com o furgão do pai, lograram localizar o endereço, era um prédio humilde, cheio de crianças, mães com carrinhos de bebês, reunidas fazendo fofocas.

Perguntaram pela família, uma das mulheres torceu o nariz, dizendo o andar o apartamento.

Quando tocaram a campainha, se escutou um barulho incrível de crianças.  Abriu uma mulher despenteada, uma roupa que cheirava a usada, o cheiro da casa era igual.  Pediram para falar com ela, precisavam de uma orientação.   Ela os fez entrar, a sala era uma confusão incrível de roupas jogadas por todos os lados.

Ela foi arrebanhando tudo, pensaram que ia levar para outro lugar, mas que nada jogou tudo num canto.

Tenho horror a casa, arrumar casa.  Saíram duas criança de idade indefinidas, meio desnutridas, são meus netos, meu filho está no exército, sua mulher também, como estão de missão, as deixam aqui.

A senhora tem mais netos?

Mais dois, de meu outro filho.

Não tem nenhuma filha, a cara dela se torceu.  Tinha uma, morreu com 16 anos, nunca soubemos realmente o que se passou, a casamos, porque era uma boca a mais para alimentar, mas meses depois de casada, sumiu de casa, se escapou do marido, veio pedir para ficar aqui, lhe disse que tinha sua casa.   Não soubemos mais, até que vieram da polícia, que estava no hospital parindo.   Nesse tempo o marido já tinha pedido o divórcio, por abandono, nunca soubemos se o filho era dele ou não.   Ela morreu no parto, ele não se interessou, apareceu uma mulher nos ofereceu dinheiro por ele.  Tudo que sabíamos era que vivia na rua, aonde parece ser que se drogava.

Porque a senhora não a ajudou, era sua filha.

Nós quando uma filha se vai de casa, é um alívio, porque não servem para muita coisa.

E seu neto, nunca procurou por ele?

Bom o dinheiro que ganhamos por ele, nos ajudou durante um tempo, para que os meninos estudassem, nada mais.

Tudo era de uma simplicidade absoluta, nem se preocupava com o que estava contando.

Omar fervia de raiva. 

Bom eu sou o seu neto, fui maltratado, tive milhões de problemas, pois como na ficha dela constava que tomava drogas, ninguém me quis em adoção.  Durante quase toda minha vida, pensei que a bruxa que chamava de mãe, o era de verdade.   Levei muitas surras, fui sacudido, mas nada disso me impediu, seguir adiante.

Aonde está seu marido.

A cara dela era de espanto.  Trabalhando, é alfaiate, mande um desses meninos ir chama-lo.

Eu telefono, falou com o homem em hebreu pensando que ele não entendia.  Ele cortou o que ela falava, pegou no telefone, creio que o senhor deve vir imediatamente a sua casa, pois vou chamar a polícia.

Dez minutos depois chegava um homem gordo, com os cabelos sebentos, mal vestido para quem era um alfaiate.    Chegou sem folego.

Estive aqui conversando com essa senhora, sobre sua filha.  Ele repetiu mais ou menos o que tinha falado ela, apenas disse que sua filha e seu neto tinham morrido.

A mulher fazia sinal para ficarem quietos.

Bom senhor, eu sou seu neto, sua mulher me vendeu a uma mulher que levava crianças daqui para Israel, para casais que fosse consanguíneos, para que estes tivessem filhos.

Qual a satisfação que deram ao marido?

Nunca soubemos se ele era o pai da criança ou não, pelo tempo acreditamos que sim, ele apenas sabe que ela morreu.   Ele era muito mais velho do que ela, estava solteiro, nunca tinha se casado.

Pode o senhor telefonar, para saber se podemos visita-lo, não diga nada os dois falamos hebreu, portanto, somente pergunta se podemos ir até sua casa, o senhor nos leva.

Escutaram a conversa, quando saíram o marido disse para a mulher, conversamos quando volte.

Estava furioso, andei como um louco procurando minha filha pelo bairro, depois pela cidade, mas nunca encontrei, era o proprietário do atelier, acabei tendo que vender, por não conseguir trabalhar.   Quando minha mulher chamou do hospital, dizendo que estava morta, foi tudo uma grande confusão.   Ela sempre toma a frente de tudo, menos da casa, é relaxada.  Disse que enterrariam minha filha com o bebê, já que era um bastardo.

Agora entendo, porque enquanto eu estive deprimido, havia dinheiro em casa para tudo.  Pensei que tivesse sido a comunidade que tivesse ajudado.   Hoje trabalho no atelier, que foi meu, passei a ser um simples ajudante.

Olhava para o seu neto, tens coisas dela, essa maneira de olhar inquisitória, ela era frágil, mas inteligente, era a melhor de sua classe.   Até que a mãe quando fez 16 anos resolveu que tinha que se casar.    Quando ela mete uma coisa na cabeça, não há maneira de tirar a ideia de lugar.

Tinham oferecido esse professor, para ser seu marido, ele tinha cuidado dos pais, que vieram da Polônia, depois da guerra.    Seria raro que uma mulher quisesse se casar com ele, pois além de nunca ir a sinagoga, vinha com uma bagagem pesada.  Seus pais tinham perdido o juízo.

A casa estava toda fechada com grades.

Quando o homem abriu a porta, foi para o Omar, como se ver num espelho.  O homem ficou confuso, meu nome é Yosef Rabkin, em que posso ajudar.

A casa estava em perfeita ordem, nada fora de lugar, tudo limpo.  Mas realmente as janelas tinham grades.

Contou a história, escondeu a cara entre as mãos, nunca pude pedir perdão a ela, pela minha brutalidade.  Estava destroçado, meus pais tinham morrido, vim com eles desde a Polônia, estávamos subnutridos, aqui nos ajudaram, eu comecei a estudar, mas eles, nunca conseguiram voltar a realidade, pareciam crianças, que se perderam num labirinto, era muito difícil cuidar deles, eu tinha que trabalhar para sustentar os dois, me esqueci de casar, de manter um relacionamento com uma mulher.

Só fui me preocupar com isso, quando fiquei literalmente sozinho, essas mulheres que arrumam casamento, ficaram o tempo todo atrás de mim.  Quando conheci sua filha, se dirigia ao seu avô, vi que era querida pelo senhor, pensei é uma pessoa amorosa.   Era ela quem mantinha a casa em ordem.

Foi tudo muito rápido quando vi, já estávamos casado, nem sabia como me comportar com uma mulher na cama.   Ao mesmo tempo era brusco, sentia minha intimidade invadida.  Estava acostumado que tudo estivesse no seu lugar como antes.    Nem lhe dei tempo de pensar que era a dona da casa. Tudo que eu sabia de sexo era a masturbação, com isso me contentava, até que tentei por todos os meios fazer sexo com ela, não da forma essa idiota dos que vão a sinagoga, rasguei suas roupas, a penetrei sem preparação nenhuma, como te  masturbas estava pensando só no meu prazer, o dela achava que era igual ao meu.  Foi um verdadeiro horror, descobrir a cama cheia de sangue.  Fiquei fora de mim, pois tinha me comportado como um selvagem, a partir dai não houve remédio, ela morria de medo de mim.  No fundo eu também pois me sentia um mal nascido, um bruto.   Por mais que tentasse, não me deixava me aproximar, um dia voltei para casa não estava, procurei, falei com a polícia nada.  Fui a casa deles, tampouco sabiam nada.  Sua mulher disse que por lá não tinha aparecido.

Mas ela a viu sim, sequer a deixou entrar, disse que ali não era mais sua casa.   A cara do velho era de ódio absoluto.

Só me avisaram quando o caixão já estava fechado, com ela, o bebê dentro.

Só ela, o bebê sou eu.

Por isso eres parecido comigo.   Olhava para Omar com verdadeira adoração, ignorando o resto começou a lhe perguntar, gostas de ler?  Música, parecia um garoto que encontra outro que tem afinidades.

Lhe deu pena dele imensa, não sabia que de sua brutalidade tinha nascido um filho, não tinha tido tempo de se desculpar.

Bem tua sogra me vendeu a uma mulher que comprava bebês, para casais em Israel, tinham que ser judeus.  Mas claro, ela viveu na rua, constava que tinha usado drogas, nunca saberemos se era verdade.  Então ninguém quis me adotar, me criaram eles, me deram uma vida de merda até que consegui escapar.  Aqui estou.

O homem tinha sede de saber tudo desse filho que pensava morto.  Podemos nos ver mais vezes, trocaram celular.   Ficou com pena dele.  Tinha culpa, mas nem sabia basicamente que ele tinha existido.

Foram levar o outro para casa, quando chegaram viram uma baita confusão na porta, era a mulher arrastando malas imensas, para ir embora.

Um detalhe importante, sem sair do carro, fez um gesto ela que se apanhe, tua mãe, não era filha dessa bruxa, era filha do meu primeiro casamento, por isso a casou, para se livrar dela, meu sonho era que minha filha fosse para a universidade, os filhos desta são um vago, o que está no exército, foi obrigado a ir, ou iria para a cadeia.  Tem dois filhos, cada um de uma mulher diferente.   O outro nem ideia de aonde anda. A Casa é esse chiqueiro que vocês veem.

Ainda por cima essa filha da puta, te vendeu ao melhor postor, melhor que vá embora, antes que tenha que passar o resto da vida na cadeia.   Já não tenho forças.  Começou a hiper ventilar, o levaram para o hospital.    Avisaram seu pai verdadeiro, Yosef, apareceu em seguida, contaram o sucedido, ele tampouco sabia que sua mulher era filha do primeiro casamento, daí a pressa da outra casa-la.

Veja te trouxe isso, era a foto dos dois no dia do casamento, ela era uma menina frágil, se via na foto, ele estava incomodo, olhando para o chão.

Jameson foi falar mais afastado com seus pais.

Teu amigo é especial, te olha com um amor imenso.   Sei por que já amei um homem, hoje não tenho vergonha de dizer isso. Segurou as mãos do Omar, quero pelo menos te conhecer, saber o que fazes.

Ele contou, que estava terminando a faculdade, que tinha procurado por isso, pois estava escrevendo sobre ele, o que tinha vivido.

Se quiseres saber sobre a história da minha família, eu posso te contar tudo, depois da guerra estava tudo muito desestruturado.    Imagina chegar a essa terra desconhecida, com dois pais, que se agarravam das mãos, como duas crianças,  eu tinha ficado escondido com uma senhora, ela os encontrou, num deposito de retornados dos campos.  Mas aqui, foram perdendo gradativamente a cordura, ao final eram como crianças, passavam o dia, vendo televisão, todos os programas infantis.   Eu só pude ir a universidade, depois que fiquei literalmente sozinho, mas isso já falaremos.

Que mais fazes, lhe contou da música, isso é herança genética, meus pais eram músicos, ele tocava violoncelo, ela tocava harpa, cantava muito bem.     Mas o interessante que depois não suportavam a música.

A música me salvou, quando estava para explodir, se conseguia comprava um bilhete para o poleiro, do teatro, ia assistir um concerto, para tentar me relaxar, muitas vezes pensei em me jogar no rio,  mas nem por isso, não podia me dar o luxo de deixar os dois sozinhos.

Agora me sinto só, as vezes passo dias em silencio, lendo, o som do silencio é mais profundo.

Ficou olhando para ele, quando tinha muita gente junta, ele gostava disso também o som do silencio.

Vieram avisar que seu avô estava fora de perigo.  Pode deixar eu passo a noite com ele, assim creio que podes descansar, muitas notícias, muita coisa para pensar, colocou as mãos em cima das dele.  Estou muito emocionado em saber que tenho um filho. Ficarei contente que me deixe participar, nem que seja de longe da tua vida.

Nesse momento chegava Maria com Jimmy.  Maria o beijou, o que fazes aqui Yosef?

Ele é o meu pai Maria, o conheces?

Sim é diretor da escola que trabalho.  Você viu teu filho cantando, não se deu conta ainda.

A cara do Yosef era ótima, era você meu filho cantando como os anjos. As lagrimas corriam pela sua cara.

Jameson, comentou, bem que me parecia conhece-lo, mas nunca tinha sido apresentados.

Contou que o médico já tinha vindo, que estava fora de perigo.  Yosef diz que vai passar a noite com ele.  Depois se ele quiser o levo para minha casa.

Ele depois no carro, ficou quieto, era muita informação na sua cabeça, precisava digerir, Maria queria que fosse para a casa deles, mas disse que não, que precisava de silencio, da companhia do Jameson, estaria tranquilo.

Tomou um banho, quando voltou para o salão, Jameson, estava sentado em sua poltrona, olhando para fora, se sentou em cima dele, se acocorou como uma criança, ficou chorando, abraçado a ele.

Tiveste o azar de ter duas bruxas na tua vida, ou melhor antes de nasceres, mas agora estamos em paz. O carregou nos seus braços para a cama, ficaram ali abraçados, até que ele conseguiu dormir.   Jameson ficou preocupado, pois era como se ele continuasse chorando dormindo.

No dia seguinte, arrumou um tempo para passar no hospital, o avô já estava num quarto, com outra pessoa.  Yosef tinha resolvido tudo. 

Tens algumas coisas de tua mãe, essa maneira de olhar, me encanta saber que sobreviveste a tudo isso.   Yosef me convidou para ficar na casa dele, quando sair daqui.   Preciso de paz, para recuperar minha vida.   Talvez aceite.

Disse a Yosef que tinha que ir ensaiar.

Posso ir contigo, adoraria ver, escutar outra vez você cantando.

Foi junto com ele.  Ontem mal preguei o olho pensando em ti.  Não posso dizer que senti tua falta, porque pensava que estavas morto.  Portanto, nunca tinha te visto.   Mas as vezes pensava a se meu filho tivesse sobrevivido, como seria.

Quando viu Maria lá no ensaio, ficou sentado ao seu lado, no fundo da sinagoga.

Esta lhe disse tens que vir domingo, eles cantam durante a cerimônia.  O interessante é que teu filho não é religioso.

Passou a ir todos os dias ao ensaio.   No sábado, Omar disse a ele, que no domingo rezaria um Kadish atrasado pela sua mãe, se ele queria participar. 

Não sei rezar, mas estarei ao teu lado.   Vou trazer teu avô também, ele vai gostar, disse que depois da morte da tua mãe, nunca mais voltou a sinagoga.    Eu só fui no meu casamento, estive buscando para ver se encontrava alguma foto dela, encontrei essa, que foi a que a casamenteira me mostrou.  Vive na mesa de cabeceira,

Era sua mãe, que parecia um bibelô, sentada num desses cenários de fotógrafos, com a cabeça cheia de laços. Como se usava na época.

No domingo quando eles chegaram, ele abraçou o avô que se sentou entre o Yosef e Maria, no Final disse que hoje cantaria um Kadish pela sua mãe, que não chegou a conhecer, que sofreu muito nos poucos anos de vida que teve. Chamou seu avô, o apresentou, bem como seu pai, por último ao meu companheiro Jameson.  Foi um Kadish emocional, pois pela cara de todos eles corriam lagrimas.

Agora que a verdade tinha vindo a tona, o que valia era seguir adiante.

A cumplicidade que surgiu entre ele e seu pai, foi boa, conseguiam aparar suas arestas, agora a família tinha ficado maior, segundo a Maria, podia comemorar, tanto as festividades católica como as judias.  Para ela isso era um luxo.

Jameson apesar do ciúmes, defendia seu espaço com unhas e dentes.   Lhe dizia sempre eu te amo, nunca pensei em dizer isso a ninguém, mas eres a coisa mais importante da minha vida, agora ele era professor adjunto da universidade. 

A ele quando convidaram para ser cantor de outra sinagoga, disse que nem pensar, ele era daquela, aonde o povo as pessoas simples me necessitam.

Tinham conseguido, através de seu pai, da Maria, mesmo do Jimmy que conseguia material bom mais barato, restaurar as partes mais estragadas da sinagoga.    Todos os dias que tinham canto, agora estavam cheios, não havia separações de famílias, estavam ali todos juntos, sem distinção de raças, credos.   Segundo o rabino, era uma sinagoga ecumênica, recebia todo mundo que precisava de paz de espírito.

Outras sinagogas, ajudavam a melhorar essa.   Tinham agora na antiga casa do padre, feito um lugar para os que estavam na rua dormir.   Davam preferencias as famílias, as que tentavam a ajudar a se colocarem de novo em pé, para enfrentar a vida.

Ele estava feliz, tinha agora uma família, grande, como sempre tinha sonhado.  Agora sabia o rosto de sua mãe, a mulher que as vezes aparecia em seu sonhos, agora tinha cara.

No ano seguinte, conseguiram que um sacerdote viesse fazer uma missa de final de ano, ecumênica, assim valia para todos.  O grupo atuou, ele fez questão de cantar uma coisa que preparou com cuidado um Kyrie para a Missa.   As pessoas ficaram com os cabelos em pé, foi alguma coisa emocional.   Era sua maneira de dizer a sua mãe, que agora, aonde estivesse, que ele estava bem.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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