lunes, 24 de agosto de 2020

VIA DE ESCAPE

 

                                              VÍA DE ESCAPE

 

Escutava sua avó cantando uma de suas músicas preferidas,  “Bom dia Tristeza” na voz da sua cantora preferida “Elizeth Cardoso”, isso era sua música da manhã, devia ter trabalhado até tarde na sua máquina de costura, a tinha ajudado até tarde, quando o mandou dormir pois cabeceava  muito, vais acabar cortando o que não deve.

Ela na verdade dormia pouco, mas estava preocupado, o dinheiro nunca chegava, ele agora, fazia bijuterias, aproveitando o que lhe tinha dado uma vizinha, sua filha fazia, mas tinha morrido de uma sobre dose, tinha se metido como ela dizia com quem não devia.

Mas ali, era difícil não se meter com quem não devia.  Ele não podia dizer nada, sua avó ficava na sua cabeça, já me basta dois filhos idiotas, um foi embora daqui com um homem, a tua mãe nunca assentou a cabeça, pensando que era a passista mais incrível do mundo, se mandou sabe-se lá com quem para as Ouropas, nunca dizia Europa.

O tinha obrigado a estudar, não posso te mandar para a universidade, não tenho dinheiro, essa merda de costuras mal dá para a gente comer, comprar os meus putos remédios.

Ele no dias de feira descia com pasta o que chamava duas folhas de cortiça, com uma moldura, forrado de feltro negro, aonde colocava as pulseiras, os brincos, que tinha feito, tinha aprendido de olhar a garota trabalhar.  Mas ela fazia o normal, ele improvisava. Acrescentava pedras que encontrava numa parte do parque ali perto, criava coisas diferentes.

Vendia logo tudo, tinha uma semana para repor.  Esta semana tinha chovido justamente torrencialmente nos dias da feira, portanto não vendeu nada.

Sua avó continuava com a ladainha, para que fui me casar com esse cachorrão, estava tão bem solteira, trabalhando sim, em casa de alta costura.  Agora quem vai querer uma velha com reumatismo, com pressão alta, o escambau.  Ai soltava muitos palavrões, mas ai dele se falasse algum, o ameaçava de lavar sua boca com sabão.    Isso que ele já tinha 17 anos.

Era sim franzino, magro, desengonçado, um mulato sarara, de olhos azuis.   Nos dias de feira, as senhoras lhe davam sempre legumes que sobravam para fazer uma sopa para sua avô.

Meu filho se mexa, vá até a casa de mãe Balbina, para ver se tem um chá que me relaxe um pouco, tenho dor no peito.

Escutar ela reclamar de alguma dor, era que realmente estava sentindo, acabou de escovar os dentes, enfiou uma camiseta bem velha, deu um beijo na testa dela, vou sim vó, tô saindo, mas não tenha qualquer, piripaque enquanto eu não chegue.   Só tinha a ela na vida, morria de medo de ficar sozinho.

As vezes ia dormir, pensando, se me desperto amanhã ela não está, como vou fazer, se levantava outra vez, ia até a sala, do apertamento, assim ela dizia do lugar que moravam, lhe dava um beijo.

Subiu correndo a favela, até a casa de santo de Mãe Balbina.  Ela logo mostrou a bochecha para ele beijar.  Era sua madrinha.

O que é desta vez meu filho.   Ela está com aquela dor no peito outra vez Mãe Balbina, não temos dinheiro para comprar o remédio, é muito caro. Ela mandou pedir se a senhora não tem um chá para essa dor.

Ah minha pobre amiga, virou-se séria para ele, que musica começou cantando hoje?

Bom dia Tristeza, a senhora sabe que quando ela canta isso, é porque está com saudade do meu tio, da minha mãe, esses dois desgraçados que desapareceram no mundo.

Ele nem sabia quem era seu tio, nunca o tinha visto na vida, só sabia que tinha ido embora.

Não se preocupe, que ele volta.  Fechou os olhos, juntou as pedras, búzios que estavam ali, jogou mesmo em pé.

Sabes o que devias fazer hoje, ir vender tuas coisas na praia, ali em frente ao Copacabana Palace, fica cheio de turistas cheio da grana.    Pode ir, que eu desço daqui a pouco para fazer companhia para ela, assim converso um pouco, falando mal da vida alheia, que relaxa muito.

Voltou com o chá, o preparou, colocou ao lado dela.  Mãe Balbina me disse que o dia está bom para ir vender minhas coisas em frente ao Copacabana Palace, diz que a cidade deve estar cheia de turistas.  Quem sabe não ganho suficiente para comprar seu remédio.

Mal Mãe Balbina colocou o pé na porta, lhe estendeu dinheiro para o ônibus, para Copacabana, saiu disparado, pela rua da Matriz, para pegar o ônibus que ia para Copacabana.  No ponto estava um grupo de garotos da sua idade, ia para Copa, para ganhar uns trocados.  Uns roubavam os turistas, outros se prostituiam.  Mas ele queria dinheiro limpo para comprar remédio para sua avó.   Se ela desconfiasse que ele tinha feito alguma outra coisa, o céu ficava negro.   Atreveria ainda levantar o chinelo para ele.

Ficou escutando a conversa deles, um deles disse que no dia anterior tinha dormido com um italiano, pau pequeno, enfiei meu caralho naquele cu branco, vou me encontrar com ele. Diz que hoje tem um grupo grande.

Desceu na Rua Barata Ribeiro, os outros foram andando quase correndo para a praia, mas ele, foi indo devagar, balançando a cabeça, pensando, tenho que arrumar um emprego rápido. Senão estava fudido, mas nem uma roupa descente para ir pedir emprego numa boutique do shopping ele tinha.  Seu tênis estava furado, tinha colocado um troço de papelão para enganar.

Tinham tido que se mudar, viviam numa casa ao lado de Mãe Balbina, mas sua avó não aguentava mais subir a ladeira toda.  O jeito foi mudar para esse apertamento, a cozinha era mínima, logo na entrada, o banheiro idem, o quarto era dela, mas de uns tempos para cá dizia que dormisse ele ali, ela preferia dormir no cadeirão da sala.

Quase que um carro lhe pega ao atravessar a Av. Atlântica, estava com a cabeça nas nuvens.

Viu aonde os garotos se dirigiam.  Se sentou um pouco atrás ficou vendo como faziam, uma pessoa que estava nas espreguiçadeiras, se virou, parece que o viu ali mais atrás sentado, desanimado.  Viu que o homem era alto, com um corpo incrível, meio moreno como ele, cabelos de sarará como o seu.    O homem se sentou ao seu lado na areia, começou a falar com ele em italiano.

Desculpe moço, só falo um pouco de inglês que aprendi na escola, mais nada.

Então começou a falar com ele em português.  Ficou surpreso olhando para ele, a cara não lhe era desconhecida.

Não vais fazer como teus amigos, tentar arrumar um namorado italiano para tirar dinheiro dos tontos.

Deus me livre, o chinelo ia cantar na minha bunda, a velha não ia me perdoar.   Nada disso, vim aqui vender as bijuterias que faço, para tentar comprar um remédio para minha avó. Mas estava esperando ver se a praia ficava mais cheia, tem muito homem aqui, quero ver se chegam mais mulheres. 

Esses meninos fazem isso, depois todo mundo os chama de viado lá no morro.   Eu na verdade estava era aqui pensando como sair da situação que estou.   Estou num beco sem saída, não tenho para aonde correr.

O outro soltou, “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.

Isso diz sempre minha avó, que eu devo pensar sempre muito antes de tomar qualquer decisão.

Mas ela já tá muito velha, nem sei como aguenta ainda todos os dias costurar até tão tarde, mas não tem jeito, eu ajudo, mas só temos uma máquina de costura, a última vez que ela teve que fazer um exame sério, tivemos que vender a outra.

Nem sabia porque estava falando com esse homem que olhava para ele atentamente, hoje começou o dia cantando sua música preferida, Bom dia Tristeza, sinal que a coisa tá feia, fui correndo até a casa de Mãe Balbina, atrás de um chá, porque o remédio que toma acabou a dias, tinha dor no peito.   Por isso tenho que vender pelo menos a metade do que está aqui. Esse puto remédio custa muito caro.   Pior nem dura o mês inteiro.  Esta semana choveu no dia da feira aonde vendo bem, não pude fazer nada.

Deixa me ver o que tens aí.

Ele abriu seu expositor, o homem começou a passar a mão por tudo.

Que diferente.

Eu ganhei isso da mãe da garota que me ensinou a fazer.  Ela morreu nas drogas, a mãe ia jogar fora, eu estou aproveitando, mas claro daqui a pouco não terei dinheiro para comprar nada, eu improviso vou num parque perto de casa, que quando chove desce do morro muitas pedras, algumas são bonitas, como essa, eu as lixo, limpo bem, passo verniz, fica diferente do que fazem os outros que trabalham com bijuteria.

O homem, se levantou, fez um escândalo tremendo, chamado o pessoal que esta na espreguiçadeira, mas falando em italiano.  Venham ver que maravilha que encontrei nas mãos desse garoto, bom para comprar, para dar de presente.

Vieram todos, cada um foi escolhendo uma coisa, quando perguntavam o preço, o homem nem deixava ele responder.   Cinquenta reais cada um.   Ia dizer que era muito, mas ele lhe piscou.

Quando viu não tinha mais nada, sentou-se no chão, com o dinheiro na mão, chorando de emoção, obrigado moço, nessa terra ninguém ajuda ninguém.

O amor da vida de minha avó, meu tio, sumiu no mundo, nunca o conheci, minha mãe, nunca se preocupou comigo, leva desaparecida dois anos, foi embora não sei para onde com um turista que conheceu.   Nunca tinha dinheiro para colocar em casa, só pensava em roupas, sapatos, nem sei quem é meu pai.  A única pessoa que ajuda é Mãe Balbina, mas claro ela vive do dinheiro dos clientes da macumba.   Tampouco é muito, imagina no Morro de Santa Marta, ninguém tem dinheiro sobrando, a não ser os traficantes.   Uma vez minha avó me viu falando com um deles, me deu uma surra de fazer gosto.

Eu faço qualquer coisa por ela.

Como chama essa avó que você ama tanto?

Maria Mercedes Martins, mas todo mundo a chama de Naná, não sei por quê.

Mas ela não morava perto da casa da Mãe Balbina?

Gente, faz muitos anos que nos mudamos para o apertamento, como ela fala do apartamento que vivemos, não aguentava mais subir o morro.

Aí está a explicação.

Olhe bem para minha cara.   Olhou, somos um pouco parecidos, ele tinha um troço de espelho para as pessoas olharem o que compravam, o homem puxou juntou a sua cara com a dele, olhe agora, eram parecidos.

Eu sou Oliva, seu tio.

Ficou com a boca aberta, espere aqui não se mexa.

Como se ele fosse capaz de se mexer.  Esse homem bonito era seu tio. Caramba, será que Mãe Balbina tinha visto isso no jogo para mandar ele vir até ali.

Ele voltou com as suas coisas.  Estava agora de bermudas, camisetas, uma sandália bonita.

Fez sinal para um taxi, aonde mesmo que dizes que mora.

Ele nunca tinha entrado num taxi, disse a direção Barão de Macaúbas, na parte baixa do Morro de Santa Marta.  O homem olhou para trás, um homem bem vestido do lado de um garoto mal vestido, dava para ver os buracos na camiseta dele.

Ufa, espero que Mãe Balbina esteja lá, pois ela pode ter um enfarte. Fez o sinal da cruz.

Calma garoto, todos esses anos, mandei dinheiro para cá, mas sempre voltava como destinatário desconhecido, cheguei a pensar que tinha morrido.

E a primeira vez em vinte anos que volto ao Brasil, se ela não estava viva, não tinha por que voltar, me enganei.

Então eres meu sobrinho.  Não sabes mesmo aonde está tua mãe?

Menor ideia, ela desapareceu uma vez, mas voltou, agora fazem uns dez anos que não sabemos nada dela.   Até melhor, porque ela roubava o pouco dinheiro que a vô conseguia, para suas roupas para ir ao samba brilhar como dizia.

Sim sempre foi louca pelo samba.   Mas chegou a casar com teu pai.

Mas se não sei quem é meu pai, quem me deu esse nome foi minha avô, pois nem registro eu tinha, não podia estudar.   Agora acabei a escola, mas não posso nem pensar ir a uma universidade, não temos dinheiro.

Vá pedir algum emprego por aí, quando dizes que vives no morro de Santa Marta, já te olham de esquerda, ainda mais, roupas velhas, remendadas, quem vai dar um emprego assim para uma pessoa.   Esse tênis, era de alguém, Mãe Balbina me deu, mas tá com a sola furada, não tem problema, eu não o levanto do chão assim ninguém vê.

Seu tio olhava para ele, passou a mão pelos seus cabelos, ah meu menino, eu estive igual a ti, o mundo mudou quando eu me mandei.   Depois te conto minha história.

Estava virando a esquina quando viram uma ambulância na porta do prédio.  Ao lado estava Mãe Balbina, ela quando o viu, saiu correndo, meu filho, ela teve um derrame, claro para isso não serve um chazinho.  Olhou o seu tio dizendo, seu filho da puta, voltou né.

Aonde vão levá-la?

Ao Pedro Ernesto, aonde vão os pobres morrerem.   Ele disse ao do taxi, espere por favor, como tinha dado uma gorjeta, o homem parou.

Ele falou com os da ambulância, vamos para a Clínica San Vicente, ok.  Os dois olharam para ele, venham vamos, não querem que ela morra aqui.

Mandou que ele é Mãe Balbina fossem no Taxi, deu dinheiro para ele.  Pague o taxi lá.

Subiu na ambulância, pegando na mão da sua mãe, que a apertou.

Ele começou a cantar baixinho para ela, “Bom dia Tristeza”,

Quando chegaram na clínica, não queriam atender, ele tirou um cartão de crédito, quero um quarto particular, sou Oliva, tudo isso falando em italiano, costureiro Italiano, quero o melhor para essa senhora.  Foi ela quem me ensinou a costurar.

Foi para a sala de emergência.   Perdão Mãe Balbina, beijou a sua mão, nem tive tempo de falar direito com a senhora.   Estava contando pro Juca, que durante muitos anos, mandava dinheiro para ela, mas as cartas voltavam.  Destinatário desconhecido, pensei que tinha morrido, por isso nunca vinha ao Brasil.

Ficaram sentados ali esperando, viu que o Juca tinha cara de terror, que rezava murmurando.

Que passa Juca, este de repente explodiu.   Que passa, se ela morre, estou literalmente fudido, pois não tenho mais ninguém na vida, ela me criou desde bebê, me fez estudar, nada de sonhos de ser jogador de futebol para ficar rico, tinha que estudar duro, as melhores notas tinham que ser as minhas, me deu tudo que pode, dividia comigo o pouco de comida que as vezes tínhamos, a puta da minha mãe deu no pé com o primeiro gringo que a tirou da merda, como tu, nunca mais se preocupou com ela.

Era duro chegar ao final do mês, mas ela não deixa que eu desistisse, as coisas vão se arrumar, ainda escuto sua música na minha cabeça.  O seu Bom dia tristeza hoje, era realmente muito triste.

Mãe Balbina, não estás sozinho, tens a mim.  Realmente qualquer problema ele corria para ela, sou tua madrinha lembre-se disso.   Vê como os Orixás não mentem.  Te disse aonde ir hoje porque sabia que ia acontecer alguma coisa.  Encontraste teu tio.

Quando a levaram para o quarto, o médico disse que a deixassem descansar um pouco, está muito agitada, fala no filho, apontou ao Juca, não sou seu neto.

O filho é ele. Apontou o tio, com raiva.  De qualquer maneira esperem um pouco, que lhe demos um remédio para ficar mais tranquila. Já venho chamá-los.

Vamos entrar os dois, não precisa ficar com ciúmes, sei que ela te quer muito.

Quando o médico disse que podia entrar, ela com muito esforço levantou a mão da cama. Meu filho, meu neto, com cada mão segurou a deles.  Não chores Juca, hoje rezei tanto por um milagre, tenho medo de te deixar sozinho no mundo, mas teu tio está aqui.

Sabe vô, ele mandou dinheiro para ti muitos anos, deve ser quando mudamos para o apertamento, pois as cartas voltaram, disse que te mandava dinheiro.

Meu filho como estas bonito, aonde andavas.

Moro em Milão mãe, tenho uma casa de alta costura, afinal aprendi tudo com a senhora, lembra que eu a ajudava com a costura invisível, foi o que me salvou.

Ele abaixou a cabeça, beijando na testa como o Juca fazia, ela ficou passando a mão pela sua cara, vê Juca, um dia serás bonito como teu tio.   Agora preciso dormir um pouco, se via que tinha a respiração forte, ele chamou o médico, lhe deram mais medicação.

Ela está com problemas nos pulmões, o coração está falido, tem as pernas muito inchadas, estava sentado com os três, comentando essas coisas.  Se supera, podemos colocar um by pass, caso contrário, tem poucas opções.   O senhor agiu bem, trazendo para cá, somos especialistas, num outro hospital, já estaria morta.

Ele deu dinheiro para Mãe Balbina se ela queria pegar um taxi para ir para casa.

Não me conheces, garoto, te vi nascer, acha que ia abandonar a minha melhor amiga aqui, com vocês, que são dois bananas.   Essa mulher aguentou muito da vida.   Depois  ficou sentada com ela um tempo segurando suas mãos.

Oliva foi ao hotel, com ele, quando disseram que não podia subir, reclamou, é meu sobrinho, olha estou com minha mãe no hospital, viemos só tomar banho.  Aonde posso comprar umas roupas para meu sobrinho, além de um tênis.

A essa hora da noite, só no Rio Sul.  Os dois tomaram um banho rápido, foram ao Rio Sul, lhe comprou roupa nova, bem como um tênis, ele estava com vergonha, sua cueca estava toda furada, remendada mil vezes pela sua avô.

Foram com uma bolsa cheia de roupa para o hospital.   Ficaram os dois sentados a noite inteira ao lado dela.

Juca acabou dormindo, com a cabeça no colchão segurando sua mão.   Ela aproveitou para falar com o filho.

Meu filho, fico contente em saber que não te esqueceste de mim, mas preciso que cuides desse menino, não o deixei cair de lado errado esse tempo todo, devia ter sido igual contigo, não tive compreensão.  Me perdoa.

Eu e que te peço perdão mãe.  De manhã cedo ela respirava com dificuldade, Mãe Balbina, voltou, ficou rezando junto dela.  Lá pelas tantas olhou para cima dizendo, vai minha amiga, vai descansar.  Tinha falecido.

Os dois choravam como dois bananas.  Ela colocou ordem no pedaço, temos que conseguir um lugar para enterrá-la como merece.  Depois tens que conseguir a guarda do Juca, ele não tem documento nenhum, a não ser o que ela fez, o registrou como seu filho.  Agora é como se fosse teu irmão.

A senhora conhece algum advogado, para resolver esses tramites?

Sim tenho um bom, que é meu cliente.  Espera de sua bolsa imensa tirou uma agenda, chamou passo o celular velho ao Oliva.

Conversaram, iria conseguir um tumulo no cemitério do Caju, ali podiam fazer o velório também.   Ela ficaria na geladeira do hospital até o dia seguinte.  Mãe Balbina, iria ao apartamento buscar uma roupa para vesti-la.

Ele queria ir junto.  Oliva disse que não que era melhor ele ficar junto com ele. Temos que resolver seus documentos, conseguir uma ordem para que fiques sobre minha guarda, bem como um passaporte, vais comigo para Itália.

Ele pensou em bater o pé dizendo que de maneira nenhuma ia com ele que tinha abandonado sua mãe, mas se lembrou que um dia tinha criticado alguém.  Ela lhe respondeu, te achas melhor do que ele, cada um tem que ter o sentido de sobrevivência, senão a coisa fica preta.

Na saída avisou que queria uma nota fiscal, pagou tudo.

Foram para o hotel, Mãe Balbina tinha seu celular, bem como o número de seu quarto no Hotel Excelsior.

Precisas cortar esses cabelos, quando chegaram no hotel, pediu um quarto ao lado do seu, para seu sobrinho.  Pediu que avisassem um dos italianos, este apareceu em seguida, lhe apresentou esse garoto é meu sobrinho.   Ontem foi um dia movimentado, reencontrei minha mãe e meu sobrinho, ela morreu esta manhã, se aguentem sem mim, perdão.  O homem o abraçou, não se preocupe, estão se divertindo, hoje alugamos um carro com motorista, fomos ao lugares turísticos que disseste para ir.    

Oliva disse que tomassem cuidado com os garotos da praia.   Nem pensar, são crianças, gostamos de homens.  Mesmo assim já sei temos que ter cuidado.

Perguntou quando seria o velório, ele disse que na manhã seguinte, no cemitério do Caju, o nome de sua mãe, Maria Mercedes Martins.

Darei um jeito de ir. Amigos são para estas coisas.

É o teu namorado, perguntou Juca.

Não tenho namorado, esse namorado é o meu trabalho, não sobra muito tempo para isso.

A avó dizia que tinhas ido embora com um homem.

Não ele nunca foi meu namorado, me ajudou isso sim, sair daqui começar uma nova vida, herdei dele a casa de costura que dirijo. Mais nada.

Morreu a dois anos atrás, sinto falta dele, foi o pai que eu não tive.

Um dia te conto tudo.

Venha, vá para teu quarto, tome um banho, te vista, vamos sair para comer alguma coisa, que só temos um café na barriga.

Quando ele voltou ao quarto do tio, ele estava do mesmo jeito, sentado, com a cara entre as mãos chorando.  O abraçou, agora o entendia, encontrar e perder a mãe no mesmo tempo devia ser difícil.   Se ele estava sentido a perda da avó, ele no fundo era seu filho.

Ele lhe deu um tapinha na cara, tenho que lavar a cara, espera.

Quando saiu do banheiro, disse, venha vamos comer aqui no Maxin’s, ou ao lado na Tratoria, que tem comida italiana para ires te acostumando.

Tratoria estava cheia, foram se sentar no Maxin’s.   Perguntou o que podiam comer, o garçom soltou logo uma feijoada.  Tens muita fome perguntou ao Juca.

Sei lá, pode ser que sim, não como nada desde ontem.

Se fartou, ao final soltou um arroto, os dois ficaram olhando um para o outro rindo.

Serás agora o filho que nunca tive.  Tens que ter paciência, pois nunca me vi nesse papel.

Saíram dali, foram ao Rio Sul, não podes ir de bermudas a um enterro, lhe comprou uma calça preta de jeans, bem como uma camiseta preta, aproveitaram para ver um casaco, quando voltarmos, iremos para o inverno da Itália, em Milão deve estar nevando, lhe comprou um casaco de plumas, ele arregalou os olhos como pratos quando viu o preço.  Isso pagávamos pelo apartamento.

Não importa, o Euro vale muito por aqui, assim que me sai barato.   Não abuses que te mime um pouco, mas agora eres meu filho.

Foram depois ao final do dia ao escritório do advogado, ele tinha os papeis todos prontos, agora vou levar a um juiz para assinar.  

Amanhã, podem ir tirar o passaporte, lhe perguntou se tinha bilhete de identidade.

Não ia tirar o ano que vem quando fizesse 18 anos.  Bom amanhã depois do enterro, fazemos isso.

Ficou emocionado no dia seguinte, uma funerária tinha se encarregado de tudo, ela estava ali com sua melhor roupa, penteada pela amiga.  Mãe Balbina, estava com suas vestes de Mãe de Santo, honrando sua amiga.  Tinha muita gente.   Balbina disse que ela sempre tinha sido generosa com os outros.  Depois chegaram todos amigos de seu tio, lhe deram pêsames, conheceram o sobrinho, só um deles disse, mas este é o garoto da praia.  Sim, mas é meu sobrinho.

Um ao lado do outro, ia recebendo os pêsames, as filhas de Santo chegaram, todas vestidas como deviam nas circunstâncias, foram ao lado do caixão cantando uma música muito bonita.

Juca chorou muito, perdia a coisa mais importante de sua vida.  Sabia que seu futuro ia mudar, mas ela o tinha criado como se fosse seu filho. Iam os dois com lenços na mão, enxugando as lagrimas.

Ele convidou Mãe Balbina para almoçar, já que iriam à cidade, foram comer na Colombo que ficava perto do escritório do advogado.   Ela soltou que ia lá com um namorado rico, quando era jovem.

Olhou o Juca comendo, olhe o que tua avó te ensinava, nada de comer como um esfomeado, que vão pensar de ti.  Ele moderou, nunca tinha visto tanta comida assim na vida dele.

É verdade Juca, eu quando cheguei a Itália, comia como um louco, fiquei gordo, depois para perder peso foi difícil.  Ele fechou os olhos imaginando o tio gordo, soltou uma risada.

De que ris?

Te estou imaginando gordo.

Ela foi com ele ao escritório do advogado, no caminho como Juca tinha parado para olhar uma vitrine, ele perguntou se achava que se devia ir ao apartamento buscar alguma coisa. 

Meu filho lá só tem trastes velhos, a roupa dele, era as que eu conseguia com minhas filhas de santo.

Esta outra figura com as roupas que compraste para ele.

Olhe é um garoto muito sério, tua mãe sempre o criou, o educou.   Estava desesperada pois queria que ele fizesse uma faculdade, mas já não tinha forças.  Ele nem sabe quem é seu pai, tua irmã nunca deu atenção para ele, nem peito quis dar, pois disse que ia estragar seu corpo.

Só pensava nesse puto samba, dizia que seria seu passaporte para arrumar um gringo para ir embora daqui, da última vez, se escapou sem dizer nem para aonde ia. 

Estou feliz, pois vai estar bem contigo.

Será como meu filho Mãe Balbina, meu medo é que nunca fui pai, tenho medo de errar.

Lembre-se como era tua mãe contigo, seja igual, mas a tua maneira.  Tenha paciência com ele.

Tu tinhas mais idade quando foste embora, ele não, tampouco viveu nas ruas como tu, sabias te virar, nisso tua mãe errou, pois o prendia ao máximo, com medo de perder, como tinha te perdido.

Resolveram tudo, no dia seguinte, iria com ele tirar os documentos.

Nessa noite jantaram com os amigos do tio, na Tratoria, falavam sem parar, riam muito, ele não entendia ainda as brincadeiras.

Seu tio lhe disse ao ouvido, os italianos falam muito, alto demais, riem e choram da mesma maneira, tudo é exagerado, há que aprender a lidar com isso.

Quando os outros souberam que ele ia levar o sobrinho com ele, era como se fosse um velho amigo deles, nunca tinha se sentido assim.

Mas o que mais se aproximou dele foi o Giorgio, que tinha visto no quarto do tio, o primeiro a saber de tudo, lhe explicava as palavras.  Achava engraçado isso.  Vou te dar aulas, para alguma coisa deve servir meu curso, sou professor.

Vivo no apartamento ao lado do seu tio, é meu melhor amigo. Mas via que ele olhava com amor ao seu tio.   Um dia lhe perguntou se era apaixonado por ele.

Riu, tu percebes, ele não, vive para o seu trabalho, não vê nada mais que isso.          Demorou, lutou demais para chegar aonde está.   Creio que isso o faz assim.  Tens que pensar que era um rapaz jovem quando saiu daqui.  Foi trabalhar, para um dos homens mais famosos de Itália, quando morreu, seu tio era como um filho para ele.  Deixou-lhe tudo.  Então para assumir a casa de moda teve que provar que era bom como o mestre, mas na verdade os últimos cinco anos, ele fazia as coleções o mestre só apresentava, já não enxergava um palmo diante do nariz.

Foi um belo gesto do seu tio, uma forma de agradecer, quem tinha sido um pai para ele.

Tu já gostaste de alguém lhe perguntou, ele falava bem devagar para Juca entender.

Não, na verdade Giorgio, sou virgem ainda, nunca fiz sexo com ninguém.   Minha avó dizia que soubesse que eu fazia sexo com os homens da praia por dinheiro me mataria de pancada.

Achava que seu filho tinha feito isso, que tinha ido embora com alguém por sexo.   Nunca chegou a saber quem ele é na verdade.

Giorgio lhe perguntou de Mãe Balbina, lhe explicou quem era, o que fazia.   Podias me levar até lá, mas sem que teu tio saiba de nada.

Digo que vou ao apartamento, antes que joguem tudo fora, para buscar minhas ferramentas, tu te ofereças a me levar.

Assim fizeram, ele foi recolher suas ferramentas, mas já estavam na casa de Mãe Balbina, lhe disse que o Giorgio queria que jogasse os Búzios para ele.

Antes lhe fez tomar um banho de descarrego.  O mandou ficar nu, pediu ao Juca que lhe jogasse devagar o banho em cima.  Foi nesse momento que Juca se apaixonou por ele.  Ela lhe estalou os dedos na frente.  Falou baixinho, terás que ter paciência, ele precisa te descobrir.

Tinha pensado que ele iria perguntar algo do tio, mas nada disso, perguntou pela situação complicada de sua família, a briga interminável por uma herança.   Sentia falta das reuniões com os irmãos, que tinham deixado de se falarem.  Seu pai tinha deixado toda a herança para ele, agora se sacrificava levando a fábrica, gostava, mas teve que fazer uma coisa que tinha odiado fazer, expulsar os irmãos, pois viviam brigando na frente dos funcionários, fazia pouco tempo que tinha conseguido reerguer a empresa.    Eram suas primeiras férias em anos.

Ela jogou, várias vezes, sem dizer uma palavra, de repente, parou, a solução vai aparecer em breve.   Então poderás, fazer isso que amas, ensinar, escrever.   Não perca teu tempo, tens tua vida não é, logo vais descobrir o amor de tua vida, esqueça o resto.  Esse dinheiro está maldito, teu pai fez isso de proposito, para te tirar o que mais gostas de fazer.

Ele confiava no Juca, falo contigo como uma pessoa adulta, vejo que tens cabeça, escutaste tudo, eu acho que ela está coberta de razão.   Eu levantei a fábrica sim, mas odeio tudo isso, gosto mesmo de escrever, dar aulas na universidade.  Tive que me licenciar para poder dirigir a fábrica.   Todos tem famílias, mas vivem como se fossem deuses, só gastam dinheiro.

Estou farto de ser um pai de filhos ingratos.  Sempre acreditei no que ela disse, que meu pai fez isso de proposito pois não suportava ter um filho intelectual, me jogava sempre isso na cara, dizia que eu era um tonto.   Fui o único da família a ir à universidade, ele não foi, teve que assumir a fábrica depois da guerra, estava arruinada. A levantou novamente.  Vou consultar um advogado.

Fiquei intrigado quando me disse que ainda vou encontrar o amor de minha vida.   Sempre tinha pensado que era seu tio.  Vejo que não.

Quando chegaram ao hotel, o ajudou a levar suas coisas para cima.  Não tenho vontade de ir a praia, já me cansei desses gritos, os escândalos porque se acham gays, me cansa, teu tio os atura, porque tem negócios com eles, como eu também, afinal são compradores.

Gostaria de ir fazer um passeio, me falaram do centro da cidade, quer ir comigo.

Claro que vou, quase lhe disse contigo vou até o inferno.  Acabaram indo a duas livrarias, ele comprou uma série de livros de arte, encontrou dois de elaboração de bijuterias, os comprou para dar depois de presente ao Juca. 

Como só voltaram de noite para o hotel, seu tio estava preocupado.

Não confias no Giorgio?

Sim é meu melhor amigo, uma pessoa inteligente, bom gosto, gosta de ler, escrever, não é como os outros, hoje dois se meteram com dois meninos negros na praia, queria sair para fuder com eles, eu avisei, quase que se meteram em confusão.

Os fiz deixarem todas as joias que gostam tanto, a carteira, foram só com um pouco de dinheiro, quase levaram porrada por causa disso.

Ele nunca se mete em confusões, aliás nunca ouvi dizer que tivesse um namorado.

O senhor tem?

Meus romances não passam de uma noite, creio que o faço mais para descarregar as energias acumuladas, nunca amei ninguém como o homem que me ajudou.

Tu já amaste alguém?

Nunca tio, sou virgem ainda, falou um pouco com vergonha, pois todos da sua idade já tinha feito sexo, ou com homens ou com mulheres.

Sempre achei que tinha que gostar da pessoa.

Antes de ir embora, foram ver Mãe Balbina, o Giorgio foi também, lhe levou um presente, metros de tecido brancos, rendas coisas que ela gostava.  Pegou seu endereço, vou lhe mandar tecidos de minha fábrica, coisas lindas veras.

Ela lhe sussurrou alguma coisa no ouvido, ele riu, fazendo um sinal positivo.   Seu tio não tinha visto o que acontecia, ficou com a pulga atrás da orelha.

No avião, todos estavam em primeira classe, seu tio tinha comprado um bilhete para ele, a princípio iria na executiva, pois não havia lugares na primeira.  Como o avião ia por São Paulo, lá uma das pessoas que tinha que embarcar, não apareceu.  Ele acabou sentado do lado do Giorgio.   O voo Rio, São Paulo, tinha sido tranquilo, mas Giorgio disse que de noite por causa que atravessavam o Atlântico numa zona de turbulência, o avião balançava muito.  Se sentires medo, segura minha mão.   Os outros estavam curtindo os últimos momentos de férias.

Sem saber muito por que começou a cantar baixinho uma que sua avó adorava, “pra dizer adeus”, Giorgio ficou prestando atenção.   Disse que era muito bonita.

Tentou dormir, mas o medo, a incerteza do futuro não o deixavam relaxar-se.  Giorgio o escutou sobre isso, não tenhas medo, lembre-se eu sempre estarei aí para ti, afinal eres meu amigo.

Começou a comentar com ele, suas possibilidades, gostaria de saber administrar coisas. Pois de uma certa maneira fiz isso todos esses anos, minha avó exigia que eu fosse o homem da casa, devia saber administrar o pouco dinheiro que tínhamos.  Nada de gastar dinheiro em besteira.

Se meu tio não me compra roupa, eu seguiria usando roupas que Mãe Balbina, arrumava das suas filhas de santo, para mim.

Sempre usei roupas dos outros, é a primeira vez que tenho roupas minhas.   Preciso arrumar um emprego, para me manter, não quero viver as custa do meu tio.  Você acha que posso conseguir um emprego de meio dia, para poder estudar, trabalhar?

Claro que sim, se queres te consigo na fábrica.  Te arrumo para começares de baixo, mas quero que aprendas tudo, seja bom observador, para saber administrar.

Seu tio num momento que foram ao banheiro lhe perguntou o que tanto ele falava com o Giorgio?

Ele me perguntou meus planos, lhe contei dos meus medos, de como pode ser meu futuro, ele me ofereceu um emprego na fábrica dele, para que eu aprendesse, mas posso estudar ao mesmo tempo. 

Esse Giorgio, vai acabar roubando meu sobrinho. 

Chegaram de manhã a Milan, cada um tinha um carro esperando, menos os três que se meteram num taxi grande, como viviam basicamente lado a lado.  Finalmente entendeu o que seu tio, Giorgio diziam de lado a lado.

Eram dois casarões, seu tio tinha no térreo e no primeiro andar a loja, e a confecção, Giorgio vivia num pequeno casarão quase igual, que tinha herdado de sua mãe.   Lhe tinha explicado que era filho do primeiro casamento de seu pai.  Que tinha sido criado a vida inteira em escola interna.   Não gostava da madrasta.   Eles vivem na mansão familiar, mas quem paga todas as despesas sou eu.

Seu tio tinha mandando preparar um quarto, quando ele olhou pela janela, Giorgio, estava do outro lado de um pátio, trocando de roupa, quando o viu nu, ficou como louco, correu para seu banheiro para se masturbar.

Seu tio começou a trabalhar imediatamente.   Giorgio saiu com ele, para comprarem o que ele quisesse, foram olhar as faculdades, lhe comprou um laptop, bem como um celular.   Mas não tenho ninguém para chamar.

Tens a mim, lhe colocou o número do seu celular.   Foi com ele até a fábrica.  Ele chamou um rapaz, mandou que lhe ensinasse a fábrica inteira.

Viu um grupo desenhando estamparia de tecidos, se interessou imediatamente.  Foi seu primeiro trabalho.  Era um aprendiz, mas foi assimilando tudo.  De noite ficava escondido atrás da cortina, esperando a hora que Giorgio tirasse a roupa, ficava muito excitado.

Tinha vergonha disso, mas não queria contar, o que ele podia pensar dele.

Semanas depois viu que seu tio entrava com um jovem manequim, acenou a mão para ele, foi para seu quarto.  Mas escutava o barulho dos dois fazendo sexo.  Chamou o Giorgio nervoso, meu tio está com um jovem no quarto, o ruído deles me deixa nervoso, posso ir para tua casa.

Claro, venha para cá, estou sentando escrevendo alguma coisa que me veio à cabeça.

Ele estava no salão de sua casa, de pijama, achava divertido isso, ele usar pijama, sentado na frente da lareira, com um laptop nas pernas escrevendo, ia colocar música, lhe perguntou se tinha escutado alguma vez Milva.

Não nunca, mas gostaria de conhecer.

Por causa da Milva descobri outra de minhas paixões, Astor Piazzolla.

A esse escutei na rádio.

Ficaram os dois sentados no sofá, ele realmente prestava a atenção, adorou a Balada de um Louco.

Ele num momento disse, tenho a sensação de que a estou vendo, tenho certeza de que representa o que canta, como se diz isso em italiano.

Já sei uma que deves gostar, esse cantor tem uma voz fantástica, ele canta operas, mas tem discos de música popular, escute essa, Erwin Schrott, cantando insensatez, de Jobim.

 Ele começou a chorar, ao escutar alguém cantando em português, se lembrou imediatamente de sua avó.

Não chore, fico nervoso, o abraçou, está tudo bem garoto.   Ele levantou a cabeça, o beijou, para Giorgio foi uma surpresa, ficou parado, mas sem saber começou a corresponder.

Iam começar a tirar a roupa, não posso, eres menor de idade, sou muito mais velho que você.

Sabes que te vejo nu, teu quarto dá para o meu, já me masturbei pensando em ti.  Fico louco quando te vejo.

Queres dormir aqui, arrumo um quarto para ti, quando olharam para fora, estava nevando, ficou ali abraçado ao Giorgio, era a primeira vez que via cair a neve.

Temos que esperar até que faça pelo menos 18 anos Juca, não posso trair a confiança de teu tio.

A partir disto, cada vez que seu tio trazia alguém ele se mandava para a casa do Giorgio, já levava inclusive roupa para o outro dia.

Mostrou inclusive ao Giorgio suas notas antes que ao seu tio, este estava preocupado com a coleção que ia lançar.  Só pensava nisso.

Um dia estava em seu ateliê, ele discutia com um homem, que não entendia o que ele queria para completar o vestido, ficou observando o mesmo, começou a desenhar.  Apresentou ao tio, o que queres é isso não?

Como sabes disso?

Olha estou prestando atenção, na fábrica agora desenho estampas, entendi que queres completar o vestido,  o homem tinha ali, uma caixa de ferramentas, começou a montar o desenho que tinha feito, cantando Balada de um louco, em italiano, o tio ficou olhando para ele, aonde aprendeste cantar essa música?

Na casa do Giorgio, cada vez que o senhor traz um homem para dormir, tem muito escândalo, vou dormir na sua casa.

Como é isso?

Ele arrumou um quarto para mim, sei que o senhor e seja com quem estás vão levantar tarde, levo roupa, de lá vou com ele para a fábrica.  Assim de simples.

Não estas dormindo com ele?

Claro que não tio, ele diz que é muito velho para mim.   Mas o adoro, está me ensinando a viver, esta semana vai me levar a Opera para que eu saiba como é.

O senhor está sempre ocupado, ele me ensina a falar direito, nada mais.

Meu filho, espera um pouco, perdão se te molesto, com o meus namorados, espero encontra um dia alguém para amar.   Tentarei não fazer barulho. 

Ele seguiu fugindo para a casa do Giorgio, porque sabia que ele dormia tarde, tinha discutido com ele, porque agora sabia que o olhava trocar de roupa, fechava a cortina.  

Não podes fazer isso comigo, sei que não queres fazer sexo comigo, mas não consigo te tirar da minha cabeça.   Lhe mostrou um desenho que tinha feito dele nu. 

Ficou olhando o mesmo, não deixe teu tio ver isso.

Ele já sabe que estou apaixonado por ti.  

Falaste para ele.

Sim, disse que vinha dormir em tua casa, mas que não querias fazer sexo comigo, porque só estou nas vésperas dos dezoito.

Aliás no dia da Opera, é meu aniversário.

Pediu para o tio, uma roupa para ir a opera com Giorgio, acho que tenho um smoking que usei quando fui com meu amor a opera a primeira vez, tive que ficar quieto pois não gostei.

Giorgio contou ao Oliva que esse dia era aniversário do sobrinho.

Foram os dois a Opera, que ele amou de paixão, Giorgio ficou impressionado com sua concentração, depois quando saíram, seu tio os esperava para irem jantar, mas quando se juntou todo o grupo ele acabou ficando deslocado.  Era muito ruído para sua cabeça.

Giorgio percebeu, o levou embora, quando chegaram a casa dele, disse já tenho 18 anos, quero fazer sexo contigo.  Viu que ele ficava sem graça, nem sei como me comportar contigo.

Mas ele tomou a iniciativa, me masturbei tanto pensando no teu corpo que o quero ver todo só para mim,  tirou toda a roupa do Giorgio, ficou alisando seu corpo, alucinado, tocava seu amor, Giorgio mal podia se controlar, mas deixou que ele fizesse tudo  que lhe desse prazer, ao mesmo tempo se sentia como um louco.

Nem sabia que era capaz de sentir essas coisas, sempre tão fechado em suas músicas, seus livros, sua linha de pensamento para escrever coisas, não imaginou que tudo isso era nada, perto do que estava sentindo.   Entendeu o que lhe disse a Mãe Balbina, será um amor para sempre.

Dormiram agarrados como se fossem uma só pessoa.  Riram muito quando despertaram, com a campainha da porta.   Era seu tio, estava furioso. 

Ele o fez sentar-se, lhe deu um copo de água, eu esperei, bem como o Giorgio ter 18 anos, agora sou dele, de ninguém mais, o amo com loucura. 

Não podia dizer nada de um homem mais velho, pois seu grande amor lhe levava mais de 30 anos.  Abaixou a cabeça, me desatendi de ti, ele ao contrário se tornou teu amigo, cuidou de ti. Entendo.   Perfeito, mas escuta bem Giorgio, se ver algum dia meu sobrinho chorando por tua causa vou te encher de porrada.

Nesse mesmo dia se mudou para a casa dele.  Foi promovido, para a seção que executava os desenhos sobre a tela, em breve tinha aprendido tudo, na sua cabeça, funcionava de outra maneira, começou fora do horário a fazer experiencias, viu que num setor, haviam senhoras trabalhando, bordavam em cima de seda de crepes, de desenhos,  preparou uma tela como ele pensava, pediu para elas bordarem como ele queria, sentou-se com elas, como fazia com sua avó, nesse dia esqueceu de ir a universidade.  Já tinha acabado o expediente, Giorgio ia para casa quando o viu concentrado, bem como as mulheres.  Disse é muito tarde, hora de ir descansar.  Foi como quebrar um momento magico.  As mulheres disseram esse garoto nos fez reviver nossa vida de antes.  Todas se levantaram, foram beijar sua cabeça, amanhã continuamos,  ele fez uma foto com o celular, mandou para seu tio.

Nessa noite, estava com as energias loucas, começou a fazer sexo com Giorgio, desde a porta de entrada, o arrastou para a cama, o penetrou, depois se fez penetrar, queria mais.

Giorgio ria, assim me matas antes do tempo.  Teria agora que se acostumar do tempo que tinha ficado fechado para o mundo.  Tudo deles era num silencio profundo. Só se escutava o ruído dos beijos, de outras coisas.

Nunca me cansarei de ti Giorgio.  Quando se acalmou, o que achou do trabalho que fiz com elas.   O quero ver amanhã a luz do sol.   Como planejaste isso,

Explicou, se fazemos esse tipo de estampa, ou desenho em cima da seda, algumas partes elas podem bordar, como eu disse que queria, encontramos, pedras, canutilhos, tudo isso, em quantidade, porque ninguém usa mais.  Acho que podemos fazer, mostrar para as grandes casas de moda de Paris, de Milan, o preço claro será exorbitante, pela mão de obra, mas duvido que alguém se negue a comprar.   O que achas.

Me deixa pensar garoto, vamos dormir, quando ele o abraçou, se virou de costa para ele, disse baixinho me penetre mais uma vez por favor, fizeram sexo pausadamente como Giorgio gostava.  Ai final estavam rindo, lhe disse vou dormir no outro quarto, acendeste um fogo dentro de mim que não se apaga.

Os amigos reclamavam que não podiam contar com o Giorgio para as festas, pois ele descobriu que Juca não se divertia, como ele tampouco. Queriam estar sozinhos.

Tinham arrumado uma saleta, aonde tinha uma lareira, uma mesa de trabalho para ele, outra para o Juca.  Esse ficava com um pedaço de tecido, aplicando peças de metal, ou mesmo bordando, no outro dia levava para as senhoras.  Eram sempre muitos oh, as. 

Viu um desenho que tinha feito ele, no princípio, que imaginou o mesmo em cima de um plissado, perguntou se tinha alguém na fábrica que fazia isso.   Foram buscar um velho, este riu, nem sei por que me mantiveram aqui, estou sempre ajudando os outros, mas plissados, nunca mais.  Explicou o que queria.   Uma tela diáfana com a estampa, mandou imprimir a mesma estampa em uma seda.  A tela diáfana, bem como a seda foram plissadas, depois ele arrumou um manequim, foi montando um vestido, com os dois tecidos, quando ficou pronto, elas começaram a bordar tudo com canutilhos, toda a parte em seda.   Giorgio quando viu ficou de boca aberta.

Teu tio vai ficar com ciúmes. 

Não sou como ele, mas quero que veja o que podemos fazer de tecido.  Giorgio amou o desenho, fui eu que fiz logo quando comecei.

Pediu uma audiência com seu tio, levou todos os tecidos que tinham preparados.  Inclusive numa caixa grande o vestido que tinha feito.

Ele só dizia quero.  Quando viu o vestido, perguntou ao Giorgio, com quem me traíste para trazer um vestido pronto?

Ele esticou o dedo, mostrando o Juca.

Tô fudido, o garoto chega, rouba meu melhor amigo, agora se quero conversar tenho que ir à casa deles, avisar antes, para não os encontrar nus.  Agora isso.

Não tio, eu me lembrei da avó, uma vez fazendo um vestido assim, só queria que o senhor como os outros que vamos oferecer os novos tipos de tecidos, o que podemos fazer.

Só fazemos uma peça, que sirva para um vestido, assim ele será peça única, claro existe um, porém. O preço, tinha montado ele mesmo todo o custo do material, sem interferência do Giorgio que só ria.   Ele podia gastar duas horas calculando um preço para os tecidos, o puto garoto fazia em segundos, com seu Laptop.

Muito caro, eu gostaria de ficar com esse daqui. 

Era o que ele tinha feito primeiro.  Sabe o que é esse desenho, folhas da mangueira que tinha na casa da avó, antes do apertamento.   Quando era garoto, adorava ficar vendo quando chegava a época de elas caírem.   Sem querer começou a chorar, abraçou o tio, sinto tanta falta dela, por isso estou sempre pensando como ela faria.

O tio foi indicando, esses de aqui, eu mostraria para o Karl da Chanel, ele deve vir a Milan para trabalhar com a Miuccia Prada, vou falar com ela, assim vem os dois ver o que tens feito, mas esse é meu,  Como posso pagar Giorgio?

Isso também é com ele, tem planos, eu só sou o dono da fábrica, bem como o corpo que ele usa pelas noites como quer.   Os dois homens ficaram rindo, ele ficou furioso, nossas intimidades, são nossas, não gosto disso, saiu batendo a porta.

Giorgio para limpar a barra, teve trabalho, dormiu uma semana no outro quarto.

Quando conseguiu que ele se sentasse, soltou logo de cara, o que é nosso, é só nosso, falar sobre isso, me parece vulgar, baixaria.  Senti como quando teus amigos falam dos garotos que levam para a cama, o que fazem ou deixam de fazer.   Nem se atreva a repetir isso, vou embora.

Era a primeira briga deles.  Nessa noite disse que tinha sentido falta de dormir, juntos, mas me levantava para ver se estavas, coberto direito, tinhas sempre um sono agitado.

Talvez porque essa nossa briga me fez lembrar coisas do meu passado, do quanto sofri por alguém que amei, mas não me permitiram.  Vê mostrou seus braços, viu uma finas cicatrizes, tentei me matar como um idiota, enquanto o outro, embolsou o dinheiro que meu pai lhe deu para desaparecer.

Quando estou nervoso, tenho esse pesadelo, sinto que estou morrendo, que ninguém entra para me salvar.

Está bem da próxima vez que briguemos dormimos juntos. 

No dia seguinte no carro, os dois relaxados, ele disse que Karl, ia ver o trabalho hoje.  Estas pronto para enfrentar o Zar Karl.   Ele é osso duro de roer, a última vez que esteve aqui, não gostou do tecido que tinha encomendado.

Ele tinha encontrado uma garota na fábrica, que era magra, mas linda de cara.  A arrumou com o vestido.  Só entre quando eu abrir a porta.

Colocou o tecido que tinha vendido para o irmão, ali dobrado numa estante, primeiro mostrou todos os outros, o Karl, só dizia ah, passava o seguinte dizia ah.   Foi até a estante, quero este também.  Mas viu uma marca de vendido.  Quem ousou a comprar antes de mim. 

Ele lhe explicou que era irmão do Oliva.  Esse desenho tem a ver com nossa infância, por isso vendi para ele.    Mas explicou o porem.   Fantástico, um garoto ditando como devemos comprar o quanto vamos pagar, que mais vais dizer.

Ah que voltamos a fabricar tecidos plissados, tanto em seda como transparente, veja como fica, abriu a porta, fez a garota desfilar para a sala.

O Karl ria, o filho da puta, ainda é capaz de montar um vestido como ele imagina.

De aonde vens tudo isso. Bateu com o dedo na sua cabeça, que sopra essas ideias.

Ele disse que sua avô, que o tinha criado, tinha sido costureira de uma das casas mais famosas do Brasil de alta costura, tudo aprendi observando, vendo como trabalhava.  Os comentários que fazia sobre os tecidos, que eram uma merda, que já não se fazia mais tecidos, com glamour francês.

Karl ria muito, pois ele se esqueceu, começou a falar em português.  Quando viu os preços, disse que tinha que consultar, telefonou a Miuccia, disse que viesse rápido, se não queria ficar sem nenhum dos produtos novos da fábrica.

O levou a parte, lhe perguntou se conversasse com ele, suas ideias, se era capaz de montar os tecidos em sigilo.    

Claro que sim, por quem me toma por um rufião, se é para trabalhar para ti, faço, mas com uma condição, que seja citado o nome da fábrica.  A cara do Karl era ótima, Giorgio depois contando se matava de rir.  Acho que ele não sabia se espumava, ou o mandava a puta que o pariu.

De qualquer maneira levou dois tecidos para Paris, bem como fez com que Miuccia, comprasse um para o final do seu desfile.  Ela reclamou dos preços. Ele argumentou com ela, se ela ia cobrar por um trabalho que já estava basicamente feito, só tens que mandar costurar o modelo.

Ele ganhou o direito, de aumentar a sala das bordadeiras, agora o senhor dos plissados, sempre lhe trazia uma ideia nova, aumentou o salário delas.   Giorgio ria dizendo ao Oliva, um dia já me avisaram, eu entrarei, só terei que me sentar, assinar minha demissão.  Ele faz tudo, calcula o preço, argumenta.   Melhorou a qualidade dos tecidos.

Foram os dois ao Japão, para conhecer de perto as novas tecnologias, alisou tecidos, sentiu a texturas.  Não disse nada, levou amostras dos mesmos, alguns empresários ofereceram exportar eles venderem.

Quando chegou, se fechou com todos os técnicos, se não queremos fechar a fábrica, temos que mudar.  Veja quantos pontos tem esse tecido.  Se usássemos dois dos telares antigos que estão encostados, podemos fazer melhor.  Um olhou para o outro como dizendo estas louco.

No dia seguinte, ele escolheu jovens que trabalhavam nos teares, os levou para aonde estavam os velhos, arrumaram essa parte do galpão, tirando todo o lixo que estava ali, escolheu um tecido fino, quase uma pele.

Temos que encontrar um fio que seja capaz de suportar o movimento desse teares, contou para eles o que tinha descoberto, a China, a índia  usam hoje os teares como esse que Inglaterra achou que não valiam mais nada, só eles podem fazer uma série de coisas que os outros não podem. Vamos nos valer disso, temos teares maravilhosos, quem quer comprar a briga comigo.

Os jovens de sua idade, compraram a ideia, uma das senhoras que bordavam, disse que tinha começado na fábrica, usando um desses, olha aqui, meu nome gravado, o do meu marido ao lado.

Aonde está seu marido, na limpeza, vá busca-lo, o apresentou, esse senhor sempre que ele passava dizia, bom dia jovem mestre.

Eu disse a ela, que o senhor era inteligente, um mestre.

Mostrou para ele o tecido, acha que podemos fazer alguma coisa similar.

Esse tecido é sintético, os fios aguentam bem, mas se usamos um fio de seda pode se romper, teríamos que fazer uma pequena quantidade.  Nada de quilômetros de tela.

Isso, não quero quilômetros de tela, sim a quantidade que elas bordam.

Começaram a experimentar, breve tinha um de qualidade superior, não era sintético, coisa que ganhava dos outros.  Criou um desenho, super ligeiro como se fosse uma renda antiga, que ele tinha visto num dos livros que Giorgio tinha comprado para ele no Brasil.

Numa outra parte da fábrica, descobriu linho que estava estocado a muito tempo, o branco já era amarelo.   Chamou um dos técnicos, lhe disse que pegasse todo esse branco, sabes o que é um Tie Dye. Como ele não sabia lhe deu dois livros técnicos, mandou que chamasse dois jovens que trabalhassem com ele, experimentassem fazer, queria que a textura fosse encorpada, que a tinta não saísse, que experimentassem lavar de todas as maneiras possíveis.

Uma semana depois o homem apareceu feliz, esses garotos aprenderam mais rápido do que eu, pois eles mesmo tem camisetas assim.    Ele tirou um livro de Tie Dye, usado na Índia, mandou olharem, estudarem, as páginas marcadas, são os desenhos como eu gosto.

O colorido era super interessante, quando finalmente mostrou para o Giorgio, ele o beijou na frente de todos.  Esse menino é genial, verdade, todos aplaudiram.   A anos atrás estávamos para fechar, teria que mandar todo mundo para a rua.  Não consenti, agora esse rapaz, estava levantando a fábrica outra vez, daqui a pouco poderemos contratar gente nova.  Sem desmerecer os que já estão aqui a anos.

Ele com as mulheres, preparou os tecidos, disse a elas que discutisse, criassem nomes para os mesmos.   Foi a Paris, com o Giorgio, primeiro visitaram a firma Kenzo.  O que era o desenhador, ficou em dúvida, gostava mais do sintético, por causa da caída, ele tirou de uma maleta, justamente um modelo quase igual da coleção anterior dele, olhe a caída nesse teu modelo, mas o tecido é nosso.

Depois visitou Jean Paul Gaultier, ficou alucinado, com o linho, lhe explicou como funcionavam, se queres um desenho ou estampa, faço só para ti, mas uma quantidade de metros pequena, para que possas fazer um coleção.

Comprou dois que tinha gostado, reclamou do preço, virou-se para o Giorgio, esse menino deve ser duro na queda, até na cama.    Giorgio riu de orelha a orelha, dizendo eu aguento.

Foi visitar o Karl, disse que não acreditava que ele fosse se interessar pelos tecidos, mas trouxe uns tecidos novos, para que veja, posso fazer o que quiseres em cima.  Estampar, bordar.

Ele ficou olhando aquele tecido, o primeiro que tinham feito.  Tenho um vestido de noiva para fazer, fico com esse, chamou o pessoal para que o conhecessem.

Não esperavam que fosse tão jovem.  

Quando chegou o final do ano, os valores financeiros da fábrica tinham triplicado.

Giorgio disse, ganhamos dinheiro, que agora terei que dividir com meus irmãos.   Ele riu, sabia da do que tinha falado Mãe Balbina, sempre se falavam.

Tenho uma ideia.  Quanto me deves esse ano. Fez as contas.

Vamos fazer o seguinte, vou contratar um advogado que você nunca saberá quem é, ele irá ao teu irmão que tenha mais dívidas, comprarei suas ações.   Porque se vais dar esse dinheiro todo a ele, ele vai gastar mais rápido que um peido. Não poderá pedir mais.

Assim foram fazendo ano atrás ano, chegou um momento que ele era conhecido, mas quando teve todas as ações de seus irmãos, se transformou em sócio.  Agora ele manejava a fábrica, seu tio lhe dizia, porque não levei você para trabalhar comigo.

Um dia o apresentou um senhor que o estava ajudando a desenvolver um tipo de tecido, tinha descoberto que o homem era gay, mas muito discreto.  De uma época que em Itália isso era quase um crime.   As vezes faziam uma pausa para discutirem música, literatura, esse homem controlava a parte nova, velha, dos teares.   Seu tio o conheceu, ficou interessado, o convidou para sair.  Em breve estava apaixonado pelo homem, Santo Matteus, esse disse que de maneira nenhuma teria um relacionamento sério com ele, não gostava da vida que levava, cercado desse pessoal que tinha a vida fácil, que estavam sempre criticando uns aos outros, ele era sério, não estava disposto a isso.  Seu tio mudou completamente, em breve viviam juntos, ele cortava todos seus excessos.

Ele ria, tinha criticado tanto o tipo de vida que ele bem como o Giorgio levavam, fez uma puta gozação, nada como o amor.

Nesse ano, comprou uma parte das ações do Giorgio, para surpresa dele, fez uma coisa, passou uma parte das ações, bem como os benefícios, aos funcionários, agora ao final de cada ano, receberiam uma porcentagem do lucro da empresa. 

Uma das bordadeiras, veio reclamar, pensavam que elas como estavam velhas seriam excluídas disso.

Quem disse, tal idiotice?

Era um dos jovens, que achava que só eles teriam direito.   Lhe deu uma bronca, mas antes fez uma coisa, mandou analisar seu trabalho, bem como seu comportamento.   Não encaixava com os outros, lhe pagou o que devia, comprou o que lhe tocava de ações, o colocou na rua.

Serviria de exemplo para os outros.   Se os velhos foram quem levantaram comigo a fábrica, como podem pensar nisso.   Algumas senhoras que estavam para se aposentar, ele as convidou para almoçar, perguntou o que a senhoras vão fazer em casa agora?

Nenhuma tinha pensado, se quiserem seguir trabalhando, eu as recontrato depois da aposentadoria.   O mesmo fez com o homem do plissado. Este lhe soltou, vivo com duas irmãs solteironas que vão a missa todos os dias, dizem que quando me aposente, terei que ir também, eu prefiro morrer.   Ele completou ou seguir trabalhando.

Tinha seu pessoal,  Giorgio, publicou seu livro, fez uma coisa que ele mesmo não esperava, quero que fiques como presidente da companhia, eu passarei no final desse ano, o resto de ações que tenho, assim me sustentas, serei a puta que te espera em casa.

Ele fez uma proposta, não quero teu gabinete, se escreves nele, fique aqui, eu sou feliz sabendo que estas sempre aqui, pois se eu preciso falar contigo, posso correr te beijar, abraçar.

Giorgio aceitou, mas financeiramente, se livrava de ficar pensando em dinheiro.

Foram para Paris, a convite do Karl, queria desenvolver uma coleção toda em cima de peças únicas, o tecido teria que dar para dois vestidos, o que fosse do desfile, é o que fizessem para a cliente que o comprasse.

Levou meio ano trabalhando em cima disso.

Era de um requinte absoluto, foram assistir ao desfile, Karl, fez questão de o colocar ao seu lado nas entrevistas, sempre dizia que ele era o rei do tecido.

Dali ele e Giorgio foram para o Rio, Mãe Balbina, estava mal no hospital.   A levaram para a Clínica San Vicente, cuidaram dela até morrer.   Na volta ele cantou de novo a música abraçado ao Giorgio, ela foi a primeira pessoa a perceber que eu estava apaixonado por ti.

Ele foi treinando gente para ocupar postos dos mais velhos, assim a fábrica nunca pararia.

Os dois apesar da diferença de idade, continuavam os mesmos na cama, um dia vendo o Giorgio nu, disse, o que andas fazendo, contínuas com o mesmo corpo de sempre, eu estou um pouco mais gordo.  Ah já sei, não tenho tempo para te olhar nu pela janela, nem me masturbar.

Sabia que nunca haveria outro homem em sua vida, os dois esperavam que fosse autorizado o casamento entre homens na Itália para se casarem.  Tinham se casado no Brasil.  Reconheceram no governo italiano.

 

 

 

   

 

 

 

  

 

 

 

 

 

  

 

 

 

 

No hay comentarios: