Bom
meu problema sempre foi o mesmo desde os dez anos de idade. Aguentar minha mãe, tinha sido uma mulher
bonita, que foi deixada pelo marido que a trocou por um homem.
A
partir desta época tudo sempre foi a mesma ladainha. Quando chegava em casa era submetido a um
verdadeira inquérito, para saber se não andava com más companhias.
Passava
o dia inteiro na escola, inclusive comia lá, a escola era paga pelo meu pai,
bem como o curso de inglês que fazia.
Era um excelente aluno, além de um bom atleta, aproveitava horários que
os outros não estavam, para fazer mais exercícios. O curso de inglês tirava de letra, era o
melhor, mas tinha perdido todos os intercâmbios possíveis, porque ela não
permitia.
Sabia
que a muitos anos, revisava meu quarto inteiro, por isso, nunca guardava nada
em casa, minha mochila era impoluta, uma vez fiz uma maldade, com o dinheiro
que ganhava da semana, comprei um cadeado, coloquei na mochila, a filmei
rompendo a mochila inteira, falando absurdos, escondi a gravação. Agora me faltavam dois dias para a graduação,
nunca permitiu que eu avançasse na escola, dizia que cada ano tinha que
aguentar sem reclamar como disciplina, devia ser como os demais.
Ela
era funcionária pública, nunca tinha conseguido nenhum ascenso dentro do
departamento que trabalhava, desconfiava que por isso não me permitia avançar
antes, pois assim poderia ir para a universidade antes. Estava analisando a possibilidade de pedir
minha independência com 17 anos, quase 18, mas sabia que os juízes não eram
muito simpáticos a respeito.
Cheguei
em casa cansado, tinha ido treinar judô na escola com companheiros, amigos não
tinha nenhum, a não ser o filho de sua melhor amiga, que tinha o mesmo problema
que o meu, seu pai tinha abandonado a mulher formando outra família. Vivíamos no mesmo edifício, na Rua Otaviano
Hudson, ali perto da praça General Arcoverde.
A única coisa que tinha de diferente do meu amigo, era que ele estudava
numa escola pública, pois a mãe vivia da pensão do pai.
Estranhei
ao abrir a porta, não escutar as mesmas perguntas de sempre, quando cheguei ao
salão, estavam as duas conversando, me fez um sinal que significava de devia ir
para o meu quarto, que não devia escutar o que diziam. Sua amiga tinha parado no meio de uma frase
que era “tenho certeza que era ele”.
Fiz
que ia para o meu quarto, abrir, fechei a porta batendo, voltei de mansinho, ai
escutei o que dizia, tenho certeza que
era ele, bonitão como sempre, acompanhado do americano, entraram no hotel
Excelsior, tu sabes que cada vez que vem, sempre se hospeda ali.
Nunca
mais tinha visto seu pai, tudo o que tinha dele era uma foto escondida detrás
de uma foto de sua mãe no seu quarto.
As vezes abria o porta foto, tirando a foto para olhar, de fato seu pai
era um homem muito bonito.
Devagar,
passou pela cozinha, saiu pela porta de serviço, que era a única que não fazia
barulho, pegou o elevador, quando chegou
na rua, respirou fundo, era agora ou nunca.
Desceu
a rua rapidamente, sabia aonde estava o hotel, pois costumava correr no
calçadão nos finais de semana com o filho da vizinha, ultimamente o vinha
evitando, porque sempre queria mamar o seu caralho. Ah se as duas soubessem que eles faziam sexo
desde os 15 anos.
Riu ao
pensar nisso, mas ultimamente estava se tornando pesado, tinha medo de lhe
confiar seus planos de ir estudar fora.
Tinha duas opções de bolsas de Estudos, ir estudar inglês nos Estados
Unidos, ou entrar para a PUC, para estudar bioquímica, ou mesmo línguas.
O
amigo reclamava dizendo que ultimamente estava calado, fugindo dele, não era
uma mentira.
Quando
chegou ao hotel, ficou do outro lado da rua, colado ao Bar e restaurante Maxin’s,
viu que era besteira poderia ter saído, tomou coragem foi até a recepção,
perguntou se o senhor Roberto Guimarães, estava hospedado no hotel?
Sim,
chegou hoje de manhã.
Está
no seu quarto?
A recepcionista
olhou confirmando que sim, poderia dizer que
seu filho Ayrton Guimarães está aqui, que gostaria de falar com ele.
Nem
dez minutos depois o seu pai desceu de camiseta, bermuda, sandálias. Ficou parado olhando para ele, de cima a
baixo. Só disse como estas alto, meu
filho, abriu os braços, ele se atirou.
Começou a tremer, não sabia como exprimir o que estava sentindo nesse
momento.
No
começo o tinha odiado, mas depois passou a entender o que ele sentia,
principalmente depois que começou a ter sexo com seu amigo.
Venha
vamos sentar no Maxin’s.
Atravessaram
a rua, sem dizer uma palavra. Quando se
sentaram lhe perguntou o que queria beber.
Água somente, estava morto de sede, tinha vindo quase correndo de casa
até ali, não era longe, mas fazia calor.
Como
estas? Nunca esperei que viesses me ver,
cada vez que consigo que tua mãe me atenda, ela diz que não queres ver-me.
Não
sabia disso, nunca me disse nada. Atualmente passo a maior parte do tempo
fechado no meu quarto, pois aguenta-la com as mesmas merdas de sempre, seus
controles, suas perguntas idiotas, prefiro ficar fechado, alias fechado nada,
pois a porta não tem fechadura. Para ela
poder entrar quando queira. Estou farto
de tanto controle. Começou a rir, sem
saber se era de nervoso.
Estas
rindo de que?
O
senhor sabe, quem controla muito é sinal que quer ser enganado, isso faço com
ela.
O
senhor como vai?
Apesar
de nunca saber nada de ti, vou bem, tenho um bom emprego, vivemos bem, mas
sempre venho ao Rio para ver minha mãe, agora ela está numa residência de
pessoas de idade.
Pois
que bem, eu não vejo a avó desde os 10 anos, nunca me permitiu ir vê-la. A única vez que arrisquei me disseram que já não
vivia lá.
Pois é
está muito delicada, por isso venho vê-la.
Sempre pergunta de ti, invento alguma mentira piedosa.
Mas
isso vai acabar pai, dentro de dias faço 18 anos, vou tomar rédeas da minha
vida.
Este
riu, imagino o escândalo.
Contou
para o pai, eu já devia estar na universidade, mas ela fez tudo para que eu não
avançasse nos curso. Dizia que eu tinha que ir conforme minha idade. É um controle férreo sobre mim, apesar que os
professores tentaram, mas não adiantou.
O mesmo no curso de Inglês, nunca permitiu que eu saísse para estudar
fora. Dizia que era besteira.
Tens
namorada?
Mas
bem namorado, a cara do pai foi ótima.
Na
verdade, estou tentado escapar dele. É
filho da única amiga que ela tem, só me permite estar com ele, então com 15
anos começamos a transar, já que temos o mesmo tipo de mãe.
Como
sabia que eu estava aqui?
Lhe
contou que tinha escutado, não mencionou teu nome, mas entendi que era de ti
que falavam, não podia perder essa oportunidade.
Nisso,
se aproximou da mesa o homem com quem seu pai vivia. Era tão alto quanto ele, de cabelos
brancos. Um tipão.
Se
levantou estendeu a mão, Ayrton Guimarães, prazer em conhece-lo.
O
outro ficou surpreso, Todd Stevens.
Nisso
seu celular começou a tocar, ele olhou, era sua mãe.
Soltou
ela não vai parar, até que atenda.
Atendeu,
mamãe, estou correndo na praia, estou no meio da corrida, fez que estava
ofegante. Sim vou para no Forte de Copacabana, depois vou até o Leme. Até mais.
Se escutava a voz dela estridente, dizendo que tivesse cuidado.
Não
mudou nada pelo visto, soltou seu pai.
Sim,
esta cada vez pior, tudo é abaixo de chantagem, eu finjo que faço, mas mudo
tudo para minha maneira.
Ela
nunca me deu o divórcio, agora poderíamos estar casado, mas disse que não ia permitir que eu tivesse
liberdade de viver minha vida como queria.
O
senhor tem planos para hoje a noite?
Por
quê?
É a
minha graduação na escola, gostaria que o senhor viesse. Depois queria saber se o senhor está disposto
a comprar uma briga, queria minha independência. Daqui dois dias faço 18 anos,
tenho a oportunidade de ter uma bolsa de estudos como graduação em inglês, pelo
instituto Brasil Estados Unidos. Ela
disse que nem pensar, que já basta de estudar inglês. Que nunca sairei daqui.
Farias
isso por mim.
Meu
pai olhou o Todd, que fez que sim com a cabeça.
Amanhã
vou visitar tua avô, queres vir? Se
escapo sim.
Bom
tenho que correr um pouco para chegar em casa suado, tem gente que gosta de ser
enganada. Fez uma coisa que seu pai não
esperava, o pegou pela mão o levantou, o abraçou beijando. Quanta falta senti de ti meu pai. Fez o mesmo
com o Todd, cuide bem dele por favor.
Saiu
correndo pelo calçadão, mas voltou para dar endereço da escola para o pai, além
do horário, o viu chorando, foi até ele secou as lagrimas, isso acabou meu pai.
Saiu
correndo outra vez, chegou em casa suado, da porta sua mãe, já estava gritando
se tinha encontrado alguém, não respondeu, já fazia tempo que não
respondia. Entrou no banheiro, tomou um
banho, ela já estava batendo, histérica que ele não lhe tinha respondido.
Passou
por ela enrolado na toalha, quando mais ela falava, ele acabou fazendo uma
coisa, antes de entrar no seu quarto tirou a toalha, mostrando a bunda para
ela. Não enche o saco.
Bateu
a porta, o silencio era fantástico, devia ter feito isso antes. Se vestiu foi para a cozinha, fazer um
sanduiche, pois tinha fome.
Depois
se fechou no quarto, separando coisas, como que preparando uma mala para dar no
pé.
Olhou
mais tarde no relógio, se arrumou para ir a graduação, ela estava com um
vestido horrível, sua maneira de vestir-se era de muito mal gosto, a fazia
aparecer mais velha do que era. Ainda
lhe perguntou não tens uma roupa melhor para ir.
Que
mais dá é uma simples festa de formatura.
Quando saíram a vizinha já estava esperando, pelo menos ela se vestia
bem. Seu amigo sorriu timidamente, bom
estamos ficando mais velhos hoje.
Nada
disso vocês não passam de crianças, soltaram as duas ao mesmo tempo. Nem se davam conta que os dois eram mais
altos que elas.
Na escola
se escaparam, para falar com os conhecidos.
Na hora de entrar para o salão nobre, viu que seu pai chegava, sabia que
as duas estavam lá dentro. Apertou a mão
dos dois, beijando os mesmo.
Foi se
reunir com os amigos. Ele seria o
orador da turma que se formava.
Foi
também o último a receber o diploma. O
Diretor da escola, falou dizendo que tinha a honra de entregar o último
diploma, ao melhor aluno da escola, em todos esses anos. Um aluno que sempre honrou a escola, não só com
suas notas, mas como desportista.
Esperava para ele um futuro brilhante.
Que pudesse escolher a carreira que quisesse pois tinha boas notas para
tudo.
O
chamou, lhe entregou o diploma. Deixei
por último porque ele também foi escolhido pelos seus companheiros de curso
como orador da turma.
Hoje
um amigo, falou uma coisa importante, estamos ficando mais velhos,
complementaria que mais adultos, mas responsáveis do nosso futuro. Cabe a cada um individualmente escolher seu
rumo. Temos que lutar contra tudo,
contra todos, contra os moinhos de vento como fazia El Quixote de Cervantes,
para conseguir sermos uma pessoa única.
Isso somos, pessoas, queremos viver nossas vidas, sei que os pais de
hoje tem mais problemas, temos ao nosso alcance informações de todos os tipos
(não era seu caso, só podia usar computador na escola, tampouco tinha celular),
tentações das mais variadas, drogas, sexo and Rock Roll, como se diria
antigamente na época deles. Temos que ir em frente despejando nossos
caminhos. Sei que alguns ficaram pelo
meio, mas não importa, desde que esteja conscientes de que fizeram o melhor. Desejo a todos uma feliz universidade, um
futuro com oportunidades, rumos, não se esqueçam que a linha reta é muito
chata. Todos riram. Ele sempre falava
isso com os professores.
Agora
um aplauso para os professores que nos aguentaram, para os pais que as vezes
pensamos que são chatos, ou na verdade são, mas fazer o que? Acham que é um direito deles.
Ultima
palavra “A LUTA”.
A
turma toda ficou em pé o aplaudindo, inclusive os professores, tinha falado sem
ler nenhum papel, tinha escrito um discurso, mas sua mãe não gostou. Esqueceu que ele sabia falar em público, bem
como pensar. Olhou para ela, estava de
cara fechada, mas ficou alegre em ver seu pai na última fila em pé junto com o
Todd, aplaudindo. Desceu correndo foi até ele o abraçou. Sua mãe estava irada, o agarrou pelo braço,
querendo arrasta-lo dali ele lhe deu um tapa em sua mão, vou comemorar com meu
pai, que nunca permite que me veja, quando vem.
Ela
tentou agarra-lo outra vez, a senhora fique quieta, pois posso chamar a
polícia. Quer um escândalo, posso fazer.
Ela
tinha horror a escândalo, embora fosse ela que sempre provocava. Olhou com ódio seu pai, que lhe
enfrentou. Segunda-feira te espero junto
com o juiz. Meu advogado acaba de falar com o teu, olhe seu celular, deve ter
alguma coisa importante para ti.
Abraçou
novamente o filho, seu amigo passou por ele, ia se aproximar, mas sua mãe o
puxou.
Pode
me apresentar o diretor?
Sim,
foram até o palco, o apresentou, meu pai, professor. Este levantou a cabeça, sorriu, olá amigo,
como vai.
O
senhor conhecia meu pai?
Sim,
sempre lhe passei informação ao teu respeito, mas em segredo, se tua mãe
descobrisse te tirava da escola. Esse
era o preço, silencio.
Olá
Roger, fico contente que meu filho tenha tido o melhor, achas que ele pode
realmente fazer qualquer universidade?
Não só
aqui como fora daqui. Já devia estar
numa, não sei como ele aguentou ter que ficar aguentando os colegas mais
atrasado do que ele. A tempos sem que
ele mesmo se desse conta lhe fiz um teste de Inteligência, a sua supera a média
mais alta.
Foram
jantar, num restaurante chic em Ipanema.
O celular não parava de tocar, ele acabou apagando o mesmo. Pois era sempre ela.
Segunda-feira
fazes 18 anos, poderás aceder a tua conta no banco, retirar todo o dinheiro que
depositei todos esses anos.
Não
tenho conta no banco, não sabia de nada disso.
Desde
o momento que comecei a trabalhar em NYC, depositei religiosamente dinheiro
para tua manutenção. O apartamento foi
um presente de casamento de meus pais, ficou para ela.
Mas
todos os natais, te mandava presentes, os dois últimos, te mandei um laptop,
bem como um celular da Apple.
Pois
eu nunca vi presente nenhum, não tenho laptop, uso sempre os da escola, celular
esse velho dela. Deve estar tudo
guardado no quarto dela que está sempre fechado a chave, é a única porta da
casa que tem chave.
Espera,
se levantou, falou pelo celular. O via balançando a cabeça.
Ele
ficou conversando com o Todd, não sabe o quanto quero conhecer direito meu pai.
Ele é
um grande executivo em um banco de investimento em Manhatan, sabe sempre por ti pelo seu amigo diretor da
escola, mas é tudo que sabe, também sempre quis estar mais contigo, mas tua mãe
nunca permitiu. Ou estava de férias em
algum lugar, ou fazendo um curso fora da cidade.
Se eu
nunca sai de férias fora do Rio de Janeiro, sempre passei as mesma em casa,
curso só de inglês, mas isso, durante o ano.
Estava conversando com o Todd em inglês.
Te
expressa muito bem em Inglês. Teu pai
foi traduzindo para mim o que falavas.
Ele
tirou do bolso, imagina escrevi um discurso, ela rasurou tudo, me fez escrever
esse, falando da dela mesma, do sacrifício que fez para me manter na
escola. Mas tudo mentira, sabia pelo
diretor que meu pai pagava a mesma. O
curso de inglês, ela pensava que era uma extensão da escola, mas sei que meu
pai pagava também.
Estou
mergulhado num poço de mentiras desde meus dez anos de idade.
Seu
pai voltou, quase em seguida, sentaram comeram, quando estavam na sobremesa
chegou o Roger, diretor da escola. Vim
assim que teu advogado me avisou.
Sabemos
que pode acontecer alguma coisa se te levamos para o hotel. Então Roger ofereceu sua casa. Ele ira com meu advogado, bem como a polícia,
a casa da tua mãe, para buscares tuas coisas.
Depois até segunda-feira, ficaras na casa dele. Amanhã passo cedo para te buscar para irmos
ver tua avó. Esta louca para isso, já
falei com ela que tinha te visto.
Depois
chegou o advogado, era outro amigo de seu pai, se abraçaram, sempre que encho o
saco cada vez que venho. O levou a
parte, mas escutou o que dizia, quero que verifiques a historia do dinheiro no
banco, sempre mandei bastante, mas ele diz que não sabe de nada.
Era
principalmente para ir à universidade.
Foi
com os dois, depois de abraçar e beijar seu pai bem como ao Todd, que ficava
meio sem graça.
Quando
chegaram, um carro da polícia, com uma ordem de um juiz estava esperando.
Quando abriu a porta, escutou um escândalo,
estava com sua amiga, furiosa. Dizendo ele deve ter escutado o que
dizias.
Mas
falava tão alto que parecia que estavam brigando.
Bateu
na parede, ela ficou parada vendo os dois homens, bem como o policial. Este
estendeu um papel para ela, leu branca de ódio.
O
rapaz ficara em guarda com o advogado, segunda-feira de manhã, a senhora tem
que se apresentar ao juiz. Aconselho a
levar todos os papeis que tem dos bancos.
Não disse mais nada, esperaram que ele enchesse uma bolsa grande de
esporte que tinha, suas roupas já estavam todas dobradas para guardar numa
mala. Pegou o porta retrato, isso com
ela olhando, retirou a foto dela, deixando aparecer a de seu pai. Isso nunca descobriste verdade?
Ficou
furiosa, eres igual a ele, me vai abandonar também.
Se eu
fosse a senhora, fazia um exame de consciência, tens sido desagradável anos
trás anos conviver consigo.
Ela
ficou muda.
Saíram
do edifício, sabia que todos estavam olhando, imagina um carro de polícia
parado na frente era muito para chamar a atenção.
Foram
para a casa do Advogado Nestor, só então entendeu que ele vivia junto com o
Roger, os dois formavam um casal interessante.
De dentro saiu o filho deles que era seu colega na escola. Sabia que esse garoto era adotado, mas não
que era filho dos dois. Viu uma foto dos
dois juntos com o garoto no meio. Várias
vezes ele tinha defendido o mesmo de bullying na escola, treinavam junto o
judô, jogavam Vôlei, na equipe da escola.
Filho
hoje tens companhia para dormir, arrume a cama debaixo para o Ayrton.
No
quarto contou tudo para o outro, nunca tinham falado nada de suas vidas. Talvez por falta de oportunidade.
No dia
seguinte de manhã, o pai passou com o Todd, para irem visitar sua avó, ela ficou emocionada, fazia mais de oito anos
que não o via. Não parava de passar a
mão pelo seu rosto, como es bonito meu neto.
Sabes que levas o nome do teu avô.
Ele iria adorar te conhecer, avisei tua mãe quando ele morreu, bateu o
telefone na minha cara.
Sinto
muito avó, não ter podido me despedir dele.
Depois a senhora tem que me dar uma foto dele.
Espera,
essa vais gostar, rebuscou numa caixa,
olhe, era teu avô na mesma idade tua.
Veja meu filho como os dois são parecidos. Realmente a não ser pela roupa, poderia ser
uma foto dele.
Uma
vez teu avô ficou bravo, foi até o apartamento, estavas na escola, tua mãe o
ofendeu muito, morreu dias depois.
Dizia que não queria morrer sem ver-te, nunca me disse o que foi que ela
lhe falou.
Passou
uma outra senhora, a chamou para lhe apresentar, esse é meu neto, esse meu
filho apertou a mão do Todd, esse seu marido.
O dizia com orgulho.
Porque
a senhora não se veste, vamos comer por aí. Faz tempo que a senhora não sai.
Sabe
se existe aquele restaurante ali no começo de Barra da Tijuca, que teu pai
adorava nos levar para comemorar coisas.
Ainda existe?
Vou
descobrir rápido. Seu pai acessou o
celular, era um último tipo. Em seguida
o viu falando com alguém. Voltou rindo,
fiz a reserva, quando dei meu nome,
perguntou se eu era filho do Comandante Guimarães.
Sabia
que teu avô era comandante da Marinha?
Não
pai, a menor ideia, ela nunca falava nessas coisas, tampouco adiantava
perguntar.
Tinha
exata noção que todos esses anos tinha vivido numa bolha de mentira, que
algumas vezes com muito custo tinha conseguido fazer um buraco. Mas sempre esperando um dia que pudesse ser
livre.
O pai
o viu calado, perguntou por quê?
Respondeu,
porque todos esses anos vivi numa bolha, cheia de mentiras, tentando que ficasse
alienado de tudo, mas felizmente não conseguiu, porque chegou um momento que
aprendi a mentir tão bem ou melhor do que ela.
Ontem
quase soltei o do meu amigo, já que sua vizinha faz igual, mas depois pensei
que não tinha esse direito.
Fizeste
bem meu filho, não se deve mexer com a vida dos outros.
Me
lembro um dia tendo aula com o Roger, que falávamos de hipocrisia, eu vesti a
carapuça totalmente, pois imagina o tempo todo ter que fingir que tudo está
bem. Ter que aguentar aulas que já sabia
tudo, procurar não responder antes dos outros. Eu só respondia se me
perguntassem. Roger ria muito comigo por
causa disso, dizia que os professores nunca tinham reclamado de mim. Tinham medo de que eu me tornasse pedante.
Sua
avó do assento de trás, que gosto da ver, pai e filho conversando
tranquilamente.
O
almoço foi genial, sua avó estava com a língua solta, tinha tomado um copo do
vinho que gostava branco, bem frio. O
dono do restaurante se lembrava do detalhe.
Quando
lhe apresentaram, o homem disse o Comandante Guimarães falava que tinha um
neto, mas pensei que vivesse nos Estados Unidos, pois nunca o tinha levado ali.
Teu
avô era uma grande figura, fui marinheiro com ele. Me deu força para ter esse meu restaurante,
mas já estou velho, preciso me aposentar, mas nenhum filho quer isso, todos
fizeram faculdades graças a deus, tem sua vida.
Vou aguentando para me distrair, além de que o pessoal aqui a maioria
está comigo desde o começo. Nos
aposentaremos todos juntos.
Nunca
estive na Barra, é a primeira vez, meus amigos vinham fazer surf aqui, na
segunda feira sempre estavam falando nisso, eu quieto, pois como ia dizer que
tinha passado o final de semana sentado num sofá, vendo secção da tarde com
minha mãe. Se tentava escapar era pior,
pois ficaria falando horas. Se dizia
que ia ao cinema, só podia ir com ela, com a amiga, o filho desta, mas claro
elas queriam ver comedias românticas, nos dois queríamos ver um filme
moderno. Isso nem pensar.
Meu
amigo pelo menos passa um final de semana com seu pai, além dos irmãos mais
novos que tem. Pelo menos tinha o que
contar.
Ficou
parado com o garfo no ar, olhando o mar, se pudesse, se tivesse assas nesse
momento estaria fazendo voos rasantes sobre as ondas.
Notou
que sua avô pousava a mão no seu braço. Isso
fazia seu avô muito, quando lhe perguntava o que? Me dizia se tivesse asas nesse momento
estaria fazendo voos rasantes sobre as ondas.
Era
exatamente isso que estava pensando. Do nosso apartamento, se via o mar, ele
sempre gostou de ficar sentado olhando as ondas, aliás, morreu assim, sentado
na varanda, olhando as ondas.
Eu avó
quando quero pensar, vou a praia, fico olhando as ondas para ver se me responde
as minhas incógnitas.
Quase
soltou, quem eu sou, para aonde vou, quem serei no futuro.
Depois
a levaram outra vez a residência em Jacarepaguá, foram para a casa do Roger.
O
Nestor disse que o advogado dela tinha chamado, queria saber quem era esse novo
juiz. Lhe disse a verdade, o outro se aposentou. Ainda soltou, ela esta me chamando a cada 15
minutos, repetindo a mesma coisa, essa mulher está louca, pensei que os anos
tivesse melhorado, mas creio que piorou.
Lhe
disse que não falasse mais nada, pois o poderia chamar para depor.
Na
segunda-feira, antes de saírem da casa do Roger, só iria o Nestor, foi com ele
primeiro até seu escritório. Lhe
perguntou se sua mãe sabia que ele vivia com o Roger. Acredito que não.
Quando
chegaram ao fórum, ela estava com a mesma roupa do outro dia, cabelos
despenteados, de braço com a amiga. Não
olhou em sua direção.
Mudou
de comportamento quando viu entrar o juiz, não era o mesmo que ela conhecia,
perguntou alto ao seu advogado, aonde estava o outro juiz. Este respondeu se aposentou.
Não
quero esse juiz, tem cara de filho da puta.
Evidentemente começava mal, o juiz bateu o martelo.
Iremos
por parte nesse caso.
O
Nestor a chamou ao banco de testemunhas, quando lhe colocaram a bíblia, se
negou a colocar a mão em cima. Bom
descobrimos que todos esses anos que meu cliente pedia para ver seu filho, a
senhora dizia que estava de férias fora, ou fazendo um curso, é verdade isso.
Ela
tinha se convencido realmente disso que disse que sim.
Pode
nos detalhar essas férias, esses cursos.
A resposta foi incrível. Vá tomar
no cu.
O juiz
a chamou a ordem.
Seguinte
pergunta, hoje cedo fizemos um levantamento no banco. Seu ex-marido, deposita mensalmente no banco
um valor alto, para a universidade de seu filho.
Soubemos
que a senhora, com o seu advogado, bem como o juiz, logrou sacar todo esse dinheiro,
queríamos saber aonde estão, já que esse dinheiro não fazia parte do que ele
depositava para despesas de seu filho.
Se
negou a responder, tinha visto tanto filmes que respondeu me acolho a quinta
emenda.
A cara
do Juiz era ótima. O advogado dela, não
fez nenhuma pergunta.
Ele
foi chamado a depor. O outro advogado ia
dizer que ele era menor de idade, quando o juiz lhe perguntou qual a tua idade.
Hoje
senhor faço 18 anos. Ela gritou,
mentira, tem só 16 anos, é um irresponsável.
Senhora,
mais uma interrupção, a mando para o calabouço.
Meu
jovem, como é teu dia, ele detalhou.
Tens
amigo? Só um, me é permitido, o filho
da senhora que está ali. Mais ninguém,
todos os dias tenho que falar com quem conversei, se falei alguma coisa que não
estava certa etc.
Como
os jovens da tua idade, quais os teus esportes favoritos?
Faço o
que esta permitido na escola, fora dela, escapo para correr na praia.
Todos
esses anos, você recebeu pelo teu aniversário, natal, algum presente de teu
pai.
Nunca,
ele me disse que no último ano me mandou um laptop além de um celular, mas
nunca os vi em minha vida.
Ela
gritou, tudo isso para o corromper, sem querer soltou tudo de uma vez, todos
esses presentes, caros, livros de museus, coisas assim, tudo eram para
corromper meu filho, esculturas nuas, tudo sexo. Porque o pai dele sempre só pensou nisso.
Ele
sem querer perdeu a paciência, a senhora acredita que nunca fiz sexo?
Claro
que não, eu não ia permitir.
Mas
permitiu, porque eu fiz sexo desde os 15 anos, com o filho da sua melhor
amiga.
A cara
da outra era de horror, sua mãe estava de boca aberta. Saíste ao teu pai, um viado, vou te colocar
num colégio interno, do qual nunca mais vais sair. Isso falava em pé com o dedo
em riste. Por detrás veio um policial, a
fez se sentar.
Agora
senhor juiz, gostaria de fazer uma coisa inédita, interrogar o advogado da
senhora.
Este
tentou saltar o convite, mas o juiz concordou.
Este
estava nervoso. Ontem o senhor me
contou, vou mencionar, porque em nenhum momento me pediu confidencialidade. Que o senhor junto com essa sua cliente, o
anterior Juiz, fizeram tudo em conluio, pois o dinheiro nunca está no banco, os
avisos chegam no dia seguinte são retirados.
O que queremos saber aonde está?
Ele
apontou a ela, dizendo numa conta que abriu em seu nome. Diz que por direito esse dinheiro lhe
pertence pelos anos de amargura que ele lhe causou.
Bom
senhor juiz, pedimos o embargo dessa conta, já que o dinheiro era depositado,
para que o rapaz pudesse ir à universidade.
Para
que ir à universidade, se acabara sendo um funcionário como eu. Esse dinheiro senhor juiz é a garantia de
minha aposentadoria. Ganho muito mal,
sou funcionária pública.
Este
disse, pela sua ficha, inclusive uma péssima funcionária, inimiga de todos seus
companheiros.
Tem
muito viado no departamento sim, muitas putas, mulheres que saem com qualquer
homem, não são pessoas honradas.
A cara
do juiz é ótima.
Uma
última pergunta, ontem o senhor me fez um comentário, poderia repetir.
Não
posso fazer isso, fiz em confiança.
Como
em confiança fez uma série de coisas erradas, eu poderia pedir que o senhor
fosse suspenso pela ordem dos advogados, por agir sempre de má fé.
Acurralado,
soltou, eu disse que pensei que com os anos ela fosse entrando em razão, mas
via que estava cada vez mais louca.
Para
que disse isso. Tudo virou um
circo. O juiz batendo o martelo ela
gritando milhões de palavrões, a amiga tentou acalmá-la, mas ela repeliu, teu
filho é viado corrompeu o meu. Coisas assim.
Quando
finalmente os guardas conseguiram fazer as duas se sentarem, o advogado na
cadeira de interrogados pediu água, isso foi demais para mim.
Bom o
senhor que quer Doutor Nestor. Que
reconheçam os erros anteriores, dando a guarda ao pai, bem como a devolução do
dinheiro roubado, ou perdão se ela assinar essa petição de divórcio, que o
anterior juiz se negou sequer a olhar, é um divórcio à revelia.
O Juiz
olhou para ela, sabe que a senhora pode ir para a cadeia verdade, por toda essa
manipulação, roubo de dinheiro que não era seu, ela tentou falar, ele fez sinal
de silencio. Primeiro assine a petição
de divórcio. Lhe deram o papel ela
assinou. Segundo isso com o senhor advogado,
esse dinheiro tem que estar na conta desse garoto hoje, que ele tenha acesso a
mesma. Segundo este outro papel, o
declaro independente da família, nem guarda nem nada, tens 18 anos, eres dono
do teu nariz.
Ele
agradeceu o juiz.
O
jovem quer retirar alguma coisa da casa da sua mãe?
Não
senhor, a única coisa que tinha valor, era um foto do meu pai, que escondia
atrás de uma dela, no meu quarto, isso ela nunca descobriu. Depois virou-se para a vizinha, acho que a
senhora devia conversar com seu filho, o escute por favor, para tampouco perder
o único na verdade que tem, ele a adora, mas vai fazer 18 também pode ir embora
para a casa do pai.
A cara
da mulher era ótima, ele ia falando, ela balançando a cabeça, que sim, saiu
rapidamente dali.
Quanto
a sua cliente, primeira providência, dinheiro na conta, além de uma ordem de que não pode se
aproximar de seu filho, nem de seu ex-marido, porque é agressiva. Ainda olhou para ela soltando, quem planta
colhe senhora.
Senhor
advogado, quero os papeis das transferência de dinheiro na minha mesa dentro de
uma hora, ou os dois serão presos.
Ela
ainda tentou fazer uma chantagem daquelas eu, que me sacrifiquei a minha vida
inteira por ti.
Por
mim, vivi numa prisão escutando falar o dia inteiro as mesmas coisas, que meu
pai, era mau, que isso que aquilo. Nem
sei como ele pode aguentar suas loucuras, eu também daria no pé.
Tens
coragem de chamar de louca tua mãe.
Se não
estas louca, estas muito perto disso, acredito que um bom psiquiatra pode ajudá-la,
verdade senhor juiz.
Gostei
da ideia, senhor advogado, quero que arrume um psiquiatra para sua cliente, que
me de todos os avances dela em busca de uma normalidade, caso contrário,
recomendarei uma internamento numa clínica psiquiátrica.
Ela
pegou um cinzeiro que estava em cima da mesa, atirou em direção do juiz. Filho
da puta, achas que vou ficar de braços cruzados, enquanto esse leva meu filho,
prefiro matá-lo. O juiz, fez um sinal, dois guardas a algemaram. Fica recomendada o internamento.
Mas
quero a transferência do dinheiro.
Seu
pai por recomendação do Nestor, não tinha falado nada até então, tudo que fez,
foi colocar a mão em cima da dele, estas livre meu filho. Quero que faças como teu avô, que voe sobre
as ondas.
Ele
riu, sentia pena dela, mas achava quem ia acabar num psiquiatra era ele.
Saiu
abraçado ao pai, reservamos um quarto no hotel, assim poderemos conversar, para
que possas decidir o que queres da tua vida.
Não
foi uma conversa fácil, queria entender o que tinha acontecido no passado, para
Roberto era difícil falar nisso, mas como dizia Todd, ou agora ou nunca.
Começou
falando de sua juventude, de ter um pai Comandante da Marinha, o quanto este
lhe tinha cobrado para que entrasse para mesma.
Ele tinha preferido fazer universidade.
Não levou muito tempo aborrecido comigo, não era um sujeito de ficar
guardando magoas para depois.
Conversamos, ele entendeu meu ponto de vista. Mas claro, como único filho homem as perguntas
era as mesmas de sempre. Conheci tua
mãe, eu estava terminando a universidade, numa festa de calouros. Ela estava completamente
bêbada, se atirou em cima de mim literalmente.
Os companheiros diziam para me aproveitar, a levei para sua casa, quando
chegou acompanhada de um homem, bêbada, foi um escândalo, seus pais eram muito
estritos, nem a deixaram entrar, eram contra a entrada dela na
universidade. Lhe perguntei se tinha aonde ficar, me disse
que não conhecia ninguém, como ela fez depois contigo, os pais não a deixavam
sair nada disso. Eu vivia sozinho, já
tinha um emprego, a levei para meu apartamento, de noite ela se meteu na minha
cama. Meses depois, nascia tu. Mas eu sabia o que queria, gostava dos
homens. Ela achava que podia me curar,
tentei de todos os modos me curar como ela dizia, fui a psicólogos, nada. Claro, estava tu que
pesava muito no relacionamento, eu te adorava, quando começaste a andar, corrias
para mim, a primeira palavra tua não foi mãe, mas sim pai. Ela fez um concurso para o emprego público,
a ajudei a estudar, cuidando de ti.
Finalmente na segunda tentativa passou, acredito que meu pai tenha mexido
seus conhecimentos para isso, pois ela só falava nisso. Tínhamos nos casado, meu pai nos deu esse
apartamento, nunca nada estava bom. Eu reclamava, pois, te
desatendia constantemente. Estava preocupada em puxar saco de todos para
ficar fixa no emprego.
Nessa
época eu trabalhava de noite num hotel, na portaria, fui conhecendo homens que
me atraiam. Entre nós já não acontecia
nada. Ela estava histeria quando eu
chegava de manhã, dizendo que tinhas passado a noite inteira chamado por seu
pai. A verdade era que mal eu entrava,
corrias para mim. Depois passou a ter ciúmes de ti,
exagerados. Lhe propus nos divorciamos,
pois queria seguir minha vida. Fez um
escândalo, dizendo que em sua religião isso não existia. Eu lhe dizia que não tínhamos casado pela
sua religião, mas sim no civil. Falar com as paredes era mais fácil, talvez que
entendesse, respondesse aos argumentos.
Nessa
época conheci um rapaz, comecei a ir dormir com ele, fui inconsequente
reconheço, mas era jovem queria viver.
Pedi o divórcio, se negou a assinar os papeis, fazia coisas absurdas, no
meio de meu turno de noite, aparecia contigo, te largava no hotel, ia para casa
dormir, dizendo que tinha que ir trabalhar de manhã.
Quase
perdi o emprego, o que fiz foi levar-te comigo, a todas as partes. Mas não se contentava, te levei a viver
comigo e com Antonio, ele te adorava, passou a ir à casa dele, fazer
escândalos, acabou me deixando. Lhe dei
um ultimato, ou me dava o divórcio, ou ia embora contigo de qualquer
jeito. Colocou uma denúncia que estava
roubando seu filho, ai tudo virou uma merda, perdi o emprego, voltei a viver na
casa de meus pais. Eles tentaram falar
com ela, mas foi inútil.
Acabei
indo embora, pois a cada emprego que arrumava, ela aprontava. Fazia denúncias
anônimas que eu era gay, que tinha abandonado sua família, essas coisas.
Um dia
desesperado, fui falar com seus pais.
Uma dura realidade, ela não era filha deles, mas sim de uma parente que
a tinha abandonado lá. A senhora que
ela dizia que era sua mãe, a chamava de manipuladora. Não queriam saber nada dela.
Fiquei
sem tem aonde recorrer. O jeito foi
abrir um processo, mas não sei como ela conseguiu enganar o advogado, bem como
ao juiz se fazendo de vítima, uma mulher com um filho para criar, que o marido
gay abandonava para passar as noites com homens.
Saiu
isso nos jornais, quando ia procurar trabalho, levava com a porta na cara. Me desesperei quando o juiz lhe deu a guarda
de ti, queria dinheiro além do apartamento.
Meu
pai me disse que o melhor que fazia era ir embora do Brasil por um tempo. Primeiro me fui a Miami, arrumei um emprego
num hotel, o dono tinha hotéis por todo o país, coloquei em ordem a maneira de
administrar o mesmo, depois me passou a cadeia inteira, passei a ganhar bem,
mandando dinheiro para ela. Estava
sempre reclamando mais, dizendo que te criar custava muito. Meu pai, bem como Nestor que virou meu
advogado disseram que de maneira nenhuma, que o valor que eu mandava,
transformado em dinheiro do Brasil, era muito.
Outra
briga, mas desta vez o juiz concordou, desde que eu começasse a mandar dinheiro
para um fundo para tua educação. Nessas
alturas, tinhas terminado o primário, o Nestor arrumou para estudares na escola
do Roger. Já viviam juntos nessa altura.
Viraram
teu anjo protetor sem que tu soubesses.
Ela deixou de me perturbar, nessa época conheci o Todd, nos apaixonamos,
me levou para NYC, acabei arrumando um emprego excelente fui subindo, deste
passei para outro melhor aonde estou até hoje.
Mas
nunca imaginei que ela passava a mão no teu dinheiro, porque tem o salário
dela, bem como a ajuda que mandava para teus cuidados. Agora vejo que não fazia nada disso, além de
falar mal de mim sempre. Acredito que
ela tenha um problema de rejeição complicado.
Mas
todas as vezes que eu vinha, como era férias, nunca estavas, ou enrolava, até
me dizer que não me querias ver dizia, inclusive nas últimas vezes apareceu com
essa mulher que é sua vizinha, esta concordava com ela que não me querias ver.
Hoje
poderia processá-la também. Mas foste
corajoso dizendo que se ela não queria perder o filho, conversasse com ele.
Nunca
te esqueci meu filho, mas imaginei que estarias cheio de ódio contra mim. Não tivemos a partir da tua infância, nenhum
contato. Te mandava os presente todos
os anos, mas não recebia nenhuma resposta.
Todd dizia que se tu tinhas mágoa de mim, era natural.
Eu
nunca recebi nada em agradecimento, algo que pudesse alimentar, ele recebeu meu
presente, até pensei, se ela entrega dizendo que é dela, tudo bem, mas ele tem
isso que mandei.
Mas
descobrir que nunca de teu nada, me enfurece.
Escrevia sempre uma carta que colocava nos presentes, falando como
sentia falta de ti.
Na
verdade, falei com o Roger, quando ele me disse tua facilidade em aprender, que
inventasse isso do Instituto ter um acordo com a escola, para poderes cimentar
teu futuro.
Mas
talvez se estivesse aqui, talvez tivesse descoberto tudo isso a mais tempo,
teria tentado me aproximar mais de ti.
Me sinto culpado por tudo isso.
Pai,
acho que não teria mudado nada, talvez até tivesse piorado. Sempre desconfiei de seu equilíbrio. Quando você foi embora, me lembro que nas
primeiras férias, fiquei literalmente preso em casa. Só podia sair na varanda.
Adorava
a volta as aulas, porque assim podia escapar dela, depois como passava o dia
inteiro na escola, esta virou meu refúgio, o outro eram as aulas de inglês,
sabia que vivias na América, então se podia sonhar em viver contigo, teria que
aprender.
Terei
que me adaptar a tudo isso, resolver se faço faculdade aqui, ou se tento ir com
o senhor, mas tens uma vida com o Todd, não achas que isso pode atrapalhar?
Podemos
falar com ele.
Este
riu muito, vais acabar com os longos silencio que existem entre os casais que
vivem a tanto tempo junto. Amo seu
pai, faria qualquer coisa por ele, se vai estar feliz em colocar-se em dia
contigo, eu estarei feliz. Mas se o faz
infeliz, eu vou encher tua bunda de palmadas.
Ficaram
rindo, no dia seguinte se dedicaram a tirar um passaporte para ele, descobriram
que não tinha nenhum documento, sua mãe nunca tinha cuidado disso.
Todos
os dias iam visitar a avó, ela estava radiante. Abraçava o neto, o apertava,
sentia seu cheiro. Para guardar na minha memória.
Uma
noite saíram foram fazer um programa que o Todd adorava, ir a uma roda de
samba. Nunca tinha saído de noite, sem querer se soltou, quando viu dançava relaxado,
pensavam que ele era um gringo que sabia sambar. Vinha falar com ele em inglês, pois o tinham
visto falando com o pai e o Todd.
Riu
muito, nem fui embora, já virei gringo.
Mal
chegou a NYC, amou a casa que viviam, tinha um quarto para ele. Os dois tinham
uma agenda apertada, seu pai lhe disse, confio em ti, que tomaras cuidado com
drogas e outras coisas. Atenção com quem
te envolves. Ia começar a fazer um
curso de arte na Parsons, ao mesmo tempo que iria conhecer a cidade, para
pensar no que fazer. Não tinha na sua
cabeça definido nada.
Andava
pela cidade, com um bloco, parava desenhava, sentia a pulsação da cidade, ainda
não tinha ideia, mas nele estava desabrochando todas as imagens que tinha
trancadas na sua cabeça. Da timidez das
primeiras aulas, começou a se soltar, breve estava pintando em papeis imensos,
falou com os seus pais, nem sei o que fazer, não posso trazê-los para casa, são
muito grandes. Todd era bem
relacionado, foi com um galerista, sem ele saber, ficaram de longe o vendo
pintar.
Estava
com um audiofone escutando músicas que gostava, nunca tinha podido fazer isso,
seus movimentos eram abertos, eram uma série de imagens superpostas, de
recordações suas, uma Todd imaginou que era Roberto o sustentando no ar, se
cruzava com uma imagem do Cristo Redentor, eram suas lembranças de infâncias
que saiam a galope desenfreados pelo papel.
O
Galerista, falou no ouvido do Todd, eu compraria agora esse trabalho.
Não
sabia o que ele estava escutando agora, se ajoelho, quando se levantou, tinha
tinta nas mãos, verde, amarela na outra, começou a desenhar com a mão, marcando
ritmo no pé, como se estivesse sambando, era o batuque que escutava desde seu
quarto nos sábados. Nunca tinha ido, mas
imaginava.
Todos
alunos estavam ali parados, olhando com os olhos abertos seu trabalho, ele nem
se dava conta.
Quando
de noite falou com o Roberto, esse riu, esse menino tem muito para colocar para
fora. Temos que conseguir um studio para ele pintar.
Todd
dias depois achou a solução, no último andar do edifício, em que uma parte eram
partes técnicas do edifício, existia um grande espaço, que tinha sido
residência de um pintor, enquanto tinha vivido em NYC. Perguntou ao porteiro quem era o dono. Pertence ao condomínio, basta pedir
autorização numa reunião, que eles alugam, precisam de dinheiro em caixa.
Fizeram
um preço bom, esse foi um presente dos dois ao Ayrton. Com o dinheiro que tinha, comprou material,
agora mal amanhecia o dia lá estava, colocando tudo em grandes papeis próprios
para isso.
O
Galerista levou o primeiro, o mandou emoldurar, deixou ele sozinho numa parede
de sua galeria, aonde tinha uma vasta vidraça na frente, de qualquer ângulo da
rua, se via.
Dois
dias depois uma cliente sua, uma milionária, disse que tinha passado várias
vezes por ali, se admirava que ninguém tinha comprado ainda.
Ele
disse talvez pelo preço, também por ser uma obra em papel.
Quem é
o artista disse ela.
Quer conhecê-lo?
Adoraria,
me emociona esse trabalho. Chamou várias
vezes, não atendia, chamou o porteiro, que disse que tinha subido como pedia o
Todd, que ele estava trabalhando, como tem música não deve escutar. Avisou a senhora, ficaremos do lado de fora,
normalmente ele não percebe que tem alguém olhando.
Tinha
agora uma tela imensa na parede, escutava uma música que o devia colocar
elétrico. A senhora Goldstein, não fechava a boca. Os movimentos eram precisos,
as figuras de etéreas se tornavam vivas. Pareciam se mover na tela contando uma
história, era a sua história de um garoto solitário, os sonhos que tinha de
sair voando pelo mundo. Quando ela se
virou para a outra parede, havia uma sequência em branco e negro de uma figura
alada que começava na esquerda da tela, se movia a direita como que alçando
voo, o que fazia agora era a sequência. Ela categórica, disse ao Sam Samuelson,
que queria comprar o da galeria, bem como esses dois, não me importa o
preço. Podem ficar expostos na galeria,
até eu conseguir esvaziar uma duas paredes do meu apartamento, tenho belas
obras, mas me faltam vida, para o meu final de vida. Dois dias depois, ele veio
jantar com eles, não viu o Ayrton, quando perguntou aonde estava, lhe disseram
já o chamamos, disse que já desce.
Entrou
sala adentro a cara era fantástica. Vou
tomar um banho, já me junto a vocês. Mas
Sam não lhe permitiu. Tenho que avisar
de três coisas, o quadro da galeria foi vendido, bem como o do anjo negro, você
voando, também.
Como? Ele contou quem era a senhora Goldstein, ela
esteve aqui, viu você trabalhando, mas não quis interromper, disse que os
quadros podem ficar na galeria, enquanto desocupa paredes da casa dela, que
tudo isso para ela significa vida. Que está cansada do que tem.
De
quanto estamos falando perguntou o Roberto?
Cinco
mil dólares, respondeu o Sam, sem a minha parte que já retirei. Ayrton olhava para ele sério, e se não quero
vender.
Aí estou
fudido, respondeu diretamente o outro.
Ela vai me matar, fazer picadinho.
Antes
quero conhece-la, ele não disse nada, era um envelope com um timbre, dentro um
convite manuscrito convidando os três para um jantar informal. No final de semana.
Ele
foi pensando deve ser uma velha louca.
Caiu para trás quando a viu, estava com seus cabelos brancos, eram
tantos que pareciam de prata, soltos sobre uma roupa que devia ser antiga pois
não se usavam mais. Depois soube que era
um Palazzo Pigiama de um famoso costureiro italiano, já falecido, feito em
brocado prateado com seda negra.
Começou
a falar com ele, segurando sua mão, quando te vi pintando, sei que é algo
somente teu, mas sem querer eu entrei na história, a fiz minha, essa vontade de
voar sobre as ondas que algumas vezes temos, como se fossemos donos do mar, do
ar. Isso me fez me sentir viva outra
vez. Passara para uma sala, que estava
cheia de caixotes, mandei doar todas as obras que estavam aqui para o MoMA, que
eles aproveitem para enriquecer sua coleção.
Mas o
que tinha nessas paredes?
Algumas
obras de Picasso, dois Monet, quatro Braque, que comprou meu marido, eu de uma
maneira os odiava, menos Picasso, porque se tentava entendê-los dava um nó na
minha cabeça.
Vai
sobrar uma parede, mas depois me pintas alguma coisa mais.
Eram
só os cinco jantando, depois ela avisou, vem algumas pessoas para tomar um
drink, eu sairei com duas delas para um show de jazz, se querem me acompanhar,
adoraria.
Não o
deixava afastar-se dela, lhe disse baixinho, é muita gente chata junto, mas tem
uma coisa vão te fazer famoso, quando eu disse que tinha comprado o quadro da
galeria, riram de mim dizendo que eu nem conhecia o pintor. Eu disse que sim, os mandei tomar no cu.
Minha
família emigrou para cá da Polônia, com a chegada do nazismo, quase morremos de
fome, eu fui vendedora de uma loja fina,
Um dia meu marido entrou para comprar um presente para uma amante dele,
dois dias depois voltou dizendo que estava solteiro, que não podia deixar de
pensar em mim. Meu inglês era horrível,
mas a maioria pensava que tinha um sotaque francês, que era fino. O enrolei meses, até ter certeza de que não
tinha mais nenhuma amante, me casei com ele, infelizmente o único filho que
tivemos morreu na guerra do Vietnam, ele morreu de tristeza. Sobrei eu só vivendo nessa merda de
apartamento, que mais parece um mausoléu, ao ver teu trabalho me senti viva.
Obrigado garoto.
Ele se
desculpou de não ir ao show com eles todos, prefiro um dia sair contigo
sozinho.
Eu
passo pelo studio para te ver. Posso.
Ele
foi direto para lá, colocou uma tela retangular alta, começou a pintar a
senhora como a imaginava, da esquerda para a direita, numa sucessão de
personagens como ela tinha contado, era como se uma imagem se sobrepusesse a
outra, a mais impressionante, foi de um momento fugaz quando ela falou da morte
do filho e do marido. Depois a direita como uma maestra de cerimonia ela na
noite que a conheceu.
Estava
ali retocando na quarta-feira uns detalhes rebuscados, quando ela apareceu, se
desmoronou numa cadeira, ficou aos prantos. Como conseguiste sentir tudo isso.
Pelo
que conversamos. Esse é um presente meu
para a senhora, que se mostrou autêntica comigo, eu detesto gente chata,
desconfio delas.
Meu
amor, eu aguento essa gente para não me sentir sozinha, naquela noite te
procurei várias vezes para fazer algum comentário.
O que
vais fazer agora?
Ia
descer para comer alguma coisa.
Coloque
só uma calças jeans uma camiseta, foi então que ele reparou que ela estava
vestida assim, apenas levava uma jaqueta Chanel por cima.
Vamos
comer num lugar que adoro. Ele ficou
imaginando num lugar chic, nada disso foram comer no restaurante judeu,
daqueles antigos, todos a conheciam, desde os donos aos cozinheiros. Trouxe um amigo para comer no meu
restaurante preferido.
Sentaram-se
junto a janela, olhando o movimento da rua, era uma típica avenida de Chelsea,
riam das figuras que passavam. No teu
momento mais colorido, lembre-se disso, que ricos ou pobres, todos tem cor.
Ficou
olhando para ela, cada vez que nos falamos, aprendo algo da senhora, me faz
bem. Se eu não fosse gay, me casaria
contigo. Tens cor na alma disse ele para
ela.
Nunca
mais se separariam até a morte dela.
Quando
teve uma serie de quadros prontos, fez uma exposição na galeria, no lugar do
primeiro quadro estava o dela. Estava
tão abarrotada a vernissage, que os dois escaparam, foram comer cachorro quente
na praça em frente, com um copo de champagne na mão, ele acabou oferecendo para
o rapaz do carrinho em troca de uma Coca-Cola gelada. As pessoas os procuravam, mas só o Todd os
viu.
Ele
achava interessante a ligação dos dois, quarta-feira era o dia dela, como ele
dizia, iam a algum museu, almoçar por aí, fizeram um passeio entre Manhatan e Staten
Island de ferry, como qualquer turista passeando.
Tinham
sempre o que falar, ele a escutava falar do que entendia por arte, ele do que
almejava alcançar.
Os
quadros da galeria que não eram delas, foram vendidos. Ele tinha uma boa soma de dinheiro, ela lhe
disse, se não queria ir com ela a semana da moda em Paris, normalmente me
hospedo na casa de uma amiga. Mas se
vens alugaremos um apartamento para os dois.
Seu
pai ficou preocupado, mas Todd, lhe disse tens que dar asas para que ele voe.
Ela
tinha na sua bolsa como um portifólio da exposição, além dos desfiles de moda,
foram ver muitas galerias no Rive Gauche, aonde estava o apartamento, muito
moderno, simples.
Riram
muito quando uma das amigas que encontraram na semana da moda, a chamou a parte
para perguntar se estava fazendo sexo.
Na minha idade, posso ser a avó desse rapaz, ele apenas me faz sentir
viva.
Foi
mostrando seu trabalho em todas as galerias, ela falava um francês perfeito.
Quando
foram à casa da amiga, ela avisou antes, adora fazer sexo não importa com quem, cuidado.
A
mulher só faltou abaixar suas calças.
Mas ele não permitiu, sinto muito senhora, não sou um gigolo.
Sinto
muito, mas tinha que fazer essa visita, era casada com meu cunhado. Quando ele morreu ficou tão rica, que veio
viver aqui.
Nos
outros dias, andavam como faziam em NY, de calças jeans, tênis, camisetas,
visitando tudo que ele não conhecia.
Quando
lhe impressionaram as máscaras Africanas do Museu do Quai Branly, ela lhe
propôs fazer uma viagem ao Senegal, já que estava ali, era fácil, ele comprou
material, alugaram um carro grande 4X4, com um condutor, foram de vila em vila,
casebres que ele queria parar, para desenhar as crianças, o fazia tão rápido,
depois dizia a ela que tinha feito fotos como ele pedia, olha que olhar triste
tem essas crianças, nem começaram a viver, parece que já vem que suas vidas
será uma merda. Pedia
para os homens posarem nus para ele, bem como as mulheres, as envolvia com seus
panos coloridos, se sentava ali num banco, o motorista e guia dizia que podia
cair o mundo que ele não despertava de seus sonhos.
Todos
pensavam que eram mãe e filho em viagem.
Num lugar ermo, que viram umas chochas no alto da montanha quiseram
subir, o guia, disse que ali só vivia um curandeiro.
Os
dois subiram devagar falando coisas, sentiam uma atmosfera fantástica no local,
estatuas meio enterradas nas terra.
Depois ficaram sabendo por quê.
As pessoas se convertiam em muçulmanos, tinham medo de ter as velhas
esculturas dos orixás, então levavam até lá. O velho tinha uma idade
indefinida, podia ter cem como duzentos anos. Estava sentado num banco, quando eles
chegaram.
Falou
que os dois em vidas passadas tinham sido família, que esse reencontro, a tinha
feito reviver toda sua vida, os dois são de pontos diferentes do mundo, mas ele
nunca vai esquecer que a conheceu. Tu o
esperavas todo esse tempo.
Ele
perguntou se podia desenha-lo, ele fez um movimento, disse desenha esse homem
que a partir de agora vai acompanha-lo, ele levantou a vista, ali estava um
negro imenso, só com um taparabos.
Falou no seu ouvido, eu estava te esperando Ayrton, agora sou teu
protetor, desculpe o passado, mas tinha que acontecer.
Ela
lhe perguntou com quem estava falando, o velho explicou a ela, que só ele veria
esse homem, que o ia acompanhar até o resto de seus dias. Nunca deixará de te desvie de teu caminho.
Quando
voltaram estava cheio de material, imprimiu as fotos de Goldstein tinha tirado,
da criança, junto com seus desenhos. Um
dos meninos em trapos, ele pintou sobre um desenho geométrico em branco e negro
da engrenagem de uma máquina, a criança com seus trapos coloridos, olhando
desencantada da vida. Assim foi fazendo,
todos de bom tamanhos, depois o velho o colocou num quadro grande, mas somente
detalhes de seus olhos falando com ele que tinham ficado em sua memória, o
resto eram detalhes de Africa, detalhes de esculturas, desenhos, era uma visão
diferente de Africa, misturou depois com elementos dos gárgulas, como se os animais
estilizados em gárgulas estivessem na floresta.
Ficou
três meses, quando só saia na quarta feira, que era seu dia de descanso,
Roberto, Todd tinham que subir para falar com ele. Um dia fazia muito calor, os
dois ficaram ali sentados sem camisas, ele pediu para os dois tirarem a
roupa. Os pintou nus, no meio da selva,
o quadro era de uma beleza incrível, pois não havia sexo ali, somente dois
homens abraçados, como sempre estavam.
Esse por mais que Sam quisesse levar para a Galeria, não permitiu,
desceu ele mesmo para o salão dos dois.
Todd de brincadeira dizia que nunca mais poderiam convidar ninguém para
irem até ali, pois iram querer ir para a cama com eles.
Todd
um dia lhe confessou que quando ele pediu para os dois ficarem nus, imaginou
que ele queria transar com os dois.
Ele riu,
Todd, desde que cheguei só fiz sexo com uma pessoa, daquelas de uma noite,
ainda não encontrei a pessoa que me desse um click. Não se preocupava com isso, sabia que um dia
chegaria à pessoa certa.
Dois
dias depois da inauguração da exposição sobre a Africa, Goldstein, tinha
convidado os principais diretores dos museus americanos e franceses. Não
sobrou nenhum quadro, ela ainda fez um jantar no salão aonde tinha nas paredes
os quatro quadros dele, o museu Pompidou pediu os quadros emprestados, para
montar uma sala. Ela ficou de
responder, morreu dois dias depois.
A
grande surpresa, foi que deixou tudo para ele, as obras de artes antigas já
tinham doado a museus, a casa estava limpa.
Pela
primeira vez chorou muito, perdia não uma benfeitora, mas uma grande amiga, estava
inconsolável. Roberto e Todd, estavam
preocupados com ele. Fazia semanas que
não subia ao studio. Um dia
desapareceu. Ninguém sabia aonde estava.
Tinha
colocado à venda o imenso apartamento dela, a ele não interessava viver ali,
tampouco transformar o local num atelier, não encaixava, atendeu a última
vontade dela, enviou os quadros para Paris.
Passou
quase três semanas desaparecido, até que uma pessoa o viu, perto do restaurante
que ia com ela em Chelsea, estava vivendo na rua.
Não
estava tomando drogas nada disso, apenas tentava entender o mundo dessa gente
que vive na rua.
Depois
de tomar um banho, e que Todd lhe raspasse a cabeça, pois estava cheia de
piolhos, ele se centrou, pintou esse universo, os homeless. Eram pinturas duras, drogados, ex-militares
que ele tinha desenhado, muita coisa estava em sua cabeça. Quando terminou o último quadro, eram quase
60 em vários tamanhos, Sam teve que alugar uma sala ao lado da sua para fazer a
exposição. Chegou na casa dos seus
pais, os dois estavam sentados o esperando, já tinham conversado sobre seu
sumiço. O assunto era outro, sua mãe,
nesse entra e sai de clínicas, tinha se suicidado. Sem avisos, sem recados, que informou ao
Nestor foi a vizinha. Eles conseguiram
manter o corpo na morgue, num congelador, até eles chegarem.
No
enterro só estavam eles, Roger, Nestor, a vizinha e seu filho Claudio, seu
antigo namorado, se surpreendeu, pois, era outra pessoa. O abraçou, beijando,
velho amigo. Estiveram conversando
depois, Claudio confessou que ele tinha sido seu único amor, que nunca tinha
amado alguém como ele. Nesse vai e vem,
retomaram seu romance, ele tampouco tinha esquecido o amigo. Este contou, não sabe o bem que me fizeste,
naquele dia minha mãe chegou em casa desesperada, se sentou comigo, conversamos
honestamente. Reconhecia ter perdido o
contato comigo. Cada vez que tua mãe
voltava para casa, a tentava jogar contra mim, mas nunca conseguiu. A um ponto de minha mãe ignorá-la totalmente.
Uma
noite depois de terem feito sexo, como dois homens adultos, ficaram
conversando, Claudio contou o que estava fazendo, estava desenhando moda para
várias boutiques, bem como estamparia.
Não gostaria
de ir estudar em NY, lhe perguntou, estou negociando a compra de um apartamento
antigo em Chelsea para transformar em meu studio, bem como minha casa, podias
ficar lá, de uma certa maneira é perto da Parsons ou de outras escolas de moda.
Sua
mãe agora, tinha um namorado sério, achou ótima a oportunidade, não podes
perder, além de que vocês se dão bem.
Claudio,
logo estava trabalhando como fazia no Brasil, desenhando estamparias, criando
moda, no apartamento, ele tinha um studio só para ele, agora os dois eram
clientes do restaurante que ia com Goldstein, saia dali com várias quentinhas,
para distribuir entre seus conhecidos da rua.
Tentava
ajudá-los, embora que a escolha as vezes de viver assim eram deles mesmo.
O
romance deles, agora era sério, olhava o exemplo do Roberto com o Todd, as
conversas eram sempre longas ao final da noite, duas vezes por semana os velhos
como eles diziam vinha jantar com eles.
Claudio agora usava uma barba grande, que o
fazia extremamente viril, quando estavam sós trabalhando andavam nus pela casa,
as vezes se cruzavam por qualquer coisa, provocavam um ao outro. Quando os velhos se aposentaram, ficaram na
dúvida aonde viver. Não queriam viver
longe deles, ao mesmo tempo queriam um apartamento menos complicado.
Conseguiram
um perto deles, assim ficava mais fácil. Agora iam comer com eles, os dois
entraram para um associação que protegia e ajudava o pessoal da rua. Faziam o possível para ajudar as pessoas. Nunca estavam quietos.
Ele
conseguiu reunir novamente quadros de todas suas épocas, já com seus cinquenta
anos, fez um retrospectiva, na galeria do Sam, que passava a mesma para seu
filho. Embora não houvesse nada para
vender, até os quadros que estavam em Paris voltaram para lá. Foi entrevistado para revistas, televisão. Um dos entrevistadores lhe perguntava, como
definia todas essas fases, todas eram fortes, mas a do homeless era a mais
forte de todas.
Imagina,
perdi uma mulher maravilhosa em minha vida, vamos dizer minha alma gêmea,
andamos muito, nunca conversei tanto com uma pessoa, ela fez o mesmo comigo.
Viajamos juntos, quando ela morreu, me desequilibrei, pois ficou faltando uma
parte de mim. Foi duro me recuperar, foram esses amigos da rua que me ajudaram,
afinal perderam muito mais coisas do que eu.
Pelo
que sabemos também recuperaste o amor da tua infância e juventude. Sim, voltamos a estar juntos, nunca amei
ninguém, ele era a única pessoa sempre que estava comigo, nos momentos
difíceis. Quando vim embora, podia ter cobrado
alguma coisa, pois ficava para trás, mas nunca me esqueci dele. Agora nos casamos. Apesar de velhos para alguns nos casamos
porque sabemos que queremos seguir juntos.
Não somos pessoas que frequentam a noite, vivemos para nosso trabalho,
viajamos muito sim, com meus dois pais.
Em
seguida foram fazer uma viagem longa pela Itália inteira, gostaram tanto da
Sicília, que alugaram uma casarão numa vila antiga, ficaram por lá alguns anos
pintando, Claudio desenhando, os velhos se divertiam na vila.
Quando
tinha uma boa coleção de quadros prontas, a ofereceu para uma galeria de Paris,
que aceitou imediatamente. Estavam tão
habituados nessa vila, que ficaram a viver lá.
Os
velhos tinham seus amigos, com que iam jogar cartas, os dois seguiam sempre
trabalhando, nem era pôr dinheiro, ajudaram a montar uma escola na vila, para que
as crianças não tivessem que ir estudar fora.
Ajudaram as mulheres a montar uma associação, para produzirem cerâmicas,
estavam sempre em movimento.
As
vezes os dois na cama, ficavam olhando um para o outro, lembra-se que fazíamos
isso vestidos, alisávamos nossos sexo, nos beijávamos, sempre fomos importantes
um para o outro. Agora podemos dormir nus, fazer sexo como o que sonhávamos em
fazer, mas tínhamos medo.
A mãe
do Claudio vinha visitá-lo sempre que podia, passava meses com eles. Se entrosava na vila com as mulheres. Pensava que tinha sido infeliz, mas a vida
delas é mais difícil que a que eu tive.
Ele
ainda sonhava as vezes que estava voando sobre as ondas, no dia seguinte ia à
beira mar, para se relaxarem.
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