lunes, 17 de agosto de 2020

ENCONTRAR A SI MESMO

 

                                    

 

Bom meu problema sempre foi o mesmo desde os dez anos de idade.  Aguentar minha mãe, tinha sido uma mulher bonita, que foi deixada pelo marido que a trocou por um homem.

A partir desta época tudo sempre foi a mesma ladainha.  Quando chegava em casa era submetido a um verdadeira inquérito, para saber se não andava com más companhias.

Passava o dia inteiro na escola, inclusive comia lá, a escola era paga pelo meu pai, bem como o curso de inglês que fazia.   Era um excelente aluno, além de um bom atleta, aproveitava horários que os outros não estavam, para fazer mais exercícios.  O curso de inglês tirava de letra, era o melhor, mas tinha perdido todos os intercâmbios possíveis, porque ela não permitia.

Sabia que a muitos anos, revisava meu quarto inteiro, por isso, nunca guardava nada em casa, minha mochila era impoluta, uma vez fiz uma maldade, com o dinheiro que ganhava da semana, comprei um cadeado, coloquei na mochila, a filmei rompendo a mochila inteira, falando absurdos, escondi a gravação.  Agora me faltavam dois dias para a graduação, nunca permitiu que eu avançasse na escola, dizia que cada ano tinha que aguentar sem reclamar como disciplina, devia ser como os demais.

Ela era funcionária pública, nunca tinha conseguido nenhum ascenso dentro do departamento que trabalhava, desconfiava que por isso não me permitia avançar antes, pois assim poderia ir para a universidade antes.  Estava analisando a possibilidade de pedir minha independência com 17 anos, quase 18, mas sabia que os juízes não eram muito simpáticos a respeito.

Cheguei em casa cansado, tinha ido treinar judô na escola com companheiros, amigos não tinha nenhum, a não ser o filho de sua melhor amiga, que tinha o mesmo problema que o meu, seu pai tinha abandonado a mulher formando outra família.  Vivíamos no mesmo edifício, na Rua Otaviano Hudson, ali perto da praça General Arcoverde.  A única coisa que tinha de diferente do meu amigo, era que ele estudava numa escola pública, pois a mãe vivia da pensão do pai.

Estranhei ao abrir a porta, não escutar as mesmas perguntas de sempre, quando cheguei ao salão, estavam as duas conversando, me fez um sinal que significava de devia ir para o meu quarto, que não devia escutar o que diziam.  Sua amiga tinha parado no meio de uma frase que era “tenho certeza que era ele”.

Fiz que ia para o meu quarto, abrir, fechei a porta batendo, voltei de mansinho, ai escutei o que dizia,  tenho certeza que era ele, bonitão como sempre, acompanhado do americano, entraram no hotel Excelsior, tu sabes que cada vez que vem, sempre se hospeda ali.

Nunca mais tinha visto seu pai, tudo o que tinha dele era uma foto escondida detrás de uma foto de sua mãe no seu quarto.   As vezes abria o porta foto, tirando a foto para olhar, de fato seu pai era um homem muito bonito.

Devagar, passou pela cozinha, saiu pela porta de serviço, que era a única que não fazia barulho, pegou o elevador,  quando chegou na rua, respirou fundo, era agora ou nunca.

Desceu a rua rapidamente, sabia aonde estava o hotel, pois costumava correr no calçadão nos finais de semana com o filho da vizinha, ultimamente o vinha evitando, porque sempre queria mamar o seu caralho.   Ah se as duas soubessem que eles faziam sexo desde os 15 anos.

Riu ao pensar nisso, mas ultimamente estava se tornando pesado, tinha medo de lhe confiar seus planos de ir estudar fora.   Tinha duas opções de bolsas de Estudos, ir estudar inglês nos Estados Unidos, ou entrar para a PUC, para estudar bioquímica, ou mesmo línguas.

O amigo reclamava dizendo que ultimamente estava calado, fugindo dele, não era uma mentira.

Quando chegou ao hotel, ficou do outro lado da rua, colado ao Bar e restaurante Maxin’s, viu que era besteira poderia ter saído, tomou coragem foi até a recepção, perguntou se o senhor Roberto Guimarães, estava hospedado no hotel?

Sim, chegou hoje de manhã.

Está no seu quarto?

A recepcionista olhou confirmando que sim, poderia dizer que  seu filho Ayrton Guimarães está aqui, que gostaria de falar com ele.

Nem dez minutos depois o seu pai desceu de camiseta, bermuda, sandálias.  Ficou parado olhando para ele, de cima a baixo.  Só disse como estas alto, meu filho, abriu os braços, ele se atirou.   Começou a tremer, não sabia como exprimir o que estava sentindo nesse momento.

No começo o tinha odiado, mas depois passou a entender o que ele sentia, principalmente depois que começou a ter sexo com seu amigo.

Venha vamos sentar no Maxin’s.

Atravessaram a rua, sem dizer uma palavra.   Quando se sentaram lhe perguntou o que queria beber.   Água somente, estava morto de sede, tinha vindo quase correndo de casa até ali, não era longe, mas fazia calor.

Como estas?  Nunca esperei que viesses me ver, cada vez que consigo que tua mãe me atenda, ela diz que não queres ver-me.

Não sabia disso, nunca me disse nada.        Atualmente passo a maior parte do tempo fechado no meu quarto, pois aguenta-la com as mesmas merdas de sempre, seus controles, suas perguntas idiotas, prefiro ficar fechado, alias fechado nada, pois a porta não tem fechadura.  Para ela poder entrar quando queira.   Estou farto de tanto controle.   Começou a rir, sem saber se era de nervoso.

Estas rindo de que?

O senhor sabe, quem controla muito é sinal que quer ser enganado, isso faço com ela.

O senhor como vai?

Apesar de nunca saber nada de ti, vou bem, tenho um bom emprego, vivemos bem, mas sempre venho ao Rio para ver minha mãe, agora ela está numa residência de pessoas de idade.

Pois que bem, eu não vejo a avó desde os 10 anos, nunca me permitiu ir vê-la.  A única vez que arrisquei me disseram que já não vivia lá.

Pois é está muito delicada, por isso venho vê-la.   Sempre pergunta de ti, invento alguma mentira piedosa.

Mas isso vai acabar pai, dentro de dias faço 18 anos, vou tomar rédeas da minha vida.

Este riu, imagino o escândalo.

Contou para o pai, eu já devia estar na universidade, mas ela fez tudo para que eu não avançasse nos curso. Dizia que eu tinha que ir conforme minha idade.  É um controle férreo sobre mim, apesar que os professores tentaram, mas não adiantou.   O mesmo no curso de Inglês, nunca permitiu que eu saísse para estudar fora.  Dizia que era besteira.

Tens namorada?

Mas bem namorado, a cara do pai foi ótima.

Na verdade, estou tentado escapar dele.  É filho da única amiga que ela tem, só me permite estar com ele, então com 15 anos começamos a transar, já que temos o mesmo tipo de mãe.

Como sabia que eu estava aqui?

Lhe contou que tinha escutado, não mencionou teu nome, mas entendi que era de ti que falavam, não podia perder essa oportunidade.

Nisso, se aproximou da mesa o homem com quem seu pai vivia.  Era tão alto quanto ele, de cabelos brancos.  Um tipão.

Se levantou estendeu a mão, Ayrton Guimarães, prazer em conhece-lo.

O outro ficou surpreso, Todd Stevens.

Nisso seu celular começou a tocar, ele olhou, era sua mãe.

Soltou ela não vai parar, até que atenda.

Atendeu, mamãe, estou correndo na praia, estou no meio da corrida, fez que estava ofegante. Sim vou para no Forte de Copacabana, depois vou até o Leme.  Até mais.  Se escutava a voz dela estridente, dizendo que tivesse cuidado.

Não mudou nada pelo visto, soltou seu pai.

Sim, esta cada vez pior, tudo é abaixo de chantagem, eu finjo que faço, mas mudo tudo para minha maneira.

Ela nunca me deu o divórcio, agora poderíamos estar casado,  mas disse que não ia permitir que eu tivesse liberdade de viver minha vida como queria.

O senhor tem planos para hoje a noite?

Por quê?

É a minha graduação na escola, gostaria que o senhor viesse.  Depois queria saber se o senhor está disposto a comprar uma briga, queria minha independência. Daqui dois dias faço 18 anos, tenho a oportunidade de ter uma bolsa de estudos como graduação em inglês, pelo instituto Brasil Estados Unidos.   Ela disse que nem pensar, que já basta de estudar inglês.  Que nunca sairei daqui.

Farias isso por mim.

Meu pai olhou o Todd, que fez que sim com a cabeça.

Amanhã vou visitar tua avô, queres vir?    Se escapo sim.

Bom tenho que correr um pouco para chegar em casa suado, tem gente que gosta de ser enganada.  Fez uma coisa que seu pai não esperava, o pegou pela mão o levantou, o abraçou beijando.  Quanta falta senti de ti meu pai. Fez o mesmo com o Todd, cuide bem dele por favor.

Saiu correndo pelo calçadão, mas voltou para dar endereço da escola para o pai, além do horário, o viu chorando, foi até ele secou as lagrimas, isso acabou meu pai.

Saiu correndo outra vez, chegou em casa suado, da porta sua mãe, já estava gritando se tinha encontrado alguém, não respondeu, já fazia tempo que não respondia.  Entrou no banheiro, tomou um banho, ela já estava batendo, histérica que ele não lhe tinha respondido.

Passou por ela enrolado na toalha, quando mais ela falava, ele acabou fazendo uma coisa, antes de entrar no seu quarto tirou a toalha, mostrando a bunda para ela.   Não enche o saco.

Bateu a porta, o silencio era fantástico, devia ter feito isso antes.  Se vestiu foi para a cozinha, fazer um sanduiche, pois tinha fome.

Depois se fechou no quarto, separando coisas, como que preparando uma mala para dar no pé.

Olhou mais tarde no relógio, se arrumou para ir a graduação, ela estava com um vestido horrível, sua maneira de vestir-se era de muito mal gosto, a fazia aparecer mais velha do que era.   Ainda lhe perguntou não tens uma roupa melhor para ir.

Que mais dá é uma simples festa de formatura.  Quando saíram a vizinha já estava esperando, pelo menos ela se vestia bem.  Seu amigo sorriu timidamente, bom estamos ficando mais velhos hoje.

Nada disso vocês não passam de crianças, soltaram as duas ao mesmo tempo.  Nem se davam conta que os dois eram mais altos que elas.

Na escola se escaparam, para falar com os conhecidos.  Na hora de entrar para o salão nobre, viu que seu pai chegava, sabia que as duas estavam lá dentro.  Apertou a mão dos dois, beijando os mesmo.

Foi se reunir com os amigos.   Ele seria o orador da turma que se formava.

Foi também o último a receber o diploma.  O Diretor da escola, falou dizendo que tinha a honra de entregar o último diploma, ao melhor aluno da escola, em todos esses anos.  Um aluno que sempre honrou a escola, não só com suas notas, mas como desportista.  Esperava para ele um futuro brilhante.  Que pudesse escolher a carreira que quisesse pois tinha boas notas para tudo.

O chamou, lhe entregou o diploma.  Deixei por último porque ele também foi escolhido pelos seus companheiros de curso como orador da turma.

Hoje um amigo, falou uma coisa importante, estamos ficando mais velhos, complementaria que mais adultos, mas responsáveis do nosso futuro.  Cabe a cada um individualmente escolher seu rumo.  Temos que lutar contra tudo, contra todos, contra os moinhos de vento como fazia El Quixote de Cervantes, para conseguir sermos uma pessoa única.         Isso somos, pessoas, queremos viver nossas vidas, sei que os pais de hoje tem mais problemas, temos ao nosso alcance informações de todos os tipos (não era seu caso, só podia usar computador na escola, tampouco tinha celular), tentações das mais variadas, drogas, sexo and Rock Roll, como se diria antigamente na época deles.    Temos que ir em frente despejando nossos caminhos.  Sei que alguns ficaram pelo meio, mas não importa, desde que esteja conscientes de que fizeram o melhor.  Desejo a todos uma feliz universidade, um futuro com oportunidades, rumos, não se esqueçam que a linha reta é muito chata.   Todos riram. Ele sempre falava isso com os professores.

Agora um aplauso para os professores que nos aguentaram, para os pais que as vezes pensamos que são chatos, ou na verdade são, mas fazer o que?   Acham que é um direito deles.

Ultima palavra “A LUTA”.

A turma toda ficou em pé o aplaudindo, inclusive os professores, tinha falado sem ler nenhum papel, tinha escrito um discurso, mas sua mãe não gostou.  Esqueceu que ele sabia falar em público, bem como pensar.  Olhou para ela, estava de cara fechada, mas ficou alegre em ver seu pai na última fila em pé junto com o Todd, aplaudindo. Desceu correndo foi até ele o abraçou.  Sua mãe estava irada, o agarrou pelo braço, querendo arrasta-lo dali ele lhe deu um tapa em sua mão, vou comemorar com meu pai, que nunca permite que me veja, quando vem.

Ela tentou agarra-lo outra vez, a senhora fique quieta, pois posso chamar a polícia. Quer um escândalo, posso fazer.

Ela tinha horror a escândalo, embora fosse ela que sempre provocava.  Olhou com ódio seu pai, que lhe enfrentou.  Segunda-feira te espero junto com o juiz. Meu advogado acaba de falar com o teu, olhe seu celular, deve ter alguma coisa importante para ti.

Abraçou novamente o filho, seu amigo passou por ele, ia se aproximar, mas sua mãe o puxou.

Pode me apresentar o diretor?

Sim, foram até o palco, o apresentou, meu pai, professor.  Este levantou a cabeça, sorriu, olá amigo, como vai.

O senhor conhecia meu pai?

Sim, sempre lhe passei informação ao teu respeito, mas em segredo, se tua mãe descobrisse te tirava da escola.  Esse era o preço, silencio.

Olá Roger, fico contente que meu filho tenha tido o melhor, achas que ele pode realmente fazer qualquer universidade?

Não só aqui como fora daqui.  Já devia estar numa, não sei como ele aguentou ter que ficar aguentando os colegas mais atrasado do que ele.  A tempos sem que ele mesmo se desse conta lhe fiz um teste de Inteligência, a sua supera a média mais alta.

Foram jantar, num restaurante chic em Ipanema.  O celular não parava de tocar, ele acabou apagando o mesmo.  Pois era sempre ela.

Segunda-feira fazes 18 anos, poderás aceder a tua conta no banco, retirar todo o dinheiro que depositei todos esses anos.

Não tenho conta no banco, não sabia de nada disso.

Desde o momento que comecei a trabalhar em NYC, depositei religiosamente dinheiro para tua manutenção.  O apartamento foi um presente de casamento de meus pais, ficou para ela.

Mas todos os natais, te mandava presentes, os dois últimos, te mandei um laptop, bem como um celular da Apple.

Pois eu nunca vi presente nenhum, não tenho laptop, uso sempre os da escola, celular esse velho dela.    Deve estar tudo guardado no quarto dela que está sempre fechado a chave, é a única porta da casa que tem chave.

Espera, se levantou, falou pelo celular. O via balançando a cabeça.

Ele ficou conversando com o Todd, não sabe o quanto quero conhecer direito meu pai.

Ele é um grande executivo em um banco de investimento em Manhatan,  sabe sempre por ti pelo seu amigo diretor da escola, mas é tudo que sabe, também sempre quis estar mais contigo, mas tua mãe nunca permitiu.   Ou estava de férias em algum lugar, ou fazendo um curso fora da cidade.

Se eu nunca sai de férias fora do Rio de Janeiro, sempre passei as mesma em casa, curso só de inglês, mas isso, durante o ano.   Estava conversando com o Todd em inglês. 

Te expressa muito bem em Inglês.  Teu pai foi traduzindo para mim o que falavas.

Ele tirou do bolso, imagina escrevi um discurso, ela rasurou tudo, me fez escrever esse, falando da dela mesma, do sacrifício que fez para me manter na escola.  Mas tudo mentira, sabia pelo diretor que meu pai pagava a mesma.   O curso de inglês, ela pensava que era uma extensão da escola, mas sei que meu pai pagava também.

Estou mergulhado num poço de mentiras desde meus dez anos de idade.

Seu pai voltou, quase em seguida, sentaram comeram, quando estavam na sobremesa chegou o Roger, diretor da escola.  Vim assim que teu advogado me avisou.

Sabemos que pode acontecer alguma coisa se te levamos para o hotel.  Então Roger ofereceu sua casa.  Ele ira com meu advogado, bem como a polícia, a casa da tua mãe, para buscares tuas coisas.  Depois até segunda-feira, ficaras na casa dele.   Amanhã passo cedo para te buscar para irmos ver tua avó.  Esta louca para isso, já falei com ela que tinha te visto.

Depois chegou o advogado, era outro amigo de seu pai, se abraçaram, sempre que encho o saco cada vez que venho.   O levou a parte, mas escutou o que dizia, quero que verifiques a historia do dinheiro no banco, sempre mandei bastante, mas ele diz que não sabe de nada.

Era principalmente para ir à universidade.

Foi com os dois, depois de abraçar e beijar seu pai bem como ao Todd, que ficava meio sem graça.

Quando chegaram, um carro da polícia, com uma ordem de um juiz estava esperando. Quando abriu a porta, escutou um escândalo,  estava com sua amiga, furiosa. Dizendo ele deve ter escutado o que dizias.

Mas falava tão alto que parecia que estavam brigando.

Bateu na parede, ela ficou parada vendo os dois homens, bem como o policial. Este estendeu um papel para ela, leu branca de ódio.

O rapaz ficara em guarda com o advogado, segunda-feira de manhã, a senhora tem que se apresentar ao juiz.  Aconselho a levar todos os papeis que tem dos bancos.   Não disse mais nada, esperaram que ele enchesse uma bolsa grande de esporte que tinha, suas roupas já estavam todas dobradas para guardar numa mala.  Pegou o porta retrato, isso com ela olhando, retirou a foto dela, deixando aparecer a de seu pai.  Isso nunca descobriste verdade?

Ficou furiosa, eres igual a ele, me vai abandonar também.

Se eu fosse a senhora, fazia um exame de consciência, tens sido desagradável anos trás anos conviver consigo.

Ela ficou muda.

Saíram do edifício, sabia que todos estavam olhando, imagina um carro de polícia parado na frente era muito para chamar a atenção.

Foram para a casa do Advogado Nestor, só então entendeu que ele vivia junto com o Roger, os dois formavam um casal interessante.   De dentro saiu o filho deles que era seu colega na escola.   Sabia que esse garoto era adotado, mas não que era filho dos dois.  Viu uma foto dos dois juntos com o garoto no meio.  Várias vezes ele tinha defendido o mesmo de bullying na escola, treinavam junto o judô, jogavam Vôlei, na equipe da escola.

Filho hoje tens companhia para dormir, arrume a cama debaixo para o Ayrton.

No quarto contou tudo para o outro, nunca tinham falado nada de suas vidas.  Talvez por  falta de oportunidade.

No dia seguinte de manhã, o pai passou com o Todd, para irem visitar sua avó,  ela ficou emocionada, fazia mais de oito anos que não o via.   Não parava de passar a mão pelo seu rosto, como es bonito meu neto.   Sabes que levas o nome do teu avô.    Ele iria adorar te conhecer, avisei tua mãe quando ele morreu, bateu o telefone na minha cara.

Sinto muito avó, não ter podido me despedir dele.  Depois a senhora tem que me dar uma foto dele.

Espera, essa vais gostar,  rebuscou numa caixa, olhe, era teu avô na mesma idade tua.  Veja meu filho como os dois são parecidos.   Realmente a não ser pela roupa, poderia ser uma foto dele.

Uma vez teu avô ficou bravo, foi até o apartamento, estavas na escola, tua mãe o ofendeu muito, morreu dias depois.   Dizia que não queria morrer sem ver-te, nunca me disse o que foi que ela lhe falou.

Passou uma outra senhora, a chamou para lhe apresentar, esse é meu neto, esse meu filho apertou a mão do Todd, esse seu marido.   O dizia com orgulho.

Porque a senhora não se veste, vamos comer por aí. Faz tempo que a senhora não sai.

Sabe se existe aquele restaurante ali no começo de Barra da Tijuca, que teu pai adorava nos levar para comemorar coisas.  Ainda existe?

Vou descobrir rápido.   Seu pai acessou o celular, era um último tipo.  Em seguida o viu falando com alguém.  Voltou rindo, fiz a reserva,  quando dei meu nome, perguntou se eu era filho do Comandante Guimarães.

Sabia que teu avô era comandante da Marinha?

Não pai, a menor ideia, ela nunca falava nessas coisas, tampouco adiantava perguntar.

Tinha exata noção que todos esses anos tinha vivido numa bolha de mentira, que algumas vezes com muito custo tinha conseguido fazer um buraco.  Mas sempre esperando um dia que pudesse ser livre.

O pai o viu calado, perguntou por quê?

Respondeu, porque todos esses anos vivi numa bolha, cheia de mentiras, tentando que ficasse alienado de tudo, mas felizmente não conseguiu, porque chegou um momento que aprendi a mentir tão bem ou melhor do que ela.

Ontem quase soltei o do meu amigo, já que sua vizinha faz igual, mas depois pensei que não tinha esse direito.

Fizeste bem meu filho, não se deve mexer com a vida dos outros.

Me lembro um dia tendo aula com o Roger, que falávamos de hipocrisia, eu vesti a carapuça totalmente, pois imagina o tempo todo ter que fingir que tudo está bem.  Ter que aguentar aulas que já sabia tudo, procurar não responder antes dos outros.                      Eu só respondia se me perguntassem.  Roger ria muito comigo por causa disso, dizia que os professores nunca tinham reclamado de mim.  Tinham medo de que eu me tornasse pedante.

Sua avó do assento de trás, que gosto da ver, pai e filho conversando tranquilamente.

O almoço foi genial, sua avó estava com a língua solta, tinha tomado um copo do vinho que gostava branco, bem frio.   O dono do restaurante se lembrava do detalhe.

Quando lhe apresentaram, o homem disse o Comandante Guimarães falava que tinha um neto, mas pensei que vivesse nos Estados Unidos, pois nunca o tinha levado ali.

Teu avô era uma grande figura, fui marinheiro com ele.  Me deu força para ter esse meu restaurante, mas já estou velho, preciso me aposentar, mas nenhum filho quer isso, todos fizeram faculdades graças a deus, tem sua vida.  Vou aguentando para me distrair, além de que o pessoal aqui a maioria está comigo desde o começo.   Nos aposentaremos todos juntos.

Nunca estive na Barra, é a primeira vez, meus amigos vinham fazer surf aqui, na segunda feira sempre estavam falando nisso, eu quieto, pois como ia dizer que tinha passado o final de semana sentado num sofá, vendo secção da tarde com minha mãe.  Se tentava escapar era pior, pois ficaria falando horas.   Se dizia que ia ao cinema, só podia ir com ela, com a amiga, o filho desta, mas claro elas queriam ver comedias românticas, nos dois queríamos ver um filme moderno.  Isso nem pensar.

Meu amigo pelo menos passa um final de semana com seu pai, além dos irmãos mais novos que tem.   Pelo menos tinha o que contar.

Ficou parado com o garfo no ar, olhando o mar, se pudesse, se tivesse assas nesse momento estaria fazendo voos rasantes sobre as ondas.

Notou que sua avô pousava a mão no seu braço.  Isso fazia seu avô muito, quando lhe perguntava o que?   Me dizia se tivesse asas nesse momento estaria fazendo voos rasantes sobre as ondas.

Era exatamente isso que estava pensando.    Do nosso apartamento, se via o mar, ele sempre gostou de ficar sentado olhando as ondas, aliás, morreu assim, sentado na varanda, olhando as ondas.

Eu avó quando quero pensar, vou a praia, fico olhando as ondas para ver se me responde as minhas incógnitas.

Quase soltou, quem eu sou, para aonde vou, quem serei no futuro.

Depois a levaram outra vez a residência em Jacarepaguá, foram para a casa do Roger.

O Nestor disse que o advogado dela tinha chamado, queria saber quem era esse novo juiz. Lhe disse a verdade, o outro se aposentou.   Ainda soltou, ela esta me chamando a cada 15 minutos, repetindo a mesma coisa, essa mulher está louca, pensei que os anos tivesse melhorado, mas creio que piorou.

Lhe disse que não falasse mais nada, pois o poderia chamar para depor.

Na segunda-feira, antes de saírem da casa do Roger, só iria o Nestor, foi com ele primeiro até seu escritório.   Lhe perguntou se sua mãe sabia que ele vivia com o Roger.  Acredito que não.

Quando chegaram ao fórum, ela estava com a mesma roupa do outro dia, cabelos despenteados, de braço com a amiga.   Não olhou em sua direção.

Mudou de comportamento quando viu entrar o juiz, não era o mesmo que ela conhecia, perguntou alto ao seu advogado, aonde estava o outro juiz.   Este respondeu se aposentou.

Não quero esse juiz, tem cara de filho da puta.  Evidentemente começava mal, o juiz bateu o martelo.

Iremos por parte nesse caso.

O Nestor a chamou ao banco de testemunhas, quando lhe colocaram a bíblia, se negou a colocar a mão em cima.   Bom descobrimos que todos esses anos que meu cliente pedia para ver seu filho, a senhora dizia que estava de férias fora, ou fazendo um curso, é verdade isso.

Ela tinha se convencido realmente disso que disse que sim.  

Pode nos detalhar essas férias, esses cursos.   A resposta foi incrível.  Vá tomar no cu.

O juiz a chamou a ordem.

Seguinte pergunta, hoje cedo fizemos um levantamento no banco.   Seu ex-marido, deposita mensalmente no banco um valor alto, para a universidade de seu filho.

Soubemos que a senhora, com o seu advogado, bem como o juiz, logrou sacar todo esse dinheiro, queríamos saber aonde estão, já que esse dinheiro não fazia parte do que ele depositava para despesas de seu filho.

Se negou a responder, tinha visto tanto filmes que respondeu me acolho a quinta emenda.

A cara do Juiz era ótima.   O advogado dela, não fez nenhuma pergunta.

Ele foi chamado a depor.  O outro advogado ia dizer que ele era menor de idade, quando o juiz lhe perguntou qual a tua idade.

Hoje senhor faço 18 anos.   Ela gritou, mentira, tem só 16 anos, é um irresponsável.

Senhora, mais uma interrupção, a mando para o calabouço.

Meu jovem, como é teu dia, ele detalhou.

Tens amigo?   Só um, me é permitido, o filho da senhora que está ali.  Mais ninguém, todos os dias tenho que falar com quem conversei, se falei alguma coisa que não estava certa etc.

Como os jovens da tua idade, quais os teus esportes favoritos?

Faço o que esta permitido na escola, fora dela, escapo para correr na praia.

Todos esses anos, você recebeu pelo teu aniversário, natal, algum presente de teu pai.

Nunca, ele me disse que no último ano me mandou um laptop além de um celular, mas nunca os vi em minha vida.

Ela gritou, tudo isso para o corromper, sem querer soltou tudo de uma vez, todos esses presentes, caros, livros de museus, coisas assim, tudo eram para corromper meu filho, esculturas nuas, tudo sexo.   Porque o pai dele sempre só pensou nisso.

Ele sem querer perdeu a paciência, a senhora acredita que nunca fiz sexo?

Claro que não, eu não ia permitir.

Mas permitiu, porque eu fiz sexo desde os 15 anos, com o filho da sua melhor amiga. 

A cara da outra era de horror, sua mãe estava de boca aberta.   Saíste ao teu pai, um viado, vou te colocar num colégio interno, do qual nunca mais vais sair. Isso falava em pé com o dedo em riste.  Por detrás veio um policial, a fez se sentar.

Agora senhor juiz, gostaria de fazer uma coisa inédita, interrogar o advogado da senhora.

Este tentou saltar o convite, mas o juiz concordou. 

Este estava nervoso.  Ontem o senhor me contou, vou mencionar, porque em nenhum momento me pediu confidencialidade.  Que o senhor junto com essa sua cliente, o anterior Juiz, fizeram tudo em conluio, pois o dinheiro nunca está no banco, os avisos chegam no dia seguinte são retirados.   O que queremos saber aonde está?

Ele apontou a ela, dizendo numa conta que abriu em seu nome.  Diz que por direito esse dinheiro lhe pertence pelos anos de amargura que ele lhe causou.

Bom senhor juiz, pedimos o embargo dessa conta, já que o dinheiro era depositado, para que o rapaz pudesse ir à universidade.

Para que ir à universidade, se acabara sendo um funcionário como eu.  Esse dinheiro senhor juiz é a garantia de minha aposentadoria.  Ganho muito mal, sou funcionária pública.

Este disse, pela sua ficha, inclusive uma péssima funcionária, inimiga de todos seus companheiros.

Tem muito viado no departamento sim, muitas putas, mulheres que saem com qualquer homem, não são pessoas honradas. 

A cara do juiz é ótima.

Uma última pergunta, ontem o senhor me fez um comentário, poderia repetir.

Não posso fazer isso, fiz em confiança.

Como em confiança fez uma série de coisas erradas, eu poderia pedir que o senhor fosse suspenso pela ordem dos advogados, por agir sempre de má fé.

Acurralado, soltou, eu disse que pensei que com os anos ela fosse entrando em razão, mas via que estava cada vez mais louca.

Para que disse isso.  Tudo virou um circo.  O juiz batendo o martelo ela gritando milhões de palavrões, a amiga tentou acalmá-la, mas ela repeliu, teu filho é viado corrompeu o meu. Coisas assim.

Quando finalmente os guardas conseguiram fazer as duas se sentarem, o advogado na cadeira de interrogados pediu água, isso foi demais para mim.

Bom o senhor que quer Doutor Nestor.  Que reconheçam os erros anteriores, dando a guarda ao pai, bem como a devolução do dinheiro roubado, ou perdão se ela assinar essa petição de divórcio, que o anterior juiz se negou sequer a olhar, é um divórcio à revelia.

O Juiz olhou para ela, sabe que a senhora pode ir para a cadeia verdade, por toda essa manipulação, roubo de dinheiro que não era seu, ela tentou falar, ele fez sinal de silencio.  Primeiro assine a petição de divórcio.  Lhe deram o papel ela assinou.  Segundo isso com o senhor advogado, esse dinheiro tem que estar na conta desse garoto hoje, que ele tenha acesso a mesma.   Segundo este outro papel, o declaro independente da família, nem guarda nem nada, tens 18 anos, eres dono do teu nariz.

Ele agradeceu o juiz.

O jovem quer retirar alguma coisa da casa da sua mãe?

Não senhor, a única coisa que tinha valor, era um foto do meu pai, que escondia atrás de uma dela, no meu quarto, isso ela nunca descobriu.   Depois virou-se para a vizinha, acho que a senhora devia conversar com seu filho, o escute por favor, para tampouco perder o único na verdade que tem, ele a adora, mas vai fazer 18 também pode ir embora para a casa do pai.

A cara da mulher era ótima, ele ia falando, ela balançando a cabeça, que sim, saiu rapidamente dali.

Quanto a sua cliente, primeira providência, dinheiro na conta,  além de uma ordem de que não pode se aproximar de seu filho, nem de seu ex-marido, porque é agressiva.  Ainda olhou para ela soltando, quem planta colhe senhora.

Senhor advogado, quero os papeis das transferência de dinheiro na minha mesa dentro de uma hora, ou os dois serão presos.

Ela ainda tentou fazer uma chantagem daquelas eu, que me sacrifiquei a minha vida inteira por ti. 

Por mim, vivi numa prisão escutando falar o dia inteiro as mesmas coisas, que meu pai, era mau, que isso que aquilo.   Nem sei como ele pode aguentar suas loucuras, eu também daria no pé.

Tens coragem de chamar de louca tua mãe. 

Se não estas louca, estas muito perto disso, acredito que um bom psiquiatra pode ajudá-la, verdade senhor juiz.

Gostei da ideia, senhor advogado, quero que arrume um psiquiatra para sua cliente, que me de todos os avances dela em busca de uma normalidade, caso contrário, recomendarei uma internamento numa clínica psiquiátrica.

Ela pegou um cinzeiro que estava em cima da mesa, atirou em direção do juiz. Filho da puta, achas que vou ficar de braços cruzados, enquanto esse leva meu filho, prefiro matá-lo. O juiz, fez um sinal, dois guardas a algemaram.  Fica recomendada o internamento.

Mas quero a transferência do dinheiro. 

Seu pai por recomendação do Nestor, não tinha falado nada até então, tudo que fez, foi colocar a mão em cima da dele, estas livre meu filho.  Quero que faças como teu avô, que voe sobre as ondas.

Ele riu, sentia pena dela, mas achava quem ia acabar num psiquiatra era ele.

Saiu abraçado ao pai, reservamos um quarto no hotel, assim poderemos conversar, para que possas decidir o que queres da tua vida.

Não foi uma conversa fácil, queria entender o que tinha acontecido no passado, para Roberto era difícil falar nisso, mas como dizia Todd, ou agora ou nunca.

Começou falando de sua juventude, de ter um pai Comandante da Marinha, o quanto este lhe tinha cobrado para que entrasse para mesma.  Ele tinha preferido fazer universidade.   Não levou muito tempo aborrecido comigo, não era um sujeito de ficar guardando magoas para depois.  Conversamos, ele entendeu meu ponto de vista.  Mas claro, como único filho homem as perguntas era as mesmas de sempre.  Conheci tua mãe, eu estava terminando a universidade, numa festa de calouros.                    Ela estava completamente bêbada, se atirou em cima de mim literalmente.  Os companheiros diziam para me aproveitar, a levei para sua casa, quando chegou acompanhada de um homem, bêbada, foi um escândalo, seus pais eram muito estritos, nem a deixaram entrar, eram contra a entrada dela na universidade.   Lhe perguntei se tinha aonde ficar, me disse que não conhecia ninguém, como ela fez depois contigo, os pais não a deixavam sair nada disso.   Eu vivia sozinho, já tinha um emprego, a levei para meu apartamento, de noite ela se meteu na minha cama.   Meses depois, nascia tu.   Mas eu sabia o que queria, gostava dos homens.  Ela achava que podia me curar, tentei de todos os modos me curar como ela dizia, fui a psicólogos, nada.                           Claro, estava tu que pesava muito no relacionamento, eu te adorava, quando começaste a andar, corrias para mim, a primeira palavra tua não foi mãe, mas sim pai.   Ela fez um concurso para o emprego público, a ajudei a estudar, cuidando de ti.  Finalmente na segunda tentativa passou, acredito que meu pai tenha mexido seus conhecimentos para isso, pois ela só falava nisso.  Tínhamos nos casado, meu pai nos deu esse apartamento, nunca nada estava bom.                    Eu reclamava, pois, te desatendia constantemente.   Estava preocupada em puxar saco de todos para ficar fixa no emprego.

Nessa época eu trabalhava de noite num hotel, na portaria, fui conhecendo homens que me atraiam.   Entre nós já não acontecia nada.   Ela estava histeria quando eu chegava de manhã, dizendo que tinhas passado a noite inteira chamado por seu pai.   A verdade era que mal eu entrava, corrias para mim.   Depois passou a ter ciúmes de ti, exagerados.   Lhe propus nos divorciamos, pois queria seguir minha vida.  Fez um escândalo, dizendo que em sua religião isso não existia.   Eu lhe dizia que não tínhamos casado pela sua religião, mas sim no civil. Falar com as paredes era mais fácil, talvez que entendesse, respondesse aos argumentos.

Nessa época conheci um rapaz, comecei a ir dormir com ele, fui inconsequente reconheço, mas era jovem queria viver.   Pedi o divórcio, se negou a assinar os papeis, fazia coisas absurdas, no meio de meu turno de noite, aparecia contigo, te largava no hotel, ia para casa dormir, dizendo que tinha que ir trabalhar de manhã.

Quase perdi o emprego, o que fiz foi levar-te comigo, a todas as partes.   Mas não se contentava, te levei a viver comigo e com Antonio, ele te adorava, passou a ir à casa dele, fazer escândalos, acabou me deixando.   Lhe dei um ultimato, ou me dava o divórcio, ou ia embora contigo de qualquer jeito.   Colocou uma denúncia que estava roubando seu filho, ai tudo virou uma merda, perdi o emprego, voltei a viver na casa de meus pais.   Eles tentaram falar com ela, mas foi inútil.

Acabei indo embora, pois a cada emprego que arrumava, ela aprontava. Fazia denúncias anônimas que eu era gay, que tinha abandonado sua família, essas coisas.

Um dia desesperado, fui falar com seus pais.  Uma dura realidade, ela não era filha deles, mas sim de uma parente que a tinha abandonado lá.   A senhora que ela dizia que era sua mãe, a chamava de manipuladora.   Não queriam saber nada dela.

Fiquei sem tem aonde recorrer.   O jeito foi abrir um processo, mas não sei como ela conseguiu enganar o advogado, bem como ao juiz se fazendo de vítima, uma mulher com um filho para criar, que o marido gay abandonava para passar as noites com homens.

Saiu isso nos jornais, quando ia procurar trabalho, levava com a porta na cara.  Me desesperei quando o juiz lhe deu a guarda de ti, queria dinheiro além do apartamento.

Meu pai me disse que o melhor que fazia era ir embora do Brasil por um tempo.  Primeiro me fui a Miami, arrumei um emprego num hotel, o dono tinha hotéis por todo o país, coloquei em ordem a maneira de administrar o mesmo, depois me passou a cadeia inteira, passei a ganhar bem, mandando dinheiro para ela.   Estava sempre reclamando mais, dizendo que te criar custava muito.   Meu pai, bem como Nestor que virou meu advogado disseram que de maneira nenhuma, que o valor que eu mandava, transformado em dinheiro do Brasil, era muito.

Outra briga, mas desta vez o juiz concordou, desde que eu começasse a mandar dinheiro para um fundo para tua educação.   Nessas alturas, tinhas terminado o primário, o Nestor arrumou para estudares na escola do Roger.  Já viviam juntos nessa altura.

Viraram teu anjo protetor sem que tu soubesses.  Ela deixou de me perturbar, nessa época conheci o Todd, nos apaixonamos, me levou para NYC, acabei arrumando um emprego excelente fui subindo, deste passei para outro melhor aonde estou até hoje.

Mas nunca imaginei que ela passava a mão no teu dinheiro, porque tem o salário dela, bem como a ajuda que mandava para teus cuidados.   Agora vejo que não fazia nada disso, além de falar mal de mim sempre.  Acredito que ela tenha um problema de rejeição complicado.

Mas todas as vezes que eu vinha, como era férias, nunca estavas, ou enrolava, até me dizer que não me querias ver dizia, inclusive nas últimas vezes apareceu com essa mulher que é sua vizinha, esta concordava com ela que não me querias ver.

Hoje poderia processá-la também.   Mas foste corajoso dizendo que se ela não queria perder o filho, conversasse com ele.

Nunca te esqueci meu filho, mas imaginei que estarias cheio de ódio contra mim.  Não tivemos a partir da tua infância, nenhum contato.   Te mandava os presente todos os anos, mas não recebia nenhuma resposta.   Todd dizia que se tu tinhas mágoa de mim, era natural.

Eu nunca recebi nada em agradecimento, algo que pudesse alimentar, ele recebeu meu presente, até pensei, se ela entrega dizendo que é dela, tudo bem, mas ele tem isso que mandei.

Mas descobrir que nunca de teu nada, me enfurece.  Escrevia sempre uma carta que colocava nos presentes, falando como sentia falta de ti.

Na verdade, falei com o Roger, quando ele me disse tua facilidade em aprender, que inventasse isso do Instituto ter um acordo com a escola, para poderes cimentar teu futuro.

Mas talvez se estivesse aqui, talvez tivesse descoberto tudo isso a mais tempo, teria tentado me aproximar mais de ti.    Me sinto culpado por tudo isso.

Pai, acho que não teria mudado nada, talvez até tivesse piorado.   Sempre desconfiei de seu equilíbrio.  Quando você foi embora, me lembro que nas primeiras férias, fiquei literalmente preso em casa.  Só podia sair na varanda. 

Adorava a volta as aulas, porque assim podia escapar dela, depois como passava o dia inteiro na escola, esta virou meu refúgio, o outro eram as aulas de inglês, sabia que vivias na América, então se podia sonhar em viver contigo, teria que aprender.

Terei que me adaptar a tudo isso, resolver se faço faculdade aqui, ou se tento ir com o senhor, mas tens uma vida com o Todd, não achas que isso pode atrapalhar?

Podemos falar com ele.

Este riu muito, vais acabar com os longos silencio que existem entre os casais que vivem a tanto tempo junto.    Amo seu pai, faria qualquer coisa por ele, se vai estar feliz em colocar-se em dia contigo, eu estarei feliz.  Mas se o faz infeliz, eu vou encher tua bunda de palmadas.

Ficaram rindo, no dia seguinte se dedicaram a tirar um passaporte para ele, descobriram que não tinha nenhum documento, sua mãe nunca tinha cuidado disso.

Todos os dias iam visitar a avó, ela estava radiante. Abraçava o neto, o apertava, sentia seu cheiro. Para guardar na minha memória.

Uma noite saíram foram fazer um programa que o Todd adorava, ir a uma roda de samba. Nunca tinha saído de noite, sem querer se soltou, quando viu dançava relaxado, pensavam que ele era um gringo que sabia sambar.  Vinha falar com ele em inglês, pois o tinham visto falando com o pai e o Todd.

Riu muito, nem fui embora, já virei gringo.

Mal chegou a NYC, amou a casa que viviam, tinha um quarto para ele. Os dois tinham uma agenda apertada, seu pai lhe disse, confio em ti, que tomaras cuidado com drogas e outras coisas.  Atenção com quem te envolves.    Ia começar a fazer um curso de arte na Parsons, ao mesmo tempo que iria conhecer a cidade, para pensar no que fazer.   Não tinha na sua cabeça definido nada.

Andava pela cidade, com um bloco, parava desenhava, sentia a pulsação da cidade, ainda não tinha ideia, mas nele estava desabrochando todas as imagens que tinha trancadas na sua cabeça.  Da timidez das primeiras aulas, começou a se soltar, breve estava pintando em papeis imensos, falou com os seus pais, nem sei o que fazer, não posso trazê-los para casa, são muito grandes.    Todd era bem relacionado, foi com um galerista, sem ele saber, ficaram de longe o vendo pintar.

Estava com um audiofone escutando músicas que gostava, nunca tinha podido fazer isso, seus movimentos eram abertos, eram uma série de imagens superpostas, de recordações suas, uma Todd imaginou que era Roberto o sustentando no ar, se cruzava com uma imagem do Cristo Redentor, eram suas lembranças de infâncias que saiam a galope desenfreados pelo papel.

O Galerista, falou no ouvido do Todd, eu compraria agora esse trabalho.

Não sabia o que ele estava escutando agora, se ajoelho, quando se levantou, tinha tinta nas mãos, verde, amarela na outra, começou a desenhar com a mão, marcando ritmo no pé, como se estivesse sambando, era o batuque que escutava desde seu quarto nos sábados.  Nunca tinha ido, mas imaginava.

Todos alunos estavam ali parados, olhando com os olhos abertos seu trabalho, ele nem se dava conta.

Quando de noite falou com o Roberto, esse riu, esse menino tem muito para colocar para fora. Temos que conseguir um studio para ele pintar.

Todd dias depois achou a solução, no último andar do edifício, em que uma parte eram partes técnicas do edifício, existia um grande espaço, que tinha sido residência de um pintor, enquanto tinha vivido em NYC.   Perguntou ao porteiro quem era o dono.  Pertence ao condomínio, basta pedir autorização numa reunião, que eles alugam, precisam de dinheiro em caixa.

Fizeram um preço bom, esse foi um presente dos dois ao Ayrton.  Com o dinheiro que tinha, comprou material, agora mal amanhecia o dia lá estava, colocando tudo em grandes papeis próprios para isso.

O Galerista levou o primeiro, o mandou emoldurar, deixou ele sozinho numa parede de sua galeria, aonde tinha uma vasta vidraça na frente, de qualquer ângulo da rua, se via.

Dois dias depois uma cliente sua, uma milionária, disse que tinha passado várias vezes por ali, se admirava que ninguém tinha comprado ainda.

Ele disse talvez pelo preço, também por ser uma obra em papel.

Quem é o artista disse ela.

Quer conhecê-lo?

Adoraria, me emociona esse trabalho.  Chamou várias vezes, não atendia, chamou o porteiro, que disse que tinha subido como pedia o Todd, que ele estava trabalhando, como tem música não deve escutar.  Avisou a senhora, ficaremos do lado de fora, normalmente ele não percebe que tem alguém olhando.

Tinha agora uma tela imensa na parede, escutava uma música que o devia colocar elétrico. A senhora Goldstein, não fechava a boca. Os movimentos eram precisos, as figuras de etéreas se tornavam vivas. Pareciam se mover na tela contando uma história, era a sua história de um garoto solitário, os sonhos que tinha de sair voando pelo mundo.  Quando ela se virou para a outra parede, havia uma sequência em branco e negro de uma figura alada que começava na esquerda da tela, se movia a direita como que alçando voo, o que fazia agora era a sequência. Ela categórica, disse ao Sam Samuelson, que queria comprar o da galeria, bem como esses dois, não me importa o preço.   Podem ficar expostos na galeria, até eu conseguir esvaziar uma duas paredes do meu apartamento, tenho belas obras, mas me faltam vida, para o meu final de vida. Dois dias depois, ele veio jantar com eles, não viu o Ayrton, quando perguntou aonde estava, lhe disseram já o chamamos, disse que já desce.

Entrou sala adentro a cara era fantástica.  Vou tomar um banho, já me junto a vocês.  Mas Sam não lhe permitiu.   Tenho que avisar de três coisas, o quadro da galeria foi vendido, bem como o do anjo negro, você voando, também.

Como?   Ele contou quem era a senhora Goldstein, ela esteve aqui, viu você trabalhando, mas não quis interromper, disse que os quadros podem ficar na galeria, enquanto desocupa paredes da casa dela, que tudo isso para ela significa vida. Que está cansada do que tem.

De quanto estamos falando perguntou o Roberto?

Cinco mil dólares, respondeu o Sam, sem a minha parte que já retirei.   Ayrton olhava para ele sério, e se não quero vender.

Aí estou fudido, respondeu diretamente o outro.  Ela vai me matar, fazer picadinho.

Antes quero conhece-la, ele não disse nada, era um envelope com um timbre, dentro um convite manuscrito convidando os três para um jantar informal.  No final de semana.

Ele foi pensando deve ser uma velha louca.  Caiu para trás quando a viu, estava com seus cabelos brancos, eram tantos que pareciam de prata, soltos sobre uma roupa que devia ser antiga pois não se usavam mais.  Depois soube que era um Palazzo Pigiama de um famoso costureiro italiano, já falecido, feito em brocado prateado com seda negra.

Começou a falar com ele, segurando sua mão, quando te vi pintando, sei que é algo somente teu, mas sem querer eu entrei na história, a fiz minha, essa vontade de voar sobre as ondas que algumas vezes temos, como se fossemos donos do mar, do ar.   Isso me fez me sentir viva outra vez.  Passara para uma sala, que estava cheia de caixotes, mandei doar todas as obras que estavam aqui para o MoMA, que eles aproveitem para enriquecer sua coleção.

Mas o que tinha nessas paredes?

Algumas obras de Picasso, dois Monet, quatro Braque, que comprou meu marido, eu de uma maneira os odiava, menos Picasso, porque se tentava entendê-los dava um nó na minha cabeça.

Vai sobrar uma parede, mas depois me pintas alguma coisa mais.

Eram só os cinco jantando, depois ela avisou, vem algumas pessoas para tomar um drink, eu sairei com duas delas para um show de jazz, se querem me acompanhar, adoraria.

Não o deixava afastar-se dela, lhe disse baixinho, é muita gente chata junto, mas tem uma coisa vão te fazer famoso, quando eu disse que tinha comprado o quadro da galeria, riram de mim dizendo que eu nem conhecia o pintor.   Eu disse que sim, os mandei tomar no cu.

Minha família emigrou para cá da Polônia, com a chegada do nazismo, quase morremos de fome, eu fui vendedora de uma loja fina,  Um dia meu marido entrou para comprar um presente para uma amante dele, dois dias depois voltou dizendo que estava solteiro, que não podia deixar de pensar em mim.  Meu inglês era horrível, mas a maioria pensava que tinha um sotaque francês, que era fino.  O enrolei meses, até ter certeza de que não tinha mais nenhuma amante, me casei com ele, infelizmente o único filho que tivemos morreu na guerra do Vietnam, ele morreu de tristeza.   Sobrei eu só vivendo nessa merda de apartamento, que mais parece um mausoléu, ao ver teu trabalho me senti viva. Obrigado garoto.

Ele se desculpou de não ir ao show com eles todos, prefiro um dia sair contigo sozinho. 

Eu passo pelo studio para te ver. Posso.

Ele foi direto para lá, colocou uma tela retangular alta, começou a pintar a senhora como a imaginava, da esquerda para a direita, numa sucessão de personagens como ela tinha contado, era como se uma imagem se sobrepusesse a outra, a mais impressionante, foi de um momento fugaz quando ela falou da morte do filho e do marido. Depois a direita como uma maestra de cerimonia ela na noite que a conheceu.

Estava ali retocando na quarta-feira uns detalhes rebuscados, quando ela apareceu, se desmoronou numa cadeira, ficou aos prantos. Como conseguiste sentir tudo isso.

Pelo que conversamos.  Esse é um presente meu para a senhora, que se mostrou autêntica comigo, eu detesto gente chata, desconfio delas. 

Meu amor, eu aguento essa gente para não me sentir sozinha, naquela noite te procurei várias vezes para fazer algum comentário.

O que vais fazer agora?

Ia descer para comer alguma coisa.

Coloque só uma calças jeans uma camiseta, foi então que ele reparou que ela estava vestida assim, apenas levava uma jaqueta Chanel por cima.

Vamos comer num lugar que adoro.   Ele ficou imaginando num lugar chic, nada disso foram comer no restaurante judeu, daqueles antigos, todos a conheciam, desde os donos aos cozinheiros.   Trouxe um amigo para comer no meu restaurante preferido.

Sentaram-se junto a janela, olhando o movimento da rua, era uma típica avenida de Chelsea, riam das figuras que passavam.  No teu momento mais colorido, lembre-se disso, que ricos ou pobres, todos tem cor.

Ficou olhando para ela, cada vez que nos falamos, aprendo algo da senhora, me faz bem.  Se eu não fosse gay, me casaria contigo.  Tens cor na alma disse ele para ela.

Nunca mais se separariam até a morte dela.

Quando teve uma serie de quadros prontos, fez uma exposição na galeria, no lugar do primeiro quadro estava o dela.  Estava tão abarrotada a vernissage, que os dois escaparam, foram comer cachorro quente na praça em frente, com um copo de champagne na mão, ele acabou oferecendo para o rapaz do carrinho em troca de uma Coca-Cola gelada.  As pessoas os procuravam, mas só o Todd os viu.

Ele achava interessante a ligação dos dois, quarta-feira era o dia dela, como ele dizia, iam a algum museu, almoçar por aí, fizeram um passeio entre Manhatan e Staten Island de ferry, como qualquer turista passeando.

Tinham sempre o que falar, ele a escutava falar do que entendia por arte, ele do que almejava alcançar. 

Os quadros da galeria que não eram delas, foram vendidos.   Ele tinha uma boa soma de dinheiro, ela lhe disse, se não queria ir com ela a semana da moda em Paris, normalmente me hospedo na casa de uma amiga.  Mas se vens alugaremos um apartamento para os dois.

Seu pai ficou preocupado, mas Todd, lhe disse tens que dar asas para que ele voe.

Ela tinha na sua bolsa como um portifólio da exposição, além dos desfiles de moda, foram ver muitas galerias no Rive Gauche, aonde estava o apartamento, muito moderno, simples.

Riram muito quando uma das amigas que encontraram na semana da moda, a chamou a parte para perguntar se estava fazendo sexo.     Na minha idade, posso ser a avó desse rapaz, ele apenas me faz sentir viva.

Foi mostrando seu trabalho em todas as galerias, ela falava um francês perfeito.

Quando foram à casa da amiga, ela avisou antes, adora fazer sexo  não importa com quem, cuidado.

A mulher só faltou abaixar suas calças.   Mas ele não permitiu, sinto muito senhora, não sou um gigolo.

Sinto muito, mas tinha que fazer essa visita, era casada com meu cunhado.  Quando ele morreu ficou tão rica, que veio viver aqui.

Nos outros dias, andavam como faziam em NY, de calças jeans, tênis, camisetas, visitando tudo que ele não conhecia.

Quando lhe impressionaram as máscaras Africanas do Museu do Quai Branly, ela lhe propôs fazer uma viagem ao Senegal, já que estava ali, era fácil, ele comprou material, alugaram um carro grande 4X4, com um condutor, foram de vila em vila, casebres que ele queria parar, para desenhar as crianças, o fazia tão rápido, depois dizia a ela que tinha feito fotos como ele pedia, olha que olhar triste tem essas crianças, nem começaram a viver, parece que já vem que suas vidas será uma merda.    Pedia para os homens posarem nus para ele, bem como as mulheres, as envolvia com seus panos coloridos, se sentava ali num banco, o motorista e guia dizia que podia cair o mundo que ele não despertava de seus sonhos.

Todos pensavam que eram mãe e filho em viagem.   Num lugar ermo, que viram umas chochas no alto da montanha quiseram subir, o guia, disse que ali só vivia um curandeiro.

Os dois subiram devagar falando coisas, sentiam uma atmosfera fantástica no local, estatuas meio enterradas nas terra.  Depois ficaram sabendo por quê.  As pessoas se convertiam em muçulmanos, tinham medo de ter as velhas esculturas dos orixás, então levavam até lá. O velho tinha uma idade indefinida, podia ter cem como duzentos anos.  Estava sentado num banco, quando eles chegaram.

Falou que os dois em vidas passadas tinham sido família, que esse reencontro, a tinha feito reviver toda sua vida, os dois são de pontos diferentes do mundo, mas ele nunca vai esquecer que a conheceu.  Tu o esperavas todo esse tempo.

Ele perguntou se podia desenha-lo, ele fez um movimento, disse desenha esse homem que a partir de agora vai acompanha-lo, ele levantou a vista, ali estava um negro imenso, só com um taparabos.   Falou no seu ouvido, eu estava te esperando Ayrton, agora sou teu protetor, desculpe o passado, mas tinha que acontecer.

Ela lhe perguntou com quem estava falando, o velho explicou a ela, que só ele veria esse homem, que o ia acompanhar até o resto de seus dias.   Nunca deixará de te desvie de teu caminho.

Quando voltaram estava cheio de material, imprimiu as fotos de Goldstein tinha tirado, da criança, junto com seus desenhos.   Um dos meninos em trapos, ele pintou sobre um desenho geométrico em branco e negro da engrenagem de uma máquina, a criança com seus trapos coloridos, olhando desencantada da vida.  Assim foi fazendo, todos de bom tamanhos, depois o velho o colocou num quadro grande, mas somente detalhes de seus olhos falando com ele que tinham ficado em sua memória, o resto eram detalhes de Africa, detalhes de esculturas, desenhos, era uma visão diferente de Africa, misturou depois com elementos dos gárgulas, como se os animais estilizados em gárgulas estivessem na floresta.

Ficou três meses, quando só saia na quarta feira, que era seu dia de descanso, Roberto, Todd tinham que subir para falar com ele. Um dia fazia muito calor, os dois ficaram ali sentados sem camisas, ele pediu para os dois tirarem a roupa.  Os pintou nus, no meio da selva, o quadro era de uma beleza incrível, pois não havia sexo ali, somente dois homens abraçados, como sempre estavam.   Esse por mais que Sam quisesse levar para a Galeria, não permitiu, desceu ele mesmo para o salão dos dois.    Todd de brincadeira dizia que nunca mais poderiam convidar ninguém para irem até ali, pois iram querer ir para a cama com eles.

Todd um dia lhe confessou que quando ele pediu para os dois ficarem nus, imaginou que ele queria transar com os dois.

Ele riu, Todd, desde que cheguei só fiz sexo com uma pessoa, daquelas de uma noite, ainda não encontrei a pessoa que me desse um click.   Não se preocupava com isso, sabia que um dia chegaria à pessoa certa.

Dois dias depois da inauguração da exposição sobre a Africa, Goldstein, tinha convidado os principais diretores dos museus americanos e franceses.    Não sobrou nenhum quadro, ela ainda fez um jantar no salão aonde tinha nas paredes os quatro quadros dele, o museu Pompidou pediu os quadros emprestados, para montar uma sala.   Ela ficou de responder, morreu dois dias depois.

A grande surpresa, foi que deixou tudo para ele, as obras de artes antigas já tinham doado a museus, a casa estava limpa.

Pela primeira vez chorou muito, perdia não uma benfeitora, mas uma grande amiga, estava inconsolável.   Roberto e Todd, estavam preocupados com ele.  Fazia semanas que não subia ao studio.    Um dia desapareceu.  Ninguém sabia aonde estava.

Tinha colocado à venda o imenso apartamento dela, a ele não interessava viver ali, tampouco transformar o local num atelier, não encaixava, atendeu a última vontade dela, enviou os quadros para Paris.

Passou quase três semanas desaparecido, até que uma pessoa o viu, perto do restaurante que ia com ela em Chelsea, estava vivendo na rua.

Não estava tomando drogas nada disso, apenas tentava entender o mundo dessa gente que vive na rua.

Depois de tomar um banho, e que Todd lhe raspasse a cabeça, pois estava cheia de piolhos, ele se centrou, pintou esse universo, os homeless.  Eram pinturas duras, drogados, ex-militares que ele tinha desenhado, muita coisa estava em sua cabeça.  Quando terminou o último quadro, eram quase 60 em vários tamanhos, Sam teve que alugar uma sala ao lado da sua para fazer a exposição.   Chegou na casa dos seus pais, os dois estavam sentados o esperando, já tinham conversado sobre seu sumiço.   O assunto era outro, sua mãe, nesse entra e sai de clínicas, tinha se suicidado.   Sem avisos, sem recados, que informou ao Nestor foi a vizinha.  Eles conseguiram manter o corpo na morgue, num congelador, até eles chegarem.

No enterro só estavam eles, Roger, Nestor, a vizinha e seu filho Claudio, seu antigo namorado, se surpreendeu, pois, era outra pessoa. O abraçou, beijando, velho amigo.  Estiveram conversando depois, Claudio confessou que ele tinha sido seu único amor, que nunca tinha amado alguém como ele.  Nesse vai e vem, retomaram seu romance, ele tampouco tinha esquecido o amigo.    Este contou, não sabe o bem que me fizeste, naquele dia minha mãe chegou em casa desesperada, se sentou comigo, conversamos honestamente.  Reconhecia ter perdido o contato comigo.   Cada vez que tua mãe voltava para casa, a tentava jogar contra mim, mas nunca conseguiu.  A um ponto de minha mãe ignorá-la totalmente.

Uma noite depois de terem feito sexo, como dois homens adultos, ficaram conversando, Claudio contou o que estava fazendo, estava desenhando moda para várias boutiques, bem como estamparia.  

Não gostaria de ir estudar em NY, lhe perguntou, estou negociando a compra de um apartamento antigo em Chelsea para transformar em meu studio, bem como minha casa, podias ficar lá, de uma certa maneira é perto da Parsons ou de outras escolas de moda.

Sua mãe agora, tinha um namorado sério, achou ótima a oportunidade, não podes perder, além de que vocês se dão bem.

Claudio, logo estava trabalhando como fazia no Brasil, desenhando estamparias, criando moda, no apartamento, ele tinha um studio só para ele, agora os dois eram clientes do restaurante que ia com Goldstein, saia dali com várias quentinhas, para distribuir entre seus conhecidos da rua.

Tentava ajudá-los, embora que a escolha as vezes de viver assim eram deles mesmo.

O romance deles, agora era sério, olhava o exemplo do Roberto com o Todd, as conversas eram sempre longas ao final da noite, duas vezes por semana os velhos como eles diziam vinha jantar com eles.

 Claudio agora usava uma barba grande, que o fazia extremamente viril, quando estavam sós trabalhando andavam nus pela casa, as vezes se cruzavam por qualquer coisa, provocavam um ao outro.   Quando os velhos se aposentaram, ficaram na dúvida aonde viver.  Não queriam viver longe deles, ao mesmo tempo queriam um apartamento menos complicado.

Conseguiram um perto deles, assim ficava mais fácil.              Agora iam comer com eles, os dois entraram para um associação que protegia e ajudava o pessoal da rua.   Faziam o possível para ajudar as pessoas.   Nunca estavam quietos.

Ele conseguiu reunir novamente quadros de todas suas épocas, já com seus cinquenta anos, fez um retrospectiva, na galeria do Sam, que passava a mesma para seu filho.  Embora não houvesse nada para vender, até os quadros que estavam em Paris voltaram para lá.  Foi entrevistado para revistas, televisão.   Um dos entrevistadores lhe perguntava, como definia todas essas fases, todas eram fortes, mas a do homeless era a mais forte de todas.

Imagina, perdi uma mulher maravilhosa em minha vida, vamos dizer minha alma gêmea, andamos muito, nunca conversei tanto com uma pessoa, ela fez o mesmo comigo. Viajamos juntos, quando ela morreu, me desequilibrei, pois ficou faltando uma parte de mim. Foi duro me recuperar, foram esses amigos da rua que me ajudaram, afinal perderam muito mais coisas do que eu.

Pelo que sabemos também recuperaste o amor da tua infância e juventude.   Sim, voltamos a estar juntos, nunca amei ninguém, ele era a única pessoa sempre que estava comigo, nos momentos difíceis.   Quando vim embora, podia ter cobrado alguma coisa, pois ficava para trás, mas nunca me esqueci dele.   Agora nos casamos.  Apesar de velhos para alguns nos casamos porque sabemos que queremos seguir juntos.   Não somos pessoas que frequentam a noite, vivemos para nosso trabalho, viajamos muito sim, com meus dois pais.

Em seguida foram fazer uma viagem longa pela Itália inteira, gostaram tanto da Sicília, que alugaram uma casarão numa vila antiga, ficaram por lá alguns anos pintando, Claudio desenhando, os velhos se divertiam na vila.

Quando tinha uma boa coleção de quadros prontas, a ofereceu para uma galeria de Paris, que aceitou imediatamente.   Estavam tão habituados nessa vila, que ficaram a viver lá.

Os velhos tinham seus amigos, com que iam jogar cartas, os dois seguiam sempre trabalhando, nem era pôr dinheiro, ajudaram a montar uma escola na vila, para que as crianças não tivessem que ir estudar fora.  Ajudaram as mulheres a montar uma associação, para produzirem cerâmicas, estavam sempre em movimento.

As vezes os dois na cama, ficavam olhando um para o outro, lembra-se que fazíamos isso vestidos, alisávamos nossos sexo, nos beijávamos, sempre fomos importantes um para o outro. Agora podemos dormir nus, fazer sexo como o que sonhávamos em fazer, mas tínhamos medo.

A mãe do Claudio vinha visitá-lo sempre que podia, passava meses com eles.  Se entrosava na vila com as mulheres.  Pensava que tinha sido infeliz, mas a vida delas é mais difícil que a que eu tive.

Ele ainda sonhava as vezes que estava voando sobre as ondas, no dia seguinte ia à beira mar, para se relaxarem.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

 

 

 

  

 

 

 

 

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