lunes, 3 de agosto de 2020

VELHO GUERREIRO

                                         VELHO GUERREIRO

 

Estava no meio do fogo serrado, não tinha por aonde escapar, as balas passavam voando sobre sua cabeça.  Respirou fundo, foi se arrastando para baixo do veículo, sua única escapatória, quando chegou a parte da frente, bem embaixo do motor, viu as pernas dos que lhe atacavam, pensavam que devia estar morto, pois tinha deixado de atirar, apertou o gatilho, dando uma rajada de balas, atingindo a todos eles, saiu rapidamente, rolou para o lado, ainda atingindo um que estava em cima de uma casa preste a desmoronar.  Justo nesse momento o carro que tinha estado embaixo explodiu, não tinha percebido que uma parte de sua roupa tinha ficado impregnada de gasolina, o fogo o atingiu, rolou pela terra apagando o fogo, mas claro já tinha queimado sua pele nas costas.

Estava sufocado pelo calor, pelo suor que lhe escorria desde a cabeça, despertou gritando de dor.    Menos mal que estava sozinho, um dos vizinhos já tinha reclamado dos gritos da madrugada.   Por isso agora dormia num quarto afastado nos fundos da casa.

Não podia controlar os pesadelos, tinha feito tratamento, mas se negava a tomar os remédios, pois todos eram aditivos, não queria correr esse risco.

Quando lhe amputaram as pernas num outro atentado, levou em coma dois meses, quando teve consciência, preferiu aguentar a dor, mordendo uma toalha, a tomar remédios.  Sabia de casos de companheiros que caiam nessa sequência de remédios, passavam o dia dopados.

Ele ao contrário, seguia trabalhando.   Colocou as  próteses, usou um bastão que ficava enganchado a mesa de cabeceira, para lhe ajudar a se levantar.   O  dia amanhecia em Paris, foi até a varanda detrás do apartamento, respirou fundo.   Essa varanda dava para um parque, isso lhe bastava pela manhã, ver o verde.

Tinha cobrado caro sua aposentadoria antecipada como oficial das forças de segurança de Israel.   Estava farto de tanta guerra, tantos atentados, tantas mortes, tinha visto bebês mortos, agarrados a suas mães, jovens de todas as idades, velhos, chegou o momento que disse basta.

Era judeu de origem francês.  Seu pai tinha morrido durante a segunda guerra como oficial francês.   Este apartamento pertencia a família, os anos que ele viveu em Israel, esteve sendo usado por sua irmã.                  Agora ela vivia com seu filho, não aguentou seus gritos noturnos, dizia que era pior que estar numa guerra.   Não sabia de nada, tinha sempre vivido no conforto, na verdade era filha do segundo matrimonio de sua mãe em Israel.

Preparou um café forte, estava cansado, pouco tinha dormido esta noite, a maior parte com pesadelos.  Sentou-se na cadeira especial que tinha no banheiro para tomar um banho, isso sempre o relaxavam, ficar ali embaixo d’agua.

Viu que o celular chamava, olhou para um relógio em cima do espelho, caralho pensou, as cinco da manhã, me chamar, só pode ser alguma má notícia.

Saiu do box, se secou, colocou a prótese, em pé fez a barba, nunca tinha gostado de barba grande, lhe incomodava.   Talvez porque o fizesse parecer mais judeu do que era.  Era um caso a parte, gostava de comida francesa, era católico, nunca tinha usado o Kipa, odiava as cerimonias judias.              Nunca compartia nenhuma, a única coisa que sabia era rezar o Kadish, principalmente pelos companheiros mortos.       Depois de vestido foi olhar o celular, era de sua afilhada.   Achou estranho, sempre se falavam, mas o chamar a estas horas devia ser algo sério.

Chamou, ele atendeu em seguida, chorando, era para dizer que seu pai tinha morrido no dia anterior num atentado.

Se apoiou na mesa, até conseguir se sentar.   Ela lhe contou os detalhes.

As lagrimas escorriam pela sua cara, marcando mais ainda suas rugas.   Sim irei, vou arrumar algo de bagagem, tomarei o primeiro voo.

Joseph tinha sido o grande amor de sua vida, nunca tinha saído do armário, tinha aguentado anos os encontros escondidos, mas não sabia viver sem ele, tomou essa decisão, no dia que ele veio visita-lo no hospital, olhou com horror, que ele não tinha pernas.  Para ele, sempre tinha sido o herói, o forte que aguentava tudo, inclusive viver escondido o romance dos dois.

A um ponto que era padrinho de sua filha mais velha.  A queria como se fosse sua filha, tinha inclusive escolhido seu nome, Mariah, tinha a ajudado sempre, a maioria das vezes contra a vontade de Joseph.    Pagou seus estudos na França, para que ela pudesse ser o que quisesse, quando brigaram por causa disso, ameaçou Joseph, ou deixava, ou contaria a todos que lhe comia o cu.  Foi categórico dessa maneira.   Nessa época ele tinha entrado para a política, isso significaria acabar com tudo.

Já andava de bastão nessa época, por várias lesões, ou melhor dizendo tiros nas pernas.  Quando as perdeu, dizia que tinha recebido umas novas como condecorações.   Joseph, não voltou a ir visita-lo no hospital, quem ia era Mariah, que lhe levava livros franceses, jornais, lhe chamava de tio.   Foi sem querer ela quem lhe deu à luz.

A estas alturas da vida, estás sozinho, lutando por uma pátria que nunca reconhece teus esforços, sempre pedindo mais.   A cada combate, atentados, sofres para salvar teus homens, te sacrifica.   Não eres judeu, sim francês, esquece essa merda.

Nem sabia que estava em Tel Aviv,  pensou que estava em alguma escavação por aí, afinal era arqueóloga.   A última vez que a tinha visto, voltava de uma temporada no Egito.

Catou roupas ordenadamente como estava acostumado, meias, cuecas, camisetas verdes ou negras, umas quantas, um casaco, duas calças jeans dessas elásticas que lhe facilitavam os movimentos.

Pediu um taxi, foi para o Aeroporto, iria usar seu passaporte de Israel, para facilitar as coisas, embora levasse no bolso um francês.

No aeroporto, foi direto a um balcão da Air France, lhe disseram que tinha um voo saindo dentro de 45 minutos. Quando ele apresentou seu passaporte, o fizeram passar basicamente todos os controles rápido.

Quando  se sentou em primeira classe, que lhe tinham conseguido, respirou fundo.  Fechou os olhos, se lembrando da última grande discussão que tinha tido com Joseph.   Este estava com ciúmes, pois tinha descoberto apesar de não terem mais nenhum relacionamento, que ele estava saindo com um jovem militar.

Fez um escândalo, ele um oficial graduado, dormindo com um jovem militar.  Perdeu a paciência a pouca que já tinha com ele, lhe disse tudo que pensava dele, que ele tinha uma vida, uma família, eu ao contrário não tenho nada.    Sabe o que é nada, nem pernas para correr tenho.   Nesse dia, tinha ido vistoriar um acampamento, quando atacaram, uma das bombas o atirou a metros de distância, suas próteses, desapareceram.

Mais uma vez estava no hospital.  Quando saiu, encontrou o rapaz com quem estava, com outro, de sua idade, estava apaixonado.   Simplesmente se sentou com ele, conversou, o aconselhou a não viver no armário, para não ser como ele, um homem maduro, sem nada, sem amigos íntimos, sempre sozinho, olhando para a direita, esquerda, vigiando seus próprios passos para não cair em nenhuma emboscada.

No dia seguinte pediu a aposentadoria que tinha direito, quiseram lhe fazer uma festa, mandou todo mundo tomar no cu.   Que o deixassem em paz.   Fechou seu pequeno apartamento, arrumou as malas foi para Paris.

Tinha estado esses últimos sete anos, mais calmo, tinha chegado a pensar que sua vida estava chata, mas ele se ocupava o tempo todo.  Tinha conseguido um emprego numa rádio como especialista em música oriental.  Um  programa que apresentava pelas madrugadas, um horário que ninguém queria, mas para ele era perfeito, assim evitava ter que dormir.

Quando chegava em casa estava tão cansado, que caia morto na cama.   Tinha avisado para reprisarem programas antigos, assim poderia estar fora uma semana pelo menos.

Sentiu uma mão suave no seu braço, abriu os olhos a aeromoça, disse que ele estava falando dormindo.   Pediu desculpas, pediu uma bebida, precisava de algo para aguentar o que ia ter que enfrentar.

Passou o controle no aeroporto, como oficial militar do pais, entrou num taxi deu a direção de seu apartamento.    Um vizinho lhe fazia o favor de abrir o mesmo, algumas vezes na temporada, lhe perguntava se podia alugar para algum turista.

Quando abriu a porta, entrou no salão, ali estava em pé um homem, com uma cara de surpresa, totalmente nu, eram mais ou menos da mesma idade.

Ah, perdão, sou o proprietário, não sabia que meu vizinho tinha alugado o apartamento.

O homem riu, era muito atrativo.  Falou com ele em Inglês, disse que era judio americano, que tinha vindo de férias.   Então terei que ir para um hotel.

O apartamento tinha dois quartos, não se preocupe, qual quarto estas usando, eu usarei o outro, pois somente vim para um enterro.

Nunca tinha acontecido isso com ele estar sentado numa poltrona, com outra pessoa totalmente nua na outra.

Tomou outro banho, sentado num banco no box, o outro quando viu suas próteses, isso deve ser uma merda.

Não reclamo, pois estou vivo, tentando dar um rumo na minha vida.

Se arrumou, ia colocar o uniforme que estava dentro do armário, como sabia que estariam os outros amigos do Joseph, mas não vestiu uma roupa confortável.   Nada mais de sacrifícios por ninguém,  nem pelo simples cumprimento social.

Não deu outra, quando chegou para o velório, viu que todos o olhavam, pois estavam com seus uniformes, seus galões, toda essas merdas pensou ele.

Abraçou sua afilhada, a beijou na cabeça, ela era como a mãe, mais baixa do que ele.  Quando foi cumprimenta-la para lhe dar os pêsames, o olhou de cima a baixo, sibilou, esperava que tivesses a decência de não aparecer.   Que minha filha te adore, bem, mas podia me poupar de ter que te engolir mais uma vez em minha vida.    Passou o resto do tempo afastado, de qualquer maneira, não o poderia olhar, primeiro por que não, gostava, segundo porque o caixão estava fechado, sinal que estava aos pedaços.    No cemitério, sua afilhada lhe pediu para rezar o Kadish.

Sua mãe fez sinal que não, mas ela ignorou.  Ele fez como sabia fazer, somente pensou no velho amor, esperando que finalmente encontrasse o descanso, sabia que Joseph era uma alma atormentada desde infância.   No fundo não lhe queria mal, tinha feito tanto para aceita-lo como era, as migalhas de seu amor. Que agora não iria chorar pelo leite derramando a tanto tempo.

Depois da cerimônia, perguntou a Mariah se ficava mais dias ali, ficou surpreso com a resposta.

Estou aqui já a tempos, houve uma crise entre os dois, tive que vir, ele finalmente se revelou quem era a ela, dizendo que a única pessoa que ele tinha amado na vida, tinha sido tu.  Ela ficou furiosa, pois se dedicou a ele toda sua vida.

Pode ter-me amado filha, mas eu só recebi migalhas dele,  sou honesto de te dizer que se fosse hoje, nunca teria tido nada com ele.

Sabia que já não podia desfrutar mais da companhia delas, pegou seu chapéu, saiu, quando encontrou dois oficiais esperando por ele.

Disseram que o comandante queria vê-lo.   Levantou os ombros, dizendo diga a ele que eu não tenho nada a falar, tampouco quero escutar nada.

Entrou num taxi foi para casa.   Quando desceu do taxi o comandante estava ali, na porta do edifício lhe esperando.  Saíram andando em direção a praia, o que queres de mim?

Queremos que nos ajude a vingar a morte de nosso amigo, companheiro.

Olhou surpreso, vingar, estou cheio de vinganças, não conte comigo.

Virou-se com tanta raiva, que quase perde o equilíbrio, foi andando rápido para seu apartamento,  De lá foi para o aeroporto, furioso, como podia pedir isso a ele.  Joseph, sempre tinha instigado coisas que ele odiava, ocupação de terras, cada vez queriam mais.

Só porque meus pais eram judeus, tenho que ficar brigando sem parar. Não, estou fora disso.

Fez uma coisa diferente, trocou a data de regresso, pediu para a que atendia mudar o passaporte, lhe apresentou o francês, passou como qualquer outro turista, entrando na fila, só relaxou quando esteve dentro do avião.  Lhe tocava por acaso o último assento da turística, assim era melhor podia observar tudo.    Pensou que viagem rápida, saiu no primeiro voo, voltava no último.    Já no aeroporto, tomou uma decisão, se fosse rápido, poderia pegar ainda um último trem fora de Paris, talvez não conseguisse a conexão, mas dormiria em qualquer hotel perto da estação.   Estava acabando de pagar o bilhete, quando deram a primeira chamada do trem, andou rápido pelo andem até chegar ao seu vagão, foi o tempo justo.

Colocou sua pequena bagagem na parte de cima, podia ficar descansado, pois a sua era basicamente a última parada.   Chegou a Marseille, já passada a meia noite.  Atravessou a rua se hospedou num hotel Ibis que tinha justo ao lado.  Pediu uma garrafa d’agua, caiu na cama, apagou, a muito tempo não dormia assim.

No dia seguinte, tomou um taxi,  para o porto, aonde partiam os ferrys para a Córsega, tinha ali um amigo de longa data, tinha falado com ele antes de dormir.   O esperaria em Bastia, depois iriam para sua casa numa enseada mais afastada da civilização.    Tinha depois dessa chamada apagado seu celular, retirado a bateria.

Queria tempo para lamber suas feridas.   Por vias das dúvidas, pegou um camarote, já que não ia de carro.   Quando estava entrando no seu, olhou para o lado, um homem, o estava olhando, no seguinte.  Sorriu, lhe disse olá em resposta.  O outro perguntou se queria tomar alguma coisa, lhe respondeu que era cedo, mas que aceitava um café.  Desceram para o bar, ficaram numa mesa mais isolada.

Este estendeu sua mão se apresentando, François Duvalier,  vou  a Bastia, para resolver um problema de herança.  O barulho era infernal, viu que não valia a pena ficarem ali, subiram novamente.  Andas com dificuldade, algum problema?

Uso próteses nas pernas. Nada demais.

O outro riu, gosto da sua maneira, acabaram ficando nus, retirou suas próteses, acabo de deixar de ser sexi disse ao François.

Sabes o meu nome, mas não sei o teu?

Paul  D’Arnaud, um tipo raro, para melhor me explicar.   Sabia que apesar de tudo tinha um corpo bonito, os contínuos exercícios de recuperação o faziam manter o corpo a um alto nível.

Não me enganei, François, foi deslizando suas mãos grandes pelo seu corpo todo. Não esperava que fosse um sexo satisfatório, mas ao contrário, foi excelente.

Sempre verbalizava essas coisas, assustando a outra pessoa, François riu, eu tampouco esperava isso, mas foi para mim fantástico.

Era viúvo a pouco tempo, nunca fui casado, tive um companheiro de muitos anos, erámos sócios,  só que ele era casado tinha filhos, que agora me enchem o saco para vender tudo, para viverem na boa vida.   Estou pensando seriamente nisso.

Ficaram ali, um nos braços do outros, conversando, lhe contou que até anos atrás sua vida era mais ou menos igual.   Voltava justamente do enterro do velho amante, fui minha vida inteira o outro.   O Fiel escudeiro.   Os dois riram da imagem.

Quando deram o sinal de que estavam chegando, que lastima, podemos trocar o número de celular pelo menos, para nos vermos em Marseille, ou em Aix en Provence aonde vivo.

Sim claro, passarei aqui uns dias relaxando na casa de um velho amigo, depois quando volte te chamarei.  Ficaram se beijando, se despediram.

Seu amigo Charles, estranhou, esperava vê-lo furioso, o encontrou relaxado, comentou isso no carro.   Se te conto, não vais acreditar, tive um romance durante toda a viagem, imagina passar toda essa viagem, nu em cima de uma cama com outra pessoa.  Foi o que me aconteceu.

Charles tinha sido seu amigo de muitos anos, muitas batalhas, tinha sido do serviço secreto Frances, agora vivia ali, numa casa que tinha comprado, num condomínio.

Lhe contou o que tinha acontecido em Tel Aviv, o pior disso tudo foi lembrar como conheci Joseph, quando fazíamos serviço militar.   Ele era contra as invasões de terras, argumentava que isso sempre nos trairia problemas, justo nessa época levei o primeiro tiro de minha vida, o salvando.  Quiça o deveria ter deixado matar, porque sua transformação com a política, foi letal, sua filha inclusive era contra ele, se tornou um radical, achava que todas as terras deviam estar em mãos dos judeus, que tinha que se sacrificar todo o povo palestino.  Segundo ela, ele tinha feito umas declarações dias antes, queria um troço da Cisjordânia, para um assentamento de ultra ortodoxos.   Creio que dai veio o atentado.     Ele se retirou cedo do exército, seu  negocia era a política, ficou rico com isso.

Eu ao contrário vi tanta gente morta em minha vida, que até hoje tenho pesadelos, tenho gravada na minha cabeça por exemplo uma cena, de uma mãe morta, dando peito para seu bebê, levou um tiro dentro de casa, aonde estava sentada sem fazer mal nenhum.  Depois vi um soldado, colocar uma arma em sua mão.  Fiquei furioso,  foi  quando comecei a me desencantar, os meus pesadelos creio que me perseguiram a vida inteira.

Na última vez que o vi, um dos motivos da discussão foi essa, era contra minha aposentadoria, porque havia que limpar a terra que nos pertencia.  Quase lhe dei um murro na cara, pensar que perdi quase toda minha vida, por ter amado esse idiota.  Hoje me enfado comigo mesmo por isso, perdi minha juventude, até mesmo minha madures por migalhas de afeto, hoje estou sozinho, com os putos pesadelos.   Estou obrigado a me cansar ao máximo para conseguir dormir, pois me nego a tomar qualquer medicação.

Seu amigo, Charles, colocou a mão sobre a sua, pois é pensamos algumas vezes que estamos fazendo o bem para um pais, mas por detrás sempre tem interesses dos políticos.  Por isso também sai do trabalho, nos últimos anos, como me negava a fazer certas coisas, me davam trabalho de escritório para fazer, como forma de castigo.

Chegaram à casa, o lugar era magnifico, tinha inclusive uma piscina no fundo da casa.  Com piscina posso tomar banho, mas no mar é mais complicado, teria que ter trazido minhas muletas para isso.   Creio que tenho uma, uma amiga a deixou aqui, quando veio descansar, tinha tido uma lesão.   Outra que se desencantou com a vida.

Pediu ao Charles que lhe desse o quarto mais afastado, se desperto dando gritos, não incomodo ninguém.

Queria que me fizesse um favor, sei que tens ligações, queria saber o que pretendem esses filhos da puta com sua vingança.

Depois de guardar suas poucas coisas, pediu ao Charlie se podia lavar sua roupa, estão fedidas, estive ontem o dia inteiro com elas e hoje também.  Este lhe emprestou uma sunga para a piscina.    Tirou a prótese, foi andando com as muletas, até a beirada as deixou ali, se atirou na água.

Ficou horas sentado dentro da piscina, se relaxando.   Quando Charles apareceu com uma cerveja, o sol estava quente, foi uma ótima sensação.

Depois tenho umas coisas para te mostrar, você tem toda razão sobre o atentado, o pior é o que querem fazer.

Tenho que ver agora, minha cabeça estar fervendo de tanta conjecturas, imagino o que está por detrás disso.

Saiu da piscina se enrolou numa toalha que o Charles lhe deu, sentaram na varanda, ele trouxe seu laptop. Veja, era um vídeo do Joseph, expulsando com soldados, uma família inteira, de uma granja,  inclusive duas crianças pequenas.    Os soldados agrediam um velho com seus cabelos brancos, que se negava a sair de sua casa.   Aparecia o Joseph dizendo que a cidade precisava crescer, que ali se construiriam edifícios.

Segundo as fontes, ele estava ganhando dinheiro por baixo dos panos, para liberar essa faixa de terra para as construtoras.   Parece que a tempos estava vendido aos mesmo.  Agora o pior para ti, segundo as mesmas fontes, estava envolvido com um jovem da idade de sua filha.    Bom pelo que se sabe agora vão atrás dessa família, a ordem é liquidar a mesma, não deixar nada.

Carregou seu celular, chamou sua afilhada, falou com ela a respeito.   Sim eu sei de tudo isso, mas o que faço.  

Salve essa família, pelo amor de deus, as crianças não têm nada a ver com isso. 

Horas depois ela telefonou dizendo que não tinha sobrado ninguém, que estava furiosa, tinha feito uma declaração nos jornais contra isso tudo.  Na entrevista, disse inclusive isso, que seu pai era culpado da situação.  Mas duvido que publiquem, nada disso.   Avisei minha mãe que vou para Paris, pois tenho trabalho, se quiser vir comigo bem, senão que fique aqui com suas lamurias.

Sabias que ele tinha um amante da minha idade tio, as vezes ela lhe chamava assim, foi um filho da puta até sua morte, por isso brigou com minha mãe, queria ir viver com o rapaz, disse que tinha muito dinheiro para viver.

Procure em suas contas nos bancos, mesmo fora do pais, segundo as informações que tenho ele estava recebendo dinheiro das construtoras para fazer isso, mas muito cuidado.

Ficou sentado ali, nem sentiu as lagrimas correrem em sua cara.   Joseph no final tinha destruído tudo que tocara, ele, a mulher, a filha, tudo.    Aonde tinha ido parar esse homem a quem tinha amado com loucura.   Que idiota fui, não ver o que acontecia.                   

Charles da porta o viu chorando, o deixou ali, sabia que quanto mais pusesse para fora, melhor, tinha passado pelo mesmo.   Sua mulher o tinha abandonado, quando viu que perdia seu status de chefe, gostava da importância de títulos, menos mal que não tinham filhos.

Sentia uma vontade imensa de explodir, precisava um ombro para chorar, sem querer pensou no François,  o chamou, para saber como estava. 

Já tenho tudo resolvido, te chamei, mas o celular dava ocupado, gostei tanto de te conhecer, que não paro de pensar em ti.

Eu adoraria conversar contigo, mas creio que seria nefasta minha conversa, acabo de saber coisas que não queria ver. Isso esta me molestando, com certeza terei pesadelos essa noite.

Eu irei embora amanhã, mas acho que vou voltar de avião.  Adoraria te ver.

Espere. Colocou a mão sobre o celular, chamou o Charles, lhe perguntou se podia convidar seu amigo.

Claro, fale com ele, depois me passa que lhe digo como chegar aqui.

François, chegou duas horas depois, em um taxi.  Se abraçaram, contentes, o apresentou ao Charles.   Sentaram-se para jantar.

Como foi a resolução do problema.

Vais rir, os irmãos estavam brigando pela disputa de um apartamento em Paris, resulta que o que deixou a herança, nos últimos dez anos, não pagou nenhum imposto, tinha muitas dividas, então metade do valor é para pagar as dívidas, o apartamento esta caindo aos pedaços, tem que ser restaurado inteiro.  Até a venda vai ser difícil.

Eu também penso em vender aonde vivo, ou então me mudar para um lugar mais tranquilo, imagina, quando fiquei sozinho nele, mandei reformar inteiro, tirar todos os papeis de paredes velhos, pintei tudo de branco, minha meia irmã ficou horrorizada. Disse que era uma blasfêmia.

Mas mesmo assim, tenho que dormir num quarto que não dá para os outros edifícios, pois quando tenho pesadelos, desperto gritando, isso incomoda os vizinhos.

Ias gostar da minha casa em Aix, fica fora do centro, é um tipo mansão antiga, a comprei de uma briga também por herança.  Mandei reformar, mas há uma parte que irias gostar, nos fundos, havia pequenas casas, que eram aonde viviam os empregados, agora as vou reformar, para alugar para estudantes, uma delas penso em transformar em meu escritório, se rompo com os herdeiros do meu ex-companheiro.    Isso está basicamente certo na minha cabeça.

Paris, nunca mais, nasci, cresci, estudei lá, mas me acostumei a essa vida mais tranquila de Aix.

Porque não voltas comigo, passe uns dias lá.

Dormiram juntos, fizeram o sexo que tinha gostado tanto, num dado momento nas preliminares sentiu prazer quando François, passou a língua pelo lugar da amputação, isso o levou a loucura, não sabia que tinha esse tipo de prazer nessa parte, ele quando percebeu, lhe provocou mais, depois se deixou penetrar por ele que estava enlouquecido de prazer.

Pelo menos uma coisa boa em tudo isso,  depois de tanta merda, uma coisa boa, te conhecer.

Passaram o final de semana lá, no domingo a tarde conseguiram um voo para Marseille, era incomodo o tipo de avião, mas valia a pena.  Lhe disse ao ouvido de François, podia ter voltado de ferry, assim voltaríamos fazendo sexo.

Riu para si mesmo, estava com 62 anos, mas se sentia rejuvenescido.    Ficou deslumbrado com a casa do François, ele lhe foi explicando o que tinha feito, restaurei basicamente tudo, mas a maioria dos cômodos estão sem moveis, tudo teve que ir para o lixo, salvei algumas molduras, espelho, imagina a casa esteve fechada quase trinta anos, pelo litigio.   O segundo andar estava todo aqui no térreo, o sótão, tive que tirar todo, as madeiras estavam podres, na verdade, tirei tudo, reconstruí por dentro, salvo as lareiras, com suas torres nada sobrou, portanto o andar de cima, foi feito a minha maneira, duas suítes grandes, com roupeiro incluído, pensei que o meu querido vinha viver comigo, não era com ele.   Tu es a primeira pessoa que entra aqui comigo, agora estão construindo a piscina, mostrou pela janela, preciso de um jardineiro para redesenhar o jardim,  quero plantar mais árvores para fazer sombra.  Mostrou ao fundo, o que ele dizia.

A cozinha foi feita inteira, nem o chão sobrou,  aproveitei para reabrir a bodega que estava em ruinas, um cheiro de vinho velho pelo chão.    Alguém entrou abriu todas as garrafas que estava aqui, deixou vazar tudo.

Mas agora ao reconstruir para abrigar uma parte da bodega, outra será lavanderia, coisas assim, por enquanto não temos garagem, terei que usar uma das casas para isso.

Nessa noite sua afilhada lhe chamou.   Acabo de descobrir, que as crianças não morreram, estavam com uma tia delas, as que morreram foi de uma vizinha que estava fazendo uma visita a família.

Falei com ela, esta concorda comigo, se ficam aqui, vão ser criadas no ódio, na vingança, são muito pequenas, tem apenas dois anos de idade, não viram o que aconteceu, queria fazer no enterro dos pais, uma passeata com o caixão, bem como as crianças, mas a tia fugiu com eles, está aqui em Tel Aviv.   Falei com ela, precisa de ajuda, tem família, teme por ela, não tem a menor condição de criar as crianças.  Cai na besteira de falar com minha mãe, disse que se as encontrasse, as mataria ela mesma.    O que faço.

Já te chamo.  Conversou com o François, se fosse amantes a muitos anos, eu iria propor criarmos as crianças, mas mal nos conhecemos.   Tens algum meio de tirar elas de lá.

Ele começou a mover seus fios, diga a sua afilhada, lhe deu um endereço, que vá até lá, leve uma foto das crianças, vão conseguir documentos para elas, como se fossem seus filhos, esses mesmos a vão escoltar até o aeroporto para não ter problemas, um viajara no avião com ela, depois virão para cá.

Venha comigo, vou lhe mostrar uma das únicas casas prontas.    Saíram para a rua, contornaram a esquina, a primeira casa da outra ponta, estava pronta, não tinha moveis nem nada.  Era muito simples, uma sala com a cozinha americana, um quarto com banheiro, no andar de cima dois quartos mais um banheiro, na parte detrás, mandei construir isso, uma pequena varanda virada para a casa grande, ali numa parte fechada estava a lavadora e secadora, bem como uma pequena despensa.   Acho que para ti serviria.   Depois se queres ir para Paris, isso será contigo.

Uma pergunta, viras dormir aqui comigo?

Sem dúvida nenhuma, não penso em me afastar de ti.

Falou com a afilhada, perguntou se ela queria correr este risco.

Desde que seja para salvar essas crianças que não tem culpa de nada, sim.  Estou farta das burradas do meu pai.   Encontrei o dinheiro sim, esta todo em Luxemburgo.   O muito filho da puta pensava em se escapar com seu jovem amante.

Lhe deu todas as instruções, siga todas as orientações, só me avise quando estiverem saindo para Marseille.

Quem teve uma ideia, foi o François, pelo que me contaste podem vir atrás de ti, se esses garotos são registrados como meus, ninguém poderá fazer nada, serão franceses.  O pessoal que cuida disso por  aqui me dever imensos favores, creio que seria uma solução, poderão viver comigo, sempre quis ser pai.  Os educarei como franceses, procuraremos que se esqueçam do passado.

Assim fizeram, quando Mariah chegou a Marseille, esteve com ela, disse que como estavam agitados, tinha lhe dado um comprimido para crianças. 

Sempre te manterei ao dia, mas encontrei a família própria para eles, não se preocupe, estarão bem cuidados.

Assim o fizeram, um mês depois, os meninos já falavam francês de tanto escutar, eram sempre acompanhados de uma psicóloga, que não via signos de ansiedade neles.  Tinham cortado seus cabelos, a moda que se usava agora entre as crianças, no semestre seguinte iriam a um jardim de infância, aonde as crianças a maioria era francesa.

Eles continuava bem, de noite François atravessava o jardim, para dormir com ele, as crianças ficavam com uma baba que dormia no mesmo quarto, mas mesmo assim François levava um desses aparelhos, que escutava até um peido dos meninos.   Era todo um grande pai, jogava com eles, esses espontaneamente o abraçavam.

Charles o mantinha a par de qualquer movimento tanto por parte de um lado como do outro.

Sabia que estavam vigiando seu apartamento em Paris, por isso ficava aonde estava, tinha feito uma modificação em sua aparência, deixou a barba crescer, passou a raspar a cabeça, usava um gorro típico dali.  Se distraia, criando o jardim novo para François.  Nunca tinha imaginado que poderia ter um relacionamento assim, para todos efeitos, morava na casa de empregados, as outras foram sendo reformadas, mas todas deixaram de ter acesso ao jardim.   Criou um caminho ao qual François passava despercebido.    Raramente saiam juntos pelas ruas.           O François apresentava a criança, como seus sobrinhos, tinha construído uma história perfeita.

Viviam simplesmente, ele trabalhava em seu escritório, da janela via Paul, trabalhando no jardim, agora tinha um ajudante, pois para ele era difícil ficar de joelhos,  passaram o inverno, felizes.    Usava para falar com Mariah, um celular desses de pré pago, para dificultar a localização, tinham combinado o dia que se chamavam.

Ela embarcaria em breve para uma escavação no México, assim estaria longe.  Contou que sua mãe, estava vivendo com uma irmã num povoado perto de Jaffa.  Tinha tomado posse do dinheiro do pai,  depois de muitas complicações.

A última vez que falaram, disse que estivera indo a um psicólogo, pois descobrir toda a verdade a respeito do pai, a tinha deixado confusa.                  Quando me contaste a respeito de quando o conheceste, seu posicionamento político, sua mudança, ao longo do tempo.       Nos últimos anos mal nos falávamos, pois um dia soltou que esperava ter um filho homem, para seguir sua carreira política, descobrir que não passava de um blefe.   Mas vou sobreviver a tudo isso, sem dúvida nenhuma, tinham um código para perguntar pelos meninos, perguntava pela próteses que usava.   Estão funcionando perfeitamente, algum dia correrei umas olimpíadas. Tudo isso significava que estavam bem, que seguiam se adaptando. 

As crianças o chamavam de tio Paul, se agarravam a ele, quando o viam sem as próteses na piscina ficavam olhando para ele, mas ele procurava que se acostumassem.

Adoravam se jogar com ele na piscina, falavam o tempo todo em francês, o que ele mais gostava era ver, como eram agarradas com o François.   Sentia como se agora tivessem uma família.

Mas ele por hábito estava sempre atento, tinha instalado em cada esquina da casa, bem como nos fundos um sistema de vigilância, estava sempre repassando as gravações para ver qualquer coisa diferente.   Tinha quase uma neurose nisso.  Hoje em dia ofereceria sua vida, pela dos meninos.   As crianças eram sempre um vítima colateral de tudo.

Agora já sabia inclusive os dias que poderia ter algum pesadelo, dedicava esse dia a não dormir, repassar os vídeos, escrever.    Um dia estava pensando nisso, quando lhe surgiu na cabeça uma ideia, escrever sobre o assunto.   Como se sentiam as pessoas depois de tanto anos sobre pressão, dessa eterna guerra por um pedaço de terra, quando todos poderiam ter desde o princípio ter tentado conviver.   Chegou a conclusão, se tivesse mais informação sobre as coisas, nunca teria participado nos atos do exército, se arrependia do tempo perdido, devia ter saído procurado um emprego ou estudar alguma coisa.

Dez anos se passaram,  agora usava uma prótese mais moderna, se movia mais rapidamente, mas continuava forte.   O jardim era seu orgulho, devia ter estudado isso.   Tinha uma coleção de bonsais que fazia ele mesmo.    Os meninos estavam numa fase curiosa, pois tinha passado do tempo de fazer perguntas, a terem posições mais firmes.

Os dois continuavam agarrados aos dois, mas era com Paul, que faziam confidencias.  O maior um dia chegou-se a ele no jardim, disse que vinha tendo um sonho, em que falava outra língua, que ele entendiam o que falava, mas que não gostava dos tiros que escutava, nem ter que ficar escondido embaixo de uma cama.   Conversou com a psicóloga, para saber como agir, estava num beco sem saída.   Infelizmente o sonho se tornou uma coisa, cada vez que o menino ficava nervoso, tinha o pesadelo.   Um dia o pegou falando um arremedo de árabe com o irmão, como se fosse uma língua secreta deles.           Se assustou, resolveu que tinha que contar a verdade, a psicóloga mesmo contra a vontade do François concordou.             Sentaram-se os três com eles, contaram o que tinham passado.       O olhar deles era de interrogação, porque tinham feito isso. Explicar foi difícil, mas resolveu que a verdade era o melhor, contou com detalhe o que tinha feito, o porquê de tudo.   Foram meses difíceis, mas uma coisa foi interessante, vinham sempre conversar com ele, os começou a ensinar árabe, achava que tinham esse direito.

O menor, era o que menos se lembrava de alguma coisa, o outro sim, pois tinha os pesadelos, mas desde que soube da verdade, deixou de ter os mesmo.

Se tornaram mais agarrado a ele, que sabia da verdade deles.  

O pouco cabelo que o Paul tinha hoje, era todo branco,  ele é François,  acabaram se casando, para terem segurança dos dois.  Eles estavam encantados, agora tinham dois pais.

Um dia o maior mostrou curiosidade de ir conhecer aonde tinha nascido.  Pediu que esperasse mais um ano assim seria maior de idade, ele disse que sentia muito, não podia ir, pois aquela terra lhe dava  ansiedade, tinha medo de que depois de todos esses anos, seus pesadelos voltassem.  Acabaram indo os quatro, ao maior tudo lhe fez muita impressão, mas no pequeno era como uma viagem de turismo, não se lembrava realmente de nada.

A miséria continuava do lado oposto, enquanto o lado de Israel, tinha abundância, isso o revoltou.   Ele conjugava com o Paul a respeito.   

Dois anos depois os dois já estava na universidade, quando Paul ficou seriamente doente tinha um câncer ósseo justamente a partir da amputação.   Já não havia mais cura.  François fechou seu escritório para cuidar dele.

Os meninos como os continuou chamando, vinham todos os dias passar horas com ele, na sua casinha.  Se negava ir para a outra, tinha vivido ali os melhores anos de sua vida.   Se negou a ir para um hospital, qualquer tratamento, pois sabia que não tinha cura.  Mas se preparou a consciência, os deixando como herdeiros de tudo o que tinha, o apartamento de Paris, dinheiro que tinha no banco,  um dia a sós com o mais velho, conversou tudo o que pensava, tu tens o direito de tomar o rumo que quiser na tua vida, só te peço que não entre em jogos de vingança nunca, não leva a nada, veja passei a maior parte de minha vida, sem pernas por causa disso.  Me perguntei desde o primeiro momento se tinha valido a pena, sou honesto de te dizer que não.  Mas lembre-se a decisão é sua.

Queria ser cremado, que suas cinzas fossem espalhadas pelas suas flores, como adubo, nada de cerimonias, de religião nenhuma.   Eu nunca pude acreditar num deus que deixar seus filhos se matarem entre si.

Os garotos entenderam sua mensagem,  um se tornou médico, outro professor, anos mais tardes emigraram para Cisjordânia para trabalharem lá, atendendo a quem necessitava.

François foi com eles, morreu lá, mas pediu que suas cinzas ficassem juntas no jardim com o Paul. 

Diziam sempre os dois bendita a hora que resolvemos ir a Córsega de ferry.

Os meninos eram super respeitado por suas convicções de paz.

 

 

 

 

 

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

 

 

 


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