Meu nome é John
Lion Steiner, descendo de um lado de empresários do dinheiro, de outro lado de
joalheiros judeus famosos. Sou filho do
segundo matrimônio de meu pai. Minha
mãe, era daquelas judias que tudo pelo glamour, não era bonita, mas sabia se
vestir, se comportar nos melhores salões de NYC, tinha sido apaixonada por um
rapaz que não era judeu, na universidade, tinha sido daquelas que iam para
arrumar um bom casamento, mas resultou que o homem que queria era pobre.
Terminou a
universidade, foi trabalhar numa das joalherias da família, um dia meu pai
entrou para comprar um anel para uma amante.
Ela o atendeu, quando o viu escolhendo, uma coisa de mal gosto, lhe
perguntou na cara, é para sua amante?
Ele ficou sem
graça, ela o convenceu de comprar um anel, que impressionava, mas que não valia
muito. Se o senhor pretende um dia se
casar com ela, lhe dê um diamante, mas se não compre esse, lhe custara menos,
mas vai impressiona-la.
Impressionado
ficou ele, com a desenvoltura dela. Não
comprou o anel, mas a convidou para jantar.
Ela lhe soltou na cara, estou solteira, mas não quero um amante, quero
uma família.
Menos de um ano
depois se casaram. Meu avô que era
conhecido por ser ranzinza, não gostou do meu pai, porque nunca ia a sinagoga,
a fez casar-se com separações de bens.
Ela realizava seu
sonho, um grande apartamento no Central Park, festas em que pudesse brilhar, amigas
finas, mas como dizia o meu avô, falsas, isso ela veria mais tarde.
Se casaram num
casamentos destes Judeus, por todo o alto, afinal ela era a filha preferida
dele.
Quando nasci, segundo
me contava ele, Abraham Steiner, me tornei seu neto preferido no mesmo
instantes. Diziam que quando pegavam um
dos netos no colo, desatavam um berreiro, eu fui ao contrário, ficou imaginando
que foi assim, vi aquele homem com os cabelos brancos imensos, uma barba
branca, dizem que comecei a alisar a mesma, que passava as mãos pela cara
dele. Foi ele que escolheu meu nome,
era o de seu irmão pequeno que morreu nos campos de concentração, com seus
pais.
Ele levantou sua
fortuna, de joalheiro, com um casamento desses combinados, mas que deu certo,
estava sempre lamentando a morte de minha avó, segundo ele a única pessoa que o
tinha entendido.
Meu irmão mais
velho Remus, era filho de meu pai, com uma escocesa que tinha um mal humor
incrível, passou isso para o filho.
Nunca chegou perto de mim, nos finais de semana que vinha passar com o
pai. Quando saiu da universidade foi
trabalhar na empresa dele, de investimentos.
Eu ao contrário
era a alegria da horta, segundo a governanta da casa, era um perigo, não
gostava da maioria dos presentes que me davam quando era pequeno, os destruía e
construía de outra maneira. Um das
minha primeiras loucuras, foi pegar um jogo da Lego, em que tudo é reto, me
sentar na cozinha, acender o fogo, com uma faca, uma luva destas de cozinha,
começar a colocar forma no que tinha construído. Segundo a cozinheira que ria muito, eu quase
coloquei fogo na cozinha. Meu avô se
deliciou, queria ver o que eu tinha feito.
Riu dizendo é o
Lion reencarnado não é possível, seu irmão pequeno tinha feito belas artes em
Paris, era escultor.
Depois, para não
colocar fogo me deram um desses jogos de edifícios, fiz a mesma coisa, colei
todas as peças, com a faca de pão, comecei a colocar da maneira que queria. Ele tinha até morrer essa escultura, tinha
feito um urso com ela.
Minha mãe ficava
uma fúria, porque eu fazia isso, quando saíram os jogos desses modernos, eu
destruí a consola, para ver o que tinha dentro, comecei a colar as peças para
fazer um robot.
Duas vezes por
semana, ficava a parte da tarde com meu avô, minha mãe ia jogar bridge com as
amigas ricas. Ele me levava para o
talher central das joalherias, ficava esperando o que eu ia fazer, adorava ver
os homens fazerem moldes das peças que ia executar, havia uma caixa grande que existiam
moldes antigos, essa era minha diversão, falava com eles, dizendo um dia te
usarei para construir algo. Selecionava
as que mais gostava. Ele ficava as
gargalhadas, dizendo o menino tem bom gosto, era moldes de peças que tinha
feito sucesso, a maioria feita por ele.
Os empregados, diziam que era o único dia que meu avô ria. Para mim, era um absurdo pensarem isso, se
comigo estava sempre rindo, falando.
Foi a pessoa em
que confiei todos meus sonhos. Mesmo depois
de garoto, já adolescente, meus dois dias com ele, eram imperdíveis, queriam
que eu fosse a casa das pessoas ricas, eu odiava.
Soltava logo,
hoje não posso é o dia do meu avô. Ele
já não trabalhava, mas íamos a sinagoga, ele me ensinava as coisas, depois
íamos pelos museus. Galerias de arte, me
comprou a primeira escultura africana, pois me apaixonei por ela, a tenho até
hoje.
Meu pai queria
que eu fosse a universidade para fazer administração de empresas como meu
irmão, mas me neguei, o velho foi o único que ficou do meu lado.
Queria ir estudar
arte, fazia aulas de pinturas, escultura, a primeira que realizei, ele amou,
fui até ao talher da joalheria, peguei uma serie de moldes, com ele compus uma
imagem, que fui decorando com pedras falsa.
Ele mandou expor na vitrina da
joalheria mais famosa.
Foi vendida em
dois dias, o vendedor explicou que as pedras eram falsa, mas o comprador amou,
quando perguntou o preço o vendedor ligou para meu avô. Ele soltou um preço absurdo, o homem
comprou. Com esse dinheiro, passei a
ter minha conta no banco.
Depois quando
íamos a sinagoga, saia para tomar um café com os amigos, contava isso, como
fosse a coisa mais importante do mundo.
Quando resolveu
em vida, dividir sua herança entre os filhos, o fez particularmente
interessante, sentou-se com todos, falou com eles. Só um queria sua parte em dinheiro ou
diamantes, iria viver em Tel Aviv. Os
outros cada um queria a joalheria que já tomava conta, para minha mãe, tocou
diamantes, que ao final a salvaram para o resto da vida.
Nunca disse a
ninguém, mas me entregou um envelope, fomos ao Banco, ele pediu uma caixa
forte, colocou o envelope, bem como umas pequenas bolsas, não me deixou abrir.
Foi passar uma
temporada com sua filha pequena, que tinha se casado com o dono de uma galeria
de arte, em Paris.
Eu as vezes
chegava em casa, a escutava falando com minha mãe, que o velho era
insuportável, que passava o dia inteiro reclamando de seu marido.
Um dia chamou
soltou sem mais nem menos, sabe o que fez agora, disse que se aborrece, comprou
um local de um antiquário em Saint Queen, imagina nessa idade, voltar a
trabalhar, o mais interessante, que os mandou todos a merda, porque foram lá
falar com ele, comprou um apartamento pequeno, ali perto, que não estava para
viver na Avenue Montaigne, preferia simplicidade no fim de sua vida.
Os filhos
voltaram com o rabo entre as pernas. Eu
saberia tempos depois que tinha comprado o apartamento em meu nome.
Estava preparando
minha primeira exposição, que participava com outros alunos da escola, quando
estourou a bomba.
Meu irmão que
tinha assumido o escritório de meu pai, foi preso pelo FBI, estava lavando
dinheiro de mafiosos. Foi pior que
colocar merda no ventilador.
Meu pai tinha se
afastado dos negócios para lhe deixar se fazer homem como ele dizia, com minha
mãe tinham aproveitado esse tempo, para fazerem cruzeiros com os amigos ricos.
Quando a bomba
estourou ele estavam num dos melhores resorts de luxo do Mexico.
O escritório foi
fechado, os clientes de meu pai desapareceram do mapa, eles voltaram correndo,
mas já era tarde, tinha perdido a licença para operar na Bolsa de Valores.
Acabou tendo um
enfarte, ficou em cadeira de rodas, eu já não vivia em casa, mas sim num
pequeno apartamento no Harlen, num último andar de um edifício antigo, que era
ao mesmo tempo meu studio.
Minha mãe,
primeiro ficou como uma barata tonta, até que falou com meu avô, que lhe deu
uma bronca incrível, tomou o primeiro avião, colocou ordem no pedaço.
Afinal ela tinha
fortuna própria, mas a aconselhou a se mudar para um apartamento menor, aonde
poderia manejar melhor as coisas. Meu
pai nunca se recuperou, morreu no final do mesmo ano. Meu irmão estava preso, sua mulher, seu
filho, foram morar com os pais dela, acabou se divorciando dele.
Meu avô
aproveitou viu os meus trabalhos na exposição, me convidou para ir a sinagoga
rezar pelo meu pai. Pensei que ia
falar mal dele, do filho, afinal ele tinha dinheiro investido com eles, que
perdeu. Mas não disse um pio.
Nos sentamos no
café que íamos sempre, desta vez os amigos não se aproximaram.
Vê, quando alguma
coisa acontece, principalmente se tem dinheiro pelo meio, passa isso, os que
parecem teus amigos, somem como ratazanas de esgoto.
Mas não é isso
que quero falar contigo, analisou as peças que tinha feito. Acho que devias vir
comigo para Paris, entrar para a escola de Beaux Arts, tua tia conhece muita
gente de lá, tem um cliente, escultor, vi os trabalhos dele, pode te orientar
melhor. Creio que estas meio perdido nessa
confusão toda. Não se preocupe com tua
mãe, pois ela tem uma pequena fortuna pessoal.
Eu me preocupava
pela minha mãe, pois nesse momento estava sozinha. As fabulosas amigas do bridge, das viagens de
primeira classe, tinha desaparecido todas, como meu avô dizia, como ratazanas.
Ela, para se
distrair, voltou a trabalhar com seu irmão mais velho, justo na joalheria que
tinha conhecido meu pai. Era uma mulher
que odiava ficar dentro de casa, contratou duas enfermeiras, elas cuidavam de
meu pai. Foi sincera comigo, não suporto
ver o homem que amei, desaparecendo em vida, prefiro isso, pois sou capaz de
mata-lo.
Quando meu avô
falou com ela, concordou imediatamente.
Meu pai nunca
tinha sido uma pessoa próxima de mim, ao contrário, se fosse por ele, minha mãe
teria abortado, dizia que estava velho demais para ter um filho pequeno. Ele adorava seu filho mais velho. Que acabou sendo uma decepção para ele.
Mas eu ia
visita-lo todos os dias depois da escola de artes. Ficava olhando na minha cara, enquanto eu mostrava
os desenhos dos próximos projetos.
Acredito que eu devia ser uma decepção, pois era um homem que não
gostava de arte.
Concordei, passei
o Natal, com eles, fechei o meu studio, guardei as poucas coisas que tinha num dos
quartos do apartamento de minha mãe, fui para Paris.
Quando, cheguei
meu avô estava me esperando no aeroporto.
No alto dos seus quase noventa e cinco anos, se movia como um
garoto. Primeiro fez uma coisa comigo, fizemos todos
os passeios turísticos, para que aprendesse amar Paris, depois fizemos passeios
pelos lugares que os turistas não iam.
Minha tia ofereceu uma reunião em sua casa, cheia de artistas,
discutindo teorias, técnicas, ele disse ao meu ouvido, essa é a gloria dos
cinco minutos, fazem sucesso, acham que sabem tudo, te proíbo de falar essas
besteiras. Eu olhava para ele, pronto
para obedecer, depois comentei em casa, quanta besteira, se arte para mim, são
dez por cento de criação, depois 90 de suor para construir, colocar para fora.
Minha tia me
apresentou o escultor que meu avô falava.
Era totalmente fora dos homens que eu tinha visto na sua casa.
Era um homem
tosco, se o fosse definir. Tinha dois
metros de altura, ao mesmo tempo eu de brincadeira com ele dizia que seu espaço
era imenso. Ela quando me apresentou,
primeiro reclamou com ele porque não tinha ido a sua reunião.
Olhou sério para
ela, soltou, eu não tenho tempo para esses veadinhos de presépio. Tenho horror
a isso, prefiro ficar tomando vinho num bistrô, lendo um livro, ou mesmo
rabiscando ideias.
Se chamava
Matheus Harlent, era judeu como nós.
Fui a suas aulas na École de Beaux Arts, um dia me soltou na cara, estas
perdendo tempo aqui, esses que nada fazem, que discutem teorias, ou o que
esculpir, te fazem perder tempo.
Me levou para seu
studio, que era justamente para os lados aonde vivia meu avô.
Era uma antiga
loja, bem como no andar de cima, vivia ele.
Embaixo tinha
tirado todas as paredes, só deixando as colunas, tinha um forno quase
industrial, mesas de trabalho, me olhou nos olhos, dizendo, aqui aprenderas
trabalhando comigo. Me disse qual mesa poderia usar.
Perguntou se eu
tinha feito escultura a partir do barro.
Aonde estudei achavam isso um atraso, queria que as esculturas fossem
modernas, como a própria América.
Me ensinou como
modelar, posso dizer que voltei a infância, um dia meu avô contou para ele o
que eu fazia em criança. No dia
seguinte, apareceu com uma série de caixas de lego que tinha comprado num
mercado, a maioria eram de segunda mão.
Feche os olhos, volte a sua infância, tente imaginar o que fazias. Fazia tempo que não me divertia tanto, só
que agora tinha um maçarico para trabalhar.
Quando acabei, ficou olhando de todos os ângulos, já tinhas madeira para
ser escultor em criança. Me levou comigo,
a uma loja de tudo de segunda mão, compramos tudo que o homem tinha de lego,
foi assim numa quantas lojas.
Agora, quero que
faças uma em tamanho grande.
Olhei bem para a
cara dele, para seu tamanho todo, não podia confessar que estava apaixonado por
ele, me levava pelo menos 10 ou 15 anos, não soube durante muito tempo sua
idade.
Fechei com panos
que encontrei, o local aonde trabalhava, não queria que ele visse.
Quando acabei,
mostrei, era seu busto, ocupava dois metros de largo, como dois de altura, era
uma escultura imensa.
Ficou rindo, me
deu um soco sem força no peito, me chamou de puxa-saco. Tirou uma foto no
celular mandou para minha tia.
Olhou nos meus
olhos, perguntou se eu tinha feito esboços?
Não, eu o tenho
aqui dentro da minha cabeça, me aproximei dele o beijei. Ele ficou quieto a princípio.
Não esta bem esse
comportamento com teu professor, sou mais velho que você.
Não posso fazer
nada, estou apaixonado por ti.
Me segurou pelos
ombros, me disse que eu devia me apaixonar por alguém da minha idade.
Nem pensar, são
uns chatos, falam demais, tu como eu, gosta de trabalhar em silencio, quando me
corriges, o fazes com sentido.
Foi ele então
quem me beijou, me levou com ele para seu apartamento em cima, foi como eu
imaginei, era como nadar naquele corpo imenso, não queria me afastar dele.
Fomos despertados
pela minha tia, que disse que ia buscar meu avô, para ver minha escultura.
Tomamos um banho
os dois, juntos, eu reclamei, que dava muito trabalho limpa-lo todo, pois era
grande demais.
Quando chegaram
só meu avô notou que estávamos os dois com os cabelos molhados, os dois o
levávamos compridos.
Minha tia batia
palmas, vou mandar um caminhão buscar, para colocar na galeria.
Meu avô parou os
pés dela. Se vais fazer, faça direito,
monte uma exposição para daqui algum tempo, o lance no mercado, colocar só essa
lá, vai vender, mas também não fará nenhum benefício.
Matheus rindo
disse que ia contratar meu avô como agente, pois ele sim sabia defender seus
artistas.
Matheus me
ensinou a usar um outro tipo de material, vamos usar o barro como base, fazer
moldes, depois podes usar esses moldes para esse material mais leve.
Nesse dia meu
avô, me abraçou muito quando fomos todos jantar por ali, num bistrô que ia
sempre como Matheus, as pessoas que andavam por ali, riam sempre dos dois, pois
estávamos sempre discutindo materiais para trabalhar, sem prestar atenção nos
outros.
Nessa noite,
minha tia, fez uma exceção, depois concordou que o lugar era perfeito para
estar.
Meu avô quando se
levantou, pediu que eu o levasse até em casa, era logo ali ao lado.
Me disse, não
solte esse homem que conseguiste, sei que o amas, pela maneira como o olhas,
meu irmão Lion era assim, não o deixe escapar.
Voltei rindo,
depois Matheus queria saber por que eu estava rindo, contei o que tinha me
falado meu avô, basicamente passamos a viver de uma maneira interessante, íamos
todos os dias fazer um lanche com ele, o colocava na cama, ia dormir no nosso
apartamento.
Comecei a
desenvolver as ideias, ainda fiz umas quantas esculturas com o resto de lego
que tinha ali. Um dia andando por ali,
numa loja de ferragens, tinha uma caixa do lado de fora, cheia de parafusos, resto
de peças de metal, perguntei ao dono quanto custava tudo aquilo, ele me
conhecia, soltou, leve tudo, depois me faça uma pequena escultura para colocar
aqui.
Matheus ria da
minha ideia, fiz figuras, bustos com barro, mas coloquei todas as peças que
tinha na caixa, nelas, depois coloquei no forno, algumas peças se derreteram
pela metade, outras inteiras, resolvi policromar as mesmas, deixando esse
material de metal aparecendo.
Ficaram
completamente diferente.
Tinha já peças
para a exposição, mas queria fazer uma grande da mesma maneira, convidei o
homem da loja de ferragens, para escolher uma pequena para ele. Ficou babando, nos arrastou com ele, até a
loja, nos fundo, tinham muitas peças de metal enferrujado. Arrumei um jovem para me ajudar a levar tudo
para o studio, separamos tudo já feito, comecei a trabalhar uma grande, era uma
escultura do Matheus, nu, como eu o via, ficou horrorizado, as pessoas vão me
ver nu, não se preocupe, mudo sua cara.
Justamente nesse
dia, soube que meu pai tinha morrido, mudei uma parte da escultura, o fiz de
memória, me lembrando como me olhava, quando lhe mostrava meus desenhos, como
se não entendesse nada. Seu enterro ia
demorar uma semana, até conseguirem um autorização para meu irmão mais velho
sair da prisão para ir.
Eu fiz um busto
pequeno dele, para colocar no tumulo. Matheus foi comigo, meu avô queria ir,
mas o médico o desaconselhou.
Fomos os dois,
com uma caixa pesada no porão do avião, para as pessoas em volta devia se
interessante, aquele rapaz, alto, magro, cheio de músculos, dormindo no ombro,
daquele homem imenso, mal sabiam que era meu remanso de paz.
Minha mãe tinha
ido ao aeroporto, nos buscar.
Conseguiu a muito
custo, que meu irmão fosse liberado. A cerimônia
foi simples na sinagoga, só alguns amigos antigos de meu pai, a família de
minha mãe, seu filho, bem como o filho deste.
Minha mãe, tinha
ido buscar o garoto.
Eu rezei o
Kadish, pois meu irmão não sabia, estava emocionado, mas sentia não ter
conhecido meu pai, como conhecia o meu avô.
Ele nunca tinha entendido, como podia ter saído um artista na família,
se ele odiava a arte. Os quadros que
tinha no apartamento, tinham sido comprados pela minha mãe.
Meu irmão foi
outro choque, estava um velho, ombros encurvados, o filho ficou segurando a mão
da minha mãe, tinha medo do pai. Depois
minha mãe me contou que sua mãe falava muito mal para ele do pai.
Pela primeira vez
o abracei, pois me deu pena. Disse que
tinha inveja, poder viver em Paris, ainda lhe faltavam dois anos de prisão. Lhe disse que fosse se preparando para
quando saísse.
Mas na verdade
nunca saiu de lá, o mandaram matar, por ter falado o nome de todos para quem
tinha trabalhado.
O resto do tempo,
passamos com minha mãe, visitando os museus que Matheus não conhecia.
Em algumas
galerias, peguei o cartão, para depois mandar o catálogo da exposição.
Levamos minha
mãe, conosco, para passar um tempo com sua irmã. A desculpa era justamente essa que viesse para
a exposição. Minha tia fez uma festa em
sua casa, para receber sua irmã.
Ela adorou claro
ser o centro de atenção outra vez. Outra
coisa que adorou foi a loja de seu pai, entendia disso de antiguidades.
A exposição foi
um sucesso, ela amou a escultura de meu pai, não podia dizer que só certos
detalhes eram dele, o resto era o Matheus.
Ele estava
orgulhoso de mim. Em dois dias se vendeu
tudo, o busto dele feito de lego, foi para um museu. Ele dizia que não tinha obra nenhuma num
museu, vinha esse pirralho, na primeira já tinha uma. Na verdade, não era certo, tinha duas obras
suas num museu em Israel.
Ampliamos com a
loja que dava fundos com a nossa, dizia que eu deveria ter um espaço só meu.
Meu avô me deu um
diamante, embora eu tivesse dinheiro. Queria que fosse meu.
Os jornais
quiseram me entrevistar, pensei bem, olhei para o Matheus, isso eu não gostava
de fazer. Minha tia, me encheu o saco,
só concordei em fazer uma coletiva, bem como uma num canal de televisão sobre
arte.
A coletiva, foi
interessante, pois eu avisei ao princípio, que perguntas idiotas não
responderia.
Falei tudo sobre
meu trabalho, agradecendo ao Matheus em especial, me ter incentivado a ser eu
mesmo no meu trabalho. Quando falaram da
escultura da lego, que era seu busto, cortei o mal pela raiz, contei primeiro o
que eu fazia de criança, o desafio que ele me fez.
Um perguntou por
que eu adulterava as peças de lego?
Respondi da
maneira muito simples, odiava coisas retas, contei que fazia o mesmo com os
brinquedos desses de montar casas, que eram de madeira, colava tudo, depois
dava forma com uma faca de pão. Todos
riram. Mostrei uma foto que tinha da
escultura na loja do meu avô.
Para nossa
surpresa, minha mãe acabou ficando, morava com sua irmã, no luxo, depois
comprou um carro velho, ia todo os dias para a loja do meu avô, com a desculpa
que ele vendia barato tudo. Acabou
ficando morando lá, nada a prendia realmente em NYC.
Um tempo antes de
morrer, meu avô me chamou para uma conversa séria, estava ali seu
advogado. Levei um susto, me acalmou, queria
saber se eu estava disposto a fazer seu último desejo.
Me pediu, que
levasse suas cinzas para Israel, que a levasse ao monte Sinai, que as deixasse
lá, mas fora da urna.
Meses depois
morreu, deixou para minha mãe a loja, para mim seu apartamento. Me aconselhou que olhasse o que tinha no
banco em NYC, nem me lembrava mais do mesmo.
Fui com Matheus,
minha mãe, minha tia fazer sua última vontade.
Foi uma viagem
interessante. Matheus nunca tinha falado
de sua vida anterior em Israel, eu tampouco perguntava, se ele queria falar
bem, senão, me dava igual.
Quando as duas
voltaram para Paris, fomos os dois passar um final de semana no mar Morto, ele
contou, sua família era ultra ortodoxa, tinham infernizado sua vida desde
infância, um dos motivos pelos quais ele não gostava de ir a sinagoga. Ficou admirado eu saber rezar o Kadish no
enterro do meu pai.
Me disse que o
tinham obrigado a se casar, mas ele escapou antes, me contou que quando chegou
a Paris, tinha se prostituido uns meses, de um ponto de vista, como vingança do
que tinham feito com ele, na sua infância e juventude. Até conseguir fazer o que queria, tinha tido
muitos trabalhos.
Fomos olhar de
longe sua família, ninguém o reconheceu.
Não vale a pena esfregar na cara deles, que hoje sou alguém, quando eles
continuam iguais. Seria uma vingança
dolorosa.
Passei a ama-lo
mais, mas percebi que isso o tinha feito mal por dentro, pois passou a fazer um
trabalho escuro, começou a ir a um psicólogo, antes me explicou por que o
fazia, não queria me encher com seus problemas.
Tudo o que ele tinha feito para escapar, voltava como uma bofetada em
sua cara. Me disse vê, eu te disse,
uma vingança seria uma coisa amarga.
O via nervoso,
tinha dificuldade para trabalhar, fomos ao médico, estava supre estressado.
Pedi desculpas,
por ele ter ido comigo a Israel. Ele disse
que eu não tinha culpa nenhuma, eu era a alegria de sua vida, que nunca tinha
pensado em amar alguém como me amava.
Um dia saiu, teve
um ataque de pânico na rua, se esbarrou com alguns ultra ortodoxos, isso o
deixou desencaixado. Eu na verdade, não
sabia o que tinha passado na sua infância, nem juventude. Do ataque de pânico, generou, uma catarse
profunda nele. Acordava de madrugada aos
gritos, me contou que com a idade de cinco anos, seu pai o trancava com pão e
água salgada, para purgar os seus pecados.
Lhe pegava pelas coisas que tinha acontecido com a família na Rússia,
quando ele próprio era o culpado. Era
um homem muito retorcido. Três dias da
semana não se comia em casa, ele ia pelas lixeiras dos restaurantes, procurando
o que comer, por isso sempre tinha fome.
Um dia não desceu
ao studio, disse que queria ficar mais um tempo na cama, me distrai fazendo
alguma coisa, quando subi, estava desmaiado, tinha tomado toda sua medicação de
uma vez só, chamei a ambulância, mas era tarde.
Demorei a me
controlar, perdia assim as duas pessoas que mais tinha amado na vida, meu avô,
Matheus. O advogado era o mesmo do meu
avô, ele pedia que suas cinzas fosse enterradas dentro do próprio studio, pois
era o único lugar que era feliz. Me
deixava tudo, eres melhor do que eu fui jamais, não deixe de seguir
trabalhando.
Foi uma porrada
em plena cara, ao qual eu não estava preparado. Minha tia, organizou uma exposição, vendeu
suas últimas obras negras, duas foram para museus, um na Bélgica outro na
Alemanha.
Eu graças a deus,
recebi um convite para expor em NYC, fui com a desculpa de dar uma olhada na
galeria. Precisava me afastar dali um
tempo.
As duas foram
comigo, minha mãe porque se preocupava por mim, minha tia, porque era minha
agente, assim também aproveitavam para ver a família.
Ficamos no
apartamento de minha mãe que estava fechado todos esses anos, ela disse que ia
colocar o mesmo a venda, pois seguiria com a loja do meu avô, não tenho nada
mais nessa cidade. Resultou que a
galeria era boa.
Fui olhar os
documentos do banco, eram dois apartamentos na cidade, que estavam em meu nome,
os impostos tudo isso, iam para essa conta, quando vi a quantidade de diamantes
fiquei de boca aberta.
Um dos
apartamento era no Brooklyn, não era grande, perfeito para mim, estava vazio,
comprei só o necessário, com dois diamantes, aluguei um local que era uma
antiga oficina.
Me joguei no
trabalho. Teria que preparar pelo menos
15 peças entre grandes, pequenas.
Inicialmente não
sabia o que fazer. Um dia me peguei pensando
no que me tinha falado de sua infância, comecei a desenhar, imaginando como era
estar fechado num lugar escuro, com agua salgada, um pedaço de pão, foi a
primeira escultura, um dia vi um garoto pedindo dinheiro na rua, fui falar com
ele, me disse que pedia dinheiro porque seus pais estavam na droga, tinha que
alimentar seus irmãos. Fui com ele a sua
casa, quase bato no seu pai.
Levei ele, bem
como o dois irmãos, para o meu apartamento, falei com o juizado de maiores,
Os levei ao
médico, cuidei deles, descobri que tinham parentes no Texas, pedi ao advogado
que descobrisse tudo. Eles receberam os
garotos.
A cara deles
ficou na minha cabeça, continuei construindo a história do Matheus, misturada
com a deles. Quando ficaram prontas as
peças, usei meu sistema, de misturar resto de metal, que fui buscar num ferro
velho, o dono da galeria ficou louco com o que viu.
Minha tia, com
minha mãe vieram para ver, o catalogo ficou fantástico, levaria vários para
colocar na galeria, bem como na loja.
Se vendeu tudo na
inauguração, isso que o dono da mesma acreditava que não funcionária.
Duas para museus,
a primeira foi para San Francisco, a outra para um museu novo em Ottawa.
Logo me saíram
exposição em San Francisco e Los Angeles.
Respirei fundo, primeiro fiz uma coisa que muita gente consideraria
louca. Primeiro fui ver se os garotos
estavam bem, o mais velho, era o tinha mais problemas, os pequenos não porque
não eram conscientes. Tinham se adaptado
melhor. Perguntei se ele queria viver
comigo, me disse que não podia deixar os pequenos, então falei com seus tios,
paguei para que ele fosse a um psicólogo.
Dalí fui para San Francisco. Nunca tinha vivido a vida gay, achei divertido, comecei a esboçar
desenhos, fui a um show de Drag Queen, desenhei a várias, algumas pedi que
posassem para mim. Fui andar pelas ruas,
a mistura de gentes me interessava, comprei uma câmera fotográfica, sai fotografando
todas as pessoas que via pela frente.
Esbocei um
desenho, que num primeiro momento, o dono da galeria, imaginou pelo tamanho,
teria que ocupar a maior sala da galeria.
Ria muito, isso vai ser uma loucura.
Voltei para NYC,
comecei a trabalhar, saia para comer, as vezes me sentava numa praça perto do
studio, para refrescar minha cabeça.
Quando via,
estava desenhando uma figura, uma cara, uma postura, eram coisas universais que
não importava o lugar.
Compus o que
queria, cenas que imaginava, a pessoa tendo em sua casa, etc.
Muitas eram uma
mistura de barro, metal, policromadas, ou simplesmente em tom de sépia.
Quando estava na
última, tirei foto de tudo mandei para minha tia, esperei seu comentário, só me
disse uma coisa, se não tivesse comprometido com essa galeria, ia pagar o
transporte de todas para levar para lá.
Sabia por isso, que tinha gostado.
Falei com minha mãe também, me soltou teu avô, quando viu o que tinhas
feito com o lego, foi o único que se matou de rir, eu nunca tinha visto meu pai
rir daquela maneira. Me soltou que
finalmente alguém na família saia como o irmão que ele amava.
Quando o da
galeria veio buscar o material, perguntou se eu queria um hotel, em San
Francisco, lhe pedi o mais simples possível, pois primeiro eu iria a Los
Angeles, enquanto ele levava, montava a exposição, teriam que fazer fotos,
montar o catalogo, coisas assim.
Quando estiveres
livres, tens que vir a San Francisco para entrevistas. Sabia que eu odiava as mesmas, mas era
natural, queria divulgar tudo.
Fui para Los
Angeles, aluguei um apartamento, pequeno, para ir pela cidade, contratei um
jovem para me mostrar toda a cidade, foi interessante que ele fez aquela coisa
de turista, lhe disse que nem pensar, queria ir pelo lado negro da cidade. Apareceu com seu pai, que era inspetor de polícia. Estava de férias, foi me mostrando tudo, me
apresentava pessoas, para quando eu viesse por ali, para desenhar.
Quando me levou
aonde rolava mais drogas, me aconselhou tomar cuidado.
Nessa parte, o
homem que me acompanhava, amigo dele, me aconselhou fazer fotos. Um dia estava fotografando um beco, aonde
estava vários drogados, apareceu uma gang.
Era seu
território, me levaram para falar com seu chefe. Este tinha uma cara espantosa, lhe perguntei
se o podia desenhar, como estava, levei a cadeira para uma área mais iluminada.
Me sentei no chão
comecei a desenha-lo. Me olhava com
curiosidade.
Lhe mostrei o
desenho, no mesmo ele não estava sentado, sim andando como eu imaginava.
Riu muito, fez o
gesto de chocar os cinco como se dizia, eu não entendi. Pedi desculpas.
Nessa noite
apareceu aonde eu morava, vinha sozinho, sem nenhum dos detalhes loucos que ele
usava, como por exemplo, cordões de ouro, mil pulseiras, roupas estapafúrdias.
Estava vestido
normal, com uma calças jeans, camiseta, tinha um corpo fantástico.
Tirou toda a
roupa me pediu para desenhar sem nada. Acabamos na cama, rindo, graças a deus minhas
roupas largas não deixavam meus homens verem que estava de pau duro, por tua
culpa. Nos despedimos, ele foi embora
levando seu desenho.
Eu ria muito,
nunca tinha me imaginado fazendo essas coisas.
Depois fui ficar
um tempo em Venice Beach, desenhava o pessoal de lá, os surfistas, enfim um
mundo à parte.
San Francisco,
foi uma experiencia divertida, muita gente na inauguração, via as escultura
marcadas mais de uma vez, disse ao dono da galeria que eu não fazia cópias.
Ele riu disse que
ali era assim, todos diziam que queriam a peça, mas no marco com uma, se
sinalizarem o valor. Caso contrário no final do dia, tiro tudo. Mas se venderam 80 por cento, queriam comprar
algumas peças da grande, ele disse que não, compunham uma ideia, quem comprou
foi o museu de San Francisco, iam colocar no hall de entrada.
Ele ficou de ir inauguração,
tinha se divertido pela primeira vez na entrevista, porque muitos sabiam de sua
vida, coisas que ele nem tinha imaginado.
Quando começaram a perguntar coisas de sua vida, se levantou, eu avisei,
se querem conversar sobre obras bem, caso contrário nada.
Uns quantos foram
embora, o resto virou além de uma entrevista, uma larga conversa, de uma hora
prevista durou 3, tinha um então, que conhecia todas as fases, tinha ido a
Paris, NYC, falava com propriedade.
Houve uma
derrapagem, falou na imensa feita de lego sobre Matheus. Não fez uma pergunta, eu quando a vi em Tel
Aviv, fiquei imaginando, com quanto amor a tinha feito, confesso, fiquei com
inveja. A mim as pessoas veem como se
eu sou fútil, pois escrevo sobre arte, quando falam o que não gostam, logo me
chamam de viado fútil. Vejo as vezes,
até entendo a necessidade do dinheiro, esculturas feitas apenas para
decorar. Mas as tuas não retratam as
pessoas as formas de vida, quando vi essa imensa, que compões a população de
San Francisco me emociono, me pergunto quantas pessoas se dão conta disso que
somos uma mistura de raça.
Ele agradeceu, o
comentário, pela primeira vez falou da escultura do Matheus. Sem querer contou
da outra, ele ficou horrorizado que eu o retratasse num, como o via, tive que
mudar, lhe dava medo, só muito depois entendi por quê.
Talvez desde o princípio
na minha infância, meu avô me tirou as barreiras, a maioria das pessoas sabem
da história da minha primeira escultura com lego, que dizem que quase coloquei
fogo na casa, ele ao contrário amou, me incentivou. Por isso não tenho barreiras.
O mesmo lhe
perguntou como seria a de Los Angeles.
Segredo disse.
Nos vemos lá, não
quero perder.
Foi embora,
começou a trabalhar, trabalhou a do traficante, imaginando como seus homens o
via, não como o carinhoso que tinha sido na cama com ele. Evidentemente mudou sua cara, não queria se
envolver em problemas, seja qual fosse.
Fez várias
series, gostava mesmo de uma em que havia prostitutas, foi um trabalho
complicado, fez duas esculturas de duas jovens prostitutas, quase garotas, se
lembrou bailarina de Degas, fez como se fossem as mesmas, comprou roupas de
segunda mão no estilo, as vestiu, teve que recosturar alguma coisa. Quando vieram para fazer as fotos para o
catalogo, o dono da galeria ria, eu vi a de San Francisco, fiquei pensando o
que farias para Los Angeles, não me decepcionei.
A recepção era
diferente, um cliente da galeria, comprou uma de surfista, que era uma
sequência. Iria colocar no hall do edifício de sua empresa.
Recebeu alguns
convites para sair, inclusive do jornalista, mas alegou estar cansado, quando
este perguntou que ia fazer agora. Ele
disse que voltava para NYC, fecharia o studio por um tempo, iria para Paris
enfrentar a realidade, de trabalhar outra vez no lugar aonde tinha sido feliz.
Queria ir
trabalhando agora de uma maneira mais tranquila, podiam pensar que ele
precisava de dinheiro, o que não era verdade. Havia momentos, que pensava que jamais
voltaria a NYC, isso tinha pensado quando vivia com Matheus, tal coisa não
aconteceu, voltou. Seu avô lhe dizia
sempre, nunca digas não.
Tinha lhe
contado, que quando ele partiu para a América, queria que seu irmão fosse com
ele, sabia da ameaça de Hitler. Mas
estava apaixonado, nunca poderia imaginar que seria seu fim.
Sua tia lhe
agendou uma serie de exposições, se sentou com ela, disse que só faria uma por
ano, queria tempo para trabalhar mais tranquilo, sem pressa, pesquisar novos
materiais.
Quando falou
isso, ela lhe mostrou um catalogo, de um escultor japonês, com uma técnica
milenar. Lhe chamou perguntando se
podia lhe ensinar.
Foi imaginando
encontrar um velho, mas encontrou um homem de sua idade, riram muito disse,
este comentou que tinha aprendido de seu avô, fui o único da família a me interessar. Só que o avô fazia peças para casa, ele tinha
partido para um trabalho maior, tinha um problema de espaço.
Me ensinas, se
quiseres vir para fazer trabalhos grandes, falou do forno que Matheus tinha
deixado para ele. O outro se
entusiasmou.
Quando lhe
perguntou se tinha que levar esposas, ou filhos, disse que não, sou gay.
Aprendeu a
trabalhar em peças pequenas primeiro, fez uma série de coisas, mais europeia,
tipo ânforas como se usavam antigamente para transportas ou guardar cereais.
Foram para Paris,
despachou o que tinha feito, deu a parte do estúdio que ocupava Matheus, um dia
surgiu uma relação com Tadao Ado, foram vivendo, o trabalho dos dois, apesar da
técnica, era completamente diferente, um tinha uma visão oriental, o outro
ocidental.
Sua tia quando
viu o trabalho dos dois, fez uma proposta, se vocês trocam de enfoque, o Tadao
faz a visão dele do Ocidente, tu do Oriente.
Como os estúdios
estavam bem separados, um não via o trabalho do outro, ele se documentou sobre
os samurais, seus cavalos, seus trajes de batalha, assistiu vário filme sobre
isso, muito Kurosawa.
Quando acabaram,
um foi olhar o do outro. Tadao disse que
ele tinha saído melhor parado da história. Mas de qualquer maneira sem se
falarem tinham tido ideias parecidas.
Taparam a parte
com o nome do autor, para a inauguração, todos acreditavam que a parte japonesa
era do Tadao, principalmente como ele tinha feito os olhos.
Quando
descobriram a ideia, as pessoas aplaudiam os dois.
Apesar de que o
relacionamento deles funcionava, Tadao queria voltar para o Japão, não gostava
de viver em Paris.
O deixou ir, não
ia prendê-lo não ia fazer uma chantagem para que ele ficasse. Se davam bem, mas claro nem chegava aos pés
do Matheus.
Ele conheceu numa
exposição de sua tia, uma artista africano, riram muito, a muitos anos atrás
ele tinha conhecido o Matheus.
Quando
conversaram, disse, nunca pude esquecer o que tivemos, mas eu tinha que voltar
para a Africa. As vezes não entendia
sua postura, escutei falar algumas coisas a respeito dele, na época para um
cara que veio do interior, era muito, hoje entendo, pensar em ter relacionamento
com um homem que tinha se prostituido, não encaixava comigo, mas quando me dei
conta que isso não importava, ele já estava contigo.
Aprendeu a
técnica dele, fez uma série a pedido de um museu, em cima da obra de Picasso,
Les Mademoiselle D’Avignon. Para colocarem no hall do mesmo.
Acabou fazendo
uma séria para a exposição de Berlin, misturando todas, as vezes levava mais
tempo, mas não se importou, teve que atrasar várias vezes, a exposição, porque
a mistura de técnicas, nem sempre saia como queria.
Um dia estava no
Bristô que sempre ia com Matheus, quando um homem veio falar com ele, tinha
conhecido o mesmo antes de ele vir para Paris.
Ele já se prostituia em Tel Aviv, para conseguir dinheiro. Me apaixonei por ele, mas claro não entendia
que ele queria ir pela vida sem amaras.
Mas vejo que contigo foi diferente.
Olhando o
sujeito, disse que viesse ao studio, o levou aonde o Matheus trabalhava, creio
que ele sim te amou, abriu uma cortina, estava uma estante que ele usava,
mostrou um busto que estava ali. Era o
próprio mais jovem.
Nessa noite
saíram para jantar. Xarif Farur era um
sabra, judeu com árabe. Estava
trabalhando na Sorbonne, um dia os dois resolveram experimentar fazer sexo,
para que, nunca mais se separaram. Sua
mãe gostava imenso do Xarif, conversavam horrores.
Ela dizia nos
jantares semanais na casa da tia, que finalmente tinha seu pouso.
Agora iria viver
com elas, uma das sobrinhas delas, que tinha estudado arte, mas gostava mesmo
de antiguidades, iria ajudar a sua mãe na loja.
Anos depois
quando esta morreu, apesar de ter deixado para ele a loja, deu para ela, não
precisava disso.
Agora com a idade
seu trabalho era mais lento, foi uma vez com Xarif a NYC, para fechar tudo lá,
vender o que lhe estava, pois já não queria sair de Paris. Dois anos depois recebeu uma comenda do
Governo Francês.
Estava
trabalhando numa série dedicada a Franças, misturava seus heróis, Joana D’Arc, as
mulheres da revolução, tinha visto um desenho num livro sobre a revolta, com a
caída de Marie Antoniette, fez uma coisa divertida.
Um grupo de
mulheres, desenhou as roupas, a fez de verdade com roupas de segunda mão, no
meio delas ia Marie Antoniette, como se a própria estivesse levando a revolta.
Alguns críticos
não gostaram mas de qualquer maneira foi considerada uma obra feminista.
Levou mais de
dois anos para terminar tudo.
Xarif ria dizendo
que ele estava ficando velho, mas suas obras agora requeriam mais detalhes para
simbolizar tudo o que ele pensava.
Depois dessa
exposição, tinha começado a desenhar para executar os mitos gregos.
Mas morreu antes,
sentado em sua mesa desenhando. Xarif
tinha ido dormir, ele disse que seguia com seu desenho, mais um pouco.
Quando despertou
de manhã, viu que ele sequer tinha ido dormir, estava debruçado em cima de sua
mesa. O que lhe impressionou, que
estava desenhando o Matheus, tinha contado a dias, que tinha sonhado com ele,
me desculpe Xarif se te ofendo, mas ninguém me entendeu tanto como ele. Sigo o amando até hoje.
Pediu que suas
cinzas ficassem juntas, até descobrirem aonde tinha enterrado a do Matheus
levou tempo.
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