lunes, 5 de diciembre de 2022

WHENEVER

 

                                     

 

Meu nome é John Lion Steiner, descendo de um lado de empresários do dinheiro, de outro lado de joalheiros judeus famosos.   Sou filho do segundo matrimônio de meu pai.  Minha mãe, era daquelas judias que tudo pelo glamour, não era bonita, mas sabia se vestir, se comportar nos melhores salões de NYC, tinha sido apaixonada por um rapaz que não era judeu, na universidade, tinha sido daquelas que iam para arrumar um bom casamento, mas resultou que o homem que queria era pobre.

Terminou a universidade, foi trabalhar numa das joalherias da família, um dia meu pai entrou para comprar um anel para uma amante.  Ela o atendeu, quando o viu escolhendo, uma coisa de mal gosto, lhe perguntou na cara, é para sua amante?

Ele ficou sem graça, ela o convenceu de comprar um anel, que impressionava, mas que não valia muito.  Se o senhor pretende um dia se casar com ela, lhe dê um diamante, mas se não compre esse, lhe custara menos, mas vai impressiona-la.

Impressionado ficou ele, com a desenvoltura dela.  Não comprou o anel, mas a convidou para jantar.   Ela lhe soltou na cara, estou solteira, mas não quero um amante, quero uma família.

Menos de um ano depois se casaram.   Meu avô que era conhecido por ser ranzinza, não gostou do meu pai, porque nunca ia a sinagoga, a fez casar-se com separações de bens.

Ela realizava seu sonho, um grande apartamento no Central Park, festas em que pudesse brilhar, amigas finas, mas como dizia o meu avô, falsas, isso ela veria mais tarde.

Se casaram num casamentos destes Judeus, por todo o alto, afinal ela era a filha preferida dele.

Quando nasci, segundo me contava ele, Abraham Steiner, me tornei seu neto preferido no mesmo instantes.   Diziam que quando pegavam um dos netos no colo, desatavam um berreiro, eu fui ao contrário, ficou imaginando que foi assim, vi aquele homem com os cabelos brancos imensos, uma barba branca, dizem que comecei a alisar a mesma, que passava as mãos pela cara dele.    Foi ele que escolheu meu nome, era o de seu irmão pequeno que morreu nos campos de concentração, com seus pais.

Ele levantou sua fortuna, de joalheiro, com um casamento desses combinados, mas que deu certo, estava sempre lamentando a morte de minha avó, segundo ele a única pessoa que o tinha entendido.

Meu irmão mais velho Remus, era filho de meu pai, com uma escocesa que tinha um mal humor incrível, passou isso para o filho.  Nunca chegou perto de mim, nos finais de semana que vinha passar com o pai.  Quando saiu da universidade foi trabalhar na empresa dele, de investimentos.

Eu ao contrário era a alegria da horta, segundo a governanta da casa, era um perigo, não gostava da maioria dos presentes que me davam quando era pequeno, os destruía e construía de outra maneira.   Um das minha primeiras loucuras, foi pegar um jogo da Lego, em que tudo é reto, me sentar na cozinha, acender o fogo, com uma faca, uma luva destas de cozinha, começar a colocar forma no que tinha construído.  Segundo a cozinheira que ria muito, eu quase coloquei fogo na cozinha.   Meu avô se deliciou, queria ver o que eu tinha feito.

Riu dizendo é o Lion reencarnado não é possível, seu irmão pequeno tinha feito belas artes em Paris, era escultor.

Depois, para não colocar fogo me deram um desses jogos de edifícios, fiz a mesma coisa, colei todas as peças, com a faca de pão, comecei a colocar da maneira que queria.  Ele tinha até morrer essa escultura, tinha feito um urso com ela.

Minha mãe ficava uma fúria, porque eu fazia isso, quando saíram os jogos desses modernos, eu destruí a consola, para ver o que tinha dentro, comecei a colar as peças para fazer um robot.

Duas vezes por semana, ficava a parte da tarde com meu avô, minha mãe ia jogar bridge com as amigas ricas.  Ele me levava para o talher central das joalherias, ficava esperando o que eu ia fazer, adorava ver os homens fazerem moldes das peças que ia executar, havia uma caixa grande que existiam moldes antigos, essa era minha diversão, falava com eles, dizendo um dia te usarei para construir algo.  Selecionava as que mais gostava.  Ele ficava as gargalhadas, dizendo o menino tem bom gosto, era moldes de peças que tinha feito sucesso, a maioria feita por ele.    Os empregados, diziam que era o único dia que meu avô ria.   Para mim, era um absurdo pensarem isso, se comigo estava sempre rindo, falando.

Foi a pessoa em que confiei todos meus sonhos.  Mesmo depois de garoto, já adolescente, meus dois dias com ele, eram imperdíveis, queriam que eu fosse a casa das pessoas ricas, eu odiava.

Soltava logo, hoje não posso é o dia do meu avô.  Ele já não trabalhava, mas íamos a sinagoga, ele me ensinava as coisas, depois íamos pelos museus.  Galerias de arte, me comprou a primeira escultura africana, pois me apaixonei por ela, a tenho até hoje.

Meu pai queria que eu fosse a universidade para fazer administração de empresas como meu irmão, mas me neguei, o velho foi o único que ficou do meu lado.

Queria ir estudar arte, fazia aulas de pinturas, escultura, a primeira que realizei, ele amou, fui até ao talher da joalheria, peguei uma serie de moldes, com ele compus uma imagem, que fui decorando com pedras falsa.   Ele mandou expor na vitrina da joalheria mais famosa.

Foi vendida em dois dias, o vendedor explicou que as pedras eram falsa, mas o comprador amou, quando perguntou o preço o vendedor ligou para meu avô.  Ele soltou um preço absurdo, o homem comprou.   Com esse dinheiro, passei a ter minha conta no banco.

Depois quando íamos a sinagoga, saia para tomar um café com os amigos, contava isso, como fosse a coisa mais importante do mundo.

Quando resolveu em vida, dividir sua herança entre os filhos, o fez particularmente interessante, sentou-se com todos, falou com eles.   Só um queria sua parte em dinheiro ou diamantes, iria viver em Tel Aviv.   Os outros cada um queria a joalheria que já tomava conta, para minha mãe, tocou diamantes, que ao final a salvaram para o resto da vida.

Nunca disse a ninguém, mas me entregou um envelope, fomos ao Banco, ele pediu uma caixa forte, colocou o envelope, bem como umas pequenas bolsas, não me deixou abrir.

Foi passar uma temporada com sua filha pequena, que tinha se casado com o dono de uma galeria de arte, em Paris.  

Eu as vezes chegava em casa, a escutava falando com minha mãe, que o velho era insuportável, que passava o dia inteiro reclamando de seu marido.

Um dia chamou soltou sem mais nem menos, sabe o que fez agora, disse que se aborrece, comprou um local de um antiquário em Saint Queen, imagina nessa idade, voltar a trabalhar, o mais interessante, que os mandou todos a merda, porque foram lá falar com ele, comprou um apartamento pequeno, ali perto, que não estava para viver na Avenue Montaigne, preferia simplicidade no fim de sua vida.

Os filhos voltaram com o rabo entre as pernas.  Eu saberia tempos depois que tinha comprado o apartamento em meu nome.

Estava preparando minha primeira exposição, que participava com outros alunos da escola, quando estourou a bomba.

Meu irmão que tinha assumido o escritório de meu pai, foi preso pelo FBI, estava lavando dinheiro de mafiosos.  Foi pior que colocar merda no ventilador.

Meu pai tinha se afastado dos negócios para lhe deixar se fazer homem como ele dizia, com minha mãe tinham aproveitado esse tempo, para fazerem cruzeiros com os amigos ricos.

Quando a bomba estourou ele estavam num dos melhores resorts de luxo do Mexico.

O escritório foi fechado, os clientes de meu pai desapareceram do mapa, eles voltaram correndo, mas já era tarde, tinha perdido a licença para operar na Bolsa de Valores.

Acabou tendo um enfarte, ficou em cadeira de rodas, eu já não vivia em casa, mas sim num pequeno apartamento no Harlen, num último andar de um edifício antigo, que era ao mesmo tempo meu studio.

Minha mãe, primeiro ficou como uma barata tonta, até que falou com meu avô, que lhe deu uma bronca incrível, tomou o primeiro avião, colocou ordem no pedaço.

Afinal ela tinha fortuna própria, mas a aconselhou a se mudar para um apartamento menor, aonde poderia manejar melhor as coisas.   Meu pai nunca se recuperou, morreu no final do mesmo ano.   Meu irmão estava preso, sua mulher, seu filho, foram morar com os pais dela, acabou se divorciando dele.

Meu avô aproveitou viu os meus trabalhos na exposição, me convidou para ir a sinagoga rezar pelo meu pai.    Pensei que ia falar mal dele, do filho, afinal ele tinha dinheiro investido com eles, que perdeu.   Mas não disse um pio.

Nos sentamos no café que íamos sempre, desta vez os amigos não se aproximaram.

Vê, quando alguma coisa acontece, principalmente se tem dinheiro pelo meio, passa isso, os que parecem teus amigos, somem como ratazanas de esgoto.

Mas não é isso que quero falar contigo, analisou as peças que tinha feito. Acho que devias vir comigo para Paris, entrar para a escola de Beaux Arts, tua tia conhece muita gente de lá, tem um cliente, escultor, vi os trabalhos dele, pode te orientar melhor.  Creio que estas meio perdido nessa confusão toda.  Não se preocupe com tua mãe, pois ela tem uma pequena fortuna pessoal.

Eu me preocupava pela minha mãe, pois nesse momento estava sozinha.  As fabulosas amigas do bridge, das viagens de primeira classe, tinha desaparecido todas, como meu avô dizia, como ratazanas.

Ela, para se distrair, voltou a trabalhar com seu irmão mais velho, justo na joalheria que tinha conhecido meu pai.   Era uma mulher que odiava ficar dentro de casa, contratou duas enfermeiras, elas cuidavam de meu pai.  Foi sincera comigo, não suporto ver o homem que amei, desaparecendo em vida, prefiro isso, pois sou capaz de mata-lo.

Quando meu avô falou com ela, concordou imediatamente.  

Meu pai nunca tinha sido uma pessoa próxima de mim, ao contrário, se fosse por ele, minha mãe teria abortado, dizia que estava velho demais para ter um filho pequeno.  Ele adorava seu filho mais velho.  Que acabou sendo uma decepção para ele.

Mas eu ia visita-lo todos os dias depois da escola de artes.  Ficava olhando na minha cara, enquanto eu mostrava os desenhos dos próximos projetos.   Acredito que eu devia ser uma decepção, pois era um homem que não gostava de arte.

Concordei, passei o Natal, com eles, fechei o meu studio, guardei as poucas coisas que tinha num dos quartos do apartamento de minha mãe, fui para Paris.

Quando, cheguei meu avô estava me esperando no aeroporto.  No alto dos seus quase noventa e cinco anos, se movia como um garoto.   Primeiro fez uma coisa comigo, fizemos todos os passeios turísticos, para que aprendesse amar Paris, depois fizemos passeios pelos lugares que os turistas não iam.   Minha tia ofereceu uma reunião em sua casa, cheia de artistas, discutindo teorias, técnicas, ele disse ao meu ouvido, essa é a gloria dos cinco minutos, fazem sucesso, acham que sabem tudo, te proíbo de falar essas besteiras.  Eu olhava para ele, pronto para obedecer, depois comentei em casa, quanta besteira, se arte para mim, são dez por cento de criação, depois 90 de suor para construir, colocar para fora.

Minha tia me apresentou o escultor que meu avô falava.  Era totalmente fora dos homens que eu tinha visto na sua casa.

Era um homem tosco, se o fosse definir.  Tinha dois metros de altura, ao mesmo tempo eu de brincadeira com ele dizia que seu espaço era imenso.  Ela quando me apresentou, primeiro reclamou com ele porque não tinha ido a sua reunião.

Olhou sério para ela, soltou, eu não tenho tempo para esses veadinhos de presépio. Tenho horror a isso, prefiro ficar tomando vinho num bistrô, lendo um livro, ou mesmo rabiscando ideias.

Se chamava Matheus Harlent, era judeu como nós.   Fui a suas aulas na École de Beaux Arts, um dia me soltou na cara, estas perdendo tempo aqui, esses que nada fazem, que discutem teorias, ou o que esculpir, te fazem perder tempo.

Me levou para seu studio, que era justamente para os lados aonde vivia meu avô.

Era uma antiga loja, bem como no andar de cima, vivia ele.

Embaixo tinha tirado todas as paredes, só deixando as colunas, tinha um forno quase industrial, mesas de trabalho, me olhou nos olhos, dizendo, aqui aprenderas trabalhando comigo. Me disse qual mesa poderia usar.

Perguntou se eu tinha feito escultura a partir do barro.  Aonde estudei achavam isso um atraso, queria que as esculturas fossem modernas, como a própria América.

Me ensinou como modelar, posso dizer que voltei a infância, um dia meu avô contou para ele o que eu fazia em criança.   No dia seguinte, apareceu com uma série de caixas de lego que tinha comprado num mercado, a maioria eram de segunda mão.    Feche os olhos, volte a sua infância, tente imaginar o que fazias.   Fazia tempo que não me divertia tanto, só que agora tinha um maçarico para trabalhar.  Quando acabei, ficou olhando de todos os ângulos, já tinhas madeira para ser escultor em criança.   Me levou comigo, a uma loja de tudo de segunda mão, compramos tudo que o homem tinha de lego, foi assim numa quantas lojas.

Agora, quero que faças uma em tamanho grande. 

Olhei bem para a cara dele, para seu tamanho todo, não podia confessar que estava apaixonado por ele, me levava pelo menos 10 ou 15 anos, não soube durante muito tempo sua idade.

Fechei com panos que encontrei, o local aonde trabalhava, não queria que ele visse.

Quando acabei, mostrei, era seu busto, ocupava dois metros de largo, como dois de altura, era uma escultura imensa.  

Ficou rindo, me deu um soco sem força no peito, me chamou de puxa-saco. Tirou uma foto no celular mandou para minha tia.

Olhou nos meus olhos, perguntou se eu tinha feito esboços?

Não, eu o tenho aqui dentro da minha cabeça, me aproximei dele o beijei.  Ele ficou quieto a princípio.

Não esta bem esse comportamento com teu professor, sou mais velho que você.

Não posso fazer nada, estou apaixonado por ti.

Me segurou pelos ombros, me disse que eu devia me apaixonar por alguém da minha idade.

Nem pensar, são uns chatos, falam demais, tu como eu, gosta de trabalhar em silencio, quando me corriges, o fazes com sentido.

Foi ele então quem me beijou, me levou com ele para seu apartamento em cima, foi como eu imaginei, era como nadar naquele corpo imenso, não queria me afastar dele.

Fomos despertados pela minha tia, que disse que ia buscar meu avô, para ver minha escultura.

Tomamos um banho os dois, juntos, eu reclamei, que dava muito trabalho limpa-lo todo, pois era grande demais.

Quando chegaram só meu avô notou que estávamos os dois com os cabelos molhados, os dois o levávamos compridos.

Minha tia batia palmas, vou mandar um caminhão buscar, para colocar na galeria.

Meu avô parou os pés dela.   Se vais fazer, faça direito, monte uma exposição para daqui algum tempo, o lance no mercado, colocar só essa lá, vai vender, mas também não fará nenhum benefício.

Matheus rindo disse que ia contratar meu avô como agente, pois ele sim sabia defender seus artistas.

Matheus me ensinou a usar um outro tipo de material, vamos usar o barro como base, fazer moldes, depois podes usar esses moldes para esse material mais leve.

Nesse dia meu avô, me abraçou muito quando fomos todos jantar por ali, num bistrô que ia sempre como Matheus, as pessoas que andavam por ali, riam sempre dos dois, pois estávamos sempre discutindo materiais para trabalhar, sem prestar atenção nos outros.

Nessa noite, minha tia, fez uma exceção, depois concordou que o lugar era perfeito para estar.

Meu avô quando se levantou, pediu que eu o levasse até em casa, era logo ali ao lado.

Me disse, não solte esse homem que conseguiste, sei que o amas, pela maneira como o olhas, meu irmão Lion era assim, não o deixe escapar.

Voltei rindo, depois Matheus queria saber por que eu estava rindo, contei o que tinha me falado meu avô, basicamente passamos a viver de uma maneira interessante, íamos todos os dias fazer um lanche com ele, o colocava na cama, ia dormir no nosso apartamento.

Comecei a desenvolver as ideias, ainda fiz umas quantas esculturas com o resto de lego que tinha ali.   Um dia andando por ali, numa loja de ferragens, tinha uma caixa do lado de fora, cheia de parafusos, resto de peças de metal, perguntei ao dono quanto custava tudo aquilo, ele me conhecia, soltou, leve tudo, depois me faça uma pequena escultura para colocar aqui.

Matheus ria da minha ideia, fiz figuras, bustos com barro, mas coloquei todas as peças que tinha na caixa, nelas, depois coloquei no forno, algumas peças se derreteram pela metade, outras inteiras, resolvi policromar as mesmas, deixando esse material de metal aparecendo.

Ficaram completamente diferente.

Tinha já peças para a exposição, mas queria fazer uma grande da mesma maneira, convidei o homem da loja de ferragens, para escolher uma pequena para ele.  Ficou babando, nos arrastou com ele, até a loja, nos fundo, tinham muitas peças de metal enferrujado.   Arrumei um jovem para me ajudar a levar tudo para o studio, separamos tudo já feito, comecei a trabalhar uma grande, era uma escultura do Matheus, nu, como eu o via, ficou horrorizado, as pessoas vão me ver nu, não se preocupe, mudo sua cara.

Justamente nesse dia, soube que meu pai tinha morrido, mudei uma parte da escultura, o fiz de memória, me lembrando como me olhava, quando lhe mostrava meus desenhos, como se não entendesse nada.   Seu enterro ia demorar uma semana, até conseguirem um autorização para meu irmão mais velho sair da prisão para ir.

Eu fiz um busto pequeno dele, para colocar no tumulo. Matheus foi comigo, meu avô queria ir, mas o médico o desaconselhou.

Fomos os dois, com uma caixa pesada no porão do avião, para as pessoas em volta devia se interessante, aquele rapaz, alto, magro, cheio de músculos, dormindo no ombro, daquele homem imenso, mal sabiam que era meu remanso de paz.

Minha mãe tinha ido ao aeroporto, nos buscar.

Conseguiu a muito custo, que meu irmão fosse liberado.   A cerimônia foi simples na sinagoga, só alguns amigos antigos de meu pai, a família de minha mãe, seu filho, bem como o filho deste.

Minha mãe, tinha ido buscar o garoto.

Eu rezei o Kadish, pois meu irmão não sabia, estava emocionado, mas sentia não ter conhecido meu pai, como conhecia o meu avô.  Ele nunca tinha entendido, como podia ter saído um artista na família, se ele odiava a arte.   Os quadros que tinha no apartamento, tinham sido comprados pela minha mãe.

Meu irmão foi outro choque, estava um velho, ombros encurvados, o filho ficou segurando a mão da minha mãe, tinha medo do pai.  Depois minha mãe me contou que sua mãe falava muito mal para ele do pai.

Pela primeira vez o abracei, pois me deu pena.  Disse que tinha inveja, poder viver em Paris, ainda lhe faltavam dois anos de prisão.   Lhe disse que fosse se preparando para quando saísse.

Mas na verdade nunca saiu de lá, o mandaram matar, por ter falado o nome de todos para quem tinha trabalhado.

O resto do tempo, passamos com minha mãe, visitando os museus que Matheus não conhecia.

Em algumas galerias, peguei o cartão, para depois mandar o catálogo da exposição.

Levamos minha mãe, conosco, para passar um tempo com sua irmã.  A desculpa era justamente essa que viesse para a exposição.   Minha tia fez uma festa em sua casa, para receber sua irmã.

Ela adorou claro ser o centro de atenção outra vez.  Outra coisa que adorou foi a loja de seu pai, entendia disso de antiguidades.

A exposição foi um sucesso, ela amou a escultura de meu pai, não podia dizer que só certos detalhes eram dele, o resto era o Matheus.

Ele estava orgulhoso de mim.  Em dois dias se vendeu tudo, o busto dele feito de lego, foi para um museu.   Ele dizia que não tinha obra nenhuma num museu, vinha esse pirralho, na primeira já tinha uma.  Na verdade, não era certo, tinha duas obras suas num museu em Israel.

Ampliamos com a loja que dava fundos com a nossa, dizia que eu deveria ter um espaço só meu.

Meu avô me deu um diamante, embora eu tivesse dinheiro.  Queria que fosse meu.

Os jornais quiseram me entrevistar, pensei bem, olhei para o Matheus, isso eu não gostava de fazer.   Minha tia, me encheu o saco, só concordei em fazer uma coletiva, bem como uma num canal de televisão sobre arte.

A coletiva, foi interessante, pois eu avisei ao princípio, que perguntas idiotas não responderia.

Falei tudo sobre meu trabalho, agradecendo ao Matheus em especial, me ter incentivado a ser eu mesmo no meu trabalho.  Quando falaram da escultura da lego, que era seu busto, cortei o mal pela raiz, contei primeiro o que eu fazia de criança, o desafio que ele me fez.

Um perguntou por que eu adulterava as peças de lego? 

Respondi da maneira muito simples, odiava coisas retas, contei que fazia o mesmo com os brinquedos desses de montar casas, que eram de madeira, colava tudo, depois dava forma com uma faca de pão.  Todos riram.  Mostrei uma foto que tinha da escultura na loja do meu avô.

Para nossa surpresa, minha mãe acabou ficando, morava com sua irmã, no luxo, depois comprou um carro velho, ia todo os dias para a loja do meu avô, com a desculpa que ele vendia barato tudo.  Acabou ficando morando lá, nada a prendia realmente em NYC.

Um tempo antes de morrer, meu avô me chamou para uma conversa séria, estava ali seu advogado.  Levei um susto, me acalmou, queria saber se eu estava disposto a fazer seu último desejo.

Me pediu, que levasse suas cinzas para Israel, que a levasse ao monte Sinai, que as deixasse lá, mas fora da urna.

Meses depois morreu, deixou para minha mãe a loja, para mim seu apartamento.  Me aconselhou que olhasse o que tinha no banco em NYC, nem me lembrava mais do mesmo.

Fui com Matheus, minha mãe, minha tia fazer sua última vontade.

Foi uma viagem interessante.  Matheus nunca tinha falado de sua vida anterior em Israel, eu tampouco perguntava, se ele queria falar bem, senão, me dava igual.

Quando as duas voltaram para Paris, fomos os dois passar um final de semana no mar Morto, ele contou, sua família era ultra ortodoxa, tinham infernizado sua vida desde infância, um dos motivos pelos quais ele não gostava de ir a sinagoga.  Ficou admirado eu saber rezar o Kadish no enterro do meu pai.

Me disse que o tinham obrigado a se casar, mas ele escapou antes, me contou que quando chegou a Paris, tinha se prostituido uns meses, de um ponto de vista, como vingança do que tinham feito com ele, na sua infância e juventude.  Até conseguir fazer o que queria, tinha tido muitos trabalhos.

Fomos olhar de longe sua família, ninguém o reconheceu.  Não vale a pena esfregar na cara deles, que hoje sou alguém, quando eles continuam iguais.  Seria uma vingança dolorosa.

Passei a ama-lo mais, mas percebi que isso o tinha feito mal por dentro, pois passou a fazer um trabalho escuro, começou a ir a um psicólogo, antes me explicou por que o fazia, não queria me encher com seus problemas.  Tudo o que ele tinha feito para escapar, voltava como uma bofetada em sua cara.    Me disse vê, eu te disse, uma vingança seria uma coisa amarga.

O via nervoso, tinha dificuldade para trabalhar, fomos ao médico, estava supre estressado.

Pedi desculpas, por ele ter ido comigo a Israel.   Ele disse que eu não tinha culpa nenhuma, eu era a alegria de sua vida, que nunca tinha pensado em amar alguém como me amava.

Um dia saiu, teve um ataque de pânico na rua, se esbarrou com alguns ultra ortodoxos, isso o deixou desencaixado.   Eu na verdade, não sabia o que tinha passado na sua infância, nem juventude.    Do ataque de pânico, generou, uma catarse profunda nele.  Acordava de madrugada aos gritos, me contou que com a idade de cinco anos, seu pai o trancava com pão e água salgada, para purgar os seus pecados.  Lhe pegava pelas coisas que tinha acontecido com a família na Rússia, quando ele próprio era o culpado.   Era um homem muito retorcido.  Três dias da semana não se comia em casa, ele ia pelas lixeiras dos restaurantes, procurando o que comer, por isso sempre tinha fome.

Um dia não desceu ao studio, disse que queria ficar mais um tempo na cama, me distrai fazendo alguma coisa, quando subi, estava desmaiado, tinha tomado toda sua medicação de uma vez só, chamei a ambulância, mas era tarde.

Demorei a me controlar, perdia assim as duas pessoas que mais tinha amado na vida, meu avô, Matheus.  O advogado era o mesmo do meu avô, ele pedia que suas cinzas fosse enterradas dentro do próprio studio, pois era o único lugar que era feliz.  Me deixava tudo, eres melhor do que eu fui jamais, não deixe de seguir trabalhando.

Foi uma porrada em plena cara, ao qual eu não estava preparado.   Minha tia, organizou uma exposição, vendeu suas últimas obras negras, duas foram para museus, um na Bélgica outro na Alemanha.  

Eu graças a deus, recebi um convite para expor em NYC, fui com a desculpa de dar uma olhada na galeria.   Precisava me afastar dali um tempo.

As duas foram comigo, minha mãe porque se preocupava por mim, minha tia, porque era minha agente, assim também aproveitavam para ver a família.

Ficamos no apartamento de minha mãe que estava fechado todos esses anos, ela disse que ia colocar o mesmo a venda, pois seguiria com a loja do meu avô, não tenho nada mais nessa cidade.   Resultou que a galeria era boa.

Fui olhar os documentos do banco, eram dois apartamentos na cidade, que estavam em meu nome, os impostos tudo isso, iam para essa conta, quando vi a quantidade de diamantes fiquei de boca aberta.

Um dos apartamento era no Brooklyn, não era grande, perfeito para mim, estava vazio, comprei só o necessário, com dois diamantes, aluguei um local que era uma antiga oficina.

Me joguei no trabalho.  Teria que preparar pelo menos 15 peças entre grandes, pequenas.

Inicialmente não sabia o que fazer.  Um dia me peguei pensando no que me tinha falado de sua infância, comecei a desenhar, imaginando como era estar fechado num lugar escuro, com agua salgada, um pedaço de pão, foi a primeira escultura, um dia vi um garoto pedindo dinheiro na rua, fui falar com ele, me disse que pedia dinheiro porque seus pais estavam na droga, tinha que alimentar seus irmãos.  Fui com ele a sua casa, quase bato no seu pai.

Levei ele, bem como o dois irmãos, para o meu apartamento, falei com o juizado de maiores,

Os levei ao médico, cuidei deles, descobri que tinham parentes no Texas, pedi ao advogado que descobrisse tudo.  Eles receberam os garotos.

A cara deles ficou na minha cabeça, continuei construindo a história do Matheus, misturada com a deles.  Quando ficaram prontas as peças, usei meu sistema, de misturar resto de metal, que fui buscar num ferro velho, o dono da galeria ficou louco com o que viu.

Minha tia, com minha mãe vieram para ver, o catalogo ficou fantástico, levaria vários para colocar na galeria, bem como na loja.

Se vendeu tudo na inauguração, isso que o dono da mesma acreditava que não funcionária.

Duas para museus, a primeira foi para San Francisco, a outra para um museu novo em Ottawa.

Logo me saíram exposição em San Francisco e Los Angeles.   Respirei fundo, primeiro fiz uma coisa que muita gente consideraria louca.  Primeiro fui ver se os garotos estavam bem, o mais velho, era o tinha mais problemas, os pequenos não porque não eram conscientes.  Tinham se adaptado melhor.   Perguntei se ele queria viver comigo, me disse que não podia deixar os pequenos, então falei com seus tios, paguei para que ele fosse a um psicólogo.

Dalí fui para San Francisco.  Nunca tinha vivido a vida gay, achei divertido, comecei a esboçar desenhos, fui a um show de Drag Queen, desenhei a várias, algumas pedi que posassem para mim.  Fui andar pelas ruas, a mistura de gentes me interessava, comprei uma câmera fotográfica, sai fotografando todas as pessoas que via pela frente.

Esbocei um desenho, que num primeiro momento, o dono da galeria, imaginou pelo tamanho, teria que ocupar a maior sala da galeria.  Ria muito, isso vai ser uma loucura.

Voltei para NYC, comecei a trabalhar, saia para comer, as vezes me sentava numa praça perto do studio, para refrescar minha cabeça.

Quando via, estava desenhando uma figura, uma cara, uma postura, eram coisas universais que não importava o lugar.

Compus o que queria, cenas que imaginava, a pessoa tendo em sua casa, etc.

Muitas eram uma mistura de barro, metal, policromadas, ou simplesmente em tom de sépia.

Quando estava na última, tirei foto de tudo mandei para minha tia, esperei seu comentário, só me disse uma coisa, se não tivesse comprometido com essa galeria, ia pagar o transporte de todas para levar para lá.  Sabia por isso, que tinha gostado.  Falei com minha mãe também, me soltou teu avô, quando viu o que tinhas feito com o lego, foi o único que se matou de rir, eu nunca tinha visto meu pai rir daquela maneira.  Me soltou que finalmente alguém na família saia como o irmão que ele amava.

Quando o da galeria veio buscar o material, perguntou se eu queria um hotel, em San Francisco, lhe pedi o mais simples possível, pois primeiro eu iria a Los Angeles, enquanto ele levava, montava a exposição, teriam que fazer fotos, montar o catalogo, coisas assim.

Quando estiveres livres, tens que vir a San Francisco para entrevistas.  Sabia que eu odiava as mesmas, mas era natural, queria divulgar tudo.

Fui para Los Angeles, aluguei um apartamento, pequeno, para ir pela cidade, contratei um jovem para me mostrar toda a cidade, foi interessante que ele fez aquela coisa de turista, lhe disse que nem pensar, queria ir pelo lado negro da cidade.  Apareceu com seu pai, que era inspetor de polícia.   Estava de férias, foi me mostrando tudo, me apresentava pessoas, para quando eu viesse por ali, para desenhar.

Quando me levou aonde rolava mais drogas, me aconselhou tomar cuidado.

Nessa parte, o homem que me acompanhava, amigo dele, me aconselhou fazer fotos.  Um dia estava fotografando um beco, aonde estava vários drogados, apareceu uma gang.

Era seu território, me levaram para falar com seu chefe.  Este tinha uma cara espantosa, lhe perguntei se o podia desenhar, como estava, levei a cadeira para uma área mais iluminada.

Me sentei no chão comecei a desenha-lo.   Me olhava com curiosidade.

Lhe mostrei o desenho, no mesmo ele não estava sentado, sim andando como eu imaginava.

Riu muito, fez o gesto de chocar os cinco como se dizia, eu não entendi.  Pedi desculpas.

Nessa noite apareceu aonde eu morava, vinha sozinho, sem nenhum dos detalhes loucos que ele usava, como por exemplo, cordões de ouro, mil pulseiras, roupas estapafúrdias.

Estava vestido normal, com uma calças jeans, camiseta, tinha um corpo fantástico.

Tirou toda a roupa me pediu para desenhar sem nada.   Acabamos na cama, rindo, graças a deus minhas roupas largas não deixavam meus homens verem que estava de pau duro, por tua culpa.  Nos despedimos, ele foi embora levando seu desenho.

Eu ria muito, nunca tinha me imaginado fazendo essas coisas.

Depois fui ficar um tempo em Venice Beach, desenhava o pessoal de lá, os surfistas, enfim um mundo à parte.

San Francisco, foi uma experiencia divertida, muita gente na inauguração, via as escultura marcadas mais de uma vez, disse ao dono da galeria que eu não fazia cópias.

Ele riu disse que ali era assim, todos diziam que queriam a peça, mas no marco com uma, se sinalizarem o valor. Caso contrário no final do dia, tiro tudo.  Mas se venderam 80 por cento, queriam comprar algumas peças da grande, ele disse que não, compunham uma ideia, quem comprou foi o museu de San Francisco, iam colocar no hall de entrada.

Ele ficou de ir inauguração, tinha se divertido pela primeira vez na entrevista, porque muitos sabiam de sua vida, coisas que ele nem tinha imaginado.  Quando começaram a perguntar coisas de sua vida, se levantou, eu avisei, se querem conversar sobre obras bem, caso contrário nada.

Uns quantos foram embora, o resto virou além de uma entrevista, uma larga conversa, de uma hora prevista durou 3, tinha um então, que conhecia todas as fases, tinha ido a Paris, NYC, falava com propriedade.

Houve uma derrapagem, falou na imensa feita de lego sobre Matheus.  Não fez uma pergunta, eu quando a vi em Tel Aviv, fiquei imaginando, com quanto amor a tinha feito, confesso, fiquei com inveja.   A mim as pessoas veem como se eu sou fútil, pois escrevo sobre arte, quando falam o que não gostam, logo me chamam de viado fútil.   Vejo as vezes, até entendo a necessidade do dinheiro, esculturas feitas apenas para decorar.  Mas as tuas não retratam as pessoas as formas de vida, quando vi essa imensa, que compões a população de San Francisco me emociono, me pergunto quantas pessoas se dão conta disso que somos uma mistura de raça.

Ele agradeceu, o comentário, pela primeira vez falou da escultura do Matheus. Sem querer contou da outra, ele ficou horrorizado que eu o retratasse num, como o via, tive que mudar, lhe dava medo, só muito depois entendi por quê.

Talvez desde o princípio na minha infância, meu avô me tirou as barreiras, a maioria das pessoas sabem da história da minha primeira escultura com lego, que dizem que quase coloquei fogo na casa, ele ao contrário amou, me incentivou.   Por isso não tenho barreiras.

O mesmo lhe perguntou como seria a de Los Angeles.

Segredo disse.

Nos vemos lá, não quero perder.

Foi embora, começou a trabalhar, trabalhou a do traficante, imaginando como seus homens o via, não como o carinhoso que tinha sido na cama com ele.  Evidentemente mudou sua cara, não queria se envolver em problemas, seja qual fosse.

Fez várias series, gostava mesmo de uma em que havia prostitutas, foi um trabalho complicado, fez duas esculturas de duas jovens prostitutas, quase garotas, se lembrou bailarina de Degas, fez como se fossem as mesmas, comprou roupas de segunda mão no estilo, as vestiu, teve que recosturar alguma coisa.  Quando vieram para fazer as fotos para o catalogo, o dono da galeria ria, eu vi a de San Francisco, fiquei pensando o que farias para Los Angeles, não me decepcionei.

A recepção era diferente, um cliente da galeria, comprou uma de surfista, que era uma sequência. Iria colocar no hall do edifício de sua empresa.

Recebeu alguns convites para sair, inclusive do jornalista, mas alegou estar cansado, quando este perguntou que ia fazer agora.  Ele disse que voltava para NYC, fecharia o studio por um tempo, iria para Paris enfrentar a realidade, de trabalhar outra vez no lugar aonde tinha sido feliz.

Queria ir trabalhando agora de uma maneira mais tranquila, podiam pensar que ele precisava de dinheiro, o que não era verdade.  Havia momentos, que pensava que jamais voltaria a NYC, isso tinha pensado quando vivia com Matheus, tal coisa não aconteceu, voltou.   Seu avô lhe dizia sempre, nunca digas não. 

Tinha lhe contado, que quando ele partiu para a América, queria que seu irmão fosse com ele, sabia da ameaça de Hitler.   Mas estava apaixonado, nunca poderia imaginar que seria seu fim.

Sua tia lhe agendou uma serie de exposições, se sentou com ela, disse que só faria uma por ano, queria tempo para trabalhar mais tranquilo, sem pressa, pesquisar novos materiais.

Quando falou isso, ela lhe mostrou um catalogo, de um escultor japonês, com uma técnica milenar.    Lhe chamou perguntando se podia lhe ensinar.

Foi imaginando encontrar um velho, mas encontrou um homem de sua idade, riram muito disse, este comentou que tinha aprendido de seu avô, fui o único da família a me interessar.  Só que o avô fazia peças para casa, ele tinha partido para um trabalho maior, tinha um problema de espaço.

Me ensinas, se quiseres vir para fazer trabalhos grandes, falou do forno que Matheus tinha deixado para ele.   O outro se entusiasmou.

Quando lhe perguntou se tinha que levar esposas, ou filhos, disse que não, sou gay.

Aprendeu a trabalhar em peças pequenas primeiro, fez uma série de coisas, mais europeia, tipo ânforas como se usavam antigamente para transportas ou guardar cereais.

Foram para Paris, despachou o que tinha feito, deu a parte do estúdio que ocupava Matheus, um dia surgiu uma relação com Tadao Ado, foram vivendo, o trabalho dos dois, apesar da técnica, era completamente diferente, um tinha uma visão oriental, o outro ocidental.

Sua tia quando viu o trabalho dos dois, fez uma proposta, se vocês trocam de enfoque, o Tadao faz a visão dele do Ocidente, tu do Oriente.

Como os estúdios estavam bem separados, um não via o trabalho do outro, ele se documentou sobre os samurais, seus cavalos, seus trajes de batalha, assistiu vário filme sobre isso, muito Kurosawa.

Quando acabaram, um foi olhar o do outro.  Tadao disse que ele tinha saído melhor parado da história. Mas de qualquer maneira sem se falarem tinham tido ideias parecidas.

Taparam a parte com o nome do autor, para a inauguração, todos acreditavam que a parte japonesa era do Tadao, principalmente como ele tinha feito os olhos.

Quando descobriram a ideia, as pessoas aplaudiam os dois.

Apesar de que o relacionamento deles funcionava, Tadao queria voltar para o Japão, não gostava de viver em Paris.

O deixou ir, não ia prendê-lo não ia fazer uma chantagem para que ele ficasse.  Se davam bem, mas claro nem chegava aos pés do Matheus.

Ele conheceu numa exposição de sua tia, uma artista africano, riram muito, a muitos anos atrás ele tinha conhecido o Matheus.

Quando conversaram, disse, nunca pude esquecer o que tivemos, mas eu tinha que voltar para a Africa.   As vezes não entendia sua postura, escutei falar algumas coisas a respeito dele, na época para um cara que veio do interior, era muito, hoje entendo, pensar em ter relacionamento com um homem que tinha se prostituido, não encaixava comigo, mas quando me dei conta que isso não importava, ele já estava contigo.

Aprendeu a técnica dele, fez uma série a pedido de um museu, em cima da obra de Picasso, Les Mademoiselle D’Avignon. Para colocarem no hall do mesmo.

Acabou fazendo uma séria para a exposição de Berlin, misturando todas, as vezes levava mais tempo, mas não se importou, teve que atrasar várias vezes, a exposição, porque a mistura de técnicas, nem sempre saia como queria.

Um dia estava no Bristô que sempre ia com Matheus, quando um homem veio falar com ele, tinha conhecido o mesmo antes de ele vir para Paris.   Ele já se prostituia em Tel Aviv, para conseguir dinheiro.   Me apaixonei por ele, mas claro não entendia que ele queria ir pela vida sem amaras.  Mas vejo que contigo foi diferente.

Olhando o sujeito, disse que viesse ao studio, o levou aonde o Matheus trabalhava, creio que ele sim te amou, abriu uma cortina, estava uma estante que ele usava, mostrou um busto que estava ali.  Era o próprio mais jovem.

Nessa noite saíram para jantar.  Xarif Farur era um sabra, judeu com árabe.  Estava trabalhando na Sorbonne, um dia os dois resolveram experimentar fazer sexo, para que, nunca mais se separaram.   Sua mãe gostava imenso do Xarif, conversavam horrores. 

Ela dizia nos jantares semanais na casa da tia, que finalmente tinha seu pouso.

Agora iria viver com elas, uma das sobrinhas delas, que tinha estudado arte, mas gostava mesmo de antiguidades, iria ajudar a sua mãe na loja.

Anos depois quando esta morreu, apesar de ter deixado para ele a loja, deu para ela, não precisava disso.

Agora com a idade seu trabalho era mais lento, foi uma vez com Xarif a NYC, para fechar tudo lá, vender o que lhe estava, pois já não queria sair de Paris.    Dois anos depois recebeu uma comenda do Governo Francês.

Estava trabalhando numa série dedicada a Franças, misturava seus heróis, Joana D’Arc, as mulheres da revolução, tinha visto um desenho num livro sobre a revolta, com a caída de Marie Antoniette, fez uma coisa divertida.

Um grupo de mulheres, desenhou as roupas, a fez de verdade com roupas de segunda mão, no meio delas ia Marie Antoniette, como se a própria estivesse levando a revolta.

Alguns críticos não gostaram mas de qualquer maneira foi considerada uma obra feminista.

Levou mais de dois anos para terminar tudo.

Xarif ria dizendo que ele estava ficando velho, mas suas obras agora requeriam mais detalhes para simbolizar tudo o que ele pensava.

Depois dessa exposição, tinha começado a desenhar para executar os mitos gregos.

Mas morreu antes, sentado em sua mesa desenhando.   Xarif tinha ido dormir, ele disse que seguia com seu desenho, mais um pouco.

Quando despertou de manhã, viu que ele sequer tinha ido dormir, estava debruçado em cima de sua mesa.   O que lhe impressionou, que estava desenhando o Matheus, tinha contado a dias, que tinha sonhado com ele, me desculpe Xarif se te ofendo, mas ninguém me entendeu tanto como ele.  Sigo o amando até hoje.

Pediu que suas cinzas ficassem juntas, até descobrirem aonde tinha enterrado a do Matheus levou tempo.

 

 

 

 

 

 

 

 

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