Era meu último Play Off, tinha decidido pendurar os tênis, não podia dizer chuteiras porque não era jogador de futebol.
Esperava para
entrar na cancha, para a segunda parte, viu uma confusão muito grande na porta,
pensou que eram jornalistas, para falarem de seu amigo Sammy, pela primeira vez
jogavam em equipes contraria, sentia falta dele para jogar, mas por qualquer
motivo que ainda não tinha entendido, ele decidiu jogar no time contrário. Ele respeitou sua decisão, andava muito
estranho ultimamente. Jogou como
nunca, sabendo que era sua despedida, seu contrato tinha terminado, queriam
renovar, mas ele não.
Ganharam, era seu
segundo anel, depois foi para o vestuário, estava cansado, o treinador, se
aproximou, tem uma pessoa querendo falar contigo. Acabou de tomar seu banho, se vestiu, disse
adeus aos companheiros, saiu.
Deu de cara com Charles
Jackson, para CJ. Um detetive que ele
era apaixonado, nunca tinha falado nada a respeito, ao mesmo tempo, esse homem
era como uma ave agourenta, na sua vida, só aparecia para lhe dar más notícias.
Perguntou o que
era desta vez, procurou Sammy com o olhar, ali estavam todos os jogadores que
tinham participado do Play Off deste ano.
C.Jackson, lhe apertou
sua mão, o arrastando dali.
Perguntou se ele
tinha visto Sammy no dia anterior.
Não, depois do
partido não quis falar comigo, estava furioso.
Eu estranhei pois sempre falávamos dos jogos, como tinha sido, o que
achávamos. Aliás essas eram as únicas
conversas que tinham ultimamente. Na
última temporada, Sammy tinha mudado de time, sem consulta-lo, eles que se
falavam de tudo.
Se conheciam
desde criança, tinha compartidos desgraças pessoais, bem como triunfos na
universidade, ele era o único que sabia que deixava o basquete. Se não falasse com ele, com quem falaria. Tinha ficado furioso com ele, como podia
fazer isso, se o basquete tinha sido a vida dos dois, todos esses anos, vamos
dizer assim, a salvação.
Tinham começado a
se afastar, quando Sammy se deslumbrou por ter dinheiro. Ele ao contrário sempre tinha tido.
Sentou-se numa
cadeira dessas de plástico, o inspetor sentou-se na frente dele. Não sabes
nada, verdade?
Saber o que?
Sammy morreu
ontem a noite, estava completamente drogado, avançou um semáforo, morreu no
ato, com a cabeça degolada.
Foi abrindo a
boca, mas não lhe saia grito nenhum, seus gritos tinha acabado, as lagrimas
escorriam pela sua cara, pareciam uma enxurrada. Tinha ficado surdo, via que C. Jackson
falava com ele, mas não escutava.
Começou a tremer,
foi caindo num poço fundo, negro, estava farto de tantas desgraças será que
isso nunca ia acabar.
Viu que ele se
levantava, mas não se mexeu, ele saiu, voltou com o entrenador.
Desculpe filho,
mas não quis te dar essa notícias antes do jogo, entre os dois o levantaram,
saíram por uma porta lateral, lhe perguntaram se tinha vindo de carro. Ele nunca tinha tido carro, andava com o
Sammy, para que precisava de carro.
O inspetor, disse
que o levava para casa.
Aonde está Sammy?
Não podes vê-lo
ainda, estão fazendo a autopsia.
Ele seguia
querendo gritar, as lagrimas continuava caindo pela sua cara. Teve que ser literalmente levado para cima no
edifício pelo inspetor, esse abriu a porta, deve ter ficado de boca aberta com
seu apartamento. Ao contrário dos outros
jogadores, que viviam em apartamentos suntuosos, ele vivia num pequeno, era o
último andar, um sala quarto, uma varanda fechada, com duas estantes cheias de
livros, a mesa de centro tinha pilhas imensas, como explicar, que os livros
eram tudo para ele. Sem eles já tinha
morrido a muito tempo.
Era conhecido
como o EUNUCO, da NBA, pois nunca o tinham ligado com ninguém, nenhuma modelo,
ou outro homem. Vivia uma vida retirada,
a única pessoa que sabia de sua história era o Sammy, também era o único que
tinha uma chave do apartamento.
Caiu numa das
poltronas, só tinham duas. Agora fazia
sentido o que Sammy tinha falado para ele.
“Nem no final me deixas vencer”.
C.Jackson, disse
que talvez ele estivesse drogado.
Drogas, sempre as
malditas drogas, foi o que soltou.
Colocou as mãos
na cara, deixou que as lagrimas continuassem escorrendo por elas.
Perdão soltou,
não sei o que te dizer. Ontem depois do partido
estava furioso, mas não fui eu que batalhou contra ele, tinha sido um
companheiro seu de equipe.
Falou o que ele
lhe tinha dito, saiu dos vestuário furioso.
Fomos nos
afastando, apesar de ser meu único amigo, tinha comprado a dois anos um
apartamento maravilhoso, levando sua mãe para viver com ele, mas ela preferiu
voltar a viver na mesma casa que tinha vivido sempre.
O celular do C.
Jackson começou a tocar, ele pediu licença se afastou, ficou escutando.
Eram da autopsia,
ele estava até a alma de drogas.
Comentou, que
treinador, lhe tinha perguntado isso, antes de Sammy sair da equipe, indo para
outra ganhando mais. Ele tinha se
negado, pois já tinha decidido que seria sua última temporada.
Não tinha nada
planejado, o basquete tinha sido seu refugio desde criança, era tudo para ele,
mas seu psicólogo tinha falado muito com ele, que talvez tivesse chegado a hora
de enfrentar a vida de frente, afinal ia fazer trinta e cinco anos, começou a
tremer outra vez.
Quando C. Jackson,
colocou a mão no seu ombro, desta vez se permitiu colocar a cabeça em cima da
mesma, tinha amado toda vida esse homem, embora ele sempre viesse com más notícias.
Este perguntou se
tinha alguém que podia chamar para ficar com ele. Sorriu, só o Sammy me entendia, não tenho
ninguém em minha, vida, amigos, família nada.
Pode ir-se eu
fico bem sozinho, estou acostumado.
C. Jackson, deu a
volta se ajoelho na frente dele, tinha que se controlar, pois o queria beijar,
viu que sua têmporas, estavam cheias de cabelos brancos, mas isso aos seus
olhos o fazia mais bonito.
Sammy era o único
que sabia que eu deixava a NBA, esse foi meu último jogo. Lhe contei outro dia,
antes do jogo entre nossas equipes, nada disso me ajuda hoje em dia. Preciso enfrentar minha vida finalmente de
frente.
A mãe dele já
sabe?
Sim, está com a
família dela. Queres ir até lá?
Não tens que
trabalhar?
Não já avisei que
ficarei contigo.
Entrou novamente
no velho carro do inspetor, não disse nenhuma palavra, esse de vez em quando
num semáforo, lhe segurava a mão. Se ele
fosse uma pessoa que pudesse verbalizar, diria por favor me abrace, me beija.
Mas não dizia
nada, isso era uma coisa impossível para ele.
Não sabia verbalizar mais as coisas.
Fechou os olhos,
se lembrando como tinha conhecido o Sammy.
Estavam na mesma escola do bairro que viviam. Os outros garotos nunca se aproximavam dele,
pois era diferente, alto, loiro, olhos verdes, já era forte, pois de tarde
ajudava no armazém do pai. Esse era um
bom filho da puta, de vez em quando chegava a escola com os braços, com manchas
rojas, mesmo usando a camisa de mangas compridas não dava para esconder, que o
pai tinha descarregado nele sua fúria.
Sammy era a mesma
coisa, seu padrasto, era outro filho da puta. Um dia uma bola veio parar aos seus pés, ele
se levantou, de aonde estava encestou.
Todo mundo ficou de boca aberta, os dois começara a jogar um com o
outro, sem nunca terem se falado. Nenhum
dos dois eram de muitas palavras.
Isso passou a ser
um ponto entre eles, no fundo de sua casa, no lado da garagem, tinha um aro,
ali jogavam no final do dia, ou nos dias que não ia ao armazém do pai.
Quando sua mãe
ficou doente, ele ficava em casa com ela, escutava o assobio do Sammy, ela
dizia teu amigo está aí, vá jogar com ele.
Ele se desafogava
jogando com uma certa violência.
Os dois se
entendiam, não faziam parte de grupo nenhum na escola, de nenhuma gang, das
muitas que tinham pelo bairro.
Seu irmão, seu
ídolo ao mesmo tempo tinha desaparecido, se não fosse sua mãe, ele acreditava
que teria morrido. Era ela que lhe dizia baixinho, tens que sair
daqui, talvez o basquete seja o meio que tenhas de conseguir uma bolsa para a
universidade.
Quando ela
morreu, ou melhor se suicidou, tomando toda as medicações, possíveis, deixou um
bilhete para ele, esconda as duas caixas que estão na garagem. Sabia do ela
falava, era duas caixas de sapatos, que estavam cheia de dinheiro, ela durante
anos tinha feito a caixa da loja de seu pai, pois ele não gostava dessa parte,
ele achava que ela fazia isso para ter uma maneira de escapar da vida que
tinha.
No último ano,
ele a tirou de seu quarto, colocou no de seu irmão Dawson, trazia mulheres
diferentes todas as noites, nunca ficava com ela, dava para escutar ele fazendo
sexo com elas, porque era escandaloso.
Ele tinha se
mudado para o sótão da casa, usava a parte da frente, assim não escutava nada.
Tampouco escutou
nada quando ela morreu. Quando desceu no dia seguinte, encontrou a
casa cheia de policiais, seu pai tinha chamado a ambulância, eles a polícia,
pois achavam a morte dela suspeita. Foi
a primeira vez que viu o C. Jackson, ele estava começando sua vida de
policial. Pensou antes de entender o que
tinha acontecido, que homem bonito.
Foi interrogado
várias vezes, seu pai era um homem violento.
Sua mãe tinha os braços cheio de marcas, ele se desculpou dizendo que a
tinha sacudido para ver se colocava os comprimidos para fora.
Ficou como um
louco, pois sua mãe era o único que tinha, Dawson tinha desaparecido, não sabia
nada dele, até o dia que disse que ia embora, pois estava farto de seu pai.
Ele era filho do
primeiro casamento, era 10 anos mais velho do que ele. Seu pai o tinha visto dando um beijo num
homem, um jamaicano, chamado Coton Jack, outro C.J. tinha lhe dado uma puta
surra, que naquela casa ele não queria viado nenhum, queria homens como ele.
Minha mãe tentou
defender o Dawson, levou um murro na cara com toda força, foi parar do outro
lado da cozinha, lhe disse, cuida da tua vida, esse filho é meu, faça com que o
seu seja homem pois senão o mato.
Dawson tinha
desaparecido do mapa, anos depois o encontrei, vivia num acampamento de homeless,
tinha entrado para a marinha, usava uma prótese na perna.
Nesse dia meu
único consolo foi o Sammy. Me arrastou
com ele para nosso jogo de sempre, gostava da minha mãe. Ficávamos encestando,
procurando fazer cada vez mais longe do aro.
Eu sempre
ganhava, nesse dia tinha um ódio mortal.
Foi um enterro
triste embaixo de chuva, a única irmã da minha mãe, veio com o marido, meu pai
disse aos dois para desaparecerem, pois sabia que os dois eram umas merdas.
Assistiram o
enterro o mais longe possível.
A partir desse
dia, eu só existia nos momentos que estava jogando com o Sammy, erámos os
melhores da escola. O mais interessante,
era que também erámos os melhores alunos, as notas mais altas, competíamos
nisso também, mas porque um ensinava para o outro o que não tinha entendido nas
aulas, eu era ótimo em matemática. Ele
em outras coisas.
Nos
completávamos.
No mesmo dia do
enterro, meu pai levou uma mulher para casa, mesmo com a distância podia
escutar as gargalhadas dele, mas elas nunca ficavam.
Ele saia com seus
amigos machões de toda a vida, eles tinham inveja pois tinha um negócio, eram
bonitão, assim era fácil, trazer, uma mulher para casa. Se repetia ou não, nunca soube. Inclusive uma vez desci para tomar café para
ir à escola, lá estava a mãe do Sammy, me disse para não falar nada para ele,
meu pai entrou, enfiou dinheiro na mão dela.
Eu já tinha
levado para meu quarto, escondido bem as duas caixas da minha mãe. Agora eu levava o trabalho que ela fazia, tinha
aprendido, fazia o mesmo, para um dia poder ir a universidade.
Nessa época vi o
Dawson pela primeira vez, da pequena janela do meu quarto, o vi do outro lado
da rua, olhando para a casa. Não era uma
cara normal, desencaixada, cheia de ódio.
Corri, mas não o
encontrei.
Passei nos meus
momentos livres, pois o tinha visto vestido de roupa militar, a procurar por
ele, com o Sammy, mas o encontrei um dia, que fui sozinho com minha bicicleta
pelo lugar que havia acampamentos de homeless militares.
Um homem tentava
roubar minha bicicleta, quando ele apareceu do nada.
O que fazes vindo
aqui me procurar sempre, não lhe respondi, simplesmente o abracei muito forte,
eu o adorava, era meu ídolo desde pequeno.
Ele dizia que tinha que tomar cuidado comigo, porque quando era criança
era como uma sombra dele, estava sempre atrás dele, para receber um carinho, ou
que ele me levantasse por cima da cabeça dele, era como o visse de outra
maneira.
Falei que minha
mãe tinha morrido, que o filho da puta, levava cada dia uma mulher para dentro
de casa, que minha vida era um inferno, se eu podia ficar com ele.
Me disse que ia
dar um jeito. Levou muito tempo assim,
as vezes ia com o Sammy vê-lo, as vezes estava totalmente drogado, mas não me
importava, ficava ali na sua tenda, segurando sua mão.
Lhe perguntei por
que não fazia um tratamento para se livrar disso?
Me disse que era
o único que tinha, que Coton Jack tinha morrido na guerra, era o amor de sua
vida, nada tem sentido. Um dia apareci,
cheio de hematomas, o velho agora pega você não é.
Ficou dizendo
baixinho, filho da puta, tenho que lhe parar os pés.
Eu já tinha 16
para 17 anos, era alto, magro, mas meu pai tinha uma força incrível. Tinha sido
lutador de boxe em sua juventude. Quando te soltava um murro, não havia como se
defender.
Dois dias depois,
eu agora usava um casco para não escutar os ruídos, colocava alguma música no
último volume.
Escutei mesmo
assim um ruido, como se tivesse alguém discutindo. Sabia que a mulher que meu pai tinha trazido
para casa, tinha ido embora, pois tinha sentido a porta da casa bater, algumas
saiam furiosas com ele. Devia ser
violento na cama.
Depois mais tarde
já estava na cama, escutei uma discussão, pensei que a mulher tivesse voltado,
pensei comigo, esse tormento nunca vai acabar.
Me faltavam meses para acabar, tinha a possibilidade de conseguir uma
bolsa de estudos, na verdade eu o Sammy disputávamos a mesma, para irmos à universidade,
como jogadores de basquete. A cada jogo
nos esforçávamos o máximo, porque sabíamos que tinham olheiros por ali.
Depois escutei
como se alguém tivesse caído escadaria abaixo.
Mas até que
resolvi sair do meu esconderijo, ou toca, como eu chamava meu quarto, já era
tarde, desci, para ir à cozinha, vi meu pai numa posição grotesca aos pés da
escada, chamei a ambulância, bem como pedi que viesse a polícia.
Quem apareceu
como sempre foi o C. Jackson, mas eu já sabia que ele estava morto, porque tinha
aprendido a tomar o pulso de minha mãe.
Eles achavam que
alguém o tinha empurrado escadas abaixo.
C. Jackson, me
perguntou o que eu estava fazendo, o levei até meu quarto, lhe expliquei que
todas as noites ele trazia uma mulher para casa, desde a época que minha mãe
estava doente.
Uso esse casco,
com a música no último volume, para não escutar nada, mas disse que senti a
porta batendo, com faziam algumas mulheres.
Depois o ruido de alguma coisa caindo, mas como ele sempre estava alto
de bebida, eu nunca me atrevia sair, porque senão quem levava era eu. Mostrei ainda as manchas rojas que tinha nos
braços, ele tem uma força incrível.
Não mencionei que
meu irmão estava na cidade, nem se o tinha visto. Quando me perguntou do Dawson, lhe disse que era
militar, mas não sabia se estava em alguma missão. Ele não vive aqui a anos.
Me perguntou se
queria que avisasse algum parente, lhe disse que não tinha nenhum.
Um dia depois
voltou, porque tinha encontrado troços de pele, embaixo da unha, o ADN, era de
alguém da família. Na delegacia, me
fizeram ficar nu, uma pessoa da oficina forense, examinou meu corpo inteiro
para ver se tinha algum arranhão, o que encontraram foram muitas marcas no meu
corpo. Quando disse que meu pai sempre
precisava de um saco de pancadas.
Eles começaram a
procurar o Dawson, nesse meio tempo o advogado, estava providenciando o enterro
dele, só depois leria seu testamento.
Dois dias depois,
apareceu outra vez o C. Jackson, outra má noticia, estava com o Sammy,
estudando para os exames finais, ele me pediu para o acompanhar. Fomos os dois, não disse o que era, lhe
perguntei se tinha que chamar o advogado de meu pai.
Não, fique
tranquilo. Já sabemos quem matou teu
pai.
Me levou para ver
o cadáver de meu irmão, tinha morrido de uma overdose, tinha a cara toda
arranhada, pelo visto ele tinha matado nosso pai.
Fiquei arrasado,
Sammy avisou sua mãe, ela o deixou ficar comigo. Nessa noite tive pesadelos, com o Dawson, o
matando.
Enterramos os
dois ao lado de minha mãe.
Seu amigo todos
estavam ali, mas me surpreendi, escutar a maioria deles, dizer, finalmente esse
filho da puta palmou, merecia ter morrido a muito mais tempo.
Falei com o C.
Jackson, tentando assim talvez, pensar que qualquer um deles, tivesse matado
meu pai.
Ele explicou, que
ele costumava se meter nos namoros dos amigos, roubando a namorada para uma
foda, depois contava para todo mundo.
Fui escutar a
leitura do Testamento, pedi ao Sammy para ir comigo, ele se sentou mais atrás.
O filho da puta,
pelo menos deixava tudo para mim, nada para o Dawson, deve ter tido a coragem
de colocar no testamento que não deixava nada para ele, pois era um viado.
Tampouco tinha
nada agora, pois já estava morto mesmo.
Minha tia
apareceu com seu famigerado marido.
Falei com o advogado, ia fazer 17 anos em alguns dias, falei da fama dos
dois, pedi que falasse com o juiz para minha independência, afinal iria para a
universidade. O velho tinha me deixado a
casa, o edifício do seu armazém, bem como o negócio.
Fui com ele falar
com o juiz, o advogado tinha tirado informação a respeito de minha tia e seu
marido, estava arruinados.
Assinou os
papeis, para todos os efeitos, eu era maior de idade.
Tínhamos o último
jogo, demos um varapau desgraçado no outro time. Eu jogava como um louco acompanhado do meu
amigo.
Quando me
ofereceram a bolsa de estudos, disse ao selecionador, que eu não precisava,
podia pagar minha universidade, mas se eles queriam que jogasse, dessem a mesma
ao Sammy.
Antes de ir,
chamei o advogado, mandei vender a casa com tudo que tinha dentro, o armazém um
chines estava interessado em ficar com o negócio, me pagaria mensalmente um aluguel
do local. Peguei todo o dinheiro das
caixas, guardei num banco, fomos os dois para a universidade. Mas dois dias
antes, o chamei, Sammy, vamos fazer uma farra.
Claro nossa roupa era de segunda.
Só usávamos os dois, roupas de segunda mão.
Na época era moda
comprar roupas no Village, Soho, Chinatown, compramos, calças, camisetas,
casacos, sapatos, tênis, tudo que nunca tínhamos tido, eu tinham um lema nessa
época, com o Sammy, tudo que é meu é teu, afinal era o único amigo que tinha.
Compartíamos
quartos, quem me chamou de eunuco a primeira vez foi ele, pois combinamos um
código, se tinha uma meia amarada na porta, o outro não entrava, sinal que
estava com alguém.
Isso era sempre
ele, eu nunca levava ninguém, tampouco tinha a quem levar.
Tentei fazer sexo
com uma garota, mas foi uma decepção, para conseguir chegar a final, tive que
imaginar que era o C. Jackson. Aquele
homem me deixava louco.
Mas perdi a
virgindade com um dos auxiliares técnicos, da equipe, no banheiro do ginásio,
uma noite que cheguei ao nosso quarto, lá tinha uma meia amarrada, fui para o
ginásio, fiquei encestando no aro, horas, depois resolvi tomar um banho, ele
apareceu, me viu nu, foi um passo.
Depois eu me escondia em seu quarto as vezes.
Mas a brincadeira
de Eunuco, já funcionava.
Quando fomos
chamados para uma equipe, insisti que o Sammy fosse junto, meu salário era mais
alto que o dele.
Ele foi morar num
bom apartamento, eu comprei o que vivo até hoje. Ele quando viu, me chamou de miserável.
Sammy, se lembra
do meu quarto em casa, era assim, não preciso de muita coisa, não quero
impressionar nenhuma garota.
Ele sabia da
minha aventura, com o ajudante de treinador, mas ficou quieto, eu nunca escondi
nada dele, tampouco tive nada com ele, era meu melhor amigo.
Chegamos à casa
de sua mãe, pelo menos ele tinha comprado uma casa melhor para ela.
Me abraçou
chorando, chamei nosso advogado, pedi para providenciarem todo o enterro,
perguntei ao C. Jackson, se podia costurar a cabeça dele no tronco, para não
fazer feio no caixão.
Creio que o mesmo
estará fechado, com um visor, pois seu estado é lastimável.
Só voltei a casa
no dia seguinte, para trocar de roupa, a cerimônia, foi numa igreja batista,
pois era aonde frequentava sua mãe. Um
dos novos amigos dele, se aproximou de mim, com um sorriso sarcástico disse,
ele no final te odiava, principalmente depois que teu equipe ganhou o Play Off,
disse que nunca iria conseguir sair da sua sombra. Esse me levou a parte, me contou tudo que o
Sammy tinha falado de mim. Que tinha
entrado na universidade, porque eu tinha desistido da bolsa de estudos, que
quando fomos para a NBA, ele tinha entrado na equipe, porque eu tinha exigido, que
ganhava mais do que ele.
Mas ele era meu
único amigo, como não fazer isso?
Pois ele contou
para toda a equipe que eres viado.
Me senti traído,
mas o entendia, como podia pensar isso de mim, ele era o único que eu tinha,
minha única família.
Chorei muito toda
a cerimônia, não podia dizer aos outros, que chorava, porque me sentia abandonado,
por meu amigo de infância.
No dia seguinte,
fui com o advogado, para falar da assinatura do contrato.
Tinha saído uma
noticia no jornal que eu saia do armário, que era gay. Usei isso para não assinar o contrato, mesmo
assim me choveram ofertas. Quando
quiseram me entrevistar, eu preferi falar do Sammy, que não podia ficar mais
jogando, tinha que mudar o rumo da minha vida.
Fiz um balanço
geral do meu dinheiro, tinha vendido ao chines a pouco tempo o edifício
inteiro, o resto da herança do meu pai, tudo estava aplicado no banco, quando
comprei o apartamento que vivia, paguei direto o mesmo, o meu salário sobrava,
uma parte dele o destinava a escola de aonde tinha estudado, para ajudar os
alunos a serem alguém, mas nunca divulgava isso.
Nem chegava a
gastar basicamente meu salário. Vivia
modestamente, não gostava de luxo, a única coisa que tinha de extra era uma
cabana em Cape Code, que comprei de um jogador em apuros. Passava lá minhas férias sozinho. Sammy ia por aí
com os novos
amigos, de festa em festa, as vezes aparecia, eu jamais lhe fiz qualquer
comentário, afinal a vida era sua.
Fiquei sabendo
que não deixou muito dinheiro para a mãe, pedi ao advogado que vendesse esse
apartamento de luxo que ele tinha, que administrasse o dinheiro para ela, não
tinha muita noção, sempre tinha sido uma mulher pobre.
Antes de sair da
cidade, fui falar com ela, para que não escutasse o que falavam de mim. Alguns diziam que o Sammy tinha sido meu
amante a vida inteira.
Eu sei meu filho,
sempre foste amigo dele, mesmo naquele dia que me viste em tua casa, eu tinha
feito sexo com teu pai, pois precisava de dinheiro. Era um bom filho da puta, não fique
ofendido. Sammy me contou que mesmo tua
mãe doente, ele levava mulheres para casa.
Soube por um dos
amigos dele, que o criticou por isso, que a resposta o deixou horrorizado, que
a casa era dele, se ela não gostasse que fosse embora, mas que o filho ficava,
já bastava um ser gay. Coitado nem
sabia que eu também era.
Passei o verão
escondido na cabana, só saia para fazer compras em alguma cidade perto, não
queria ser reconhecido.
Chegou o inverno,
segui ali. Algumas noites tinha
pesadelos, em ver o Sammy sem cabeça, ou mesmo meu irmão, empurrando meu pai,
pela escada. Tinha que enfrentar isso,
já não tinha uma bola, nem um aro para me distrair. Vi um cartaz na vila aonde fazia compras, de
um gabinete de psicólogo, copiei o numero de telefone, chamei marquei uma hora.
Encontrei uma
senhora, com os cabelos brancos, arrumados modestamente num coque, parecia uma
avô que nunca tive.
Já no primeiro
dia, creio que vomitei tudo que tinha guardado. Desde a minha infância, o amor
que sentia pelo meu irmão, como meu pai maltratava minha mãe, sua morte, que eu
achava que tinha sido ele.
Fui me sentindo
melhor, agora saia para largos passeios pela praia, já não ficava fechado na
cabana, logo chegaria a primavera, o verão.
Alguns dias
simplesmente caminhava, outros corria, para me manter em forma.
Um dia esbarrei
em C. Jackson. Me perguntou o que fazia
ali.
Férias
permanente, lhe perguntei o mesmo?
Estou de férias,
vi que tinha um braço, preso com um pano em volta do pescoço.
Levei um tiro,
estou me recuperando.
Ficamos andando
pela praia, nos sentamos numa pedra. Quando
te vi, pensei que más noticias me traz.
Porque sempre que te via, era para alguma coisa chata.
Sinto muito, era
uma verdade. Eu sempre ia assistir teus
jogos, te admirava por ter suplantado tudo isso. Sei que Sammy era teu melhor amigo. Isso deve ter sido duro.
O pior soltei,
foi que todo mundo sempre pensou que ele era meu macho, pois quando mudou de
time, contou para todo mundo que sou gay.
Mas entre nós dois nunca ouve nada, me chamava de eunuco, porque sequer
tinha aventuras, nem me atrevia por causa do ambiente.
Segues sozinho?
Sim, estou
fazendo terapia, para quem teve tantas merdas na vida, achei melhor me afastar,
faz mais de ano que estou aqui numa cabana que comprei.
Assim me deixam
em paz, alguma coisa farei, mas não sei o que ainda, compro todos os livros que
vejo. Talvez faça algum curso para
melhorar, eu fiz jornalismo, mas nunca exerci.
Já estou um pouco
velho para começar, na verdade se fosse procurar um emprego, tenho certeza de
que me contrataria, para falar de esportes.
Não quero nada
disso, durante anos, me escondi atrás disso. Fomos andando, sem querer lhe soltei que era
apaixonado por ele, desde que te vi a primeira vez. Embora o momento fosse trágico, me apaixonei. Quando lhe contei que a única experiencia
que tinha tido com uma garota, tive que imaginar que estava com ele, para
chegar ao final.
Ele ficou rindo,
chegamos a minha cabana o convidei para comer, tinha alguma coisa no
congelador. Ele parou na pequena sala,
riu, não podia esperar outra coisa de ti, por aonde se olhasse tinha livros,
pilhas dele, em volta de uma poltrona que ficava perto de uma janela, que dava
para ver o mar.
Se aproximou,
segurou minha cara, ele era mais baixo que meus dois metros de altura, me
beijou, foi como eu imaginei.
O arrastei para a
cama, nos demos conta no dia seguinte quando acordamos famintos, que não
tínhamos comida nada. Estávamos
famintos. A comida que tinha tirado do
congelador, cheirava mal.
Me levou para
comer num restaurante.
Me contou toda
sua vida, com tinha se escondido no armário, desde o exército, depois na polícia. Que eu sempre lhe atrai, mas achava que eu
não era gay, depois imaginou que eu tinha alguma coisa com o Sammy pois
estávamos sempre juntos. Como chorei
quando soube que tinha morrido.
Lhe contei o que
seu novo companheiro de jogo me tinha falado, que no final ele me odiava, por
isso contou para todo mundo que eu era gay.
Que eu tinha ido pela vida, o arrastando atrás de mim.
Na verdade ele
era bom, me fazia melhor, era um grande jogador.
Mas tu, destacava
mais que ele, eras brilhante.
Talvez por meu
desespero, não tinha outra coisa em que me apoiar, o basquete me salvou a vida
inteira.
Fui lhe mostrando
o livro que estava escrevendo, falando do basquete, desde o momento que
descobri o mesmo com meu irmão mais velho.
O que fazia para suplantar as surras que me dava meu pai, mesmo com dor,
não me permitia errar a canastra.
Fomos ficando,
quando chegou o momento dele voltar a trabalhar, pela primeira vez fui claro
com ele. Se vais voltar a trabalhar, eu
nunca vou superar, um dia que chegue alguém para me dizer que te mataram, não
vou poder aguentar.
Por isso, prefiro
guardar esse tempo que estivemos juntos, como os melhores dias da minha vida, mas
não voltarei a te ver.
Ficou me olhando,
soltou, como tu amaste o basquete, eu amo minha profissão, volto no final de
semana.
Pela primeira vez
na minha vida, tomei uma decisão, manter minha palavra, ele foi para NYC, eu
também, arrumei uma pequena bagagem, já iria comprando o que fosse necessário
pelo caminho, fui visitar as cidades da Europa, que tinha jogado, mas não
conhecia, a não ser através do vidro de um ônibus, nem ao meu advogado
avisei. Desliguei meu celular. Fui
embora, era como fugir de tudo.
Fiquei um ano
viajando, pensava que interessante, deixas de ser famoso, deixas de existir. Continuei sim escrevendo minha história toda,
entrando em detalhes, de tudo que tinha sentido.
Cheguei por
Amsterdam, aluguei uma Motorhome, fui viajando pelos lugares, a parte escrevia
comparando o que tinha visto através de um cristal do ônibus, com o que via
agora, andando pelas cidades.
Quando voltei,
fui direto para a cabana, embaixo da porta tinha uma quantidade imensa de
bilhetes do C. Jackson.
Mas não me atrevi
a chamar. Continuava achando o mesmo, se
ele morresse eu morria junto. Tinha sido um eunuco toda a viagem, as vezes
sentia dor no corpo, por o imaginar ao meu lado.
Mas não era
fácil, me negava outra vez a enfrentar outra desgraça, sentia que meu
equilíbrio era mínimo.
Dei o livro para
a psicóloga ler, dois dias depois me devolveu. Me disse que eu realmente tinha colocado a
carne na assador, mais do que tinha feito com ela.
Mas não podes te
esconder para sempre, isso do que tanto foges, faz parte da vida, nascer,
crescer, morrer.
Mandei para um
editor, que a muito tempo tinha me perguntado se não queria escrever sobre
basquete.
Me chamou, disse
que editaria sem pensar duas vezes.
Quando o livro foi lançado, estava dando uma tarde de autógrafos, senti
uma sombra na minha frente, senti seu cheiro, fiquei excitado, não podia me
levantar, tudo que fiz, foi abaixar a cabeça, começar a chorar.
Quando me
controlei, me levantei, ele estava ali, o abracei. Sou um marmanjo que chora muito. Morri de
saudades do teu cheiro.
Sai dali de mãos
dadas com ele.
Sentamos numa
praça, me disse, que depois tinha entendido o que eu tinha falado no nosso
último dia juntos. Que ao afastar,
descobriu que me amava, embora ele fosse muitos anos mais velhos do que eu.
Aonde vives
agora?
Disse que depois
que o eunuco viajasse por todos os lugares que tinha ido antes, mas que não
conhecia a cidade, voltei para a cabana, é o único lugar que fui feliz. Nunca mudo o travesseiro que usaste para
poder sentir seu cheiro.
No final de
semana, apareceu, com uma maleta, pedi demissão da polícia, quero viver
contigo.
Nisso estamos até
hoje, vamos a cidade, para alguma coisa de médico, mas vivemos ali como se não
houvesse outro lugar no mundo. Fizemos
amigos que vivem ali o ano inteiro, no verão levo uma livraria, tinha que me
livrar de tudo que tinha, uma parte são livros de segunda mão, aviso que estão
cheios de anotações do que eu sentia ou pensava.
Escrevi um outro
livro, sobre todos os anos que comparti com o Sammy, com se com isso me
livrasse da culpa de o ter arrastado atrás de mim. Pedi uma entrevista para o rapaz que me
contou tudo. Ele tinha estado com o Sammy no último
dia. Podes imaginar que me soltou na
cara, estive todos esses anos ao lado dele, ele nunca viu que eu o amava com
toda minha alma, que queria ser teu.
Fiquei alucinado,
pois o Sammy tinha fama de mulherengo.
Mas agora sei que me amava.
As vezes ainda
desperto chorando porque sonhei com ele.
C. Jackson tem ciúmes de um fantasma, pois sabe que tem coisas que eu
contaria ao Sammy, mas a ele não.
Um dia nos
encontraremos no outro mundo, eu tornarei a dizer a ele, que não sei o que
faria se tivesse descoberto isso antes.
Seria seu amante, chego à conclusão que nada disso mudaria o que
aconteceu.
Nunca mais toquei
numa bola de basquete, tampouco via os jogos.
C.Jackson que gostava, ia ver num bar, pois em casa não tinha televisão.
Se ele esta
ficando velho, não aparece, mas eu sim, depois de todos esses anos correndo de
um lado para o outro numa pista, estou pagando agora a mudança radical que me
impus, sinto dores nas articulações, fui a um médico, me disse que tenho artrose
precoce.
Me deu remédio
para as dores, mas me nego a tomar, tenho medo, mas escondo através de andar na
praia, me obrigo mesmo com dor, como quando fazia, meu pai me dava uma surra,
com todas as dores, jogava a bola no aro, uma e outra vez. Agora ando tudo o que posso.
C. Jackson
desconfia, mas sorrio, o meu melhor sorriso, como quando o Sammy pergunta se
estava sentido alguma coisa. Lhe dizia
que jamais daria o braço a torcer, que não ia me render.
Estou cometendo
os mesmo erros de não colocar para fora o que sempre senti, não sei lidar com a
dor. Mas pelo menos agora sou consciente.
Vai chegar o
momento, que terei que andar numa cadeira de rodas, mas tenho esperança de que
como o C. Jackson, já tem 80 anos, morra antes de mim.
Ele terá que
aceitar meus erros outra vez. Sei que sabe do que acontece, pois as vezes ao me
levantar, meu corpo inteiro sente uma dor insuportável, respiro fundo, o obrigo
a me obedecer.
Vou levando a
vida com ele, com grandes momentos felizes.
O livro sobre o
Sammy fez sucesso, mas destinei todos os lucros a escola aonde nos conhecemos. Descobri a anos, que ela vive das ajudas da
igreja batista, então me toca ajudar.
Graças a Deus já
não choro muito, esta noite, sonhei com Sammy, com Dawson, me avisando que
chega meu momento. Me esperem já vou.
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