Me chamo Sam
Rooke, algumas vezes sentado diante do espelho do meu camarim, fico pensando
quando começou minha vida louca, mas sempre sou interrompido, pois me chamam
para mais uma atuação.
Trabalho a muitos
anos, num cabaré decadente, na parte de Castro, San Francisco, não preciso dizer
que é o bairro gay por excelência.
Me apresentam
como Sammy ou Tammy, porque as vezes me faço passar por Debbie Reynolds
cantando a música do mesmo nome.
Nota, o cabaré é
meu, mas claro é hora de pensar em talvez vende-lo, pois tem uma imobiliária me
pressionando, quer construir um desses magníficos edifícios sem personalidade,
claro também me pesa a idade, mas tenho muitas meninas como eu que passaram por
aqui, ou ainda estão comigo. Do outro
lado esta Tom, ele continua comigo a trancas e barrancas.
Descobri muitas
coisas da vida através dele.
O dia que ele
chegou lá em casa, para mim foi uma festa, minha mãe dizia que eu falava sem
parar com ele, que me olhava espantado.
Primeiro, Tom é
surdo/mudo, era sobrinho do meu pai, que nunca entendeu por que um belo dia seu
irmão mais velho, um bala perdida, apareceu depois de anos, deixou o Tom na
varanda com um bilhete, explicando que ia para mais uma aventura, que não podia
levar um garoto como ele junto. Ali
estava também uma certidão de nascimento, bem como uma carta dando poder ao meu
pai para cria-lo.
Enquanto eu
falava sem parar, meu pai, que normalmente as coisas passavam por ele sem dizer
nem MU, estava furioso. Seu irmão nunca
aprenderia nada, tinha sido mal estudante, tinha escapado de casa com sua
namorada, tiveram um filho, ela desapareceu no mundo, ele ficou com o garoto,
nunca parava em emprego nenhum, a anos que não sabia dele.
Tom era um ano
mais velho do que eu. O problema era
que nas casas vizinhas só tinham garotas, que queriam que eu brincasse com
elas, de tomar chá com suas tacinhas de brinquedo, ou brincar com bonecas. Odiava isso.
Tom coitado
estava espantado, mas eu não queria saber, o primeiro que fiz, foi dar um
grande abraço nele, beija-lo, foi o primeiro de muitos beijos ao longo desta
vasta vida.
Minha mãe era uma
mulher pratica, no dia seguinte conseguiu uma professora para nos ensinar a
língua dos signos, o Tom se virava como podia, o ensinou também, chegou um
momento que eu falava com ele, mais rápido que ele se matava de rir comigo.
Dizia que eu era
um cômico.
Quando chegou a
época de ir à escola, não tive dúvida, se ele ia a uma escola especial eu iria
também, meu mundo girava em torno dele.
Meu pai só dizia
abaixando o jornal, esses meninos têm futuro.
Meus pais trabalhavam
no armazém que ele tinha no bairro, um desse de secos e molhados, que vendem de
tudo. O jeito foi tentarmos que Tom
acompanhasse as classes numa escola normal, ele se divertia, pois sentávamos na
última fila, eu ia ensinando tudo para ele, mas por signos, mas na verdade
acabamos numa escola especial, pois ali ele não aprendia. Eu ao contrario adorava essa escola
especial, pois falava como um louco pelos signos, segundo uma professora pela
minha cara, esse menino vai acabar num palco, sem dúvida nenhuma, não estava de
todo errada.
Uma coisa que eu
adorava, era chegar em casa, me sentar na frente do espelho de minha mãe, me
pintar como ela, Tom ficava olhando divertido, sei que nunca me denunciaria.
Nosso primeiro
grande beijo foi com uns dez anos, lhe perguntei se queria experimentar beijar
alguém com Baton nos lábios. Primeiro
foi divertido, mas em seguida, estávamos nos beijando de verdade.
No final ele me
disse, gostei, quero sempre mais.
Juntos
descobrimos o sexo, no porão de casa, construímos um lugar para brincar, um dia
jogávamos de Tarzan, ficamos os dois de cuecas, tínhamos uns doze anos, sabia
que o piru dele era maior que o meu, quando vi, o estava chupando, ficamos nos
masturbando juntos.
Isso virou um
hábito de todo dia. Nunca nos descobriram,
mas meu pai quase pega a gente no flagra uma vez.
Meu pai, adorava
jogar basquete no fundo da casa, ali tinha colocado um aro, nos seus momentos
livres estávamos com ele. Tinha sido
capitão de sua equipe na escola, aonde estudávamos tinha futebol, mais nada,
uma bola que alguém escondia quando vinha algum professor. Um dia me perguntou muito sério se eu não me
incomodava de ir à mesma escola que ia o Tom.
Como explicar a
ele, que pelo Tom eu iria até o inferno.
Lhe disse simplesmente que era como ir a outra qualquer, ele não
entendeu, pois nunca aprendeu a linguagem dos signos, dizia que estava velho
demais para isso.
Minha mãe achava
um absurdo, quando tínhamos 16 anos, ele 17, meu pai teve um enfarto no armazém
da loja, caiu duro.
Os dois deixamos
a escola para ir trabalhar com ela, havia dividas para pagar, tínhamos que
viver de alguma coisa. Meu pai falava
do irmão, mas era imprevidente, não tinha seguro de vida, seus livros de
contabilidade era um caos. Tom que era
bom de matemática, passou a administra tudo. Os dois cuidávamos do armazém
também, era muito para minha mãe, isso nos fez ficar fortes, pois tínhamos que
mover sacos, nessa época muitos garotos se metiam conosco, mas tínhamos punhos
para nos defender.
Claro existia um
problema, os dois erámos garotos bonitos, altos loiros, de cabelos compridos,
eu adorava mexer nos seus cabelos, ele que eu fizesse isso. Minha mãe reclamava, se estávamos vendo
televisão, eu mexendo nos seus cabelos, me dizia deixa seu irmão em paz.
Ele fazia sinal
para continuar.
Íamos ao cinema
juntos, as pessoas reclamavam que não parava de fazer sinais para ele,
explicando alguma coisa que tinha passado por cima. Tivemos a melhor juventude que podíamos
ter. Eu via algumas fotos de algum travesti,
mostrava para o Tom. Numas férias fomos
para San Francisco, nesse época já fazíamos sexo um com o outro, eu me metia
todas as noites na sua cama, quando sabia que minha mãe me chamaria, corria
para a minha.
Fomos assistir um
show num cabaré, fiquei como louco, ele se matava de rir, lhe disse esse era
meu sonho, me olhou sério soltou, se é teu sonho vamos por ele. Seu sonho ao contrário era estar sempre
comigo.
Já tínhamos 18
anos, minha mãe, abriu uma conta no banco para cada um, aonde ele como fazia
contabilidade, depositava nosso salário.
Guardávamos tudo, para nosso sonho, na verdade o meu.
Quando minha mãe,
descobriu que tinha câncer, tínhamos já uns 24 ou 25 anos, foi uma tragedia, os
dois a queríamos com loucura. Sua irmã
veio ficar conosco, disse que nunca tinha visto uma casa tão silenciosa, pois
claro os três falávamos o tempo todo pela linguagem dos signos.
Ela ao contrário,
percebeu alguma coisa, pois dizia esses meninos assim nunca vão arrumar uma
noiva. Minha mãe um dia se aborreceu, soltou
na cara dela que ficou vermelha como um pimentão, não entendes que um vive para
o outro, eles se amam.
Ficamos os dois
de boca aberta, depois ela comentou conosco, nunca vou criticar vocês, sei
desde o primeiro dia, quando meu filho ficou louco quanto te viu Tom. A partir desse momento entendi que iria te
amar para sempre.
Era uma verdade, estar
sem ele, era estar sem ar.
Nessa época,
nunca soubemos como, apareceu sua mãe verdadeira, ele nem se lembrava dela,
estava muito bem casada, com um homem rico, queria saber se ele queria viver
com ela.
Me olhou, eu
estava sentindo o chão desaparecer embaixo de mim.
Pior que não
sabia falar com ele, falava rápido demais.
Minha mãe, salvou a situação, não achas que depois de tanto tempo, não
vais conseguir te comunicar com ele. Eu sou sua mãe, sempre viveu comigo, o
cuidei como meu. Não vou permitir que
você venha com esse carro fantástico, queira levar meu menino. Só por cima do meu cadáver.
Fora daqui sua
lambisgoia. A empurrou para fora de
casa. Ainda lhe soltou uma ladainha,
aonde estava quando ele precisava de ti, quando tinha dores, quando não sabia
expressar o que sentia. Somos a família dele,
desapareça.
Tom se matava de
rir, porque minha mãe falava tudo isso, ao mesmo tempo fazendo a linguagem dos
signos, quem visse, pareceria uma louca.
Morreu um ano
depois, depois de tanto tratamento, colocamos uma peruca na sua cabeça, para
estar arrumada no caixão, entre os dois a lavamos, lhe colocamos o melhor
vestido, o padre fez uma missa bonita, apesar de nunca irmos à igreja, os
clientes foram todos, estava lotado. Nesse mesmo dia, um chinês se aproximou,
perguntou se queríamos vender a loja, bem como o armazém com tudo que tinha
dentro. Ele teve que negociar com o Tom
que era duro na queda.
Nessa noite
conversamos, agora dormíamos juntos como um casal, adorava sentir seu cheiro
tão particular, dormimos a vida inteira agarrados um ao outro.
Quando o advogado
disse que no testamento de minha mãe, tudo era para os dois, resolvemos ir à
luta, vendemos o negócio, mas deixamos a casa como um seguro, falamos muito
nisso.
Me preparei para
ir à luta, ele só não me permitiu, raspar as pernas, disse que adorava passar a
mão pelas minhas pernas peludas.
Comecei a me
apresentar pelas espeluncas do bairro gay, até que tive a firmeza de me
apresentar no cabaré que hoje é meu. O
homem que levava o mesmo, dizia que eu devia fazer um show, falando, contando
histórias, ensaiamos muito com ele, eu levava mais da metade do show,
interferia nos show dos outros, fazia sempre um personagem, que se sentava na
plateia, começava a questionar quem estava no palco, dizia que tinham
desafinado, um deles fazia o papel do irritado, com voz horrorosa, como posso
ter desafinado se era um playback. A
plateia vinha abaixo.
Ele soube que era
o Tom que administrava tudo que tínhamos, o contratou, ele fazia toda a
contabilidade, pagava os artistas, alguns eram atrevidos com ele, eu botava
logo a banca, eu vi primeiro.
Ninguém poderia
acreditar, que nunca estivemos com outra pessoa que não fosse o outro.
Um idiota uma vez
perguntou quem dava para quem, bom o Tom deu uma aula, especial para o dito
cujo, na linguagem dos signos.
Mas na verdade
acabava o show, eu limpava a cara, íamos para casa, de braços dados, mas
vestidos de homens.
Erámos muito
parecidos, uma vez bolei um ato, em que entravamos os dois, ele de costa para
mim, a parte dele vestida de homem, eu de mulher, era difícil de fazer, isso
ficou no show anos, pois o pessoal alucinava, pensava que era só uma pessoa.
No final, como as
roupas estavam presas com velcro, nos separávamos para agradecer, mas quem
cantava o tempo todo era eu.
Aprendi a cantar,
modular minha voz, não fazia playback, o pessoa gostava, não se sentia enganado. Depois do show, sempre levava uma cantada,
eu dizia que fazia bem ao meu ego, mas pedia desculpas, mas tinha compromisso.
Um dia um
despeitado, disse que era horrível o que fazíamos, erámos irmãos, que isso era
um incesto.
Até explicar para
o sujeito que queria chamar a polícia, que éramos primos, foi um custo.
Gerard que era
dono local, acabou chamando a polícia, sempre tinha um na entrada, para
controlar as confusões. Botou o sujeito
para correr. Era um tipo bonito, dizia
que queria ir com os dois para cama.
Um dia estávamos
fazendo sexo, Tom começou a rir, perguntei o que passava, ele contou, estou
imaginando esse policial aqui, o levaríamos a loucura, ele pensando em comer a
gente, a gente fazendo ao contrário.
Perguntei se ele
queria fazer isso, mas já com mau humor.
Me olhou sério, sempre
tive a ti, nunca precisei de mais ninguém, isso estragaria tudo, vamos imaginar
que ele se apaixona pelos dois, nunca íamos tira-lo de cima de nós.
Um dia estávamos
jantando, num domingo, comendo pizza, o policial, apareceu a paisana, era
realmente um tipo. Tinha intimidade para
se sentar com a gente.
No final foi
claro, fico alucinado pensando em fazer sexo com vocês.
Rimos muito, lhe
contei o que o Tom tinha falado, ele parou para pensar, lhe contei desde quando
nos amávamos, era um tipo fantástico, disse, tens razão, eu não quero estragar
a vida de ninguém. Tempos depois,
apareceu com um outro polícia, nos contou que estava tentando ter uma
relacionamento. Iam sempre lá em casa
nos dias que não trabalhava, se por acaso eles estavam livres. Nos contavam tudo, como iam as coisas, os
problemas que podiam suplantar.
Não se davam
conta, mas eram muito parecidos um com o outro.
Stan, que era o
nome do nosso amigo, ficou arrasado, quando o outro morreu num tiroteio.
Passou mais de
dois meses lá em casa, não conseguia ir para a sua, chorava, dizia que tinha
perdido uma parte dele. Mas o
controlávamos para que não se metesse em drogas, em bebida nada disso, sempre
foi nosso melhor amigo.
Quando Gerard
disse que queria vender o local, vendemos a casa que estava alugada, com nossas
economias compramos o local. Fizemos
algumas reformas, melhoramos os camarins, que todo mundo reclamava. Tom administrava tudo com mãos de ferro.
Stan vinha todos
os dias depois do trabalho, tinha alugado um apartamento ao lado do nosso,
erámos como uma família, quando alguém se aproximava dele, perguntava se devia
ou não ir.
Quando se começou
a falar da Aids, lhe dizíamos para tomar cuidado, ele obedecia, por isso foi um
dos que se salvou.
Vimos morrer um
monte de gente, íamos mais a enterro que festas, ajudamos a muita gente,
fizemos show para arrecadar dinheiro, íamos aos hospitais, para animar o
pessoal, embora saíssemos arrasados.
Stan dizia que agora tinha medo de fazer sexo.
Um dia chegou um
policial, que vinha transferido de aonde o judas perdeu a bota, era inspetor,
foi ficando amigo do grupo, vinha a casa do Stan. Um dia me chamou de lado, não tem jeito, vim
para cá, para sair do armário, me apaixono logo por esse idiota que convive com
vocês, mas me olha com medo.
Contei o que
tinha passado com Stan, ele entendeu, foi devagar, finalmente conseguiu, mas eu
lhe avisei se fizesse mal a ele, lhe cortava as bolas.
Se casaram antes
da gente, logo Paul adotou dois garotos, irmãos, que tinham perdido a família,
iriam para adoção, mas claro queriam separar os dois, ele conseguiu convencer
ao juiz, que era sério para ter uma família.
Um dia veio um
homem do serviço de tutela, sem querer bateu na porta errada, eu o reconheci
como um cliente, que ia ao cabaré, mas que fazia tudo escondido.
Bati na outra
porta, aonde o estavam esperando, soltei ao Paul, um velho cliente do Cabaré.
Ele entendeu que
éramos fora dali, pessoas normais.
Mexeu os papeis
rápido, os dois meninos conseguiram uns pais fantásticos.
Agora somos uma
família, acabamos comprando o prédio em que vivemos aos poucos, inclusive a
loja que está embaixo, quem leva ali um restaurante é um outro amigo nosso.
Aos poucos, o
prédio virou um reduto de amigos, todos nos conhecemos, fazemos os aniversário
de todos, passamos Ação de Graça, Natal, todos juntos, estamos sempre nos
apoiando uns aos outros.
Quando me surgiu a
oferta de vender o local do cabaré.
Fizemos uma reunião, já tínhamos discutidos isso antes, mas quem sabe
escutávamos alguma coisa, sobre a luz no final do túnel.
Na verdade estava
cansado, eram muitos anos andando por esta estrada, sentia que Tom queria uma
vida mais simples.
Agora era a vez
dele, pensei. Stan sempre dizia que eu tinha sorte, a
maioria dos proprietários de casas assim, perdiam dinheiro, pois não sabiam
administrar o local, Tom ao contrário, tinha aprendido com o Gerard, levava as
contas justas.
O pessoal que
trabalhava, confiava nele, nunca errava nada. Inclusive quando tinham
problemas, ele ajudava. O que era
interessante, dizia para a pessoa, que a ideia era minha.
Eu as vezes
levava um susto, vinham me agradecer de alguma coisa, não sabia do que estavam
falando, mas deduzia que tinha sido ele.
O que me fez tomar
a decisão, foi quando ele teve um princípio de enfarte.
Hoje é o último
show, estão todos emocionados, hoje de manhã, assinamos os papeis de venda, eu
me matei de rir, quando o que queria comprar, começou a falar comigo. Pedi desculpas, mas essas coisas ele tinha
que negociar com o Tom.
Ele sorriu,
pensou o cara é surdo/mudo, é fácil de engambelar, foi ao contrário, saiu o
tiro pela culatra. Tom colocou um preço
muito acima do valor real, sabia que estavam desesperados, pois já tinham
comprado os apartamentos de cima do cabaré.
Cada vez que
tentava me colocar na conversa, eu dizia que não, era a ele que tinham que
convencer.
Saímos ganhando, Tom
fez uma coisa que me pareceu fantástico, esse dinheiro a mais, fez como uma
indenização de todos que trabalhavam conosco. Na verdade só duas pessoas eram fixas, os
garotos que levavam o bar. O pessoal do
show, ele contabilizou os anos que trabalhavam conosco, preparou os papeis,
entregou um envelope com o dinheiro.
Uma das mais
antigas, me disse na cara, se não é porque tenho medo de ti, roubava esse homem
para mim. Ficamos rindo.
O show, foi com a
casa cheia, como já tínhamos liquidado tudo, o dinheiro do dia, foi para uma
organização LGBT. Assim fechamos com chave de ouro tudo.
Me desfiz de
todas as roupas, perucas, com as meninas, elas riam como pode alguém que calça
46 subir nesses sapatos altos, 44.
Técnica dizia eu.
Os últimos meses,
levamos debatendo o que faríamos primeiro.
Tom soltou pela
primeira vez que tinha um sonho.
Qual é meu amado?
Queria ir
conhecer Paris, assistir os shows famosos ao vivo. Mas o melhor foi que Stan e
Paul vieram juntos com os garotos, na verdade os shows foram bons, mas nunca
tinha visto o Tom se divertir, como quando fomos a Paris Disney. Ele ria como um louco com os garotos,
entraram em todos as coisas, comprava as coisas que eles gostavam. Quando Stan reclamava, lhe dizia, os avôs são
para isso, estragar os netos. Era uma
verdade, tínhamos idade para sermos avós desses garotos.
Foram 15 dias de
farra. Quando voltamos para casa,
recebemos a visita de um advogado, sua mãe tinha morrido, deixava sua herança
para ele.
Quando ele viu os
números, fez uma coisa.
Stan, bem como o
Paul que viviam dos seus salários, Tom fez um fideicomisso, para os garotos
irem à universidade. Quando quiseram
reclamar, ele soltou que nós dois não pudemos ir porque tínhamos que trabalhar,
essa mãe, para ele não significava nada. Portanto o dinheiro era para gastar.
Com uma parte,
compramos uma casa numa praia, entre San Francisco e Carmel, Tom pareceu
rejuvenescer, ia a praia com os garotos, quando começaram a aprender surf, ele
se apontou também, Stan não entendia o que se passava, mas eu lhe expliquei,
ele tinha sacrificado a vida inteira por mim, querendo que eu fosse feliz. Agora é seu momento, quero que ele seja
feliz, eu o amei desde o momento que vi, portanto ele merece isso é muito mais.
O mais
interessante era ver como os jovens vinha falar com ele, como se o fato de ser
surdo/mudo, ele não pudesse contar o que escutava, mas era divertido, vê-lo
dando broncas nesses jovens, os meninos que tinha aprendido linguagem dos
signos se matavam de rir.
Um dia veio
reclamar, esses garotos pensam que porque sou surdo/mudo, sou um idiota, se
enganam. Nessa noite o amei mais que
tudo na vida, esse era meu garoto.
A varanda da casa
sempre estava cheia de jovens, vinham conversar com esses dois velhos.
Agora passávamos
mais tempo nessa casa que em San Francisco, a casa tinha uma lareira fantástica
para as noites de inverno.
Desfrutávamos
muito, conversando, relembrando coisas da nossa infância, juventude, quando
estavam Stan, Paul com os garotos mais.
Eles reclamava que estavam ficando velhos, pois em breve os garotos iam
a universidade. Quando se aposentaram,
ficavam cada vez mais.
Tom morreu
dormindo, simplesmente tinha um sorriso na cara.
Deixou tudo que
tinha para os garotos, no testamento, dizia quero que eles tenham tudo que nós
não tivemos. Porque eles me alegraram
muito minha vida, já tinha 75 anos.
Uma carta para
mim, que era uma declaração de amor, dizia que quando seu pai o levou para a
casa dos meus pais, era consciente que o ia abandonar, porque nunca mais
apareceu. Tinha medo, mas nunca esperou que eu o recebesse como fiz. Me deste amor desde o primeiro momento, fui
feliz cada segundo ao teu lado.
Aproveite com nossos amigos os anos que te restem.
No enterro, quem
estavam arrasados eram os garotos, porque o adoravam, um deles virou-se para
mim, soltou, quem agora vai nos fazer entender a vida.
Nunca tinha
desconfiado disso, ele era o confidente dos garotos.
Lhes respondi,
que poderia tentar ajuda-los, podiam confiar em mim, nunca imaginei que me
metia em camisa de onze varas, mas que no fundo me ajudou a superar muitas
coisas.
Além e claro do
Stan, que se confessava comigo. Eu
escutava a todos, sem jamais comentar qualquer coisa, me coloquei na pele do
Tom.
Só espero não
viver muito mais, pois sinto imensa falta dele.