Um pé
em Pilares
Meu pai sempre me
contava a história que eu nasci em Pilares, no Rio de Janeiro, que no fundo era
brasileiro. Falava rindo do começo da
história, que tinha acabado de ser formar em engenharia mecânica, queria correr
o mundo, arrumou um emprego num navio, quase deu a volta no mundo, deixou a
noiva em San Francisco.
Quando chegou ao
Rio de Janeiro se deslumbrou com a entrada na Baia da Guanabara, nunca soube
explicar o nome, quando desceu do navio, perguntou como podia ir para
Copacabana que era tudo que ele tinha de referência, mas como era tudo que ele
falava, lhe foram indicando os ônibus, não sabia que estava do lado errado.
Nisso passou um
ele perguntou, lhe disseram que sim Copacabana, ia cheio de músicos com seus
instrumentos, quando viu estava em Pilares, não tinha noção de aonde tinha se
metido, le levaram a escola de samba que tinha um ensaio. Ficou alucinado, foi quando conheceu minha
mãe, Leontina Alvarenga, uma mulata, bem clara, que sambava como tivesse o
corpo cheio de molas, ele ficou como louco a olhando, até que ela percebeu o
gringo de cabelos vermelhos, a cara cheia de sardas, gostou do tipo, perguntou
se lhe pagava uma cerveja.
Quando ele lhe
explicou que queria ir para Copacabana, ela disse que o levava num inglês
macarrônico. Foram para Copacabana, se
meteram num hotel, ficou com ela lá cinco dias no bem bom, para não dizer outra
coisa, lhe disse seu nome inteiro Bob Smith, lhe deu seu endereço, caso ela
resolvesse ir para San Francisco um dia.
Seguiu seu
caminho, Africa, Austrália, de lá teve que voltar, pois sua mãe, estava mal,
era a única pessoa que tinha de família no mundo.
Chegou para pegar
o velório, era tarde demais, a enterrou, recebeu como herança a casa que
viviam, arrumou logo um emprego, numa fábrica que trabalhou quase sua vida
inteira, se casou com a namorada que tinha de antes, mas essa avisou que não
queria ter filhos, na verdade não podia, tinha tido uma aventura enquanto ele
esteve fora, tinha abortado, a coisa saiu mal.
Ele aceitou,
vivia para seu trabalho. Um belo dia,
recebeu um presente, apareceu no endereço, um brasileiro, que estava fazendo um
favor para sua irmã, me entregou na porta de sua casa, com uma carta escrita em
um mal português.
Era da Leontina,
ia se casar com um gringo francês, lhe mandava o filho que tinha tido com ele, eu
tinha uns três anos mais ou menos. Ele
abriu a porta, viu primeiro um negro alto, que sorriu para ele com uma fila de
dentes brancos, disse que eu estava escondido por detrás do homem, este
explicou que vinha trazer seu filho, quando me viu foi amor à primeira vista,
eu era igual a ele, claro, cheio de sardas, com os cabelos vermelhos, um pouco
mais escuro que os dele. Lhe estendeu a carta, se quiseres posso ler para ti, explicou
que a Leontina, ia se casar com um francês que não queria filhos, pois já tinha
demais do seu primeiro casamento, no meu registro constava o nome dele Bob
Smith.
Ela dizia que
preferia arriscar mandar o filho para ele, que colocar num orfanato.
Isso eu já estava
no colo dele, o olhando com adoração, tinha encontrado alguém como eu de
cabelos vermelhos.
Sua mulher não
gostou nada, tinha horror a crianças, seis meses depois pediu o divórcio, pois
fez a clássica pergunta, ou ele ou eu. Seu matrimonio não ia bem, depois ele já me
adorava, cuidava de mim o tempo todo.
Arrumou uma senhora para cuidar de mim, enquanto estava trabalhando. Em
seguida se mudou para Detroit para trabalhar numa fábrica de carros, uma coisa
que ele adorava.
Só voltou a se
casar, quando eu fui para a universidade, encontrou como ele dizia uma alma
gêmea era uma viúva mulata, tinha sido mulher de seu melhor amigo, já se
conheciam de longa data, os dois tinham o mesmo tipo de humor, gostavam de
sair, dançar, ir a jogos de beisebol, eu fiquei menos preocupado.
O adorava, pois
com ele podia comentar qualquer coisa, quando tinha uns 15 anos me apaixonei
por um companheiro de classe, antes fui falar com ele, como devia me comportar
com isso, foi uma longa conversa, disse que eu esperasse que o outro se movesse
em minha direção, demorou, pois os dois éramos tímidos, ele vinha dormir lá em
casa, meu pai dizia que não queria que eu ficasse fazendo sexo por aí. Nos separamos quando fui para a
universidade, eu ia estudar em San Francisco, pois as fabricas de Detroit
começavam a fechar, ele retornou a sua antiga casa, Drew foi estudar em NYC,
nunca mais soube dele.
Consegui uma
bolsa de estudos, para estudar literatura, era como ele um apaixonado pelos
livros, pensava que depois podia ser professor. Qualquer coisa que escrevia, ele era o
primeiro em ler.
Me incentivou a
seguir em frente, ainda não tinha terminado a universidade, me meti num curso
de escrita criativa, que me saiu bem, em seguida consegui um emprego numa editora,
para ler textos, analisa-los, para passar para o editor.
Também consegui
editar meu primeiro livro de contos juvenis.
Não fez muito sucesso, a não ser em San Francisco.
Ele agora vivia
com sua nova mulher Doris, que como não tinha filhos me adotou, vivia dizendo
por que não voltava a viver em casa. A cada paulada que
levava por meus romances frustrados, pensava por que não, mas prezava minha
liberdade.
Meus romances,
era os famosos de uma noite, com o tempo aprendi, se me convidavam para dormir,
não significava que no dia seguinte seguiríamos com o romance, achava melhor
depois da foda mal dada, me vestia, saia de fininho.
Quando meu pai me
perguntava no domingo, ia sempre almoçar com eles, lhe contava, ele dizia um
dia encontraras tua forma do sapato.
Me convidaram
para trabalhar numa editora melhor em NYC, me disse para aceitar, pois era o
melhor para mim.
Arrumei um
apartamento minúsculo perto do emprego, a cor do mesmo era horrível, o fazia
ficar melhor, o proprietário permitiu que pintasse pelo menos de branco. Na verdade não passava de um quarto com
banheiro. Mas como passava o dia inteiro
na rua, me parecia bem, além claro de estar dentro de minhas posses. O Editor com quem fui trabalhar, era um
sujeito temperamental, diziam que ninguém parava no posto que ocupava, por
causa dele, mas ao contrário dos outros nos demos bem. Eu gostava de trabalhar, lhe dava o trabalho
praticamente mastigado, ele só tinha que digerir, falar com o escritor, os de
menor importância passava diretamente para falarem comigo, só depois
atendia. Dizia sempre nas reuniões, finalmente
encontro alguém que entende o que quero, mas o salário não saia do mesmo.
Eu continuava com
a vida de sempre, romances de final de semana, uma noite quando muito, mas um
em especial, mal chegamos à cama, vimos que não encaixávamos, ficamos o resto
da noite conversando, ficamos amigos.
Saímos juntos,
ele parecia ter feito sexo com toda NYC, ria muito dos seus comentários, fiz
amizade também com uma garota que era secretária do chefe, com ela saia para
almoçar, ou mesmo para jantar com ela, seus amigos num final de semana.
Por azar foi
quando conheci Peter Brown, ele parecia tímido, tinha começado a fazer um estágio
numa revista de moda, estava com a que apresentava como sua namorada.
Me levantei para
ir ao banheiro, tinha acabado de mijar quando entrou, foi direto, se ajoelhou
começou a chupar meu pau. Alucinei,
depois se levantou ficou me beijando.
Ele era muito bonito, se vestia de maneira de quem veio do interior,
voltamos a mesa, por separado, mas ele mal falava, na despedida, lhe dei meu
número de celular, mal cheguei em casa, ele estava chamando perguntando se
podia ir até lá. Foi uma noite
estupenda, pela primeira vez tinha alguém para tomar um café da manhã no
domingo. Seguimos nos vendo, até um dia
que apareceu com sua maleta, dizendo que tinha rompido com a namorada que
queria viver comigo.
Nos mudamos para
um apartamento maior, tinha acabado de ganhar um aumento, ele ia começar a
trabalhar no Vogue. Foram cinco anos
juntos, meu pai quando o conheceu, me disse que tinha achado precipitado o fato
de termos ido morar juntos, agora mal me sobrava tempo para escrever, quando
muito pequenos contos de coisas que via pela cidade.
Conseguir editar,
como “Conhecendo uma cidade”, as pessoas usavam o livro como guia para conhecer
lugares interessantes de NYC, o qual não era o propósito do livro.
Quando chegou no
quarto ano de relacionamento, um dia cheguei em casa, estava completamente
drogado, queria fazer sexo, muito sexo. Lhe perguntei por que tinha se drogado, ficou
furioso comigo, que eu parecia sua mãe.
Saiu de casa batendo a porta, no dia seguinte voltou mais tranquilo,
disse que a pressão do seu trabalho, ele só conseguia aliviar com drogas ou com
sexo.
Me pediu
desculpas, aí começou o calvário, estava sempre com um cigarro na boca de maria,
ou mesmo bem colocado. Um dia cheguei em
casa o encontrei com 3 na cama, me chamou para entrar na brincadeira. Coloquei todos para fora de casa, todos
queriam o dinheiro que ele tinha prometido.
Estava se metendo com chulos, ficou furioso, me disse que eu não o
satisfazia plenamente, se arrumou, foi atrás dos rapazes. Não
voltou essa noite, passei a noite inteira chorando, era uma pessoa totalmente
desconhecida para mim.
No dia seguinte
quando cheguei em casa, tinha limpado tudo, levado suas coisas, bem como
algumas coisas minhas de valor.
Fiquei furioso,
quando chamava seu celular, diziam que essa linha não existia mais.
Por sorte, justo
nesse momento, me ofereceram um trabalho de editor adjunto numa grande empresa,
para desenvolver novos escritores, ou escritores jovens.
Me pagariam bem,
mudei de apartamento, sai da zona boemia da cidade, fui para um apartamento que
era a minha cara, algumas vezes podia trabalhar em casa. Amava meu canto, antes fui passar uns 15 dias
com meu pai, que só fez um comentário, me desculpa meu filho, eu o achei uma
pessoa que escondia alguma coisa, nunca o achei uma pessoa natural.
Chorei nos braços
de meu pai. Quando voltei, me dediquei
a escrever contos, falando disso, dos desenganos do amor, de achar que conheces
alguém, que no fundo não passa de belos desconhecidos no último momento, quando
mostrei ao editor chefe, ele logo mandou fazer uma capa, meses depois estava
nas livrarias, vendia como agua, quando chegou na segunda edição pediam
entrevista, coisa que eu detestava. Mas
tive que engolir sapos, ir as entrevistas, pediam que falasse no assunto. Procurava generalizar, como se fosse coisa
que aconteciam todos os dias.
Como deixei de
frequentar a zonas por aonde ele se movia, bem como seus amigos, não sabia nada
dele. Um dia encontrei a amiga que o
tinha apresentado. Foi franca comigo,
prefiro que saibas por mim. Está um
trapo, já esteve duas vezes em reabilitação, mas parece que o problema é mais
complicado. Me contou que tinha me
procurado, mas claro eu também tinha trocado de número de celular. Ele me disse que te procurou.
Um dia recebi uma
chamada de um hospital, me disseram o seu nome consta como contato de fulano,
está internado com Aids, seria bom que o senhor viesse fazer um exame.
Fui, comentei com
o médico que não o via a mais de anos, que tínhamos tido um relacionamento, o
mesmo me soltou na cara, que ele tinha confessado, que no último ano do nosso
relacionamento, fazia sexo com qualquer um que encontrasse na rua, antes de ir
para casa, era uma necessidade dele.
Fiquei pasmo,
tinha a vontade de rebentar tudo que via pela frente, perguntou se eu o queria
ver.
Lhe pedi
desculpas, mas não, se o faço, sou capaz de querer lhe rebentar a cara, imagino
que ele não está para isso.
Sai dali furioso.
Meses depois,
estava tomando café com um jovem escritor, ele tinha um certo humor, como eu
tinha nascido no Brasil, seu pai trabalhava no consulado da cidade. Falava horrores da saudade que sentia de
lá. Estava me explicando o que era
saudade, o que significava, ria pois eu não sabia nada de português.
Fui ao banheiro
enquanto ele esperava o café na barra, passei por um grupo, me pareceu conhecer
as pessoas, mas estava apertado, quando ia saído do banheiro, ele apareceu na
minha frente, vai ser como da primeira vez, levei um susto, pois era um
esqueleto ambulante.
Me afastei, já
soube o que fizeste no último ano que estávamos juntos, não quero nada contigo,
sai dali, como um louco, o rapaz já tinha o café nas mãos, saímos, ele tentando
me acalmar, nos sentamos numa praça, lhe contei minha história.
Imagina, agora
tenho medo de fazer sexo com as pessoas, se já beberam muito, fico imaginando
que me dirão, que não se lembram de nada, ou então se me parecem drogados menos
ainda. Se chego querem usar alguma
coisa estranha, saio correndo, tudo por culpa desse filho da puta que me
enganou direitinho.
Recebi uma
chamada da minha conhecida, no dia seguinte, que a policia o tinha retirado do
banheiro do café, pois estava fazendo sexo com todos que entravam, sem avisar
que tinha Aids.
Fiquei
horrorizado. A mesma me avisou dias
depois que o tinham assassinado, que tinha se metido com drogas pesadas outra
vez, que devia muito dinheiro ao traficante, mais parecia um ajuste de contas,
depois descobriram que tinha feito sexo com alguém para dizer depois que tinha
Aids, a pessoa tinha perdido a cabeça, o matou.
Me falava do
enterro, que sua família se negava a ajudar, bem como recuperar o corpo do
filho, que ele seria enterrado como indigente, que fazia muito tempo que tinha
perdido o emprego, que vivia de ocupa num apartamento abandonado.
Dias depois
recebi recado de um advogado, era só um envelope, com um diário dentro, que ele
tinha escrito durante o tempo que estava fazendo terapia em sua reabilitação. Contava toda sua vida, que tinha sido
abusado desde que tinha dez anos, pelo seu tio, que nunca ninguém acreditou
nele, pois o tio, era um pastor evangélico.
Quando ficou numa idade que podia se defender, deu uma surra no mesmo,
mas ao mesmo tempo, tinha chegado a amar o tio. Confessava depois que quando tinha começado
a tomar drogas, procurava isso, que abusassem dele, pois gostava disso, que o
romance tinha comigo, mas a brutalidade tudo isso era o que ele gostava, me
pedia perdão, pois eu tinha sido a única pessoa que o tinha amado.
Comentei com meu
novo amigo, José Aparício Paixão, me disse uma coisa, se te dão limões faça uma
limonada, escreva um livro sobre isso, coloque tudo para fora, é o que eu faço.
Seu primeiro
livro, vi que era muito dramático, o ajudei a arrumar o livro, contava sua vida,
vindo do Brasil, aonde fazia surf, tinha bons amigos, os pais se divorciaram,
lhe tocou voltar para NYC junto com a mãe que tinha sua guarda, a falta de
adaptação, os problemas que tinha enfrentado, brigas homéricas com ela, que
queria dirigir sua vida, acabou estudando o que não queria. Gostava mesmo de escrever, quando fez 18
anos, largou o que estava estudando para fazer jornalismo, agora escrevia para
um jornal.
O segundo ele
falava das suas experiencias desesperadas de encontrar alguém, como eu tinha
feito, isso foi motivo de muitos papos, nos café, bem como em sua casa ou na
minha, até que um dia acabamos na cama.
Até nisso ele era
diferente na maneira de fazer sexo. Com
o outro ele era sempre o passivo, José não, gostava de tudo, me ensinou a me comportar
na cama como um homem, eu ria disso, eu quero estar transando com outro homem.
Meu pai, veio com
minha madrasta para passar um final de ano conosco, reclamou do frio de
imediato, mas tinha papos imensos, com ele, contou como eu tinha nascido, eu já
sabia a história, ele ria muito, quando dizia Pilares, com seu sotaque mais
carioca.
Meu pai dizia que
gostaria muito de voltar um dia, não conheci nada do Rio de Janeiro, soltava
grandes gargalhadas.
Na época não
fiquei sabendo, era como um encontro de despedida, ele tinha um câncer
terminal, queria passar o final do último ano de sua vida perto de mim.
Num dia que
saímos de braços dados andando pelo Central Park, ele ria muito, dizendo creio
que encontraste alguém que te quer de verdade.
Atrás vinha minha
madrasta conversando com o José, ela avisou a ele que meu pai estava mal, mas
não queria que eu soubesse, que ele ficasse ao meu lado, olha como os dois se
querem.
Quando ela avisou
que ele tinha morrido, vim abaixo, se não fosse o José tomar todas as
providencias, comprar bilhete de avião, me ajudar em tudo, creio que teria me
metido num buraco.
Ele queria ser
cremado, que eu levasse suas cinzas, para cada lugar do Rio de Janeiro que ele
não tinha conhecido, pois estava ocupado me fazendo, até o fim tinha humor,
fazia uma lista, me dizia para ser discreto, ir deixando suas cinzas um
pouquinho em cada lugar, me dava inclusive dicas de como fazer. Mas em especial, queria que eu fosse a
Escola de Samba Caprichosos de Pilares, para deixar um pouco lá. Ali tinha conhecido a Leontina.
Com o tempo
comecei a me levantar, a casa como herança tinha ficado para mim, mas minha
madrasta vivia nela, lhe disse que continuasse, que era o melhor, pois eu não
sabia quando voltaria.
Voltamos para
casa, pela primeira vez na vida, pude dizer a alguém que o amava. José era o centro de minha vida, já tinha uma
coluna no jornal, tinha uma pagina na internet, em que falava de todos os
assuntos possíveis, desde política, algum acontecimento da cidade, da vida gay,
dos livros, eu lhe passava resenha dos novos autores, ele entrevistava os
mesmo, publicava no jornal, bem como em seu site. Vivíamos agarrados um ao outro, eu que
nunca tinha gostado de dormir agarrado a alguém se ele se levantava de
madrugada para escrever alguma coisa que tinha sonhado, eu ficava desesperado,
esperando que voltasse para a cama, senão me levantava ficava sentado ao lado
dele.
Um dia por
surpresa, me disse que tinham lhe pedido um artigo sobre o Rio de Janeiro, se
preparando para o Carnaval.
Eu tirei férias
fui com ele, nos hospedamos na casa de seu pai, que tinha se aposentado. Ele ainda se lembrava de coisas, mas eu de
nada, era como um mundo novo, mais colorido isso sim.
Tínhamos
conseguido a autorização para as cinzas graças ao pai do José, ele tinha sido
um brasileiro casado com uma americana, que tinha trabalhado a vida inteira no
consulado americano, no centro da cidade.
Ainda mantinha boas relações por lá.
Começamos a
distribuir as cinzas conforme a lista do que ele tinha pedido, a cada lugar que
esvazia o pequeno envelope com as cinzas eu sentia saudade dele, rezava por
ele.
Em vários
lugares, senti como uma sombra ao meu lado. Mas deixei passar, acreditava que
estava impressionado com isso.
Finalmente chegou
o final de semana, seu pai que vivia na Gloria, me disse se prepare para a
emoção, vamos a um ensaio da escola de samba. De tanto o José falar comigo, em português,
conseguia falar, entender alguma coisa.
Fazia um calor infernal, mas me sentia ótimo, tínhamos saído com frio de
NYC, o calor da cidade me deixava feliz, não sabia por quê.
Tínhamos ido à
praia umas quantas vezes, minhas sardas ficavam mais fortes, meus cabelos mais
vermelhos.
Enquanto
estacionava o carro, já escutávamos a bateria tocando, era uma coisa vibrante,
me sentia emocionado, sem saber por quê.
Entramos, o pai foi buscar umas latas de cerveja para eles, eu só bebia
água, tinha sempre medo de álcool, drogas, essas coisas.
Devia estar com
os olhos arregalados, ele tinha reservado uma mesa, nesse momento estavam
apresentando um dos temas do samba enredo para o público, seu pai, João Paixão,
me explicou como funcionava. Sempre ria
disso, explicar para um brasileiro que não sabia de nada as coisas.
Nisso um homem
imenso, negro, se aproximou, perguntou se eu era Carlos Alvarenga Smith, lhe
disse que sim.
Me puxou, me
abraçou, já não te lembras de mim, não é verdade, sou teu tio, quem te levou
para San Francisco. Agora o olhava, me
era familiar, me disse ao ouvido, tem uma pessoa que quer falar contigo, pensei
que fosse a minha mãe, mas nada era uma senhora forte, uma mulata daquelas que
todo mundo chama de mocetona, estava chorando quando seu filho se aproximou
dela, é o meu menino, vê, eu o reconheci, é o meu menino. Eu estava atordoado, me abraçou muito, ia
falando para as outras senhoras, é o meu neto, que foi embora daqui em garoto.
João Paixão
sempre muito prático, falou com meu tio, que era melhor sairmos, pois o ruido
da música era muito alto, viu que eu estava atordoado.
Venham, minha mãe
mora aqui perto. De fato mesmo da casa
se escutava o som da bateria.
Ela ia de braços
dados comigo, dava dois passos me olhava, como dizendo ele está aqui. Foi
contando que minha mãe tinha colocado na cabeça que era melhor ele estar com o
pai que com ela. Como está teu pai, eu
só o vi uma vez, era igual a ti, tenho uma foto dos dois lá em casa, mas nunca
imaginei que fosse tão parecido.
Contei para eles
o que tínhamos vindo fazer, realizar sua última vontade.
Que um pouco das
suas cinzas ficassem ali, aonde ele tinha sido feliz, que lhe tinha dado o
filho que amava.
Me amou muito,
foi um pai maravilhoso, não tenho nada que reclamar dele.
Entramos numa
casa, ela nos levou por detrás, mania de velha, nunca levo a chave da frente da
casa, pois se me roubam a chave, tenho os espíritos me guardando.
Se via uma árvore
imensa nos fundos, fiquei com os olhos abertos, tinha muita gente em volta
abanando as mãos para mim. Foi como voltar
a minha infância, corri até lá, ela ria, ele fazia isso mal conseguiu
andar. Está falando com seus amigos da
infância. Nunca mais tinha pensado
nisso, tinha ficado guardado numa caixa no fundo da minha cabeça, foi como se a
tampa tivesse voado, eu estava feliz.
Ela contou ao
João Paixão, ele mal começou a andar, ia até o Iroco, ficava sentado, falando
com os espíritos, minha filha sempre detestou isso, acredito mesmo que o tenha
mandado para lá, por isso, odiava que eu fosse mãe de Santo, que a casa sempre
estivesse cheia de pessoas, pedindo alguma ajuda, a gente faz o que pode.
Meu filho viveu
muitos aos por lá, trabalhando duro, agora vive na Barra, mas vem sempre me
ver, principalmente nos dias de ensaio, eu quase não vou, mas ele me convenceu.
Carlos, voltou da
árvore rindo, eles todos se lembram de mim.
José que não via nada, dizia que tinha inveja, ele o arrastou, venha
comigo, põe a mão nela, quando o fez, sentiu uma vibração imensa, se afastou,
conseguia ver os orixás que estavam ali.
Ela os levou para
dentro de casa, era tudo muito simples, eu gosto de viver como sempre vivi,
tranquila, sem muitas modernidades.
Virou-se para seu
tio, vê se a filha da puta da tua irmã, está no Rio. Ela tem um apartamento no Leblon, que seu
marido comprou para ela, vem para cá passar o verão, volta para o verão de lá,
mas raramente vem aqui, acabamos discutindo, não gosto como se comporta com as
pessoas daqui.
Ela estava no
meio de um jantar, disse que não podia ir, ele tanto fincou o pé, que disse que
vinha, que lhe desse tempo de colocar uma roupa mais simples.
Ele estava muito
nervoso, disse a sua avô, nem me lembro da cara dela, não sei o nome de ninguém.
Ela ria, normal,
tinhas 3 anos de idade meu neto, eu me chamo como dizias avô Nena, lembra-se,
ele riu, pois se lembrou, teu tio se chama Gustavo, o pessoal daqui o chama de
Guto, foi jogador de futebol, o levaram para a América, jogou lá um bom tempo,
ganhou muito dinheiro, que investiu aqui no Brasil, por isso pode te levar para
lá.
Espere vou mandar
passar um café, chamou alguém veio uma moça, que ela disse que era a Yao da
casa. Mandou fazer um café.
Ele a olhava
impressionado, tinha uma cara que lhe dava vontade de beijar. Até que foi outra vez até ela, ficou de
joelhos, deitado com sua cabeça no seu colo.
Como gostavas de
um cafune, verdade meu neto, começou a cantar para ele baixinho a música que
ele gostava, era de ciranda, coisa de criança.
A música lhe veio inteira na cabeça, começou a cantar com ela.
A conversa estava
boa, seu tio contava ao José que tinha uma churrascaria na Barra da Tijuca,
hoje meu filho fica cuidando para mim, porque amanhã, com certeza vai
desaparecer para fazer surf. Me casei
com uma americana, ela não gosta muito de vir aqui ao samba, eu adoro, a
desculpa que dou, é que venho ver minha velha.
Em casa falamos
inglês todo o tempo.
Os dois tinham
que ficar aqui alguns dias, para fazermos uma firmeza para vocês, o mundo que
vivem é muito competitivo.
Ela não soltava a
mão do neto de jeito nenhum, de vez em quando seu olhar se dirigia ao Iroco, fazia
um ruido de hum, hum, que devia corresponder a um sim, sim.
Eita, soltou seu
tio, é sempre assim, estou falando com ela, olha para o Iroco, me solta alguma
resposta do que estou falando com ela.
Ela me alertou que eu ganhava muito dinheiro lá, a principio estava
encantado, me disse que tinha que sonhar, mas com os pés no chão, um dia tudo
isso acaba, tens que ir investindo em coisas que aqui te saem barato pela
diferença do dólar, fui comprando apartamentos, lojas, o local aonde tenho a
churrascaria, que já era um restaurante antigo. Por isso hoje estou bem. Meu filho se adaptou bem, minha mulher é muito
americana, as vezes passa mais tempo lá que cá.
Eu voltei uma vez
para te procurar, queria saber notícias, a casa estava alugada, a pessoa me
disse que vocês tinham mudado para Detroit, mas não quis me der o endereço, me
olhava de cima a baixo, como dizendo o que quer esse negro aqui.
Tampouco deixei
meu endereço com teu pai, me pareceu boa pessoa, me lembro da emoção dele
quando te viu, de como tu te agarraste com ele, o olhavas como dizendo,
encontrei um igual a mim, com os mesmos cabelos vermelhos.
Já era quase meia
noite, quando sentiram um carro parar na porta, apareceu uma mulher que se ele
encontrasse na rua, não saberia dizer quem era.
Mulata clara, muito bem vestida, elegante, com uma cara fria, sem saber por
que ficou com um pé atrás. De imediato
não o viu, posso saber o que era tão importante para que eu viesse do Leblon
até aqui.
Meu tio me puxou
para a frente dela. Me olhou, que faz
esse garoto aqui, aconteceu alguma coisa com o Bob.
Nem se aproximou,
pois não sabia o que fazer.
Não te disse meu
filho, uma filha da puta, olha o filho, nem se aproxima, dá um beijo nada, nem
tampouco perde essa pose de besta.
Na verdade não
cuidou de ti nenhum dia, mal te pariu, trouxe para cá, só voltou no dia que
resolveu te mandar para o teu pai.
Ele respirou
fundo, soltou, vim trazer as cinzas do Bob, pois ele queria que elas fossem
distribuídas em cada lugar do Rio de Janeiro que sonhou conhecer, mas não viu,
como ele dizia as gargalhadas, porque estava me produzindo. Fizeste bem em me mandar para lá, me amou, me
fez ser o que sou hoje em dia, nunca falou mal de ti, nada disso, viveu para
mim.
Foi meu melhor
amigo, pai, tudo que alguém pode esperar da vida.
A resposta dela,
era interessante conforme o ângulo que se olhasse, eu tinha razão, pelo que me
lembrava dele, dizia que queria ter filhos.
Eu não, depois meu marido, já tinha filhos demais, além da maioria serem
adultos. Na primeira vez que te viu,
deste um chute no saco dele, começou a rir, sem parar, virou-se para o irmão,
sempre me lembro disso, ficaram rindo, ela se relaxou, se aproximou dele, seja bem-vindo
filho, fico contente de ter feito o melhor para ti.
Era como se fosse
nem fu, nem fá, pois não sentia nada por ela, ao contrário da alegria de
encontrar sua avô.
Ia falar das
cinzas, mas sua avó, lhe segurou, lhe disse baixinho, espera.
Ela comentou como
vivia, a herança do meu marido foi bem dividida, em vida mesmo ele já tinha
deixado as coisas como eram para ser, fiquei com dinheiro no banco lá, um belo
apartamento, tenho amigos por lá, o rendimento do dinheiro dá para viver bem, o
apartamento daqui ele já comprou no meu nome, pois estava velho, mas queria
morrer aqui.
Creio que como
teu pai, a cidade o enfeitiçou.
Ela ainda tinha
um corpo de fazer inveja, só lhe perguntei, foste feliz com esse senhor?
De uma certa
maneira sim, ele me deu a vida com que eu sonhava desde criança, que era sair
daqui de Pilares, ir pelo mundo. Isso
eu fiz. Mas como diz tua avô tudo tem
preço, agora estou sozinha, venho para cá, tenho um pequeno circulo de
conhecidos, compro pedras, joias antigas, vendo por lá, ganho um dinheiro
extra, para meus luxos.
Lá pelas tantas
disse que tinha que ir embora, não gostava de ficar com seu carro parado na
frente da casa, o motorista devia estar cansado, se despediu de todo mundo, lhe
deu dois beijos, fez um tchau, foi embora, sem dar o endereço, nada.
Quem estava de
boca aberta era o José Aparício, falo mal da minha mãe, mas a tua a supera,
menos mal que não é chantagista como a minha.
A tua te levou
com ela, verdade, mas não permitiu que viesses aqui ver teu pai.
Ela no fundo
achava que poderia ter feito um casamento melhor, como funcionaria pública
americana, ter casado com um pé rapado brasileiro.
João soltou que
achava que tinha casado com ele, porque ficou gravida, era uma funcionária
graduada do consulado, quando surgiu a primeira oportunidade se mandou levando
meu filho, mas nunca deixei de escrever para ele.
Não podia fazer
nada, porque o juiz tinha decidido fazer assim, mas fui várias vezes lá o ver, passamos
juntos bons momentos, verdade filho.
O Abraçou. Era o que tinha faltado entre ele e sua mãe.
Quando foram
falar com ele, já estava outra vez ao pé do Iroco, escutando o que lhe diziam,
ele tem um dom soltou sua avô, creio que isso a assustou, uma dia chegou aqui,
ele se virou para ela disse, vais dar o golpe do baú, nunca a chamou de mãe
nada disso. Ficou olhando para ela.
Se voltou para o
Iroco, dizendo, vocês tem razão, ela é vazia por dentro.
Ficou uma fera,
com que eu estava falando, sempre teve horror a qualquer coisa que tivesse a
ver com os Orixás, preferia dividir um quartinho com alguma amiga em Copacabana
que viver aqui. Não posso reclamar,
podia ter sido uma puta, mas falava duas línguas pelo menos, trabalhava num
hotel, foi lá que conheceu o Francês.
Pelo menos ela é
ou pensa que é feliz.
Mãe, tá na hora
da senhora ir para a cama.
A deixaram, ela o
abraçou, venha me ver meu neto, temos muito que falar.
Eles voltaram
para o samba, embora Carlos estivesse quieto.
Chegando lá, ele se sentiu tentado a tomar uma cerveja, mas estava morto
de sede, quando viu estava dançado como mais um deles, se relaxou, não adianta
esquentar a cabeça.
Foram para casa,
ele dormiu agarrado ao José, com medo de perde-lo.
No dia seguinte
tinha combinado, de irem comer na churrascaria do tio Guto, não tinham ido
ainda a Barra da Tijuca.
Ele tinha dormido
com a mãe, a fez vir com ele, o filho que ia fazer surf estava lá de má
vontade.
Quando viu o
primo e o namorado dele, escapou de fininho. Sua praia era mais importante.
Beijou a avó,
dizendo já volto, não o viram o resto do dia.
Sua mulher fazia um esforço danado para ser simpática.
Seu tio avisou
sua mãe, aonde estava, mas disse, quem atendeu o telefone foi a empregada, que
disse que antes das duas da tarde a senhora não levantava.
Sua avó morreu de
rir, sempre foi assim gostava do bem bom, dormir até tarde, ficar pensando na
vida, lendo contos de fadas, sonhando com a vida como dizia, pedir para ajudar,
nem pensar.
Cada um tem a
vida que lhe concedem.
Ele estava
sentado do lado dela, ela se virou para o João, perguntou se no dia seguinte
podia trazer esses meninos, que iam dar um jeito nas cinzas, que não era bom
estar com elas de um lado para o outro.
Venham os três,
mando preparar uma boa comida brasileira, beliscou a cara do José, verdade
coisa bonita, eu também cairia sobre teu feitiço, ele te ama muito.
Seu tio não tinha
entendido ainda que os dois viviam juntos.
Olhou para o João, que levantou o ombro, dizendo a vida é dele, se é
feliz assim eu também.
Fazes muito bem
João, soltou avó Nena, assim se vive melhor.
Ele, saiu para
caminhar pela praia com o José, muita coisa na tua cabeça, verdade lhe
perguntou?
Sim nunca pensei
em encontrar minha mãe, nem me lembrava da cara dela, tampouco do resto, creio
que ficou tudo guardado em algum lugar da minha mente. Contou que todos esses
dias sentia que tinha uma pessoa acompanhando o que fazia. Me dizia para deixar por último a árvore, mas
eu não me lembrava do Iroco.
Quando vi, lá
estavam os meus amigos de criança, adorava ficar conversando com eles, ali
sentado na frente da árvore. Minha avó
sempre estava atendendo alguém, sempre tinha como a de ontem uma pessoa lá com
ela. Então eu ficava sozinho com eles,
me sentia fantástico, creio que quando meu tio veio me buscar para levar para o
meu pai, devo ter aprontado um grande berreiro.
Imagina, nunca
tinha escutado falar do meu pai, ela aparecia quando queria por aqui, as duas
sempre discutiam porque dizia que me deixava abandonado, que nenhuma mãe devia
fazer isso, porque depois pagaria por isso.
Veja o
comportamento dela ontem, se despediu como eu fosse uma pessoa qualquer, nenhum
gesto, fiquei até tarde da noite pensando nisso, acho que ela perdeu essa
capacidade de amar.
Era ao contrário,
me lembro do meu pai chegando em casa, correndo para aonde eu estivesse, me
levantando no ar, perguntando como tinha sido meu dia, tinha paciência de
escutar tudo que eu lhe contava. Depois ficávamos juntos, sempre. O amei pois foi o melhor pai que podia ter.
Outro talvez
dissesse esse filho não é meu, ou ter corrido para um médico para fazer um
exame de ADN, embora na época não existisse.
Me quis nada mal
ao me ver. Tinho uma foto dos dois, juntos, nessa época, era como se eu fosse a
miniatura dele, os dois rindo muito.
Quando fiz 10
anos, tirou férias fomos a Disneyland, nos divertimos muito, voltamos para casa
super cansado de tantas coisas que fizemos.
Quando voltamos
para San Francisco, eu ia a um bom colégio, nos finais de semana estávamos
sempre juntos, sempre tinha um programa para fazer.
Uma lastima que
não conheci meus avós, pois ele era muito apegado a sua mãe. Ela lhe deixou a casa, que ainda está lá.
Agora reencontrar
a Nena é o máximo, pois sei que ela me amou também, veja a alegria dela em me
ver. Mesmo meu tio, tudo que me lembro
dele, é no avião segurando minha mão, dizendo vai dar tudo certo, é um cara
legal, mas a mulher dele não encaixa aqui. Ou ele gosta muito dela, ou está com ela por
causa do filho.
Minha avó diz que
é raro ele ir até lá.
José soltou,
imagina um surfista dizer aos seus amigos, minha avó é mãe de Santo, iriam
olhar para ele diferente. Veja como todo
mundo olha, ela ali sentada, com esse tocado que representa alguma coisa que
não sei. Mas se algo lhes aperta o cu,
correm todos aos orixás para serem ajudados, isso diz meu pai.
Estou tão
contente de estamos juntos, que se não fosse pelo trabalho, eu ficaria aqui com
ele, contigo é claro.
Estavam
acostumados a andarem de mãos dadas em NYC, que nem perceberam o pessoal os
olhava.
Quando entraram
assim no restaurante, seu tio se matou de rir.
Pois tinha visto pelo vidro que as pessoas olhavam. Aqui dizem que são livre de preconceitos, mas
isso é o mesmo que contar uma mentira, todos tem todos os preconceitos
possíveis.
Sentaram-se ao
lado da sua avó, que lhes disse, já combinei tudo com o João, amanhã ele leva
vocês, vamos fazer uma cerimônia simples, colocas as cinzas de teu pai, no
Iroco, assim dentro de breve poderás vê-lo.
Só de imaginar
isso, ele ficou contente, depois vamos fazer uma firmeza para os dois, escutar
os Orixás, para saber com devem seguir a vida de vocês. Ok.
Seu tio ia
leva-la para casa, mas João disse que não se incomodava em leva-la, assim iam
conversando mais.
Ele a ajudou a
entrar no carro, ela disse que gostava mais deste do João, não era como os dos
filhos cheio de nove horas.
No dia seguinte,
foram para a casa da vó Nena, só estavam ela, bem como a Yao, com tudo
preparado. Os dois tomaram um banho de
ervas, depois ela jogou para cada um em separado, lhe disse ao seu neto, que
seu Karma era grande, pois tinha todos os guias lhe esperando desde criança,
mas tu sabes o quanto isso é sacrificado, eu não tenho uma casa de santo, como
os outros, essa casa sempre foi da minha família, esse Iroco esta ai, desde
antes de minha avó, sempre um da família seguiu o caminho, meus filhos não
estavam para isso, nem tem noção de nada.
Pensam que eu não
sei o que pensam disso tudo, me mágoa, mas respeito, mas quando as coisas
apertam correm para pedir alguma coisa.
Esse é o mal, as pessoas procuram ajudas, algumas querem um trabalho,
mas não um emprego, o número da loteria se vai sair, sempre procuram por
banalidades, por isso, minha mãe tinha casa de santo, mas a fechei, só atendo
quem eu quero. Nada de perder tempo, não tenho filhos de santo, apenas ajudo
quem eu acho que se ajuda.
Se um dia
resolveres o que fazer, seja como tu queiras, a única coisa que acho é que deves
pensar muito, tens tua vida lá. Essa é
uma outra vida.
Tens tempo para
pensar, não penso morrer tão rápido.
Quando jogou para
José, ficou olhando, tornou a jogar, chamou a Yao, lhe mandou preparar umas
coisas, que o ajudou a levar a casa de Exu, para lhe dar segurança. Lhe disse que ia aparecer o convite que tanto
esperava, mas que era muito perigoso, que sempre estivesse atento a sua
intuição, que se cuida-se muito, lembre-se disso, proteja-se ao máximo.
Foram os dois
embora, só se despediram de sua avô, ela disse que adorava receber uma carta
como antigamente, que quem tinha um celular era a Yao, lhe deu o número, sou
antiga meu filho, sou antiga.
Não tornou a ver
sua mãe, tampouco a procurou, pensou para que, é uma bela desconhecida.
Mal chegaram a
NYC, lhe esperava uma quantidade imensa de trabalho, muitos jovens tinham
mandado depois da entrevista na televisão, muito trabalho.
Mas era atento,
revisava um por um, lia, se chegava a 10 pagina, sem ter nada de interessante,
lia o final, se era igual de monótono, passava.
Mesmo assim,
chegou a ter 20 textos na mão.
Agora os analisou
profundamente, com um bloco ao lado, anotando coisas, só quando acabou o
primeiro é que marcou um dia com quem tinha mandado. O texto era interessante.
Era a visão de um
rapaz despreparado para a vida, que para fugir da mesmice, que vivia tinha
entrado para o exército, indo parar em Kandahar, as coisas não foram como ele
queria, viu muita merda, gente morta, crianças abandonadas, o grande império
americano, querendo impor uma nova uma visão a um povo apegado a tradição.
Voltou ferido,
menos mal que tinha uma família para o apoiar, escrever era sua maneira de se
colocar para fora.
Ficou
impressionando com sua juventude, era de uma das cidades perto de Boston, o
interessante era que falava português, institivamente, pegou sua mão, começou a
falar, tiveste sorte, tens um protetor muito grande Exu Bara, te cuida.
Os olhos do outro
eram imensos, como ele sabia dessas coisas.
Ele era filho de um brasileiro, com uma portuguesa, que tinham vindo
para melhorar sua vida na américa.
O nome era
curioso Osiris Dutra, achou graça, pois sentia afinidade com ele. Falou com ele
do seu texto, foi mostrando tudo que tinha anotado, pediu para a secretária
tirar uma copia destas anotações passou para ele, pediu que as fizesse, que
voltasse.
Seguiu seu
trabalho, José finalmente conseguiu o que queria, que o mandasse fazer
reportagem pelo mundo, voltava morto de saudades, estava na Grécia fazendo uma
reportagem, quando pediram que fosse cobrir uns acontecimentos no Afeganistão,
apenas avisou o Carlos, com medo que ia dizer para não ir, disse que tinha uma
nova missão, só escutou, cuidado.
O coração do
Carlos ficou apertado, esperando notícias, embora ele tivesse falado, que quase
não poderia se comunicar.
Estava
preocupado, ao menor toque do telefone, ficava tenso. Mas graças ao trabalho,
conseguia se distrair. Trabalhava mais
do que antes.
Estava atendendo
justamente o Osiris Dutra, quando do jornal lhe chamaram dizendo que ele tinha
sido ferido, que estava em estado grave, que o tinha levado a um hospital
militar na Alemanha.
Avisou o João,
como tinha contatos, este procurou se informar.
Mas no final do dia as notícias eram más, tinha falecido.
Ficou arrasado,
tinha uma carta dele, para saber o que fazer caso lhe acontecesse algo, queria
ser cremado, que suas cinzas fossem para o Brasil. Enquanto esperava isso, lhe surgiu outro
problema, sua madrasta, também tinha falecido.
Os parentes dela a enterraram, pensavam que a casa era dela, ficaram
furiosos quando souberam que não, que nada era dela.
Ele foi até, lá
para resolver a situação, foi necessário os retirar da casa, que ficou vazia
por dentro, na verdade ele não tinha nada que quisesse dali, deu ordem para o
advogado vender a mesma, deixou uma procuração com ele, para fazer isso, que
depois depositasse o dinheiro na sua conta.
Enquanto esperava
o corpo do Jose Aparício, mas seu pai, conseguiu que o liberassem direto para o
Brasil como ele queria.
Terminou esse
trabalho a muito custo, pediu uma licença no trabalho, pois queria estar lá
quando isso acontecesse.
João o esperava
no aeroporto, o abraçou, já tenho as cinzas, foi uma briga horrível com sua
mãe, menos mal que quando esteve aqui me deixou uma autorização que se alguma
coisa lhe acontecesse, queria ser cremado aqui, que eu fizesse a mesma coisa
que fizemos com teu pai, ele sempre tinha amado essa terra.
Foi em seguida
visitar sua avó, está o consolou, ficou de joelhos, com a cabeça nas suas
pernas, ela alisando seus cabelos.
Dias depois seu
advogado avisou que tinha vendido sua casa.
Era um bom dinheiro, para o Brasil era uma verdadeira fortuna. Nunca tinha tocado no dinheiro que seu pai
tinha deixado para ele, juntando os dois, era como se dizia no Brasil, um bom
pé de meia.
Foi dar uma
olhada no mercado brasileiro, conversou com vários editores, inclusive recebeu
ofertas. Depois foi participar como
convidado de um congresso sobre literatura, escutou muitas vezes a mesma coisa,
que os jovens não tinha oportunidade, era muito difícil alguém entrar.
Essa era sua
especialidade.
Um dia andando no
centro da cidade, com o João, viu uma coisa que pensou que nem existia mais,
uma livraria de sebo. Livros velhos, foi
selecionando o que queria, coisas que nunca tinha lido. Ficou conversando com o dono do lugar, pois
este pensava em fechar em breve, o pessoal não lê, o proprietário vai dividir o
local em dois. Nisso chegava o
proprietário, por sinal conhecido do João, conversou com ele, o outro local,
será uma parte desse, mais a parte de cima.
Foram olhar, ele ficou imaginando como podia ser, uma pequena editora,
com uma livraria pequena, moderna embaixo.
Nesses dias
seguintes, passou o tempo todo na casa de sua avô, pensou muito na vida, valia
a pena tentar, conversou com os Orixás, todos disseram que daria certo, ela
sorria.
Foi lhe ensinando
o Yoruba, embora era a língua que ele falava com os amigos da árvore, estava
dentro dele enraizado tudo isso. Era só
como um desabrochar.
Tomou a decisão,
pediu para o João para marcar um encontro com o homem, esse disse que sentia
muito, como não tinha falado nada, tinha alugado já. Mas falou de um outro local que tinha em
Ipanema, era menor, mas muito jeitoso.
Foi dar uma
olhada, era um dos poucos edifícios antigos, precisava de uma reforma, tinha
muito comercio por perto, era uma loja estreita, bem como o andar de cima que
era um apartamento, disse o preço que queria, ele fez as contas, achava o
local, interessante. Disse se o senhor
espera, vou pedir para o João que conhece todo mundo se pode me ajudar.
Ele foi franco,
meu filho, ter você por perto é ótimo, me lembro do meu filho, como te
considero como tal. Arrumou uma
empresa, que olharam tudo, iriam troca encanamento, toda a fiação elétrica, lhe
deram dois meses de prazo. Era o tempo
de ir a NYC, fechar o apartamento, pedir demissão da empresa, enfim, mudar sua
vida.
Separou as coisas
do José que não tinha tocado ainda, coisas que sabia que o João ia adorar ter
com ele. As suas coisas, se tratavam de livros, textos dele mesmo, para
trabalhar, bem como ideias anotadas ao longo dos anos.
Preparou tudo,
conseguiu um transporte, iria demorar para chegar, mas não importava, na
empresa fizeram uma festa de despedida para ele. Por um acaso se topou com o Osiris, esse
agradeceu, seu livro era um sucesso.
Contou que ia para o Brasil, ia abrir uma pequena editora aberta a
jovens escritores, bem como uma pequena livraria.
Este lhe abraçou
desejando sorte, me mande seu endereço, quem sabe um dia apareço.
Foi embora, o
apartamento de cima, não era grande, montou uma sala para trabalhar, bem como
receber as pessoas, o apartamento tinha dois banheiros, um ele reservou para
ele, colocou uma porta no corredor, assim separava o seu apartamento do resto.
Quando ficou
pronto, começou a trabalhar, foi a sebo, comprou todos os livros que viu
interessantes, na placa em cima da porta colocou, Editor Alvarenga Smith,
edição de livros, livraria.
Sua editora de
NYC, lhe tinha dado uma quantidade de títulos, aos quais tinha propriedade
literária, para poder traduzir, editar no Brasil.
Partiu disso, ele
conseguiu através de um editor que tinha conhecido, uma boa tradutora, lhe deu
os livros, para ela começar a trabalhar, depois ele revisava. A
livraria apesar de pequena era confortável, num canto colocou duas poltronas
antigas, daquelas que se olha, pensa em seguida, que conforto, no balcão tinha
uma parte em que ele podia trabalhar.
A principio
queria ficar sozinho, recebeu títulos em inglês de sua antiga editora, que
sabiam que faziam sucesso, alguns que ele mesmo tinha feito a edição.
Comprou uns
poucos moveis, nunca tinha gostado de casas cheias de coisas.
A inauguração foi
uma coisa, simples, trouxe sua avô antes para olhar e bendizer o local, nada
mais, nesse dia mostrou aos dois como ia viver, trabalhar.
Vai dar tudo
certo meu filho. Ele agora ia nos finais de semana para Pilares, ficava
recolhido, aprendeu a jogar os búzios com os Orixás, pois sua avó dizia que se
ele podia escutar os mesmo, nem precisava de muita coisa, que o mais importante
era sua intuição.
Ao princípio
muita gente entrava para olhar, ele explicava que com o tempo teria novos
escritores, pois pensava em seguir seu trabalho, mostrava os livros que tinha
feito ele o trabalho, um dia conversou com uma mulher muito interessada, ela
lhe perguntou se podia fazer uma reportagem com ele, assim ajudava a divulgar,
selecionou com ela dois títulos pelo que ela tinha dito, que gostaria de ler.
Deu a entrevista
para ela, tinha um programa de televisão, vieram filmar uma outra entrevista na
própria livraria, falou do livro que tinha escrito, dos jovens que tinha
lançado, inclusive comentou do último, que tinha na livraria o do Osiris Dutra,
um jovem americano, mas de pai brasileiro, mãe portuguesa.
Estava aberto que
os jovens mandassem trabalho.
Um dia estava
ali, trabalhando, um senhor com os cabelos imensos prateados, muito queimado do
sol, se apresentou, Humberto Costa, vi tua entrevista, mas não sei se posso me
classificar no que disseste, pois não sou jovem. Acabo de me aposentar, meu sonho era, ficar
fazendo surf, mas me sobram horas, comecei a escrever, gostaria dentro do
possível que o senhor olhasse alguns textos que tenho. Tinha agora um garoto que ficava na livraria
para ele poder atender alguém. Subiu com
o senhor, teve um bate papo com ele, no final lhe disse, me traz o texto,
explicou como trabalhava, olharei o mesmo, numa caderneta a parte faço as
anotações do que vou encontrando, mas tenho que arrumar alguém que faça as
correções em português, pois vivi muitos anos fora, não sei gramática.
Nisso eu posso
ajudar, fui professor de português a vida inteira, daí minha ideia de escrever.
Marcaram para o
dia seguinte que ele trouxesse o texto.
Tinha pensado em
colocar uma banca do lado de fora da livraria, mas seus vizinhos disseram que
nem pensar, vão roubar, ele não podia acreditar.
Quando comentou
isso com o Humberto, esse disse que realmente podia acontecer.
Leu seu texto de
uma vez só, era interessante, a vida de um homem, que viveu sempre voltado para
si mesmo, seus livros, para seus momentos de prazer, fazendo surf, sem ter que
ter conversas superficiais, mas que agora esbarrava que não encaixava em muitos
lugares, o texto era excelente, inclusive, falava de suas experiências sexuais
falidas, o aprender a conviver com a solidão.
Tinha pensado
para as edições suas, um logo, uma marca em que se cruzava new/novo.
Conseguiu como
sempre através do João um jovem para fazer a programação visual do livro, lhe
explicou o que queria, lá foi com o João, buscar uma gráfica que fizesse esse
tipo de trabalho, seu conhecido editor que já tinha ido duas vezes a livraria,
comprar livros americanos, lhe recomendou uma, disse que eles sempre lhe
atendiam, quando a gráfica que usava estava cheia demais de trabalho.
Realmente o
sujeito o atendeu bem, soltou eu te conheço, te vi na quadra da Caprichosos,
nunca pude esquecer tua cara, com esses cabelos vermelhos, essas sardas. Conhecia também sua avó, seu tio.
Claro, você me
diz o que quer, posso te atender.
Não quero a princípio
uma grande edição, quero começar trabalhando pequeno, tenho que conseguir
alguém para distribuir os livros.
Quando o mesmo
ficou pronto, entrou em contato com a jornalista, que fez uma matéria sobre o
livro, entrevistando o Humberto. Depois
no seu programa convidou os dois.
Logo algumas
livrarias se interessaram no título.
Começaram a chegar mais textos, ele fazia como sempre, lia, se lhe
interessava, chamava a pessoa, senão, como lhe faltava uma secretária para
fazer isso, ele mesmo escrevia a pessoa, que devia fazer um curso de escritura,
para poder se expressar melhor, se quisesse também podia marcar uma hora para
conversar com ele.
João se
interessou, em ir pelas livrarias, levando livros para divulgar, oferecia o
livro do Humberto, bem como livros em inglês, como tinha essa facilidade em se
comunicar com as pessoas, dava certo.
Me salvaste dizia, estava de saco cheio da minha vida, fui salvo por ti.
As vezes
almoçavam os dois, sem querer falavam no José, conseguiu que mandassem o seu
livro.
Agora tinha seu
tempo ocupado, um sábado que estava ali na porta, colocou uma banca com
livros. Ficou quieto, chegou um garoto,
foi olhando, um a um, de alguns títulos ria, outros abria para ver o que era o
assunto. Abriu tranquilamente a mochila, enfiando os livros, não tinha visto que
ele estava ali. Se aproximou, lhe segurou pelo cotovelo, o senhor quer me
acompanhar dentro para pagar. O garoto
que era negro, ficou branco.
Não tenho
dinheiro, mas gosto muito de ler. Mas nunca tenho dinheiro, se posso roubar um
ou dois, fico contente, pois sou capaz de ler e reler os mesmos muitas vezes.
Ficou olhando
para o mesmo, perguntou se estudava. Sim
mas a escola é fraca, me aborreço, sempre tiro as melhores notas, vivo com
minha avó, meus pais sumiram no mundo.
O fez entrar,
disse ao rapaz que ficava no caixa, que ia subir com esse jovem.
Tinha achado
interessante, pois ele tinha escolhido títulos em inglês, lhe perguntou se
sabia ler em inglês. Procuro ler o
máximo, riu quando ele disse, que passava por esses hotéis internacionais, que sempre
tinha jornais antigos em inglês, o tirava do lixo, os levava para casa, para
estudar. Procuro fazer a tradução.
Ele pegou seu
livro que estava ali, leve este, me traz a tradução, se o fizer bem te pago o
que mesmo que pago a uma tradutora.
Não vais me
denunciar?
Não, pois se
gostas de ler, já verei se posso te aproveitar.
Quando quiseres livro, me dizes, tenho muitos, eu era editor numa grande
empresa em NYC, agora estou lançando livros aqui.
Sentiu que falava
com o garoto, como seu pai falava com ele.
Sim senhor, posso
trazer alguma coisa que escrevi, as vezes por exercícios, quando as ideias são
boas, escrevo um conto.
Claro estou aqui
para isso, em momento algum, abriu a mochila para tirar os livros que ele tinha
guardado, foi ele mesmo que tirou, dizendo se ganho dinheiro com o senhor,
poderei comprar.
Lhe deu um
dinheiro adiantado pelo trabalho, o sorriso do garoto era imenso. Estendeu a
mão, dizendo seu nome, eu vivo aqui na favela, meu nome é Antenor da Silva,
como todos os brasileiros que não têm eira nem beira.
Riu muito com
ele, na segunda-feira apareceu com uma parte do livro traduzida, vinha com um
papel na mão, me esbarrei nessas duas frases que não fazem sentido ao serem
traduzidas.
Tirou da mochila,
o texto que tinha escrito, está a mão, porque não tenho outra maneira de
escrever. Subiram, ele foi até a parte
que era sua, trouxe uma máquina de escrever, uma relíquia, disse que tinha sido
do seu pai, um dia te conto minha história.
Experimenta usar,
vê se consegue. Nisso chegava o João,
se via que tomava de amores pelo garoto. Os apresentou, João divulga os livros
que vou produzindo.
Conte tua
história para o João, é super boa gente.
Este lhe perguntou se sabia usar um laptop, disse que sim tinha
aprendido na escola.
Pois eu tenho um,
amanhã deixo aqui para ti, assim tens como escrever.
O sorriso do
garoto era imenso, iam almoçar, lhe perguntou se queria ir com eles?
Não avisei minha
avó, ela tem um celular velho, mas eu não tenho, só sei o número.
Use o meu, disse
o João.
Foi todo
contente, o rapaz da livraria, torceu o nariz, como dizendo o que faz esse
negrinho aqui.
Não gostou muito
do comportamento dele, já tinha visto fazer isso quando entrava algum negro na
livraria.
Comeram
conversando, na volta uma surpresa, encontrou a livraria fechada, a chave
estava com a vizinha, seu garoto se mandou, diz que prefere fazer surf a ficar
aqui. Depois passa para acertar o que o
senhor deve para ele.
Se o senhor
quiser, posso atender, quando não tenha movimento, vou fazendo a tradução.
Ele começou a ler
o texto do Antenor, lhe disse que qualquer problema o chamasse, ele
desceria. Da sua mesa, tinha uma central
ligada a câmera de vídeo, viu como ele era educado atendendo as pessoas.
Ao final da
tarde, apareceu uma senhora, ele desceu, entendeu que era a avó dele,
preocupada, se apresentou a senhora, desculpa pensei que ele tivesse avisado.
Sim me disse que
ia almoçar com o senhor, mas não que ia ficar trabalhando.
Está de férias,
não quero que se meta em confusão, pois podem me tirar a guarda dele.
Tinha ainda dois
meses de férias, o contratou, depois já se veria, se ele se saísse bem, poderia
trabalhar na parte da tarde.
Ele se virou para
avó dizendo que tinha atendido dois senhores, ingleses que se esqueceram de
trazer livros para lerem na praia, conversei com eles em inglês me sai bem pois
me elogiaram.
Convidou a
senhora para tomar um café ou um refrigerante ali ao lado, assim aproveitou
para conversar com ela. A senhora se
parece com minha avó, eu só a recuperei a pouco tempo.
Perguntou o que
ela fazia?
Eu limpo casas
por aqui, para ganhar a vida, manter o barraco. Esse menino é tudo que tenho,
seus pais desapareceram, o que foi melhor, pois caíram na droga. Nem sei se estão vivos ou mortos. Melhor mesmo é que não apareçam.
Ele é muito
inteligente, os professores dizem que a escola que está é muito fraca para ele.
A senhora poderia
me limpar a casa umas duas vezes por semana, assim estará ao par do que faz.
Nesse dia saiu
depois de fecharem a loja, foram a um shopping, lhe comprou umas calças,
camisetas, tênis, para ele trabalhar. Se
matou de rir quando ele disse, vou fazer o seguinte, guardo aqui, uso como
uniforme, porque senão os garotos da favela, vão pensar que roubei, não quero
dar essa impressão. Quero explicar que
no outro dia, os dois livros, eu ia levar para ler, depois devolver.
Ficaram discutindo
a melhor maneira de traduzir a frase que ele não tinha entendido, quando lhe
explicou o que queria dizer, que tinha a ver como uma relação sexual. Ele riu, é que ainda sou virgem, não sei nada
disso.
Nessa noite,
ficou lendo seu primeiro conto. Achou incrível, ele falava do estigma de ser um
filho de duas pessoas que tinha caído nas drogas. De como as pessoas o olhava, era como ser um
marciano. Tinha um linguajar muito próprio dele. Em alguns momentos riu dos comentários que
fazia. Mas no final estava chorando,
pois com tudo isso dizia, como posso sonhar com um futuro, se só me está
permitido viver o dia de hoje.
Falou com o João,
esse disse quero ler, deve ser interessante, o que eu gosto que ele é
respeitoso.
Amanhã, levo o
laptop.
Quando desceu no
dia seguinte, ele estava na porta esperando para abrir. Foi ao banheiro do local, trocou de roupa. Ainda soltou, ontem comprei um desodorante,
pois minha avó ainda usa leite de rosas, mas se transpiro fica um cheiro
horrível, se eu sinto, imagino os outros.
Lhe disse, li teu
primeiro conto.
A cara dele de
expectativa era interessante, esperando que ele falasse alguma coisa.
Gostei demais,
hoje me dedicarei a ler os outros.
Depois viu que o
João chegava, lhe passava o laptop. Que ele abraçava o mesmo, este subia.
Como sempre o
beijava na cabeça, como fazia com o José.
Lhe entregou o
texto do Antenor, quando olhou ele chorava.
Disse que
ajudaria o garoto em tudo que pudesse, eu só pude ajudar meu filho de longe.
Teriam que
conversar com a avó, apresentou a Maria Neves Silva ao João, os deixou
conversando na sua casa, seguiu trabalhando de vez em quando olhava o visor
para saber se estava tudo bem. Viu que
ele estava de costa, falando com uma pessoa no balcão aonde estavam os livros
das jovens promessas americanas.
Se distraiu outra
vez, quando o escutou pelo interfone que tinha uma pessoa procurando por ele na
livraria, se podia mandar subir. Pensou
que era algum autor, disse que sim, levou uma surpresa era o Osiris Dutra.
Este abriu os
braços, como a montanha não vai a Maomé, este vai a montanha, não sabia nada de
ti, perguntei na editora, a que foi tua secretária falou da livraria, que
fazias a mesma coisa aqui, então resolvi trazer meu novo livro para que de uma
olhada, mas vim só por isso, nada de segundas intenções.
Nisso saia o João
com a dona Maria, essa tinha lagrimas nos olhos, os apresentou, esse é um dos
meus meninos João, o apresentou, Osiris Dutra, embora americano, é filho de pai
brasileiro, mãe portuguesa, veio nos visitar.
Aonde estas
hospedado, emendou?
Num hotel em
Copacabana, olham admirados quando apresento passaporte americano, pois o
primeiro comentário é que tenho cara de brasileiro.
Se quiseres ficar
aqui em casa, será um prazer.
Como foi a
conversa João?
Convidei a dona Maria,
bem como o Antenor, para irem morar lá em casa, assim eles tem um lugar melhor
para viver, estive falando com ela, daqui um ano esse garoto precisa ir para a
universidade, que eu ajudarei em tudo que for possível.
Mas eu continuo
cuidado aqui da casa, seu Carlos.
Ele, riu, agora
toca falar com o Antenor. Os dois
desceram, ele contou mais ou menos para o Osiris do que se tratava.
Esse menino tem
talento, lhe deu a primeira história para ele ler.
O bom que amanhã
é sábado, fechamos mais cedo, assim posso te levar para conhecer minha avô,
depois te levo ao samba.
Quando desceram o
Antenor, chorava abraçado ao João.
Bom gente, amanhã
vamos comemorar isso, dona Maria, amanhã é dia de ir ver minha avô em Pilares,
porque vocês não vem juntos, assim depois comemoramos no samba.
No dia seguinte
dez minutos depois que tinham chegado, ele agora tinha um carro de segunda mão
que guardava numa garagem do edifício ao lado, Antenor ia colocar uma roupa
velha, ele disse que não, suba tome um banho, se vista com uma que não tenha
usado ainda, vamos de comemoração garoto.
Se via que ele
estava feliz.
Quando o João
chegou, estava feliz, só disse, depois quero falar contigo.
Foram em dois
carros, para não irem apertados, ele foi descrevendo para o Osiris, por aonde iam.
Perguntei ao meu pai, de onde ele era aqui no Rio, me disse que se tem família
pode ser lá pros lado da Ilha do Governador.
Iam falando em
português para ele se acostumar.
Ele comentou, eu
entrei falei com o Antenor, em inglês, se ele tinha um livro de um tal Osiris
Dutra, ele foi direto ao meu livro, disse que o tinha lido, que gostava muito,
ainda me soltou a conversa de vendedor, uma das jovens promessas da literatura
americana, espero um dia ser como ele.
Quase o abracei,
dizendo eu sou Osiris Dutra, mas aí ia estragar a surpresa.
Estou super feliz
de estares aqui.
Obrigado, se
achas que não incomodar fico em tua casa.
Imagina, será um
prazer, sabes o quanto gosto de conversar contigo.
Quando chegaram
sua avô, que ele tinha avisado, estava junto com a Yao, arrumando uma mesa para
o Lanche, de repente o Antenor tinha sumido, ele riu, mostrou aonde ele estava,
parado na frente do Iroco. Num dado
momento, ele abria os braços como se fosse abraçar alguém.
A dona Maria
começou a chorar, ele está abraçando meu marido, que o cuidou muito de pequeno.
Saíram todos, o
Osiris, ria, eu sonhei muitas vezes com essa gente toda.
Mais um que vê
tudo que a senhora tem aqui minha avó.
Ele foi render
sua homenagem ao Exu, este disse, estou trazendo para perto de ti, todas as
pessoas que te amam de verdade, não te quero sozinho.
Viu sua avó numa
larga conversa com dona Maria, esta só balançava a cabeça.
Antenor, estava
sentado num banco, conversando com alguém do Iroco, de vez em quando ria.
Osiris, lhe perguntou
se ele jogava os búzios.
Sim por quê?
Pergunte a eles o
que eu vim fazer aqui na verdade?
Eu não preciso,
Osiris, já sei que vieste por minha causa, nunca me esqueci de ti, inclusive
divulguei teu livro aqui.
Obrigado, então
sabes que vim, por que não posso te tirar da minha cabeça verdade?
Sim eu sei, mas
teremos tempo para nos acertarmos, fico contente de tua vinda, quando nos
conhecemos, foi num momento difícil, tiveste paciência, estiveste ao meu lado,
nunca esquecerei isso.
Mandou a Yao,
preparar um banho para ele, outro para o Antenor.
Quando ele veio
se sentar na frente dele, lhe disse, Antenor, mandei preparar um banho para ti,
pelo visto hoje não vamos ao samba.
Não importa,
porque não sou muito disso, dizem que sou doente do pé, pois não sei sambar.
Bom, vejo que
estas feliz?
Sim, o
interessante, é que a muito tempo sonho com esse senhor negro, ele sempre me
dizia, não se preocupe vai dar tudo certo, vais conhecer a pessoa que movera
tua vida.
Resulta que era o
senhor.
Antenor, deixa de
me chamar de senhor, não gosto muito disso. Para ti eu sou Carlos.
A Yao, disse que
já tinha o banho preparado, depois veio correndo, ele incorporou, mal coloquei
a primeira caneca com o banho nas suas costas.
Era interessante
ver aquele garoto completamente nu, saudando seus irmãos no Iroco, ele se
aproximou se identificou.
Eu sei quem eres,
vais ajudar meu garoto, verdade, eu sou amigo do teu Exu, ele disse que posso
confiar em ti.
O exu, abraçou
dona Maria, falou alguma coisa no ouvido dela, ela desatou a chorar ele a
consolando. Ele já sabia o que era, os
pais dele, tinham morrido já faz tempo, enterrados como indigentes, pois não
tinha documentação.
Avó Nena a
consolou, dizia, não vamos estragar a comemoração do teu neto.
Depois a coisa
ficou tranquila, ele sentou-se jogou para o Antenor, dizendo que a vida se
abria na frente dele, agora devia pensar que universidade queria fazer, devia
planejar seu futuro.
Disse que queria
ser jornalista, escritor, amava escrever desde garoto.
Espero que tua
avó me permita vir aqui sempre que possa, pois necessito desse contato com os
Orixás.
Quando jogou para
o Osiris, viu que realmente ele tinha vindo fazer, tinha uma pensão do
exército, queria experimentar viver no Brasil com ele. Mas realmente trazia um livro para ele ver.
Depois mais tarde
foram ao samba para o Osiris ver, tinha visto por vídeos na Internet, mas como
dizia, ao vivo era outra coisa.
Depois voltaram
para a casa da sua avô, já era tarde, ela ao se despedir disse que sua mãe
estava no Rio, sabia pelo filho, mas que com ela não tinha falado, ele só
soltou filha da puta.
Uma semana depois
apareceu na livraria, Antenor estava almoçando no andar de cima, dona Maria
agora deixava comida pronta para eles, era só esquentar.
Ela lhe estendeu
a mão como se fosse um beija mão, mas ele fingiu não ver. Foi super profissional, perguntou se ela
procurava um livro em concreto.
Perguntou se
tinha algum em francês, ele lhe indicou a banca, nisso o Ernesto desceu, ela
estava de costa, quando se voltou ele já não estava mais, esse disse que ele
tinha saído.
A cara de quem
não suporta que a contradigam era grande.
Fez uma série de
perguntas ao Antenor, que ele não soube responder, só dizia, a senhora tem que
fazer essas perguntas pessoalmente com o proprietário. Se via que ia embora contrariada.
Quando ele
desceu, depois de se relaxar, Ernesto lhe perguntou quem era essa louca que
saia fazendo perguntas particulares sobre você, perguntou inclusive se eu era
teu namorado.
Essa é minha mãe,
mas não se desculpe, ela é louca mesmo.
Contou a ele, que nunca tinha cuidado dele, primeiro sua avó, depois me
mandou para os Estados Unidos, para viver com meu pai, que nem sabia que eu
existia. Graças a Deus, me amou, me
educou, me protegeu até morrer.
Ela ao contrário,
se quando vim da primeira vez não a tivesse visto na casa de minha avó, se
cruzasse com ela na rua, ia dizer que mulata besta.
As coisas são
assim na vida meu amigo Antenor, temos que lutar para seguir em frente, gosto
de ti por isso, eres um batalhador.
Você gosta do
Osiris?
Sim, eu o lancei
no mercado, num momento difícil na minha vida particular, ele ao contrário saia
de um turbilhão, se você leu o livro entendeu o que passou.
Mas não temos
nada, hoje ele vai trazer seu texto novo, para que eu dê uma olhada. Mas creio que a vida dele é lá. Mas isso ainda vamos ver.
Ah o seu Humberto
Costa, telefonou marcando uma hora para amanhã, tem um texto novo, o livro dele
tem vendido bem. Outro dia o Jornal do
Brasil, fez uma matéria com ele, no dia seguinte tinha muita gente aqui
comprando o livro. Não sei se o senhor vai pedir mais, pois só temos um.
Fale com o João,
para ver se alguma livraria tem de sobra, ou então pedimos mais uma edição.
Quando o Osiris
chegou com sua bagagem, era pequena, lhe entregou primeiro o texto, disse que
ele podia dormir no sofá da sala, já tinha deixado roupa de cama ao lado.
Me deixe pelo
menos ler um capitulo.
Era interessante,
começava falado das coisas que aconteciam quando uma pessoa se torna conhecida,
pelas entrevistas, pelos jornais, os que lhe pedem autografo num livro, mas
notas que continuas sozinho, essa sensação de vazio, isso o faz ir a sua
infância, pois com a ausência dos pais que estão sempre trabalhando, sente
sempre essa sensação, que está sozinho, mesmo durante o período que está no
exército, fala de estar cercado de muita gente, mas que continuas só, do medo
de se acostumar na solidão.
Ele como
experiência tinha escrito em português, quando levantou a vista do texto, ele
estava sentado na sua frente.
Bom, muito
interessante o assunto, acredito que muita gente se sente assim.
Te sentes só tu
também.
Na verdade não
Osiris, se leste meu livro, me sentia só com relação ao amor, até que conheci o
José, ele foi meu grande amor. Me completou, foi amigo, companheiro, não só de
cama, mas como de ideias. Acredito mesmo
que se estivesse vivo, estaria aqui.
Sentes falta
dele?
Claro que sim,
mas estou sempre tão ocupado, que nem me sobra tempo as vezes. Procuro dar atenção a todos que me cercam,
tenho certas obrigações com relação ao que faço.
Por exemplo
amanhã vem trazer seu novo texto, ao que foi meu primeiro escritor aqui, não é
jovem, mas era o primeiro livro dele.
Ele sempre viveu para si mesmo, aprendeu a conviver com a solidão por
não encaixar com as outras pessoas. Tem
uma cabeça fantástica, vais gostar dele.
No dia seguinte
quando o Humberto Costa chegou apresentou os dois, viu que o Osiris demonstrava
um certo ciúmes, pois não estava acostumado ao hábito das pessoas chegarem se
beijarem.
Já o Humberto
parecia enfeitiçado, estava encantado com o outro.
Entregou o texto,
ficaram falando, João tinha avisado que realmente o livro estava esgotado nas
livrarias que ele tinha vendido.
Temos que fazer
uma edição menor, por se vamos editar esse, queres o mesmo tipo de contrato?
Sim, com esse
fomos bem, foste super honesto nas contas comigo, fico tranquilo, comentou quem
faz essa parte é o João, pai do homem que amei na minha vida, o José Aparício.
Agora esta cuidado
da vida do rapaz da livraria, que estou acabando de revisar o livro, embora ele
seja um crânio, gostaria que revisas se a parte de ortografia, como já fizeste
antes para mim.
Tai Osiris,
quando acabe de ler teu texto, quero passar ao Humberto, pois ele foi professor
de português, ele sempre revisa os textos em termos de gramática.
Osiris concordou,
contou rapidamente sua história.
Ah já sei, li teu
livro, o Carlos me emprestou o livro, achei super interessante. É um assunto que a juventude daqui nem passa
por perto, estão cada vez mais superficiais.
Adoraria comentar contigo algumas coisas do livro.
Porque os dois
não vão almoçar juntos, assim podem falar à vontade. Sem querer estava empurrando o Osiris para o
Humberto. Sabia que gostava do
Osiris, mas não o amava, era isso que ele necessitava, sair de seu casulo. Sabia que ele não estava em seu futuro, já
tinha visto isso quando o Exu falou com ele.
Seguiu fazendo
uma coisa que gostava de fazer, ler um capitulo depois anotar, passar para
outro livro, como criando uma distância.
Só quando relia totalmente o texto, era quando tinha acabado de revisar
tudo.
Tinha acabado o
do Antenor, ia entregar ao Humberto, desceu para falar com ele, para que
consentisse que desse uma olhada no livro em termos de gramática.
Deu de cara com
sua mãe, que estava ali outra vez. Disse
a ela que o esperasse no café ao lado, que já iria tinha que resolver uma coisa
antes.
Falou com o
Antenor, explicou o fato do Humberto, fazer as correções ortográficas, sabes
que não tenho conhecimento suficiente do português para isso.
Embora eu tenha
tido todo cuidado do mundo, as vezes a emoção confunde a cabeça da gente.
Claro, deixa aqui o envelope, se for o caso, que eles cheguem antes do senhor,
eu entrego.
Foi se sentar com
a mãe. Ela estava rígida na cadeira,
tinha vontade de lhe dizer que se relaxasse.
Perguntou o que
queria diretamente, pois era a segunda vez que o procurava.
Queria falar
contigo, preciso te conhecer, para saber quem eres.
Ele riu, não
achas um pouco tarde, eu não sinto nada pela senhora, mesmo a segunda esposa de
meu pai, foi mais minha mãe que a senhora.
Queria te
convidar para um jantar na minha casa, pode ser interessante para ti, tenho
amigos editores de livros aqui, em vez de fazer como o fazes pode fazê-lo em
grande.
Sinto mas me
interessa justamente fazer à minha maneira, ela tinha citado os nomes, ele
disse que já os conhecia, um deles com quem se falava sempre, trocando ideias,
o tinha convidado para trabalhar.
Veja, não preciso
de dinheiro, tenho o suficiente para seguir em frente, depois o salário que ele
oferece é uma miséria, nem pensar.
Prefiro minha liberdade.
Eu só queria
ajudar, nada mais, além de poder te apresentar pessoas importantes da sociedade
daqui, que podem ter serem úteis.
Talvez para tua
próxima temporada. No momento não, uma
pergunta particular, a senhora já foi visitar tua mãe?
Não, ainda não.
Porque eres tão
filha da puta, porque não apresenta tua mãe negra aos teus amigos, tenho certeza
de que se encantaram com ela. É uma
mulher inteligente, sabe se comportar, conversar sobre qualquer assunto.
Bom já nos
falamos, abriu uma bolsa Chanel, entregou um cartão pessoal, com seu número de
celular, frisou que só se levantava depois da uma da tarde.
Ia pagar a conta,
mas ele o fez, ela estendeu a mão, mas ele como sempre fez que não viu.
Que porra de mãe
era essa que estende a mão para seu filho, como se fosse um belo desconhecido,
começou a rir, não podia parar.
O que foi
perguntou ela?
Ele respondeu,
mas da maneira que tinha pensado, que porra de mãe é essa?
Ela ficou
totalmente sem graça, foi embora.
Ligou para a Yao,
pois só ela tinha um celular, esta passou para sua avó, comentou o que tinha
acontecido, o que lhe tinha dito.
Ela se matou de
rir, você é pior do que eu, eu engulo os sapos, mas tu falas.
Teu tio apareceu
aqui hoje, vai se divorciar, pois tem outra mulher, a americana, quer que o
filho vá com ela, ele não quer. A merda
é que teu tio, prefere que o filho vá com sua mulher para começar uma nova
vida.
Ele tinha o
telefone do restaurante. Ligou para lá,
perguntou pelo primo.
Este atendeu o
telefone, ele se identificou, sei que estás num mal momento, se quiseres falar
com alguém, lhe deu endereço, podes vir falar comigo.
Ele agradeceu,
pensei em ir conversar com nossa avó, mas acho que essas merdas da família, são
demais para ela.
Pois foi ela quem
me comentou, estou ao teu dispor.
Ah, soube que o
rapaz que te acompanhava da outra vez morreu, sinto muito, deve ser uma merda
perder alguém.
Era a primeira
pessoa além de sua avó que falava com ele do José. Sua mãe, nem tinha
perguntado como ele ia nada disso, seu tio tampouco tinha falado com ele esse
tempo todo.
Te espero. Cuide-se, mas só te lembres de uma coisa, a
vida deles é deles, tens que pensar na tua.
Voltou para a
livraria, estavam os três conversando, brincando soltou, o gato sai, as
ratazanas fazem as festa, viu que os dois se davam bem.
Osiris disse que
ia a praia com o Humberto. Subiu para
trocar de roupa.
Humberto se
afastou com ele, perguntando se os dois tinham alguma coisa.
Não, sou seu
editor, amigo, nada mais.
Ah, fez o
Humberto.
Quando ficou
sozinho com o Antenor, este soltou, era um puto observador, assim fazes com
teus romances, se livra empurrando para outra pessoa.
Primeiro Antenor,
o Osiris não tem nada de romance comigo, nem eu com ele, se te interessa saber
nunca fiz sexo com ele, aliás desde a morte do José, nunca fiz sexo com
ninguém. Ok.
Desculpe, fui
intrometido.
Que tal a
conversa com tua mãe?
Difícil como sempre,
creio que fui educado de uma maneira, que fica difícil entender a cabeça dela,
essa vergonha que tem de sua mãe, de querer esconder o passado.
Meu pai dizia,
que temos como umas caixas que vamos guardando as coisas, num dado momento de
nossa vida, essas caixas como que explodem, atirando todos o que escondemos, no
chão, aí tens que recolher tudo, digerir isso, para poder seguir em frente.
Sabe minha avó me
contou que os orixás disseram que meus pais foram enterrados como indigentes,
por não terem documentos. O João está
sendo o pai que nunca tive, disse que ia tentar encontrar aonde estão, para
lhes dar um tumulo direito.
Já conversei com
ele a respeito, me disse que não devo ter vergonha disso, que a vida é assim,
me contou sua vida, a separação do filho, o quanto lhe doía isso, o dia que
apareceu aqui contigo, que ele tinha mais um filho. A perda do filho, mas que tu, esta como o
outro filho dele.
Vê, como é, as
vezes é assim.
Eu fui
imensamente feliz com meu pai, imagina eu morto de medo, uma criança de 3 anos
de idade, mas quando o vi, ele era igual a mim, cheio de sardas, cabelos
vermelhos, mais vermelhos do que os meus, me levantou no alto, ficou olhando
para minha cara, comecei a rir, tinha encontrado um porto seguro.
Como o que eu
encontrei aqui contigo, com o João, até minha avó está mais relaxada.
Já reparou que
agora ela vai ao cabelereiro, ele me tomou sobre as suas asas, as vezes brinco
com ele que é mais galinha que minha avó.
Entreguei o texto
para o Humberto, espero que ele goste.
Ele pode ser
surfista, mas foi professor, é uma pessoa especial, vais ver como gosta.
Nisso entrava uma
jovem que estava a um tempo olhando pela vitrine, era negra, com um cabelo
Black Power.
Perguntou pelo
editor, ele se apresentou. Ela estendeu
a mão, com um sorriso imenso, sou uma tonta, se o vi na televisão, estava do
lado de fora tomando coragem para entrar, pois as duas editoras que apresentei
meu texto, nem passei da secretária.
Uma pensou que eu inclusive vinha pelo trabalho de copeira.
Joana Dutra, podemos
falar.
Antenor, qualquer
coisa estou no escritório.
Subiram, o que me
fez tomar a decisão de entrar, foi ver como o senhor tratava o rapaz, sem
problema nenhum.
Ele riu, não se
preocupe, minha avó que amo muito, é negra, minha mãe mulata, meu pai sim era
branco, americano, cheio de sardas como eu, com os cabelos mais vermelhos, os
meus só ficam iguais ao seu, se vou muito a praia.
Eu li os livros
que o senhor editou.
Ele corrigiu,
podes me chamar de Humberto, quando duas pessoas podem virem a trabalhar juntas
o melhor é retirar os formalismo do meio.
Ela sorriu
timidamente.
Me fale de ti
Joana.
Sou formada em
filologia, trabalho de professora, amo os livros, trabalho com crianças com
síndrome de Down, tenho vários textos, mas este é o que acho mais completo.
Gosto muito do
primeiro, que saiu numa explosão minha. Trouxe os dois, assim você pode ler.
Ele comentou como
trabalhava, a porcentagem que ganhava, o trabalho que fazia.
Agora estou em
finalização de edição do livro do rapaz que trabalha na livraria.
Estou lendo um
texto que um amigo me trouxe dos Estados Unidos, tenho o novo do Humberto
Costa, em seguida leio os teus. Não se
preocupe porque sou rápido.
Trocaram cartões
com os números de celular. A acompanhou
até a porta, viu o sorriso que dava para o Antenor.
João passou para
falar com ele, pois tinha mais dois livros esgotados, como iam fazer, pois as
livrarias estavam pedindo mais. Descobri
que estão anunciando em suas páginas de internet, o que lhes dá um bom lucro, creio
que devias fazer o mesmo.
Buscar alguém que
crie uma página para ti.
Isso farei mais a
frente, imagina, tenho agora o texto do Osiris, do Humberto Costa, dois dessa
garota com quem acabaste de cruzar.
Tenho que me
dedicar mais horas com isso, menos mal que tenho o Antenor na loja, tu se
encarregando das vendas, enfim, temos que ir tocando, essas livrarias que têm
esse sistema são grandes, mas ainda não estou maduro para isso.
Sempre com os pés
no chão, subiram para ver as contas, comentou com o João sobre o encontro com
tua mãe.
Outro dia me
passou o mesmo, a mãe do José me telefonou, imagina depois de todos esses anos
sem falar comigo, me disse que se sentia perdida, o filho a muito tinha
escapado dela, indo viver contigo, nunca gostou da ideia dele fazer jornalismo.
Agora não sabe o
que fazer de sua vida, está aposentada, sem ter o que fazer.
Muito ao final,
perguntou como eu ia, sem falar nenhuma mentira, disse que tinha uma nova
família, escolhida por mim, mas não entrei em detalhes.
Ela amargou muito
minha vida, mas tampouco vou ficar fazendo acusações, eu devia ter percebido
que ela no fundo tinha vergonha de ter um relacionamento com um simples
funcionário, nem sei afinal por que teve um romance comigo. Me deu um filho
maravilhoso isso sim, mas que perdemos os dois.
Como vão as
coisas como Osiris.
Riu, contou para
ele, o Antenor diz que eu empurrei o embrulho para a frente. Mas a verdade João é que não esqueci
totalmente o José, nem posso, ele foi o melhor da minha vida. Não vou ficar enganando ninguém dizendo que
amo, quando não é verdade.
Estas certo,
conte sempre comigo, eres como outro filho que tenho, sabes disso.
Depois ficou
lendo por curiosidade o texto do Osiris, foi anotando coisas, para depois
passar para ele.
Pegou o primeiro
livro da Joana, ficou como que enfeitiçado, quando viu já estava na última
página, nem tinha levantado a cabeça, quando olhou no monitor, Osiris com
Humberto estavam conversando com o Antenor.
Desceu, desculpem
mas fiquei enfeitiçado com um livro.
Viu que Osiris
estava já vestido, subi, te vi mergulhado no livro no quis incomodar. Estávamos te esperando para ir jantar.
Ia tirar o corpo
fora, mas resolveu ir, assim enfrentaria mais uma situação, eles tinham
convidado o Antenor também.
Foram a um dos
bares da Farme de Amoedo, ficaram conversando, Osiris dizendo que tinha ficado
apaixonado pela praia, Humberto se dispôs a me ensinar a fazer surf.
Inclusive o
convidei para ficar na minha casa, mas tem medo a te ofender, pois ofereceste a
tua.
Nada disso, faça
como achar melhor, eu estou sempre trabalhando.
Humberto disse
que já tinha lido o primeiro capítulo do livro do Antenor, não encontrei nenhum
erro, hoje de noite leio o resto.
Se puderes vir
amanhã Osiris, já sabes como sou, fiz algumas anotações do teu livro.
A conversa caiu
sobre escritores que o Humberto gostava, americanos, viu que o Antenor, ia
anotando, ele riu, não se preocupe te empresto, assim podes ler, depois
comentamos.
A velada foi
ótima, quando chegaram de novo em casa, Osiris pegou suas coisas, olhou sério
para ele, entendi, entre nós a coisa fica impossível. Com o Humberto, sinto uma atração diferente
quero experimentar, se não der certo tudo bem.
Eu odiaria ir
para a cama contigo, sabendo que espera algo mais, ainda não estou pronto para
dizer a ninguém que o amo. A ferida
ainda está aberta, com o trabalho vai sanando, mas dói demais.
Os ficou vendo
caminhar juntos, viu que entre eles nasceria um vínculo forte.
Ficou até tarde lendo
o segundo livro da Joana, não era tão forte como o primeiro, foi anotando o que
poderia tornar o livro tão bom como o primeiro.
Ela tinha um
poder, que parecia enfeitiçar ao ler.
O primeiro falava
dos jovens que procuram na política, uma maneira de se encaixarem na sociedade,
principalmente sendo negros, o pior é descobrir toda uma manobra que está por
detrás disso, que na verdade nada é o que se diz, o que se proclama aos quatro
ventos. Mas o pior é o depois, a
desconfiança, o desprezo que sofre dos amigos, por não concordar com as ideias.
Era um tema super
atual, o segundo era mais a luta diária com o sistema, pelo rechaço aos
portadores de síndrome de Dow, as perguntas difíceis de responder, aos mesmo,
que porque a sociedade não quer nada com eles.
O envolvimento
nos problema dos mesmos, a dificuldade das famílias, para que os próprio
parente aceite a criança, não as tratando como uns coitados. A preocupação dos pais, o que acontecerá com
meu filho, se morro.
Gostava dos dois,
embora no segundo, em alguns momentos faltasse força do primeiro.
Despertou deitado
em cima da mesa, com os papeis espalhados, era o celular.
Antenor
preocupado com porque a porta estava fechada, se tinha acontecido alguma coisa
com ele.
Tens que ter uma
chave para abrir a loja.
Que tal o livro
da Joana, lhe passou o primeiro que ele lesse, queria sua opinião, o via
inteligente demais, para não ter uma ideia do assunto.
Acabou as
anotações do segundo com uma caneca de café na mão, só depois então foi tomar
banho.
Falou com sua avó logo de manhã, disse que sua mãe tinha ido, que tinha
reclamado dele, minha resposta foi “quem planta vento, colhe tempestade”.
Comentou com ela,
o que tinha lhe falado, sobre o aperto de mão.
Essa nunca tomará
jeito, diz que você deveria estar trabalhando para uma grande editora, não ter
a sua.
Sim me disse
isso, inclusive queria me colocar em contato com uma, que quis me contratar,
mas o salário é uma merda, tenho minha herança, que ainda nem toquei, não sei
se é isso que quer saber.
Avisou que iria
para sua casa no final de semana, falou do primo, mas que esse não tinha feito
contato.
Em seguida telefonou
para a Joana, marcaram quando ela saísse da escola, dava uma passada por lá.
Seguiu
trabalhando, para ele era muito importante isso, estar concentrado, se esquecia
do mundo.
De tarde o
Humberto veio com o Osiris, trazia o texto do Antenor, o elogiou, o único era
que tinha encontrado, se devia ao novo acordo da língua Portuguesa, que só os
mais jovens aprendiam.
Passou para o
Osiris, o texto já com o caderno de anotações do lado, em seguida pegarei o teu
Humberto.
Perguntou ao
Osiris se ele pensava em editar nos Estados Unidos, toca a escrever com o que
marquei para mandar para lá.
Falarei com eles,
ou pensas ir a NYC?
Um olhou para o
outro, riram, se o Humberto for comigo vou.
Esse riu soltou,
tenho que tirar o passaporte, comprar dólares, é o tempo de fazeres a correção.
No final de
semana foi para a casa da avó, Antenor, disse que subia no sábado no final do
dia com o João, além de sua mãe.
Era sexta-feira,
fazia um calor infernal, sua avó lhe disse que tinha uma senhora que queria
falar com ele. Se preparou a
consciência, tomou um bom banho de descarrego, foi cuidar das coisas do seu
exu, dos seus santos.
Quando esta,
entrou na lateral da casa, levava um garoto pela mão, ele se soltou, correu
para o Iroco, depois se virou para ele, soltou Baba, foi abraçar ele.
A cara da mulher
era de surpresa, por sinal era dessas mulatas de fechar o comercio, um corpo de
fazer inveja a muita jovem.
Ela já sabia quem
era, era por ela que seu tio estava apaixonado, a Yao, trouxe uma cadeira
dessas brancas, para ela se sentar, o garoto ficou colado a ele, tinha síndrome
de down.
Calmamente lhe
perguntou o que tinha visto na árvore, ele respondeu respirando fundo, esse
povo todo.
O abraçou,
inclusive sabia seu nome, muito bem Antônio.
Acho que vim no
lugar certo, me falaram de ti, sei que eres neto de dona Nena. Estou num apuro, por não saber o que fazer,
tenho que tomar uma decisão, mas está difícil.
Eu imagino que
sim.
Conta-me teu
ponto de vista.
Primeiro eu não
sabia que teu tio era casado, com filho adulto, nada disso. Quando me falou que estava pedindo o
divórcio, lhe disse para pensar, pois ele tem um patrimônio, que eu não quero
interferir.
Sou viúva, tenho
pensão do meu marido, que era do exército, ele era louco pelo seu filho, nunca
se incomodou que ele tivesse síndrome de Down, mas ao falar com teu tio, esse
não gostou muito, pensa em colocar o garoto para viver numa escola
particular. Sou contra, apesar de gostar
de teu tio, não vou abandonar meu filho.
Eu tampouco
abandonaria, disse sua avó da porta, é meu filho, mas te digo, nenhum dos dois
que tenho vale a pena.
O garoto correu
para ela, a enchendo de beijos.
Olá meu neto.
Pois fico
tranquila, o conheci um dia que umas amigas me levaram ao samba, aqui em
Pilares, eu sempre gostei.
Ele chamou a Yao,
lhe disse que preparasse um banho para o garoto, eu mesmo dou, outro para a
senhora, disse as ervas para cada um.
Ele tinha seu
jogo a pouco tempo, com coisas particulares que tinha ido juntando ao longo do
tempo. Se concentrou, sentiu as pedras,
os búzios dentro de sua mão falando, o que devia fazer antes. Fechou os olhos, começou a cantar em Yorubá,
a música que tinha em sua cabeça.
Ela
imediatamente, caiu para a frente.
Ele se levantou,
colocou a mão em sua cabeça, ela incorporou uma Oxum, está foi lhe falando, que
tinha sido ela que a tinha feito vir aqui falar com ele. Esse homem não vale a pena, ela leva muito
tempo dedicada ao garoto, por isso se encantou que um homem lhe desse atenção,
mas não sabe se gosta dele de verdade.
Não tem firmeza
de cabeça, pois quando começou a frequentar um terreiro, se casou, o marido não
gostava. Teve forças para seguir em
frente, é uma mulher batalhadora.
Ele colocou a mão
na cabeça dela, a Oxum se despediu agradecendo, pois sabia que ele faria o
melhor.
Sua avô, junto
com a Yao, a levaram para tomar seu banho, ele levou o Antonio, ria muito ele,
mas lhe disse, agora feche os olhos, pense no que queres mais na vida. O menino obedeceu.
Queria estudar,
ser alguém. Ele o ajudaria.
Lhe deu uma
toalha disse como devia se secar.
Depois se
sentaram outra vez. Ele deixou o Exu
falar por sua boca, disse a ela, tens uma tarefa difícil, deixe meu garoto te
ajudar. Ele sabe o que quer seu
filho. É um largo e duro caminho, pois
teu filho quer estudar, ser alguém na vida.
Ele fará todo que for possível.
Depois ficaram na
cozinha, ele perguntou se ele ia a uma escola, para os que tinham síndrome de
Down. Ela disse que não, o tinha
ensinado a falar ela, bem como ler, escrever.
Ele claro não
gosta de brincar com jogos nada disso, gosta de livros. Às vezes eu estou lendo um livro, o tira da
minhas mãos, lê um pedaço, diz que está fora da realidade, pois eu gosto de ler
romances.
Lhe contou que
tinha agora entre mãos, uma jovem escritora, que era professora justamente numa
escola, gostaria que conversasses com ela.
Abriu seu
celular, falou com a Joana, está lhe perguntou aonde estava, ele deu a direção,
ela riu, estou perto, pedirei um Uber, vou até aí, quero conhecer esse teu
outro lado.
Vais gostar é uma
jovem brilhante.
Quando Joana
chegou, foi como uma festa, a deixou conversando com o Antônio, que estava
encantado com ela, enquanto isso ficou conversando com Lourdes, essa
basicamente contou a vida dela para ele, embora soubesse, escutou.
Lá pelas tantas
escutaram alguém dizendo, o que faz esse garoto aqui. Porra era seu tio, imediatamente entendeu, o
tinham feito vir para nesse momento Lourdes estar protegida dele.
Ficou uma fera,
como ela fazia isso pelas costas dele, se ele quisesse que conhecesse sua
família a tinha trazido ali.
A primeira coisa
que fez Carlos, foi abaixar sua crista de galo, dizendo ao ouvido dele, cuidado
que conto teus segredos, o olhou desconfiado, foi abaixando a voz.
Primeiro seja
educado meu filho, bom dia, como estás, está é a Lourdes, seu filho Antônio,
Joana, se diz bom dia quando se chega a algum lugar, senão vão pensar que tua
mãe nunca te educou.
Ele ficou
totalmente sem graça, murmurou um Bom Dia, geral, depois se sentou numa cadeira,
bufando.
Lourdes, tomou
coragem, vim consultar os Orixás, com respeito a tua proposta de me casar
contigo, mas sem querer descobri que tudo não passa de uma balela, pois não
podes fazer isso, sem perder metade de teu patrimônio. Entendi por que finalmente adia tanto esse
encontro com tua família.
Quem te disse
isso, foi meu sobrinho, é um farsante, começou a levantar a voz outra vez,
soltando um ingrato, que nem respeita sua mãe.
Talvez tenha
seguido seu conselho, porque tu tampouco respeita a tua.
Nisso o Exu,
apareceu, puxou uma cadeira perto dele, começou a contar todas as coisas que
ele tinha escondido, um outro filho, com outra mulher, seus negócios sujos,
motivos pelos quais não podia divorciar, pois sua mulher sabia de tudo, o
restaurante era uma fachada, detrás o qual ele se escondia. Por isso tinha passado a administração para o
filho.
Falou com as
pessoas com quem ele estava metido, o que ele pensava em fazer com o filho da
Lourdes, para não lhe atrapalhar seu romance.
A cara dele era
de fúria, não estava acostumado a que lhe dissessem na cara tudo isso. Darei a
dica a teu sobrinho, que mande investigar tua vida, no momento que ele toque em
seu nome nos Estados Unidos, a Interpol bem como o FBI ou a CIA, vão aparecer
aqui. Por isso deixa de fazer papel de
ofendido.
Se fosse você
dizia adeus a todo mundo, desaparecia por um bom tempo, mas cuidado, muito
cuidado, pois tudo pode acontecer, depois avise a tua irmã, que também tenha
cuidado, sei o que está tramando, está arruinada, quer dinheiro, mas ainda não
se atreveu a pedir.
Ele se levantou,
disse adeus, saiu de fininho.
Nena, tinha
lagrimas nos olhos, pois tinha entendido tudo.
Ainda por cima
isso, um traficante de armas, misturado com a pior espécie de gente. Fazes bem em não aceitar minha filha.
Lourdes tinha
contado, que mesmo tendo uma pensão de viúva, tinha trabalho, costuro em casa
para uma fábrica de roupas, nunca estou parada, assim posso estar perto dele.
Antônio ao ver
que sua mãe tinha chorado, veio limpar suas lagrimas.
Acho melhor ficar
uns dias na minha casa, ele não saberá que estás lá, depois tem mais gente na
loja.
Joana que estava
calada, falou, impressionante, agora entendi as coisas que me disseste na
livraria.
Bom, tenho que te
falar que adorei os dois livros, depois verás que tenho já os dois lidos, que
quero falar contigo, mas primeiro vamos te preparar para o que vem pela frente.
Começou a rir,
tua mãe iria ficar furiosa contigo, verdade, ela é da Igreja do Reino de Deus.
Me importa uma
merda o que ela pense, apesar de ser minha mãe, se fosse por ela estaria casada
com algum idiota, cheia de filhos, indo à igreja para dar o dizimo. Inclusive não entende por que trabalho dando
aulas as crianças com síndrome de Down.
Disse a Yao, como
devia preparar o banho, depois jogo para ti.
Nena foi com a
Lourdes, buscar roupas, bem como sua maquina de costura para irem para a casa
dele.
Seu celular tocou
nesse momento, era sua mãe furiosa, pelas coisas que seu irmão tinha lhe
contado, como ousas pensar que estou sem banca.
Eu se fosse a
senhora, ou vendia o apartamento que tens aqui para pagar tuas dividas na
França, ou o de lá, mas fazer o que estás pensando, ajudada pelo teu irmão, em
dar o calote nos teus credores, acho melhor pensar bem antes, porque eu de
maneira nenhuma vou ajudar.
Bateram com o
telefone na sua cara.
Ficou rindo, o
exu tinha contado para ele desde o momento que ficou enquizilado, com a
aproximação dela, a insistência em saber se tinha dinheiro.
Ela não sabia com
quem estava lidando.
Depois jogou para
a Joana, está só disse que nunca faria uma matança, que lhe respondeu que ele
tampouco.
Apenas lhe disse
que tivesse os pés no chão, pois o livro chamaria atenção, seria chamada pelos
jornais, televisão, para participar em debates, que inclusive iam a convidar para
ser política. Só te digo uma coisa,
nesse pais como no mundo atual, que temos tudo num galope desenfreado, hoje
tens a gloria, nem dez minutos depois ninguém sabe quem eres. Portanto pé no chão, qualquer coisa fale
comigo.
Ela veio com eles
para Ipanema, vivia sozinha num pequeno apartamento em Copacabana, mas foi com
eles, para ajudar a que se acomodassem, os deixou no seu quarto, ele usaria o
sofá cama, sem problemas.
Depois se sentou
na sua saleta, para conversar com a Joana, deu um livro de desenhos, para o
Antônio. Conversou com ela sobre os dois livros, o primeiro não tinha muita
coisa para modificar, mas ela prestou a atenção nas mudanças que ele
sugeria. No segundo, mostrou a
caderneta, leia tu mesma outra vez, mas acompanhando a caderneta, mostrou como
fazia, pois anotava o número da página, o que ele sugeria.
Vou fazer o que
me pedes, depois venho trazer novamente o texto.
Quando ela saiu,
o Antônio, veio se sentar na sua perna, colocou o livro em cima da mesa,
começou a contar para ele a história.
O menino, apesar
do síndrome de down, tinha uma inteligência superior. Isso a Joana tinha
comentado com ele no carro.
Na segunda feira,
o levaria com ela a sua escola, para fazer um teste, aonde o podia encaixar, pois
para ir em frente ele precisaria de estar fazendo aulas.
O garoto virou
uma sombra dele, quando desceu, comentou, bem Antenor, acabou que voltei, tens
mais algum livro que eu possa dar para o Antônio se divertir.
Esse disse que
queria lápis, cadernos para desenhar uma história também, ele deu dinheiro ao
Antenor, que foi a uma papelaria ali perto com o garoto, o deixando escolher
tudo que queria.
Depois foi dar um
passeio pela praia, com ele, junto com a Lourdes, esse foi falando, que
desconfiava de algumas coisas de seu tio, pois realmente o tinha visto falando
com alguns do tráfico do Morro do Alemão, ele de vez em quando desaparece por
vários dias.
Pensei que era
uma oportunidade, mas quando ele falou que não queria meu filho junto, fiquei
com um pé atrás.
Depois de noite,
foram jantar na casa do João, que sem dúvida nenhuma era um paizão, pois logo
estava conversando com paciência com o Antônio.
João inclusive
ofereceu sua casa para eles se hospedarem, o apartamento era antigo além de
imenso.
Puxa, nunca
pensei que fosse encontrar pessoas tão receptivas, lhe disse Lourdes, a senhora
Maria inclusive costura também se ofereceu para me ajudar.
Talvez fosse
melhor mesmo ir para lá.
No dia seguinte
acordou com o Antônio, jogado na cama com ele, riu, pois nem tinha notado a sua
presença, até o momento que ele segurou sua mão.
Estava tendo um
sonho tumultuado, com sua mãe, nesse momento o garoto fez isso, como se
sentisse que lhe passava alguma coisa.
Ficaram os dois
ali no sofá, deitados conversando, até que sentiram cheiro de café, vindo da
cozinha, ele arrumou o sofá, foi tomar um banho.
Enquanto fazia
barba, deixou o Antônio metido no chuveiro, ele ria muito, aqui tem mais água
quente que lá em casa.
Se não fosse
talvez pelos olhos uma coisa tão particular nos que tinham síndrome de Down,
não se notaria que tinha essa particularidade.
Logo estava
desenhando, quando num momento desviou a atenção do que estava lendo, viu que
ele estava desenhando o que tinha acontecido no dia anterior, na casa de sua
avó.
Os desenhos eram
perfeitos. Desenhava seu tio, com um
rabo de diabo.
Maria, chamo,
convidando que fossem almoçar lá, pois tinha feito um bom feijão, como o João
gostava. Como era domingo, aceitou o
convite, o menino levou seu material, para isso.
Na conversa
depois do almoço, Lourdes aceitou o convite de ficar lá, assim eu teria paz, ia
dizer que não, as duas já estavam arrumando a área de serviço para costurarem
juntas, assim poderiam pegar mais encomendas.
Minha avó não
pode parar, voltou com o Antenor, para buscar as coisas deles, queria conversar
com ele, pois estava escrevendo algumas coisas.
Como ia as coisas, com ele, apesar de estarem quase todo dia juntos, nem
sempre tinha tempo para falar.
Precisamos
conversar, pois em breve começo a faculdade, pensei em fazer de noite, pois só
tenho duas opções, ou de noite, ou de manhã.
Tens escrito
alguma coisa?
Sim tenho dois
contos novos, depois passo para ti, é como uma continuação do que escrevia
antes, mas agora em tom mais otimista.
De noite esteve
com Osiris, que vinha trazer o texto retificado, lhe deu uma cópia também em
inglês. Humberto tinha ficado
preparando as maletas, para irem para NYC.
Comentou com ele,
que os dois se davam bem, é ótimo conversar com ele, tem as vezes paciência
comigo, pois sou ciumento, ele conhece muita, gente que vem falar com ele, mas
me dedica especial atenção.
Depois ele
entendeu que eu vim aqui atrás de ti, contei para ele o que tinhas me falado,
eu entendo, não ia gostar de realmente saber que me estarias usando para
esquecer o José.
Pediu para ele se
lá poderia pesquisar a respeito do tio, mas com descrição, para não chamar
muita atenção.
Perguntou se
queriam que os levasse ao aeroporto, agradeceu, mas o Humberto, já tinha feito
uma reserva com Uber.
A semana correu
bem, tinha avisado a Joana aonde estaria o Antônio, esse vinha com o João a
livraria, pelas tardes.
Tinha agora
vários livros em andamento, os dois juntos iam a gráfica, estudavam a capa dos
mesmos, era uma empresa funcionando. O
contabilista cada quinzena sentava-se com os dois para analisar tudo, impostos
a pagar, tudo isso.
De uma certa
maneira, a livraria se sustentava, bem como tinha caixa com o dinheiro ganho
com os livros.
Era interessante,
como comentou o João, se você fosse um bom carioca, estaria esbanjando esse
dinheiro frequentando os melhores restaurantes, indo de férias, comprando carro
do ano, etc.
Mas segues a tua
vida como se nada.
Nunca gostei
disso João, essa era a verdade, podia ser um tonto, um cara cheio de problemas,
mas tive um pai que me ajudou até nisso, me dizia sempre, pés no chão. Agora sei pelo Exu, que terei sempre gente
nova em minha volta, precisando de ajuda.
Antenor lhe
avisou que sua mãe, estava embaixo, acompanhada de um senhor que já tinha vindo
várias vezes a livraria.
Olhou pelo visor,
era o tal da editora, que será que essa jararaca está tramando.
Imediatamente
entendeu, ela tinha convencido o outro, que o faria vender a editora, assim ele
lhe pagaria por esse favor.
Venha João, vou
te apresentar como meu sócio gestor, assim me ajudas a cortar isso pela raiz.
Não os convidou
para subir, mas sim apresentou o João, como seu sócio na editora, os levou ao
café ao lado.
Não estendeu a
mão, tampouco beijou sua mãe, embora ela tivesse feito o gesto.
Bom vamos direto
ao assunto, pois, tenho muito trabalho, não sou uma grande editora, que tem
gente para isso, aqui dividimos o trabalho, os dois estamos lançando vários
livros, a que movimentar muita coisa.
O sujeito com um
sorriso na cara foi direto ao assunto, isso acabaria se trabalhasse para mim,
pois tenho uma equipe para isso.
Infelizmente
nosso contrato de firma não permite isso, o João não precisa de dinheiro, pois
está aposentado, eu tampouco, isso para mim, é uma aventura bem sucedida, ontem
estivemos com nosso contabilista, estamos no lucro.
Pois tua mãe me
deu entender que estás em sérios apuros.
Olhou para ela,
começou a rir, acho que te enganou, quem está em sérios apuros é ela, pois deve
muito dinheiro. Mas essa senhora deve
vir te enganando a tempo, eu não a reconheço como minha mãe, nunca me criou, é
bom saberes da história.
Ela fez um gesto
como dizendo para calar a boca, mas ele continuou, fui criado primeiro pela
minha avó, lá em Pilares, depois ela me mandou com 3 anos de idade para viver
com meu pai, pois seu futuro marido não me queria. Graças a Deus, meu pai, foi um homem
sensacional, inclusive quando sua mulher lhe obrigou a escolher entre ela e eu,
escolheu ficar comigo.
Foi tudo na minha
vida, pai, amigo, confidente, acho que morrerias de inveja de um pai assim.
Portanto, essa
senhora não é minha mãe. Apenas levo no
registro seu nome, mas olhe como assino meus livros, Carlos Smith.
Não estou
interessado em vender nada, nem penso a respeito, mas se quiseres, posso mandar
alguns textos que não tenho tempo para atender, para que teus editores
analisem.
Se não queres
editar, é sinal de que não são perfeitos.
Não, recebemos
textos demais, é muita gente nova para entrar no mercado.
Nisso chegou a
Joana, com os textos novos, ela riu, disse que tinha estado na editora do
homem, foi lá que pensaram que eu procurava um emprego de copeira, nem da
secretária passei.
Vê, esse jeito
brasileiro, preconceituoso, dá nisso, pois vou editar dois livros dela, de
imediato, uma nova escritora, além dos assuntos sérios que me interessam
publicar.
Se desculpou, sem
dar a mão a ninguém, disse que tivessem um bom dia.
Essa senhora
trabalha para a Editora, lhe perguntou Joana?
Nada é minha mãe,
que precisa de dinheiro, disse a ele, que eu venderia minha editora, para ela
ganhar um dinheiro com isso, é igual ao irmão, por dinheiro são capazes de
vender até sua mãe.
Quando o primeiro
livro da Joana esteve pronto, avisou sua amiga jornalista, queria que ela lesse
antes, além de escrever o prefácio, pois sabia que ela tinha uma linha de
pensamento político, bem particular, apresentou as duas, lhe passou o texto. Era como juntar duas pessoas inteligentes.
Depois ela disse
que era uma honra escrever o prefácio num livro tão contundente, para a
juventude manipulada do pais.
Pensava o mesmo
que ele, que teria que ter muito pé no chão para aguentar o que vinha pela
frente, se quiseres, posso ficar como uma espécie de agente tua, para
selecionarmos, jornais, televisão, para os debates, essa, coisa, ia adorar
fazer esse trabalho.
Boa ideia, iria
te passando vários escritores novos, eles precisam disso alguém que saiba
separar o joio do trigo, em termos de como fazer publicidade.
Meus filhos estão
grandes, vivo sozinha, me sobra tempo.
Conversaram muito
a respeito, ela comentou sobre um jovem escritor que tinha tido seu primeiro
livro um sucesso, depois foi chamado para escrever para novelas, foi um
fracasso, pois não estava preparado.
Aqui no Brasil,
não temos como na Europa, ou América do Norte, esse conceito de aulas de
escrita dramática, as pessoas aprendem a maioria na bordoada. Além do sucesso que todos querem que sobem a
cabeça como uma bolha de sidra cereser, depois fica tudo por isso mesmo, nenhum
editor vai resgatar essa pessoa.
Gosto do teu
trabalho por isso, é direto com o escritor, eu mesma estou escrevendo alguma
coisa, um romance que me passou pela cabeça, depois vou trazer, para dares uma
olhada, fazeres tuas famosas anotações.
Quando ficou
sozinho com a Joana, lhe disse, ganhaste uma madrinha de peso, siga suas
instruções, pois foi uma das poucas pessoas sérias que encontrei por aqui.
Perguntou como ia
o Antônio na escola?
Por incrível que
pareça, sua mãe fez um trabalho formidável, pois o educou como se fosse uma
criança normal, ele já alcançou os estágios superiores, o que para sua idade é
muito.
Quer estudar
belas artes, pois realmente desenha bem, na escola, temos o elementar, nada
mais, mas seu João disse que ia conseguir um professor para ele. É como se fosse seu neto, é impressionante,
esse homem construiu uma família do nada.
Está sempre incentivando os outros a irem para a frente.
Ele concordou,
imagina, agrupou a Maria, com a Lourdes, mais várias senhoras do prédio, como
tem uma área de festa que ninguém usa, elas estão todas trabalhando para várias
confecções de roupas, que mandam trabalho para fora, ganham todas dinheiro,
como uma cooperativa.
Outro dia interrompi
sem querer vossa conversa com o editor, não quis falar nada, mas ele me chamou
para conversar, o atendi por telefone, me disse que me daria um contrato permanente,
pois se tu acreditavas em mim, ele também o faria.
Me desculpei,
pois estava muito atarefada, quase o mandei a merda.
Ele vai tentar
descobrir quem traz textos para ti, para roubar de você.
Não se preocupe, o
que é do homem o gato não come.
Ficaram rindo,
ele sabia que alguns poderia se interessar, para ter um departamento de
publicidade, todo para trabalhar para ele, mas se esquecia do que dizia a
jornalista, não se preocupavam com a pessoa, como ele fazia.
De NYC lhe
chamaram, pois tinham gostado do livro do Osiris, se ele tinha um contrato com
ele?
Não, só para a
edição no Brasil, vocês já tem o trabalho limpo.
Assim que tiver
um livro, que sei que vocês vão gostar, de uma jovem, creio que poderei
traduzir para o Inglês, depois te mando.
A camaradagem com
o antigo chefe era boa, como ele sempre dizia, saia, mas deixe sempre uma
janela, portas abertas.
O livro da
Lourdes, foi como ele pensava, provocou uma oleada de os que falavam mal,
propiciavam uma divulgação do mesmo, a primeira edição se esgotou em menos de
duas semanas, iam agora para a terceira.
As livrarias não paravam de pedir, o João inclusive tinha contratado um
rapaz de seu edifício que tinha carro para fazer esse trabalho de repor nas
livrarias.
As entrevistas,
orientada do Beatriz Cavalcante, a jornalista, ela se saia bem, as pessoas mais
politizadas, se batiam de frente com argumentos sérios, nada de quero vender
minha ideias.
Mas de um partido
a convidou para suas filas, mas ela não se interessava.
Ele leu os vinte
primeiros capítulos do romance que tinha a Beatriz, gostou, fez como sempre sua
caderneta, de anotações, ela adorou, pensei que estava escrevendo uma besteira,
mas conviver contigo me faz bem.
Quando o editor
soube que estava escrevendo um livro, logo se ofereceu para publicar, ela disse
que não, que já tinha um contrato.
Quando o livro
ficou pronto, foi um sucesso, nas entrevistas ela agradecia ao Carlos Smith por
todas as orientações que ele tinha dado.
Lhe perguntavam se não era esse da editora de gente jovem.
Ela explicou que
ele consideravam gente jovem, os escritores que queriam uma oportunidade, eu
conhecendo sua maneira de trabalhar, pedi por favor que olha-se os vinte
primeiros capítulos, pois estava estagnada, ele me deu a direção que eu devia
tomar.
O novo livro de
contos do Norberto, também estava indo em frente, ele pouco tinha feito de
correções ou melhor indicações, como ele chamava seu trabalho.
Antenor, já sabia
como ele pensava, escrevia agora de uma perspectiva que sua vida tinha mudado,
tinha conseguido a chance de seguir em frente, mas como todos os jovens, tinha dúvidas,
ele analisava essas questões, com muita propriedade. Um dos contos que fazia enorme sucesso, ele
falava do amor, como ele, bem como os de sua idade, confundiam, ele tinha
conversado a respeito com os companheiros de universidade, todos tinha uma
certa confusão a respeito.
O lançamento do
livro, foi concorrido, como tinha sido o da Joana, agora sairia o do Osiris,
pois tinha que esperar que esse voltasse ao Brasil, lançou o de lá, voltou para
o do Rio, o apresentou a Beatriz, que se tornou sua agente também, o
acompanhava pelos platôs de televisão, rádio, entrevistas nos principais
jornais, também foi rápido o sucesso.
Agora, o do
Humberto, que tinha refeito alguns trechos de seu livro. O amor, o tinha feito pensar de maneira
diferente.
Beatriz veio lhe
dizer, que realmente o editor, como estivesse em guerra com ele, pois mal tinha
descoberto que ela era agora agente desses escritores, a tinha o convidado para
esse trabalho na editora.
Imagina que mal
sabe ele que não cobro para fazer isso, era capaz de me dar o título de diretora,
se matava de rir.
Ela era uma
mulher esperta, contatou com todos que fazia críticas de livro, para
conversarem, fez um trabalho exemplar, queriam que eles soubessem como o
Carlos, escolhia, ou melhor aceitava a Editar um livro. Qual era seu processo
de trabalho.
Alguns inclusive
disseram que dois editores tinham falado mal dele, um americano que vem aqui
botar banca em nosso trabalho, diziam isso, pois esperavam um tipo americano,
mas quando encontravam uma pessoa falando um português perfeito, ainda dizia
que era de Pilares, riam das críticas.
Lhe perguntaram
se atreveria a editar algum livro de uma pessoa saída de uma favela?
Claro que sim,
foi um dos primeiros clientes que tive, embora hoje trabalhe comigo, vivia numa
favela com sua avó, ele faz questão que as pessoas saibam disso.
Apareceu um jovem
que veio de Quintino, com um texto muito interessante, sobre o samba, devia ter
uns 16 anos, o que era o samba para ele, bem como tocar na bateria de uma
escola, ele falando era cheio de ginga, bem como sua maneira de escrever, era
como ver uma pessoa apaixonada por isso.
Contou que tocar numa bateria, bem como compor música o tinha salvado de
ser um traficante de drogas, um alcoólatra.
Leu o texto todo
fez suas anotações, pediu consentimento dele, tirou duas cópias, passou para o
Antenor, bem como para a Joana, os convidou para lerem, depois se reunirem os
três para discutir. Depois ampliou, com Osiris,
Humberto bem como a Beatriz.
Geovaldo
Prazeres, ficou alucinado, pois todos realmente tinham lido seu texto,
conversaram muito sobre ele. Não
estava preocupado em contar a história do samba, mas sim o que o samba tinha
feito por ele.
Humberto teve a
paciência de sentar-se com ele, para corrigir o texto em cima da gramática, mas
sem perder o frescor que ele tinha ao falar, pois escrevia da mesma maneira.
Beatriz foi
experta no lançamento do livro reuniu os outros escritores, como tinham feito
antes, todos conversavam como encaravam o samba. O programa foi um sucesso, ela voltou a ter
seu programa na televisão.
Aceitava que os
outros editores mandassem escritores para conversarem, mas a maioria estava
fechada em um círculo, comandado somente pelo editor.
Agora tinham um
distribuidor, que mandava para o Brasil inteiro, os escritores ganhavam mais dinheiro,
seu contabilista, tinha agora duas pessoas só fazendo isso.
O rapaz que ajudava
o João, agora era seu braço direito.
Nessa época, Nena
sua avó ficou mal, ele passava os dias lá, com ela, se revezavam entre Maria,
Lourdes, mesmo alguma outras senhoras que sempre a tinha conhecido, mas ele
dormia todas as noites lá com ela.
Ela já no final,
disse, vais ter uma batalha a troco de nada, tua mãe, bem como teu tio, vão
querer disputar a única coisa que posso deixar de herança essa casa, a qual
eles na verdade tem horror. Por eles
esse Iroco nunca existiria, teu tio que ainda vinha me visitar, desapareceu,
segue com sua vida, tua mãe, não sei aonde anda.
Ele sim sabia,
tinha se casado novamente com um velho rico, que a ajudou a pagar suas dívidas.
Avisou os dois
que ela estava mal, nunca apareceram.
Quando ela
morreu, foi uma coisa impressionante, saiu no jornal inclusive, a quantidade de
gente ali da região. Ele aparecia, ao
lado do João, segurando seu caixão.
Beatriz que tinha
chegado a conhece-la escreveu um artigo sobre ela, do neto que não renegava
suas raízes. Apesar de ter avisado ao
tio, bem como sua mãe, numa chamada internacional, essa disse que não podia ir,
tinha compromissos.
Mas como ela
tinha previsto, quando o advogado leu o seu testamento, em que deixava o único
bem que tinha, a casa, sendo explicita, que ninguém poderia tocar no Iroco.
O tio, bem como
sua mãe, entraram na justiça, porque queriam a casa.
Ele contratou um
advogado especialista, finalmente quando foi a julgamento, o tio apareceu, para
depor, mas sua mãe, mandou um representante.
Ele ganhou a
causa, principalmente pelo depoimento das duas últimas Yaos que ela tinha, que
os filhos nunca apareciam, quando vinham era para a deixar nervosa, que seu
neto sim, tinha cuidado dela, até o final, desde que esse rapaz a descobriu,
pois não sabia que existia, nunca deixou de ir visita-la.
O tio o ameaçou,
ele respondeu francamente, mova qualquer ficha, eu aviso a quem tenho que
avisar.
Não terás coragem
de fazer isso, posso te mandar matar.
Mas antes, todo
mundo vai saber quem eres na verdade, inclusive tua família.
Dito e feito, a
melhor arma de defesa é o ataque. Avisou
a Interpol, FBI, CIA, aonde ele estava, em seguida desapareceu, foi um
escândalo, pois para muitos era uma pessoa do bem.
Seu primo,
inclusive o agradeceu, consegui passar o restaurante para meu nome, pois minha
mãe tem uma grande porcentagem nas ações, agora é um negocio meu. Ele tentou me levar para esses outros
negócios, lhe disse que com o restaurante e o surf estava bem.
O pegaram nos
Estados Unidos, sempre tinha tido uma dupla documentação, só não sabia que sua
mulher sabia disso, ela deu a dica as autoridades.
Ele agora,
passava a aparte da manhã na livraria atendendo, mas a parte da tarde estava na
casa atendendo os necessitados.
Um dia apareceu
um jovem, de sua idade, comentou que tinham feito um trabalho para ele, tinha
sofrido um acidente, desde então não estava bem.
Depois de um
banho, o fez sentar-se para jogar para ele.
Ficou
horrorizado, pensava que isso já não existia mais, fazer trabalhos para matar
uma pessoa.
Lhe disse que não
se preocupasse, que os exus iam devolver tudo para quem tinha feito isso contra
ele.
Exu lhe chamou a
atenção, coloque a mão na cabeça do rapaz. Realmente o problema era sério,
devido ao acidente, tinha um coagulo no cérebro.
Melhor ir para o
hospital imediatamente. Perguntou se ele
estava ligado a algum sistema médico, trocou de roupa rápido, o colocou no
carro, foi para a melhor nesse tipo de problemas, deu seu cartão de crédito que
nunca usava, que ele tivesse um quarto, mas já no primeiro exame, o levaram
para a sala de operações.
Foi uma coisa de
horas, segundo o médico, mais um dia, estaria morto.
Depois foi vê-lo
na UTI, perguntou se queria que avisasse alguém?
Lhe disse um
horário, em que sua mãe estaria sozinha em casa, pois seu pai, não o aceitava
por ser gay.
Ele avisou a
todos, ficou ali no hospital com ele, segurava sua mão, avisou sua mãe, que
apareceu justo no dia seguinte, no horário que o marido estaria trabalhando,
foi um encontro bonito, sentou-se depois com ele, para dizer que não sabia o
que fazer.
Nada, ele sabe
que a senhora o quer, isso lhe basta, depois quando sair do hospital, o levo
para minha casa, para que se recupere.
Entre eles nasceu
um vínculo, Alberto João Batista, era um artista plástico, depois lhe contou o
que tinha se acontecido, ele sempre tinha usado sua intuição em termos de
relacionamento, teve um homem que nunca aceitou suas recusas de sair com ele,
bem como ir para a cama.
Sim tens um exu,
muito bom, ele te levou para perto de mim, pois sabia que ia te ajudar.
Ficavam
conversando horas, principalmente de noite. Estava louco para voltar para seu
studio, um dia João veio resolver umas coisas com ele, o Antônio veio junto,
mostrou os desenhos que estava fazendo, mas ele queria pintar, para isso
necessitava de espaço, mostrou o trabalho do garoto para o Alberto, que adorou,
quando meu carcereiro, me liberar, podes ir para o meu studio, ele o tinha em
Santa Tereza, assim como João vivia na Gloria era fácil de levarem o Antônio. Agora se viam sempre, se deu conta que com o
tempo, José estava num bom lugar na sua memória. Quando comentou isso com o Antenor, esse se
virou rindo, espero agora ter uma oportunidade, já não sou aquele garoto, a não
ser que estejas apaixonado pelo Alberto.
Não estou, pode
ficar tranquilo, sem querer, deixou o Antenor se aproximar, foram ficando
juntos, acabaram na cama. Rindo porque
como ele dizia, sou virgem, tens que me ensinar tudo.
Mas era uma coisa
espontânea, quando viu, já estava dentro do romance, o queria muito, os dois
compartiam mil coisas, foi treinando o Antenor, para ser um editor, lhe ensinou
todo seu trabalho, como fazia, como pensava, como analisava os mínimos detalhes
de um texto, primeiro les as 10 primeira páginas, se te interessa seguir em
frente, é sinal que te conquistou com a historia ou o texto. Volta essas dez primeiras paginas a passas a
analisar cada detalhe do texto.
Agora tinham uma
garota que ficava uma parte do dia, quando o Antenor chegava da universidade, o
primeiro era ir beijar o seu amado, a quem tinha esperado tanto.
Três dias da
semana ele ia para Pilares, atendia quem aparecia, fazia suas obrigações com o
Iroco.
Um dia de manhã,
a Yao o chamou nervosa, ao entrar pela lateral da casa como sempre faziam,
tinha encontrado seu tio morto. Lhe
disse o que fazer, vou para aí, chame a policia ok, chamou o João que disse que
ia com ele, passo por tua casa em seguida, se deitou cinco minutos com o
Antenor, o beijou, avisou o que ia fazer, volto tarde.
No momento que
saia, avisou seu primo, este ainda estava dormindo, deixou recado, que o
chamasse urgente.
Quando chegaram
lá, claro não havia nada a fazer, viram que seu carro estava parado perto da
entrada, que ele já tinha vinha ferido de algum lugar, com certeza esperava que
o ajudassem, não contava que a casa estivesse vazia.
Quando seu primo
acordou, lhe chamou, lhe disse o que tinha acontecido, que o iam levar para o
necrotério, havia que fazer autopsia. Perguntou para aonde, esse disse, avisou ao
primo, este como sempre nem disse obrigado.
Agora era avisar
sua mãe, mas sabia que ela tinha vendido a tempos atrás o apartamento do
Leblon, portanto acreditava que não viria.
Fez uma quantas
coisas, conversou com o Exu, para saber como devia se comportar.
No carro na
volta, João tocou no assunto do Antenor.
Ele sorriu, nunca pensei que ele menino fosse assim apaixonado por mim,
esperou, mas segundo ele muito, pois me queria desde que me viu.
Eu igualmente
estou apaixonado por ele, podia estar por qualquer pessoa, por isso o estou
ensinando para que aos poucos ocupe meu lugar, a inteligência dele é
impressionante.
Quando chegaram
ao necrotério, seu primo já estava lá, perguntou se estava contente?
Com o que?
Com a morte de
teu pai, quem fez essa merda toda foi ele, não eu, quem vendia armas, traficava
com as mesmas foi ele.
Não tenho culpa
nenhuma nisso, cada um cava o buraco que quer, claro sair depois é um problema.
Ele tinha voltado
na surdina para o Rio, vivia na casa de uma das muitas amantes que tinha,
depois se descobriu, que uma outra que tinha filho dele, lhe pediu ajuda, ele
se negou, ela o denunciou.
Espero que não
venhas ao enterro?
Não se preocupe,
não irei, só fui atender, pois morreu na entrada da casa da Nena, nossa avó, só
por isso.
Avisou sua mãe,
mas a resposta já esperava, não podia se ausentar de Paris, pois seu marido
estava mal, ainda soltou, agora sou enfermeira desse velho.
Nem perdeu tempo
argumentando com ela, lhe disse que entrasse pelo menos em contato com seu
sobrinho.
Ele seguiu sua
vida em frente, agora com o Antenor, levando a maior parte da editora, com
ajuda da Beatriz, João, além da colaboração da Joana, podia se dedicar também a
levar os textos mais complicados para a casa de Pilares, bem como atender as
pessoas que o procuravam.
Quando estava lá,
Antenor vinha todos os dias comer com ele, além de ficar para dormir, não
consigo dormir se não estas.
João as vezes
trazia o Antônio, que dizia, quero falar com meus amigos, tenho dúvidas, quero
esclarecer.
As águas estavam
mais mansas, ele sempre desconfiava disso, até receber a noticia que sua mãe
estava presa em Paris, acusada de envenenar o marido.
Não moveu nem um
fio de cabelo, que faz paga soltou.
Nunca mais
escutou falar nela.
Ele junto com o
Antenor, era agora conhecidos como bons editores, que a equipe era boa.
Ele pensava sai
de Pilares, acabei voltando as origens, embora as origens para ele era o Iroco,
a casa de sua avó, de quem sentia saudades imensas.
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