MAZE
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John Smith, era uma pessoa diferente dentro da comunidade em que
viviam seus pais, os dois eram mais brancos que o leite, ele geria um negócio
de máquinas para o campo, ela era professora da pequena cidade que viviam. Eram Mórmons, a igreja era como sua segunda
casa. O que lhe gerava uma certa confusão quando criança.
Pois quando iam visitar os avôs paternos,
estes sequer se aproximavam deles, mas ao contrário quando vinham visitar seus
avôs verdadeiros era uma festa. Eram índios,
de uma reserva aonde John tinha ido pregar a palavra de cristo. Marie ficou nesse tempo como professora da
escola, pouca gente ia realmente a pequena igreja que John construiu, mas ele
não dava o braço a torcer.
Uma das alunas de Marie, um dia pediu para
falar com ela, estava gravida, tinha na época 15 anos, tinha pensado em
abortar, seus pais achavam que não deviam, vieram conversar com os dois. John e Marie, não tinham filhos, pela igreja
isso lhe teria proporcionado liberdade para ter uma segunda esposa, mas ele era
louco pela sua mulher.
Os pais da garota, perguntaram se não
queriam ficar com a futura criança, os dois conversaram entre si. Concordaram, a menina passou a viver com
eles, foi uma gravidez complicada, pois tinha o corpo miúdo. Alegava não saber quem era o pai da criança, a
partir de que tinham abusado dela, numa festa que tinha ido à cidade com as
amigas. John lhe proporcionou médico
para acompanhar a gravidez, seus pais vinham sempre a casa deles, sendo bem
recebidos, eram pobres, tinham umas terras que produzia muito pouco.
Quando pariu antes do tempo, foram correndo
para o hospital, chegaram já quase no último momento. Ela morreu quase em seguida de me ter em seus
braços, segundo me contaram, tinha sofrido duas hemorragias, eu fiquei numa
incubadora semanas, até me permitirem sair.
Marie em momento nenhum se afastou dali,
John vinha no final do dia, lhe trazendo roupa limpa, que ela trocava depois de
um banho.
No primeiro domingo depois que sai do
hospital, ele me consagrou como seu filho.
Foi um tipo de adoção diferente, como estava tudo combinado, foi uma
adoção plena. Ninguém poderia ter
escolhido pais mais amorosos do que eles.
Me queriam com loucura, quando John pode
ser transferido para outra cidade, abriu seu novo negócio de máquinas para o
campo com um dinheiro que tinha economizado.
Tampouco era muito longe da reserva, Marie continuou indo todos os dias
a escola, tinha inclusive aprendido a falar a língua do meu povo, para que os
garotos não perdessem suas raízes.
Comigo foi igual, me ensinou primeiro a falar a língua do meu povo,
depois o inglês. Inclusive John falava
essa língua.
Quando meus avôs maternos vinham, era uma
festa, pois era disputado pelos dois para me terem no colo. Ela cantava canções de ninar na língua antiga
de sua raça.
Quando fiquei maior, primeiro ia com Maria
a escola da reserva, mas ela sentiu que a maioria dos pais me rejeitava, o
mesmo acontecia com os garotos.
O jeito foi me levar na escola da cidade,
ela conseguiu um emprego lá, bem como uma substituta para a reserva. Por ser talvez filho da professora, ninguém
se atrevia a fazer bullying comigo, embora mais tarde viesse a sofre-lo.
Desde que tinha uso da razão, sempre
sonhava que estava em cima de um cavalo negro, galopando pelos campos. A figura era poderosa, cabelos compridos,
muito negros, pele escura, cara pintada para a guerra, uma lança em uma das
mãos, a galope. Até que alguma coisa me
tirava de cima do cavalo, estava deitado no chão, olhando o céu, a sensação que
tinha, que era alguma coisa injusta.
Nunca falei desse sonho com ninguém, senão quando
era adulto com um psicólogo.
Era gordo, grande, para minha idade,
acredito que os da congregação me aceitavam por meus pais serem pessoas boas,
que faziam de tudo pela comunidade.
Minha avó paterna, cada vez que íamos
visita-los, sugeria ao John que tomasse outra esposa, para tentar ter filhos
dele. Ele fazia como que não escutava,
a abraçava dizendo “mamãe, eu tenho uma esposa maravilhosa, um filho que amo
com toda minha alma”. Mas ela nunca
deixou de falar isso, nunca chegava muito perto de mim. O velho quando muito passava a mão na minha
cabeça.
Fui crescendo as vezes me sentia
desorientado com tudo isso, mas me calava, estudava como um louco, queria ser
alguém. Ia aos cultos, mas era como
escutar histórias. Quando eles começaram
a perguntar o que queria ser na vida, eu soltava médico. Não tinha dúvida nenhuma a respeito. Eles guardavam todas suas economias para que
eu fosse a universidade.
Embora John alimentasse a ideia de que um
dia eu herdaria seu negócio, dizia que eu tinha um talento raro para a
venda. As tardes que eu não tinha
aulas, ia para seu armazém, se aparecia algum comprador com seu filho, eu
ficava brincando de vendedor, se John mostrava a máquina mais barata, eu
mostrava a mais cara, dizendo todas suas qualidade, que tinha lido nos
prospectos, dava o mesmo para o outro garoto, esse depois voltava com o pai,
para comprar a mais cara.
John se matava de rir, eu querendo vender a
mais barato, ele convence o comprador de levar a mais cara. Vai me fazer ficar rico, pecador.
Nunca voltaram para reclamar. Na secundária, eu me destacava nos esportes,
era bom em tudo, mas Marie queria que eu conseguisse uma bolsa de estudos pelas
minha notas, que sempre eram as melhores. Meu melhor amigo era filho de japoneses que
tinha um mercado perto de casa. Além de ser meu amigo, os dois disputávamos as
melhores notas, se nos sentássemos um ao lado do outro nas provas, podiam
pensar que um copiava do outro. Isso sim
nos sentávamos na biblioteca para nos preparar para as provas. Erámos os únicos. Por sorte, queriam coisas distintas para nosso
futuro, ele queria ser engenheiro espacial, eu médico.
Para meu avô índio, quando soube disso
sorriu, ele era o único de sua família que não tinha sido xamã. Quase todos seus antepassados sim. Dizia sempre, eu nunca escutei nenhum espírito
falando comigo, durmo como uma pedra, se vem falar nos meus sonhos, sou capaz
de sair correndo atrás deles, pois necessito dormir para cuidar do campo.
John ria com isso, me perguntava se eu
sonhava, eu mentia dizendo que não, o que não era verdade, um dia meu avô me
viu cuidado de um cachorro que tinha encontrado na rua, com a pata arrebentada,
o consertei, ele só olhando, a lastima era que eu queria ficar com o animal,
mas Marie não permitiu, meu avô levou com ele.
Depois me contava, corre como um dragão alado atrás das ovelhas, dos
cavalos. Da lã das ovelhas, minha avó
tecia mantas que depois trazia para Marie vender. Nunca sobrou nenhuma.
Quando fui para a Universidade, teceu uma
muito bonita, para que eu não sentisse frio durante a noite, bem como uma que
parecia um poncho, para as noites que eu ficasse sentado estudando.
Me destaquei logo desde o início, meu avô
ao saber que teria que trabalhar com cadáveres, me ensinou uma oração indígena,
para respeitar aos mesmo. Na primeira
aula, estava emocionado que a fiz em voz alta, fui a gozação da turma. Todos diziam que tinham um xamã entre eles,
pergunte isso, ou aquilo ao cadáver, passei a fazer a oração no interior da
minha cabeça. Sempre me dedicava tão
profundamente em todas as matérias, que era considerado o melhor aluno da
faculdade de medicina.
Senti minha faculdades justamente com meu
avô, quando vim passar as férias de final de ano, com eles, Marie pediu que
viessem, pois era uma oportunidade de estarmos juntos, para ela, eles faziam
parte de sua família.
Quando abracei o meu avô, senti seu coração
muito fraco, lhe perguntei se tinha ido ao médico ultimamente, me respondeu que
se sentia forte como um toro.
Tomei sua pressão, deixou que eu lhe
fizesse os exames, porque era seu neto, lhe fazia graça isso, nessa noite
sonhei outra vez com o homem do cavalo.
Mas desta vez o sonho continuava, pois o via vestido diferente, me dizia
que o avó precisava ir a um médico, que lhe pudesse receitar medicina. Foi duro convence-lo, a única maneira, foi
lhe falar do homem dos meus sonhos.
Fui com os dois ao médico que era como se
fosse meu tio, pois era muito amigo do John, embora fosse católico. Fez todos os exames, disse que tinha o
coração muito fraco, que tinha que mudar um pouco sua alimentação, comer menos
carnes vermelhas.
O velho riu, estás querendo me matar. Este tinha uma técnica especial, passava a
falar com a mulher do paciente o que ele devia comer, ignorando totalmente as
reclamações do homem, isso fez com que meu avô vivesse mais uns anos. Nas férias de verão, passei o tempo todo na clínica
de Saint-Roman como assistente dele para aprender. Ele percebeu que eu as vezes colocava as mãos
no paciente, mais ou menos sabia o que ele tinha. Um dia coloquei as mãos numa senhora, vi que
morreria dentro de dias, que os remédios que tomava eram muito fortes, que a
mantinha dopadas. Quando comentei isso
com ele, lhe deu placebos, para que ela tivesse noção, tempo para se despedir
da família.
A partir desse momento, tínhamos um
segredo. Meu pai John ficava orgulhoso,
teria um filho médico. Talvez então
pela primeira vez seus pais me olharam diferente.
Quando chegou a hora das práticas, fui por
recomendação do Saint-Roman a trabalhar nas urgências do pior hospital da
capital. Me disse numa conversa
particular, se sobrevives a isto, serás realmente um médico, poderás escolher
ao que queres te dedicar.
Faltava de tudo por lá, eu tinha turnos
completamente loucos, pois as vezes não queria abandonar um paciente a sua
sorte. Seguia meu instinto totalmente,
pois era necessário rapidez para isso.
Trabalhava muito com um cirurgião de emergência, que tinha sido médico
militar, estava acostumado a isso, ser rápido.
Logo me colocou ao seu lado, nas operações, ia me perguntando quais os
passos a seguir. Gostava os pontos que
eu dava, tinha treinado muito para fazer tudo perfeito. Ele sempre dizia, tenho que louvar esse
rapaz, o faz de corpo, mas principalmente de alma.
Agora passava mais tempo ao lado de uma
mesa de operação fazendo de tudo. Ali os
pobres eram atendidos, operação de peito aberto de coração, todas as outras de
emergências, de disputas entre bandas, algum que vinha com o corpo cheio de
balas, colocava a mão sabia ou não se ia sobreviver, mas ficava quieto.
Um dia apareceu um que ele disse que não
iria sobreviver a operação, quando eu coloquei a mão vi que sim, discuti com
ele. Me disse, esse homem é um filho da
puta, chefe do tráfico de drogas, melhor deixar morrer. Lhe fiz recordar-se do juramento que
fazíamos.
Bom então faz tu a operação, desta vez
serei teu assistente. Se invertiam os
papeis, retirei rapidamente ele olhava assustado com minha rapidez, cinco balas
do corpo do sujeito, quando parecia que o íamos perder, dei um golpe em seu coração,
finalizei a operação com o sujeito respirando suavemente.
De noite fui visita-lo no seu quarto. Ele tinha escutado minha discussão com o
outro médico, me pediu uma coisa, me troque de quarto, pois podem vir de noite
me matar.
Fiz o que tinha pedido, deixe a cama, como
se tivesse alguém, não deu outra, alguém entrou de madrugada, deu vários tiros
nas almofadas.
No dia seguinte ele desapareceu. Durante uma semana na hora que estava saindo
do hospital, aparecia alguém de sua banda para me levar aonde estava para
trocar o curativo.
Nunca mais o vi depois.
Quando acabou o tempo que devia estar de
práticas, o médico me disse que se queria realmente ser bom devia ir para uma
temporada num destacamento militar, conseguiu com conhecidos dele, me
contrataram, fui com um contrato de um ano para Kandahar.
Foi realmente uma
experiencia que nunca poderia ter num hospital, as vezes fazia 4 a operações de
emergências, não dormia desmaiava.
Quando voltei, fui ficar uns dias na reserva com meu avô que estava mal,
já não havia nada para fazer, aproveitei sim para cuidar do povo todo. Improvisamos um ambulatório nisso Marie era
prática. Conversava muito comigo, tinha
bons convites, devia saber escolher aonde queria ir. Mas para desagrado de todos, fui trabalhar no
mesmo hospital que tinha feito as práticas, revezava agora com o outro médico,
os horários. Algumas vezes operávamos
juntos em algum caso complicado, ele me diria anos mais tarde, tens um poder
que eu não tenho, algo que guia até aonde realmente está o problema.
Fui evoluindo, até
que um hospital de Nova York, me chamou, ele me convenceu de ir, apesar de ele
ser mais velho do que eu tínhamos tido um romance. Me disse honestamente que nunca chegaríamos
a lugar nenhum pois não estávamos destinados a ser um casal.
Cheguei a NYC,
confuso, pela primeira vez, tinha uma certa incerteza de que estava fazendo o
certo de ir para o maior centro de emergências da cidade. Ali
meu horário era impressionante, nunca sabia quando entrar, ou se tinha saído,
algumas vezes dormia num quarto de descanso, tomava um banho, saia novamente
para a luta.
Me sentia depois
de uns anos exaustos, Marie me pedia ajuda pois John estava mal, faziam dois
anos que não podia ir para casa. Pedi
um afastamento temporário, para resolver problemas de família. Mal toquei no John para o examinar, vi que
lhe restava pouco tempo. O médico o
vinha sedando, me pediu que queria estar consciente de tudo, queria desfrutar
desses últimos dias com sua mulher, com seu filho. Mal sai de seu lado, só me levantava dali,
para um banho, trocar de roupa, voltar.
Conversava com ele, como tinha sido minha experiencia fora, como era
desgastante, o ofício de salvar gente, agora o entendia em coisas que não
pensava, falávamos de Deus, dos dons que nos dava. Contei
para ele um dia que estávamos sós de tudo que tinha sentido durante esses anos
todos, desorientação, confusão, a incerteza de estar escolhendo certo. Ele sorriu, Deus meu filho escreve sempre
por linhas tortas, nunca escreve por linhas contínuas, nem retas. Te estou deixando um dinheirinho, podes fazer
dele o que quiseres, mas acho que deverias passar um tempo com tua gente. Leve tua mãe contigo, tu sabes como ela é boa
nisso.
No enterro dele,
foi impressionante, pois tinha mais gente que sua própria congregação, quando
falei dele, comentei o que eu sentia de verdade, tinha sido um pai exemplar,
não poderia ter sido o melhor.
Quando fomos ao
advogado para leitura do testamento, fiquei surpreso, ele tinha comprado umas
terras ao lado da reserva, que ficava justamente no meio de tudo, conversei
muito com minha mãe, falei da nossa última conversa. Ela era mais prática do que eu em muitas
coisas, porque não pedes ajuda ao teu amigo, o médico do hospital aonde fizeste
as práticas. Marquei com ele, tivemos
uma conversa franca. Nessa noite
dormimos juntos novamente, foi como reencontrar uma parte de mim.
Montamos ali nos
terrenos que meu pai tinha comprado, com o dinheiro que nos tinha deixado, uma clínica,
a dotamos de basicamente de tudo, como num hospital de campanha. Não havia luxos, meu guru, Marc Tanic
conseguiu enfermeiras que tinham se aposentado, estavam chateadas em casa,
montamos ao lado da clínica, como uma pousada, administrada pela Marie, aonde
as famílias que vinha de longe pudessem ficar hospedadas, pois estávamos no
meio do nada. Saint-Roman, tinha falecido, não tinha aparecido
nenhum médico para substitui-lo, então era tudo lá, o pessoal da reserva, os das
vilas por perto, os do campo. Pagava
quem podia, como podia. Marc tinha o
dom de conseguir dinheiro para nos manter.
Nunca estávamos fechados a nada, desde atender a uma simples apendicite
ou um caso de operação de emergência.
Mas estávamos atendendo a nossa gente.
Marie era uma
grande organizadora, dizia, estou velha, mas dou pro gasto. Um dia apareceu com uma garota, que tinha
encontrado na rua, a mesma disse que vinha caminhando para o hospital, a
trouxe. Já tinha dilatação, quando lhe
perguntamos pela família, contou que seu padrasto tinha abusado dela, depois a
colocado na rua. Tinha se prostituido
para sobreviver, mas tinha visto uma manchete no jornal falando da nossa
clínica, por isso tinha vindo, sabia que se fosse a um hospital, lhe tirariam a
criança. Só que não era uma, mas sim
duas, não tinha feito nenhum exame antes, tinha o corpo totalmente
maltratado. Conseguimos salvar as
crianças, embora soubesse que ela não aguentaria muitos dias. Tinham lhe raspado a cabeça que estava cheia
de piolhos, Marie com outra enfermeira, tinha curado todas suas feridas. Ficou conosco quase um ano, as crianças eram
incríveis, um era branco, outro negro, mas estavam no berço sempre segurando a
mão um do outro. Ela começou a se
sentir mal, pediu para falar comigo, sei que sabes que vou morrer, queria fazer
um documento, deixando as crianças contigo, pois sei que as entenderas. Veio o xerife, com o único advogado da
cidade, fizeram o documento, ela assinou, bem como duas enfermeiras como
testemunhas. Morreu nessa mesma noite,
a enterramos ao lado do John. Marie
tinha se apegado a ela, agora era avó dessas duas crianças, tinha um lado que
nunca saberei explicar, em seguida tinha conseguido na reserva uma mãe de leite
para os garotos. Uma senhora que tinha perdido a criança que
estava gestando. Essa se tomou de amores
pelos dois, foi ficando conosco, está até hoje, é como se fosse a mãe dos
meninos. Pensei que Marc não fosse
gostar da ideia, mas era mais pai do que eu, tinha sido seu sonho de toda
vida. Marie morreu já com quase 98
anos.
Os meninos
choraram muito, apesar de já terem 15 anos, mas estavam acostumados a tudo irem
conversar com ela, como eu fazia.
Falavam do avô John se como realmente o conhecesse, de tanto que ela
falava a respeito, quando ia ao cemitério os levava junto. Como ela se sentava para falar com ele,
contando tudo que vinha acontecendo, como tinha feito a vida inteira, eles
faziam agora igual com ela.
Foram o meu amparo
na velhice, os dois fizeram medicina, eram excelentes, quando lhes perguntaram
aonde iam trabalhar, respondia, em casa.
Se casaram tiveram muitos filhos, o que me enchia de felicidade, o que
era negro se casou com uma garota da reserva, o outro com a neta do meu amigo Robert
que depois que se aposentou da Nasa voltou para a cidade. Sempre estávamos
tomando uma cerveja junto, agora que a mim e ao Marc sobrava tempo.
Marc tinha o
hábito de chamar os dois por uma coisa que ele inventou, Tic e Toc, o
relacionamento deles dois com ele, era impressionante.
Com 15 anos
estavam aprendendo a fazer suturas, as vezes os dois discutiam sobre como
abordar uma cirurgia, ficávamos de lado rindo.
Nem tinham entrado ainda na época para uma faculdade, mas já sabia o que
queria fazer. Nos imitavam em tudo,
desde a preparação de uma cirurgia, até mesmo como nos colocávamos em volta da
mesa, quando faltava uma enfermeira, tínhamos um de cada lado da mesa. Eram os melhores estudantes de sempre. Foram fazer medicina com bolsa de
estudos. Muita gente não entendia que
eram irmãos, queriam sempre fazer tudo junto.
Quando foram para práticas, isso foi um inferno, discutiam com os outros
internos, até que conseguiram estar num hospital horrível, na parte de
emergência, mas juntos.
Quando voltaram,
tinham muitos convites, mas diziam para que vamos para longe, se nossa gente
precisa de nós, diziam na nossa cara, estão ficando velhos, lentos, qualquer
dia desses matam algum paciente, se matavam de rir, um dando tapa no outro,
como tinha feito a vida inteira.
Marc dizia que os
dois tinham sido um presente do céu.
Construímos mais atrás da Clínica, numa parte alta uma cabana para os
dois, sentávamos ali olhando o tempo passar, o vai e vem de carros dos
clientes. Marc ainda tinha tempo e boa
conversa para conseguir dinheiro para que a clínica funcionasse. Tirava dinheiro dos fazendeiros que tinham
mais, como se estivesse ordenando uma vaca, como dizia. Se eles, seus empregados usam a clínica, nada
mais normal que ajudem também. Eu sempre
tive medo de que ele morresse antes de mim, pois acreditava que não iria
aguentar. Fazíamos apostas sobre isso. Graças a deus morremos juntos no mesmo
acidente, ainda pude perceber quando ele se ia estendendo a mão para mim,
quando o toquei soube ele se vai, a dor que senti sem poder mover-me, foi tão
grande que tive um enfarte. Quando
passou a dor, ele estava ali, como era quando o conheci, me estendeu a mão,
fomos seguindo uma estrada que nunca tínhamos visto.
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