lunes, 19 de julio de 2021

OBSOLETO

 

                                OBSOLETO

 

Tinha vindo ao aeroporto com muito mal humor, pois sua avó pediu que fosse recolher um rapaz, que ficaria um tempo em sua casa.  Era filho de uma amiga sua, ia começar a contar a história, mas soltou olhando bem em sua cara, pois sabia que era curiosa, bah isso não te interessa, tampouco quero que saibas, pois em seguida todo mundo saberia.

O que não era verdade, quando lhe contavam alguma coisa, em seguida guardava para si, sem comentários.     Se visse também, nunca dizia nada.   Tinha essa fama, por culpa de sua mãe, pois quando se divorciou de seu pai, contava que ela ficasse ao seu lado, se esquecendo que era ela que torturava o marido com suas loucuras.

O juiz a chamou a depor, quando começaram as perguntas, respondeu olhando ao juiz, ninguém perguntou se eu queria estar aqui.  O que o advogado de minha mãe quer que eu diga, é mentira.  Desde que tenho uso da razão, ela atormenta meu pai, nunca nada está bom.   Além dos vários amantes que teve todo esse tempo, que levou para dentro de casa.

Foi como um jorro de água fria, nas pretensões de sua mãe, só lhe restou ir viver com sua avó paterna.

Essa ria de sua cara, quando lhe diziam que era uma fofoqueira, mas ficava quieta, não tinha para onde ir, seu pai, estava no momento trabalhando fora, em uma cidade pequena no Canadá, aonde só existia escola primaria.

Entrou no metro, sua avó lhe tinha dado dinheiro para ir de taxi, mas resolveu guardar, assim teria algo de dinheiro para o final de semana, queria sair com suas amigas, todas no momento estava num período crucial, pois tinham que escolher aonde estudar, tinha conversado com seu pai, este disse que ela era quem tinha que escolher, pois viveria o resto da vida com isso.

Tinha pensado em mil opções, mas na verdade queria passar um tempo pensando, talvez conseguir algum emprego para ganhar um pouco de dinheiro.   A mesada que seu pai lhe dava, era justa.   Sabia que ele dava dinheiro a sua avó, para ela ficar na sua casa.

A casa da avó Rosemary, ou Rose, ou Mary, era imensa no Brooklyn, ela vivia no andar de baixo, nos outros dois andares, tinham mais quartos que ela alugava, para estudantes, pessoas que viviam só.

Era muito rigorosa, só tinha uma coisa, não aceitava negros, não sabia por que, tinha um preconceito muito complicado, no momento no último andar, que tinham dois quartos que compartiam um banheiro, viviam um estudante chinês, o outro quarto estava vazio.  No andar do meio, viviam duas garotas canadenses que eram da mesma cidade, estudavam na Parsons, compartiam um quarto grande.  Nos outros dois quartos viviam, uma senhora que trabalhava no Macy’s, que saia de manhã, voltava de noite.  Além de uma outra que era bibliotecária ali mesmo no Brooklyn.   No térreo, vivia sua avó, ela, tinha um quarto que era de seu pai quando ele estava. Esse era o único que tinha um banheiro privado.

Seu pai passava basicamente quase que o ano inteiro fora, trabalhava para uma companhia que tinha sucursais em toda América do Norte, Canadá, China, inclusive no Japão, fazia um trabalho interessante que era ficar um tempo em cada um, observando como era o funcionamento.

O rapaz chinês, era filho de um conhecido que o tinha hospedado quando esteve trabalhando em Hong Kong, assim iam as coisas.

Estava com a cabeça voando, enquanto ia no trem do metrô, normalmente não gostava de usar o Subway, gostava de ir observando como a cidade ia mudando, preferia andar de ônibus, ou de carro.

Poder olhar tudo, a vazia divagar sobre os lugares, quem vivia ali, o que pensavam da vida, observava sua maneira de vestir, as vezes se perguntava de onde tiraram essa roupa estapafúrdia, observava as pessoas sentadas esperando o ônibus, coisas assim.   Mas estava um pouco atrasada, por isso ia de Metrô.

Quando chegou, olhou no quadro, aonde era o desembarque do voo, tudo que sabia era que se chamava Bill Stanton, nada mais, nem como era.   Mas vinha desde Irlanda, portanto devia ter alguma característica.

Tinha sempre imaginado que em cada lugar as pessoas se vestiam diferentes.  Quando pensava em Paris, acreditava que as pessoas todas se vestiam como se via nos filmes, com roupas de marcas.  Sua avó quando comentava isso de um filme, soltava, acorda garota, lá também existe pessoas normais que vivem de um salário de fome.

Elas compravam as roupas no Macy’s, pois a inquilina de sua avó, lhes avisava quando tinha algum saldo bom.

Seu uniforme predileto era calças jeans, camisetas com alguma estampa, um abrigo com capuz, no inverno botas, abrigos desses com pele por dentro.

Já estavam no começo do inverno, imaginava que esse rapaz vinha para se adaptar, pois as faculdades agora entrariam em férias.

Ficou imaginando como seria, loiro de olhos azuis, alto, em seguida borrava a imagem.  Levava na mochila um cartaz com o nome de Bill Stanton.  Ficou parada ali, olhando as pessoas saírem, no mesmo horário tinha chegado aviões de vários lugares do mundo, então estava se deliciando com as caras diferentes, procurava adivinhar de aonde tinham saído.

Sentiu baterem no seu ombro, quando se voltou, deu de cara com um rapaz altíssimo, devia ter pelo menos dois metros de altura, muito magro, sua avó diria que estava passando fome, tinha os olhos verdes, bem como um cabelo crespos, vermelhos fogo, não estranharia que fosse pintados, mas quando olhou o nariz, pensou, esse tem alguma coisa de negro, pois tinha o nariz meio achatado, largo como os africanos. Quando ele sorriu, mostrou um fileira de dentes que pareciam de anúncios de pasta de dentes.

Percebeu que ela o estava analisando, riu, sim sou eu Bill Stanton, perguntou se ela era filha ou neta da senhora Rosemary.

Ela só balançou a cabeça.

Só tinha como bagagem uma mochila, uma pasta dessas de levar desenhos, que estava pelo visto pesada, pois tinha inclusive duas fitas de adesivos segurando, se cruzavam fazendo uma cruz.  Uma mochila grande do exército, nada mais.   Estava vestido exatamente como ela.

Saiu do seu letargo, dizendo, venha vamos tomar um taxi, minha avó me deu dinheiro.

Ele saiu andando atrás dela, quis ajuda-lo a levar a tal pasta, mas ele disse que pesava muito.  Entraram na fila do taxi, ele comentou enquanto isso, estavas te divertindo, olhando as pessoas que saiam, eu já estava fora quando chegaste, mas fiz o mesmo exercício mental que tu, de aonde tinham saído.

Dentro do taxi, ia olhando tudo com curiosidade, lhe perguntou se conhecia bem a cidade, para depois lhe mostrar.   Creio que vou adorar viver aqui, trabalhei duro durante dois anos, para juntar dinheiro para vir para cá.

Achas que consigo um emprego fácil, preciso trabalhar, para poder pagar a faculdade.

O taxista que se via emigrante soltou, aqui, basta querer trabalhar que arrumas alguma coisa.

Que fazias aonde vivias?

Eu trabalhei em muitas coisas, inclusive descarregando caminhões, fui garçom, vendedor, de tudo um pouco, pois precisava do dinheiro.  Aonde tinha trabalho eu ia atrás, o homem sentado diante, sorriu, então não terás problema.

Isso pareceu lhe relaxar.  Quando parou o taxi diante da casa, ela pagou, ia lhe sobrar um bom dinheiro.  Ele agradeceu a informação do taxista.  Estirou os braços para pegar sua pasta de desenhos, ou que fosse.

Na pequena varanda da frente estava sua avó, agora seriam a prova dos nove, será que ia perceber que era descendentes de negros.   Ficou quieta observando, pois sabia que sua avó estava fazendo exatamente isso.

Mas para sua surpresa, mexeu nos cabelos dele, quando subia a escada, tua mãe me falou que eras alto, mas não pensei que fosse tanto. Terás que dormir no quarto que é do meu filho, pois o de cima a cama é pequena para ti.

A senhora não se preocupe, foi falando dando dois beijos no rosto, sempre dormi com os pés fora da cama.

Ultimamente então, nem podia reclamar, uma larga história.

Ela queria que ele ficasse embaixo, mas disse que não, não poderia pagar um quarto desses, tinha que ser um quarto normal, só preciso uma mesa para desenhar. Subiu em duas vezes suas coisas, uma levando os seus desenhos, outra levando a mochila do exército, é tudo que tenho.  Terei que comprar roupa de inverno, só tenho esse casaco que era do meu irmão mais velho.

Mas o importante, contava quando tomava café sentando na cozinha entre as duas, é conseguir rapidamente um emprego, espero que nessa época seja fácil, assim na hora que tiver que pagar a matrícula da escola aonde quero estudar, seja mais fácil.

Essas coisas eram com minha avó, pois imediatamente passou a mão no seu velho celular, tinha sido de meu pai, como ela dizia que só queria para chamar, dava igual.  Falou com a inquilina que trabalhava no Macy’s, se tinham aberto vagas para trabalhar no final do ano. 

Ela disse que ia se informar.

Depois falou com mais duas pessoas, bom tens uma coisa, podemos ver se conseguimos no Macy’s explicou o que era, um desses trabalhos de final de ano, bem como o Jerry um conhecido tem um restaurante, disse que no momento precisa de alguém para a cozinha, mas não sei se tens experiencia.

O outro é de um amigo de meu filho que tem uma loja de material de desenho, perto da Parsons, creio que esse te interessa mais.  Disse que tem uma vaga, creio que para ti seria excelente.  Podias leva-lo até lá, Mariah, conheces bem o lugar, sempre vais lá quando teu pai está.

Esse amigo de seu pai, era uma pessoa divertida, quando ela era criança, sempre lhe dava caixa de lápis de cores, material para a escola, esses eram seus presente.  Quando a via lhe perguntava se precisava de alguma coisa, fazia um gesto mostrando a loja inteira, o que queiras.

Bill disse que ia tomar um banho, se arrumar um pouco, depois estava preparado, porque dormir agora será um atraso, preciso colocar tudo em ação imediatamente.

Enquanto ele subiu para isso, sua avó lhe contou a historia dele que ela sabia, ele era neto de um irlandês, com uma mulher de Trinidad Tobago, uma antiga colônia inglesa, sua avô paterna era negra, mas não se acostumou a viver na Irlanda.

Quando os filhos ficaram grandes, voltou com o marido para viver na sua terra.  Minha amiga casou com seu filho mais velho, é moreno, mas não negro.  Esse garoto teve um problema, pois o pai o expulsou de casa, foi viver de favor com um vizinho, trabalha desde os 15 anos como um louco para realizar seu sonho.   Sua mãe o ajudou as escondidas do marido, bem como seu irmão mais velho.

Sua mãe viveu um tempo aqui em NYC, quando jovem, se casou com o pai dele, que na época trabalhava num navio, voltando para Irlanda.

Foi uma grande amiga minha, viveu aqui em casa, ocupando justamente esse quarto que ele está.

Ele desceu, parecia que estava exatamente igual, só a camiseta parecia diferente, um pouco grande para ele, disse que era do irmão mais velho.

Foram de metro que era mais fácil, conseguiu para ele um mapa do metro, como tinha recomendado sua avó.  Tens sempre que prestar atenção, principalmente no final do dia, ou de semana, que mudam os roteiros avisam pelo som, tens que imaginar como faras os transbordos.

Ele riu, terei que prestar atenção, sou meio desligado, além de vir de uma cidade relativamente pequena.  Vivia perto de Cork, mas tive que ir a Dublin, pois o bilhete que consegui era a partir de lá.

Estava deslumbrado com a cidade.  Quando chegaram a loja, ela teve que rir, como sempre o dono fez o mesmo gesto que fazia sempre, tinha lhe contado a história no caminho, o gesto que fazia.

Se fosse comigo ficaria louco, nunca tive muito acesso ao material que gostaria de trabalhar.

O deixou conversando com Boris, enquanto olhava pela loja, no final vinha super feliz, imagina, começo segunda feira de manhã, depois quando começarem as aulas, trabalharei de tarde até fechar a loja.   Boris tinha andado com ele a loja inteira. Ela aproveitou que tinha comprado uma coisas, pagou no caixa.  Lhe dava vergonha que o Boris a fizesse levar grátis.

Saíram os dois dali o levou para ver a escola aonde ia estudar, ele ficou de boca aberta, entraram, era uma movimentação incrível de jovens como eles. 

Pensei em estudar aqui, mas ainda não consegui me definir, meu pai diz que tenho que escolher direito, pois é do meu futuro que estou tratando.

O meu ao contrário, ficaria furioso, iria dizer que isso é coisa de viado.  

Andaram por tudo aonde era permitido andar, olharam de longe algumas classes, foram a secretária, ele perguntou por uma senhora.   Apareceu em seguida, era gorda, com os cabelos iguais aos dele. Tinham se correspondido a meses, saiu da sala foi ao corredor abraça-lo, agora já nos conhecemos.   Ele lhe contou que já tinha um trabalho, para o final do ano, assim terei dinheiro para pagar o cursos que queria fazer. Quando disse o nome do Boris, ela riu, esse tem um humor incrível, vende inclusive aqui para a escola.

E tu lindeza, pegou na mão da Mariah, vens também?

Ainda não tenho decidido.

Venham comigo, estou no meu horário de tomar um café, falou com uma companheira, vou mostrar a escola a estes dois postulantes.

Foi falando de tudo que viam, algumas classe ainda funcionavam, abria a porta, dizia ao professor, dois postulantes a cursos.  Viram de tudo, ela estava elétrica, parecia que seus sonhos se realizavam.  Viu cursos de moda, de um grupo fazendo fotografias, um professor ensinando como focar uma câmera a um manequim, discutia com o aluno, ângulos.

Ficou ali de boca aberta, adoraria fazer isso. Soltou sem querer, ia amar fazer esse curso.

Depois voltaram, ela lhes deu uma série de papeis para estudarem, bem como se informar.   Qualquer coisa venha me visitar.

Quando saíram Bill, disse, imagina, a meses eu escrevi uma carta pedindo informação, comecei a me corresponder com essa senhora que me animava a vir.  Parece mais minha família que a que tenho.

Mostrou para ele Washington Square, ele parecia deslumbrado com tudo, nem percebia que chamava muita atenção com seus cabelos flamejantes.

Foram comer sanduiches num lugar que ela tinha ido com umas amigas.  Gostaria de fazer um curso de fotografia, mas só tenho câmera quando meu pai está aqui, vou falar com ele, pedirei a um professor que me oriente no que devo comprar.

Já havia uma certa cumplicidade entre os dois, era como se dois náufragos se encontrassem no mesmo troco de madeira flutuando.

Havia momentos que o olhar dele era triste, se lembrou do momento que ficou parado na frente do edifício da escola, era como estivesse paralisado.

Sonhamos tanto com isso, dizia ele depois, eu meu melhor amigo imaginamos isso desde basicamente que entramos na escola, como não encaixávamos com o resto, nos grudamos um no outro.

Sem querer, perguntou aonde estava ele agora?

Morreu, se suicidou, me deixou uma carta, dizendo que não desistisse de meus sonhos como ele tinha feito.  Na verdade, não desistiu, o fizeram desistir na marra, o pai era marinheiro, o colocou num navio mercante para aprender a ser homem, não se sabe o que aconteceu, mas se atirou do barco, em pleno pacífico.  Ele tinha horror a lugares fechados, imagino o que seria viver num barco. 

Seu irmão me trouxe uma carta de despedida, claro estava aberta, mas nos dois tínhamos um código para falarmos das coisas sem que ninguém percebesse.  Entendi por que tinha se suicidado.   Me deu mais força para juntar cada tostão para vir embora.   No fundo realizo o sonho dos dois, ele queria estudar para ser designer de moda.  Adorava olhar revistas de moda de sua mãe, que era costureira.  Isso na cabeça de seu pai era impensável, isso numa vila da Irlanda.

Por isso, fiz de tudo, até esfregar de noite a escola em que estudava, apesar da gozação dos outros alunos.

Graças a deus, isso me deu força, para saber o que queria realmente.  Quero pintar, desenhar, depois te mostro meu trabalho.

O que acho interessante desse lugar, é que todos os professores, alunos, parecem que chegaram de algum lugar, buscando uma coisa que significa seu futuro.  Naquela sala que entramos, viste que desde o professor, cada aluno, parece ter vindo de algum lugar do mundo.  Se vão vencer, não sabemos, mas estão aqui para lutar.

Sim, senti uma descarga de adrenalina, como me dizendo, garota, aqui é o teu lugar.  Tenho que trazer minha melhor amiga, para ver se encaixa.

Sua mãe a vive atormentando que o que tem que fazer é arrumar um rapaz decente com trabalho, para casar, ter filhos, como se fosse isso a coisa mais importante de sua vida.

Até minha avó acha um absurdo isso, diz que a coisa mais obsoleta do mundo. Para que procriar, se já tem criança de sobra no mundo, principalmente abandonadas por pais incompetentes.

Já vi que tem uma cabeça, muito bem colocada, minha mãe que a conheceu a muito tempo, quando vivia aqui, disse que o único comentário que a fez pensar muito foi, que tinha horror a negros.  Quando minha mãe conheceu meu pai, disse que fez um comentário, “vais te casar com esse meio negro, metido a machão, te transformara a vida num inferno”.

No fundo estava certa, é isso mesmo, metido a machão, faz da sua vida um horror, pior que sabe que ele tem uma outra família em Cork, com uma mulher negra.  Quando descobri que tinha um irmão negro, fui lá para ver como era.  Ele é igual a mim, mas só que seus cabelos são negros.  Parecíamos um reverso de um espelho, rimos muito, mantivemos segredo, ele finge que faz o que meu pai lhe diz, mas caga para ele.  A tempos vive com um rapaz chinês, para todos os efeitos trabalha em seu restaurante, mas vivem um para o outro. Foi ele quem me ajudou a vir para cá.

Inclusive o último lugar que trabalhei foi no restaurante deles, me deu a maior força para vir embora.   Já meu irmão mais velho, sempre fez da minha vida um inferno.  Nem desconfia dessa outra família, minha mãe, finge que não vê.

Mas diz sempre que tua avó a avisou muito sobre isso. Dizia que um tipo como ele, nunca ia ter o piru fechado dentro da braguilha.

Quando chegaram em casa ele comentou, além de agradecer a ela, sobre o emprego, que tínhamos ido à escola.

Ela riu, pois viu que eu estava excitada, encontraste teu pouso, bom pelo menos vais poder conversar com teu pai esse final de semana, ele está vindo para cá.

Chega no domingo de manhã, creio que aconteceu alguma coisa, para ele voltar tão cedo.

Saíram de noite pois ela o queria apresentar para seus amigos, sempre se encontravam num bar que tinha um horário especial para menores.

Ele logo se tornou amigo de sua melhor amiga, Ingrid, ficaram conversando do que tinha visto na escola.

Eu adoraria, mas minha mãe, nunca vai permitir, tenho que pegar meu pai de jeito, pois sei que ele não concorda com ela.

Foram para casa juntos, conversando, estranhou em ver a luz da sala acesa, pois sua avó costumava estar na cozinha, aonde tinha uma poltrona, além de outra televisão.

Quando entrou deu de cara com seu pai, que tinha um braço engessado.  Agora entendia por que tinha voltado, sua avô apresentou o Bill.   Ele se lembrava de sua mãe.

Comentou que tinha sofrido um acidente de carro, alguém tinha cortado os freios do mesmo.  Agora a polícia estava investigando.  Pelo menos estarei algum tempo sem trabalhar, além de uma movimentação estranha na central da empresa, se fala que vai ser vendida, que estão oferecendo aos funcionários que falta pouco tempo para aposentadoria, uma antecipação da mesma como acordo.  Se isso for verdade, aceitarei, estou farto desse trabalho.

Quando comentou com o pai, que tinham estado com o Boris, ele começou a rir, imitou o gesto que fazia para ela, que pegasse o que quisesse.

Mas quero conversar com o senhor sobre meu futuro.

Ele riu, como sei que estiveste na escola que vai estudar o Bill, imagino que queiras ir também, venha, vamos para o meu quarto que já é tarde, assim me contas tudo.

Despediu-se do Bill, deves estar cansando, vá dormir garoto, amanhã conversamos mais.

O tempo as vezes é desagradável, pois voa, quando viram já estava no momento de finalizar o curso, Bill fazia sua primeira exposição na própria escola, por ter sido considerado o melhor aluno na sua área, segundo um vídeo feito por uma aluna da escola, dizia que a mudança de cidade, ter visto tanta coisa, absorvido o movimento da própria cidade, tinha feito que sua cabeça mudasse muito.   Dedicava a exposição ao seu amigo de infância, com quem tinha sonhado tudo isso.

A exposição duraria ali 15 dias, depois iria para uma galeria de arte, em seguida entraria a exposição de Mariah, com o título Street, ou rua, tinha fotografado a cidade que amava, nos três períodos do dia, tinha levado meses nisso.    Agora com a ajuda do pai, junto com Bill, tinham alugado de um armazém vazio perto da casa de sua avó, a parte de cima do mesmo, transformando em studio, cada um tinha sua parte.

Joe Jones, agora aposentado, se dedicava a representar aos dois, bem como alguns amigos deles da escola, que saiam para o mundo.   Era bom negociando contratos com galerias, divulgado os mesmos.

Mariah, iria para Paris, quase em seguida, pela primeira vez fotografar para uma revista desfiles de moda, tinha uma encomenda especial, que era fotografar um dos grandes desenhadores americanos, suas roupas nas ruas da cidade Luz.

Seria seu lançamento no mundo editorial.

Joe quando não estava fazendo isso, ajudava o Boris com a loja, Bill, dizia que tinham um relacionamento mal resolvido, pois por vezes viu os dois de mãos dadas.

Uma dia, Joe avisou a sua mãe, bem como a filha que iria viver com o Boris, estamos a anos, deixando de lado a vida que podemos ter juntos, tenho direito de experimentar.

O único comentário de Rosemary foi, “já não era hora”.   Eu já teria te mandado a merda a muito tempo, ele teve sempre paciência de te esperar.

Fizeram um almoço no apartamento do Boris.  Esse fazia sempre uma brincadeira com o Bill, de quando ia ter um namorado.

Bill tinha conhecido muita gente, mas em sua cabeça, nenhum era como seu grande amor de infância.   Boris dizia que isso era uma utopia.   Não podes ficar esperando que uma pessoa se pareça a que idealizastes.   Tinha sim suas aventuras, mas nada durava muito.

A exposição na galeria funcionou, pois era uma pintura fresca, diferente, misturava abstrato com figuração, como se as figuras estivessem escondidas detrás de alguma coisa totalmente abstrata.   Seu professor dizia que era um retrato dele, sempre se escondendo de algo.

A serie tinha saído sem mais nem menos, pensando justamente nisso, o tempo que tinha perdido de sua vida, se escondendo de tudo.  Preferia assim do que assumir totalmente sua vida sexual.

Quando acabou o trabalho de Mariah, ele foi com Ingrid que tinha escapado de casa para estudar moda, passar uns 10 dias em Paris, alugaram um pequeno apartamento, se divertiram descobrindo a cidade.

Estavam vendo uma exposição no museu Picasso, quando Bill se sentiu observado, no que virou deu de cara com o irmão de seu amigo, alguns anos mais velho que ele.   Estava completamente diferente com roupas mais modernas, cabelos largos, teve que fazer uma busca em sua memória.

O outro ficou parado, esperando o reconhecimento.  Abriu os braços para ele, finalmente nos encontramos.

Deixastes a marinha mercante, foi tudo que perguntou.

Vocês sem querer me deram um empurrão, isso de estar fazendo o que meu pai queria, acabou matando meu irmão.   Tinha que encontrar meu próprio caminho.   Estive muitos anos, principalmente no barco, escondido dentro de um armário muito escuro, feio, desconfortável.

Depois da morte do meu irmão, entrei em pânico, seria esse o caminho que me esperava?

Bill, num rompante, o apresentou as amigas, mas saíram os dois para tomar um café.  Falaram muito de tudo que tinha acontecido. 

Brandon, lhe contou que tinha realmente descoberto o que tinha acontecido, não estava nessa viagem pois tinha ficado doente.  Descobri que dois sujeitos tinham abusado dele, claro com essa fragilidade que ele demonstrava, tinha que desembocar em alguma coisa.  Falei muito para meu pai, que isso não era para ele, mas me disse que ele tinha que se transformar em homem de qualquer maneira.   Que não podia seguir essa relação que tinha contigo.

Bill sorriu tristemente, imagina tínhamos um namoro sem consequências nunca fizemos sexo, nem nada, apenas nos apoiávamos um ao outro em nossos sonhos, eu imaginava sim ter algo com ele.  Então acredito que esse abuso, tenha quebrado todo seu sonho romântico de ter alguém para gostar.

Foi meu melhor, amigo, companheiro de juventude, os dois juntávamos dinheiro para sair da cidade, ir para NYC realizar nossos sonhos.  Quando morreu, vi que não tinha escapatória, tinha que ir de qualquer maneira.

Graças a minha mãe, meu irmão, filho do meu pai com sua outra família, que me deu trabalho, um lugar para dormir, pude ir.   Encontrei nessa família que me acolheu, uma outra família, Mariah é neta da senhora que me hospedou, se tornou a melhor amiga que alguém possa ter, agora acabamos o curso que fizemos, tenho que te mostrar o catalogo da exposição que fiz, de final de curso, como melhor aluno, depois a mesma foi para uma galeria, aonde se vendeu tudo, por isso tive dinheiro para viajar.

Quero ver, eu tenho um studio em Montmartre, desenhei anos seguidos, escondido de meu pai, inclusive de meu irmão, tinha medo de que alguma indiscrição, chegasse ao meu pai.  Ele não iria me perdoar.  Quando o enfrentei, dizendo que ele era o culpado da morte de meu irmão, quis tirar o corpo fora.  Foi um pai relapso, nunca estava em casa, claro só tínhamos minha mãe, que trabalhava fora o dia inteiro, costurando.

O dia que teu pai, pegou vocês dois se beijando, contou ao meu, sei que foi um escândalo, pois os dois são da mesma laia, mas daí, o teu te expulsou de casa, o outro fez meu irmão embarcar num navio mercante.  Claro foram dois relapsos, nunca estiveram presentes na educação de vocês.

O mais interessante Brandon, é que esse irmão, da outra relação de meu pai, que é um mulato lindo, vive a anos com um chinês, foram eles que me ajudaram.  Ele sempre cagou para meu pai, primeiro disse que trabalhava para o outro, depois quando foram viver juntos, agora estão casados, o velho segundo ele ficou uma fera.  Ele se vingou de uma maneira muito própria, mandou o convite para meu irmão mais velho, bem como para minha mãe.  Só assim ela viu que era verdade que tinha outra família.   Pediu divórcio, sua mãe tampouco o aceitou mais, meu irmão foi para Londres.   Ele ficou sozinho.   Mas como diz Rosemary, seu piru não pode ficar dentro das calças.

Minha mãe, bem como esse meu irmão vieram a exposição em NYC, afinal tinha que agradecer terem me ajudado.  Minha mãe ficou, arrumou um emprego no Macy’s, diz que jamais deveria ter saído de lá.

Tens algum namorado?   Pois contínuas fantástico com esse cabelos vermelhos.  Sou honesto de dizer que tinha ciúmes de vocês dois, ou melhor mais bem inveja.

Não e tu?

Algum que outro namorado, mas antes tinha que me situar nesse mundo da arte, já fiz duas exposições aqui, mas desenho estampas para uma empresa que tecido.  Talvez de tanto ter visto revistas de moda, isso esta dentro da minha cabeça.  O que faço, agora que tudo se modernizou, é criar padrões através de computador.

O convidou para ir ao seu studio, avisou as amigas, foi com ele.

Sem querer acabaram na cama.  No princípio, se sentiu confuso, talvez por querer comparar com seu amigo, mas tinha noção que eram pessoas distintas.   Talvez por ter trabalhado tanto tempo em navios, Brandon tinha um corpo espetacular, não era tão alto quanto ele, mas se encaixaram.

Brandon mostrou para eles, a Paris fora do circuito de turismo, adoraram.  Mariah, queria explorar justamente isso, Ingrid dizia que sua câmera, parecia mais uma metralhadora, descobrindo lugares.   Quando lhe surgiu uma oportunidade, lhe pediram desde NYC, uma reportagem com roupas jovens, guiada por Brandon, visitou desde os bairros pobres, até os de mais poder aquisitivo, como se vestiam os jovens pelas ruas.

A revista falou dela, com sua central em Paris, logo foi contratada.   Bill o mesmo, tinha conseguido apresentando seu catálogo, um contrato para montar uma exposição numa galeria dedicada a gente jovem.   A única que voltou para NYC foi a Ingrid.

Mariah não parava, a mandavam para fotografar pelo mundo inteiro, tinha uma maneira especial de mostrar como se comportavam os jovens.   A parte de fazer isso para a moda, fotografava as pessoas como tinha feito em NYC, logo tinha uma boa coleção para apresentar em alguma galeria.

Bill, estava sempre com Brandon, este confessou que sempre tinha estado apaixonado por ele, com esses cabelos vermelhos.  Muita gente pensava que ele pintava, lhe paravam na rua, para alguma fotografia.

Um dia estavam sentados os três num café, um homem se aproximou, perguntou se Bill, não gostaria de fazer prova para um filme, se tratava de um personagem que imediatamente lhe apaixonou, Van Gogh, por causa dos cabelos vermelhos, se tratava de uma época que tinha estado em Paris.   O homem olhou Mariah, tinha coincidido com ela em Jacarta, quando fazia um filme por lá.   Perguntou se não queria vir fazer a fotografia do filme.

Foi o mesmo que abrir novas portas, janelas para um mundo novo.  O diretor ficou encantado com Bill, que leu tudo que lhe caiu nas mãos sobre esse período da vida de Van Gogh, bem como sua personalidade.  Abordava com certa cautela, sua vida gay.

Já para Mariah, foi como descobrir um mundo novo.  Nem tinham acabado o filme, lhe chamaram para outro, mal tinha tempo para pintar.  Ao mesmo o diretor conseguiu uma super galeria para Mariah, expor suas fotos de jovens do mundo inteiro.

Quem ficou com ciúmes foi o Brandon, pois mal tinham tempo para ele.

Quando o filme estreou, aí a porca torceu o rabo, pois entrevistas, jornais, televisão, foi o ponto final no relacionamento, era possessivo.

Eles ao contrário, estavam vivendo em outro mundo.  Mas uma coisa combinaram, nada de ceder a drogas.  Justo nesse momento que entravam nesse mundo, dois jovens atores morreram de sobre dose de alguma merda que consumiam.

Bill aceitou a fazer um filme que quando leu o roteiro, chorou muito, falava justamente de um jovem que entra para a marinha, como é bonito, logo é abusado por outro marinheiro, em grau superior, o levando a desgraça.

Foi um filme emocional, pois se fez pensando em seu amigo, como ele era.

Acabou ganhando um César o grande prêmio do cinema francês.  Logo era chamado para fazer filmes na Inglaterra, bem como nos Estados Unidos.  Não parou mais.   Mas quando estava em NYC, sempre ficava na casa da Rosemary, está dizia que nem se atrevesse ficar num hotel cinco estrelas, na verdade ficava para estar junto da mãe.

Numa entrevista que tinha num canal de televisão, sua mãe estava na plateia, o apresentador a viu, pediu que subisse para estar ao lado dele na entrevista.   Foi convidada para fazer um filme com ele no Canadá, justo no papel de sua mãe, mas ao contrário do que ela era. Uma mãe possessiva.   Logo a chamaram para uma série.

Ela ria muito dizendo que quando jovem sonhava em ser artista de cinema, mas nunca tive oportunidade.

Seu irmão apareceu, talvez para tentar algo junto deles, mas não colou, Bill foi para Paris, fazer um filme, sua mãe, para Hollywood fazer um filme de cowboy, em que fazia o papel da dona de um bordel.

Mariah, concorria agora a um César pela fotografia de um filme que tinha feito, sua avó vivia reclamando que só sabia dela por telefone, pelas revistas, nada mais.

Todos se reuniram quando Rosemary morreu, deixou tudo para sua neta, foi uma cerimônia emotiva, pois apareceu muita gente que ela tinha ajudado.  Muitos quiseram falar na cerimônia, foi emocionante.

Joe, justamente era o que mais sentia, pois estava muito unido a mãe.  Falou diante de todo mundo, que ela tinha dado um empurrão na sua vida, não só o acolhendo quando necessitou, mas cuidando de sua filha, hoje uma mulher famosa.  Relembrou o dia que lhe disse que ia viver com Boris, o que tinha falado a respeito.

Bill, contou como foi ter chegado a NYC, sem conhecer ninguém, de como tinha sido com ele, os anos seguinte.

Sua morte como que significou que todos perdiam seu pouso em NYC, atualmente Bill, trabalhava mais em Paris, agora tinha um bom studio, quando não estava pintando, estava fazendo algum filme. Foi chamado para uma série policial francesa, em que o personagem tinha os cabelos como ele.   O interessante era que lhe apareciam agora fios brancos.   Nesta filmagem conheceu um figurinista já famoso por outros filmes, sem saber como fizeram primeiro amizade, depois iniciaram um romance.   A série durou 7 anos, o que lhe permitiu compaginar com sua pintura, uma exposição por ano.   Mariah, sempre estava com ele, se tinha realmente transformado amigos de toda a vida.

Anos depois como cada vez mais trabalhava na França, recebeu Legión de Honor do governo francês.   Era considerado um ator querido do público, não só seus filmes ou séries faziam sucesso, bem como suas exposições, muita gente pensava que tinha começado a pintura depois de ser famoso como ator, sempre estava explicando isso.

Os dois tinham encontrado na França seu pouso, Joe quando vinha com Boris, comentava que eles passavam por franceses o tempo todo.  Que sair com Bill as vezes era complicado, pois principalmente os turistas vinham lhe pedir autógrafos.   Ele de um rapaz fechado, tinha se transformado em uma pessoa afável.

Mariah sempre se lembrava de quando tinha ido ao aeroporto para lhe esperar, o que tinha pensado o caminho inteiro, nunca tinha imaginado que ao conhece-lo minha vida ia tomar um rumo, pois estava era preocupada com o que ia fazer justamente dela.

Reclamava sempre que o tempo passava rápido, quando o pai lhe cobrava que tivesse um romance ou algo parecido.  Dizia que seguia os conselhos de sua avô que isso de viver junto, acordar junto, com os anos era completamente aborrecido.

Seu pai, bem como Bill, Boris discordavam, mas ela preferia isso.  A muitos anos, tinha comprado um casa em Saint-Malo, na Bretagne que era seu refúgio predileto.

Bill ao contrário, ia visita-la, mas logo sentia falta de Paris.  Ali era seu mundo, nunca tinha de jovem pensado nisso, sempre tinha sonhado com NYC, veja como as coisas mudam, não podia pensar em estar em outro lugar.

Mesmo quando estavam longe um do outro se falavam todos os dias.  Joe comentava, que lastima que entre esses dois não tivesse surgido nada mais além da amizade profunda que os unia.

 

 

   

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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