lunes, 28 de junio de 2021

FAMÍLIA E OUTROS BICHOS

 

                                           FAMILIA  E  OUTROS  BICHOS

 

Maria Helena, ou Heleninha como a chamava, estava saindo da Universidade na Ilha do Governador, quando seu celular tocou.  Olhou quem era já com vontade de desligar, mas viu que era o senhor Gilberto o contabilista que levava todos os assuntos da família, ela o tinha aparte, pois não mistura nenhum dos seus assuntos, com o resto da família.

Ele perguntou se podia passar no escritório, já era tarde, sabia que essa hora ela saia da Universidade, a estaria esperando.  Como era uma sexta-feira, não era difícil de estacionar, pois a maioria dos empregados do comercio, já estavam fazendo a Sexaferia, o dia de sair, beber demais, fazer sexo, os bares sim estariam cheios.

No carro foi pensando, que tudo que queria era chegar em casa, tomar um banho, colocar uma roupa confortável, escutar uma música, ficar na sua, como falava sua geração.

Sexta-feira a noite também era o jantar de reunião da família, mas ela com desculpas, nunca ia, desde que ficara viúva, não tinha o marido para insistir que devia ir.

Sentia uma falta dele imensa, tinham sido dez anos de bons momentos, ele era quase vinte anos mais velho do que ela, motivo pelo qual a família em peso ficou contra ela, mas isso com ela não funcionava, pois sempre tinha ignorado as regras.   Mandou todos a merda se casou, com um homem mais velho, pior divorciado.

Nunca tinha se arrependido, nem um minuto, encontrou sem procurar sua meia laranja, gostavam das mesmas coisas, com ele se sentia realizada, ele não bancava o paizão com ela, pois sabia que ela odiava isso.

Discutiam os detalhes de qualquer coisa, antes de realizarem, não como em sua casa, que as ordens de seu pai eram lei.

Chegou ao escritório, já estava o Gilberto, bem como sua secretária, que ela imaginava que ou era sua mulher ou sua amante, mas lhe dava igual.

Sentou-se, o que aconteceu, alguma coisa errada na minha declaração de rendas? Os impostos sabiam que não eram, pois entravam diretos em sua conta no banco, recebia ali sua pensão de viúva, bem como seu salário, dava para tudo.   Além do dinheiro que recebia de algum cliente para quem fazia um projeto.   Era arquiteta paisagista, como dava aulas, lhe sobrava pouco tempo para projetos.

Prefiro falar contigo, creio que eres a única nessa família que tem cabeça.  Teu pai, bem como seu escritório estão arruinados, lhe colocou uma pasta na frente.  Venho avisando a anos, que deviam conter despesas, que já não tem tantos clientes para tanta gente trabalhando, mas claro, teus cunhados pensam diferentes, que se mandam gente embora, vão dizer que estão mal de projetos.  Depois que teu pai se afastou, realmente os projetos diminuíram, afinal era ele quem tinha nome.

A última gota, foi um dos teus cunhados, que resolveu, que havia que redecorar o escritório inteiro, pagou tudo com cheques pré datados, foram todos devolvidos, porque não tinham dinheiro no banco, não uma, mas três vezes.   O banco deve ter reclamado, mas não sei quem lida com isso, pois não fizeram nada.   A empresa que vendeu para eles, entrou na justiça, ganhou porque não compareceram.  Embargam a empresa, o banco embarga os apartamentos pois os mesmo foram dados como garantias em sucessivos empréstimos, ou seja não vejo solução, venho avisando a muito tempo, mas ninguém me escuta, até gostaria se não fosse por seu pai ser um velho amigo, deixar de tê-los como cliente.

Por favor entregue esses documentos ao teu pai, pois a ti ele escuta.  Sinto muito soltar essa bomba na tua mão.

Sentou-se no carro, seu velho carro, motivo de chacota de toda a família, que sempre tinham o carro do ano.  Embora nenhum na verdade fossem deles, com isso tudo os bancos ia recolher os carros também com certeza.

Teve um esgar amargo na boca, puta família.  Sempre tinha sido assim, comer sardinhas, arrotar caviar.  Sempre contando balelas para todo mundo, ela odiava tudo isso.

Bom o único jeito, pegar touro pelos chifres, menos mal que sábado de manhã era seu dia de ir para seu sítio em Itaipava, ao pé da serra.  Quando tentaram dar seu piso como aval ela por seguridade disse que não podia, pois na verdade era a herança de sua marido a sua filha que vivia na Alemanha.   Era mentira ela sabia, mas não queria estar metida nas merdas da família.

Desde garota, era a filha caçula, com uma boa diferença de idade para as outras duas irmãs, como se dizia ela era filha de um momento de romance entre os pais.

O pai a adorava, mas ao mesmo tempo reclamava que era rebelde.  Na mesa quando todos se reunião para comer, era a única que estava sempre de boca fechada, comia, sempre tinha alguma coisa para fazer.

Tempos atrás o filho de uma das irmãs, disse que seguia seu exemplo, comer sem abrir a boca, depois desaparecer.  Aguentar os comentários, o disse me disse, era muito para ele, como sei que é para a senhora.   Depois que a senhora sai, metem a boca na senhora, até que o avô manda todo mundo calar a boca.

Ela como o pai, estudou arquitetura, mas não queria trabalhar no escritório dele, conseguiu por um acaso, não porque procurasse, aquela história de uma amiga lhe disse que procuravam estudantes para trabalharem no escritório do Oscar Niemeyer, não pensou duas vezes, não disse nada a ninguém, se apresentou como era na realidade, foi entrevistada por muita gente, mas a palavra final era dele. Tiveram um bate papo incrível.  Foi ela a escolhida, entre dez candidatos.   Ficou um ano lá, um dia ele lhe chamou, porque ela tinha feito alguns projetos de paisagismo num dos projetos dele, falou de uma bolsa de estudos para a Sorbonne, se ela queria ele a podia indicar. 

Na época, estava de saco cheio da vida que levava, todas as amigas tinham se casado, estavam todas esperando seu primeiro filho, ela nem namorado tinha, encontrava defeito em todos, pois a maioria ou era surfistas, ou filhinho de papai, não era essa a sua onda.  Todos viviam fumando ou cheirando cocaína. Estava fora, gostava da realidade.

Disse que sim, que lhe encantaria, essa oportunidade, quando voltes já sabes que tem um emprego garantido.   Deu um beijo no velho, os outros reclamavam dele, mas não sabia porque ele era sempre legal com ela, apresentava os projetos que lhe pedia, ele dava sugestões, ou a mandava falar com seu grande amigo Burle Marx, dizem que esta velho demais, mas sabe das coisas.

Ela ia, afinal, estava ali para isso, quando disse ao pai que ia ser auxiliar no escritório do Oscar, o pai que o detestava, disse que não, que ela fosse trabalhar com ele.   Nem respondeu, sabia que se dissesse algo, ele teria mil e um argumentos, que não lhe interessavam.

Quando falou que iria para Paris, indicada por ele a mesma coisa, o que foi que perdeste em Paris, estudar paisagismo, isso não dá dinheiro, nunca contou a ninguém que tinha comprado ela o sitio de Itaipava, com o dinheiro que ganhava dos seus  projetos, que tinha ido aplicando, orientada pelo Gilberto,  até hoje escutava as orientações dele.

Quando chegou, os pais, as irmãs viviam no mesmo prédio, ali na Praça N.S. da Paz, que tinha sido construção do velho.   Ele vivia na cobertura, que tinha desenhado especialmente para eles viverem.   As irmãs quando se casaram com dois arquitetos da empresa, ganharam cada uma um apartamento.   Ela foi a única que não, foi morar com Alfredo, antes de se casarem.  Só dois anos depois de estarem vivendo juntos foi que se casaram pelo civil, sem direito a festa nada disso, ela preferiu fazer uma viagem com ele, NYC, San Francisco, enfim, foi mais divertido.

As irmãs ao contrário, grandes festas no Country Club de Ipanema, tendo como convidados, as melhores cabeças pensantes deste pais, segundo seu pai.  Da última, a que tinha um filho, ela não foi, estava em Paris, se negou a vir.

Passou quase quatro anos em Paris, pois ao mesmo tempo conseguiu um trabalho, participando de um projeto imenso de reordenação dos jardins do Palácio de Versailles, foi simplesmente fantástico.   Claro que ela não ia deixar nada disso, para ir a um casamento, aguentar todas essas baboseiras que não eram com ela.    A tratavam bem, era sempre a querubim de tudo, a mais jovem.   Mesmo no curso, os professores diziam que ela era a mais interessada.       Na sua cabeça, pensava, mas se estou aqui para isso, em que ia perder tempo.

A mãe sempre perguntava se não tinha encontrado um francês rico, assim melhorava o estatuto da família, ela mudava de conversa.

Quando voltou, foi um problema, todas suas amigas, eram agora donas de casa, não importavam que tivessem feito faculdade, estavam cuidando de filhos, o assunto era o mesmo, ela ficava de fora.   Um dia estava num encontro com elas no Garota de Ipanema, arrumou a desculpa de ir fumar um cigarro.  Escutou uma voz bonita do seu lado, tua cara demonstra tudo, precisas aprender a fingir que estas feliz em escutar essa conversa de senhoras de família.

Assim conheceu o Alfredo, ele disse que já a conhecia, a tinha visto um dia no escritório do Oscar, as vezes executava obras para ele, tinha uma empresa de engenharia.

Antes de mais nada, quero dizer que sou divorciado, foram suas primeiras palavras, quando se sentaram para tomar uma cerveja.  Na época ser divorciado era um Karma, lhe contou tudo, eu quando vejo essas meninas assim, estudam, fazem uma universidade, mas tudo com fundo de encontrarem um príncipe, foi o que aconteceu comigo, só que eu não era o príncipe encantado, queria uma companheira.  Ela fez tudo para ficar gravida, o que não era o meu sonho, não tenho madeira de pai.

Depois os anos que passei trabalhando para o Oscar em Brasília, me disse o que ela ia fazer em Brasília no meio dos candangos, de gente de obra essas coisas.   Fui sozinho, vinha quando podia, o que era difícil, tinha que ser de avião, nada de carro, com essas estradas de merdas do Brasil.

Um dia perguntei por ti lá no escritório, me disseram que era a menina dos olhos do Oscar, que fazia os projetos de paisagismo para ele, que inclusive tinha conseguido uma bolsa de estudos para ti em Paris.

É verdade, mas nem sei o porquê disso, procuro me dar bem com todo mundo, só não gosto de panelinhas, todas as empresas têm, eu sei disso, mas estou ali para trabalhar, levo a sério o que faço.

Eu vi, passei umas dez vezes pela mesa, cheguei a tossir, nem levantaste a cabeça, depois me disseram que quando estás imersa num trabalho, o edifício poderia cair, que tu não ias ver.

Acho admirável isso.   Não tens namorado, nada disso, sendo tão bonita.

Ora não gaste tempo com papo furado comigo, bonitas, graciosas são as minhas amigas, dizem que sou antiquada, que me visto mal, que nunca uso maquilagem, nem sapatos altos, odeio tudo isso.

Sim eu sei, uma garoto tonta, ao ser convidada para tomar uma cerveja, iria toda emperiquitada, mas tu vieste normal, gostei demais disso, não vendes uma imagem falsa ao teu respeito.

Ficaram rindo os dois, ele ainda acrescentou que podia ser seu pai, que quase lhe levava 20 anos, mas estava adorando o papo franco dele, nada daquele papo idiota dos surfistas, os de sua idade.

Na segunda vez acabaram na cama na casa dele.  Lhe disse que nunca tinha levado nenhuma mulher lá.  Ela disse brincando, “me engana, que eu gosto”, levou muito tempo para acreditar nessa história.

Se sentiu à vontade com ele, desde o primeiro momento. Até que chegou o momento que muito séria lhe disse que tinha que contar uma coisa.   Ele ficou sério olhando direto na sua cara, quando falas assim tenho que esquecer o mundo todo, só prestar atenção em ti, porque deve ser coisa seria mesmo.

Não posso ter filhos, tive um romance em Paris, com um professor, fiquei gravida, resolvi apesar de nunca ter pensado em filhos, ter a criança, por azar, vivia num terceiro sem elevador, uma escada estreita, escorreguei porque vinha carregada de projetos, perdi a criança, foi uma coisa complicada, tiveram que me tirar os ovários.  Nunca poderei ter filhos.

Isso não importa, o que me importa verdadeiramente é saber se queres estar comigo, pois estou apaixonado por ti.  Ela disse pela primeira vez que estava loucamente apaixonada por ele. 

Foi quando resolveu aceitar o convite dele, para viverem juntos, para ver se dava certo, depois os casamos se resolvemos que sim.  O duro foi ter a família inteira contra ela, mas ele estava ali firme, não arredou nenhum pé.    Apenas disse, a decisão é tua, tens que pensar quem vive a tua vida eres tu, não eles.   Arrumou seus panos de bunda como ela chamava as calcinhas, se mudou a viver com ele, nunca se arrependeu.

Ficou ali parada no carro, um tempo, até que seu Nico, o guarda carros se aproximou lhe perguntando se estava bem.   Era um homem a quem ela sempre dava dinheiro, um dia seu pai viu do alto do edifício ela lhe dar algo, ficou uma fera, falou horrores do homem.

Ele era sempre gentil com ela.     Lhe agradeceu, já volto seu Nico, vou levar uns papeis para essa família chata.

Subiu já pensando no que ia dizer, ao entrar viu que o sobrinho de quem ela nunca lembrava o nome, ali com um amigo, sem saber se entrava ou não, vamos entre, enfrente as feras, foi o que lhe disse.

Mal entraram, seu pai virou para o neto, já te disse que não te quero ver andando com o veadinho do edifício, já sei que seu pai o expulsou de casa, fora daqui os dois.

Ficou ali parada de boca aberta, realmente nada mudava naquela família, se lembrou um dia que subiu com o filho do porteiro que estudava junto com ela, ia lhe ensinar um problema de matemática que ela não tinha entendido, seu pai o tinha colocado para correr, como ela se atrevia a se misturar com o filho de um porteiro.

A partir desse dia, deixou de respeitar o pai.

Uau, foi tudo que disse, vejo que nessa família nada muda, um dos seus cunhados, com quem não se dava, soltou o que vem a princesa fazer aqui numa comida de família, sabemos que não somos suficientes bons para teu paladar.

Me pediram que fizesse um favor, deu a volta, parou ao lado do pai.  Venho informar que não precisam mais trabalhar, o escritório foi embargado, bem como todas as contas nos bancos, vocês estão todos falidos, ah, está junto um aviso do Banco, que devem desocuparem os apartamentos do edifício, pois agora pertencem a eles, já que não pagam o que deviam, além claro dos carros.  Passar bem, bom apetite, virou as costas foi saindo.

Se podia escutar até o ruído de uma mosca batendo asas.

Quando saíram, os dois garotos estavam ali parados com lagrimas nos olhos, o que tinha sido expulso, com uma mochila, além de uma bolsa no chão,  disse ao sobrinho, arrume suas coisas, vocês vão comigo para minha casa, os espero na praça, sejam rápido porque vocês escutaram a bomba que soltei, corram antes que os atinja.   Me dê essa bolsa disse ao garoto, já vou levando esta para o carro.   Não precisa levar teu violão lá em casa tem o do Alfredo.

Sabia que o sonho do garoto era ser músico, inclusive o violão tinha sido presente dela.

Desceu furiosa, seu Nico estava do lado do seu carro, voltou rápido Dona Heleninha, a coisa deve ter sido feia.

Isso espero seu Nico, essa gente pensa que esta acima do bem, e do mal, mas todos tem a bunda, suja, comem, cagam como todo mundo.   Ele se matou de rir.

Os meninos vieram correndo, viu que sua mãe, vinha atrás dela, deu dinheiro para seu Nico, se cuide, ficarei sem aparecer por aqui um bom tempo.

Disse para os meninos, rápido para o carro, saiu zuando dali.   Pois com certeza sua mãe ia pedir como sempre que ela ajudasse.   Nem pensar.  Tinham se metido em camisa de onze varas que saíssem.  Nunca queriam sua opinião, que se apanhassem.

O garoto estava sentado ao seu lado, como chamas meu filho, Alfredo dona Heleninha, sei que é o nome do seu marido, o João me contou.

O João como eu tem bom gosto em escolher seus amigos.  No caminho foi pensando, eles vão correr para minha casa.  Nunca iam, a não ser para pedir alguma coisa.

Sabem de uma coisa, ia convidar vocês para irem comigo amanhã para Itaipava, mas creio que vou hoje, porque senão essa corja vai aparecer logo.

Que corja, perguntou inocentemente o Alfredo?

A nossa família né tia, um bando de desocupados isso é o que são, meu pai é o primeiro.

Tentei falar com ele outro dia, disse que estava ocupado, pensando como ia enganar o imposto de renda, que fosse qual fosse o meu problema, podia esperar.

Ia lhe contar que o Alfredo estava para ser expulso de casa por minha culpa, o tio dele que é militar me viu o beijando. Ele virou veado imediatamente, só por um beijo, mas é que gosto dele tia.

Meu querido, 99% por cento dos meus amigos e amigas são gais, espero que vocês unicamente sejam felizes como dizia o Alfredo, pois o resto não conta nada.   Já conversaremos quando eu esteja de cabeça fria.

Ele tinha escutado tudo que ela tinha dito a família.  Então a coisa é feia?

Feia não, preta, negra, sem luz no final do túnel inclusive porque não pagaram a Light.

Os dois riram, a senhora tem um jeito de falar todo especial.

Isso lhe dizia o Oscar, que ela era a única do escritório que tinha humor, como ele gostava, tens até os gestos exagerados para as coisas, mas o pior é que estas sempre certas, quando dizes que não vai dar certo.

Foi ele, que lhe tinha avisado para se candidatar a vaga na Universidade, inclusive usou seus conhecimentos para conseguir, na verdade não tinha sido difícil, o chefe da cadeira, estava velho ia se aposentar, ninguém queria dar aulas de paisagismo, ela ao contrario amava isso.

Chegaram a sua casa, ela só tinha que avisar o porteiro, que de maneira nenhuma dissesse aonde estava, pegou só mais umas mantas, para os meninos, comida lá sempre tinha, passou a não no celular, avisou ao Célio o que cuidava do sitio para ela, que estava subindo.  Ele ainda perguntou se queria um jantar, não, vou parar na estrada para comer, vou com meu sobrinho e um amigo dele, depois te conto.

Celio e Alberto, era um casal gay amigos do seu marido, que tinham ido morar lá, cuidavam de tudo, ao mesmo tempo que tinha uma horta orgânica, preparavam sabonetes perfumados, outras coisas para vender na feira em Itaipava.   Tinham a mesma idade do Alfredo, os dois tinham levado anos demais no armário, o dia que saíram foram abandonados por todos amigos, menos pelo Alfredo, que os adotou.   No sítio, tinha uma casa de convidados, disse que poderiam viver ali o resto da vida.  Ela na verdade só contava com eles, quando ele tinha morrido, tinham sido os únicos que ficaram do lado dela.

Seu pai, ordenou que ela voltasse para a casa da qual nunca deveria ter saído, em vez de ficar quieto, começou a falar mal do Alfredo, o resto o acompanhou, os mandou todos a merda.

Seu único apoio foi justamente a filha do Alfredo, que fazia semanas que estava ali, tinha telefonado para ela, dizendo que estava preocupada, que o médico tinha dito que a saúde dele estava frágil.   Ela veio imediatamente.   Ao vê-la cuidar do seu pai, disse, tinha dúvidas se realmente amavas meu pai, mas vejo que me enganei.   Quando ele morreu dormindo, foi a única pessoa que ela pode contar.

O enterro foi uma coisa impressionante, até Oscar Niemayer, Lucio Costa foram, já velhos, dizendo que eles deveriam ter ido na frente, ainda fizeram uma brincadeira, ele deve ter ido antes, para preparar a plataforma, dois velhos pesados como nos dois, precisa de uma base sólida, o céu desse pais, não é muito seguro.

As semanas que a filha dele, ficou ajudando com a papelada do Alfredo foi importante, o Sitio era de sua propriedade, mas o apartamento era seu, porque era a esposa, ela fez questão de colocar, que seria de usufruto, eu não tenho filhos, natural que fique para ti, o dia que eu morra.

Agora sempre se falavam.  A sorte de seu apartamento não estar como aval de nada era essa, ela só tinha o usufruto, dizia o mesmo do sítio, ninguém sabia que era dela.  A criticavam por ter um salario de professora universitária, que devia ser uma merda diziam.

Agora queria ver com quantos paus se faz uma canoa, pois os idiotas tinham vivido eternamente na sombra de seu pai.  Quando ele deixou de trabalhar, dizendo que queria ficar mais tempo na praia com os amigos, a coisa tinha ido pro brejo.

Todos arquitetos, estavam construindo na Barra da Tijuca, isso para eles era um absurdo, todos eram novos ricos.  Não viam o próprio umbigo, pois no fundo eles também eram.

Pararam na casa do Alemão, na entrada de Petrópolis, sentaram-se para comer, pediram ela perguntou se eles queriam uma cerveja, um olhou para o outro, disseram que sim

Comigo não precisam fumar escondidos, nem beber cerveja escondidos, podem falar tudo que queriam, estou fora das coisas condicionadas, vou por livre na vida.

Eu já pensando que ia ter que dormir na rua, vem a senhora me convida para vir junto, foi demais.

Primeiro parem de me chamarem de dona ou senhora, sou ou Helena, ou Heleninha, nada de cerimonia comigo, nem com o Celio, bem como o Alberto, são dois senhores, sim, mas exalam a juventude que lhes foi negada.  Vivem juntos a 20 anos, são excelente pessoas. Trabalhamos juntos coisas de Botânica, ervas que consegui de uma professora que tive da Rússia, que tem o maior catálogo de ervas do mundo.

Depois que o Alfredo morreu, primeiro fui a Paris atrás dela, pois queria plantar coisas interessantes no sitio, ela não estava mais lá, fui para San Petersburgo, aonde ela recuperou um palácio que era da família, mas vive na maior simplicidade, consegui o que queria além de ter sido orientada por ela.

O velho quando disse que tinha ido a Rússia, perguntou se agora eu era comunista.

Eu sou porra nenhuma, odeio qualquer político, são todos a mesma merda, não servem para nada.

Vejam o Celio, encontrou na entrada do Sitio, uma menina, ainda bebê, num cesto, imagina, não o deixaram adotar.  Tive que criar um escândalo.  Alias me conhecem em Itaipava porque quando a coisa não anda, faço um escândalo.  Riu se lembrando da ocasião.

A senhora nunca teve filhos?

Não creio que seria uma boa mãe, sempre estive envolvida com meu trabalho, depois o Alfredo era 20 anos mais velho do que eu, seria o avô de um filho.  Ele já tinha uma filha, para ele isso bastava.

Sou a tia que estraga o sobrinho, porque tuas primas não contam, saíram aos pais, são tontas para caralho.  Quando viajei a última vez, me perguntaram se podia comprar umas coisas para elas, tudo coisa que tem aqui no Brasil, na certa para dizer que vinha da Europa.

Eu quando voltei minhas irmãs pensaram que tinha me prostituido, pois eu tinha roupa da Chanel, YSL, outras marcas.   Tinha umas companheiras francesas da faculdade, que sabiam aonde as pessoas se desfaziam de roupas que não queriam mais, íamos lá fazíamos uma festa.

Tenho até hoje as mesmas roupas, quando tenho que me vestir de mulher como digo, uso essas roupas estão sempre na moda.

Depois antes de seguir, ela perguntou ao João se ele sabia conduzir.  Ficou sem graça, sei, mas meus pais não sabem.  Então leva o carro, estou cansada.

Se queres depois tiramos carteira de motorista para ti aqui em Itaipava, deve ser mais fácil.

Ele se sentou senhor de si, arrumou o banco, ela disse ao Alfredo para sentar na frente com ele, assim esticava as pernas atrás.

Iam felizes da vida, conversando os dois.  Sentiu uma certa inveja da idade deles, bem como os sonhos.  A maioria dos gais que conheciam tinham saído do armário muito tarde, repudiados pela família essas merdas.

Sabia uma coisa, um dos irmãos de seu pai, com quem ele não falava, que tinha trabalhado com Lucio Costa, era gay, foi um dos primeiros arquitetos a desenhar, prédios na Barra da tijuca estava milionário, vivia com o mesmo companheiro a mais de 20 anos.

Sabia que agora, seu pai, bem como seus cunhados, tinham poucos recursos, poucos lugares a recorrer em busca de ajuda.

Imaginou o escritório pomposo que tinham no centro da cidade, embargado pela justiça, uau, ia ser do caralho.   Essas coisas corriam como pólvora seca.

Menos mal que tinha entrado de férias, resolveu perguntar aos meninos se estavam de férias.

Sim entramos ontem.

Ótimo assim não necessitamos voltar tão cedo para o Rio.   O celular do sobrinho tinha tocado várias vezes, era sua mãe.  O último era uma mensagem, diga a tua tia, que preciso falar com ela é urgente.

Ela tinha apagado seu celular, além de que ali em Itaipava a cobertura não era boa, uma bela desculpas.

O melhor que fazes é apagar o celular, assim não te enchem o saco.  

Alfredo disse, que o seu, o pai tinha rompido, pisando em cima.

Não vou dizer aquela famosa frase, que estando comigo estão com Deus, mas creio que estarão bem os dois, considerem que estão em férias, embora saiba que o Celio os colocaria para trabalhar rapidamente.    Ele adora distribuir tarefas, nem eu escapo.

Quando estavam chegando perto, ela avisou aonde ele tinha que entrar, não tinha nenhuma placa de proposito, segundo ela assim os parentes não descobriam seu paraíso.

Celio estava sentado na varanda da casa com o Alberto, ajudaram a descarregar a bagagem dos meninos, bem como as mantas.  Estava bem fresco lá, era sim todo final de dia.

Fiz uma sopa, se os apetece, caso contrário guardamos.

Jantamos no Alemão disse o João. Foi legal, minha tia nos salvou de dormir hoje na praça.

O que aconteceu perguntou Alberto sempre preocupado com as pessoas, ela deixou que o João contasse, o Alfredo foi expulso de casa, pois um tio dele, viu que eu o beijava, estou apaixonado por ele, fui falar com meus pais, mas meu avô me colocou porta afora, bem que a tia estava ali, nos salvou.

Ela soltou uma bomba monumental, depois, saímos correndo para viver a vida aqui, estamos de férias.

Pois as férias acabaram soltou rindo o Celio, amanhã levantar cedo, para trabalhar, preciso de mais gente ajudando a separar as plantas, coisas para replantar, o Alberto está ficando velho, mas o amo assim mesmo, ficando mais lerdo.

Se distrai analisando cada planta, imaginando o que pode fazer com ela, esquece do serviço, ficaram rindo inclusive o Alberto que concordou, isso é verdade, mas sempre fui assim.

Levou os meninos para o quarto que iam compartir, são duas camas, mas se querem dormir juntos, é só juntar, os dois ficaram vermelhos, soltaram para o Celio, ainda não fizemos sexo.

Então toca começar a fazer, não percam tempo, venham me ajudem a juntar as camas, mas isso tudo rindo, amanhã quando escutarem os galos, não quero desculpas de que estiveram fazendo amor a noite inteira hem. Deu um beijo em cada um, durmam bem garotos, não se preocupem, com a Helena, não tem problemas.  Depois somos da família.

Helena ainda contou aos dois o que tinha tido que fazer, na reunião de família, devem estar como loucos atrás de mim, claro para ajudar a sair desse marrom, mas nem quero saber.   Estão arruinados totalmente, a não ser que vocês queriam contratar esses idiotas para trabalharem com as plantas. 

Nem fale, se elas escutam morrem.

Foram todos dormir, Helena se jogou na cama, ainda ficou pensando um pouco se acendia o celular, mas pensou, amanhã faço isso.

De manhã, todos se levantaram quando os galos começaram a cantar, Celio na cozinha ria até da cara dos garotos, que não estavam acostumados a levantar cedo.  Chegou-se aos dois lhes perguntou que tal é amar.   Abriram um sorriso imenso.

Então toca tomar café, o pão acabei de fazer, temos que trabalhar, Helena sentada na ponta da mesa tinha uma cara horrível.

O que foi perguntaram todos?

Maldita hora que resolvi abrir o celular, vou ler as sequencias, se não é coisa de loucos, a partir daí, desliguei o celular.

Papai teve um enfarte, mas sabe como é aquele de fingimento,

Depois um da tua mãe João, meu marido foi embora por tua culpa, papai o expulsou de sua casa disse que ele era o culpado.  Mas não te perdoo, esses papeis foi você que trouxe.

Depois de minha outra irmã, mamãe diz que você não quis escutar, acha que você renega da família.

Outra de tua mãe João, roubaste meu filho, devolva, esse outro garoto é escoria.

Mais uma, agora vou ficar sozinha por tua culpa.

E por aí vai, agora este é sensacional.

Papai de tanto imitar que tem um enfarte, teve um de verdade, ninguém prestou atenção até que caiu no chão.  Nenhum hospital particular o aceitou, porque seu cartão de crédito está cancelado, está na Urgência do Souza Aguiar, aonde viemos parar.   Tudo por tua culpa.

Outro de minha mãe, seu pai como sempre fingindo enfartes, dessa vez é sério esta no Souza Aguiar, reclamando de tudo.  Diz para você vir imediatamente.

Depois, está é a melhor. Escrito do celular dele.  Filha só tu podes salvar a situação, tuas irmãs e tua mãe não para de falar. Que mal fiz a deus de ter só filhas mulher, que se casaram com pé rapados.

Da tua mãe outra vez João, meu marido voltou, quer o divórcio, diz que não nasceu para ser pobre, aonde está meu filhinho. 

Outra perola da minha outra irmã, é agora, o que faço as meninas não podem ir à universidade, como vão arrumar maridos.   Meu marido não tem nenhuma economia.

Outra do meu querido pai.  Volte imediatamente, venha resolver esse situação, quem soltou a bomba foi você, portanto eres a responsável por resolver.

Mas claro já respondi a todo mundo ao mesmo tempo. FODAM-SE

Ou seja eu sou a culpada de tudo, primeiro nem trabalho com eles, nunca pedi nada, tudo o que tenho ganhei com meu suor, ou do Alfredo, sempre me criticaram, o Gilberto foi esperto em me pedir para levar esses papeis, sabia que o iam acusar de ser o responsável por tudo.  Sobrou para mim.

Resultado, celular desligado outra vez. 

Como é essa do enfarte?

Ele sempre que alguém o contradiz, coloca a mão no peito, finge que esta tendo um enfarte, para que concordem com ele. Fez isso quando me casei com o Alfredo, mais eu já conhecia o truque, só lhe perguntei se queria um caixão simples, qual cemitério o do Caju, São João Batista.

Ficou puto da vida, disse que eu não o amava, essas chantagens de pai.   Virei as costas, peguei a mão do Alfredo, lhe disse, vamos embora, nos casamos assim mesmo, depois vamos ao cemitério levar as flores para ele.

Ninguém foi ao meu casamento, só vocês dois que foram testemunhas.  Foi genial, em vez de festa fomos de viagem.

O Alfredo queria fazer uma festa, eu lhe disse que marcasse com todo os amigos no Garota de Ipanema depois da praia, que pagasse uma rodada de cerveja, que isso estava perfeito.

É verdade, foi nesse dia que saímos do armário, um do grupo soltou que só faltavam agora se casar nos dois.  Sem querer soltei que já estávamos casados a muito tempo, lhe dei um beijo na boca.  Desapareceram os amigos.

Só tu bem como o Alfredo para nos apoiarem.   O resto deixou de falar conosco, quando vocês voltaram de viagem, estávamos na pindaíba, tínhamos perdido os empregos, sem lugar direito para viver, Alfredo nos levou para viver com vocês, mas não me arrependo, vivemos finalmente felizes, sem medo de dizer que nos amamos.

As coisas não mudaram tanto assim, as pessoas aceitam mais, desde que não seja em sua própria família.

Bom chega de papo, vou distribuir os trabalhos, Helena, dê uma olhada no pedido de sabonete do hotel de Itaipava, querem mais para a temporada toda, mas querem com uma embalagem que apareça o nome deles.  Sabem que as pousadas estão comprando da gente.  Os idiotas sabem que não vendemos o mesmo para cada um. 

Na feira vendemos com aquela embalagem mais simples.

Se quiserem eu posso desenhar as embalagens soltou o Alfredo, eu estudo desenho gráfico, só preciso de um computador.   Posso desenhar ao gosto do cliente. 

Isso garoto, precisamos modernizar, ficar mais atraente.  Bom já tens uma ocupação, usamos o laptop antigo, mas creio que temos dinheiro em caixa para um novo.

Vamos ver se funciona com os programas modernos, se tivesse uma impressora, eu podia desenhar, imprimir as embalagens. Depois fazemos uma linha de montagem de cada um.

Concordo com o hotel, mas nada de deixar que nos elimine dos rótulos, atrás devemos colocar elaborado pela nossa marca.

Vou mostrar para ti Alfredo tudo o que precisamos de rótulos, para as compotas de frutas que vendemos, são feitas pela Helena com o Alberto, temos uma série de produtos feitos por nós.

Alfredo se virou para o João, rindo, já tenho emprego, tu eres um peão, trabalha com a terra, mas eu sempre gostei de homens brutos.

Um beijo o outro na frente de todo mundo.

Cada um foi fazer o que tinha que fazer.

Na hora do almoço, Helena ligou outra vez o celular, nem vou ler a quantidade de coisas que tem aqui, uma inclusive que não dormiu essa noite por minha culpa.

Bom teu avô foi levado para um quarto, mas não para de reclamar, que tem que compartir com muita gente, vão acabar lhe dando alta para não encher tanto o saco.

Desligou outra vez o celular, mais tarde o ligou outra vez borrou tudo, ligou para o Gilberto, o senhor se livrou de uma bomba ontem a noite, mesmo mal que a soltei, sai correndo, escapei para Itaipava.   Para todos sou a culpada da situação.

Pois é Helena, eles nunca são culpados de nada, nunca assumem a culpa, se vou eu levar os papeis, eu sou o culpado por ser mal administrador.  Mas sempre atendi, por causa de tua mãe que é minha parente.  Senão os tinha mandado a merda a muito tempo.

Se queres minha opinião fica de fora, segunda-feira, terão tudo embargado, eu vou avisar tua mãe que prepare as trouxas, bem como tuas irmãs, pois quando a polícia chegar nos apartamentos, tudo que seja de valor será embargado.

Elas estão no Souza Aguiar, de tanto fingir que tinha um enfarte, o velho teve um, mas ninguém o levou a sério, agora teve um de fato.  Imagino o que deve estar perturbando o pessoal.

Vou telefonar para meu tio, apesar do meu pai ter horror a ele, é o único que pode arrumar um lugar para os dois ficarem.

Ligou para o tio, ela era a única que tinha amizade com ele, quando o apresentou ao Alfredo, ele depois disse que ela tinha feito a melhor escolha possível, esse homem te ama.

As vezes iam os dois jogar buraco com eles num final de semana, já tinham vindo várias vezes a Itaipava.  

Contou do João também, imagina agora saber que seu único neto homem é gay, castigo de Deus.

Tio por favor, não lhes ensine o caminho de Itaipava, sou capaz de esperar com uma espingarda, sair dando tiros.

Se eu for ajudar, faço isso pela tua mãe que apesar de tudo sempre me tratou bem.  Vou dar um pulo no hospital, depois te conto, comenta isso que o Gilberto disse, das coisas de valores.

Celio, lhe disse faz uma coisa, bloqueia tuas irmãs assim não recebes mais mensagens delas.

Quase no final do dia, o Tio ligou.

Haja família, eu sabia que tu eras a culpada de tudo, aquilo parece um circo, quando falei da segunda-feira, tuas irmãs saíram como galinhas espavoridas, tinham que esconder suas joias, a preocupação não é com teu pai, nem com tua mãe, aonde elas vão viver?

Isso é problema delas, dos maridos, não meu nem teu, já são velhos demais para encherem o saco. Não os ajude, pois se vão pendurar no seus ovos.

Ele riu a bessa, já me pediram emprego, um deles, parece que pediu divórcio, mas voltou atrás, vai levar tua irmã para a casa dos pais.   Imagina sair de Ipanema para viver no Grajau.  Ria até.

Eu disse para tua mãe não se preocupar, que tenho um apartamento pequeno ali perto, mobiliado, que amanhã levo as chaves.       A coitada esta desarmada, pois sempre fez tudo que teu pai queria.                    Mas me surpreendi, quando mandou ele calar a boca, em vez de ficar reclamando que me escutasse, acho que ele vai deixar de cantar de galo, vai cantar fino.

Ela ficou as gargalhadas, porque o senhor não sobe hoje para passar o dia em volta da piscina com a gente amanhã.

Espera fala com o Celio, assim combinam o churrasco.

João perguntou quem era esse?

É teu tio avô, que não se menciona nunca, chama-se Rubens, vive com seu marido, agora são casados, Marcos, os dois construíram uma vida espetacular.  Cada um trabalha numa coisa diferente, mas seu avô não podia admitir um irmão gay.   Sou a única da família que se dava com ele, tua avó também, mas as escondidas, eu fui ao casamento deles, foi uma coisa muito emotiva.

Estão juntos a muitos anos, Rubens é arquiteto também, abriu um escritório na Barra aonde vivem, o Marco decorador, tem uma loja, vivem numa cobertura de um edifício que ele construiu na Barra, em que só moram, mas três casais amigos deles.            Todos heteros, mas amigos.

Alguns moveis daqui, são da loja, sempre que podem sobem, se dão muito bem com o Celio, o Alberto foi quem os apresentou sem saber que eram meus tios.

Vocês vão se divertir, pois os dois tem um humor espetacular.

Chegaram logo cedo num 4X4 do Marco, esse apesar de mais baixinho, era quem conduzia, Tio Rubens vinha de senhorito ao lado.

Se abraçaram todos, ela apresentou os meninos.   Esses dois são tio avôs de você João, claro do Alfredo também já que vocês são namorados.

Venham cá garotos, deem um beijo nesses velhos.

Logo sentaram-se para tomar café.   Um dia Celio tens que me dar essa receita de pão que fazes é uma delícia.   Por que não fazes para vender na feira?

Já pensei nisso, mas teria que levantar mais cedo ainda, para fazer antes de sair, temos já tantas mercadorias.

Falar em mercadoria, olha as embalagens que o Alfredo bolou ontem a noite, vá buscar o Laptop garoto.  

Ele veio todo contente, explicou antes aos dois que ele estudava desenho gráfico.

Marcos que gostava de história, antes me contém, desde quando vocês dois são namorados.

Nos conhecemos desde garotos, estudamos na mesma escola, íamos juntos inclusive, um dia percebi um grupo querendo fazer bullying com ele, parti para sua defesa, foi quando me dei conta que o queria.  Mas tínhamos medo de fazer sexo, sem estarmos preparados, quem nos deu o empurrão foi o Celio.

Riram todos, apontando para o Celio, pervertido levando para o mal caminho os garotos.

João, disse todo orgulhoso, mostre teu trabalho Alfredo, se foi escutando murmúrio de aprovação.   O Alberto me mostrou o que tinham, que fazem o de Alfazema para o hotel, que quer seu nome no rotulo.   Depois fui colocando o desenho de cada coisa.

Isso você não viu Celio, uma caixa com todos os tipos, para venderem juntos, para presentes, ou para o natal, isso pode funcionar.

Já vendeu a embalagem, eu posso ter isso na loja, com uma embalagem bonita, justamente tipo para o dia das mães, natal, ou mesmo presente de aniversário, muitas clientes não sabem o que comprar.  Tai uma boa ideia.   Quando você tiver tempo Alfredo, quero que vá na loja, tenho que mudar as embalagens, preciso de ideias para mover as coisas.

João que era gozador, Celio vou viver as custa dele, serei o gigolo do Alfredo.  Correu até ele, lhe deu um beijo na frente dos outros, ele ficou sem graça, mas Rubens disse, meu garoto estas entre amigos, fique à vontade.

O único que podemos sentir é inveja, pois na idade de vocês, estávamos dentro de um armário, bem fechados a sete chaves, com medo de tudo.  Oxalá, tivéssemos amigos para nos apoiar.

Bom me conte agora tio, como foi o encontro com meu querido pai?

Quando me viu, disse para tua mãe, o que quer esse agora, rir da gente?

Foi quando ela mandou ele calar a boca, pois se estavam nessa situação era culpa dele mesmo, que sempre andou com um rei na barriga.   Agora aguente.

Morri de vontade de rir, porque ele ficou quieto, ela me levou para fora, o Marco avisou tuas irmãs, elas saíram como loucas com os maridos atrás, para salvarem as coisas de valor.

Eu fico agora imaginando essas meninas criadas, ou mal criadas pensando que são ricas, irem viver no Grajau.  Mas quem sabe assim aprendem.

Tua outra irmã, que deve ser a mãe do João, é que não sei o que pensa fazer.

Este soltou, talvez ela vá viver no apartamento que ele tem para a amante, em Copacabana, sabe de tudo, mas fica quieta. 

Helena estava de boca aberta, uau, quanta sujeira embaixo do tapete, depois eu que sou a culpada.

Mas tio que o senhor arrume um lugar para eles viverem bem, mas nada de dar dinheiro, o senhor sabe como é meu pai, sempre viveu acima de tudo, o idiota quando está com os amigos, é quem paga a cerveja, para dizer que tem dinheiro, quero ver aonde vão parar esses amigos.

Sei que é teu irmão, mas reconheço que com o senhor, sempre foi um filho da puta, portanto me escute, nada de dar dinheiro a nenhum deles, tem que aprender a se virar.

Ah, os senhores arquitetos meus cunhados, nem se atreva a arrumar emprego para eles, são uns merdas, se acham superiores, mas nem servem para desenhar um conjunto do Minha casa Minha vida.

Tia eu sempre pensei o mesmo, um dia vi meu pai desenhando, pensei, eu desenho melhor do que ele.

Você o que estuda João?

Estou fazendo Belas Artes, contra a vontade de todos, entrei esse ano para a Universidade, mas honestamente não é o que eu pensava, muita coisa antiga.  O Alfredo sim que escolheu bem, tem uma carreira assegurada.

Hoje em dia meu filho ninguém tem carreira assegurada, tudo nesse pais flutua mais que merda no mar.   Esse pais, sempre será emergente.  Mais vale teres um trabalho como fazem o Celio e o Alberto, criar coisas para vender.

Os dois bem viriam como ajudantes na loja, as vezes fico com o saco cheio de atender essas clientes chatas, mas não encontro gente jovem com cultura para isso.  Os que tem, acham que esses chatos, apesar de terem dinheiro não tem cultura, se acham acima deles.  Se esquecem que são eles que compram.

Eu vendo o que eles querem, se olham um vaso chinês, digo logo que é de alguma dinastia, uma antiguidade, como sempre só tenho uma peça, acham que é mesmo.  O melhor e que as vezes aparece aquela que diz assim, vi o vaso da dinastia Ming que senhor vendeu, pode me conseguir um igual, se ela tem eu também tenho que ter.   Coisa bem de brasileiro, se cagas cheirando a rosas eu quero comer o mesmo que tu, para minha merda cheirar igual.

Isso não vão aprender nunca, digo que tentarei encontrar alguma coisa, chamo meus fornecedores, digo que quero algo igual, mas nada do mesmo.  Mal sabem elas, que são feitos em Barra de Guaratiba.

Eu as vezes desenho as peças, que vejo numa revista francesa, mando fazer igual, coloco a revista ao lado da peça, em seguida vendo tudo.

Fico imaginando essa gente em casa, se ufanando de ter uma peça exclusiva francesa.

Estava ali em volta da piscina, isso sim é vida, eu a pouco tempo recebi uma proposta para desenhar uma espécie de hotel cabanas, muito chic, estilo americano.  Quando perguntei aonde era, queriam fazer no meio da floresta aqui, lhes disse que era impossível, que o Ibama não ia permitir.   Um dos donos disse que isso não era problema, que seu pai era político, conseguia tudo.

Eu disse que sentia muito, mas no momento não podia fazer, é que brasileiro gosta mesmo de praia, que ele fizesse no Recreio dos Bandeirantes.   Não é que o mesmo me procurou, dizendo que já tinha o terreno. Não tem jeito os corruptos sempre ganham.

Agora tenho um projeto interessante, mas fora do meu âmbito, estou estudando uma escola para crianças com alto porcentagem de inteligência, embora disse que achava discriminatório, mas pais ricos com merda na cabeça, não tem jeito.   Alias ricos, ricos neste pais hoje temos os velho conceito de remediados, os que trabalham, que vão sobrevivendo os altos e baixos desses governantes loucos.   Me nego a votar em qualquer um.

Os garotos estavam ali com a boca aberta, metidos no meio de uma conversa que se poderia dizer de adultos, Celio como sempre atento a tudo, disse fechem a boca ou emitam opiniões.

João que era muito sério, soltou, nunca podemos falar quando estamos na casa do avô, ele manda a gente logo ficar quieto, depois ele sempre tem razão de tudo, não admite que se discorde deles, meu pai como o tio, balançam a cabeça qual ovelhas.   São uns idiotas, as vezes que quis conversar com meu pai, olhou na minha cara, disse que eu era um fedelho, que não sabia de nada da vida.

Quando quis falar que estava apaixonado, nem quis me ouvir, disse que tinha coisas mais importantes para pensar.  Por isso desde que cheguei estou alucinado, sou um mais no grupo, feliz da vida.

Fazemos tudo os dois juntos a muito tempo, vamos ver exposições de artes, ao cinema, conversamos sobre o que vimos o que pensamos a respeito, mas só entre nós dois, pois na casa dele é igual.   Imagina que nem lhe perguntaram se era verdade, se ele gostava de outro, bastou a palavra do tio.

Isso doí muito.

É verdade, soltou o Marcos, acaba montando uma couraça, contra todos os da família, eu sempre digo que família quanto mais longe melhor, claro que isso não inclui a Helena, me lembro quando nos casamos, ela estava feliz por nosso compromisso, embora seja uma coisa formal.   Rubens avisou o irmão, nem lhe respondeu.   Minha família tampouco, só estavam os amigos, que acabam formando a família que escolhes.

Grande verdade soltaram todos.

O sol estava quente, entraram todos na piscina, Rubens foi ajudar o Celio a preparar o fogo para o churrasco.  O vento trazia um cheiro bom da floresta.

O dia passou rápido, eles tinham que descer para trabalhar no dia seguinte. O abraço dos tios nos dois garotos foi fantástico, qualquer coisa entrem em contato, podem contar conosco para qualquer coisa.

Viu lhes disse Helena, começou a rir, acabado de me lembrar do meu marido, ele dizia quando uma porta fecha, de uma cagada bem grande, saia pela janela do banheiro, que é o melhor remédio.

Eu ficava imaginando isso, ter que me espremer numa janela dessas de banheiro para passar.

O Alfredo ia adotar os dois com certeza, a maioria dos seus amigos eram gays, odiava os metidos a machão, achava que ficar falando de que fiz sexo com a, b ou c, era falta de educação, ele era muito especial.

Um dia tinha um conhecido de não sei quem, chegou muito metido a machão falando disso, que tinha saído com fulana, beltrana etc., ele se virou disse, fudi muito tua mãe, o outro ficou de boca aberta, não sabia o que dizer.  Ele soltou, viu pimenta nos olhos dos outros é refresco. Mas meu querido acho que na verdade você é gay.    O cara sumiu.

Aproveitaram o resto do dia na varanda fora, riram muito quando chegou uma mensagem do Tio Rubens que tinham passado no hospital, tinham dado alta para seu pai.  Ele estava preocupado em tirar as coisas de valor do apartamento.

De qualquer maneira, entreguei a chave para tua mãe, soltei a ela, diga que não me procure para dinheiro, que isso nem pensar.

Imagino que ele vai achar o apartamento uma merda, mas foi aonde nos dois começamos a viver juntos.

Ela agradeceu muito, perguntou se o João estava contigo, lhe disse que sim, soltou que ficava mais tranquila, melhor ele estar longe protegido pela Helena, ela sempre foi a sensata da família.

Depois apagou o celular, aconselhou o João a fazer o mesmo.

No dia seguinte, desceu com o Alfredo para comprar uma impressora, mas acabaram achando um lugar que imprimia no papel que eles quisessem, por um bom preço, com quantidade melhor.   Ele comprou sim material para ir montando as caixas.

Na volta soltou, finalmente posso dizer que estou no caminho que queria para mim, posso dizer que amo uma pessoa, teu sobrinho sempre me protegeu na escola, porque sou tímido, sempre foi meu único amigo.

A semana correu rápido, prepararam material para levar no mercado no sábado seguinte, dia de muitos turistas, que vinham passar o final de semana, as caixas desapareceram num piscar de olhos, as novas embalagens faziam sucesso.

Celio depois deu dinheiro para os dois por terem ajudado.

Alfredo já estava desenhando um adesivo para as geleias, tinha visto, gostavam era simples, mas chamativo.   Melhor do que as feitas à mão.

Iriam ao mesmo lugar para ver se podiam imprimir, estiveram recolhendo frutas, separando as boas para fazerem geleias, entraram na cozinha para ajudar Helena e o Alberto a preparem.

Heleninha, só acendia o celular uma vez por dia, para ver se tinha alguma coisa da universidade.  Tinha borrado as irmãs do WhatsApp, assim não enchiam o saco.

Só falou uma vez com o Gilberto que confirmou, que tudo tinha ido para o brejo, imagina, chegaram no escritório, tinha a porta lacrada.  Tentaram entrar, mas a polícia não deixou. Nem para tirar as coisas particulares.

Mas tua mãe me chamou, procurava por um advogado, o que me surpreendeu, queria um advogado especializado em divórcio.  Pensei que era para alguma das tuas irmãs, mas não disse que era para ela.   Estava farta de tudo, que ia viver o resto de sua vida de uma maneira mais simples.

Chamou a mãe, marcaram um encontro, mas longe de tudo, a viu descer de um ônibus, vestida normalmente como sempre, nunca tinha sido de marcas, a maioria de sua roupa fazia ela mesma.   Dizia que se aborrecia de estar parada.

Se beijaram, que bom te ver minha filha, assim escapo das tuas irmãs que estão todo o dia no WhatsApp.

Faça como eu, borrei as duas do meu, assim não me enchem o saco.

Como está o meu neto?   O único que é carinhoso comigo, que me beija, me abraça.

Esta bem obrigado, está junto com o amigo dele, trabalhando, com uns amigos que tenho.

Isso, os proteja, pois os pais são uns idiotas.  Tua irmã está histérica por estar vivendo num quarto na casa dos sogros no Grajau.  Reclama o tempo todo.  Vai levar muito tempo a entender o que aconteceu.

A outra nem se fala, sua sogra disse que não as queria em sua casa, sempre lhe esnobaram.   Agora estão num apartamento na Men de Sá, no centro da cidade, emprestado por um parente, é a mesma coisa.   Até do supermercado reclama.

Bom que história é essa de divórcio?

Ela soltou um sorriso triste.  Filha, tuas irmãs não sabem, senão iam ficar mais histéricas.   Seu pai, tem um filho, de um romance dele com uma secretária.  Mas nunca reconheceu o filho, que o forçou a ajudar a moça fui eu, até a pouco tempo todos os meses, eu lhe pedia dinheiro para depositar na conta do rapaz.    Um dia, quando ele tinha quinze anos, o vi na porta do edifício, pensei que queria falar com seu pai, que nunca falou com ele.  Mas disse que não, queria me agradecer por todos esses anos ter ajudado sua mãe, ela se casava agora com um viúvo, que eu não necessitava mais ajudar.   Estava já farta do teu pai, continuei pedindo o dinheiro todos os meses, coloquei numa conta no meu nome. Então tenho algo de dinheiro para começar uma nova vida.  Desde que deixou de trabalhar, tem outra amante, pensava que eu não sabia.   Quando começou a reclamar do apartamento do seu tio, que pelo menos podia oferecer um na Barra da Tijuca.

Cortei a conversa, eu vou viver nesse apartamento, você faria uma grande favor de não vir junto, porque te escutar o dia inteiro, me doí os tímpanos, porque não vais viver com tua nova amante, essa que mora no Leblon.

Ficou com a boca aberta.   Lhe disse que fechasse pois entrava mosca.   Arrumei minhas coisas, consegui que seu Nico me ajudasse, levei tudo para o apartamento do teu tio.

Seu Nico manda lembrança, perguntei a ele que ônibus devia tomar para vir me encontrar contigo.  Ele podia fazer alguma gozação, mas não, me disse uma coisa importante.

Se a senhora criou a Heleninha, vais conseguir ser como ela, uma mulher de caráter.   Só pude agradecer, mas vim pensando nisso o tempo todo.   Como pude aos longos dos anos, me transformar assim, virei um capacho de teu pai, na verdade, eu era a empregada de todos.  Mãe, prepara uns doces para a festa das meninas, mas sem me dar dinheiro para nada.   Mãe, arruma este vestido, pois tenho uma festa. Ou teu pai, essa camisa de linho está mal passada, faça de novo, que tenho um compromisso.   Claro para sair com a outra.    Então me dei conta que perdi minha juventude, talvez até minha madures, sendo uma empregada doméstica, de luxo, sem direito a aposentadoria, tampouco um obrigado.

Só você minha filha e o João, nunca me encheram o saco, ele quando me pedia alguma coisa, me abraçava, dava um beijo, me dizia ao ouvido, só tu minha avó para fazer as coisas bem, dê um pê na bunda dessa gente ingrata.   Segui o conselho dele.

Vou viver sozinha, como sempre estive, tu sempre foste a única que perguntava como eu estava, se tudo ia bem. O resto nunca se interessaram por mim.

Avisei seu tio, ele me disse que o eu precisasse, me ajudaria.

Ah, aí está, avisei ao teu irmão, que ia me encontrar contigo, sempre nos encontramos para tomar um café.  É um bom garoto.   

Viu o rapaz se aproximando, sorriu, porque nunca me disseste nada seu sem vergonha.

Vocês se conhecem?

Claro mãe, ele foi meu aluno preferido, as vezes lhe passo algum projeto que não posso fazer por falta de tempo.

Se levantou o abraçou, sempre achei que eras parecido comigo, ou sejas es meu irmão pequeno. 

Sabe mãe, ele foi muitas vezes lá no sítio, pois vai buscar mudas que preparam o Celio, para seus projetos.  Sempre estão perguntando por ti Rodrigo.

Falar nisso, para a senhora escapar dessa gente toda lhe enchendo o saco, porque não vem comigo, assim longe de tudo pode pensar no que fazer da vida.

A senhora vai adorar dona Helena, aquilo é um paraíso, os dois, Heleninha e o Alfredo construíram um lugar maravilhoso.

Achas que não vou incomodar minha filha?

Nada a senhora vai adorar, o Alberto, que gosta de cozinhar, bem como o Celio, vão gostar da senhora, mas aviso, se prepare, seu neto saiu do armário.

Ela sorriu, eu sempre soube disso, pois o via olhando o Alfredo, sabia que seriam mais que amigos.

Começou a rir, até se engasgar.  Teu pai, um idiota renomado, vivia dizendo que finalmente um homem com H maiúscula para honrar a família.  Sempre se esquecia do Rodrigo.  Acho que se sabe disso tem um enfarte de verdade.

O pior você não sabe, acredito que terá direito a uma aposentadoria de merda, quero ver aonde vão parar os amigos da praia, a amante.  Não conseguia parar de rir, o que fez que os outros dois rissem também.   Sempre achei que a vingança vinha sozinha, nem precisas fazer um movimento.

Ok, vou contigo, mas se incomodo, me dizes ok.

Rodrigo ficou de subir no final de semana, ao abraça-lo Heleninha disse ao seu ouvido, não se esqueça de trazer seu namorado.  

Ele riu a bessa, nem isso o velho vai poder dizer.

Foi com a mãe buscar suas coisas, perguntou se não tinha um bikini.  

Filha, sempre fui de usar maillot, nunca tive um corpo de miss.

Assim podes aproveitar a piscina.

Passou por sua casa, para buscar mais mantas, pois sabia que sua mãe era friorenta.  

Subiram as duas conversando, pararam para apreciar o panorama. O Celular dela não parava, quando viu as mensagens, disse passe para cá.  Borrou as irmãs do WhatsApp, assim não enche mais o saco, desligue o celular, eu só abro uma vez ao dia, para ver se não tenho nada da universidade.   Mas aproveite avise ao tio, que a senhora está indo comigo para o sítio.

A viu conversando com ele, rindo, eu devia era ter casado contigo Rubens, te roubar do Marcos, ria muito com isso.

Quando chegaram, João veio correndo para abraçar, beijar a avó.  O Alfredo ficou a parte, ela o atraiu até ele, meu novo neto.  A apresentou ao Celio, Alberto, que estavam com as mãos sujas de terra.   Os meninos estava colocando etiquetas nos vidros de geleias.    Essa receita, foi a senhora que me ensinou, lembra, geleia de morangos.

Que cheiro bom é esse soltou, levantou o nariz no ar, alguém esta fazendo pão.    Puxa faz tanto tempo que não, faço, todo mundo reclamava, só você meu neto gostava.

Sabe avó o que sempre adorei, eles iam adorar comer, era aquele que a senhora fazia, no natal, o de recheado com linguiça.

Ah, receita da família da minha mãe.  Terei que escrever a receita para me lembrar de tudo.

Depois do almoço, sentados na varanda, contou aos outros, hoje tive uma surpresa, conheci meu irmão, que alias conheço a muitos anos, vocês também.

Quem perguntaram todos.  O Rodrigo, é meu irmão, fiquei sabendo hoje pela minha mãe, nunca desconfiei, pois ele tem sobrenome diferente, meu pai nunca o reconheceu.

Uau, então tenho um tio?

Sim meu filho, um bom rapaz, obriguei teu avô a pagar os estudos dele, um dia veio me agradecer.  Ficamos amigos, encontra sempre um tempo para tomar um café comigo, para conversar.  A outra notícia bomba é que agora vou por livre, acabo de pedir o divórcio do teu avô.

Caramba tia Heleninha, a bomba foi realmente como a senhora disse, muita merda no ventilador.

Já estou morando sozinha, disse ao teu avô que fosse viver com a amante dele. Quero ver como se apanha.   Mas não quero esse merda mais na minha vida.

Aliás só de saber que tenho a cama inteira para mim, sem escutar os roncos dele, já me vale.   Riram todos muito.

Celio como sempre colocou o pessoal no lugar.  Vamos, temos que acabar de preparar as coisas para amanhã, é dia de feira.

Se quiser Celio, me das a receita do pão, faço um para experimentar, assim amanhã levanto cedo, faço para vendermos na feira.

Vó, faz o de linguiça, tenho certeza de que vai fazer um sucesso.

A senhora vem comigo mãe, vamos na cidade, compramos tudo, me faça uma lista, assim vais conhecer Itaipava.

Minha filha, ia ela dizendo, que lugar bonito tens para viver, fazes bem em ter bem escondido, assim ninguém aparece.

Sabe estou me sentindo mais jovem inclusive. Compraram tudo, via eu as pessoas paravam para falar com sua filha, todo mundo te conhece, que bom.   Eu saio na rua, ninguém a não ser o seu Nico, me diz bom dia.  Teu pai tinha implicância com ele, pois um dia o tratou mal, no dia seguinte o carro tinha um arranhão, ele cismou que tinha sido ele.

Foi não mãe, fui eu mesma quem fiz isso, para ele aprender a ser educado, mas creio que essa palavra nunca fez parte de seu vocabulário.

As duas estavam felizes, pareciam duas velhas amigas. De noite no jantar, ela tinha feito uma sopa, com as coisas que foi buscar na horta, mas perguntava ao Celio se podia colher.

Imagina, já estou imaginando o que vai sair daí.  Antes de irem dormir, ela com o Celio prepararam a massa dos pães, assim cresceriam de madrugada.

Ela preferiu ficar num quarto pequeno da casa, decorado pela Heleninha, com coisas de sua juventude.   Coisas que ela tinha feito para a filha.

Todos se levantaram com o cheiro do pão assando, cheiro de café feito naquela hora.  Na cozinha já estavam ela junto com o Celio preparando tudo.

Ele trouxe umas cestas, ela estava forrando com uma toalha de mesa das antigas.  Esta semana se a Heleninha consegue uma máquina de costura, preparo as cestas para ficarem bonitas.

Hoje quando abri o celular, tinha mensagem de tuas irmãs, queriam saber aonde eu estava, lhes respondi que tinha fugido com um amante.

Soltou uma risada que segundo ela, não soltava a muito tempo, seu pai dizia que era muito sonora, de mal gosto. Até isso o filho da puta queria controlar.

Foram todos para a feira.   Heleninha foi negociar com uma dos hotéis marmeladas para o café da manhã, eles ficaram vendendo.

Os pães, pelo cheiro desapareceram num piscar de olhos, o de linguiça as pessoas comiam ali mesmo.  Depois vinha pessoas perguntando, querendo fazerem encomendas para o sábado seguinte.

Ela começou a conversar com o Celio, os dois foram dar uma volta pela feira, ver os que os outros tinha para vender.  Logo tinham uma lista do que ela poderia fazer.

Heleninha quando voltou, ficou parada de longe, vendo sua mãe conversando com as pessoas, nunca a tinha visto assim, alegre, parecia outra pessoa.

Filha vendemos tudo, a partir de quinta-feira, vou começar a preparar biscoitos de nata, bolos desse que aguentam vários dias, pequenos pudins de pão que você sempre gostou, receita da tua bisavó, assim teremos mais coisas para vender.  Voltavam para casa sem nada. 

Celio soltou é uma grande vendedora, pois, cada senhora que parava para olhar as geleias soltava uma conversa que era uma receita antiga na família.

Avó esteve conversando com uma senhora em francês, foi o máximo, fiquei de boca aberta, o Alfredo disse para fechar que tava dando vexame.

Eu, eu tive estudos garotos, fiz línguas na universidade, só fiz a besteira de me casar.  Falo, inglês, francês e alemão.

Antes de irem embora, perguntou a filha, aonde podia comprar umas camisetas, uns jeans, fico parecendo muito senhora com essas roupas antigas que uso.

Acho que tenho uns jeans do Alfredo em casa, eu sempre compro os masculinos me parecem mais confortáveis.  No fundo são todos iguais.

Viram uma senhora que estava guardando camisetas pintadas a mão.   Foram até lá.  Ela escolheu duas.

A senhora soltou, leve mais duas, mas quero fazer uma encomenda, dos pães de linguiças, minha neta veio com um, não resisti, comi a metade, quando ela voltou para comprar mais, já tinha terminado.

Semana que vem, vamos ter também de cebola com bacon, uma receita da minha avó.

Já tinha mais uma amiga.

Durante a semana, se dedicava a fazer comida, encontrou um tecido em Itaipava de quadrinhos, comprou linha, fez para as cestas de pão, e das mercadorias, babadinhos, com acabamento em croché.

Pediu ao Alfredo, meu neto, porque não fazes um adesivo com os ingredientes dos pães, algo que lembre, tipo receita da vovó.

A cara do Alfredo, de ser chamado meu neto, foi ótima, João disse, nada disso, o neto sou só eu.

A partir de quarta-feira começou a produção, preparou biscoitos, o Alfredo fez umas caixinhas para eles, ajudado pelo João, fez um que disse que tinha visto numa revista francesa, um biscoito com as ervas da horta.   O cheiro era espetacular, os serviu no café da manhã.  A cesta ficou fazia.

Nos dias seguintes preparou como tinha pensado pudim de pão velho, que tinha na casa, a partir de hoje não se atira mais as sobras do pão.  Na véspera preparou com o Celio o pão de cebola, de linguiça e o que eles faziam.  Saíram no sábado de manhã carregados.

Passou pela sua nova amiga, lhe entregou a encomenda, falou baixinho, prove os biscoitos de ervas da horta que fiz, vê se gosta, depois me conta.

Mal estavam colocando as coisas no lugar, a amiga veio correndo com outra companheira da feira, queremos uma caixa cada uma.

Heleninha, levou umas pequenas caixas para as pousadas que vendiam sabonetes, geleias.  Adoraram, voltou com um pedido imenso, para os dias seguintes.

Quando voltaram para casa, felizes, pois tinham vendido tudo, Celio muito sério, repartiu o dinheiro entre todos.  Heleninha sempre tirava o corpo fora. Ria da sua mãe, que agitava um maço de notas, dizendo, dinheiro que ganhei com meu trabalho.

No domingo apareceu o Rodrigo, com o namorado, era descendente de japoneses, Niko, também tinha sido aluno da Heleninha.   Foi uma festa, tinham comprado carne para fazer churrasco, acompanhado de uma bela salada da horta.

Rodrigo comentou, a senhora rejuvenesceu desde a última vez que a vi.  Caramba, deve ser o ar daqui.

Não meu filho, é não ter que escutar reclamações, disse me disse, enfim, mudei minha vida.

Contaram o sucesso da feira, rindo disse, agora eu ganho meu próprio dinheiro meu filho.

Rodrigo virou-se para Heleninha, ela sempre me chamou assim, meu filho.  Sempre foi carinhosa comigo, mais que minha própria mãe, que talvez considerasse que eu era um erro do seu passado.

Deixa disso garoto, tenho certeza de que, ela sempre te quis.

Eu sempre quis ter um filho, não tinha, além da Heleninha, criei duas cobras jararacas do pior, iguais ao pai, sempre reclamando de tudo.

Estavam ali sentados, quando João apareceu com o violão, começou a tocar, agora uma que toco sempre para minha avó, que é a única que sempre me escutou.

Começou a tocar e cantar “Carinhoso”, tinha uma voz muito bonita o sem vergonha.  Estava contente de conhecer o tio.

Esteve depois conversando com ele, que estava decepcionado com o curso da Escola de Belas Artes.

Porque não fazes só o que te interessa na Escola do Parque Lage, conheço alguns professores de lá.  Até realmente saberes o que queres, desenvolver uma maneira tua de pintar.

Sabes, aquele retrato que fizeste de mim, meu neto, foi a única coisa que tirei do apartamento.  Está na minha nova casa.

Terei que fazer outro, os olhos da senhora agora brilham mais, ri mais, ver a senhora conversando com tuas novas amigas é um prazer.

Só teriam mais uma semana de férias, depois já era agosto, Heleninha teria que voltar a dar aulas, Alfredo teria a faculdade, João ia experimentar fazer aulas no parque Lage.

Heleninha disse aos dois, eu pago para vocês, afinal são como meus filhos agora.  Teremos só que arrumar o quarto la de casa, para vocês ficarem.

E a senhora mãe?

Bom se o Celio, o Alberto me deixam ficarei aqui, nunca estive tão bem, assim continuamos nosso negócio, pois temos que fazer os biscoitos das pousadas, os pães, mais alguma coisa que for inventando.   Se me levas, vou buscar as coisas no apartamento do teu tio, ficarei vivendo aqui.

Heleninha ria, a mãe levava uma camiseta pintada a mão, uma calças jeans velhas, um lenço amarrado na cabeça, só faltava um tênis.   Tenho que comprar algum, não tenho.

Aquela mãe que ficava sentada na mesa de boca fechada, as vezes sem levantar a cabeça, tinha desaparecido.

Eu, Alfredo, subiremos na sexta, pois não teremos aulas, assim podemos ajudar, claro ganhar um dinheiro.

A semana foi produtiva, desde segunda fazendo biscoitos, as embalagens tinha ficado excelente.   A dos biscoitos franceses o Alfredo tinha olhado como era as de lá, mas tinha feito uma coisa moderna. Bolou uma caixa, que se colocava um adesivo em cima, outro atrás da composição do produto.

No final por falta de espaço sua mãe ficou, preocupada com a quantidade de encomendas, lhe deu a chave para trazer suas coisas.

Na reunião da faculdade, Heleninha se livrou de ficar dando aulas a semana inteira.   Teria aulas até quinta-feira, estava livre a partir de sexta.  Assim subiriam os três.  Pediu ao Rodrigo que a ajudasse abaixar a bagagem da mãe.  Foram ao apartamento, mal entraram deram com seu pai sentado na sala, não se moveu do lugar, nem para dizer boa tarde.

Esse quem é perguntou?

Bom Rodrigo, não preciso te apresentar teu pai, verdade, esse aí, com cara de pouco amigos, mas cuidado a chantagem é o seu forte.

O que vocês vieram fazer aqui?

Buscar as coisas da minha mãe, ela agora vive em outro lugar, pediu que viesse buscar suas coisas.

Não vem para cuidar de mim?

Heleninha soltou uma gargalhada imensa, ainda não despertaste da merda em que te meteste?

Pensávamos que estava no apartamento da tua amante no Leblon. 

Ele fez um gesto como dizendo, me colocou para fora.

Bom tudo tem seu preço na vida, foram saindo.

Como conseguiste a chave, perguntou por curiosidade.

Tive que me humilhar, pedir uma cópia ao meu irmão.

Tenho que conhecer esse tio, os quero convidar para ser meu padrinho, quando me casar.

Vais te casar? Perguntou com curiosidade.

Sim com meu namorado de toda a vida, acho que eles são perfeitos para isso.

Há sido um desprazer conhecer-te velho.

A cara de seu pai, ao mesmo tempo era digna de pena, pois continuava sem mover-se do sofá. 

Tudo foi para a casa do caralho, uma das tuas irmãs, com as meninas vivendo no Grajau, a outra pediu o divórcio, descobriu que o apartamento que o marido tinha a amante estava no nome dela, expulsou os dois de lá.  Agora só isso, vivemos de escândalos.

Bom senhor meu pai, quem planta vento, colhe tempestades.

Saíram os dois a gargalhadas.  O escutaram gritar, diga a sua mãe que venha cuidar de mim.

Ela da porta do elevador gritou bem alto, não creio, agora tem uma amante alemã, vive com ela.

Assim o escandalizava mais ainda.

Estavam no carro, quando seu tio chamou, que foi o que disseste ao teu pai, está escandalizado.

Disse que minha mãe, tem uma amante alemã, pois o recado que mandava para ela, era que viesse cuidar dele.

Bom apareceu aqui com o rabo entre as pernas, só faltou ficar de joelhos chorando, fazendo cena, chantagem como fez a vida inteira, que tinha sido abandonado pela família inteira.

Como sabia que sua mãe não estava dei a chaves para ele, me pediu dinheiro emprestado.  Isso me neguei a fazer, pois uma vez lhe pedi, riu da minha cara, dizendo pede para o teu amante.   Fiz o mesmo, pede para tua amante.

Pelo que soube ela o botou porta a fora, mudou a fechadura do apartamento para ele não entrar.

Mas segundo o Gilberto ele deu o apartamento como aval num empréstimo, ou seja, logo o banco vai atrás desse também.

O da tua irmã é verdade, arrumou um advogado, já sabia da amante, foi só descobrir que o apartamento estava no seu nome, pediu uma ordem do juiz, os colocou na rua.

Agora fica me enchendo o saco porque quer o filho em casa, lhe perguntei se com ou sem namorado.  Não disse um pio.  Esta trabalhando numa boutique, aonde era cliente, pelo menos foi a luta, a outra pelo que disse esta na casa dos sogros que é um inferno.   O marido apareceu aqui novamente pedindo emprego, disse que está vivendo do auxílio desemprego.  Que ninguém lhe dá trabalho.

Quando lhe perguntei que grande projeto ele fez, não sabia dizer.  Eu claro não vou colocar na rua os meus arquitetos que são bons, para ter um manando nas minhas tetas de velho.

Ficou rindo a bessa.  Tua mãe, está eufórica, falei com ela ontem, estão cheios de encomendas, isso que agora acaba as férias.

Estão falando em abrir uma lojinha, os três, vamos ver como ficam.

Rodrigo disse que não podia subir nesse final de semana, mas se veriam.   Passou em casa, para recolher os meninos, foram conversando.

A diga do Rodrigo foi boa, escolhi dois cursos, estou gostando tia, com meu dinheiro pude pagar a matrícula, temos que ganhar mais.

O tio me convidou para trabalhar na loja dele, mas assim fico sem final de semana, gosto de estar lá no sítio.  Se tivesse um lugar para pintar ficava por lá direto.

Alfredo perguntou, se o deixaria livre no Rio.

Caralho é verdade, nada disso, fico aqui, não vou sair do teu lado.

Um ano se passou, agora realmente tinham uma loja, pequena no centro de Itaipava, por aonde os turistas andavam, vendiam o que produziam, como muitos outros, um dos negócios de sua mãe, eram os cestos forrados, com acabamentos.   Do seu livro de receitas tinha elaborado mais coisas.  Cakes doces e salgados, além de um empadão de frango que fazia.   Para quem vinha passar o fim de semana era fantástico. Agora tinha uma barraquinha na feira, só dela, ao lado dos amigos aos quais ajudava.  As vezes saia para tomar uma cerveja com as amigas que tinha feito.  Quando a via pronta para sair, moderna, com seu jeans, camisetas que ela mesma bordava, lenço amarando os cabelos que tinha deixado de pintar, tênis, agora bordava alguns com lantejoulas que tinha na loja a venda.

Ficava imaginando seu pai vê-la.  Este o tio tinha levado para viver numa residência de pessoas de idade em Jacarepaguá, era o único que ia visita-lo. 

Tenho que me preparar para aguentar a hora da visita, pois tem sempre uma lista de reclamações.  Nunca nada está bom, diz que o maltratam.  Mas as quantidades de reclamações contra ele são maiores.  Mal educado, maltrata os empregados, enfim a lista a larga. 

Já lhe avisei da última vez, se ele não se comporta, abro mão, ele que se vire.     Creio que já fiz mais do que o normal, por um sujeito que me encheu o saco a vida inteira.   Inclusive insinuou se não podia morar comigo.   Lhe disse na cara nem pensar, a não ser que virasse gay.

Vou ver quando podemos subir.

Quando agora se sentavam para jantar, todos sempre tinham novidades.  O que dava gosto ver, era a hora dos acertos de dinheiro.  Sua mãe agora vendia pequenos quadros que João fazia, este preparava sua primeira exposição numa galeria da Barra, segundo o tio, era o melhor, aonde havia dinheiro, tinha surgido, porque na loja tinham quadros dele.

Alfredo tinha se descoberto em desenvolver embalagens. Ia em vento e popa com isso.  Nunca rejeitava trabalho.

João falava uma vez por mês com a mãe, mas segundo parecia tinha um namorado, então não falava mais em que ele fosse viver com ela.

Da outra não se sabia nada.

Anos depois quando Heleninha podia se aposentar da Universidade o tio, lhe perguntou se queria o apartamento da família em Ipanema, pois o tinha comprado, reformado, o alugava.

Nem pensar tio, fui tão infeliz lá, que não vale a pena, o que quero mesmo e viver no sítio. 

Com o dinheiro das exposições João construiu nos fundos um lugar para ele pintar, aonde o Alfredo trabalha também, o mundo hoje esta moderno, ele trabalha tudo por internet.  Aqui é o paraíso deles.   Minha mãe, teve a oportunidade de aumentar o espaço da loja, mas disse que nem pensar, que eles vão bem assim, sempre cheia de encomendas, uma vez por semana sai com as amigas, ou com algum admirador, mas diz que nem pensar em ter um relacionamento, ela é uma mulher livre.

Um final de semanas desses, apareceu minha irmã do Grajau, fez tantas lamurias, que minha mãe soltou na cara dela, ou seja, vieste atrás de mim para isso, me encher o saco como sempre.   De uma volta na tua vida, me deixa em paz, nisso entrou na loja um dos seus admiradores, para irem almoçar, quando a outra o viu beija-la na boca, foi embora escandalizada, agora é totalmente zona norte.

Quando Rodrigo se casou, sua mãe foi sua madrinha, João foi padrinho do Niko, a festa foi no sítio, foi genial, sua mãe veio com o marido, mas ficaram pouco tempo.  O sujeito é parecido com meu pai.

Anos depois a família se encontrou justamente no velório do velho no cemitério de Jacarepaguá.   A duas Helenas, iam vestidas iguais, com roupa coloridas, calças jeans, tênis, como gostavam de andar.   O João tinha os cabelos imensos, ele e Alfredo acabavam de voltar da Europa, aonde tinha feito uma exposição em Berlin.  Suas sobrinhas estavam casadas, com dois idiotas, como seu pai.  Bom as irmãs, pareciam duas desconhecidas.  A de Copacabana, com um namorado a tiracolo a outra com o marido, pareciam dois velhos.  Ele agora trabalhava de funcionário público nos correios.

O tio, com Marcos, tinham cuidado do velho até o final, reclamava sempre que ninguém ia visita-lo.   Eu lhe dizia a culpa é tua, não dos outros.   No final quem tinha paciência com ele era quem ele odiava, Marcos, sempre tinha mais paciência.

Qual o que, penso que um dia estaremos na mesma posição dele, velhos. 

Gregório soltou que os sobrinhos cuidariam deles, que estavam pensando comprar umas terras em Itaipava, para fazer um refúgio para senhores gays.  Tudo atendido por rapazes de enfermeiros.    Pelo menos riram um pouco, apesar das irmãs ficarem escandalizadas.

João olhava sua mãe que nunca se aproximava dele, nem do Alfredo.  Outra que acabará sozinha.

Sua mãe, estava com seu namorado mais frequente, um francês que tinha conhecido em Itaipava.  Tinha ido fazer uma viagem com ele, para conhecer sua família. Na volta soltou, se paro para pensar, seu pai nunca me levou em viagem nenhuma, dizia que ia a negócios.  Com certeza com as amantes.

Rodrigo a tinha como uma mãe.

Heleninha quando comentavam se não tinha namorados, sorria, eu só amei uma vez na vida, foi para sempre, ninguém é como ele, fico buscando isso, mas isso não ajuda.

Pelo menos temos parte da família unida, as ovelhas negras, como diz uma amiga, as gambas se cheiram.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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