TOM AND JERRY
Jerry, estava para entrar na sala do tribunal, para mais um
julgamento, era o assessor do fiscal de San Francisco. Já na porta, viu uma chamada de seu pai. Ele
nunca faria uma chamada se não fosse urgente.
Sim, qual o problema pai?
Tom acaba de chegar do Afeganistão, direto para a sala de
cirurgia, ainda não sabem como será a operação.
Tão logo possas venha, deixei uma autorização na entrada da base para
que possas entrar.
Tom era seu melhor amigo.
Para todos, eram dois estranhos amigos.
Já não conseguiu se concentrar no trabalho. Fez um esforço supremo, para acompanhar o
julgamento. Afinal ele tinha feito a
parte dura do trabalho. Nos últimos
meses, estava desanimado, inclusive seu chefe o Fiscal, lhe chamou atenção.
Estava sem motivação, tinha feito direito, saindo direto da
Universidade para o tribunal. Era outra
coisa, não tinha sonhado com isso, Direito era o sonho do seu pai, quando se
sentiu sozinho, pois Tom tinha entrado para o exército, se deixou
convencer. Nas trocas de cartas Tom lhe
dizia que devia lutar pelos seus sonhos, não os de seu pai.
Embora ele tivesse feito o mesmo, entrou para o exército,
para escapar de ter que ir para Coreia do Sul, com sua irmã, mais velha. Seu pai tinha morrido, ela era sua tutora
legal. Tinha se casado com um Coreano
rico, se mudava para lá. Ele mentiu
sobre sua idade, entrou para o exército como forma de escapar.
Estava nervoso, avisou a secretária do Fiscal, que tiraria o
resto do dia livre, por um problema familiar.
Correu como estava para o hospital da base militar. Seu pai, depois de muitos anos, na Polícia
Militar, tinha agora um posto como chefe de administração do hospital
militar. Diziam que era o melhor, duro,
mas diligente.
Quando se encontrou com ele, lhe deu um abraço, era um tipo
imenso, não que ele fosse baixo, também tinha dois metros de altura. Os dois
juntos formavam uma barreira impressionante, todos se afastavam para que eles
passassem.
Bom, Tom, está na UTI, tiveram que amputar uma parte de seu
braço esquerdo, tinham que conseguir recuperar uma parte abaixo do ombro, para
que no futuro ele possa usar uma prótese.
O que foi que aconteceu?
Ele estava no carro blindado com o Comandante do Batalhão,
era seu adjunto de comunicação, quando foram atacados. Uma bomba estourou embaixo do carro blindado,
mas ele conseguiu retirar o Comandante, fora a batalha era muito grande,
enquanto arrastava o comandante, protegeu o mesmo das balas, mas uma o atingiu
juntos abaixo do ombro, estilhaçando os ossos. Uma destas putas balas, que
quando entram vão destruindo tudo pelo caminho.
O comandante, ele, mais dois soldados, foram levados imediatamente para
um hospital. O comandante exigiu que
ele fosse transladado imediatamente para cá, pois sabe que aqui existe médicos
especialistas nessa área. Apesar do
cuidado, foram muitas horas de voo, o que tornou a coisa mais difícil. A única solução foi essa. Não puderam reconstruir os ossos, a parte
debaixo do braço já não tinha salvação.
Venha, o levou a UTI, como era o administrador, ninguém disse
nada.
Tom ainda estava desacordado, entubado, mas se via que lhe
faltava uma parte do braço, estava com a manta cobrindo até o ombro. Monitorizado, cheio de tubos, por toda parte.
Tudo que pode fazer, foi segurar a mão direita do amigo,
ficar ali chorando mansamente. Afinal,
era seu melhor e único amigo.
Tirou o casaco, afrouxou a gravata, mas depois não soltou
mais a mão do amigo, seu pai mais tarde lhe trouxe café, perguntou se queria alguma coisa para
comer.
Com voz rouca, disse que não podia pensar nisso.
Acabou dormindo, em seu sonho se lembrou do primeiro dia de
escola, quando os dois se conheceram.
Eram dois estranhos no ninho.
Tom, era filho de um coreano, alto, forte, com uma Wasp americana,
loira, olhos azuis, alta também. Dessa mistura saiu um rapaz com cabelos
cinzentos, olhos rasgados, mas azuis como da mãe.
Ele ao contrário era filho de um negro de dois metros de
altura, com uma chinesa, tinha os cabelos lisos como ela, olhos rasgados muito
negros um tom de pele negra azeitonada.
Todos olhavam para os dois, riam, a maioria ou era chinês, ou
americanos loiros. A escola ficava justo na parte final de Chinatown. Por isso era misturada. As duas famílias viviam na redondeza. O pai do Tom, era administrador de uma
empresa de importação de material coreano.
Sua mulher era da Igreja evangélica.
Já a mãe do Jerry era comercial de uma importadora chinesa, falava
várias línguas, por isso só atendia clientes especiais.
Desde o primeiro dia, os dois sentaram-se na mesma mesa da
escola. Um olhou para o outro pensando,
somos diferentes dos demais. Devemos
unir forças. A partir de então, um
defendia o outro. No princípio, os pais
se revezavam para ir busca-los na escola, mas depois eles iam sozinhos, um
esperava o outro numa determinada esquina, já disputando o que falaria mais.
Sofriam todo tipo de gozação, principalmente pelos nomes
Tom/Jerry, quando viram os desenhos, a conclusão que chegaram era que se os
dois personagens unissem forças, seriam imbatíveis. Chegaram a construir histórias assim. Faziam sempre uma versão dos desenhos da
Disney.
Com o tempo passaram a ignorar o resto da turma. Eram imbatíveis em matemática, em
línguas. Eram os primeiros da
classe. Foram os primeiros a construírem
um sistema de comunicação, pois mesmo depois das aulas, continuavam falando um
com o outro. Quando seus pais se
conheceram, riram muito, comentaram que quando pequenos, falavam pouco, mas que
agora, era difícil fazerem que ficassem calados. O pai do Tom, conseguiu para eles walkie Talkie,
assim continuavam suas conversas, falavam dos deveres. Com o tempo, ou estavam na casa de um ou do
outro. Estudavam juntos, faziam os
exercícios juntos, se um não sabia alguma coisa, o outro ensinava. Até em história Americana eram bons, melhores
que os filhos de pais estritamente americanos.
Na adolescência, quando todo mundo começava a falar da
sexualidade, um se descobriu no outro. Encontravam uma satisfação mútua. Mas se comportavam normalmente, ninguém
tampouco se atrevia fazer qualquer brincadeira com eles devido ao tamanho dos
dois. Eram dois excelentes atletas.
Sentiu a mão do Tom, mexendo dentro da sua, abriu os olhos. Tom
sorria com os olhos, pois ainda estava entubado.
Apertou chamando a enfermeira, esta viu que estava acordado,
avisou ao médico.
Começaram a tirar o aparelho de respiração assistida, todos
os tubos. Tom moveu a boca, como para
tirar o mal trago que era estar entubado.
Agora sim podia sorrir para o amigo.
O médico lhe explicou o que tinha acontecido. Terás que usar uma prótese, mas conseguira se
virar bem. Hoje em dia as próteses já
são muito bem feitas.
Isso nublou um pouco seu sorriso. Quando o médico saiu, virou-se para Jerry,
soltou logo, boa maneira de voltar para casa.
Em sua última carta falava nisso, a saudade que sentia do amigo, a vontade
de voltar para casa.
Na verdade, não existia casa nenhuma, a de seus pais era
alugada, sua irmã muito vingativa tinha vendido tudo. Ela era filha do primeiro matrimonio de seu
pai, nunca tinha sido simpática com o irmão.
Quando veio viver com eles, a mãe
do Tom já tinha morrido de um câncer daqueles aqui te pego, aqui te mato. Não chegou a durar nem três meses. Jerry esteve todo o tempo ao lado dele.
Quando morreu a mãe do Jerry, Tom retribuiu, não saia do seu
lado.
A mãe de Jerry, morreu, no meio de um tiroteio entre bandas
de Chinatown. Tentou salvar uma senhora
que conhecia muito, correu até a senhora para ajudá-la a entrar numa loja para
se proteger. Uma bala a atingiu na nuca
destroçando sua coluna vertebral, ao cair, a cabeça bateu no chão com muita
força. Morreu no ato.
Não era normal esse tipo de tiroteio, aonde viviam, mas as
bandas da máfia chinesa tinham se expandido.
Para vender drogas, colocarem prostitutas na rua.
Esse tiroteio provocou que a polícia finalmente tomasse
alguma providência, primeiro pelo número elevado de vítimas, segundo porque os
moradores na área boicotaram o candidato da região, ninguém votou nele.
O pai do Jerry, dizia que sempre havia que ter uma desgraça,
para que a polícia tomasse alguma providência.
Foi tudo como um atropelo na época, Tom não se relacionava
bem com sua irmã, que tinha sua guarda até a maioridade, Jerry tinha perdido a
mãe. Uniram forças para saberem o que
fazerem no futuro.
Os dois eram excelentes em informática, mas na época ainda
não existiam universidades para isso.
Portanto teriam que escolher qualquer outra coisa. Tom basicamente vivia na casa do Jerry. Compartiam tudo.
O pai do Jerry, apareceu, apertou a mão do Tom, seja bem-vindo
meu filho, sempre tinha gostado desse garoto.
A amizade dos dois lhe impressionava.
Virou-se para seu filho, lhe perguntando se não ia
trabalhar. Te trouxe uma camisa limpa,
roupa interior, podes tomar banho aqui, ir trabalhar.
Não vou não, pai. Estou farto desse trabalho, não é o que
sonhei, me sinto frustrado, nem penso em deixar meu amigo na estaca.
O pai sabia que o filho não estava contente, via claramente
que era infeliz. Concordou com a
cabeça. Tens direito as férias, vá lá,
solicite, assim poderás ficar com o Tom, enquanto pensas no que queres fazer.
Tom concordou com ele, isso, vá, resolva tua situação, mas
volte.
Tinham lhe aplicado um sedante, para as dores, ele começou a
dormir.
Jerry fez o que o pai lhe tinha dito, tomou um banho, fez a
barba, se vestiu, partiu até o tribunal.
O fiscal estava furioso, pois tinha precisado dele no final do dia
anterior, aonde ele tinha se metido.
Explicou o que tinha acontecido.
O fiscal simplesmente disse que era um problema dele, mas que
para manter esse cargo, teria que se esforçar mais.
Não sejas filho da puta, de dou todo trabalho mastigado, só
tens que falar, nada mais.
O Fiscal ficou furioso.
Se não estas contente, lhe indicou a porta. Não precisou falar duas vezes. Se levantou,
fez uma coisa que para ele era imaginável, pela educação que seus pais lhe
tinha dado. Levantou o dedo na hora de
sai, mandando o outro se fuder.
Foi ao departamento pessoal, pediu férias, mas como o fiscal
tinha que autorizar, cortou pela raiz.
Pediu demissão, uma amiga que trabalhava lá, ainda tentou contornar a
situação.
Não perca teu tempo, não estou contente, não é o que sonhei
para o meu futuro.
Foi até em casa, trocou de roupa, jeans, camiseta, uma
jaqueta que ele e Tom tinham iguais.
Voltou para o hospital.
Chegou justo na hora que trocavam o curativo. Não estava ali dentro, mas
viu pelo vidro. O médico examinava,
balançando a cabeça, positivamente.
Respirou fundo.
Quando todos saíram entrou, o amigo sorria.
A tua cara já está melhor. Conseguiste as férias?
Nada, pedi as contas, odeio esse trabalho. Tenho dinheiro guardado a muito tempo, posso
sobreviver um bom tempo.
A enfermeira entrou para colocar mais morfina no tubo. Para sua surpresa, Tom disse que não. Prefiro aguentar a dor, do que ficar
viciado. Tenho muitos companheiros que
ficaram totalmente dependente de todos esses remédios.
Passava todos os dias com ele ali no hospital, trazia comida
da rua, as que sabia que seu amigo gostava. Escutou que uma enfermeira comentava com
outra, parece um casal daqueles que se amam.
Porque o negro, não arreda o pé daí.
Se fosse em outra época, ficaria furioso, mas tinha
amadurecido, isso não lhe importava.
Todo o tempo que Tom estava acordado, conversavam, sobre o passado, o
que ele tinha visto no Afeganistão, as misérias da guerra. Evidentemente que seria dado baixa do
exército. Um belo dia seu comandante
apareceu acompanhado de mais pessoas.
Tinham lhe concedido uma medalha muito importante. Mas a pergunta principal era se queria
continuar no exército, necessito de pessoas como tu. Teu trabalho é extraordinário. Mesmo porque
com a prótese, poderás trabalhar.
Tom olhou ao Jerry, riu. Soltou, senhor, agradeço o convite,
mas estou farto de estar numa guerra que não é minha. Já conversamos muitas vezes sobre
isso. Prefiro uma baixa honrosa.
Baixa honrosa, seria que o aposentassem como invalido. A pensão não era grande coisa, mas daria para
viver.
Quando ficaram sozinhos, Jerry soltou, teremos que pensar em
alguma coisa que possamos fazer.
A resposta do Tom, provocou uma gargalhada nos dois. Tinha sido só uma palavra, mas contundente.
SURF.
Os dois adoravam fazer surf.
Um dos tios do Tom, tinha um pequeno restaurante numa praia
relativamente perto de San Francisco.
Quando adolescente, iam sempre para lá.
Faziam surf pela manhã, ajudavam no restaurante, acampavam na praia, dormiam
em uma tenda. Tinha sido uma época feliz
da vida dos dois.
Depois mais sério, disse, será que consigo equilibrar me
faltando um braço, porque com a prótese,
não poderei entrar na água.
Tinha começado a fazer reabilitação, andavam pelo corredor,
já estava num quarto em que o sol batia pela manhã, com uma bela vista para o
mar.
O pai do Jerry, vinha sempre para comer com eles. A partir do momento que a cicatrização
estivesse bem, poderia experimentar a prótese, já fazendo a reabilitação com
ela.
Avisou ao Tom que tinha colocado uma cama a mais no quarto do
Jerry, assim ele poderia ir para lá quando saísse do hospital.
Mas não irei incomodar?
Garoto, te quero como um outro filho, além disso, não tiveste
que aguentar uma pessoa chata, que entrava em casa, sem sequer me dizer boa
noite, tudo que fazia era procurar se tinha alguma carta para ele.
Depois não sou tão obtuso, para não entender a amizade de
vocês. Sou honesto de dizer que tenho
até inveja.
Depois da morte de sua mulher, nunca mais pensou em outra pessoa.
Jerry, perguntou ao pai, se ele se lembrava do restaurante do
tio do Tom na praia.
Claro que sim, passamos momentos inesquecíveis lá.
Então na primeira vez que Tom possa sair, poderíamos passar o
dia lá. Assim visitamos seu tio.
No dia seguinte quando ia entrar, viu o comandante, um
coronel, conversando com o Tom, ficou parado olhando, pois este segurava a mão
do Tom. Agradecia por o ter salvado,
mas quando eu volte, dentro de uns meses, irei trabalhar em Washington, se
quiseres vir trabalhar comigo, eu até agradeço ter uma pessoa de confiança
comigo.
Depois o ouvi falar com seu pai, esse menino vale ouro, foi
muito valente me salvado, o quero como um filho. Não tenho família, acabo de lhe oferecer para
trabalhar comigo em Washington, mas creio que prefere fazer outra coisa. Qualquer coisa, entregou ao seu pai um
cartão, aqui tem meu número particular, qualquer coisa que faça por ele será
pouco. Outro teria me deixado no carro
preste a explodir, mas ele não, foi me buscar, me protegeu, lhe devo a vida.
Viu que batia no ombro do seu pai.
Seu pai o viu, lhe disse tens uma cara de quem está com
ciúmes, rindo disse, esse homem só quer o melhor para quem o salvou de morrer.
Tinha vindo no ônibus pensando no que queria fazer de sua
vida, quando eram garotos, que montavam a sua maneira as historias de Tom &
Jerry, era ele quem desenhava, tinha um jeito especial para isso, trazia agora
no bolso, um caderno de desenho, pois tinha seguido fazendo isso, era a
história do Tom, como soldado, a cada carta que lhe contava alguma coisa, mesmo
com a censura, ele imaginava a ação.
Tinha feito uma história em quadrinhos fantástica, com diálogos
imaginados entre os dois.
Quando entrou o primeiro que o Tom falou, foi do coronel, um
grande sujeito, me livrou de um que me perseguia, porque dizia que eu não era
raça pura, que em seu batalhão todos tinham que ser da nação aria. O filho da puta levou o batalhão inteiro
para a morte, nem ele sobrou.
O coronel me levou a trabalhar com ele em comunicação, agora
quando volte vai montar um departamento em Washington, me ofereceu um posto se
eu quero.
Sim eu escutei, mas o que não gostei foi vê-lo segurando tua
mão, fiquei com ciúmes, coisa não muito normal em mim. Tom o
puxou, lhe deu o primeiro beijo na boca desde que estava livre de tubos e
outras coisas. Tinha vontade a muito
tempo de fazer isso, mas não sabia como ias reagir.
Ora amigo, sabes que te amo, porque achas que todo esse tempo
esperava como um louco tuas cartas, o dia que não tinha nenhuma o velho tinha
que aguentar meu mau humor.
Olha o que eu te trouxe, segui desenhando todo esse tempo,
fazia agora com as tuas histórias, como se fossem uma grande aventura.
Tom se sentou na cama, começou a folhear o caderno que era
grande. Caramba, esse daqui é genial. Mostrou o desenho, era sobre um desafio que
ele tinha enfrentado com outro companheiro uma luta de boxe. Uau, esse outro quando te comentei que
sonhava que estávamos fazendo surf.
George o pai do Jerry entrou, que estão rindo tanto, veja,
ele continuou desenhando todas as histórias que eu lhe contava nas cartas. Passou o caderno para o pai.
Meu filho, porque nunca me mostraste esses desenhos são
geniais. Tu sabes o quanto adoro aquele
que fizeste de tua mãe, até hoje o tenho na mesa de cabeceira, ao invés de ter
uma fotografia, pois a captaste como ela era.
Sem querer as lagrimas rolaram na pele negra.
Falei com o coronel, ou melhor ele me contou o que te
ofereceu, mas creio que Washington não é lugar para ti, o inverno é uma merda
por lá. Estive no começo da minha
carreira lá, odiava.
Sem que eles percebessem, ficou com o caderno, saiu, só uma
hora depois, foi que Jerry notou que ele tinha levado. Quando perguntou pelo pai, lhe disseram que
tinha saído da base.
Na sua sala não tinha nada.
George a muitos anos atrás tinha ajudado um soldado, que os
outros abusavam, por ser gay, era filho de uma família boa, que o pai obrigou o
mesmo a entrar para o exército para ver se emendar nessa vida. Como se o exército fosse consertar o fato
dele ser gay. Hoje o mesmo tinha uma
galeria de arte. Foi até lá, apenas
avisou que estava a caminho, esse rapaz, hoje um homem tinha lhe ajudado a
entender o filho, com relação ao relacionamento dele com o Tom.
Se abraçaram, quem os visse de longe iria rir, pois aquele
homem imenso, abraçando o outro bem arrumado, baixinho, parecia que o ia
engolir.
Em que posso te ajudar meu amigo?
Queria que olhasse isso, é uma coisa que não sabia que meu
filho fazia, são as histórias que o Tom lhe contava através das cartas, ele
inventava, alguns desenhos são espetaculares, pelos detalhes.
Caramba, parece um Roy Lichtenstein em branco e negro. Isso em tamanho grande poderia ser
fantástico. Espere, venha ao meu
escritório. Mostrou um livro póstumo do
Roy, leve para teu filho, diga que imagine fazer isso em tamanho grande, que
comece com papel mesmo, se fizer esse, mostrou a cena de boxe, coloco aqui na
galeria para ver o que acontece.
George foi para o hospital, nas nuvens. Teve que se enfrentar um irado Jerry, pois
ele tinha sumido com seu caderno, ficou imaginando inclusive que seu pai o
tinha jogado no lixo.
O pai ria, sou militar, polícia, outras merdas, mas nunca te
censurei em nada. Fui sim falar com meu
amigo Bill, se lembra dele, fomos juntos a abertura de sua galeria de
arte. Ficaste me explicando o que tinha
ali exposto, pois eu não entendia nada.
Gostei tanto do teu trabalho que fui até lá mostrar para ele. Me disse que teu trabalho pode ser melhor
que este daqui um artista consagrado.
Se fizeres em grande o do Boxe, mesmo em papel, ele coloca na galeria,
para saber o que acontece. Gostou
demais de tudo, pode ser teu novo caminho, mas isso é contigo, eu só quis dar
uma ajuda.
Ele abraçou o pai agradecendo. Olhou para o Tom como que perguntando o que
ele achava.
Eu não acho nada, tu sempre estavas desenhando, nunca
mostraste ao teu pai, o que fazias com a historia do Tom & Jerry que víamos
na televisão.
Ficou sem graça, a única pessoa além de ti, foi minha mãe,
que riu muito, disse que ela pensava igual.
Bom, vamos arrumar as coisas do Tom que temos que liberar
esse quarto, estas pensando o que, a pensão cinco estrelas do exército acabou,
agora toca, seguir em frente com a vida.
Tom viria todos os dias, se exercitar com a prótese, uma coisa moderna,
lhe permitiria como tempo, inclusive usar como um braço artificial. Tudo graças ao coronel.
No carro do seu pai, falou sério, o senhor acha que eu devia
tentar?
Claro meu filho, se eu que não entendo merda nenhuma de arte
gostei, o Bill elogiou teu trabalho, de uma passada lá com o Tom, sabes aonde
é, converse com ele.
Mas faça isso antes de irmos para a praia, falei com teu tio
Tom, aluguei uma cabana na praia para nós, estava precisando de umas férias.
Jerry já tinha visto o quarto,
como tinha arrumado seu pai, ele simplesmente tinha trocado de quarto, o grande
que era o seu, colocou duas camas, levando todas as coisas do Jerry para lá, levou
sua cama, com a mesa de cabeceira para o quarto dele, ficava mais apertado, mas
pelo filho fazia qualquer coisa. Era o melhor
que podia fazer, depois de o ter obrigado a estudar direito.
Jerry, acabou indo sozinho falar com o Bill, enquanto Tom
fazia fisioterapia, a conversa foi melhor que ele esperava, pois ele era um
entusiasta. Seu pai tinha sido comedido,
nem tinha exagerado, tampouco o incentivou, como disse, não entendia de arte.
Bill foi com ele a uma loja de material, lhe mostrou o tipo
de papel que deveria usar, creio mesmo que posso te conseguir um professor,
para te ensinar algo de técnica, mas de uma certa maneira, tens uma coisa muito
tua nisso tudo.
Contou ao Bill, sua história, como ele é o Tom faziam com as
histórias de Tom & Jerry, com os anos, transformei isso em personagens
reais, em figuras humanas. Vou trazer o meu trabalho para tu olhares, mas antes
tenho que encontrar um lugar para trabalhar por enquanto.
Quando falou de noite com os dois, estava entusiasmado, mas
tenho que arrumar um lugar para trabalhar. Nos fundos da casa em cima da garagem tinham
um apartamento que com os anos seu pai tinha arrumado para alugar, para
aumentar seu salário, no momento estava vazio, porque não experimenta fazer lá,
futuramente pode ficar pequeno, ai com dinheiro, tempo para procurar, podes arrumar
um lugar melhor.
Tom o ajudou como pode, com um braço só, nessa noite voltaram
a fazer sexo, sentiam ânsia um do outro, o duro era não fazer ruído para não
despertar seu pai, além do cuidado que ele tinha com o Tom. Mas estavam felizes.
Foram passar os dias na praia, Tom notava que ele estava
ansioso para voltar, para começar a trabalhar, ria disso.
Quando voltaram preparou a parede, para poder trabalhar em
cima dela, primeiro iria tentar usar os materiais que o Bill tinha
recomendado. Fez um imenso desenho da
cena, ainda não se atrevia a usar cores, mas elas estavam na sua cabeça. Num rompante, fez um retrato do Tom, dele
partiu para montar o personagem de um boxeador, numa pose que o tinha visto
fazer, desta vez sim usou cores, mas usando pigmentos secos. Depois como o Tom descreveu o outro boxeador,
fez o mesmo igualmente. Esperou tudo
secar, convidou o Bill para ir ver.
Observou que Bill, olhava seu pai de uma maneira diferente,
lhe perguntou se gostava dele, a resposta o surpreendeu. Ele é meu herói, me salvou de um abuso, bem
como me orientou na vida, me disse que tinha sido maldade de meu pai, me fazer
ir ao exército, pensando que eu deixaria de ser gay. Mas vivo atualmente com alguém, de quem
gosto muito. Depois teu pai, nunca
aceitaria isso da minha parte.
Quando viu os desenhos, ficou parado na porta do pequeno
studio, só disse, eu nunca me engano quando vejo um potencial artista. Vou levar os três, mandarei emoldurar, num
estilo bem simples, para que a moldura não ofusque o desenho, o dia que coloque
na galeria te aviso. Depois convidarei alguns dos meus clientes para tomar um
vinho, para ver teu trabalho.
Assim o fez, avisou que os quadros estariam na parede no
final da tarde, dois dias depois, foram os três olhar. Tinha colocado os mesmos alinhados na
parede, de cada lado um boxeador e no centro o da luta.
Bom, sem exagerar, já entraram três pessoas, perguntando quem
é o autor, além claro do preço. Disse
quanto custava. A cara do Jerry era
ótima, como dizendo tudo isso?
Claro tenho que descontar o preço da montagem do quadro, bem
como meus 10%, normalmente dos iniciantes cobro de 20 a 30% para mim.
A cara do Tom era fantástica, se afastava para olhar de
longe. Sabe o que fico imaginando, se
lembra de um desenho que fizeste de uma festa chinesa, do dragão, mas colocaste
como se embaixo fossem os pistoleiros de uma tríade?
Sim, imagina esse desenho em tamanho dessa parede, com todo o
movimento que tinha, iria ficar fantástico.
Dois dias depois ligou dizendo que tinha vendido os três ao
mesmo colecionador, vai dar uma festa em sua casa para mostrar aos amigos, pediu
que eu levasse os três, para apresentar ao mundo, evidentemente que estarão
presente jornalistas dedicados a arte.
Ele tem um nome respeitado em se tratando de arte.
Nem sabiam como se vestir, Bill de brincadeira disse que
George devia ir de polícia militar, muitos convidados ficaram loucos por ti,
meu amigo.
George nunca daria o braço a torcer, mas tinha se sentido
atraído pelo coronel. A maneira como o
tinha tocado, algo tinha mexido com ele.
Tinha se casado muito jovem com a mãe do Jerry, a tinha amado com
loucura, primeiro porque eram diferentes um do outro, depois pelo fascínio que
tinha por ela.
Foram a festa, mas vestidos normalmente, a princípio se
sentiram fora de lugar, pois algumas pessoas estavam vestidas de smoking, mas o
dono da festa explicou que vinha de uma apresentação da ópera, ele mesmo estava
vestido muito à vontade. Ele
identificou imediatamente o homem, sabia que era um grande industrial.
No dia seguinte saia em vários jornais o mesmo com sua última
aquisição, ao lado do Jerry, isso lhe daria para começar.
Bill, lhe disse, já tens dinheiro para procurar um
studio. Lhe disse o valor que lhe
tocava. Ele levantou o Tom nos braços, se esqueceu do Bill, de seu pai, lhe deu
um beijo na boca.
Tom estava fazendo um curso de informática, programação, ele
tinha feito isso a vida inteira, mas sem uma formação, surpreendia os
professores com sua inventiva.
Conseguiram um lugar grande, não muito longe de casa, era a
parte de cima de uma antiga loja, que já não existia mais, o proprietário
alugou por um bom preço por conhecer o George.
Levou o material para lá, para começar a trabalhar, buscou no
meio de uma quantidade grande de desenhos, o que o Tom tinha falado, claro era
uma visão quase infantil, mas agora tinha outra ideia a respeito. De um desenho pequeno, transformar num grande,
era diferente, se esmerou nos detalhes, pela primeira vez se atrevia a usar
tinta acrílica, manejar os pinceis com cuidado, mais a frente agora que estava
estudando com um amigo do Bill, como criar em cima das técnicas. O mesmo aceitou ensinar, pois tinha visto
seu trabalho. Lhe disse na cara,
acredito que dentro de muito pouco tempo terás obras em algum museu.
Tom já estava usando uma prótese, bem como tinha aprendido a
usar o braço direito para tudo.
Um dia a noite quando chegaram em casa, estranharam George
não estar, Jerry preocupado lhe chamou.
Vou passar a noite aqui no hospital, cuidado de uma pessoa,
amanhã, explicarei melhor.
Tinham a casa só para os dois. Tomaram banho juntos, fizeram sexo embaixo do
chuveiro, como queriam. Um dia
montarei um quadro, de nos dois nus, dizia olhando os dois abraçados no
espelho.
Tinham juntado as camas, agora dormiam abraçados como tinha
gostado de fazer anos atrás.
No dia seguinte, seu pai apareceu com uma cara de quem não
dormiu. Disse que o coronel tinha
voltado, desta vez quase tinha morrido. Foi
operado lá, transportado para cá de emergência, não quis que o levassem para a
Alemanha, chegou aqui sedado, direto para a sala de operações, está em coma
induzida.
Vim tomar um banho, como está em cuidados intensivos, ninguém
pode entrar, mas eu passei a noite com ele.
O coronel Waits é uma pessoa especial, já fez tanto pelo exército,
que disse que pode contar nos números de ferimentos que tem no corpo.
É uma grande figura sem dúvida. Se depois o senhor precisar, podemos nos
reversar com o senhor.
Jerry achou estranho, mas ficou quieto. O único comentário foi, até parece que ele
conhece o coronel a muito tempo.
O coronel não tem família, foi criado num orfanato, mas foi
subindo de escalão, por méritos próprios. Vai sair dessa.
Com essa explicação entendeu, seu pai também tinha sido criado
num orfanato, talvez daí essa preocupação.
Dias depois, os avisou que já estava num quarto, que podiam
ir visita-lo.
Jerry notou que seu pai tinha emagrecido muito, mas ficou
quieto. Quando chegaram ficaram de longe
olhando, os dois conversavam, seu pai segurava a mão do Waits, um olhou para o
outro rindo.
Quando entraram soltaram das mãos, mas Jerry fez um sinal
para o pai continuar.
Bem coronel, desta vez, acredito que o senhor vai parar de
pensar em seguir nessa porcaria, como já falamos muitas vezes.
Agora com certeza, vão primeiro me oferecer a aposentadoria,
já soube que o cargo que tinham me prometido, deram a outro que tem costas
quentes, é filho de um senador. Um
idiota, com apoio do pai.
Tens razão, estava falando com o George justamente isso. Imaginem que a estas alturas da vida, nem
tenho casa. Quanto muito tenho dois
uniformes, bons, o resto é um nada.
Podes ficar lá em casa, verdade pai. Estamos pensando em ir viver no apartamento
dos fundos, agora podemos pagar. Tom
tinha feito um programa para uma empresa, tinham pagado um bom dinheiro por
isso.
Assim Waits, pode ficar lá, seremos um clube de rapazes.
Quando Waits saiu do hospital, tinham mudado os quartos
novamente, Jerry reparou que seu pai, levava o desenho de sua mãe, para uma
estante na sala.
Um dia entraram na cozinha, encontraram os dois se
beijando. Jerry apesar de tudo, sentiu
um certo ciúmes, mas ficou feliz com a cara de felicidade do pai, estava mais
relaxado.
Em breve teria uma individual na galeria, estava trabalhando
em cima dos desenhos que o Bill tinha escolhido. Alguns
desenhos para a mesma sala do dragão, ele tinha ido por Chinatown, desenhado
figuras interessantes. Todo seu
trabalho estava feito em cima de papel, alguns misturando desenho numa parte,
com tinha acrílica como preenchendo com cores alguma coisa para ele
especial. Quando Waits foi ver com seu
pai, parou no centro do local, com os olhos muito abertos. Quando te vi pela primeira vez, pensei esse
rapaz tem algo especial, mas claro meus olhos depois bateram nesse homem,
sinalizou o George, me apaixonei, mas claro sou muito fechado com isso, não
temos certeza de ter convivido ao mesmo tempo no orfanato, mas algo temos em
comum.
Agora iam para todos os lados juntos. Seu pai avisou que deixaria o trabalho no
hospital, queria aproveitar sua vida. Quando
ofereceram para o Waits uma aposentadoria plena, cheia de benefícios pelos
serviços prestados, ele aceitou rapidamente.
Queria também ter esse direito, finalmente viver sua vida.
Bill quando o conheceu, soltou na cara do George, perdi
qualquer oportunidade, vejo que amas esse homem, porra eu esperando uma
oportunidade. Riram muito.
Na vernissage, foi todo um acontecimento, Bill, disse que o
quadro do dragão já tinha sido comprado, por um personagem misterioso.
No final da festa, basicamente tinham vendido 80% dos
quadros. Os dos personagens de Chinatown
tinham ido para um museu do Bairro.
Depois descobriram quem tinha comprado o do dragão também o tinha doado
ao museu.
O professor disse o mesmo.
Olhou um quadro que ele tinha pintado de um homem com a mão no queixo,
pensando. Falou alguma coisa no ouvido
do Jerry, ele só balançava a cabeça, como dizendo entendi.
Quando George e Waits comentaram que estavam pensando em
passar uma temporada na praia, eles se convidaram para ir juntos, mas
precisavam de uma casa grande, pois Jerry não pensava parar de trabalhar.
Ficou dias sentado na praia, desenhando os surfistas. Pediu para alguns posarem para ele, Tom o
deixava à vontade, mas lhe perguntou, o que tanto ele falava com os mesmos.
Quero saber o que significa estar no meio do mar, ou no meio
de um túnel de água para eles. Cada um tem uma maneira de se expressar
diferente.
Pela primeira vez, usava papeis que o professor tinha
recomentado, mas que tinha que preparar antes, o processo era mais largo, mas
também mais produtivo.
Ele mesmo foi surfar, para guardar na memória os tons do mar. Isso o ajudou muito.
Quando começou a trabalhar, desapareceu da praia, ficou dias
fechado no seu studio, no último andar da casa, tinha uma pequena varanda, de
vez em quando saia para olhar alguma coisa.
Tom tinha feito um programa para o restaurante de seu tio, agora
os garçons mostravam uma Ipad, para o cliente, com fotografias da comida, o que
levava, além da sugestão de vinhos ou bebidas.
Era um sucesso. Logo um
restaurante japonês, lhe pedia que fizesse o mesmo, assim tinha trabalho o
tempo todo.
George e Waits estavam aprendendo a fazer surf com a
garotada, era impressionante os ver juntos, um branco com um negro, regulavam
de idade, com corpos fantásticos. Bill
que um dia veio visita-los com a desculpa de ver o trabalho do Jerry, soltou,
fico imaginando os dois na cama, fico de pau duro. Riam com ele, tinha uma maneira de se
expressar toda sua.
Vinha também, com um pedido, quem comprou o quadro do dragão,
perguntou se podias fazer um retrato dele, eu disse que ia falar contigo. É quem controla todas as tríades de Chinatown
para que não entrem em choque. Eu, se
fosse você iria falar com ele, se te interessa faça, ele sabe da tua história,
bem como o que aconteceu com tua mãe, foi ele quem controlou para que não
houvesse mais tiroteios com pessoas assassinadas sem culpa no cartório.
Pode ser um grande cliente, bem como te abrir as portas para
muitas coisas.
Ele foi com seu pai, que falava um poco de chinês, foi
esperando um tipo mafioso, mas o que encontrou, foi com um homem de cabelos
brancos, bem vestido, sentado num cadeirão, atrás de uma mesa. Ele sinalizou uma parede atrás dele, nua,
dizendo que gostaria de ter ali um quadro que simbolizasse sua história.
Se o senhor me conta mais ou menos a mesma, pode ser que
aceite a oferta, mas veja bem, não necessito de proteção, basta que o senhor
venha até aonde tenho meu studio atualmente pose para mim.
Eu ia dizer que não costumo sair.
Bastará que o senhor venha uma ou duas vezes para conversarmos,
que eu possa desenhar seu rosto bem como seu corpo.
Ninguém precisa saber o dia que o senhor vai. Podemos combinar, um toque de telefone, ou
como o senhor queira.
Assim fizeram, ele foi, acompanhado de um guarda costa,
somente, chegou era de noite, Jerry ficou conversando com ele, desenhando ao
mesmo tempo, imaginou o quadro, quando o senhor queira vir da próxima vez eu
terei um esboço, mas necessito o tamanho da parede que o senhor quer colocar,
quanto ao preço, como o senhor conhece o Bill, trate com ele.
Ele viu Tom preparando um programa de um restaurante novo que
ia abrir em Los Angeles, de um parente do Japonês que tinha restaurante na
praia, pediu para ver como era. Ele
mostrou o trabalho que tinha feito para os dois.
Bom eu tenho alguns restaurantes finos em San Francisco, vou
mandar seus gerentes virem falar contigo.
Disse alguma coisa no ouvido do Tom, riu depois para ele. Se despediu apertando fortemente a mão dos
dois.
Waits dizia que ele parecia o poderosos chefão.
Só Tom entrava no studio, ele com à medida que lhe passaram
por telefone, começou a esboçar tudo que o homem tinha falado, se era verdade
ou não, dava igual, ele tinha uma história para contar. Tinha lhe dito que sua tríade era justamente
representada por um dragão.
Quando o esboço ficou pronto, mandou uma fotografia pelo
celular. Recebeu uma chamada do homem,
dizendo, entendeste o que eu quero.
Pode seguir, já vejo que não é necessário ir até o studio.
Pintou com um certo carinho, toda a evolução de um simples
emigrante que se torna um dos homens mais poderosos de Chinatown. Quando ficou pronto, falou com o Bill, este
veio ver o trabalho, pela primeira vez, veio com o homem com o qual vivia. Era mais velho do que ele, segundo seu pai
contou depois, era muito rico.
Este pediu se ele podia fazer um para ele também, mas não tão
grande, queria somente um retrato.
Não sabia dizer por que, mas não gostou do homem, disse que
estava atrasado com seu trabalho da próxima série, mas que depois o faria.
O mais interessante, foi quando Bill veio com um caminhão
buscar o quadro, falou com ele, eu sabia que ele não te ia cair bem, na verdade
não se preocupe, já não estamos mais juntos, estou farto da convivência, eu a princípio
me deslumbrei, pois ele me ajudou muito no princípio, agora acha que tenho que
lamber seus pés, o mandei tomar no cu.
Mas tua próxima exposição não será aqui, tenho um convite
para ti, um amigo de New York quer que faças uma exposição em sua galeria,
mandei o teu catálogo, bem como as fotos dos primeiros trabalhos. Eu tenho outro amigo, se quiseres pode te
arrumar um lugar para trabalhar. Creio
que seria o justo, estares lá, fazeres um trabalho sobre as pessoas da cidade.
Podem os dois irem juntos, pois o Tom, pode trabalhar em
qualquer lugar, acredito mesmo que conseguira fazer trabalhos por lá.
Bill tinha uma maneira toda sua de trabalhar, contatos um
monte, invés de fazer a exposição sobre surf em sua galeria, seu ex-namorado
tinha uma participação na mesma, queria a galeria totalmente agora para
ele. Quero ver como se sai, eu resolvi
ficar como representante de meus artistas, os que descobri, lancei, que hoje
estão no mercado. Espero que possa
contar contigo como teu representante.
Assim ganhamos dinheiro todos.
A exposição foi em Los Angeles, não sobrou nenhum quadro, um
imenso de um surfista dentro do túnel, saiu nas principais revistas de artes,
de moda. A Vogue que preparava uma
coleção de praia, pediu emprestado o quadro, mas claro tiveram que negociar com
quem comprou.
Foram os dois para NYC, ele ainda nem sabia o que ia pintar,
começou a percorrer a cidade com o Tom, Bill veio para fechar negócio da
exposição. Ele reclamou que estava um
pouco estressado, pois o ruído da cidade no studio era horrível. Ia reclamar mais, mas parou, justo em frente
de aonde estavam comendo, estava uns homens fazendo uma obra. Pediu uma cadeira
emprestada no restaurante, sentou-se fora, perguntou primeiro se os podia
desenhar, continuem trabalhando como se eu não estivesse aqui. Fez os desenhos, mostrou para os homens,
perguntou se podiam posar para ele, queria os rostos, detalhes de braços, das
mãos.
Um deles parecia um Deus grego, Tom ficou com ciúmes, mas o
sujeito concordou em posar nu, ele já tinha a britadeira desenhada. Esboçou o quadro, pagou o homem agradeceu,
pediu seu endereço para mandar o catálogo.
Bill aproveitou, para levar o Tom aos melhores restaurantes da cidade,
para mostrar seu trabalho, ao final estava como um louco. Mas continuava de cara fechada, até que de
noite Jerry, tirou sua roupa inteira como num espetáculo de stripper, o
deixando como louco. Idiota, só penso em
ti, o homem não passou de um modelo, além de que viste o instrumento, parece de
um deus grego realmente, daquelas estatuas que se vê nos museus.
Foi buscando lugares conflitivos, numa esquina que tinha um
engarrafamento, os carros todos parados, alguns colocavam a cara para fora do
carro, outros meio corpo, ele começou a desenhar freneticamente, o problema
levou horas, até que apareceu a polícia.
Um deles tinha um apito que era uma loucura, o retratou assim, com o
apito na mão, fazendo sinal com as mãos, este curioso veio até ele para
olhar. Ria muito, pelo menos alguém
valoriza meu trabalho, pediu para ficar mais um minuto, sem o chapéu, para ele
desenhar seu rosto direito, sempre anotava o endereço da pessoa para mandar um
catálogo. Achava isso educado.
Retratou pessoas trabalhando limpando as janelas de um
edifício, subiu até o andar, entrou no escritório, pediu licença, para retratar
as pessoas que limpavam os cristais, esses ficaram parados como ele dizia, para
saírem direito no desenho. Apareceu o
diretor da empresa, ele deu seu cartão, dizendo que estava preparando uma
exposição, falou do ruído. O homem
disse venha comigo. Tinham um imenso
salão com homens mulheres, falando por telefone, o ruído era impressionante. Como por milagre, apareceu uma escada, ele se
sentou ficou desenhando horas, até que acabou o expediente. Agradeceu ao homem.
Nesse dia falou com o Tom, tens que me montar um site, me
perguntam sempre se tem aonde ver meus trabalhos anteriores. Peça ao Bill as fotos dos anteriores, podias
comprar uma câmera para fazer as fotos, assim ias atualizando sempre. Agora, serei teu cliente, mas quero pagar.
Cada vez que acabava um quadro, saia pelas ruas, buscando
alguma coisa. Mas evidentemente tinha que ver com o ruído da cidade.
Quando Bill, veio trazendo as fotos, ficou parado com a boca
aberta, é impressionante, captaste essa cidade.
Ainda quero fazer pelo menos dois quadros, como se fosse a
noite. Gente que trabalha de noite pelas
ruas.
Esses dois quadros viraram mais seis, Tom que o acompanhava,
ficava rindo. Estiveram no Times Square,
foi uma loucura, teve que voltar vários dias de noite para terminar tudo que
via, mas ficou impressionante, iria ocupar somente uma sala, como se fosse
realmente o Times Square.
A sorte da galeria ser grande, pois os quadros eram
imensos. Quando o dono veio, Bill
aproveitou para reclamar uma série de coisas.
Queria propaganda, entrevista em televisão, convites extras para o
pessoal que tinha pousado.
No dia anterior, foram convidados, críticos de arte, de
jornais, televisão, gente de programas de arte, enfim, foi uma noite
impressionante. No dia seguinte, todos
os jornais, televisão, falavam da mesma.
Na noite de inauguração, quase todos que ele tinha retratado apareceram,
colocou as pessoas bem ao lado dos quadros, para que conversassem com as
pessoas.
Um canal de televisão esteve gravando isso.
Nem tinha acabado a noite, a maioria tinha sido vendida, o
quadro dos “Stock Trades”, foi comprado pelo dono do local, parecia uma foto
aérea, saiu em todos os jornais o mesmo posando ao lado do quadro.
Estava exausto, seu pai, bem como Waits, lhe comentaram que o
melhor era descansar um pouco.
Waits se lembrou de um velho amigo, ligou para ele, conseguiu
uma casa em Fire Island, para descansarem. Mas para o Jerry era ao contrário, descansar
para ele significava desenhar, como era temporada, começou a desenhar, desde as
pessoas que chegavam em ferry boat, com os que chegavam em iates. Se sentava nas escadas das casas desenhando
os que estavam na praia, alguns queria posar de uma maneira frívola, esses ele
pedia desculpas, gostava das pessoas se movendo normalmente. Quando acabou o material que tinha, fez uma
lista pediu ao Bill, para trazer. Este
logo os estava arrastando para festas, conseguia de uma maneira curiosa, o
colocar em cima de um piano, ou mesmo de uma mesa, para ir retratando tudo que
estava acontecendo em volta, isso ele fazia numa velocidade incrível. No final da noite, Tom tinha que lhe fazer
uma massagem.
Mas chegou o momento que estava exausto verdadeiramente. Quando Bill veio falar com ele, disse, não me
diga nada até dentro de 10 dias, vamos para casa Tom. Pegaram o primeiro avião, deixando que Bill,
mandasse todo seu material para o studio.
Nem podia acreditar que estava na paz de seu studio, na
praia, se dedicou a fazer surf com o Tom, namorar todos os dias, esse dizia que
sentia falta disso, entendo que as vezes estas cansando, mas posso pensar que
não me queres.
Lhe calava, lhe dando um beijo, que acabava em outra coisa.
Quando o material chegou, olhou tudo, lhe parecia uma grande
loucura, tinha que fechar os olhos para pensar.
Mostrou tudo ao Bill, perguntou se alguém ia se interessar em comprar
isso. Ele riu a bessa, hoje em dia tens nome, claro que sim.
Fez algumas fotografias, mandarei para várias galerias,
depois te digo algo.
De NYC, duas disputavam a exposição, mas ele tomou uma
decisão, tenho dinheiro, quero desta vez fazer um trabalho diferente, trabalhar
devagar. Deixou o tempo ir passando, ia
trabalhando o quadro de uma maneira muito particular. Criando volumes, se a
pessoa tinha se movido, esse movimento aparecia, como se fosse um borrão, para
depois na ponta deste, ter nariz, boca, tudo como devia ser.
Tinha trinta quadros grandes, que o Tom com uma câmera de
controle remoto foi trabalhando para montar um pen drive, para o Bill levar as
galerias. Como eram grandes, foram todos
para NYC de caminhão especial.
Ele seguiu trabalhando, em alguns que tinha desenhado a
pessoa num movimento, com um movimento de repudio na boca, ou com os olhos
prestando atenção em alguma coisa, tudo tinha muito movimento. Incluiu algumas cenas de praia que não tinha
trabalhado antes, de por exemplo estarem jogando vôlei, com uma bola imensa
colorida. As poses que tinha retratado.
Mas o que ele gostava mesmo era de dois senhores, sentados
observando os mais jovens, parecia que a juventude influía neles. Bill disse conhecer os dois, mandou uma
foto. Primeiro pensaram que era uma
foto, quando descobriram que eram um grande quadro, disseram para o Bill
reservar, pois queriam comprar. Viviam
num apartamento imenso no central Park.
Voltaram a NYC, com toda a coleção. O galerista alugou uma ao lado que estava
fechada para poder expor tudo. Parecia
uma festa gay, de Fire Island transposta para o Soho. Ao mesmo tempo fotógrafos, câmeras de
televisão, o movimento era imenso.
Foram convidados para no mês seguinte a inauguração do quadro
dos dois senhores, em sua casa.
Mas aceitaram antes o convite de ir para Paris. Bill foi na frente pois já sabia como ele
era, apresentou o trabalho em várias galerias, mas todas que queriam eram
pequenas, isso seria um problema, conhecendo o Jerry, que fazia coisas muito
grandes era complicado. Até que
conseguiu uma nova, que era imensa perto da rue du Bac.
O studio ia ser em Montmatre ficou muito tempo andando pelas
ruas, ora retratando coisas que ele gostava, ora, turistas, ou algum francês típico,
subia para a place de Tertre, desenhava os pintores desenhando algum cliente, ali
fez amizade com muita gente. Parava em
alguma esquina, montava seu carrinho, sentava-se começava a desenhar edifícios,
depois incluía as pessoas passando, mas tudo num sentido muito gráfico. Fez isso em vários lugares, em praças
públicas, as babás com as crianças. Dois
quadros foram vendidos logo em seguida para um museu, o resto se vendeu
rapidamente.
Estava cansado, quando chegaram em casa, primeiro fez uma
bateria de exames, porque se cansava tanto.
Tens que diminuir o ritmo, o médico pediu que ele fizesse um desenho
como fazia a um ritmo rápido. Depois de
radiografia, scanner, todo tipo de coisas, chegou o conclusão de que havia um
desgaste muito grande nas rotulas dos ombros.
Que ele devia diminuir o ritmo.
Levou um tempo sem ideias, dormia até mais tarde, fazia surf, conversava
com seu pai, ficava abraçado ao Tom, olhando as ondas.
Começou a observar as aves, foi ficando interessado, o médico
lhe deu uma sugestão, porque invés de ficar desenhando como fazes, faça
fotografia. Depois desenhas.
Mas não era a sua, dizia, acabarei virando um fotógrafo, ou
faço as coisas direito, ou não faço.
Desenhava as aves em tamanho
pequeno, mas estava fazendo uma coisa que surpreendeu todo mundo, fazia
exercícios repetindo todo processo com o braço esquerdo. Demorou, mas conseguiu pintar também com o
lado esquerdo. Era paciente nessas
coisas, tomou finalmente primeira infiltração no ombro direito, mas durava por
culpa de seu trabalho só uns meses.
No de desenhar pássaros, tinha um surfista que sempre na
ponta de sua prancha ia um albatroz, quando chegavam a praia se colocava no seu
ombro. Era uma coisa diferente, o tinha
desenhado de longe. Se aproximou,
perguntou por quê?
Eu o criei, quando era pequeno, o encontrei com a asa
quebrada, a consertei, desde então está comigo.
Depois os pássaros se ajudam entre si.
Isso nunca vi, quando olhou as costas do outro, viu dos dois
lados uma imensa cicatriz, bem como ao longo da espinha dorsal. A mim retiraram as assas para não voar, por
isso faço surf, quando estou na crista da onda, tenho essa sensação.
Quando o viu surpreendido, riu, sentou-se na areia ao seu
lado, falando das operações que tinha feito por causa de um acidente, fiquei
prisioneiro em um carro, quando me liberaram, se assustaram, pois, estava vivo,
levei anos numa cama de hospital, até recomporem tudo. Digo que nesse momento perdi minhas asas,
pois estive ali preso, reabilitação, para mover meus braços. Falou do médico, é um experto nessas coisas.
Pegou o nome do médico, foi consulta-lo em Los Angeles. Este depois de examina-lo, fez uma coisa, os
outros falavam, este mostrou aonde estava o problema num esqueleto. O que podemos fazer em duas fazes, a primeira
é retirar a que esta gasta, colocar uma prótese porosa em 3D, num processo novo
que estou usando, com um pouco de fisioterapia, poderás recuperar seu
movimento, ou então podemos colocar a mesma coisa num material mais resistente,
mas a cada mudança de temperatura, sentiras dor.
Me mostre como trabalha, para que eu estude. Achou interessante, esse homem tinha mais ou
menos a idade de seu pai, estava ali firme, forte trabalhando com o mais
moderno.
Pediu que se senta-se perto da janela, para captar a luz que
vinha do exterior, quando viu a rapidez com que desenhava, passou a mão do
telefone em cima da mesa, chamou uma pessoa.
Entrou um jovem de ascendência chinesa, explicou para ele o
problema, o desgaste que causava esses movimentos rápidos, se fosse uma prótese
em 3D porosa, em breve estaria sofrendo um desgaste, o rapaz, era baixinho,
pediu para ele repetir. Teve que parar
na metade pela dor, era como se o braço tivesse um freio.
Ficou com as placas, iria estudar qual material usar.
Quando voltou a praia foi falar com o surfista, tinha tido
uma ideia, o queria desenhar como o mito de Ícaro em cima de uma prancha, com o
pássaro incluído.
O estou ensinando agora, a quando estou em cima de uma onda,
que ele fique no meu ombro, o faz com as asas abertas, como se estivesse
voando.
Assim o desenhou, pediu que viesse ao studio para fazer um
desenho de corpo inteiro, o rapaz, foi, retirou toda sua roupa ficando nu,
justo nesse momento Tom ia entrando, Jerry o viu parado na porta, piscou o olho
para o rapaz falando, meu amigo tome um banho, para abaixar esse pau duro, eu
só amo um homem em minha vida, portanto deixe de besteira.
O rapaz, foi para o banheiro, abriu a agua, quando Tom
resolveu entrar, riu para ele, essa juventude só pensa nisso. Pediu para o Tom lhe ajudar a colocar um
tecido em volta da cintura dele, como se fosse uma tanga.
Pediu que estivesse com o braços abertos em várias posições,
até encontrar como queria, depois comentou com o Tom que fora ele que tinha
falado do médico.
Acabou fazendo a operação, para colocar uma prótese, porosa,
mas com um pouco de silicone, que lhe facilitava o movimento, se desgastasse, poderiam
somente colocar uma peça na parte mais desgastada, era um tipo de operação
moderna.
Tom, veio ficar com ele no hospital, um dia Ícaro como
chamava o surfista apareceu, rindo, pois tinham atentado que o albatroz não
entrasse com ele, mas aqui está.
Olá Tom como estás, fez um sinal o albatroz posou no seu
ombro, agora lhe ensinei isso, outro dia deu um susto danado num surfista, pois
quando viu o mesmo na crista da onda, voo até ele se colocando no seu
ombro. Adora fazer isso.
Vim ver o doutor, pois acho que vai finalmente me colocar
minhas asas verdadeiras.
Depois ficaram sabendo que seus omoplatas era próteses feita
pelo chinês.
Teriam que trocar dentro em breve, por uma mais ligeira que
lhe facilitaria os movimentos.
Durante a fisioterapia, descobriu que o rapaz era realmente
chinês, adotado pelo médico, que esse ia todos os anos a China para aldeias
distantes, para ajudar as pessoas que necessitavam, ia num grupo de médicos. O rapaz também era médico, participava da
operação, era como se o doutor o estivesse treinando para ocupar seu lugar.
A fisioterapia foi rápida, tinha que fazer uma série de
exercícios para recuperar os movimentos que fazia.
O trabalho começou a ir ao ritmo que ele gostava. Bill quando viu o quadro de Ícaro, ficou de
boca aberta. Pensei que tivesse morrido
a muitos anos atrás, o conhecia, fomos amigos de juventude, o encontro dos dois
foi emotivo. O único que ficou com
ciúmes foi o albatroz.
Nessa noite Bill desapareceu, Waits disse que devia estar
matando saudades. No dia seguinte estava feliz.
A exposição seria numa grande galeria em Los Angeles, noticiou por todo
o alto, os quadros não eram imensos como antes, mas grandes, na primeira noite
não sobrou nenhum, a não ser o de Ícaro que tinha uma marca de vendido. Tinha sido o próprio que tinha comprado,
Bill depois contou que era imensamente rico, quase tinha perdido tudo esses
anos em que se estava recuperando, mas que trabalhava desde sua casa ali na
praia. Quando se olhava de frente parecia uma cabana,
mas era grande, bem decorada.
Tinha aprendido a diminuir o ritmo, trabalhar devagar, ficar
mais tempo ruminando diante da tela quais as opções que tinha para executar. Isso fazia seu trabalho ser mais rico.
Tom estava tendo problemas com sua prótese, foi com ele ao
médico que o tinha operado, esse depois de muitos exames, disse que tinha
câncer justamente nos ossos que tinham sobrado, mas que estava em estado
avançado, o mandou para um oncologo, para saber a dimensão de tudo. De momento ele não tinha dores, por isso
nunca tinha reclamado.
O exame foi brutal, tinha já uma parte de uns dos pulmões
tomado, não havia nada que fazer, se entrasse em quimioterapia, apenas
atrasaria algum tempo, mas o câncer se estendia rapidamente. Ele deixou de pintar, estava sempre
cuidando do Tom, esse dizia que não podia se queixar, tinham tido anos
maravilhosos juntos, morreu meses depois deitado nos seus ombros para ver o mar. Suas últimas palavras foram, tu sigas em
frente.
Foi cremado, suas cinzas os surfistas seus amigos levaram mar
adentro.
Jerry ficou arrasado, levou uns dois meses sem desenhar nem
pintar. Era capaz de ficar horas
sentado na praia, as vezes conversando com Ícaro, ou mesmo com Waits. Um dia escutou nas suas costas, caramba quem
encontro aqui, quando se virou, era o homem da britadeira, o gigante, o deus
Grego. Se jogou ao seu lado na areia, dizendo por tua
culpa mudei de vida, me descobriram na galeria, passei a posar para moda, fiz
alguma coisa de cinema, que realmente não é a minha, acabo de chegar aqui, para
passar um tempo descansando, estive meses na Europa desfilando para moda. Mas estou farto de tudo isso, me falaram
dessa praia, eu te procurei, mas bati de frente com teu fiel escudeiro, esse
disse que vocês estavam juntos.
Entendi a mensagem, desapareci, mas tinha ficado interessado
em ti. Tinha uma risada fresca, que
fazia todo mundo rir. Claro que não ia
enfrentar aquela fortaleza. Respeito
sempre o terreno alheio.
A mim, quiseram me usar de todas as maneiras, mas me defendi,
algumas vezes recebia convites nada honrosos, conseguia escapar rapidamente.
Falar nisso aonde está ele?
Quando soube que tinha morrido, sua cara mudou, entendo, deve
ter sido para ti um baque, se via quanto o querias.
Sem saber por que Jerry lhe contou tudo, desde a brincadeira
de Tom & Jerry, até o reencontro, a mudança de rumo em sua vida. O convidou para jantar em casa, o rapaz
tinha um nome estranho, mas ele se lembrava Dagoberto White, era descendente de
um brasileiro.
Tenho que procurar uma lugar para ficar antes disso, acabo de
chegar. Mostrou um jeep estacionado ali
na praia. Me escapei de todo o trabalho,
meu agente deve estar furioso, mas estou cansado, o dinheiro não é tudo na
vida.
Seu pai e Waits se lembravam dele, arrumaram um dos quartos
vazios para ele.
O jantar dessa noite foi menos melancólico, com White
contando suas viagens pelo mundo, tem época, que nem sei aonde estou, me
desperto solto um palavrão, aonde estou, fico pelo menos uns quinze minutos na
cama, pensando, até me geolocalizar.
Venho agora de uma maratona de Paris, Londres, Berlin,
Tokyo. Quero descansar um pouco, depois
querem que tenha o corpo bronzeado sempre, mas como, fico branco em seguida.
Guardaram o carro na garagem, assim seria mais difícil
localiza-lo. No dia seguinte, foi fazer
surf como Jerry, todos aplaudiram. Quando
perguntou por que, ele contou que não entrava na agua a meses, lhe fazia
recordar o Tom.
Mas estiveram se divertindo, Ícaro, logo fez amizade com
White também, esse lhe explicou Jerry é outro que fugiu para cá, para ter paz.
Quando viu estava desenhando um retrato do White, tinha
realmente um rosto perfeito. O corpo
continuava de enfarte. Comentou que
tinha dito ao Tom, por causa de seus ciúmes que tinha o membro como as estatuas
gregas.
Estavam os dois no studio, você sabe eu pensava justamente
naquele dia, me aproximar de ti, estava apaixonado, um homem que me descobre
num trabalho infernal, até hoje tenho problemas em um dos ouvidos por
isso. Mas posso provar que estas errado.
Foi tirando a roupa lentamente, fizeram sexo ali mesmo no
chão do studio, era uma coisa diferente, com a voz rouca disse ao ouvido dele,
não sabes quanto tempo esperei por isso, buscava nos poucos relacionamentos que
tive, alguém que fosse parecido contigo, mas as vezes ao abrir a boca, perdia
todo o encanto.
Foi ficando, agora dormiam juntos, George e Waits riam, pois
viam o filho ir voltando a normalidade.
Desenhava agora devagar, retratando os surfistas, mas cara a cara,
detalhes pequenos que impressionavam pela perfeição.
White, estava mais relaxado, tinha avisado ao seu
representante, que deixava tudo, que desistia de ficar carregando roupas que
não eram suas. Entregou seu dinheiro ao
Ícaro, que foi aplicando para ele, como fazia para os outros. Pensava em comprar uma casa por ali.
Nem se atreva lhe disse Jerry, agora é impossível, quero que
fiques ao meu lado. Não quero saber com
quantas pessoas fizeste sexo. O quero
todo para mim.
Eram duas figuras impressionantes quando estavam na praia. Um quase negro, com a pele azeitonada o
outro moreno, com cabelos compridos, olhos azuis. Não escondiam de ninguém o que eram.
No verão, Bill, alugou um armazém imenso ali perto da praia,
montou uma galeria temporal, mas trouxe tantos artistas bons que foi ficando,
expôs os retratos dos surfistas, fez um sucesso incrível com isso.
Mas queria mesmo era desfrutar a companhia do White. Os dois eram diferentes em muitas coisas, por
isso falavam dos assuntos. Com o Tom
nos últimos anos, fechado em si mesmo, pois via Jerry ganhar muito
dinheiro. Ele ganhava o razoável, com
seu trabalho. Um dia Ícaro contou
conversas que tinha tido com ele, sobre seus ciúmes doentio, ele é famoso
dizia, um dia algum outro completo o roubara de mim. Não poderei suportar, o amei minha vida
inteira.
Mas não foi assim, embora tivesse oportunidade, nunca fiz
nada que colocasse em risco nossa relação.
Ele sabia disso, o amei desde criança.
Agora entre os dois não tinha isso, White olhava quando
alguém se aproximava, ria dizendo na cara da pessoa, perdão, mas cheguei
primeiro. Desconsertava a pessoa
completamente. Mas lhe dizia, tu eres
livre para fazer o que quiser, mas depois se prepare, apesar de seres mais
forte te darei uma surra.
Quando seus pais morreram num acidente de carro, esteve ao
seu lado todo o tempo, lhe ajudando a superar mais esta crise de sua vida. Seguiram vivendo na casa da praia, já apesar
de trabalhar bastante, não aceitava se deslocar para vernissages. A não ser que fosse na galeria do Bill. Este era feliz com Ícaro, tinha até
aprendido a fazer surf, como dizia, até o albatroz me aceitou.
Os quatro agora estavam sempre juntos. De maneira nenhuma pensava em sair dali o
único que se movia mais era Bill por causa de seu trabalho de representante.
White dizia que tinha sonhado muito com isso, estar sentado
olhando o mar, ter tranquilidade, que o vissem de outra maneira, a não ser pelo
físico. Foram envelhecendo juntos.
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