ZARCO
– ZARKO
Quando li os diários do meu avô, entendi finalmente por que tinha
mudado o nome de Zarco, por Zarko, não queria ser confundido com o nome de um
judeu converso, para ele era uma blasfêmia, sem querer me obrigou a dirigir
todos meus estudo para isso, o povo Safardi que tinha vivido na España da idade
média, que foram obrigados a mudar de religião para sobreviver. Eu o
tinha considerado a vida inteira um homem inteligente, mas isso me fez ficar em
dúvida, ao ler seus diários, entendi finalmente que era uma pessoa controversa,
que tinha encontrada em minha avó uma parceira que o compreendia.
Primeiro pensei
que tinham orgulho de serem judeus safardi, pois isso significava ter
participado na história do povo judeu.
Os dois chegaram a Israel procedentes de países completamente
diferentes.
Os pais de minha
avó, emigraram para a Palestina, não existia Israel como tal, vindos da
Áustria, antes da chegada de Hitler, quando perceberam os novos ares, escaparam
antes. Viveram desde logo em Tel Aviv,
ele como joalheiro, embora tenha pertencido ao Haganá, lutaram os dois pela
independência do País.
Meu avô ao contrário,
vinha de São Paulo, aonde a colônia safardi era grande, pois tinham vindo quase
em seguida ao descobrimento do Brasil.
Se fixaram juntos com os Jesuítas, se passavam por católicos, embora
nunca tenham abandonado sua própria religião.
Para ele isso era
confuso, foi quando entrou em atrito consigo mesmo, embora quando tenha
nascido, a família tinha se misturado com árabes, pois a colônia de judeus e
árabes compartiam um bairro da cidade, Belém, se dedicavam todos ao comércio de
roupas. Ele mesmo tinha uma irmã casada
com um Libanês, embora como tempo, basicamente, não frequentassem religião
nenhuma, os pais deixavam seus filhos escolherem. Isso o deixaria confuso, pois misturava isso,
com sua própria indefinição sexual.
Já com 20 anos se
decidiu tentar ser um judeu de fato, fez a circuncisão, começou a frequentar a
sinagoga. Acompanhou toda as guerras
que livrou Israel, para se tornar um país.
Um dia surpreendeu sua família, com a decisão de abandonar o curso de
psicologia que fazia, para emigrar para Israel.
Evidentemente não o entendiam, a muito tinham perdido o vínculo com a
religião.
A única coisa que
levou consigo foi um diário do seu avô, que via a família justamente perder
essa parte religiosa, nem eram católicos, nem safardis, havia uma liberdade de
religião no Brasil que não se encontrava em outra parte do mundo. Os emigrantes começavam a deixar os guetos,
se misturando com as outras raças, credos.
Se tornava um pais com a miscigenação bem pronunciada. Ele acabou deixando de batalhar para que a
família se mantivesse pura como pensava. Em sua cabeça nessa emigração, funcionava
como uma recuperação da raça original.
Ignorava por exemplo que seu pai, sua mãe era um exemplo disso. Ele judeu, ela alemã, mas sem vestígios de
ser judia.
Chegou a Israel,
teve que fazer serviço militar, foi aonde se conheceram, ela era uma Sabra, tinha
nascido ali, para ele foi como encontrar com o protótipo de uma judia original.
Viveram juntos
sem se casar a vida inteira, não pensavam em ter filhos, o seu pai nasceu eles
já tinham uma certa idade. Quando seu
pai nasceu, ela foi clara, não pensava em ficar em casa para cuidar de filhos. Quem fez o papel duplo de pai e mãe, foi meu
avô, talvez por isso redescobriu suas tendências homossexuais. Os dois eram funcionários públicos, viviam
uma vida diferente, uma suposta liberdade, os dois tinham relações com outros
homens ou mulheres, mas meu avô era discreto nesse sentido, pois a
homossexualidade não era consentida pelo governo.
Meu pai foi
educado por uma mãe extremamente fria, um pai amoroso, com ele se entendia, com
ela, era como se nunca existisse, pois nunca estava realmente presente.
Eu fui fruto de
uma noite de comemoração, ele finalizava o serviço militar, se cruzou com minha
mãe, que também terminava, meses depois ela apareceu com uma criança que não
queria, pois tinha lhe surgido a oportunidade de entrar para a Mossad.
Minha avó exigiu
a prova de ADN, que levava meses nessa
época, mas ao mesmo tempo, se apaixonou por mim, todo amor que não tinha dado
ao filho, descarregou em mim. Tive então
dois pais ausentes, o meu trabalhava em relações internacionais, vivia pelo
mundo, trabalhando em embaixadas, ela no serviço secreto, vinha sempre me ver
acompanhada de uma mulher que passei a chamar de tia, mas na verdade viviam
juntas.
Quando ela morreu
numa ação frustrada, a que eu achava que era minha tia, continuou me visitando,
as vezes passava férias com ela em algum lugar, a queria muito, só descobri
quem era com uns 15 anos, mas como meus avôs achavam a coisa mais natural do
mundo, eu passei a achar também.
Meus avôs já
tinham muita idade para cuidar de mim, meu pai finalmente tinha chegado aonde
queria, trabalhar na embaixada de Paris, o combinado era que eu viria passar
sempre as férias com eles.
Tempo depois
soubemos que ela tinha morrido, viemos para seu enterro, diziam as pessoas
amigas que tinha morrido de tristeza, por eu ter ido embora, meu avô, disse que
nem pensar, tinham um câncer do tamanho de um bebê, apenas tinha renunciado a
fazer qualquer tratamento. Os dois
morreram na verdade com uma pequena diferença, não tínhamos partido ainda para
Paris, estávamos hospedados num hotel, com o homem que vivia com meu pai. Nunca
gostei dele, mas estava ali para lhe dar apoio moral.
Fomos chamados
pelos vizinhos, pois meu avô não saia de casa.
Descobrimos que tinha se livrado de todos os moveis, roupas, tudo que
existia no apartamento, em uma noite, levaram tudo como se fossem ladrões. Quando entramos ele estava sentado na única
coisa que tinha ficado para trás, sua poltrona favorita. Estava vestido com sua melhor roupa, pela
primeira vez o vi com um Kipa, no seu colo tinha duas cartas, uma para meu pai,
outra para mim, além de um embrulho, com todos seus diários, para que eu o
entendesse.
Os dois como
explicou ao meu pai, tinha feito um pacto, pois estavam com a mesma doença, ele
a ajudou a morrer, depois tomou as providencias para nos livrar dos
aborrecimentos de desmontar uma casa totalmente impessoal. Tomou depois de tudo uma capsula de cianuro.
Não havia
heranças os dois eram funcionários públicos, não tinham dinheiro sobrando, tudo
tinha sido invertido na minha educação.
Meu pai levou
tempo para digerir tudo isso, na nossa volta a Paris, durante dias não voltou
ao trabalho, estava desnorteado, se encontrou indo a uma sinagoga, aonde um rabino
o ajudou, tinham mais ou menos a mesma idade, trabalhava como psicólogo, fora
da comunidade, se apaixonaram, passaram a viver juntos. Pela primeira vez na vida vi meu pai
feliz. Eu encontrei um homem com quem
podia falar.
O anterior
desapareceu, como tinha aparecido nas dobras da vida.
Depois de ter
passado as férias sozinho, lendo todos os diários, inclusive o que ele tinha
herdado de sua avô, passei a entender muitos comportamentos dos dois. Algumas vezes ria muito, outras chorava,
tinha sido uma pessoa completamente perdida, achou que tinha se encontrado, mas
na verdade nunca buscou o porquê das conversões.
Eu ao contrário,
mudei de curso, de estar estudando econômicas, passei a estudar história, me
dedicaria posteriormente a estudar isso as conversões dos safardis, sua vida na
Europa, principalmente España e Portugal.
Como funcionavam esses guetos que sustentavam os reis em sua guerras
particulares, quando a dívida chegava a um valor considerável, era hora de
escapar das perseguições. A maioria se
dedicava a medicina, era logo considerados pelos católicos bruxos, porque
tinham a capacidade de operar.
Fui me
aprofundando cada vez mais no assunto, não vivia, nem respirava se não fosse
isso, recebi uma bolsa de estudos conseguido por Mikael, o companheiro do meu
pai, para que pudesse me dedicar exclusivamente a isso, ao mesmo tempo sem
saber direito quem eu era, o fui acompanhando a sinagoga. Me comportava como sempre tivesse ido, até
que ele descobriu que eu sequer era circuncidado. Meu pai não tinha se preocupado, tampouco
meus avôs.
Não sabia nada,
absolutamente nada da religião. De uma
certa maneira foi um choque, confesso que sempre fui exagerado, quando colocava
em uma ideia na cabeça, só pensava nisso.
Devo a Mikael, ter encontrado o
equilíbrio nisso, pois ele não permitia.
Lia o que eu escrevia, as vezes alguma frase, ou mesmo um troço do
texto, se transformava em uma conversação complicada entre os dois, até que eu
entendia o porquê das coisas. Um dia lhe
disse, que ele era mais meu pai, que meu próprio pai. Na verdade, não era culpa sua, não
esperava ser pai, nem sabia o que queria sexualmente na época, só tinha em
mente sua carreira, como ia ir pelo mundo arrastando uma criança se ele mesmo
era imaturo. Para isso estavam seus
pais.
Um dia levei uma
bofetada na cara, conheci nos estudos que fazia, numa biblioteca, um homem um
pouco mais velho do que eu, me apaixonei como um louco, Thomas era cura, fazia
um estudo sobre os judeus, pois seus antepassados tinha sido safardis conversos,
ele mesmo era católico. Como dois
idiotas que nunca tinha feito sexo, nem maduros éramos, mais parecíamos dois
adolescentes. Quando ele teve que voltar
a Roma, confuso pela descoberta de sua sexualidade, ao mesmo tempo, de suas
raízes a coisa ficou feia, queria ir com ele de qualquer maneira, até que me
disse que necessitava de tempo para digerir tudo isso, encontrar-se consigo
mesmo.
Ele acabou indo
para Israel, depois de abandonar a igreja católica, tinha descoberto nos seus
estudos, tudo o que tinham feito com seus antepassados.
Justo quando ele
foi para Israel, consegui, autorização para estudar nos arquivos do vaticano, o
procurei, mas não o vi. Descobri tempo
depois que só teria acesso ao que eles permitiam, o que eu buscava não estava
disponível.
No meu livro
criei um capítulo inteiro sobre o assunto.
Depois fui para Sevilla, estudar nos arquivos da Companhia das Índias,
que tinha uma vasta documentação a respeito, como esses safardis, estiveram
ligados aos árabes, da mesma maneira que estavam ligados ao reis
católicos. Era como estar sempre
sobrevivendo no meio de tudo contra, pois seja com católicos ou árabes, tinham
que viver em guetos, os únicos que podiam sair depois do toque de queda, eram
os médicos que iam atender aos nobres.
Em Sevilla fui
verdadeiramente vulgar, tinha mil e umas aventuras de uma noite, não me
interessavam os relacionamentos, até que me chamaram a atenção para isso, que
eu estava ficando vazio de sentimentos, foi o Mikael, que veio me ver
preocupado por mim. Como sempre meu pai
tirava o corpo fora.
Me deu uma bronca
monumental, nem estava fazendo bem meu trabalho, pois minha atenção era
pouca. Depois disso me fechei, me
dediquei de corpo e alma ao meu trabalho, fui a Córdoba e Granada, mas pouco
encontrei de material,
Era como se
tivessem borrado os sefarditas da face da terra. Por uma informação do Arquivo das Índias,
fui ao Marrocos, outras colônias espanholas da época. Mesmo ao México, mas qual os que tinham ido
eram os conversos, que acabavam no final sem identidade, que era o que
interessava aos governos, bem como a Igreja Católica.
Quando acabei meu
segundo livro, revisei o primeiro, pois algumas coisas se tinham alterado na
minha linha de pensamento.
Fui chamado para
palestras, a Sorbonne aonde tinha estudado se interessaram por mim, não só
porque tinha escrito dois livros, mas porque ao final falava árabe, português,
espanhol, o dialeto sefardita, inglês, meu trabalho consistia em aulas sobre
isso, bem como ajudar estudantes de várias lugares. Foi quando descobri que poucos eram os
interessados no assunto. Quando os
livros foram lançados em Israel, só compareciam nas entrevistas, estudiosos do
assunto, o público era como que restrito.
Fui entrevistado
na televisão, o que queriam saber porque me tinha interessado tanto o assunto,
quando comentei, entendi que as pessoas não gostavam que se ficasse rebuscando
seu passado, como que agora eram um pais, não necessitavam o tempo todo alguém
dizendo o quanto tinham sido perseguidos.
A preocupação do
país, eram os ultra ortodoxos, que se expandiam, pois se proliferavam como
coelhos.
Numa das muitas
palestras que dei, apareceu o Thomas, na hora não o reconheci, muito gordo com
uma barba imensa, relaxado com sua figura, estava acompanhado de um homem moreno
que me apresentou como sendo um jornalista que queria me entrevistar.
Saímos para comer
alguma coisa, mas Thomas se levantou indo embora sem se despedir, achei
estranho, comentei isso.
Andreu, o nome
que ele usava como jornalista, que escondia que era um dos muitos Etíopes,
judeus resgatados por Israel. Se escrevo
as entrevistas com meu nome, não interessa, pois com esse que uso fico
parecendo um jornalista estrangeiro, meu nome é Jacob Saharin, ficamos
conversando, ele foi direto ao seu objetivo.
Queria saber como
eu me sentia depois de todo esse trabalho que tinha tido, publicando dois
livros, mas que no fundo estava buscando minha raízes.
Lhe respondi
francamente, mais perdido do que antes.
Pois a maioria das pessoas não se interessam, as que querem saber, de
uma certa maneira chegam à conclusão, se isso as afetara nas sua vida nesse
momento.
O mundo atual, as
informações duram cinco minutos, você sabe disso, a quem vai lhe importar de
aonde você veio, porque dois segundos depois serás engolido por uma nova notícia,
mas absurda do que lhes possa parecer a tua.
Estas fora de jogo.
Me olhava
surpreendido, com minha análise, mas concordava comigo, estou sempre em busca
de algo. O que público hoje amanhã, cheira a ranço.
Pois é, está
ficando difícil, pergunto sempre se as pessoas passam realmente das 10
primeiras páginas de um livro, que foi tão crucial para mim. Armazenei tantas informações em minha
cabeça, agora, apesar do tempo perdido me parecem lixo.
Mudamos de
assunto, lhe perguntei se tinha tido ou tinha algum romance com Thomas.
Me disse rindo
que tinha tentado, mas que ele estava tão perdido que tinha sido impossível.
Eu me considerava
jovem, nessa noite depois de nossa conversa cheguei cheio de energia na casa
que tinha alugado, perto de aonde tinha vivido com meus avôs.
Comecei a
escrever um romance sobre isso, como os jovens estavam perdidos, criei um
personagem como eu, que quando chega ao final de uma linha, descobre que perdeu
tempo recuperando o que foi o passado de sua família. Escrevi até o amanhecer, no dia seguinte
mandei o texto até aonde tinha aguentado escrever, uma cópia por e-mail para o Mikael,
me despertou por volta do meio-dia.
Estava ansioso
para falar contigo, li de uma só vez tudo que escreveste, achei genial a ideia,
creio que é isso mesmo.
Estivemos falando
mais de duas horas, no final quando desliguei, perguntei a mim mesmo, se meu
pai não se incomodava com isso, que ele exercesse o papel do pai que ele não
era.
Chegariam dentro
de dois dias, pedia que conseguisse um apartamento para eles, mas a casa que
estava era grande, eu os hospedaria.
Na noite antes
voltei a me encontrar com o Jacob, ia andando pela rua, depois de um jantar,
ele saia de um vernissage, fez questão que eu entrasse, me disse que o pintor
era seu irmão. Me encantei com os
quadros, era de uma realidade diferente, pessoas retratadas no seu cotidiano,
mas como que fazendo uma coisa distinta.
A alguns fiquei
parado muito tempo diante, senti atrás de mim uma respiração forte, me voltei
ali estava um homem moreno com barba, óculos de míope.
Gostas do que
estas vendo, é o que vês?
Sorri para ele,
pois me pareceu um homem bonito, comecei a falar o que sentia, a força das
figuras. Ele me fez girar, que eu
olhasse as pessoas em volta, todas com sua taça de champagne conversando de
costa para os quadros. Acredito que só
tu tenhas entendido o que quis dizer. Quando pergunto o que veem me falam das
cores, das figuras fortes, mas o resto nem percebem, o pior compram para colocar
em suas casas, sem sequer saber o que é.
Evidentemente eu necessito que comprem para seguir trabalhando. Daqui a dias os ignorarei totalmente.
Ficamos ali
conversando até que o dono da galeria veio chama-lo. Jacob tinha desaparecido, eu o encontrei fora
com o irmão. Eram diferentes entre si.
Vejo que
conheceste meu irmão, ele ficou impressionado contigo.
Eu também pois
sua obra me cativou. Ficamos ali
conversando um tempo, quando ia me despedir, Abraham, me segurou pelo cotovelo,
eu não desapareceria tão rápido. Virou-se
para Jacob, me fartei disso, vou com o Gregori até a praia, para respirar ar
puro.
Ficamos sentados
num muro falando sem parar, acabei indo dormir no seu studio. Havia uma eletricidade entre a gente
incrível. Me despertei, assustado,
pois meu celular não parava, era o Mikael, perguntando aonde estava, estavam no
aeroporto me esperando. Tinha me
esquecido deles. Abraham fez questão de
me levar, me soltou mal sentamos no carro, se eu pensava que ia deixar que
escapasse.
Fomos falando o
tempo todo. Meu pai estava furioso, se
havia uma coisa que não perdoava, essa era esperar, estava acostumado a ser
atendido imediatamente.
Mikael contornou
a situação, como sempre, Abraham, pensou que ele era meu pai, falou com ele sobre
isso, que ele devia amar ter um filho como eu.
Mikael ria,
apontou meu pai que falava com um jornalista, ele é seu pai.
Eu o abracei pela
cintura, Abraham, na realidade ele é o pai que sempre quis.
Fomos até o
apartamento, os deixei mudarem de roupas, fomos almoçar, Mikael, conversava
conosco sobre arte, dizendo que queria ver seus quadros depois.
O assunto para
variar não interessava meu pai, que não parava de falar ao celular. Achei uma falta de educação, soltei que o meu
avô não iria permitir isso, acredito que te educou melhor, que não tenhas
atenção com teu filho tudo bem, nunca tiveste mesmo, mas não estamos sozinhos,
seja pelo menos educado, entreguei a chave do apartamento, arrastei Abraham,
escutando que Mikael, perdia a paciência.
Nessa noite,
escutei uma notícia que não gostei, os dois iam se separar, depois de todos
esses anos Mikael estava farto. Lhe
abracei chorando, vou perder o pai que sempre quis ter. No dia seguinte meu pai, foi se encontrar com
amigos em Cesárea, levando sua bagagem.
Tudo isso me
fazia sentir mais perdido, comentei com os dois sobre isso.
Tens que entender
que ele nunca se sentiu teu pai, foste criado pelos teus avôs, depois eu assumi
esse papel, quando vi que tu não lhe interessavas, a vinda para cá foi por
insistência minha, mas falhei.
Volto para Paris,
para arrumar aonde viver, lhe dei a chave do meu apartamento, podes ficar lá,
enquanto resolvo o que vou fazer. O
levamos ao aeroporto, dois dias depois meu pai chamou, perguntando por ele. Respondi secamente que não sabia. Iria com o Abraham, ao deserto do Néguev, soltou
que precisava falar comigo, lhe respondi que sentia muito, mas ia com Abraham
de qualquer maneira, que o voltaria a ver quando voltasse a Paris.
Acabamos passando
um bom tempo por lá, pois Abraham tinha amigos em Beersheva, que me encantou,
foi quando vi o pouco que conhecia o pais que tinha nascido.
O interessante
era a quantidade de assuntos que tínhamos os dois, falávamos horas sem parar,
bem como fazíamos sexo. Vinha falando
com Mikael todos os dias, tinha levado o catálogo da exposição do Abraham, ele
era super bem relacionado, foi mostrando em Paris.
Meu apartamento
era grande, antigo também, eu usava só uma parte, pois tudo que necessitava era
um lugar para dormir, escrever, Mikael, disse que tinha arrumado um pequeno
para ele, quase ao lado do meu, assim estaríamos mais perto.
Convenci Abraham
de vir comigo, para tentar a sorte por lá.
Aceitou, não queria me perder, pela primeira vez estava apaixonado. Montou seu studio numa parte do apartamento,
mas estávamos os três sempre juntos. Um
dia Mikael, chegou em casa nervoso.
Teu pai está
internado, quis te dar a notícia em Israel, mas não quiseste falar com ele,
teve um AVC esta noite, estava com seu novo amante. Me avisaram do hospital que está, queres ir
até lá.
Fiquei na dúvida,
quando chegamos, de imediato não gostei do seu acompanhante, devia ter mais ou
menos a minha idade.
Meu pai sorriu
quando me viu, mas estava com vergonha.
Tinha perdido a
mobilidade do lado esquerdo. O médico
perguntou se tínhamos ideia do que íamos fazer.
Eu simplesmente na frente dele lhe disse, que acreditava que Israel,
cuidava bem de seus funcionários antigos, com certeza teriam alguma residência
para ele viver.
Mas é o teu pai,
tentou argumentar, esse senhor nunca me criou, primeiro foram meus avôs, depois
esse senhor, indiquei o Mikael. Sinto
muito, que seu namorado cuide dele.
Mikael ficou
furioso comigo.
Se queres cuidar
dele, como sempre fizeste bem, mas ele nunca me cuidou, sequer se preocupou
comigo, nunca esteve em nenhuma época de minha vida. Que se apanhe sozinho.
O namorado
desapareceu nesse mesmo dia, era jovem, não ia perder seu tempo com um velho,
Mikael, ainda ficou com pena, o levou até Israel, pois o apartamento que vivia,
pertencia ao governo, que o queria para a pessoa que viria o substituir.
O levou até
Jerusalém, voltou em seguida, tens razão, logo queria me convencer a ficar para
cuidar dele, é o mesmo egoísta que foi a vida inteira, em que eu estava ao seu
lado para resolver os problemas.
Vou mais é cuidar
da minha, estava ajudando o Abraham a preparar sua próxima exposição.
Fui convidado,
devido ao meu novo livro que fazia sucesso, para dar aulas na universidade de
Tel Aviv, fiquei de pensar.
Estava tão
acostumado a viver em Paris, que para mim voltar para minha cidade era difícil,
mas claro já não estava sozinho. Abraham
sentia falta de lá, apesar do sucesso, gostava da vida lá. Acabei aceitando o
convite. Mikael, aceitou de repente ir
viver em NYC, com um irmão, que queria que o ajudasse em seus negócios, nada
mais o prendia a Paris. Continuamos nos
falando todos os dias, sentia sua falta, mas ele durante o ano, vinha pelo
menos duas a três vezes para me ver.
Sempre ia ver meu pai, uma vez me convenceu de ir com ele, num primeiro
momento fiquei com pena dele, mas bastou vê-lo se vangloriar que eu devia ao
fato de ser um escritor com um certo renome a ele. O desmenti na frente de todos, deixa de ser
mentiroso, nunca me ajudaste em nada, nem meu pai eres. Apresentei o Mikael, como meu verdadeiro pai.
Odiava esse
comportamento dele, mas achava horrível isso.
Agora entendia finalmente o suicido dos meus avôs, sabia que seu filho
não cuidaria deles. Fiquei imaginando
isso na cabeça do meu avô que o tinha criado, como pai e mãe ao mesmo tempo. O
orgulho como olhava o filho, que mal lhe dava atenção. Comentei o que pensava com o Mikael, ele me
contou que meu pai quando descobriu que seu pai era homossexual, primeiro
pensou que ele tinha lhe transmitido um gene defeituoso. Depois o passou a ver com outros olhos, como
as pessoas olhavam para ele, cuidando desse filho como se fosse uma mãe, passou
a odiá-lo por isso.
Então porque me
largou lá.
Porque tampouco
queria um filho, acredito que fui eu, que me apaixonei por ti, sempre quis ter
filhos, eras inteligente, atendo com tudo, sempre conversando comigo, como eu
tinha sonhado fazer com meu filho, te roubei dele, que nunca prestava atenção.
O amei muito, até
perceber que vinha tendo aventuras as minhas costas, quando começou a sentir-se
velho, como se fazer sexo com uma pessoa mais jovem lhe fosse devolver a
juventude.
Podia ser
inteligente, mas egoísta.
Nunca se
interessou pelos diários que me deixou meu avô, me respondeu que isso era
idiotice, que nunca trairia vantagem nenhuma na vida do país. Eu achava engraçado isso dele falar de boca
cheia do país, sendo que passou a maior parte de sua vida fora.
Meses depois teve
outro enfarte, fui vê-lo, porque Abraham me convenceu, estava com a boca torta,
era difícil entender o que falava. Me
pediu desculpas por tudo, mas seu olhar via que fazia isso porque tinha medo de
ficar para trás.
Lhe contei que
Mikael, tinha conseguido uma exposição para Abraham em NYC, aonde eu também
iria lançar meu livro, quando volte venho ver o senhor, nunca o tinha chamado
de pai.
Quando estávamos
já quase prontos para voltar, fomos avisados que tinha falecido, se vinhamos
para seu enterro.
Chegamos direto
para o cemitério, achei estranho o fato de não estar sendo enterrado como os
judeus. Um senhor se apresentou, dizendo
que eram suas últimas vontades, que tinha algumas coisas que precisava falar
comigo. Além de ler seu testamento.
Deixou dinheiro
para mim, para o Mikael, mas o mais interessante, uma carta como outra
dentro. Leia essa carta que seu avô me
deixou, quiça me entendas um pouco.
Quando fiquei
sozinho, abri a carta, fiquei emocionado em ver a letra do meu avô, pedia
desculpas por sair assim do mundo. Mas
tinha feito um pacto com sua mulher a muitos anos, ele a tinha ajudado a
morrer, agora tocava a ele.
Explicava que na
verdade ele não era seu filho, mas sim fruto de uma aventura dela, quando viu
que estava gravida já era tarde para um aborto. Mas te amei desde o momento que te tive nos
meus braços. Te criei como meu filho,
embora saiba que quando descobriste como éramos na verdade te sentiste enojado,
pois outras pessoas sabiam, comentavam.
Me olhavas com
nojo, até quando essa mulher trouxe o filho de vocês, tua avô exigiu um teste
de paternidade, pois teu comportamento era horrível. Quando soubeste que o filho realmente era
teu, levantaste o ombro dizendo, que me importa, foi somente uma noite, não
sinto nada por ela, além de que minha carreira depende de estar livre.
Por isso se um
dia teu filho te renegue, aguente, como eu aguentei quando, não me quisestes,
apesar de todo meu amor por ti. Amamos
teu filho como nosso. Espero que seja um grande homem, que um dia possa te
perdoar.
Ah, teu pai
verdadeiro, tampouco era judeu, foi um agente da CIA, que veio fazer um
treinamento aqui, nem sabe que existes.
Fiquei pensando
como isso podia ter influído na cabeça dele, mostrei a carta para o Mikael.
Soltou, por isso
sempre que te defendia, soltava, que não sentia nada por ti, que eres filho de
um erro, um engano, que já fazia muito pagando escola para ti.
Na última página,
tinha escrito, a vingança dele foi cruel, mas entendi quando me rejeitaste em
Paris, fizeste a mesma coisa que eu fiz com eles.
A culpa é toda
minha, pois nunca o agradeci pelo amor que me deu, mesmo que eu não fosse filho
dele.
Portanto, nunca
entendi por que te preocupavas em ser um Zarco, se meu pai sequer era judeu.
Aí estava a
vingança dele, como um tiro de misericórdia, como querendo dizer que eu tinha
procurado uma coisa que não me correspondia.
Mikael, ficou
furioso, se pudesse o desenterraria, pois seguiu sendo filho da puta, até
depois de morto.
Não se preocupe,
lhe disse, meu pai sempre foi você, amava suficientemente meu avô, para poder
dizer que cumpri o sonho dele, de se encontrar com suas origens.
Não me arrependo
de nada, pois fiz por ele, não pelo meu pai.
Agora tinha uma
casa fora da cidade, aonde Abraham podia trabalhar a vontade, adotamos um
menino Etíope como ele, depois uma garota, Mikael, dizia que finalmente era
avô, ficou morando conosco, formávamos uma família diferente, mas que o mundo
fosse tomar no cu, nunca me importei com isso.
Para azar de meu
pai, escolhemos dar-lhes o sobrenome Zarco aos dois.
Mikael dizia que
devia estar se virando na tumba de raiva.
Mas não me
importava, amava minha família, bem como o homem com quem compartia minha vida.
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