LÉOPOLD
Sedou Abe Bara,
como sempre, mal chegou ao Senegal, criou confusão no aeroporto, como podia um
brasileiro com um turbante na cabeça, um colar de contas vermelhas, atravessado
no corpo, de um lado, um dente de javali, do ouro um objeto de metal.
Explicar que gato
não é sapato era mais fácil, foi necessário chamar o chefe da polícia do
aeroporto. Mal o olhou de cima a baixo,
Sedou começou a falar com ele em Yoruba, teus mequetrefes não querem me deixar
passar, sou fotografo, venho fazer trabalhar uma reportagem aqui no
Senegal. Deu o nome do guia turístico
que iria acompanhá-lo, deve me estar esperando fora. O chamaram imediatamente, entrou
resmungando, ela bem que disse que por aonde passas crias confusão.
O chefe conhecia
o guia, ainda lhe avisou, cuidado, esse homem falando Yoruba, pode causar
confusão em qualquer lugar.
No 4X4 que tinha
alugado especialmente para levá-lo por todos os lados, recomendação expressa da
ministra de educação. Ele parou ao lado,
vamos viajar nessa merda, nem pensar, quero um outro tipo de carro, um furgão, Quando
o deixou no hotel, reclamou também era um cinco estrelas, ele com sua bolsa de
pano, desceu do carro, o lugar era como uma área cercada vigiada por guardas de
segurança, tinham ali todos os tipos de hotéis. Ele se dirigiu a um da cadeia Ibis, que era
mais simples, foi até a recepção com o guia atrás. Pediu um quarto normal, outro para o rapaz
que é meu guia. Sinto estragar teu
desejo de um hotel cinco estrelas, mas não vai comigo.
Não senhor, eu
estou hospedado aqui, acha que iam pagar para mim um cinco estrelas.
Ele começou a
rir, sua risada era como um estrondo no céu, diziam que pareciam explosões de
Xangô e Iansã. Então fazemos o seguinte
para sacanear minha amiga, como paga o governo, tu ficas no cinco estrelas, eu
fico aqui. Foi até a varanda, a primeira
vez que vim ao Senegal, aqui era um hotel, me lembro da proprietária, eu tinha
18 anos, voltava de Paris, um jovem loiro, que bateu o pé no aeroporto que iria
ficar nessa escala. Me hospedei nesse
hotel, era pequeno, ali a areia chegava até um grande Baobá, que me parecia
estranho estar na beira do mar.
Foi ela que me
disse tudo o que sou hoje em dia, era uma Bara como eu. O outro o olhava sem entender nada. Como Bara, me disseram para tomar cuidado com
o senhor, pois se não é da sua maneira, logo cria confusão.
Sim, imagino que
a ministra disse isso, ela foi minha aluna em Paris, por isso me conhece bem,
quando resolvi vir fazer fotografias, tentou que eu fosse para outro pais. A mandei tomar no cu.
Vou aonde quero,
ninguém pode me impedir. Não ia dizer
que estava em missão, para o Bara, se o guia fosse dos Orixás poderia ver que
não estava ali sozinho.
A estas alturas,
tinham trazido para baixo a bolsa do guia, foi com ele ao hotel ao lado, um
cinco estrelas, se apresentou, deu seus documentos, disse, esse rapaz vai
ocupar meu quarto, pois eu vou dormir na praia.
Virou as costas
foi embora, quando chegou ao muro, tinha um portão ali, disse ao guarda em
Yoruba, abra a porta de Bara. O fez
rapidamente, sabia o que ele estava falando.
O guia veio correndo atrás dele.
Estava ali
parado, olhando a merda que tinham feito com aquela praia linda, paradisíaca
que tinha conhecido no passado.
Levantou os
braços para cima, gritando filhos da puta, assassinos do mundo.
O guia não
entendia nada.
Mostrou para ele
a merda toda que estava ali na praia, restos, de lixo, óleo dos navios. Por isso os hotéis estavam cercados, a
desculpa era proteger, mas na verdade era para terem controlados os turista que
não fossem por ali.
Como é teu nome
meu filho?
Me chamo Mansur Albarrã.
Estou perguntando
qual o teu outro nome, ou só tem esse muçulmano?
Só tenho
esse.
Eu sabia, ela ia
fazer tudo para complicar minha viagem.
Rindo para ele, não se preocupe, nós daremos bem, vamos tomar uma água
nesse hotel cinco estrelas, pois esse paga o governo assim falamos de amanhã.
Eu me levanto a
seis da manhã para me preparar, todos os dias será assim, quero depois ir a mesquita
ao lado do estádio. Mansur olhava para
ele, como dizendo assim não vão deixar entrar o senhor.
Tu agora de noite
falas com teu amigo Sami, que me empreste seu carro, enquanto isso, deixas esse
com ele.
Como o senhor
conhece Sami?
Isso não é
problema teu, diga que foi o Bara, ele vai entender.
Foi para o seu
hotel, tinha pedido para a garota que fosse tudo branco. Entrou embaixo do chuveiro, rezando, pai, eu
sei que quando me movo crio confusão, mas se for de outra maneira, as coisas não
andam. Era como se escutasse uma risada
ecoando por ali.
Estava com fome,
pois tinha saído rápido de Paris. Colocou
uma calça branca, por cima um Kaftan árabe, enrolou um pano na cabeça, sempre
estaria com um.
Desceu,
educadamente pediu se podia comer alguma coisa leve. Veio um homem da cozinha, se inclinou ante
ele, Bara, o que o senhor quer comer?
Uma coisa leve
meu filho, um chá de canela, com um sanduiche simples, ou mesmo uma torradas.
O que o senhor
come de manhã?
Todas as frutas
do Bara, consegues? Ah é muito café
forte.
Depois ficou
olhando as pessoas pela janela, ao longe ele via a lua sobre o mar, mais ao
fundo, estava a Ilê de Gorée, quando o homem trouxe a comida, ele estava
chorando, olhou a direção, entendeu.
Deixou as coisas ali, se retirou.
Tomou o chá,
comeu as frutas e sanduiche, deixou dinheiro na bandeja, foi dormir.
Retirou toda a
roupa, se jogou na cama. Amanhã seria
outro dia.
Se levantou, se
lavou bem, rezou, profundamente espero poder cumprir o que o senhor me pede,
descobrir esse seu filho, para o salvar.
Quando desceu viu
Mansur, discutindo com um dos guardas do portão que não queria deixar entrar um
furgão velho todo enferrujado. Ele sem
conversa, foi falou com o homem eu aluguei esse carro, abriu a porta abraçou
para espanto do próprio, Sami, meu sobrinho, lhe beijou as faces, rapidamente
abriram o portão, venham vamos tomar café.
Quando se sentou,
entraram no salão o chefe, com duas garotas, trazendo duas bandejas imensas, os
outros hospedes olhavam espantados. Tudo
muito bem arrumado, as frutas do Bara, como ele tinha pedido, o chefe se
inclinou a ele. Ele se levantou da mesa,
meu filho muito obrigado. Outra garota
trazia um termo de café, bem forte como o senhor pediu.
Fez com que o
chefe se sentasse com eles. Não vais
ficar aí em pé, venha tenho que falar contigo.
Fechou os olhos começou a falar em Yoruba com o homem, este olhava a
princípio espantado. Depois entendeu a mensagem. Enfiou a mão no bolso, tirou dinheiro enrolado
num pedaço de pano. Vá, honre tua
mãe. O homem saiu disparado.
O que o senhor
disse para ele perguntou Mansur?
Tens certeza de
que queres saber?
Sami explique,
esse menino tem cera nos ouvidos.
Lhe avisou que
sua mãe está para morrer em Banjul, disse para ele sair pitando daqui.
É verdade senhor
Sedou?
Sami é melhor que
venhas junto nessa viagem, esse menino tem cabeça dura, falo ele nunca entende
nada.
Bom agora vamos a
Mesquita, antes que fique cheia de gente.
A cara do Sami
era divertida, mas com qual carro?
Sempre com o teu
meu filho.
Ele ria, o senhor
com esse branco leitoso, me chamando de filho, um negro como a noite, é raro.
Sami, eu sou mais
negro que tu duas vezes, levei muito tempo para descobrir isso.
Foram a Mesquita,
ele tirou da mochila o mesmo Kaftan, colocou um barrete na cabeça, disse fiquem
aqui. Entrou, se preparou, viu que os fiéis
não faziam como ele, se preparar a consciência, chamou a atenção de um que
guardava a porta de entrada, vais deixar essa gente entrar sem se lavar
direito, me chame o chefe do lugar.
Logo apareceu um velho, que correu para ele o abraçando. Se beijaram, tens que colocar ordem aqui, essa
gente não se prepara como deve. Quer
ver.
Começou a falar
altíssimo, que todos o seguissem, assim se faz, começou tudo de novo rezando
alto, como ousam a entrar na casa de Alah sem estarem limpos para as orações,
seu amigo ria, continuas o mesmo, de longe fez sinal para os dois se
aproximarem, disse, este senhor é meu amigo, é o responsável da mesquita, se
preparem como devem, para não desrespeitarem a casa de Alah. Mansur a estas alturas não entendia porra nenhuma,
agora o guarda estava prestando atenção. Quando entraram, ele estava ajoelhado, junto
ao senhor, rezavam o corão. Depois o homem subiu para a pregação, hoje tenho a
honra de ter aqui, um velho amigo, senhor do Bara, que muito me ajudou quando
estava na Mesquita de Paris, uma mesquita ,não a principal, mas a dedicada aos
homens de cor como nos. Esse homem é de
todas as religiões, entende profundamente de cada uma, sua missão na vida é
salvar almas.
Começou a reza,
que Sedou acompanhou com lagrimas nos olhos.
Mansur pensou,
como esse homem chora. Na saída ele
disse ao ouvido do Mansur, o homem que chora, purga sua alma, choro por todos
os filhos perdidos do Bara.
Agora vamos ao
mercado, se alguém tentar me enganar Sami, me defenda, porque esse banana do
Mansur, vai ficar com vergonha.
Mas não estava
prevista nenhuma visita ao Mercado, senhor Sedou?
Estou cagando
para isso, é o que eu vou fazer. Sami prepare esse carro para ser carregado.
Ele começou a
fazer compras, coisas de comida para crianças, livros, cadernos, quantidades de
caneta Bic, muitas caixas, a cara do Mansur era ótima, vamos levar tudo
isso.
Sim porque, você
acha que vou a casa dos outros de mão abanando.
Ora, basta dar
dinheiro.
Para que os
maridos tirem das mulheres, para ficarem sentados no bares, tomando esse maldito
chá, nada disso.
Quando terminaram
voltaram ao hotel, ele disse essa noite dormirei na Ilê de Gorée, vens comigo
Sami, trancaram o furgão, entraram no 4X4, foram para o porto.
Quando chegaram
na Ilê, ele disse aos dois, está vendo aquele hotel ali, vá peça quartos para
nós, bem como preparem uma refeição, saiu andando, parecia que falava sozinho,
mas Sami sabia que falava com o Bara. Duas
horas depois, ele voltou, comeu com eles, um bom peixe, disse, agora vou subir
a parte mais alta para rezar, sempre rezo melhor de estomago cheio.
Foram atrás dele,
com medo de alguém o atacar.
Quando chegaram
lá em cima, havia gente esperando por ele.
Se sentou virado para o mar, começou a cantar uma canção triste em
Yoruba.
Logo todos
cantavam, Mansur perguntou o que ele está fazendo, cantando pelos escravos que
saíram daqui para o mundo, nunca mais voltaram, alguns morreram no mar, outros
pelas mãos dos seus patrões, mas ensinaram o povo a acreditar nos Orixás.
Eu nunca soube
que acreditavas nisso?
Minha avó foi mãe
de santo, fui criada por ela, por isso sei Yoruba, mas também respeito Alah.
Todo mundo foi
embora, menos o Sedou, ficou mais umas horas, lhes disse, vão dormir, pois amanhã
começamos nossa viagem. Quando estavam
chegando embaixo, olharam para cima, ele estava com os braços abertos, em
direção ao mar.
Mas no dia
seguinte de manhã, estava como um pincel, pronto para irem embora, quando
desceram, reclamando do quarto pois as camas era velhas, ele riu, por isso
dormi lá em cima.
Voltaram no
primeiro barco. Foram para o hotel, ele
pediu para guardarem o 4X4 na garagem, foram embora no furgão do Sami, esse
avisou sua mulher que tinha um trabalho por alguns dias, depois te conto.
Virou-se para o
Mansur, jamais perderia essa viagem.
Iriam dormir num dessas modernos pousadas que tanto gostavam aos
turistas.
Ele chegou
examinou o lugar, disse a dona o que queria comer, se ela tinha uma rede, para
ele dormir ali perto do rio.
Os mosquitos vão
comer o senhor.
Duvido, sabem
quem eu sou. Realmente os outros
hospedes reclamavam dos mosquitos, na mesa deles, não tinha nenhum.
Comeram o peixe
que ele tinha pedido, o marido dela arrumou a rede para ele, o viram rezando,
depois foram dormir. Logo de manhã, o
viram fazendo fotografia do nascer do sol, dos animais que estavam ali, dois
cachorros o seguiam por todos os lados, bem como um burro que estava ali.
O dono se matava
de rir, esses cachorros odeiam os turistas, dormiram embaixo da rede, como se
tomassem conta dele. Esse burrico que
temos para levar as crianças para passear, que está sempre de mal humor, vai
atrás dele como um cachorro. Ele pediu
algumas frutas que não temos, ele estava já perto, não se preocupe, me apanho
com o que tiver, mas quero café muito forte, senão meu dia não começa.
Mas se o senhor
leva de pé uma duas horas. Tinha tomado
banho num chuveiro no pátio, o homem ria, ficou nu, levou duas horas tomando
banho.
Comeram, pagaram,
partiram. Mansur já não fazia perguntas,
volta e meia ele pedia para parar, em algum Baobá que antigo, se ele via
garotos por perto, se colocava a conversar com eles sobre o futuro. Depois balançava a cabeça, nenhum desses
dizia.
Nessa noite,
dormiram em uma vila, o seguiram, quando desceu do furgão, foi direto a uma
choça, depois o viram conversando com um velho, um antigo feiticeiro que curava
os males das pessoas dali que não tinha dinheiro para ir a um médico. Avisou aos dois, vão dormir, pois comerei com
meu amigo, ou melhor, lhes deu dinheiro, peçam um belo peixe assado com legumes
para os dois, vamos comer aqui. Depois
os mandou dormir.
De manhã quando o
procuraram, estava cercado de mulheres, crianças, tinha aberto o furgão, ia
olhando cada criança, lhes dava alguma coisa, se fosse maior, perguntava se ia
a escola, lhe dava um caderno, canetas, se o sem vergonha voltava a fila,
conversava com ele, que isso de ser malandro era feio.
Olhou cada
criança doente, rezando, algumas não paravam de chorar, ele colocava a mão
sobre a barriga, rezava, depois separava, arroz, mijo, outras coisas, entregava
a mulher.
Isso não resolve,
mas apenas tapa um buraco, para elas. Esses
maridos, nunca trabalham, fazem filhos vão para Dakar, só voltam para a
colheita do que preparam elas, levam metade do dinheiro, elas ficam aqui
trabalhando.
Pararam no meio
da tarde em Joal-Feadiou, aqui é aonde nasceu Léopold Sédar Senghor, o maior
poeta do Senegal, foi presidente do pais também.
Comeram à beira
da enseada, depois ele atravessou a ponte, andando descalço em cima das
conchas, subiu até o cemitério, mas não entrou, em seguida foi a Mesquita que
era uma antiga igreja, se lavou entrou para rezar, dali, foi a uma igreja
católica, fez o mesmo.
Voltou com eles,
foram a pousada ele pediu a mesma coisa, Mansur não entendia, ele explicou, meu
filho, vivo em Paris, cercado de edifícios, poucas vezes posso dormir vendo as
estrelas, em comunhão com os elementos.
Sami entendeu,
pediu outra rede para ele, Mansur, foi dormir no quarto, esses dois estão como
loucos.
Quando se
levantou viu Sami rezando com ele. Já tinham tomado banho a beira do pequeno lago
que tinha ali.
Tomaram café,
colocaram o pé na estrada. Sami
conduzia, foi dizer que estavam indo em direção errada, quando ele parou ao
lado de um imenso Baobá, que estavam cheios de turistas que entravam
dentro. Sedou se aproximou, colocou a
mão no mesmo, começando a rezar, os vendedores de bugigangas se aproximaram,
mas Sami os afugentou.
De repente os
turistas que tinha entrado no oco do Baobá, saíram disparados, pois de dentro
saíram uma quantidade impressionante de morcego, cagando na cabeça de todo
mundo.
Sedou ria com sua
risada escandalosa. As pessoas o
olhavam com aquele olhar de matar meia dúzia, mas não era com ele. Que falta de respeito tem a humanidade, com
os símbolos do Orixás, este é um Iroco milenar, aqui antes habitavam muitos espíritos,
essa gente os afugentou.
Agora é moradia
de morcegos, que são como eles, chupa sangue.
Foram parar numa
aldeia mais adiante, logo um bando de crianças, mulheres se aproximaram, todas
traziam suas crianças, para que ele olha-se, o velho tam, tam funciona ainda, o
velho os avisou que eu vinha.
Mas isso estava
fora do nosso roteiro.
Do seu talvez,
mas não do meu. Logo se aproximou uma
velha, sem idade definida, sonhei com o senhor hoje. Ele
pegava cada criança no colo, fechava os olhos, as examinava bem, depois dizia
ao Sami, o que devia dar a mulher, só então Mansur percebeu que também levavam
remédios. Ele pediu a uma das mulheres
que procurasse umas ervas para ele, as colocou num pequeno pilão, disse aos
dois que dessem a professora que olhava de longe, sem se aproximar, levem para
ela cadernos, lápis, canetas bic. Veja o que necessita.
Passou a os
ignorar totalmente, falavam com ele, mas parecia não escutar, enquanto rezava,
preparou uma pasta negra, a senhora sem ele dizer nada tirou a parte de cima de
sua roupa, era mais enrugada que uma uva passas. Começou a esfregar bem essa pasta na sua
coluna, enquanto explicava a garota que a acompanhava como devia fazer, quando
acabou a mulher já estava melhor, mais ereta. Quis beijar suas mãos, mas ele
recusou. Fingiu que estava ofendido.
Se inclinou ele,
beijando as suas, por cuidar tanto tempo de sua gente.
Os homens olhavam
de longe, se eles estivessem posse dos cadernos e livros, venderiam tudo.
Nessa noite
dormiram ali embaixo de uma árvore a entrada da pequena vila, as crianças
vieram olhar a comida que ele preparava, Mansur ia dizer que era um absurdo de
comida, mas quando viu que as crianças vinham comer, ficou quieto. Serviu aos dois, o sabor que tinha a mesma
era impressionante.
Assim se comia
antes, hoje tudo isso se perdeu, foi tudo que disse.
Um homem se
aproximou para pedir dinheiro. Olhou
bem para o mesmo, que fedia a bebida fermentada, lhe passou um sermão dos bons.
Nenhum outro
ousou se aproximar.
A professora, no
dia seguinte veio lhe agradecer os cadernos, eu só tenho o quadro negro, as
crianças nunca têm aonde escrever, ensino as letras, eles escrevem na terra. Mandou lhe dar mais cadernos. Na próxima vila nos abastecemos.
Chegaram de noite
a uma aldeia Peul, não tinha ideia aonde estavam, não viam ninguém na estrada,
apesar de verem as choças, a escola, um ambulatório, isso mais parece algo
civilizado, foram até ao final da estrada aonde apareciam umas dunas, o Mansur,
falou deserto, mas a ele pareciam dunas nada mais. A lua refletia sobre a mesma, viu muitas
tendas, imitando as dos Tuaregs, os homens que os atenderam estavam vestidos
como tal. O levaram para uma especial
para ele, tinha pelo menos 4 camas, ao fundo da tenda, ao ar livre, um chuveiro,
bem como uma pia, um trono, cercado por uma paliza de ramas. Se vestiu com seu Kaftan, enrolou outro pano
menos sujo na cabeça, saiu, a lua cheia insidia toda em cima das dunas. O chamaram para comer em uma imitação de
tenda aberta que era o restaurante.
Pediu franco a brasa, tomates, nada mais. No meio viu que montavam uma fogueira na
areia, mas acabou de comer, voltou a sua, se lavou a cara, escovou os dentes,
pegou duas mantas que estavam em cima da cama, sabia que na areia faria
frio. Foi para lá, ficou rezando, até
que apareceu o Sami, com um outro vestido de Tuareg. Tira esse disfarce que não convences,
soltou.
Me deixem rezar.
Queres que venha
dormir aqui, lhe perguntou o Sami.
Fique junto com
os outros, me deixe tranquilo.
Estendeu uma das
mantas, rezou, se deitou se cobriu com a outra, começou a sonhar, quem era o
garoto que procurava, estava ali.
Despertou as seis
da manhã, com uns quantos camelos, deitados ao seu lado.
Riu, este como
que o saudaram. Logo apareceu o mesmo
rapaz, da noite anterior, perdão, se soltaram, não tenho ideia como, mas
normalmente depois fica difícil de pega-los, cada um vai para um lado, que
estejam todos aqui é estranho.
Se quiser dar um
passeio depois.
Agradeceu, disse
que queria ir até a aldeia, lá tenho aonde comer?
Sim, saltou sobre
um camelo, sem cela nem nada, ele fez igual, desceram a montanha, foram em
direção a aldeia, acenou de longe para Mansur e Sami, sabia que em seguida
viriam atrás dele.
O levou a casa de
sua mãe, explicou que ela era a primeira mulher do chefe da aldeia, ele tem
mais duas, da minha mãe, tem o meu irmão mais velho, que desapareceu, eu que
tomo conta das cabanas, tudo é dela. Uma
outra que meu pai, trouxe de Dakar, que é de outra etnia, tem um garoto, da
última tem duas meninas.
Só disse, que
homem prodigo. A que era, vamos dizer
assim a chefa da aldeia, soltou, muito simpática, meu filho fala demais.
Nisso entraram
uma com duas crianças, em seguida outra com uma roupa totalmente diferente pois
não tinha estampas, bem como seu turbante.
Um garoto se escondia atrás dela, devia ter uns 12 anos. Só disse, você veio finalmente.
A mais velha fez
um sinal, todas se sentaram o menino veio se sentar ao seu lado. Começou a falar em Yoruba com ele, tens que
me tirar daqui, vão me matar.
A mais jovem
disse, lá esta ele falando esse língua que ninguém entende, por isso vive
falando sozinho, os outros garotos não querem falar com ele, ou jogar bola.
A cara do garoto
era triste, estava quieto lhe observando.
Ele se virou a
sua mãe, perguntou no seu dialeto, com quem falava o garoto, ela não sabia,
tinha medo de que por causa disso os mulçumanos o caçassem. Pensam que é um bruxo.
Vocês não tem
aqui, nenhum curandeiro. A mais velha
respondeu rapidamente, não, meu marido o expulsou, somos todos mulçumanos,
sinalizou a mãe, dizendo que ela era católica, meu marido a trouxe de Dakar,
para ser sua segunda esposa, queria status, pois diz que era de uma família
importante.
Embora parecesse
mais velha que a outra, tinha a pele esticada sobre os ossos, como se tivesse
feito uma cirurgia estética.
Na verdade, era a
mais velha de todas, contou que tinha aprendido a ler e escrever em francês,
com as monjas no orfanato aonde tinha sido criada.
Gostas de poesia
verdade?
Como sabes disso?
Pelo nome dele, o
chamas assim em homenagem a Léopold Sédar Senghor.
Ela deu um
sorriso grande, é verdade, sei todas as poesias dele inteiras, dou aula na
escola daqui para as meninas que estão mais avançadas. Os meninos aprendem a ler escrever, deixam a
escola, não lhes interessa.
Nós as mulheres
somos mais inteligentes. Sinalizou o
filho, ele ao contrário, adora ler, escreve muito bem.
Quase soltou, por
isso venho buscá-lo, mas ficou quieto.
Virou-se para a
manda mais, lhe perguntou pelo seu filho mais velho?
Ah esse é um bala
perdida, saiu daqui dizendo que iria para Europa, mas sabemos que vive na
Mauritânia, com uma tribo Tuareg, que são extremistas mulçumanos.
Virou-se para
ela, justo quando entravam Mansur e Sami, levamos todo esse tempo para encontrá-lo.
Pois eu já
encontrei o que vim fazer. Disse aos
dois, retirem tudo da furgoneta, deixem tudo na escola, as medicinas no
ambulatório, fez uma sinal para a chefe que queria falar com ela, e a outra
sobre o garoto.
Eles saíram com a
mais nova que recolheu a chaves da senhora do manda mais.
Foi direto ao
assunto, seu filho, não está louco nem nada, ele é um Bara como eu, me mandaram
vir buscá-lo, pois seu filho mais velho vem para cá. Se chega aqui antes de irmos embora, vão
matá-lo. Viu que ela estremecia.
Sei que a senhora
o protege, bem como a segunda esposa.
Mas eles tem que ir embora.
Meu marido não
vai permitir, é cabeça dura. Nisso entrava na cabana um homem alto, como o
rapaz que o tinha trazido, saio por um dia, isso vira uma bagunça disse.
Quem é esse
homem, o que faz aqui com as duas.
Ele fez sinal
para que sentasse. Disse quem era, vim
ao Senegal buscar seu filho homem mais jovem.
Seu filho mais velho vem nessa direção, o vai matar. Tenho que levar a ele, bem como sua mãe, para
fora daqui.
De jeito nenhum,
fez milhões de objeções, ele se inclinou ao outro, lhe disse baixinho, não quer
que eu conte para tua mulher aonde estiveste de noite, com essa garota que tem
mais dois filhos teu. Tens um piru
magico, aonde encosta sai um filho. Mas
se não me deixa fazer isso, entre seus filhos vai haver muitas mortes.
Ficou olhando
fixo para ele, não perdes nada, vai embora uma, trazes a outra.
Que ganho em
troca? Estou tentando falar a
anos com a ministra de educação e turismo, queremos ajuda para fazer daqui uma
aldeia Peul exemplar, ter um festival de música para atrair turistas, por isso
temos essa aldeia Tuareg no meio do deserto.
Ele serio soltou,
isso são dunas, não é o deserto, porque depois delas está tudo verde. Ele se levantou, o garoto se agarrou a ele,
com medo de ser abandonado.
Pegou sua mão, o
levou com ele. Fora chamou o Mansur.
Tens o número de celular direto da ministra. Ele ia dizer que não.
Não me faça te
mandar tomar no cu, já aumentando a voz, a chame imediatamente.
Ele sem graça fez
o que tinha pedido. Ela atendeu, ele
falou diretamente em Yoruba com ela, largue esse reunião agora, vá para sua sala,
tenho que falar contigo, te chamo em dez minutos.
Eu vou fazer com
que a ministra venha até aqui, o senhor vai assinar um papel, me dando esse
menino em adoção, porque senão a coisa vai ficar feia, olhe quem está ao meu
lado, colocou o dedo na testa do homem, ele viu o Bara que o acompanhava, bem
como o do seu filho.
Este disse, me
enterraste, mas estou aqui.
Chamou o celular
dela outra vez.
O senhor não para
de causar problemas.
Vou te deixar
livre , mas vou te ajudar também, se fazes o que eu te digo, ganharas um ponto
com o primeiro ministro, mas tens que mexer essa bunda gorda agora. Pegue um helicóptero, venha aonde seu
empregado Mansur, diga aonde estamos.
Viu que ela
gritava com ele, era como se ele tivesse metido o rabo entre as pernas como um
cachorro sarnento.
Não deixe que ela
fale assim contigo, depois te conto segredos dela.
Diz que estará
aqui dentro de uma hora.
Ótimo, Sami, arrume
mais uns homens vá com esse homem aonde enterrou uma figura em madeira. Devem
trazê-la aqui. Disse a mãe do garoto,
arrume suas coisas, vocês irão com a ministra embora daqui.
A outra olhava,
não se preocupe, ele vai trazer outra terceira esposa, com dois filhos
mais. Ela soltou esse homem não pode
ficar com o piru metido nas calças, fora outras com que tem filho por aí.
Chame as pessoas
que tem problemas, ou estão doente, meu Bara vai atendê-las.
Elas tem medo,
pois os homens são todos mulçumanos.
Que finjam que estão me vendendo alguma coisa.
Logo ele separava
coisas, ao mesmo tempo que olhava as crianças, rezava, abaixava febres, pedia
para a chefa limpar alguma ferida, em seguida cicatrizava a mesma. Virou-se para ela, dizendo o nome de uma
erva, faça sempre um chá para ti, quando estiveres furiosa com esse homem, tudo
vai mudar, assume o mando de tudo, pois ele perde tempo fazendo política.
Uma hora depois o
helicóptero, aterrissou perto das tendas, ele agarrou o garoto, subiu com ele
um camelo, sem nada. Os outros foram nos
carros.
Ela estava
furiosa.
A levou a parte,
se me ajudas, eu vou te ajudar também, vais poder ganhar ponto. Contou eu vi aqui só por causa desse garoto,
seu Bara, pediu ajuda ao meu que conheces.
O irmão dele mais velho, saiu daqui dizendo que ia cruzar Mauritânia
para ir para Europa, mas o que fez foi se juntar com um grupo radical, nesse
momento eles vem para cá, te dou a localização se faz o que eu quero. Ajude a mulher do chefe a melhorar a aldeia,
trazer para cá um festival de música, sei que andas procurando um lugar interessante,
aonde a gente possa curtir um Senegal diferente, isso seria aqui, olhe em sua
volta. Os turistas vão pensar que isso
é um deserto, quando não passam de dunas.
Ajude ao chefe,
mas não se esqueça que é a mulher que manda aqui. Faça dela tua aliada, fale com ela, ele tem
que assinar um documento me dando em adoção o filho. A mãe dele, a leve contigo, ela pertence a
uma irmandade religiosa, esse sem vergonha a raptou dali, aqui não é feliz,
reúna as mulheres contigo, assim vences.
Alguma vez, desde
que me conheceste em Paris, te dei alguma ideia de que não te fizeste bem, até
disse para voltares, para entrar na política, se te cercas de mulheres, poderás
ser até primeira ministra.
A deixou tomar
rédea da situação, perguntou a segunda esposa se queria ir com ela, essa abriu
um sorriso, dizendo que sim. Olhou para
o garoto, perguntou se queria ir comigo.
Este sorriu, ele
veio me salvar, sonho com ele a meses, o Bara, é gente do bem, me dará uma vida
melhor.
Lhe disse que
precisava também dos documentos da escola, para poder coloca-lo em uma em
Paris.
Ela, riu, você
sempre pensa em tudo, verdade.
Falou com o
homem, avisou que entrariam por ali, rebeldes, mas vou falar ministro do exército
ele mandara tropas para defende-los, retire as crianças da aldeia, as proteja,
pois esses renegados raptam as crianças,
vou mandar um comboio para isso, logo tratamos do festival de música
nesse acampamento, mas deixarei como minha representante, tua mulher, ela terá
meu número particular para falar comigo.
Ele estava de
boca aberta, eu tinha resolvido sem querer coisas que ele levava anos tentando
fazer.
Soltou rápido,
preciso de dois professores na escola, já que a minha segunda mulher se vai.
Apontou a
primeira mulher, ela vai sempre me dizer o que precisa aqui, mas não exagere.
Subiu no
helicóptero com a mulher, ele fez sinal para o garoto, nos vemos amanhã a
noite, ainda falou com a ministra, necessito que ele tenha passaporte.
Riu para ela,
vais ganhar pontos com isso.
Sabia que era
ambiciosa, por isso abusava, ainda soltou na frente do Mansur, tens um
excelente empregado zelando pelas tuas coisa, mas creio que é melhor
trabalhando no ministério.
Este depois
agradecia.
Se despediu do
pessoal, disse aos dois, colocaste a escultura no carro.
Sim disse Sami,
esse cagão não queria. Agora toca para Saint
Louis, aonde tenho que fazer uma última coisa.
As mulheres
tinham colocado comida no carro, comeram no meio do caminho, em Saint Louis,
ele foi direto a igreja católica, o padre saiu correndo para abraçá-lo, meu
irmão, meu irmão que vento os traz por aqui.
Se sentou ali nas
escadas, quero que me ajudes com esses garotos que estão na rua, pedindo
dinheiro para os sem vergonhas dos que lhes ensinam o corão, mas não quero a
igreja católica no meio. Monte uma
reunião, com os mais importante da cidade, amanhã de manhã antes de ir embora,
falo com eles.
Mansur, estava
que não se podia. Não consigo entender
nada, vens buscar um menino que tem um Bara, segundo o senhor ele morreria se
ficasse aqui. Antes de sair de Dakar, se
viu com o da mesquita, agora com o católico, afinal em que liga joga o senhor.
Esse é meu
trabalho, ajudar, sem olhar a quem.
Sempre fiz isso em Paris, ajudo os católicos, os mulçumanos, vou a suas
igrejas com respeito, bem como eles me consultam por várias coisas, é um toma
lá dá cá, sem interferir nas soluções.
Foram para um
hotel antigo, mas limpo, tomou um banho, caiu na cama, dormiu o sono dos
justos, não queria comer.
No dia seguinte,
perante a comerciantes, mulçumanos, católicos, falou como podia ajudá-los,
conseguirei dinheiro para vocês mandarem esses garotos de volta para casa. Aqui os estão explorando. Um homem se levantou, dizendo que era
professor desses garotos. O olhou de cima a baixo, veja como estás gordo, e os
meninos morrendo de desnutrição, acho mais que não passas de um bom filho da
puta. Aliás te aconselho, a sair daqui,
bem como da cidade, avisa aos outros que como você, que eu sou o Bara, quando
falou Bara, a voz ecoava pela igreja, posso destruir o engano de vocês, estão
tirando dinheiro, foi apontando as pessoas, mas não fazem nada.
Esses homens se
levantaram furiosos. Eu os colocaria
para fora, agora por favor, me tragam esses garotos para serem examinados.
O fez um a um,
tinha dado dinheiro para o Sami, pois Mansur era lento nessas coisas, na frente
do hotel, tem uma padaria, junto tem uma mulher fazendo sanduiches, diga que
venha até aqui com seu carrinho, com muitos pães, você vai pagando tudo que ela
der para os garotos.
Deu dinheiro para
ele, soltou para o Mansur, mexa essa bunda vá ajudá-lo. No final do dia, saíram rumo a Dakar,
chegaram tarde da noite, ele ficou no Ibis outra vez. Uma garota falou com que o chefe agradecia
muito, amanhã estará aqui, mas pode se despedir de sua mãe.
Tomou um belo
banho, chamou o encarregado, se podia lavar suas roupas, não tinha nada limpo,
tudo cheirava mal.
Quando despertou
de manhã, bateram na porta com sua roupa limpa, passada. Se vestiu o Kaftan branco, bem como o pano
que antes estava amarelo de sujo, desceu para tomar café.
O chefe veio
falar com ele, agradecia muito o aviso.
Soltou uma coisa
que ele não esperava, hoje vou te trazer um garoto, que está pelas ruas, o vais
educar, ensinar a trabalhar, será como o filho que perdeste. Ame o garoto como se fosse teu.
Ficaram de boca
aberta, quando o garoto que ele tinha ido buscar, correu para ele, do elevador,
se pendurou no seu pescoço, falando com ele em Yoruba. Virou-se para o outro, vê, eu levo o meu.
Sami apareceu com
uma cara como sempre sorridente, se não tivesse família iria com o senhor, para
trabalhar para si.
Disse aonde
queria ir, cadê o Mansur. Está com a
mãe do garoto, preparando os papeis dele, agora vai trabalhar no ministério.
Pegou a mão do
Léopold, disse vamos que temos muito que fazer.
Disse a direção
exata aonde queria ir. Pararam o carro,
ele apontou ao Léopold, vê aquele garoto assustado, ontem o pegaram, vá até ele
faça com que venha falar comigo.
Viu que, Léopold
tinha que insistir muito. O garoto
contou toda sua história, seu pai o tinha dado para o clérigo, para que
ensinasse o Coran, pois era o mais frágil de seus filhos, quando deixou de
mandar dinheiro, o mesmo o colocou na rua.
Estava uma semana comendo comida do lixo.
Voltaram para o
hotel, ele disse ao Sami, vê aonde é a entrada de serviço, chama o chefe.
Quando esse apareceu,
apresentou o garoto, disse, esse agora substitui o filho que perdeste, não
cometa os mesmo erros. O trate bem. Lhe
entregou umas roupas e sapatos que tinha comprado para o garoto, que tome um
bom banho, raspe sua cabeça que deve estar cheia de piolhos, depois o mande
falar comigo no restaurante.
Falou com a
ministra que disse que o ministro do exército, tinha sobrevoado a zona que ele
tinha falado, mandou mais gente para a aldeia, afinal de contas ali é
fronteira.
Fico super
agradecido pela informação. Já tenho os
documentos do garoto, sua mãe já se despediu dele, me contou sua história, na
verdade nunca se sentiu mãe dele, abriu mão de tudo, o que quer é voltar para a
vida em clausura.
O voo sai hoje de
madrugada, chegarás cedo em Paris.
Um último pedido,
o Sami, é um excelente resolve tudo, bem como guia, conhece bem o Pais, eu se
fosse tu, o contratava para trabalhar para ti.
Mande que passe
aqui amanhã, estou louca para te ver pelas costas, riu muito do comentário.
Ele ficou a tarde
inteira falando com o dois garotos, agora teriam vidas diferentes,
Olhou os
documentos do Léopold, riu, tinham errado, colocado como apelido o seu, Léopold
Abe Bara. Lhe mostrou, agora eres meu
filho de verdade.
Ficou depois conversando
com o Sami, dizendo algumas coisas que o ajudariam a lidar com a Ministra.
Por que fazes
isso por mim Bara?
Porque foste quem
me ajudou a resolver tudo, não o tonto do Mansur.
Quando chegaram
no aeroporto, outra confusão, aquele garoto negro não podia ser seu filho,
tampouco podia levar aquela escultura.
Ele tranquilamente chamou pelo celular, a ministra, a passou para o
chefe dos policiais, até para ir embora, causas problemas.
Depois o voo foi
tranquilo com Léopold segurando sua mão.
Aterrissaram em Paris, por volta das 10 da manhã, tinha contado ao
Léopold como tinha ido à primeira vez ao Senegal, eu era um jovem tonto, nem
sabia o que se cruzava no mundo. Com
isso quero dizer, tinha a informação, mas não sabia usa-la, sabia que existiam
os Orixás, mas pensava que como era jovem, bonito, querido pelas pessoas, que
isso por si só valia, me lasquei.
Mas foram os
Orixás que guiaram meu caminho, eu nunca entendi por que me mandaram para
Paris, até que tudo começou a se encaixar, foi quando pude ver também o meu
Bara, ele me indicou o caminho.
Estava parando na
frente de uma casa grande, na rue du Progrés, saíram pela porta, um monge, um
cura, um mulçumano, bem com um com roupa diferente. Todos riram da sua cara, venha conosco, foram
ajudando a ele, bem como Sedou.
Meu filho, riu
dizendo agora tem sentido quando digo isso, pois ele oficialmente é meu filho,
mostrou aos outros seu passaporte. Passou
de mão em mão, o monge, um homem baixinho com barbas brancas, tiveste sorte,
será um pai maravilhoso, ele aqui faz o papel de pai de toda gente.
Lhe explicou que
eram uma comunidade, de todas as religiões, das pessoas que moravam na zona,
estamos aqui para ajudar, tentar resolver seus problemas, as vezes damos
abrigos aos que necessitam. No fundo
da casa, tinha outra casa menor, o Bara vive aqui, entraram, tinha um sala com
uma cozinha pequena, banheiro, no andar de cima dois quartos. Um agora é teu Léopold. Vou tomar um banho, assim depois os amigos me
colocam em dia. Sedou tinha deixado em
cima de sua cama, a escultura de seu Bara, escolheu um lugar, sempre o teria
perto para não deixar esquecer quem era. Foram todos comer num restaurante
argelino que tinha ali perto, ele ia apresentando a todos Léopold como seu
filho. Todos apertavam suas mãos.
Depois saiu
andando com ele pelo bairro, as pessoas paravam para falar com Sedou, fossem
brancos, negros, árabes, ou senhoras que eram católicas. Todos falavam com ele. O monge disse é duro sair na rua com nosso
amigo, todos lhe querem, pois está sempre aberto ajuda-los.
Venha, o levou a
um parque ali perto, que estava cheio de garotos da sua idade. Esse vieram para
perto chamados pelo monge, o apresentou a eles, Léopold chegou hoje do Senegal,
vai a mesma escola que vocês, todos estenderam a mão para ele. Perguntaram se sabia andar de skate, pois
cada um tinha um na mão, o deixaram ali com os garotos, sentaram-se num banco,
com Sedou contando toda a viagem.
Pensei que ia ser
mais difícil, mas consegui cumprir minha missão. Falaram dos problemas que tinham acontecido
durante sua ausência bem como o tinham resolvido.
Léopold riam
quando um dos garotos lhe emprestou o skate, conseguindo andar alguns metros.
De noite estava
cansado, amanhã vamos levantar cedo pois tens que ir a escola fazer um teste para
saber aonde te encaixam.
Tinha sido tanta
novidade, que desmaiou.
Escutou ruído na
casa, olhou o relógio de cabeceira, eram as seis da manhã, se levantou, não era
um desses que ficam na cama, lá na choça, acordavas, saias para fora.
Desceu a escada,
viu que Sedou estava rezando, foi para o banheiro, já sabia como era, tomou um
banho, adorava isso, lá era difícil, tinha que se banhar numa bacia, nas águas
usadas pela sua mãe. Se lembrou dela,
estava falando com ele sempre sobre o convento que tinha vivido, dizia que
sentia falta da tranquilidade, da paz de lá.
Ansiava para voltar.
Agora entendia
essa mistura de religiões tinha sonhado com seu Bara isso, o trabalho que o
Sedou faz, é juntar todo mundo para ajudar a quem precisa.
Viu depois que
num canto ele tinha uma pequena mesa redonda, com guias, as coisas do Ifá,
olhou sem querer, seu olhar, fez com que as pedras, as conchas se movessem, lhe
diziam vai dar tudo certo.
Sedou estava
olhando, fizeste isso com o olhar.
Fantástico.
Na mesa, já
tinham fruta, café, leite, ele tomou café com leite, a primeira vez tinha sido
no hotel, nunca tinha provado. Comeu
pão com manteiga, sem querer, fez um som de HUM, era uma delícia. Riu, acho que
é gostoso.
Sedou lhe
estendeu um casaco, hoje faz frio, ele estava todo de branco, com seu turbante,
sua guia atravessada, jogou um casaco que já tinha visto dias melhores por
cima. Riu dizendo eu nunca compro
roupa, as pessoas trazem alguma coisa, eu aproveito se encontro algo do meu
tamanho.
Fazia frio, mas
ele estava de sandálias.
Vamos a escola, o
monge ia junto, perguntou seu nome, o senhor me desculpe, mas ontem na confusão
não perguntei.
Meu nome é
Macário pois sou monge Copta, que venera São Macário, aqui não tem muitos egípcios
coptas, mas ajudo o Bara. As dificuldades
que tiver na escola eu te ajudo, fui um bom estudante. Dou aulas na Escola de história.
Se apresentaram a
diretora, ela riu para o Bara, o que necessitas desta vez meu pai, era uma
negra grande, pelo jeito de falar era do Senegal.
Quando soube que
ele era de lá, lhe deu um beijo na cabeça, seja bem-vindo, sabes escrever, ele
balançou a cabeça, o levou para uma sala ao lado. Vou passar uma série de testes para saber
aonde te encaixo. Disse ao Macário,
qualquer coisa te chamo.
Meu filho Léopold
fique tranquilo, responda todas as perguntas ok. Depois Macário te leva para casa.
Ela colocou duas
folhas na frente dele, aquilo era muito fácil, sempre tinha estudado com sua
mãe, que tinha uma certa formação.
Quando acabou entregou, ela perguntou, se ele queria ir ao banheiro ou
tomar água. Depois lhe passou outras
folhas de papel, respondeu tudo, mais outra, ficou impressionada com a inteligência
dele. O encaixou numa turma mais
adiantada que sua idade.
O levou com ela
atravessando todo o colégio, é a turma mais complicada que temos, muitos tem
famílias mais complicadas que eles mesmo, uma mistura de raças, religiões,
algum ou alguma irmã nas drogas, nunca aceite nada que te ofereçam, são
barulhentos, mas sejas tu mesmo, qualquer coisa sabes aonde estou.
Quando entraram
na sala, quem estava na mesa dos professores, era um negro imenso, talvez por
isso o silencio. Professor Joseph, este
é Léopold, um novo aluno, veio do Senegal, ontem, é filho do Bara. Se escutou um murmúrio, ele viu o garoto que
tinha emprestado o skate para ele no final da classe, foi se sentar perto
dele. A partir desse dia, seria seu
melhor amigo.
Me chamo, Mahmud,
sussurrou, já consegui um skate para ti, falta uma roda, mas já conseguimos.
O professor, era
de matemática, estava explicando uma coisa que ele já sabia, mas ficou quieto,
quando perguntou quem sabe a resposta, ninguém levantou a mão. Ele tampouco sabia que tinha que fazer isso
para falar, deu o resultado para o professor.
Venha aqui
acabar, ele se levantou foi ao quadro fez a parte final do exercício, sem se
tocar, seguiu em frente, partindo para uma equação que sua mãe tinha lhe
ensinado, a partir desse resultado. O
professor o ficou olhando.
Como sabes isso,
minha mãe me ensinou, foi minha professora desde pequeno.
Essa equação era
o exercício seguinte, agora explique para os seus companheiros, para que
entendam. Assim o fez, mas de uma
maneira simples, todos entenderam. O
professor Joseph, soltou perdi meu emprego, soltou uma gargalhada tão alto que
todos riram.
Este depois
entrou na sala dos professores, rindo, coisa rara, me tocou hoje um novo aluno,
que me roubou a aula, resolvendo uma equação, que era o exercício da aula
seguinte.
É verdade que é
filho do Bara?
Sim foi adotado
no Senegal. Segundo a diretora, está
mais adiantado em muitas coisas que os outros de sua idade.
Ele não tinha
trazido comida para o recreio, nem tinha dinheiro, mas viu Sedou entrando, me
esqueci isso meu filho de te dar a merenda, desculpa não estou acostumando, se
sentou com ele no chão, logo os garotos do skate, vieram sentar ao lado
deles. Mahmud, disse que tinha
conseguido um skate para o Léopold, mas que faltavam uma roda, temos que ir
comprar.
Estarei aqui no
final das aulas, vou com vocês, mas com uma condição tem que me ensinar
também. Riram todos imaginando o Bara
com aquela sua roupa estranha andando de skate.
Ele percebeu,
assim creio que irei mais rápido.
Voltaram para a
aula, agora era de inglês, ele sabia alguma coisa, mas nisso estava atrasado, prestou
a máxima atenção, enquanto alguns faziam bagunça.
Aprendeu a
conjugação de um verbo, logo ela ensinou uma música que ficou na sua cabeça com
esse verbo. Perguntou de quem era essa
música?
É antiga, dos
Beatles, na próxima aula, vamos cantar a mesma.
Um dos garotos
lhe perguntou se nunca tinha escutado essa música?
Não, lá na aldeia, não tínhamos rádio, tampouco televisão, vi no
hotel antes da gente vir para cá. Mas aprenderei a escutar, cantar essas
músicas.
O outro o olhou,
que tonto. Nós gostamos de outro tipo
mais moderno, fez uma rima.
Léopold, soltou
que interessante, fizeste uma rima com duas palavras importantes da vida.
O outro fez um
sinal que estava louco, pois tinha usado as palavras, sem saber o significado.
Ele se entendia
bem com os garotos do skate, principalmente com Mahmud, os outros achava que
estavam em outra vida que ele não entendia.
Quando saíram da escola, ele ia com uma lista de coisas que tinha
que comprar. Sedou estava com Macário esperando
para irem fazer compras. Comprou
cadernos, se lembrou que tinha visto que Mahmud não os tinha lhe perguntou
baixinho porque não os tinha, esse respondeu em sussurro. Comprou um caderno de desenho para ele
também, com lápis de cores.
Perguntou ao
Sedou se os podia comprar, mas tudo baixinho para não atrair atenção, nem
ofender seu novo amigo.
Quando Mahmud
mostrou o skate, viram que era muito velho, mas compraram a roda que
faltava. Léo como o Mahmud, estava feliz,
pois era um presente do amigo.
A partir desse
dia ele seria Léo, Mahmud, Mud, assim se chamavam entre eles, lhe contou que
tinha nascido no Marrocos, que sua mãe era viúva, que seu cunhado exigiu casar
com ela, uma coisa antiga do país, tinha duas filhas com ele. É muito violento.
Dias depois Mud,
faltou um dia a aula, no outro apareceu cheio de marcas vermelhas pelo
corpo. Macário cada vez que o olhava
dizia que esse garoto esta subnutrido, então quando preparava o lanche de Léo,
fazia um outro, lhe sussurrava que era para seu amigo Mud.
Quando Mud lhe
contou, que seu padrasto tinha lhe dado uma surra por ter defendido sua mãe,
ele ficou furioso. Da próxima vez me
chame.
Mas como vou te
chamar?
Basta que pense
em mim.
O outro não
acreditou, fizeram um jogo, Mud, se escondia num lugar, o chamava em
pensamento, em seguida Léo estava ali.
Fizeram muitas vezes isso, pois ele não acreditava muito.
Num final de
semana, estava sentado fazendo suas tarefas, Sedou, estava lendo no sofá, de
repente a mesa de leitura do Ifá, começou a tremer, os búzios, as pedras, começaram
a correr, ele se levantou ficou olhando.
Meu amigo Mud me chama, vens comigo, pai Sedou?
No caminho se
juntou o Macário que não aguentava acompanha-los. Subiram na frente a escadaria do edifício que
vivia o Mud. A porta estava fechada Léo fez um gesto a porta se abriu a cara do
padrasto era ótima, levou um susto. Mud
estava no chão cheio de sangue, sua mãe escondendo as meninas atrás dela. Ele ia avançar, Léo deu um urro, parecia um
leão, começou a falar em árabe, foi avançando com o dedo em riste, filho da
puta, sem vergonha, não respeitas a Alah, bates em mulheres, crianças, pior
bebes álcool, aonde estão os ensinamentos do profeta, cada vez se chegava mais
perto dele. O homem, não via Léo, sim o
seu Bara, um negro imenso, nu, com uma lança apontando ao seu pescoço, gritava
tirem esse homem daqui, nisso tinha se mijado nas calças, pelo cheiro devia ter
se borrado também. Macário já tinha
chamado a polícia, bem como uma ambulância.
Sedou disse que levasse a senhora e as meninas para a missão. Quando a polícia chegou, torceram o nariz,
estamos cansados de vir aqui, porque esse sem vergonha sempre encontra uma
maneira de escapar na hora que chegamos, normalmente pega sua mulher, por não
ter comida para ele em casa. Mas ele não dá nenhuma quem trás dinheiro é o garoto que trabalha com
esse outro num armazém.
Sedou não sabia
que Léo estava trabalhando.
Sorriu, não posso
ficar pedindo dinheiro para minhas despesas para o senhor pai. Os dois trabalhavam repondo, organizando o
armazém de um marroquino. Assim Mud,
tinha dinheiro para levar para casa, bem como comida para irmãs.
A ambulância
chegou, pediu desculpas, pois tinham errado de endereço. Examinaram Mud, tem que ir para o
hospital. Foram os dois acompanhando o
Mud. O homem berrava, que lhe tirassem
do lado esse homem com a lança.
Realmente tinha
se cagado na calça, pois se via uma mancha na traseira, os policiais,
reclamavam que depois iam ter que limpar o carro.
Sedou lhe
perguntou enquanto esperavam os exames, como tinha sido isso. Eu lhe disse que me chamasse na hora que
tivesse problemas. Sempre aparece na
escola, com manchas vermelhas o padrasto lhe pega, bem como a sua mãe. Não traz dinheiro para casa, gasta em
bebida. Aí pega a mulher, se ele não
está, as meninas.
O teu Bara,
parecia um leão enfurecido, creio que interpretou o que eu senti, tenho que
controlar isso, pois minha vontade era de matar esse animal que pega crianças,
por isso ele tomou conta da situação.
Que vamos fazer
agora?
Primeiro saber
como está o teu amigo Mud, depois irei falar com sua mãe para saber como
podemos a ajudar.
O médico comentou
que mais um tempo esse menino tinha morrido, teria que ficar em observação pois
o caso era sério, podia ter algum problema interno.
Eu fico com ele
pai. O médico conhecia Sedou a muitos
anos, olhou para ele, sem fazer perguntas, sabia que com ele tudo era possível.
Esse é meu filho
Léopold, amigo do Mahmud. Pode ficar com ele?
Sim, claro me
acompanhe jovem. Sedou disse que ia ver
se a senhora estava bem, assim como as garotas.
Mahmud, estava
sedado, ele ficou ali sentado olhando o amigo.
Tinha raiva guardada dentro do peito, por isso começou a rezar, para se
relaxar, ao mesmo tempo que pedia aos Orixás que cuidassem se seu amigo.
Quando este
despertou, a primeira coisa que disse foi, funcionou, eu te chamei apareceste. Esse
filho da puta levou um susto. Mas quem
era aquele negro, imenso.
Um dia te conto
essa história. Fique tranquilo, tua
mãe, está na missão, o teu padrasto na cadeia, Sedou disse que ia conversar com
tua mãe, para ver o que pode fazer por ela.
A história era
complicada, pois, o pai de Mahmud, tinha uma parcela, que tinha divido com os
irmão da herança do pai. Sem querer lhe
tocou as terras mais produtivas, quando ele morreu os cunhados ficaram de olho,
quando apareceu o irmão que vivia em Paris, fizeram com que esse exercesse o
direito de se casar com a viúva. Este
era violento, a arrastou para Paris, mas vivia bebendo tudo que ganhava do
pouco que trabalhava. Se meu filho nos
últimos tempos não trás dinheiro ou comida, as meninas já tinham morrido de
fome. Pior ele chega, quer comida, como
vê que as meninas comeram, quer também, mas nunca compra nada, explode em cima
de mim e de meu filho. As vezes ameaça
bater nas meninas, que são muito pequenas, uma vez quebrou o braço de uma
delas. Mas cada vez que meu filho que
agora está crescendo me defende, leva a pior.
Perguntaram o que
ela queria fazer?
Quero voltar ao
Marrocos, recuperar as terras que são minhas de direito, trabalhar para sustentar
minhas filhas. Mas não tenho dinheiro
para fazer isso, contratar um advogado para recuperar o que é meu.
Já resolveremos
isso, chamaram dois senhores marroquinos, que disseram que isso acontecia
sempre. Que era um pouco complicado
recuperar as terras, mas não impossível.
Primeiro vamos
esperar Mahmud se recuperar, vamos ajuda-la, levaram as três para uma casa de
mulheres maltratadas, ali, ele não poderia entrar. Mandou um advogado, forçar a prisão do mesmo,
assim ganhariam tempo para resolver tudo.
O advogado depois
chamou por celular, contando que estava numa cela sozinho, pois não parava de
dizer que o negro com a lança ia mata-lo, acham que perdeu a chaveta.
Mahmud passou
três dias no hospital, Léo ia de manhã a escola, depois compartia o que tinha
aprendido com ele.
Sedou foi falar
com a diretora.
A amizade do
Léopold, lhe fez bem a esse garoto, aprende rápido, porque o que os professores
ensina, as vezes não entende, mas teu filho lhe explica tudo. Principalmente matemática, aliás o professor,
está revendo sua maneira de ensinar por culpa do Léopold, disse que ele
consegue simplificar tudo.
Seria uma lástima
esse menino voltar para o Marrocos numa aldeia, jamais poderá ir em frente.
Nesse dia lhe
perguntou se queria deixar os estudos, para ir para o Marrocos. Ele queria estudar, viviam os dois dizendo
que queriam ser médicos, por isso, se esforçavam nas aulas de ciências.
No ano seguinte
entrariam para a pré fase antes da universidade, já tinham escolhido ciências
que lhes permitiria fazer medicina. Léo
diz que se estudamos muito, conseguimos fazer com bolsas de estudo, assim nem o
senhor, nem minha mãe precisam se matar para pagar.
Tua mãe quer
voltar para o Marrocos, com as meninas, queres ficar aqui comigo, com Léo e os
da missão.
Sim senhor, seria
um sonho, mas vou continuar trabalhando com o Leo no armazém para não pesarmos
nos gastos da casa.
Ele ria, achava incrível
o Léopold pensar nisso, quando a maioria dos garotos só pensava em gastar
dinheiro. Se lembrou dos skates deles,
lhes faltava pedaços de madeira, mas não se importavam. Iam todos os dias para escola, com eles.
Sentou-se com
Macário, os outros do grupo, conversaram a respeito. Macário disse que conhecia advogados no
Marrocos, pois tinha vivido lá. Começou a
mover as coisas, ao mesmo tempo Sedou conversou com a mãe. Ela concordava seu filho era inteligente,
merecia uma coisa melhor. Sem dúvida o
deixaria sobre a guarda do Sedou, pois todos sabiam que era um homem integro.
Quando Mahmud
saiu do hospital, foi para a casa deles, os irmão tinha conseguido colocar uma
cama dessa supletórias que ficam embaixo da outra, assim poderiam compartir
quarto, a mesa de estudos. Dava gosto
ver, os dois estudando, levavam a sério isso.
Um dos irmãos,
conseguiu livro do curso seguinte, principalmente os de Ciências, os dois já
estavam mergulhados neles.
Sedou resolveu ir
com Macário, ao Marrocos, assim saberiam que ela estaria bem. O acordo que chegaram com os irmãos, foi que
pagariam o que valia a terra, assim ela poderia comprar outras, na aldeia de
aonde tinha saído, tinha parentes lá.
Quando voltaram
Macário contava as confusões que aprontava Sedou, quando os irmão primeiro
queriam engana-la, soltou o Bara em cima deles, fugiram assustados, estão como
o irmão acostumados a maltratar as mulheres.
O melhor é que
ela nunca assinou nenhum papel, assim não podia dizer que eram os
proprietários.
Mahmud ficou mais
relaxado, agora as vezes chamava Sedou de pai também, mas o interessante era
com Macário que os dois contavam as coisas.
Sedou o começou a
levar a mesquita, lhe ensinava a se preparar para entrar, rezar, Léo o
acompanhava. Entendia agora o que era
respeitar todas as religiões.
Mas o que
fascinava Mud, era ver como ele movia as peças do Ifá, sem tocar. Isso lhe explicou Macário, é porque tem um
Bara muito poderoso, agora que estava livre de ter sido enterrado na areia
tinha recuperado suas forças.
A mãe do Léopold
sempre escrevia, ele lhe respondia com todo respeito, comentando seus avanços
na escola. Sempre vinha um bilhete para
o Sedou.
O tempo voava,
Mud, começou a esticar agora que recebia uma alimentação melhor, os dois já
tinham o mesmo tamanho, Macário reclamava que eram maiores que eles, quando
queriam falar com ele, os mandava sentar, para não ficar olhando para
cima. Isso não fica bem para um senhor
de idade. Estudava ciências com eles,
pois tinha formação em muitas coisas, um dia contou por que o tinham obrigado a
sair do Egito, o tinham visto tratando de um doente, tudo com ervas. O consideraram um bruxo, para não prejudicar
sua comunidade aceitou. Mas claro em
Paris, a princípio não encaixava, até que conheceu Sedou. Agora era como seu braço direito, tinha
facilidade de conversar com as pessoas, de chegar até elas.
Os dois estavam
prontos para irem a Universidade, fizeram os exames, passaram com a melhores
notas. Mas não queriam ir-se dali. Podia
viver perto, mas se levantavam mais cedo para chegarem na hora. Os professores encantados, um dizia, chegam
esses filhinhos de papai, pensam sabem tudo, os dois ao contrário, respeitam os
professores, são educados, o senhor os educou bem Mestre Bara.
Eu não, quem os
educou foi Macário, um dia o levou a Universidade, riram, pois, para ele era
como estar em solo sagrado. Dizia eu o
conhecimento era isso, sagrado.
Tinha estudado,
filologia além de história no Cairo, os meninos, Sedou, o incentivaram a
convalidar seus diplomas, agora ia com eles logo de manhã, acabadas suas duas
aulas que fazia voltava correndo para a missão, dizia que se sentia como avô dos
outros alunos.
Tinha tanto
conhecimento em várias línguas que o contrataram para dar aulas.
O mais
interessante, enquanto todos os alunos que iam de práticas para os hospitais,
pediam sempre para alguma coisa fácil.
Sedou tinha conseguido com o médico que tinha atendido o Mud, que eles
nas férias fizessem práticas no hospital.
Quando chegou o momento de fazerem isso oficialmente, escolheram esse
hospital, não estava entre os mais cotados, os professores não gostaram, a
resposta, foi, nossa comunidade nos necessita.
Eram os dois
trabalhando ao mesmo tempo. Léo tinha
uma facilidade que escondia, o Bara, lhe indicava aonde estava o problema, mas
fazia de tal maneira que ninguém desconfiava.
Logo quiseram
contrata-los, Mud, escolheu cirurgia, Léo também, mas ligado a urgências. Assim
estaria entre o povo. Numa férias se
uniram a uma ONG, foram para a Africa, precisamente para o Mali, junto ao um
batalhão do exército francês, atendiam todo mundo.
Um dia, tiveram
que atender urgências no quartel, o fizeram em conjunto, depois o comandante
diria que pareciam uma máquina que funcionava bem. Que tinha salvado os cinco soldados feridos tão
rápido, que os outros médicos ficaram de boca aberta.
Quando voltaram,
ficaram numa dúvida cruel, se cada um deveria voltar ao seu pais, para ajudar
aos seus, ou ficar ali ajudando os emigrantes que viviam em Paris.
Acabaram ficando,
pois decidiram entre eles, seguiriam nas férias indo por Africa para ajudar.
Um dia da semana
ele atendia pessoas africanas que buscavam explicações no Ifá. Nunca renegaria de suas origens.
Sedou seguia em
plena batalha, junto com Macário agora com quase 90 anos, mas não parava.
De manhã,
acontecia uma coisa interessante, os integrantes da missão, cada um ia a sua
igreja, para rezar, depois voltavam todos para suas obrigações. Nas festas de uma, iam todos, não importava
qual. Eles eram o exemplo para sua
comunidade, de que raças e religiões podiam conviver. Era
como faziam Mud e Léo, ia junto a mesquita, como a uma sinagoga, ou igreja
católica, bem como Mud se sentava para ver Léo ler o Ifá.
Sedou dizia
sempre que podia morrer tranquilo pois tinha realizado a missão que lhe tinha
dado. Mas dizem que durou até os 105 anos, lamentando a perda do seu amigo
Macário.
Quando este
morreu, na cerimônia que fizeram, falou do encontro dos dois, como tinha sido,
os que estavam assistindo conseguiam imaginar, um tão alto, branco como a neve,
vestido de babalorixá, o outro um simples homem, com suas roupas de monge.
No primeiro
momento sequer entendeu o que eu lhe dizia, nos sentamos, na praça aqui perto,
ali virou nosso lugar de encontro, lhe contei minha missão, imediatamente se
dispôs a incorporar, por vezes trazia gente de outras religiões para nos falar
delas. Budistas, as distintas ramas do
mundo árabe, me dizia, isso fará que entendamos nossos vizinhos, assim podemos
os ajudar. Estava coberto de razão,
essa missão que criamos com todas as religiões, não existiria sem ele.
Agora nas horas
vagas Mud e Léo ajudavam no que podiam, Sedou, não entendiam por que não
falavam de relacionamento. Até que
descobriu que os dois viviam como um casal, eram amantes desde jovem, quando
passaram a compartir quarto, descobrindo o sexo, mas nunca falaram ou
alardearam para ninguém, era uma coisa entre eles.
Ria muito quando
comentava alguma coisa, esperando a resposta, um olhava para o outro como
dizendo falas tu. Mas sabia que era o
pensamento dos dois.
Quando a mãe de
Léopold morreu, foram ao Senegal, mas só avisaram o Sami, que hoje tinha um
cargo no ministério, quando perguntou pelo Mansur, riu dizendo meteu os pés
pela mão, rapidamente, se confundia muito com o mundo político. Eu faço que entendo, deixo falarem, faço o
que tenho que fazer.
Veio com eles a cerimônia,
contou que tinha voltado vária vezes lá, que os dois eram um mito por lá. Alguns diziam que era uma história que tinha
sido inventada. Os que tinham visto de
perto exageravam na história que parecia mítica. Diziam que Sedou, tinha montado num camelo a
pelo, levando Léopold com ele através do deserto até Paris.
Mas que nem o
chefe, nem sua mulher estavam mais vivos.
Voltaram para
casa, como não aconteceu nada no aeroporto, porque Sami os acompanhava até o
avião, Sedou riu dizendo que ele queria ter certeza de que não iam ficar por lá
para fazerem confusão.
Um dia telefonou,
perguntando se podia vir, estava viúvo, as filhas casadas, precisava alguma
coisa que movimentasse sua vida. Isso
ele sabia que o Sedou provocava. Veio,
tempo depois ocupava o lugar do Macário quando este morreu.
Agora, dirigia a
missão, apesar da idade, com Léopold e Mahmud, além dos outros companheiros, um
ou dois de cada religião, os tempos eram convulsos, precisavam de todo apoio
possível.
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