lunes, 12 de abril de 2021

LÉOPOLD

 

                                               LÉOPOLD

 

Sedou Abe Bara, como sempre, mal chegou ao Senegal, criou confusão no aeroporto, como podia um brasileiro com um turbante na cabeça, um colar de contas vermelhas, atravessado no corpo, de um lado, um dente de javali, do ouro um objeto de metal.

Explicar que gato não é sapato era mais fácil, foi necessário chamar o chefe da polícia do aeroporto.   Mal o olhou de cima a baixo, Sedou começou a falar com ele em Yoruba, teus mequetrefes não querem me deixar passar, sou fotografo, venho fazer trabalhar uma reportagem aqui no Senegal.  Deu o nome do guia turístico que iria acompanhá-lo, deve me estar esperando fora.   O chamaram imediatamente, entrou resmungando, ela bem que disse que por aonde passas crias confusão.

O chefe conhecia o guia, ainda lhe avisou, cuidado, esse homem falando Yoruba, pode causar confusão em qualquer lugar.

No 4X4 que tinha alugado especialmente para levá-lo por todos os lados, recomendação expressa da ministra de educação.  Ele parou ao lado, vamos viajar nessa merda, nem pensar, quero um outro tipo de carro, um furgão, Quando o deixou no hotel, reclamou também era um cinco estrelas, ele com sua bolsa de pano, desceu do carro, o lugar era como uma área cercada vigiada por guardas de segurança, tinham ali todos os tipos de hotéis.   Ele se dirigiu a um da cadeia Ibis, que era mais simples, foi até a recepção com o guia atrás.  Pediu um quarto normal, outro para o rapaz que é meu guia.   Sinto estragar teu desejo de um hotel cinco estrelas, mas não vai comigo.

Não senhor, eu estou hospedado aqui, acha que iam pagar para mim um cinco estrelas.

Ele começou a rir, sua risada era como um estrondo no céu, diziam que pareciam explosões de Xangô e Iansã.   Então fazemos o seguinte para sacanear minha amiga, como paga o governo, tu ficas no cinco estrelas, eu fico aqui.  Foi até a varanda, a primeira vez que vim ao Senegal, aqui era um hotel, me lembro da proprietária, eu tinha 18 anos, voltava de Paris, um jovem loiro, que bateu o pé no aeroporto que iria ficar nessa escala.     Me hospedei nesse hotel, era pequeno, ali a areia chegava até um grande Baobá, que me parecia estranho estar na beira do mar.

Foi ela que me disse tudo o que sou hoje em dia, era uma Bara como eu.   O outro o olhava sem entender nada.  Como Bara, me disseram para tomar cuidado com o senhor, pois se não é da sua maneira, logo cria confusão.

Sim, imagino que a ministra disse isso, ela foi minha aluna em Paris, por isso me conhece bem, quando resolvi vir fazer fotografias, tentou que eu fosse para outro pais.  A mandei tomar no cu.

Vou aonde quero, ninguém pode me impedir.     Não ia dizer que estava em missão, para o Bara, se o guia fosse dos Orixás poderia ver que não estava ali sozinho.

A estas alturas, tinham trazido para baixo a bolsa do guia, foi com ele ao hotel ao lado, um cinco estrelas, se apresentou, deu seus documentos, disse, esse rapaz vai ocupar meu quarto, pois eu vou dormir na praia.

Virou as costas foi embora, quando chegou ao muro, tinha um portão ali, disse ao guarda em Yoruba, abra a porta de Bara.   O fez rapidamente, sabia o que ele estava falando.  O guia veio correndo atrás dele.  

Estava ali parado, olhando a merda que tinham feito com aquela praia linda, paradisíaca que tinha conhecido no passado.

Levantou os braços para cima, gritando filhos da puta, assassinos do mundo.

O guia não entendia nada.  

Mostrou para ele a merda toda que estava ali na praia, restos, de lixo, óleo dos navios.   Por isso os hotéis estavam cercados, a desculpa era proteger, mas na verdade era para terem controlados os turista que não fossem por ali.

Como é teu nome meu filho?

Me chamo Mansur Albarrã.

Estou perguntando qual o teu outro nome, ou só tem esse muçulmano?

Só tenho esse. 

Eu sabia, ela ia fazer tudo para complicar minha viagem.    Rindo para ele, não se preocupe, nós daremos bem, vamos tomar uma água nesse hotel cinco estrelas, pois esse paga o governo assim falamos de amanhã.

Eu me levanto a seis da manhã para me preparar, todos os dias será assim, quero depois ir a mesquita ao lado do estádio.   Mansur olhava para ele, como dizendo assim não vão deixar entrar o senhor.

Tu agora de noite falas com teu amigo Sami, que me empreste seu carro, enquanto isso, deixas esse com ele.

Como o senhor conhece Sami?

Isso não é problema teu, diga que foi o Bara, ele vai entender.

Foi para o seu hotel, tinha pedido para a garota que fosse tudo branco.  Entrou embaixo do chuveiro, rezando, pai, eu sei que quando me movo crio confusão, mas se for de outra maneira, as coisas não andam.   Era como se escutasse uma risada ecoando por ali.

Estava com fome, pois tinha saído rápido de Paris.  Colocou uma calça branca, por cima um Kaftan árabe, enrolou um pano na cabeça, sempre estaria com um.

Desceu, educadamente pediu se podia comer alguma coisa leve.  Veio um homem da cozinha, se inclinou ante ele, Bara, o que o senhor quer comer?

Uma coisa leve meu filho, um chá de canela, com um sanduiche simples, ou mesmo uma torradas.

O que o senhor come de manhã?

Todas as frutas do Bara, consegues?  Ah é muito café forte.

Depois ficou olhando as pessoas pela janela, ao longe ele via a lua sobre o mar, mais ao fundo, estava a Ilê de Gorée, quando o homem trouxe a comida, ele estava chorando, olhou a direção, entendeu.  Deixou as coisas ali, se retirou.

Tomou o chá, comeu as frutas e sanduiche, deixou dinheiro na bandeja, foi dormir.

Retirou toda a roupa, se jogou na cama.  Amanhã seria outro dia.

Se levantou, se lavou bem, rezou, profundamente espero poder cumprir o que o senhor me pede, descobrir esse seu filho, para o salvar.

Quando desceu viu Mansur, discutindo com um dos guardas do portão que não queria deixar entrar um furgão velho todo enferrujado.   Ele sem conversa, foi falou com o homem eu aluguei esse carro, abriu a porta abraçou para espanto do próprio, Sami, meu sobrinho, lhe beijou as faces, rapidamente abriram o portão, venham vamos tomar café.

Quando se sentou, entraram no salão o chefe, com duas garotas, trazendo duas bandejas imensas, os outros hospedes olhavam espantados.  Tudo muito bem arrumado, as frutas do Bara, como ele tinha pedido, o chefe se inclinou a ele.  Ele se levantou da mesa, meu filho muito obrigado.  Outra garota trazia um termo de café, bem forte como o senhor pediu.

Fez com que o chefe se sentasse com eles.  Não vais ficar aí em pé, venha tenho que falar contigo.  Fechou os olhos começou a falar em Yoruba com o homem, este olhava a princípio espantado. Depois entendeu a mensagem.  Enfiou a mão no bolso, tirou dinheiro enrolado num pedaço de pano.  Vá, honre tua mãe.   O homem saiu disparado.

O que o senhor disse para ele perguntou Mansur?

Tens certeza de que queres saber?

Sami explique, esse menino tem cera nos ouvidos.

Lhe avisou que sua mãe está para morrer em Banjul, disse para ele sair pitando daqui.

É verdade senhor Sedou?

Sami é melhor que venhas junto nessa viagem, esse menino tem cabeça dura, falo ele nunca entende nada.

Bom agora vamos a Mesquita, antes que fique cheia de gente. 

A cara do Sami era divertida, mas com qual carro?

Sempre com o teu meu filho.

Ele ria, o senhor com esse branco leitoso, me chamando de filho, um negro como a noite, é raro.

Sami, eu sou mais negro que tu duas vezes, levei muito tempo para descobrir isso.

Foram a Mesquita, ele tirou da mochila o mesmo Kaftan, colocou um barrete na cabeça, disse fiquem aqui.   Entrou, se preparou, viu que os fiéis não faziam como ele, se preparar a consciência, chamou a atenção de um que guardava a porta de entrada, vais deixar essa gente entrar sem se lavar direito, me chame o chefe do lugar.    Logo apareceu um velho, que correu para ele o abraçando.  Se beijaram, tens que colocar ordem aqui, essa gente não se prepara como deve.   Quer ver.

Começou a falar altíssimo, que todos o seguissem, assim se faz, começou tudo de novo rezando alto, como ousam a entrar na casa de Alah sem estarem limpos para as orações, seu amigo ria, continuas o mesmo, de longe fez sinal para os dois se aproximarem, disse, este senhor é meu amigo, é o responsável da mesquita, se preparem como devem, para não desrespeitarem a casa de Alah.    Mansur a estas alturas não entendia porra nenhuma, agora o guarda estava prestando atenção.   Quando entraram, ele estava ajoelhado, junto ao senhor, rezavam o corão. Depois o homem subiu para a pregação, hoje tenho a honra de ter aqui, um velho amigo, senhor do Bara, que muito me ajudou quando estava na Mesquita de Paris, uma mesquita ,não a principal, mas a dedicada aos homens de cor como nos.   Esse homem é de todas as religiões, entende profundamente de cada uma, sua missão na vida é salvar almas.

Começou a reza, que Sedou acompanhou com lagrimas nos olhos.

Mansur pensou, como esse homem chora.   Na saída ele disse ao ouvido do Mansur, o homem que chora, purga sua alma, choro por todos os filhos perdidos do Bara.

Agora vamos ao mercado, se alguém tentar me enganar Sami, me defenda, porque esse banana do Mansur, vai ficar com vergonha.

Mas não estava prevista nenhuma visita ao Mercado, senhor Sedou?

Estou cagando para isso, é o que eu vou fazer. Sami prepare esse carro para ser carregado.

Ele começou a fazer compras, coisas de comida para crianças, livros, cadernos, quantidades de caneta Bic, muitas caixas, a cara do Mansur era ótima, vamos levar tudo isso.  

Sim porque, você acha que vou a casa dos outros de mão abanando.

Ora, basta dar dinheiro.

Para que os maridos tirem das mulheres, para ficarem sentados no bares, tomando esse maldito chá, nada disso.

Quando terminaram voltaram ao hotel, ele disse essa noite dormirei na Ilê de Gorée, vens comigo Sami, trancaram o furgão, entraram no 4X4, foram para o porto.

Quando chegaram na Ilê, ele disse aos dois, está vendo aquele hotel ali, vá peça quartos para nós, bem como preparem uma refeição, saiu andando, parecia que falava sozinho, mas Sami sabia que falava com o Bara.  Duas horas depois, ele voltou, comeu com eles, um bom peixe, disse, agora vou subir a parte mais alta para rezar, sempre rezo melhor de estomago cheio.

Foram atrás dele, com medo de alguém o atacar.

Quando chegaram lá em cima, havia gente esperando por ele.  Se sentou virado para o mar, começou a cantar uma canção triste em Yoruba.

Logo todos cantavam, Mansur perguntou o que ele está fazendo, cantando pelos escravos que saíram daqui para o mundo, nunca mais voltaram, alguns morreram no mar, outros pelas mãos dos seus patrões, mas ensinaram o povo a acreditar nos Orixás.

Eu nunca soube que acreditavas nisso?

Minha avó foi mãe de santo, fui criada por ela, por isso sei Yoruba, mas também respeito Alah.

Todo mundo foi embora, menos o Sedou, ficou mais umas horas, lhes disse, vão dormir, pois amanhã começamos nossa viagem.  Quando estavam chegando embaixo, olharam para cima, ele estava com os braços abertos, em direção ao mar.

Mas no dia seguinte de manhã, estava como um pincel, pronto para irem embora, quando desceram, reclamando do quarto pois as camas era velhas, ele riu, por isso dormi lá em cima.

Voltaram no primeiro barco.  Foram para o hotel, ele pediu para guardarem o 4X4 na garagem, foram embora no furgão do Sami, esse avisou sua mulher que tinha um trabalho por alguns dias, depois te conto.

Virou-se para o Mansur, jamais perderia essa viagem.   Iriam dormir num dessas modernos pousadas que tanto gostavam aos turistas.

Ele chegou examinou o lugar, disse a dona o que queria comer, se ela tinha uma rede, para ele dormir ali perto do rio.

Os mosquitos vão comer o senhor.

Duvido, sabem quem eu sou.  Realmente os outros hospedes reclamavam dos mosquitos, na mesa deles, não tinha nenhum.

Comeram o peixe que ele tinha pedido, o marido dela arrumou a rede para ele, o viram rezando, depois foram dormir.  Logo de manhã, o viram fazendo fotografia do nascer do sol, dos animais que estavam ali, dois cachorros o seguiam por todos os lados, bem como um burro que estava ali.

O dono se matava de rir, esses cachorros odeiam os turistas, dormiram embaixo da rede, como se tomassem conta dele.   Esse burrico que temos para levar as crianças para passear, que está sempre de mal humor, vai atrás dele como um cachorro.   Ele pediu algumas frutas que não temos, ele estava já perto, não se preocupe, me apanho com o que tiver, mas quero café muito forte, senão meu dia não começa.

Mas se o senhor leva de pé uma duas horas.  Tinha tomado banho num chuveiro no pátio, o homem ria, ficou nu, levou duas horas tomando banho.

Comeram, pagaram, partiram.   Mansur já não fazia perguntas, volta e meia ele pedia para parar, em algum Baobá que antigo, se ele via garotos por perto, se colocava a conversar com eles sobre o futuro.  Depois balançava a cabeça, nenhum desses dizia.

Nessa noite, dormiram em uma vila, o seguiram, quando desceu do furgão, foi direto a uma choça, depois o viram conversando com um velho, um antigo feiticeiro que curava os males das pessoas dali que não tinha dinheiro para ir a um médico.  Avisou aos dois, vão dormir, pois comerei com meu amigo, ou melhor, lhes deu dinheiro, peçam um belo peixe assado com legumes para os dois, vamos comer aqui.   Depois os mandou dormir.

De manhã quando o procuraram, estava cercado de mulheres, crianças, tinha aberto o furgão, ia olhando cada criança, lhes dava alguma coisa, se fosse maior, perguntava se ia a escola, lhe dava um caderno, canetas, se o sem vergonha voltava a fila, conversava com ele, que isso de ser malandro era feio.

Olhou cada criança doente, rezando, algumas não paravam de chorar, ele colocava a mão sobre a barriga, rezava, depois separava, arroz, mijo, outras coisas, entregava a mulher.

Isso não resolve, mas apenas tapa um buraco, para elas.  Esses maridos, nunca trabalham, fazem filhos vão para Dakar, só voltam para a colheita do que preparam elas, levam metade do dinheiro, elas ficam aqui trabalhando.

Pararam no meio da tarde em Joal-Feadiou, aqui é aonde nasceu Léopold Sédar Senghor, o maior poeta do Senegal, foi presidente do pais também.

Comeram à beira da enseada, depois ele atravessou a ponte, andando descalço em cima das conchas, subiu até o cemitério, mas não entrou, em seguida foi a Mesquita que era uma antiga igreja, se lavou entrou para rezar, dali, foi a uma igreja católica, fez o mesmo.

Voltou com eles, foram a pousada ele pediu a mesma coisa, Mansur não entendia, ele explicou, meu filho, vivo em Paris, cercado de edifícios, poucas vezes posso dormir vendo as estrelas, em comunhão com os elementos.

Sami entendeu, pediu outra rede para ele, Mansur, foi dormir no quarto, esses dois estão como loucos.

Quando se levantou viu Sami rezando com ele. Já tinham tomado banho a beira do pequeno lago que tinha ali.

Tomaram café, colocaram o pé na estrada.  Sami conduzia, foi dizer que estavam indo em direção errada, quando ele parou ao lado de um imenso Baobá, que estavam cheios de turistas que entravam dentro.   Sedou se aproximou, colocou a mão no mesmo, começando a rezar, os vendedores de bugigangas se aproximaram, mas Sami os afugentou.

De repente os turistas que tinha entrado no oco do Baobá, saíram disparados, pois de dentro saíram uma quantidade impressionante de morcego, cagando na cabeça de todo mundo.

Sedou ria com sua risada escandalosa.   As pessoas o olhavam com aquele olhar de matar meia dúzia, mas não era com ele.    Que falta de respeito tem a humanidade, com os símbolos do Orixás, este é um Iroco milenar, aqui antes habitavam muitos espíritos, essa gente os afugentou.

Agora é moradia de morcegos, que são como eles, chupa sangue.

Foram parar numa aldeia mais adiante, logo um bando de crianças, mulheres se aproximaram, todas traziam suas crianças, para que ele olha-se, o velho tam, tam funciona ainda, o velho os avisou que eu vinha.

Mas isso estava fora do nosso roteiro.

Do seu talvez, mas não do meu.   Logo se aproximou uma velha, sem idade definida, sonhei com o senhor hoje.   Ele pegava cada criança no colo, fechava os olhos, as examinava bem, depois dizia ao Sami, o que devia dar a mulher, só então Mansur percebeu que também levavam remédios.  Ele pediu a uma das mulheres que procurasse umas ervas para ele, as colocou num pequeno pilão, disse aos dois que dessem a professora que olhava de longe, sem se aproximar, levem para ela cadernos, lápis, canetas bic. Veja o que necessita.

Passou a os ignorar totalmente, falavam com ele, mas parecia não escutar, enquanto rezava, preparou uma pasta negra, a senhora sem ele dizer nada tirou a parte de cima de sua roupa, era mais enrugada que uma uva passas.  Começou a esfregar bem essa pasta na sua coluna, enquanto explicava a garota que a acompanhava como devia fazer, quando acabou a mulher já estava melhor, mais ereta. Quis beijar suas mãos, mas ele recusou.   Fingiu que estava ofendido.

Se inclinou ele, beijando as suas, por cuidar tanto tempo de sua gente.

Os homens olhavam de longe, se eles estivessem posse dos cadernos e livros, venderiam tudo.

Nessa noite dormiram ali embaixo de uma árvore a entrada da pequena vila, as crianças vieram olhar a comida que ele preparava, Mansur ia dizer que era um absurdo de comida, mas quando viu que as crianças vinham comer, ficou quieto.  Serviu aos dois, o sabor que tinha a mesma era impressionante.

Assim se comia antes, hoje tudo isso se perdeu, foi tudo que disse.

Um homem se aproximou para pedir dinheiro.   Olhou bem para o mesmo, que fedia a bebida fermentada, lhe passou um sermão dos bons.

Nenhum outro ousou se aproximar.

A professora, no dia seguinte veio lhe agradecer os cadernos, eu só tenho o quadro negro, as crianças nunca têm aonde escrever, ensino as letras, eles escrevem na terra.  Mandou lhe dar mais cadernos.   Na próxima vila nos abastecemos.

Chegaram de noite a uma aldeia Peul, não tinha ideia aonde estavam, não viam ninguém na estrada, apesar de verem as choças, a escola, um ambulatório, isso mais parece algo civilizado, foram até ao final da estrada aonde apareciam umas dunas, o Mansur, falou deserto, mas a ele pareciam dunas nada mais.   A lua refletia sobre a mesma, viu muitas tendas, imitando as dos Tuaregs, os homens que os atenderam estavam vestidos como tal.   O levaram para uma especial para ele, tinha pelo menos 4 camas, ao fundo da tenda, ao ar livre, um chuveiro, bem como uma pia, um trono, cercado por uma paliza de ramas.  Se vestiu com seu Kaftan, enrolou outro pano menos sujo na cabeça, saiu, a lua cheia insidia toda em cima das dunas.  O chamaram para comer em uma imitação de tenda aberta que era o restaurante.   Pediu franco a brasa, tomates, nada mais.    No meio viu que montavam uma fogueira na areia, mas acabou de comer, voltou a sua, se lavou a cara, escovou os dentes, pegou duas mantas que estavam em cima da cama, sabia que na areia faria frio.   Foi para lá, ficou rezando, até que apareceu o Sami, com um outro vestido de Tuareg.   Tira esse disfarce que não convences, soltou.

Me deixem rezar.

Queres que venha dormir aqui, lhe perguntou o Sami.

Fique junto com os outros, me deixe tranquilo.

Estendeu uma das mantas, rezou, se deitou se cobriu com a outra, começou a sonhar, quem era o garoto que procurava, estava ali.

Despertou as seis da manhã, com uns quantos camelos, deitados ao seu lado.

Riu, este como que o saudaram.  Logo apareceu o mesmo rapaz, da noite anterior, perdão, se soltaram, não tenho ideia como, mas normalmente depois fica difícil de pega-los, cada um vai para um lado, que estejam todos aqui é estranho.

Se quiser dar um passeio depois.

Agradeceu, disse que queria ir até a aldeia, lá tenho aonde comer?

Sim, saltou sobre um camelo, sem cela nem nada, ele fez igual, desceram a montanha, foram em direção a aldeia, acenou de longe para Mansur e Sami, sabia que em seguida viriam atrás dele.

O levou a casa de sua mãe, explicou que ela era a primeira mulher do chefe da aldeia, ele tem mais duas, da minha mãe, tem o meu irmão mais velho, que desapareceu, eu que tomo conta das cabanas, tudo é dela.  Uma outra que meu pai, trouxe de Dakar, que é de outra etnia, tem um garoto, da última tem duas meninas.

Só disse, que homem prodigo.  A que era, vamos dizer assim a chefa da aldeia, soltou, muito simpática, meu filho fala demais.

Nisso entraram uma com duas crianças, em seguida outra com uma roupa totalmente diferente pois não tinha estampas, bem como seu turbante.  Um garoto se escondia atrás dela, devia ter uns 12 anos.   Só disse, você veio finalmente.

A mais velha fez um sinal, todas se sentaram o menino veio se sentar ao seu lado.  Começou a falar em Yoruba com ele, tens que me tirar daqui, vão me matar.

A mais jovem disse, lá esta ele falando esse língua que ninguém entende, por isso vive falando sozinho, os outros garotos não querem falar com ele, ou jogar bola.

A cara do garoto era triste, estava quieto lhe observando.

Ele se virou a sua mãe, perguntou no seu dialeto, com quem falava o garoto, ela não sabia, tinha medo de que por causa disso os mulçumanos o caçassem.  Pensam que é um bruxo.

Vocês não tem aqui, nenhum curandeiro.  A mais velha respondeu rapidamente, não, meu marido o expulsou, somos todos mulçumanos, sinalizou a mãe, dizendo que ela era católica, meu marido a trouxe de Dakar, para ser sua segunda esposa, queria status, pois diz que era de uma família importante.

Embora parecesse mais velha que a outra, tinha a pele esticada sobre os ossos, como se tivesse feito uma cirurgia estética.

Na verdade, era a mais velha de todas, contou que tinha aprendido a ler e escrever em francês, com as monjas no orfanato aonde tinha sido criada.

Gostas de poesia verdade?

Como sabes disso?

Pelo nome dele, o chamas assim em homenagem a Léopold Sédar Senghor.

Ela deu um sorriso grande, é verdade, sei todas as poesias dele inteiras, dou aula na escola daqui para as meninas que estão mais avançadas.  Os meninos aprendem a ler escrever, deixam a escola, não lhes interessa.

Nós as mulheres somos mais inteligentes.  Sinalizou o filho, ele ao contrário, adora ler, escreve muito bem.

Quase soltou, por isso venho buscá-lo, mas ficou quieto.

Virou-se para a manda mais, lhe perguntou pelo seu filho mais velho?

Ah esse é um bala perdida, saiu daqui dizendo que iria para Europa, mas sabemos que vive na Mauritânia, com uma tribo Tuareg, que são extremistas mulçumanos.

Virou-se para ela, justo quando entravam Mansur e Sami, levamos todo esse tempo para encontrá-lo.

Pois eu já encontrei o que vim fazer.   Disse aos dois, retirem tudo da furgoneta, deixem tudo na escola, as medicinas no ambulatório, fez uma sinal para a chefe que queria falar com ela, e a outra sobre o garoto.

Eles saíram com a mais nova que recolheu a chaves da senhora do manda mais.

Foi direto ao assunto, seu filho, não está louco nem nada, ele é um Bara como eu, me mandaram vir buscá-lo, pois seu filho mais velho vem para cá.   Se chega aqui antes de irmos embora, vão matá-lo.  Viu que ela estremecia.

Sei que a senhora o protege, bem como a segunda esposa.   Mas eles tem que ir embora.

Meu marido não vai permitir, é cabeça dura. Nisso entrava na cabana um homem alto, como o rapaz que o tinha trazido, saio por um dia, isso vira uma bagunça disse.

Quem é esse homem, o que faz aqui com as duas.

Ele fez sinal para que sentasse.  Disse quem era, vim ao Senegal buscar seu filho homem mais jovem.  Seu filho mais velho vem nessa direção, o vai matar.  Tenho que levar a ele, bem como sua mãe, para fora daqui.

De jeito nenhum, fez milhões de objeções, ele se inclinou ao outro, lhe disse baixinho, não quer que eu conte para tua mulher aonde estiveste de noite, com essa garota que tem mais dois filhos teu.  Tens um piru magico, aonde encosta sai um filho.  Mas se não me deixa fazer isso, entre seus filhos vai haver muitas mortes.

Ficou olhando fixo para ele, não perdes nada, vai embora uma, trazes a outra.

Que ganho em troca?         Estou tentando falar a anos com a ministra de educação e turismo, queremos ajuda para fazer daqui uma aldeia Peul exemplar, ter um festival de música para atrair turistas, por isso temos essa aldeia Tuareg no meio do deserto.

Ele serio soltou, isso são dunas, não é o deserto, porque depois delas está tudo verde.  Ele se levantou, o garoto se agarrou a ele, com medo de ser abandonado.

Pegou sua mão, o levou com ele. Fora chamou o Mansur.  Tens o número de celular direto da ministra.   Ele ia dizer que não.

Não me faça te mandar tomar no cu, já aumentando a voz, a chame imediatamente.

Ele sem graça fez o que tinha pedido.  Ela atendeu, ele falou diretamente em Yoruba com ela, largue esse reunião agora, vá para sua sala, tenho que falar contigo, te chamo em dez minutos.

Eu vou fazer com que a ministra venha até aqui, o senhor vai assinar um papel, me dando esse menino em adoção, porque senão a coisa vai ficar feia, olhe quem está ao meu lado, colocou o dedo na testa do homem, ele viu o Bara que o acompanhava, bem como o do seu filho.

Este disse, me enterraste, mas estou aqui.

Chamou o celular dela outra vez.  

O senhor não para de causar problemas.

Vou te deixar livre , mas vou te ajudar também, se fazes o que eu te digo, ganharas um ponto com o primeiro ministro, mas tens que mexer essa bunda gorda agora.  Pegue um helicóptero, venha aonde seu empregado Mansur, diga aonde estamos.

Viu que ela gritava com ele, era como se ele tivesse metido o rabo entre as pernas como um cachorro sarnento.

Não deixe que ela fale assim contigo, depois te conto segredos dela.

Diz que estará aqui dentro de uma hora. 

Ótimo, Sami, arrume mais uns homens vá com esse homem aonde enterrou uma figura em madeira. Devem trazê-la aqui.   Disse a mãe do garoto, arrume suas coisas, vocês irão com a ministra embora daqui.

A outra olhava, não se preocupe, ele vai trazer outra terceira esposa, com dois filhos mais.  Ela soltou esse homem não pode ficar com o piru metido nas calças, fora outras com que tem filho por aí.

Chame as pessoas que tem problemas, ou estão doente, meu Bara vai atendê-las.

Elas tem medo, pois os homens são todos mulçumanos.   Que finjam que estão me vendendo alguma coisa.

Logo ele separava coisas, ao mesmo tempo que olhava as crianças, rezava, abaixava febres, pedia para a chefa limpar alguma ferida, em seguida cicatrizava a mesma.  Virou-se para ela, dizendo o nome de uma erva, faça sempre um chá para ti, quando estiveres furiosa com esse homem, tudo vai mudar, assume o mando de tudo, pois ele perde tempo fazendo política.

Uma hora depois o helicóptero, aterrissou perto das tendas, ele agarrou o garoto, subiu com ele um camelo, sem nada.  Os outros foram nos carros.

Ela estava furiosa.

A levou a parte, se me ajudas, eu vou te ajudar também, vais poder ganhar ponto.   Contou eu vi aqui só por causa desse garoto, seu Bara, pediu ajuda ao meu que conheces.  O irmão dele mais velho, saiu daqui dizendo que ia cruzar Mauritânia para ir para Europa, mas o que fez foi se juntar com um grupo radical, nesse momento eles vem para cá, te dou a localização se faz o que eu quero.   Ajude a mulher do chefe a melhorar a aldeia, trazer para cá um festival de música, sei que andas procurando um lugar interessante, aonde a gente possa curtir um Senegal diferente, isso seria aqui, olhe em sua volta.   Os turistas vão pensar que isso é um deserto, quando não passam de dunas.

Ajude ao chefe, mas não se esqueça que é a mulher que manda aqui.  Faça dela tua aliada, fale com ela, ele tem que assinar um documento me dando em adoção o filho.  A mãe dele, a leve contigo, ela pertence a uma irmandade religiosa, esse sem vergonha a raptou dali, aqui não é feliz, reúna as mulheres contigo, assim vences.

Alguma vez, desde que me conheceste em Paris, te dei alguma ideia de que não te fizeste bem, até disse para voltares, para entrar na política, se te cercas de mulheres, poderás ser até primeira ministra.

A deixou tomar rédea da situação, perguntou a segunda esposa se queria ir com ela, essa abriu um sorriso, dizendo que sim.  Olhou para o garoto, perguntou se queria ir comigo.

Este sorriu, ele veio me salvar, sonho com ele a meses, o Bara, é gente do bem, me dará uma vida melhor.

Lhe disse que precisava também dos documentos da escola, para poder coloca-lo em uma em Paris.

Ela, riu, você sempre pensa em tudo, verdade.

Falou com o homem, avisou que entrariam por ali, rebeldes, mas vou falar ministro do exército ele mandara tropas para defende-los, retire as crianças da aldeia, as proteja, pois esses renegados raptam as crianças,  vou mandar um comboio para isso, logo tratamos do festival de música nesse acampamento, mas deixarei como minha representante, tua mulher, ela terá meu número particular para falar comigo.

Ele estava de boca aberta, eu tinha resolvido sem querer coisas que ele levava anos tentando fazer.

Soltou rápido, preciso de dois professores na escola, já que a minha segunda mulher se vai.

Apontou a primeira mulher, ela vai sempre me dizer o que precisa aqui, mas não exagere.

Subiu no helicóptero com a mulher, ele fez sinal para o garoto, nos vemos amanhã a noite, ainda falou com a ministra, necessito que ele tenha passaporte.

Riu para ela, vais ganhar pontos com isso.

Sabia que era ambiciosa, por isso abusava, ainda soltou na frente do Mansur, tens um excelente empregado zelando pelas tuas coisa, mas creio que é melhor trabalhando no ministério.

Este depois agradecia.

Se despediu do pessoal, disse aos dois, colocaste a escultura no carro.

Sim disse Sami, esse cagão não queria.   Agora toca para Saint Louis, aonde tenho que fazer uma última coisa.

As mulheres tinham colocado comida no carro, comeram no meio do caminho, em Saint Louis, ele foi direto a igreja católica, o padre saiu correndo para abraçá-lo, meu irmão, meu irmão que vento os traz por aqui.

Se sentou ali nas escadas, quero que me ajudes com esses garotos que estão na rua, pedindo dinheiro para os sem vergonhas dos que lhes ensinam o corão, mas não quero a igreja católica no meio.   Monte uma reunião, com os mais importante da cidade, amanhã de manhã antes de ir embora, falo com eles.

Mansur, estava que não se podia.   Não consigo entender nada, vens buscar um menino que tem um Bara, segundo o senhor ele morreria se ficasse aqui.  Antes de sair de Dakar, se viu com o da mesquita, agora com o católico, afinal em que liga joga o senhor.

Esse é meu trabalho, ajudar, sem olhar a quem.   Sempre fiz isso em Paris, ajudo os católicos, os mulçumanos, vou a suas igrejas com respeito, bem como eles me consultam por várias coisas, é um toma lá dá cá, sem interferir nas soluções.

Foram para um hotel antigo, mas limpo, tomou um banho, caiu na cama, dormiu o sono dos justos, não queria comer.

No dia seguinte, perante a comerciantes, mulçumanos, católicos, falou como podia ajudá-los, conseguirei dinheiro para vocês mandarem esses garotos de volta para casa.  Aqui os estão explorando.  Um homem se levantou, dizendo que era professor desses garotos. O olhou de cima a baixo, veja como estás gordo, e os meninos morrendo de desnutrição, acho mais que não passas de um bom filho da puta.   Aliás te aconselho, a sair daqui, bem como da cidade, avisa aos outros que como você, que eu sou o Bara, quando falou Bara, a voz ecoava pela igreja, posso destruir o engano de vocês, estão tirando dinheiro, foi apontando as pessoas, mas não fazem nada.

Esses homens se levantaram furiosos.  Eu os colocaria para fora, agora por favor, me tragam esses garotos para serem examinados.

O fez um a um, tinha dado dinheiro para o Sami, pois Mansur era lento nessas coisas, na frente do hotel, tem uma padaria, junto tem uma mulher fazendo sanduiches, diga que venha até aqui com seu carrinho, com muitos pães, você vai pagando tudo que ela der para os garotos.

Deu dinheiro para ele, soltou para o Mansur, mexa essa bunda vá ajudá-lo.  No final do dia, saíram rumo a Dakar, chegaram tarde da noite, ele ficou no Ibis outra vez.  Uma garota falou com que o chefe agradecia muito, amanhã estará aqui, mas pode se despedir de sua mãe.

Tomou um belo banho, chamou o encarregado, se podia lavar suas roupas, não tinha nada limpo, tudo cheirava mal.

Quando despertou de manhã, bateram na porta com sua roupa limpa, passada.  Se vestiu o Kaftan branco, bem como o pano que antes estava amarelo de sujo, desceu para tomar café.

O chefe veio falar com ele, agradecia muito o aviso.

Soltou uma coisa que ele não esperava, hoje vou te trazer um garoto, que está pelas ruas, o vais educar, ensinar a trabalhar, será como o filho que perdeste.   Ame o garoto como se fosse teu.

Ficaram de boca aberta, quando o garoto que ele tinha ido buscar, correu para ele, do elevador, se pendurou no seu pescoço, falando com ele em Yoruba.   Virou-se para o outro, vê, eu levo o meu.

Sami apareceu com uma cara como sempre sorridente, se não tivesse família iria com o senhor, para trabalhar para si.

Disse aonde queria ir, cadê o Mansur.   Está com a mãe do garoto, preparando os papeis dele, agora vai trabalhar no ministério.

Pegou a mão do Léopold, disse vamos que temos muito que fazer.

Disse a direção exata aonde queria ir.     Pararam o carro, ele apontou ao Léopold, vê aquele garoto assustado, ontem o pegaram, vá até ele faça com que venha falar comigo.

Viu que, Léopold tinha que insistir muito.   O garoto contou toda sua história, seu pai o tinha dado para o clérigo, para que ensinasse o Coran, pois era o mais frágil de seus filhos, quando deixou de mandar dinheiro, o mesmo o colocou na rua.   Estava uma semana comendo comida do lixo.

Voltaram para o hotel, ele disse ao Sami, vê aonde é a entrada de serviço, chama o chefe.

Quando esse apareceu, apresentou o garoto, disse, esse agora substitui o filho que perdeste, não cometa os mesmo erros. O trate bem.   Lhe entregou umas roupas e sapatos que tinha comprado para o garoto, que tome um bom banho, raspe sua cabeça que deve estar cheia de piolhos, depois o mande falar comigo no restaurante.

Falou com a ministra que disse que o ministro do exército, tinha sobrevoado a zona que ele tinha falado, mandou mais gente para a aldeia, afinal de contas ali é fronteira.

Fico super agradecido pela informação.  Já tenho os documentos do garoto, sua mãe já se despediu dele, me contou sua história, na verdade nunca se sentiu mãe dele, abriu mão de tudo, o que quer é voltar para a vida em clausura.

O voo sai hoje de madrugada, chegarás cedo em Paris.

Um último pedido, o Sami, é um excelente resolve tudo, bem como guia, conhece bem o Pais, eu se fosse tu, o contratava para trabalhar para ti.

Mande que passe aqui amanhã, estou louca para te ver pelas costas, riu muito do comentário.

Ele ficou a tarde inteira falando com o dois garotos, agora teriam vidas diferentes,

Olhou os documentos do Léopold, riu, tinham errado, colocado como apelido o seu, Léopold Abe Bara.  Lhe mostrou, agora eres meu filho de verdade.

Ficou depois conversando com o Sami, dizendo algumas coisas que o ajudariam a lidar com a Ministra.

Por que fazes isso por mim Bara?

Porque foste quem me ajudou a resolver tudo, não o tonto do Mansur.

Quando chegaram no aeroporto, outra confusão, aquele garoto negro não podia ser seu filho, tampouco podia levar aquela escultura.  Ele tranquilamente chamou pelo celular, a ministra, a passou para o chefe dos policiais, até para ir embora, causas problemas.

Depois o voo foi tranquilo com Léopold segurando sua mão.  Aterrissaram em Paris, por volta das 10 da manhã, tinha contado ao Léopold como tinha ido à primeira vez ao Senegal, eu era um jovem tonto, nem sabia o que se cruzava no mundo.  Com isso quero dizer, tinha a informação, mas não sabia usa-la, sabia que existiam os Orixás, mas pensava que como era jovem, bonito, querido pelas pessoas, que isso por si só valia, me lasquei.

Mas foram os Orixás que guiaram meu caminho, eu nunca entendi por que me mandaram para Paris, até que tudo começou a se encaixar, foi quando pude ver também o meu Bara, ele me indicou o caminho.

Estava parando na frente de uma casa grande, na rue du Progrés, saíram pela porta, um monge, um cura, um mulçumano, bem com um com roupa diferente.  Todos riram da sua cara, venha conosco, foram ajudando a ele, bem como Sedou.

Meu filho, riu dizendo agora tem sentido quando digo isso, pois ele oficialmente é meu filho, mostrou aos outros seu passaporte.  Passou de mão em mão, o monge, um homem baixinho com barbas brancas, tiveste sorte, será um pai maravilhoso, ele aqui faz o papel de pai de toda gente.

Lhe explicou que eram uma comunidade, de todas as religiões, das pessoas que moravam na zona, estamos aqui para ajudar, tentar resolver seus problemas, as vezes damos abrigos aos que necessitam.    No fundo da casa, tinha outra casa menor, o Bara vive aqui, entraram, tinha um sala com uma cozinha pequena, banheiro, no andar de cima dois quartos.   Um agora é teu Léopold.   Vou tomar um banho, assim depois os amigos me colocam em dia.  Sedou tinha deixado em cima de sua cama, a escultura de seu Bara, escolheu um lugar, sempre o teria perto para não deixar esquecer quem era. Foram todos comer num restaurante argelino que tinha ali perto, ele ia apresentando a todos Léopold como seu filho.  Todos apertavam suas mãos.

Depois saiu andando com ele pelo bairro, as pessoas paravam para falar com Sedou, fossem brancos, negros, árabes, ou senhoras que eram católicas.   Todos falavam com ele.  O monge disse é duro sair na rua com nosso amigo, todos lhe querem, pois está sempre aberto ajuda-los.

Venha, o levou a um parque ali perto, que estava cheio de garotos da sua idade. Esse vieram para perto chamados pelo monge, o apresentou a eles, Léopold chegou hoje do Senegal, vai a mesma escola que vocês, todos estenderam a mão para ele.    Perguntaram se sabia andar de skate, pois cada um tinha um na mão, o deixaram ali com os garotos, sentaram-se num banco, com Sedou contando toda a viagem.

Pensei que ia ser mais difícil, mas consegui cumprir minha missão.  Falaram dos problemas que tinham acontecido durante sua ausência bem como o tinham resolvido.

Léopold riam quando um dos garotos lhe emprestou o skate, conseguindo andar alguns metros.

De noite estava cansado, amanhã vamos levantar cedo pois tens que ir a escola fazer um teste para saber aonde te encaixam.

Tinha sido tanta novidade, que desmaiou.

Escutou ruído na casa, olhou o relógio de cabeceira, eram as seis da manhã, se levantou, não era um desses que ficam na cama, lá na choça, acordavas, saias para fora.

Desceu a escada, viu que Sedou estava rezando, foi para o banheiro, já sabia como era, tomou um banho, adorava isso, lá era difícil, tinha que se banhar numa bacia, nas águas usadas pela sua mãe.   Se lembrou dela, estava falando com ele sempre sobre o convento que tinha vivido, dizia que sentia falta da tranquilidade, da paz de lá.   Ansiava para voltar.

Agora entendia essa mistura de religiões tinha sonhado com seu Bara isso, o trabalho que o Sedou faz, é juntar todo mundo para ajudar a quem precisa.

Viu depois que num canto ele tinha uma pequena mesa redonda, com guias, as coisas do Ifá, olhou sem querer, seu olhar, fez com que as pedras, as conchas se movessem, lhe diziam vai dar tudo certo.

Sedou estava olhando, fizeste isso com o olhar.   Fantástico.

Na mesa, já tinham fruta, café, leite, ele tomou café com leite, a primeira vez tinha sido no hotel, nunca tinha provado.   Comeu pão com manteiga, sem querer, fez um som de HUM, era uma delícia. Riu, acho que é gostoso.

Sedou lhe estendeu um casaco, hoje faz frio, ele estava todo de branco, com seu turbante, sua guia atravessada, jogou um casaco que já tinha visto dias melhores por cima.   Riu dizendo eu nunca compro roupa, as pessoas trazem alguma coisa, eu aproveito se encontro algo do meu tamanho.

Fazia frio, mas ele estava de sandálias.

Vamos a escola, o monge ia junto, perguntou seu nome, o senhor me desculpe, mas ontem na confusão não perguntei.

Meu nome é Macário pois sou monge Copta, que venera São Macário, aqui não tem muitos egípcios coptas, mas ajudo o Bara.   As dificuldades que tiver na escola eu te ajudo, fui um bom estudante.    Dou aulas na Escola de história.

Se apresentaram a diretora, ela riu para o Bara, o que necessitas desta vez meu pai, era uma negra grande, pelo jeito de falar era do Senegal.

Quando soube que ele era de lá, lhe deu um beijo na cabeça, seja bem-vindo, sabes escrever, ele balançou a cabeça, o levou para uma sala ao lado.  Vou passar uma série de testes para saber aonde te encaixo.  Disse ao Macário, qualquer coisa te chamo.

Meu filho Léopold fique tranquilo, responda todas as perguntas ok.  Depois Macário te leva para casa.

Ela colocou duas folhas na frente dele, aquilo era muito fácil, sempre tinha estudado com sua mãe, que tinha uma certa formação.  Quando acabou entregou, ela perguntou, se ele queria ir ao banheiro ou tomar água.  Depois lhe passou outras folhas de papel, respondeu tudo, mais outra, ficou impressionada com a inteligência dele.  O encaixou numa turma mais adiantada que sua idade.

O levou com ela atravessando todo o colégio, é a turma mais complicada que temos, muitos tem famílias mais complicadas que eles mesmo, uma mistura de raças, religiões, algum ou alguma irmã nas drogas, nunca aceite nada que te ofereçam, são barulhentos, mas sejas tu mesmo, qualquer coisa sabes aonde estou.

Quando entraram na sala, quem estava na mesa dos professores, era um negro imenso, talvez por isso o silencio.  Professor Joseph, este é Léopold, um novo aluno, veio do Senegal, ontem, é filho do Bara.   Se escutou um murmúrio, ele viu o garoto que tinha emprestado o skate para ele no final da classe, foi se sentar perto dele.  A partir desse dia, seria seu melhor amigo.

Me chamo, Mahmud, sussurrou, já consegui um skate para ti, falta uma roda, mas já conseguimos.

O professor, era de matemática, estava explicando uma coisa que ele já sabia, mas ficou quieto, quando perguntou quem sabe a resposta, ninguém levantou a mão.    Ele tampouco sabia que tinha que fazer isso para falar, deu o resultado para o professor.

Venha aqui acabar, ele se levantou foi ao quadro fez a parte final do exercício, sem se tocar, seguiu em frente, partindo para uma equação que sua mãe tinha lhe ensinado, a partir desse resultado.   O professor o ficou olhando. 

Como sabes isso, minha mãe me ensinou, foi minha professora desde pequeno.

Essa equação era o exercício seguinte, agora explique para os seus companheiros, para que entendam.    Assim o fez, mas de uma maneira simples, todos entenderam.  O professor Joseph, soltou perdi meu emprego, soltou uma gargalhada tão alto que todos riram.

Este depois entrou na sala dos professores, rindo, coisa rara, me tocou hoje um novo aluno, que me roubou a aula, resolvendo uma equação, que era o exercício da aula seguinte.

É verdade que é filho do Bara?

Sim foi adotado no Senegal.  Segundo a diretora, está mais adiantado em muitas coisas que os outros de sua idade.

Ele não tinha trazido comida para o recreio, nem tinha dinheiro, mas viu Sedou entrando, me esqueci isso meu filho de te dar a merenda, desculpa não estou acostumando, se sentou com ele no chão, logo os garotos do skate, vieram sentar ao lado deles.   Mahmud, disse que tinha conseguido um skate para o Léopold, mas que faltavam uma roda, temos que ir comprar.

Estarei aqui no final das aulas, vou com vocês, mas com uma condição tem que me ensinar também.   Riram todos imaginando o Bara com aquela sua roupa estranha andando de skate.

Ele percebeu, assim creio que irei mais rápido.

Voltaram para a aula, agora era de inglês, ele sabia alguma coisa, mas nisso estava atrasado, prestou a máxima atenção, enquanto alguns faziam bagunça.

Aprendeu a conjugação de um verbo, logo ela ensinou uma música que ficou na sua cabeça com esse verbo.   Perguntou de quem era essa música?

É antiga, dos Beatles, na próxima aula, vamos cantar a mesma.

Um dos garotos lhe perguntou se nunca tinha escutado essa música?

Não, lá na aldeia, não tínhamos rádio, tampouco televisão, vi no hotel antes da gente vir para cá. Mas aprenderei a escutar, cantar essas músicas. 

O outro o olhou, que tonto.   Nós gostamos de outro tipo mais moderno, fez uma rima.

Léopold, soltou que interessante, fizeste uma rima com duas palavras importantes da vida.

O outro fez um sinal que estava louco, pois tinha usado as palavras, sem saber o significado.

Ele se entendia bem com os garotos do skate, principalmente com Mahmud, os outros achava que estavam em outra vida que ele não entendia.

Quando saíram da escola, ele ia com uma lista de coisas que tinha que comprar.  Sedou estava com Macário esperando para irem fazer compras.   Comprou cadernos, se lembrou que tinha visto que Mahmud não os tinha lhe perguntou baixinho porque não os tinha, esse respondeu em sussurro.  Comprou um caderno de desenho para ele também, com lápis de cores.

Perguntou ao Sedou se os podia comprar, mas tudo baixinho para não atrair atenção, nem ofender seu novo amigo.

Quando Mahmud mostrou o skate, viram que era muito velho, mas compraram a roda que faltava.  Léo como o Mahmud, estava feliz, pois era um presente do amigo.

A partir desse dia ele seria Léo, Mahmud, Mud, assim se chamavam entre eles, lhe contou que tinha nascido no Marrocos, que sua mãe era viúva, que seu cunhado exigiu casar com ela, uma coisa antiga do país, tinha duas filhas com ele.  É muito violento.

Dias depois Mud, faltou um dia a aula, no outro apareceu cheio de marcas vermelhas pelo corpo.   Macário cada vez que o olhava dizia que esse garoto esta subnutrido, então quando preparava o lanche de Léo, fazia um outro, lhe sussurrava que era para seu amigo Mud.

Quando Mud lhe contou, que seu padrasto tinha lhe dado uma surra por ter defendido sua mãe, ele ficou furioso.   Da próxima vez me chame.

Mas como vou te chamar?

Basta que pense em mim. 

O outro não acreditou, fizeram um jogo, Mud, se escondia num lugar, o chamava em pensamento, em seguida Léo estava ali.  Fizeram muitas vezes isso, pois ele não acreditava muito.

Num final de semana, estava sentado fazendo suas tarefas, Sedou, estava lendo no sofá, de repente a mesa de leitura do Ifá, começou a tremer, os búzios, as pedras, começaram a correr, ele se levantou ficou olhando.    Meu amigo Mud me chama, vens comigo, pai Sedou?

No caminho se juntou o Macário que não aguentava acompanha-los.  Subiram na frente a escadaria do edifício que vivia o Mud. A porta estava fechada Léo fez um gesto a porta se abriu a cara do padrasto era ótima, levou um susto.   Mud estava no chão cheio de sangue, sua mãe escondendo as meninas atrás dela.  Ele ia avançar, Léo deu um urro, parecia um leão, começou a falar em árabe, foi avançando com o dedo em riste, filho da puta, sem vergonha, não respeitas a Alah, bates em mulheres, crianças, pior bebes álcool, aonde estão os ensinamentos do profeta, cada vez se chegava mais perto dele.  O homem, não via Léo, sim o seu Bara, um negro imenso, nu, com uma lança apontando ao seu pescoço, gritava tirem esse homem daqui, nisso tinha se mijado nas calças, pelo cheiro devia ter se borrado também.    Macário já tinha chamado a polícia, bem como uma ambulância.    Sedou disse que levasse a senhora e as meninas para a missão.  Quando a polícia chegou, torceram o nariz, estamos cansados de vir aqui, porque esse sem vergonha sempre encontra uma maneira de escapar na hora que chegamos, normalmente pega sua mulher, por não ter comida para ele em casa. Mas ele não dá nenhuma  quem trás dinheiro é o garoto que trabalha com esse outro num armazém.

Sedou não sabia que Léo estava trabalhando.

Sorriu, não posso ficar pedindo dinheiro para minhas despesas para o senhor pai.   Os dois trabalhavam repondo, organizando o armazém de um marroquino.    Assim Mud, tinha dinheiro para levar para casa, bem como comida para irmãs.

A ambulância chegou, pediu desculpas, pois tinham errado de endereço.  Examinaram Mud, tem que ir para o hospital.  Foram os dois acompanhando o Mud.   O homem berrava, que lhe tirassem do lado esse homem com a lança.

Realmente tinha se cagado na calça, pois se via uma mancha na traseira, os policiais, reclamavam que depois iam ter que limpar o carro.

Sedou lhe perguntou enquanto esperavam os exames, como tinha sido isso.   Eu lhe disse que me chamasse na hora que tivesse problemas.  Sempre aparece na escola, com manchas vermelhas o padrasto lhe pega, bem como a sua mãe.   Não traz dinheiro para casa, gasta em bebida.  Aí pega a mulher, se ele não está, as meninas.

O teu Bara, parecia um leão enfurecido, creio que interpretou o que eu senti, tenho que controlar isso, pois minha vontade era de matar esse animal que pega crianças, por isso ele tomou conta da situação.

Que vamos fazer agora?

Primeiro saber como está o teu amigo Mud, depois irei falar com sua mãe para saber como podemos a ajudar.

O médico comentou que mais um tempo esse menino tinha morrido, teria que ficar em observação pois o caso era sério, podia ter algum problema interno.

Eu fico com ele pai.   O médico conhecia Sedou a muitos anos, olhou para ele, sem fazer perguntas, sabia que com ele tudo era possível.

Esse é meu filho Léopold, amigo do Mahmud. Pode ficar com ele?

Sim, claro me acompanhe jovem.  Sedou disse que ia ver se a senhora estava bem, assim como as garotas.

Mahmud, estava sedado, ele ficou ali sentado olhando o amigo.  Tinha raiva guardada dentro do peito, por isso começou a rezar, para se relaxar, ao mesmo tempo que pedia aos Orixás que cuidassem se seu amigo.

Quando este despertou, a primeira coisa que disse foi, funcionou, eu te chamei apareceste. Esse filho da puta levou um susto.   Mas quem era aquele negro, imenso.

Um dia te conto essa história.   Fique tranquilo, tua mãe, está na missão, o teu padrasto na cadeia, Sedou disse que ia conversar com tua mãe, para ver o que pode fazer por ela.

A história era complicada, pois, o pai de Mahmud, tinha uma parcela, que tinha divido com os irmão da herança do pai.   Sem querer lhe tocou as terras mais produtivas, quando ele morreu os cunhados ficaram de olho, quando apareceu o irmão que vivia em Paris, fizeram com que esse exercesse o direito de se casar com a viúva.   Este era violento, a arrastou para Paris, mas vivia bebendo tudo que ganhava do pouco que trabalhava.   Se meu filho nos últimos tempos não trás dinheiro ou comida, as meninas já tinham morrido de fome.   Pior ele chega, quer comida, como vê que as meninas comeram, quer também, mas nunca compra nada, explode em cima de mim e de meu filho.   As vezes ameaça bater nas meninas, que são muito pequenas, uma vez quebrou o braço de uma delas.   Mas cada vez que meu filho que agora está crescendo me defende, leva a pior.

Perguntaram o que ela queria fazer?

Quero voltar ao Marrocos, recuperar as terras que são minhas de direito, trabalhar para sustentar minhas filhas.  Mas não tenho dinheiro para fazer isso, contratar um advogado para recuperar o que é meu.

Já resolveremos isso, chamaram dois senhores marroquinos, que disseram que isso acontecia sempre.  Que era um pouco complicado recuperar as terras, mas não impossível.

Primeiro vamos esperar Mahmud se recuperar, vamos ajuda-la, levaram as três para uma casa de mulheres maltratadas, ali, ele não poderia entrar.  Mandou um advogado, forçar a prisão do mesmo, assim ganhariam tempo para resolver tudo.

O advogado depois chamou por celular, contando que estava numa cela sozinho, pois não parava de dizer que o negro com a lança ia mata-lo, acham que perdeu a chaveta.

Mahmud passou três dias no hospital, Léo ia de manhã a escola, depois compartia o que tinha aprendido com ele.

Sedou foi falar com a diretora.

A amizade do Léopold, lhe fez bem a esse garoto, aprende rápido, porque o que os professores ensina, as vezes não entende, mas teu filho lhe explica tudo.  Principalmente matemática, aliás o professor, está revendo sua maneira de ensinar por culpa do Léopold, disse que ele consegue simplificar tudo.  

Seria uma lástima esse menino voltar para o Marrocos numa aldeia, jamais poderá ir em frente.

Nesse dia lhe perguntou se queria deixar os estudos, para ir para o Marrocos.   Ele queria estudar, viviam os dois dizendo que queriam ser médicos, por isso, se esforçavam nas aulas de ciências.

No ano seguinte entrariam para a pré fase antes da universidade, já tinham escolhido ciências que lhes permitiria fazer medicina.  Léo diz que se estudamos muito, conseguimos fazer com bolsas de estudo, assim nem o senhor, nem minha mãe precisam se matar para pagar.

Tua mãe quer voltar para o Marrocos, com as meninas, queres ficar aqui comigo, com Léo e os da missão.

Sim senhor, seria um sonho, mas vou continuar trabalhando com o Leo no armazém para não pesarmos nos gastos da casa.

Ele ria, achava incrível o Léopold pensar nisso, quando a maioria dos garotos só pensava em gastar dinheiro.  Se lembrou dos skates deles, lhes faltava pedaços de madeira, mas não se importavam.   Iam todos os dias para escola, com eles.

Sentou-se com Macário, os outros do grupo, conversaram a respeito.   Macário disse que conhecia advogados no Marrocos, pois tinha vivido lá.  Começou a mover as coisas, ao mesmo tempo Sedou conversou com a mãe.   Ela concordava seu filho era inteligente, merecia uma coisa melhor.  Sem dúvida o deixaria sobre a guarda do Sedou, pois todos sabiam que era um homem integro.

Quando Mahmud saiu do hospital, foi para a casa deles, os irmão tinha conseguido colocar uma cama dessa supletórias que ficam embaixo da outra, assim poderiam compartir quarto, a mesa de estudos.  Dava gosto ver, os dois estudando, levavam a sério isso.

Um dos irmãos, conseguiu livro do curso seguinte, principalmente os de Ciências, os dois já estavam mergulhados neles.

Sedou resolveu ir com Macário, ao Marrocos, assim saberiam que ela estaria bem.  O acordo que chegaram com os irmãos, foi que pagariam o que valia a terra, assim ela poderia comprar outras, na aldeia de aonde tinha saído, tinha parentes lá.

Quando voltaram Macário contava as confusões que aprontava Sedou, quando os irmão primeiro queriam engana-la, soltou o Bara em cima deles, fugiram assustados, estão como o irmão acostumados a maltratar as mulheres.

O melhor é que ela nunca assinou nenhum papel, assim não podia dizer que eram os proprietários.

Mahmud ficou mais relaxado, agora as vezes chamava Sedou de pai também, mas o interessante era com Macário que os dois contavam as coisas.

Sedou o começou a levar a mesquita, lhe ensinava a se preparar para entrar, rezar, Léo o acompanhava.  Entendia agora o que era respeitar todas as religiões.

Mas o que fascinava Mud, era ver como ele movia as peças do Ifá, sem tocar.  Isso lhe explicou Macário, é porque tem um Bara muito poderoso, agora que estava livre de ter sido enterrado na areia tinha recuperado suas forças.

A mãe do Léopold sempre escrevia, ele lhe respondia com todo respeito, comentando seus avanços na escola.   Sempre vinha um bilhete para o Sedou.

O tempo voava, Mud, começou a esticar agora que recebia uma alimentação melhor, os dois já tinham o mesmo tamanho, Macário reclamava que eram maiores que eles, quando queriam falar com ele, os mandava sentar, para não ficar olhando para cima.   Isso não fica bem para um senhor de idade.   Estudava ciências com eles, pois tinha formação em muitas coisas, um dia contou por que o tinham obrigado a sair do Egito, o tinham visto tratando de um doente, tudo com ervas.  O consideraram um bruxo, para não prejudicar sua comunidade aceitou.  Mas claro em Paris, a princípio não encaixava, até que conheceu Sedou.   Agora era como seu braço direito, tinha facilidade de conversar com as pessoas, de chegar até elas.

Os dois estavam prontos para irem a Universidade, fizeram os exames, passaram com a melhores notas.  Mas não queriam ir-se dali. Podia viver perto, mas se levantavam mais cedo para chegarem na hora.    Os professores encantados, um dizia, chegam esses filhinhos de papai, pensam sabem tudo, os dois ao contrário, respeitam os professores, são educados, o senhor os educou bem Mestre Bara.

Eu não, quem os educou foi Macário, um dia o levou a Universidade, riram, pois, para ele era como estar em solo sagrado.   Dizia eu o conhecimento era isso, sagrado.

Tinha estudado, filologia além de história no Cairo, os meninos, Sedou, o incentivaram a convalidar seus diplomas, agora ia com eles logo de manhã, acabadas suas duas aulas que fazia voltava correndo para a missão, dizia que se sentia como avô dos outros alunos.

Tinha tanto conhecimento em várias línguas que o contrataram para dar aulas.

O mais interessante, enquanto todos os alunos que iam de práticas para os hospitais, pediam sempre para alguma coisa fácil.    Sedou tinha conseguido com o médico que tinha atendido o Mud, que eles nas férias fizessem práticas no hospital.  Quando chegou o momento de fazerem isso oficialmente, escolheram esse hospital, não estava entre os mais cotados, os professores não gostaram, a resposta, foi, nossa comunidade nos necessita.

Eram os dois trabalhando ao mesmo tempo.   Léo tinha uma facilidade que escondia, o Bara, lhe indicava aonde estava o problema, mas fazia de tal maneira que ninguém desconfiava.

Logo quiseram contrata-los, Mud, escolheu cirurgia, Léo também, mas ligado a urgências. Assim estaria entre o povo.   Numa férias se uniram a uma ONG, foram para a Africa, precisamente para o Mali, junto ao um batalhão do exército francês, atendiam todo mundo.

Um dia, tiveram que atender urgências no quartel, o fizeram em conjunto, depois o comandante diria que pareciam uma máquina que funcionava bem.   Que tinha salvado os cinco soldados feridos tão rápido, que os outros médicos ficaram de boca aberta.

Quando voltaram, ficaram numa dúvida cruel, se cada um deveria voltar ao seu pais, para ajudar aos seus, ou ficar ali ajudando os emigrantes que viviam em Paris.

Acabaram ficando, pois decidiram entre eles, seguiriam nas férias indo por Africa para ajudar.

Um dia da semana ele atendia pessoas africanas que buscavam explicações no Ifá.  Nunca renegaria de suas origens.

Sedou seguia em plena batalha, junto com Macário agora com quase 90 anos, mas não parava.

De manhã, acontecia uma coisa interessante, os integrantes da missão, cada um ia a sua igreja, para rezar, depois voltavam todos para suas obrigações.  Nas festas de uma, iam todos, não importava qual.   Eles eram o exemplo para sua comunidade, de que raças e religiões podiam conviver.    Era como faziam Mud e Léo, ia junto a mesquita, como a uma sinagoga, ou igreja católica, bem como Mud se sentava para ver Léo ler o Ifá.

Sedou dizia sempre que podia morrer tranquilo pois tinha realizado a missão que lhe tinha dado. Mas dizem que durou até os 105 anos, lamentando a perda do seu amigo Macário.

Quando este morreu, na cerimônia que fizeram, falou do encontro dos dois, como tinha sido, os que estavam assistindo conseguiam imaginar, um tão alto, branco como a neve, vestido de babalorixá, o outro um simples homem, com suas roupas de monge.

No primeiro momento sequer entendeu o que eu lhe dizia, nos sentamos, na praça aqui perto, ali virou nosso lugar de encontro, lhe contei minha missão, imediatamente se dispôs a incorporar, por vezes trazia gente de outras religiões para nos falar delas.  Budistas, as distintas ramas do mundo árabe, me dizia, isso fará que entendamos nossos vizinhos, assim podemos os ajudar.    Estava coberto de razão, essa missão que criamos com todas as religiões, não existiria sem ele.

Agora nas horas vagas Mud e Léo ajudavam no que podiam, Sedou, não entendiam por que não falavam de relacionamento.  Até que descobriu que os dois viviam como um casal, eram amantes desde jovem, quando passaram a compartir quarto, descobrindo o sexo, mas nunca falaram ou alardearam para ninguém, era uma coisa entre eles.

Ria muito quando comentava alguma coisa, esperando a resposta, um olhava para o outro como dizendo falas tu.  Mas sabia que era o pensamento dos dois.

Quando a mãe de Léopold morreu, foram ao Senegal, mas só avisaram o Sami, que hoje tinha um cargo no ministério, quando perguntou pelo Mansur, riu dizendo meteu os pés pela mão, rapidamente, se confundia muito com o mundo político.   Eu faço que entendo, deixo falarem, faço o que tenho que fazer.

Veio com eles a cerimônia, contou que tinha voltado vária vezes lá, que os dois eram um mito por lá.  Alguns diziam que era uma história que tinha sido inventada.  Os que tinham visto de perto exageravam na história que parecia mítica.   Diziam que Sedou, tinha montado num camelo a pelo, levando Léopold com ele através do deserto até Paris.

Mas que nem o chefe, nem sua mulher estavam mais vivos.

Voltaram para casa, como não aconteceu nada no aeroporto, porque Sami os acompanhava até o avião, Sedou riu dizendo que ele queria ter certeza de que não iam ficar por lá para fazerem confusão.

Um dia telefonou, perguntando se podia vir, estava viúvo, as filhas casadas, precisava alguma coisa que movimentasse sua vida.  Isso ele sabia que o Sedou provocava.  Veio, tempo depois ocupava o lugar do Macário quando este morreu.

Agora, dirigia a missão, apesar da idade, com Léopold e Mahmud, além dos outros companheiros, um ou dois de cada religião, os tempos eram convulsos, precisavam de todo apoio possível.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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