BRUNO GAZZ
Ele tinha uma diferença
de 4 anos com os irmãos, só descobriria mais tarde por quê?
Os outros eram
uma escadinha, com uma diferença de um ano entra cada um.
Ele era o mais
velho, depois outro garoto, uma menina e o pequeno outro menino daqueles que
por tudo chora.
As brigas entre
seus pais eram intermináveis, mas acabavam sempre na cama, tinha direito a
tudo, bofetadas de ambas partes, bem como beijos no meio, isso ele nunca tinha
entendido, os motivos eram os mais banais possíveis.
Só não havia
brigas quando ele estava trabalhando pela noite de guarda noturno, eram épocas
de paz. Embora sua mãe chegasse todo
dia com uns copos a mais, dizia que tinha direito, depois de um dia inteiro em
pé no restaurante que trabalhava, senão relaxo posso explodir, mas não se
preocupava que os meninos tinham que comer.
Ele com treze
anos, arrumou um emprego no armazém de um indiano a volta da esquina. Este dizia que era o primeiro garoto que
entrava para pedir emprego, não para roubar.
Era boa gente com ele, se via que seu pai ou sua mãe iam entrar para
qualquer coisa, o avisava para se esconder.
Pelo menos levava
comida para os pequenos, coisas que eles comiam sem reclamar. No verão os levava na parte de cima do prédio
que tinha como uma grande varanda, ele adorava ali, pelo menos tinha paz, podia
ficar vendo o panorama da cidade.
Moravam no Bronx, do alto do edifício, podia ver o rio, Manhattan.
Tinham um vizinho
que fazia a mesma coisa, subia para comer, sempre trazia batatas fritas do
restaurante que trabalhava, os pequenos adoravam.
Até que seu pai
descobriu, ficou uma fera, como podia ficar comendo com um negro, ainda por
cima gay. Levou uma surra de fazer gosto, o argumento
era que se os meninos se contagiavam, viravam gays. Tinha vontade de argumentar, nessas alturas
eu já virei, pois a anos convivia com esse homem. Mas nessa hora mais valia a pena ficar
quieto, não argumentar, pois senão a surra seria maior. Tudo sempre caia em cima dele.
Ultimamente a
cada briga os vizinhos os denunciavam, a polícia aparecia, mas nem assim
resolvia. Por duas vezes o levaram para
ver o sol nascer quadrado, mas o soltavam pela manhã para ir trabalhar.
Mal o levavam,
sua mãe descarregava em cima dele, como se tivesse feito alguma coisa errada,
que ele devia se fazer cargo dos pequenos, que isso era alguma coisa que ele
podia fazer direito, se argumentava, levava uma bofetada na cara.
Com tudo isso,
era o melhor aluno de sua classe, suas notas eram sempre notáveis, obrigava
quando estava em casa que os pequenos estudassem. Eles entravam na escola de manhã, só saiam
quando ele ia buscar, depois de trabalhar.
Mas não tinha sido nenhum dos dois que tinha conseguido isso, mas sim
ele, que conversou com a diretora.
Qualquer coisa era a ele que chamavam.
Mas quando chamava a atenção dos menores, respondiam na sua cara, que
não era o pai deles.
Um dia apareceu
uma senhora, bem arrumada, se apresentou como sua tia, quando sua mãe chegou
ficou uma fera, viu as duas discutindo, sua mãe completamente descomposta, ao
lado da outra parecia uma velha. Nisso
chegou seu pai, a coisa foi a pior, a pegou pelo braço, a arrastou para fora do
apartamento dizendo que não devia voltar a casa deles. Enfie seu dinheiro pelo cu, puxa saco de
curas.
Mas ela tinha lhe
dado um papel com seu telefone. Falou
com ela desde o armazém, de repente aos 17 anos descobriu que não tinha futuro
nenhum. Não poderia ir à universidade,
nem com bolsa de estudos, quem iria cuidar dos garotos. Falou com a tia, esta disse que falasse com
seus irmãos, estava disposta a que viessem viver com elas.
O pequeno contou
ao seu pai, este lhe deu uma surra de fazer gosto, que ele se metesse em seus
assuntos. O melhor que fazes é ir embora
dessa casa, aqui não serve para nada.
Conseguiu escapar para a varanda do edifício.
O homem negro
tinha escutado tudo, é garoto lhe disse, não tens muitas escapatória, ou ficas
para seguir cuidando dos teus irmãos, que me parecem ingratos, ou vais
embora. Comigo foi assim, tive que ir
para o exército, para escapar de uma família como a tua, os meus eram piores
pois se metiam drogas. Quando entrei
para o exército, diziam que eu tinha barriga furada, pois comia pelo menos duas
vezes em cada refeição. Encostou sua
cabeça no ombro do homem, ao parecer era o único que o entendia, falou da sua
tia, sua mãe, dizia que tinha dinheiro, mas que era carola até o fundo da alma,
que ia todos os dias a igreja.
Este riu,
tampouco é uma boa solução, siga sua vida em frente, não olhe muito para trás
pois a ingratidão das pessoas é sempre muito grande.
Sem saber por
que, lhe deu um beijo.
O homem disse que
não fizesse isso, eres menor de idade, podem me prender por causa disto, um
negro, beijando um garoto branco, menor de idade. Se levantou, espero que encontres uma saída,
foi embora.
Nunca tinha se
sentido tão sozinho na vida como agora.
Uma família que não o queria, a tia mal a conhecia. Dormiu ali em cima todo encolhido, pois o
inverno chegava. No dia seguinte, fez
sua mochila, passou pelo armazém, disse ao indiano que ia entrar para o
exército, pois a situação em casa era ruim demais. Pagou seu salário completo, agradeceu.
Encontrou um
posto de recrutamento, se apresentou. Duas
horas depois, apareceu um ônibus, recolhendo os que tinham se inscrito nesse
dia. Os levaram para um aeroporto,
embarcaram para San Francisco. Lhe
fizeram os documentos, como se ele tivesse 18 anos. No dia seguinte começou o treinamento. Estava tão acostumado a dar duro, que era um
dos poucos que nunca reclamavam de nada.
Quando chegava de noite caia na cama, desmaiado, mas pela primeira vez dormia
em paz. Sem escutar discussões, gritos,
porradas, coisas do gênero.
Logo viu que um
sargento o observava nos treinamentos, que ele sabia lidar com os conflitivos,
o encaminhou para o grupo que seria da Polícia Militar. O treinamento era mais pesado, pois teria que
lutar com homens algumas vezes mais fortes do que ele. Como por milagre, começou a desenvolver seu
corpo, inclusive cresceu mais. Depois
de seis meses de treinamento era um dos melhores. Quando foi para a frente, na guerra do
Golfo, chefiava um grupo de Policiais, dava um duro danado conter os jovens,
muitos sem preparação nenhuma. Quando
os tinha que levar para enfermaria ou coisa parecida, ajudava, aprendeu a dar
pontos cirúrgicos, a cuidar feridas superficiais. Qualquer coisa o chamavam quando estavam
transbordados. Ficou conhecido como o
faz tudo. Voltou para os Estados
Unidos, lhe ofereceram um curso de enfermagem de campo. Tinha que ser rápido nos trabalhos, além de
ajudar os médicos nos diagnósticos. Ele
gostaria de ter estudado para médico, mas dinheiro que é bom nada.
Dali foi para
Kandahar, ficou três anos ali, seu dia era completamente intenso, aprendeu a
dormir inclusive encostado em algum lugar.
Foi promovido várias vezes por
seu serviços, os comandantes dos hospitais de campanha apreciavam seu
trabalho. Sabia lidar com os soldados,
os tranquilizar com sua voz rouca. Quando voltou ao Estados Unidos, para um curso
de especialização numa base de Washington, telefonou para sua tia, mas nunca
atendia o celular, até que um dia, disseram que esse número já não existia.
Pediu a um
companheiro que estava de férias em NY, que se informasse sobre sua família, o
que descobriu era que seu pai estava preso, por ter matado uma mulher, não
sabiam informar mais, que ninguém vivia ali.
Embarcou em
seguida outra vez para Kandahar, ficou mais dois anos, trabalhando como um
louco, pelo menos não sobrava tempo para pensar na família que não o queria.
De lá foi para a
Síria, por mais dois anos, quando finalmente voltou, depois de ver tanta
tragédia, conseguiu um posto como enfermeiro especializado em cirurgias num
hospital de veteranos de Washington, agora pelo menos tinha dias de folga,
vivia num complexo, aonde viviam a maioria dos médicos, bem com
enfermeiros. Um lugar feio, um studio
cinzento, o seu inclusive dava para um pátio interior, sem iluminação nenhuma. Não se importava, pois quando estava em
casa, era para estudar, estava tentando conseguir entrar para um curso de
medicina, especializado no que fazia.
Um comandante o estava ajudando, tinha uma aventura com ele, mas era
casado, o bom é que o respeitava, incentivava a ir em frente. Era talvez o único que tinha convivido mais
tempo, além de saber sua história.
Numa folga, de
mais dias foi a NY, no endereço de sua tia, lhe informaram que tinha sido
assassinada pelo seu cunhado, por tentar arrebatar seus filhos. Este felizmente está na cadeia.
Procurou
desesperado pela sua mãe, também estava presa, os meninos tinha sido recolhidos
em um orfanato. Quando conseguiu falar
com sua mãe, ela o acusou de ter abandonado os seus. Rebateu dizendo que eles o tinham expulsado
de casa. Foi quando ela soltou, que
realmente ele não fazia parte daquela família, que o homem que pensava que era
seu pai, não o era. Lhe tinha tido com
18 anos, quatro anos depois conheceu seu marido, ele aceitou esse filho, nunca
prestaste atenção, mas tens somente meu sobrenome.
Tua obrigação
quando muito era cuidar de teus irmãos.
Por isso não os encontrava, procurava pelo seu sobrenome, eles tinham
outro.
Quando por fim os
localizou, o mais velho, tinha escapado do orfanato, não tinham feito nada,
pois já tinha 18 anos, localizou sua ficha policial, andava metido com
drogas. Sua irmã tinha encontrado a
saída num casamento como o de seus pais.
Quando a foi visitar, numa segunda ida a cidade, não o deixou entrar no
apartamento, já sabia que ele era seu irmão só por parte de mãe. Que tudo tinha acontecido por culpa dele.
O pequeno, ah
esse estava na prisão, quando o viu, sem querer começou a chorar, era bonito,
pasto para todos os homens dali. Tinha
matado um homem quando fez 18 anos, riu da cara dele, olha quem chora, me
abandonou, agora chora, tinhas a obrigação de me cuidar. Procurou um advogado para o ajudar, esse
depois de ler o dossier, disse que não podia fazer muito, pois ele tinha no dia
que o visitara, cortado o pescoço de um que estava tentando abusar dele. Que
sua pena aumentaria.
Mas uma vez por
mês o vinha visitar na prisão. Até um
dia que este pediu que não viesse mais, pois cada vez que vens, tenho vontade
de te matar, por isso agora fogem de mim aqui, sabem que tenho força para
isso. Passava o dia fazendo pesas,
tinha o corpo todo deformado.
Seu
relacionamento, ia partir de novo para a Síria, ele no semestre seguinte
entraria para a faculdade de medicina, com tudo que tinha de experiencia além
da ajuda do exército, iria conseguir realizar seu sonho. O conselho que lhe deu foi, esqueça, tu
não tens culpa nenhuma, mesmo que tivesses ficado aqui, eles encontrariam em
ti, uma maneira de culpar.
Siga tua vida em
frente, encontre uma pessoa que te ame, eu te quero muito, mas tenho minha
família, estou ficando velho, era quase 15 anos mais velho do que ele.
Na faculdade, ele
era como o avô da turma, pois todos eram jovens demais em comparação com
ele. Além de levar tudo muito a sério,
era um excelente aluno, com experiência, tirando as matérias que tinha que
estudar em livros, nas aulas práticas ele era o melhor. Tentava não destacar muito, mas os
professores, perguntavam logo a ele.
Os outros alunos
o detestavam, pois além de ser mais velho, tinha a experiencia que eles não
tinham, pois seguia trabalhando no turno, tarde noite do hospital que estava
designado, ajudando nas operações, entendia de amputações, era como seus
sentimentos estivessem congelados, pois fazia tudo perfeitamente, dizia que se
envolvia com os pacientes, seria mais difícil.
Então, era muito prático, o que havia que cortar, examinava, sua cabeça
funcionava como uma máquina muito bem programada. Os médicos, com quem trabalhava, faziam
verdadeira baterias com ele, qual a solução, agora o que fazemos, lhe deixavam
fazer as suturas, ele as treinava como um louco para fazer rápido, com
eficiência, fez um curso nas férias com um cirurgião estético, então melhorou
mais ainda. Quando chegaram as práticas
na universidade, foi para trabalhar em urgências, achava até os hospitais
fracos, pois estava acostumado com a urgências nos campos de batalha.
Um dia se
surpreendeu, ao atender um paciente, era seu irmão, que não tinha conseguido
encontrar. Não o reconheceu. Estava de drogas até a alma, pior tinha que
ser operado, ninguém queria se arriscar.
O fez adormecer, como se fazia
algumas vezes no campo de batalha, o operou.
Dias depois o visitou. Seguia sem
o reconhecer. Perguntou se queria
entrar num programa de reabilitação. A
resposta do outro o surpreendeu, para que, voltarei a cair na mesma, não gosto
de estar vivo, se o senhor não me tivesse costurado, eu já estaria em outra
vida, odeio está. Quando perguntou se
não tinha família, respondeu, um pai em prisão perpetua, uma mãe, que saiu da
cadeia, um irmão pequeno preso, uma irmã que faz tudo igual minha mãe fazia, é
melhor nem saber deles.
Não tens mais
ninguém?
Sim um meio irmão
que meu pai expulsou de casa, pois o desafiou, era quem cuidava da gente, este
estava certo, nos protegia, nos alimentava, não sabia que não era filho do meu
pai, que o pegava por qualquer motivo, dizia que por culpa dele, minha tia
estava tentando nos tirar daquele inferno que era a família. A matou, junto com minha mãe, pois pensavam
que ela tinha dinheiro. Nos deixou
todos na rua da amargura.
Meu irmão mais
velho, era o único inteligente da família, bom aluno, um vizinho nosso, negro,
depois me contou que ele estava arrasado quando se foi. Não podia ir a universidade como
sonhava. Mas não sabia o que seria dele.
E se encontrasse
teu irmão, não o deixaria cuidar de ti.
Não creio, sei
que ele procurou os outros, menos meu pai.
Minha mãe quando saiu, queria de mim só uma coisa, dinheiro.
Olhe bem para
mim, tirou sua carteira do exercito com a foto de quando tinha entrado.
O outro chorava
como uma criança, o abraçava, caramba, foi você que me salvou.
Sim levei muitos
anos para chegar aqui, agora sou médico, aqui nas urgência, bem como no hospital
de veteranos. Vou te ajudar.
No dia seguinte
quando voltou, encontrou o quarto vazio, perguntou pelo paciente, a enfermeira
comentou, que meu papo devia ter feito efeito, pois o rapaz tinha se inscrito
numa reabilitação, lhe deu a direção.
No dia seguinte tinha folga, foi até lá.
Lhe disseram que ele queria primeiro se reabilitar, depois o procuraria.
Voltou a visitar
o irmão pequeno, o ódio que este tinha no olhar, era imenso, contou que tinha
encontrado o outro. O operei, agora
trabalho em dois hospitais, o dos veteranos de guerra, bem como em urgência de
outro. Tens que pensar, que se queres
podes fazer as coisas direito.
Virei te visitar,
tentarei que de possas sair daqui. Vou
ver se consigo uma transferência para NYC, assim posso estar mais perto de
ti. Conversava com ele com voz calma. Na volta, escreveu uma carta ao outro, a
deixou aonde fazia reabilitação.
Tentou falar com
sua irmã, mas esta era irredutível. Sua
vida agora era pior, pois a mãe vivia com ela.
Imagina o inferno que é isso, um marido igual nosso pai, além de uma mãe
alcoólatra, tinha melhorado em prisão, agora voltou outra vez. Nem me ajudar com as crianças quer.
Quando conseguiu
a transferência para NYC, conseguiu também trabalho no Hospital Monte Sinai,
era um bom cirurgião, especializado em operações delicadas, bem como trabalhava
no dos veteranos. Esta agora levava as
crianças para ele examinar. Na primeira
vez, mandou fazer um exame geral, ela tinha dois meninos gêmeos, todos os dois
tinham anemia. Ficou com pena dos
garotos, quis ajudá-la, mas ela disse na sua cara, se me dás dinheiro meu
marido, vai roubar de mim, tudo continuará igual. Ele vivia num apartamento melhor agora,
perguntou a ela por que não pedia o divórcio, ele a ajudaria.
Um dia apareceu
nas urgências, com um corte profundo no abdômen, quem a trouxe foi a polícia,
disse que era sua irmã, perguntou pelas crianças, as levou pera sua casa,
contratou uma senhora para cuidar delas.
Teve que fazer mais duas operações na irmã, pois descobriu que tinha um
câncer, cuidou dela.
Um dia esta
perguntou, porque fazia isso, devia deixar que morresse.
Tens teus filhos
para criar, ou pensa fazer como os nossos, que mal cuidavam da gente.
Esse homem com
quem vivo não é o pais das crianças, esse era do exército, morreu no campo de
batalha.
Seu problema era
que seu estado era cada vez pior, os anos de falta de cuidado causavam uma
deficiência enorme. Ela passou a guarda
das crianças para ele.
As colocou na
escola, as cuidava com mimo. Seu irmão
saiu de reabilitação, veio ficar com ele também. O ajudou a arrumar um emprego no hospital, na
limpeza, cuidava dele, sem lhe faltar respeito.
Ao outro ia
visitar sempre, mostrava as fotos dos garotos, nossa irmã, as vezes melhora,
passa uns dias em casa, com eles, mas em seguida tem que voltar para o
hospital. Como sou funcionário me sai barato.
Já não olhava com
ódio, conversava com ele naturalmente.
Começou a se abrir com ele, quando foste embora, foi como se tivesse
perdido meu pai verdadeiro, pois só tu cuidavas da gente. Era quem nos fazia tomar banho, estudar, nos
alimentava. Eles não se preocupavam com
isso. Descobrimos depois que sequer te
davam dinheiro para comprar comida, que quem fazia isso eras tu. Me senti perdido, quando tivemos que ficar
no orfanato, o outro fugiu, pois já era grande, nunca mais o vi, até que veio
me visitar.
Quando sai, pois
claro quem quer adotar um garoto, que veio de uma família conflitiva, pai e mãe
na cadeia, já grande. Chorava todo os
dias pensando em ti, foi quando abusaram de mim pela primeira vez. Quando sai, só me restava isso, me
prostituir. Até que matei um que queria
abusar de mim. Foi quando vim para cá.
No final quem
chorava era ele. Agora as vezes se
culpava de ter ido embora, mas conversando com um psiquiatra do hospital, este
disse que a obrigação primeiro era dos pais.
Que eu de certa maneira tinha feito tudo que podia.
Minha irmã, ia
cada vez pior, me deu os garotos em adoção, assim ficavam protegidos. Nunca os vi tão bonito, não queria mais ir
para casa, mas eu os trazia, eles tem que saber que estas doente, que não podes
cuidar deles, por isso.
Depois quando
morreu, a fiz enterrar, fomos com as crianças ao enterro. Meu irmão, resolveu ir trabalhar em um outro
emprego que arrumei para ele em Washington, pois gostava mais de viver lá. Mas sempre telefonava. Lá conseguiu um emprego aonde tinha feito
reabilitação, assim estou mais protegido de mim mesmo. Mas telefonava sempre.
Um dia me
chamaram de urgência, tinham um caso complicado, uma senhora muito maior, que
tinha sido ferida de gravidade em uma briga por um seringa. Era minha mãe, nem me reconheceu, fiz todo o
possível, se recuperou, era um caco humano.
Avisei meu irmão, mas ele disse que nem pensar, podia recair só de
pensar em falar com ela.
Quando lhe disse
que era seu filho, olhou meus cabelos brancos, riu na minha cara, não tenho um
filho velho, alias não tenho filhos, nunca os quis ter, odeio crianças toda
minha vida.
Quando se
colocava assim, ficava agressiva, a iam internar com instabilidade mental,
consegui que fosse para um bom psiquiátrico.
Tentou duas vezes fugir de lá.
Quando ia vê-la, ria da minha cara.
Lá vem o bom rapaz, nem sabe quem é seu pai, verdade.
Um dia que estava
mais lucida me contou, sem eu saber se era verdade ou não, que tinha feito sexo
com um companheiro da escola, mas quando soube que estava gravida, deu no pé,
disse seu nome, escrevi o mesmo, comecei a procurar meu pai. Era um nome um pouco comum, mas consegui
descobrir aonde tinha estudado minha mãe, seus companheiros de turma, só um
coincidia com o nome, fui procurando por ele.
Vivia na cidade, finalmente consegui falar com ele, primeiro me disse
que era impossível, pois era gay. Me despachou,
mas acredito que pensou que eu era um explorador, como tinha deixado meu
cartão, acabou me procurando no hospital.
Eu estava no meio de uma operação, ficou assistindo a mesma no meio dos
alunos, ficou impressionado como eu trabalhava.
Me esperou para falar comigo.
Concordou em
fazer o teste de ADN, contei minha história, o que ele se lembrava era que na
festa de final de curso, pressionado pelos seus companheiros, para não
descobrirem que era gay, tinha feito sexo com uma companheira. Tempo depois apareceu para dizer que estava
gravida, lhe perguntei se tinha certeza, não tinha, pois tinha feito sexo com
mais companheiros. Eu estava começando a sair do armário, estava na
universidade, queria me livrar do meu passado, tinha uma bolsa de estudos, pois
meus pais eram pobres como todos do bairro.
Logo fui trabalhar na Europa, só voltei a alguns anos atrás.
O teste deu
positivo, vi que ficava na dúvida, sugeri fazermos outro aonde ele quisesse,
fizemos, admiti para ele que era um gay diferente reservado, agora tinha meus
sobrinhos para cuidar, nunca tinha frequentado a noite, discotecas, bares gays
nada disso. Vivia para o meu trabalho,
para minha pequena família.
O teste seguinte
deu positivo. Me apresentou seu
companheiro, um homem imensamente rico, me receberam num almoço no apartamento
deles, no Central Park, mal sabia me comportar na mesa elegante que tinham
montado. Depois do almoço agradeci, mas
pensava em continuar levando a minha vida.
Que me procurasse quando quisesse, mas que frequentar a vida deles para
mim seria difícil, pois tinha dois filhos para cuidar.
Um dia estava no
Central Park, encontrei o meu amigo comandante, quando me viu com as crianças,
ficou contente. Tinha voltado a muitos
anos, não me adaptei a vida de família, meus filhos, minha ex-mulher eram belos
desconhecidos para mim, tinham a vida deles, ao qual eu não fazia parte. Estou estudando como te aconselhei a fazer
agora depois de velho, história da arte.
Fomos almoçar com
as crianças, ele tinha uma em cada perna. Contei tudo para ele, como sempre fazia. Comentei que sentia falta dele, do tempo que
tínhamos esse relacionamento as escondidas, começamos a namorar, ele ia sempre
a minha casa, gostava de estar como os garotos, voltamos a reatar, passamos a
viver juntos.
Foi meu
sustentáculo, quando assassinaram meu irmão pequeno na prisão, esteve ao meu
lado o tempo todo, consegui recuperar seu corpo, enterrei ao lado de minha
irmã. Meu outro irmão veio para o
enterro. Estava diferente, veio com sua
noiva, uma senhora chinesa que trabalhava na clínica, viviam juntos. Olhou as crianças, disse que elas o faziam
lembrar como éramos, só que bem cuidados, em seguida foi embora, tinha sua
vida, me agradecia, mas iria pelo seu caminho.
Trocávamos
chamada telefônicas, tipo como vai, como estão as crianças, como vai a vida,
nada mais. Uma vez por mês ia visitar
minha mãe, num momento de lucidez, falei que tinha encontrado meu pai
verdadeiro. Só me perguntou se ele teria
dado uma boa vida para ela, lhe disse que era pobre como nós, sorriu, então não
perdi nada.
Um dia fui ao
teatro com Roger, meu namorado eterno, encontrei com meu pai, seu marido,
ficaram encantados com Roger, mas ele era como eu, simples, queriam ir tomar um
drink, num lugar requintado, mas dispensamos. Perguntaram se íamos casar algum dia. Olhamos um para o outro, rimos, somos amantes
a muitos anos. Contei que ele era meu
comandante, mas era casado, que tinha filhos, por isso, não pensávamos nisso,
não era importante para os dois.
Só quando os
garotos fizeram quinze anos mais ou menos, é que pensamos, pois se passava
alguma coisa comigo, eles teriam alguém.
Ele adorava as crianças, eram os filhos que não tinha convivido. Foi a Washington, falou em particular com
seus filhos, explicou a situação, pediu desculpas por não estar presente na
vida deles quando criança, um aceitou bem o outro não.
Nos casamos
somente na prefeitura, fomos almoçar os quatro, quando perguntamos aos garotos
aonde queriam ir, pediram um hamburger.
Rimos muito, isso estava bem.
Agora tinha
dinheiro para nas férias ir fazer viagens pela Europa com minha família, era
respeitado como profissional. Em breve
me aposentava, tinha que escolher um hospital para seguir, continuei aonde
tinha mais possibilidade de ajudar as pessoas.
Poderíamos viver
no Central Park como meu pai, mas vivíamos num bom apartamento, os meninos iam
a uma boa escola, em breve iriam à universidade, riamos, pois, como era gêmeos as
pessoa se confundiam com eles, mas nós não.
Queriam fazer a mesma coisa, um deles era mais curioso, queria saber
como tinham vindo parar conosco. Lhe contei minha história, da sua mãe, no
quarto deles, tinha uma foto dela, só sabia que o pai deles tinha morrido numa
batalha na guerra.
O outro creio por
escolha não se lembrava muito dela, as vezes o via olhando a foto, me dizia que
poderia ser de qualquer revista, contou que uma vez em criança, tinha
desmontado o porta retrato, para ver se era mesmo uma foto ou um recorte de
revista.
Quando minha mãe,
morreu, a fiz enterrar com seus outros filhos, mas desta vez não consegui
localizar meu outro irmão, na clínica me disseram que tinha emigrado ao Canadá
com a chinesa que nunca soube o nome direito.
Nunca mais soube dele, como da última vez que o tinha visto me pediu que
o deixasse em paz, pois cada vez que me via, todo o passado o voltava a
atormentar, respeitei.
Um dia estava no
hospital, me chamaram, tinha um cliente que queria ser operado por mim. Era meu
pai, que quase não via. Olhei todo o
expediente, tive que ser franco. Não sou
oncologo, posso te operar, mas seu câncer esta muito estendido, falei com um
companheiro oncologo, me disse que podes morrer na mesa de operação. O senhor é que tem que escolher.
Ainda lhe
perguntei por que não tinha se tratado antes, o que me respondeu me fez pensar
bem por que não o procurava tanto, como iriam perder a Saison francesa que iam
sempre.
Pois vê a Saison,
o senhor não perdeu, mas agora pode perder a sua vida. Lhe operaram, fui assistente do oncologo,
teria um logo tratamento de quimioterapia, além da rádio. Mas não se conformava em perder os cabelos,
logo estava usando uma peruca, numa visita cruzei com ele, ia falar com o
oncologo, como tinha emagrecido muito, queria fazer uma estética na cara, pois
tinha ficado com muitas rugas. De
qualquer maneira parecia as vezes mais jovem do que eu.
Nunca perguntava
pelas crianças, na minha cabeça eram como seus netos. Contei para eles do meu pai. Me perguntaram se eram avô deles, lhes disse
que não, pois eu só era meio irmão da mãe deles.
Fui ao seu
enterro, com a minha família, seu marido nos apresentava como sendo da família
dele. Mas tudo era superficial. Na missa, perguntaram se eu queria falar
alguma coisa, me desculpei, pois na verdade não podia falar muito dele, era meu
pai, mas eu mal o conhecia.
Um dos meninos,
soltou, eu se fosse o senhor dizia, era um bom filho da puta. Tinham odiado a cerimônia.
Estávamos super
felizes, pois os dois agora iam a Universidade, fariam medicina como eu, ria
muito com isso, pois tinha discussões homéricas, cada um queria uma
especialidade, eu brincava dizendo que as discussões eram uma herança genética
da família deles. Paravam
imediatamente, pois sabiam da história.
Tiramos uma
férias, fomos visitar lugares que sempre falávamos, mas não íamos, finalizamos
em Paris, para comemorar a quantidade de anos que nos conhecíamos.
Apesar da
diferença de idade, Roger se conservava muito bem, eu tinha mais cabelos
brancos do que ele, alias tinha a cabeça inteira. Ele ria me chamando de avô.
Finalmente deixei
o hospital, quando percebi que meus reflexos já não eram os mesmos, não queria
perder nenhum paciente por minha culpa.
Os meninos como
estudavam em NYC, nunca saíram de casa, me dedicava a tirar dúvidas deles,
acompanhar os novos descobrimentos médicos através deles. Achava interessante, pois a mãe deles não
gostava de estudar, os dois viviam disputando as notas máximas. Pronto estavam trabalhando no hospital que
lhes tocou. Roger e eu, eráramos seus
primeiros pacientes, desde garotos, nos tiravam a tensão, escutavam o
coração. Agora os velhos pais, eram
atendidos pelos dois.
Seu filho que não
tinha aceitado nosso relacionamento agora aparecia de vez em quando para ver
seu pai. A princípio insisti que fosse
sozinho que colocassem seu papo em dia.
Mas depois vinha a casa. Era uma
pessoa divertida. Quando Roger morreu,
com quase 95 anos, foi o que veio ao enterro.
Falou desses anos todos recuperados, depois falaram meus filhos. Não podíamos ter um pai melhor que o Roger,
nos incentivou sempre. Na missa tinham
muitos generais, comandantes, coronéis, como ele. Me entregaram a bandeira de combatente pelo
seu país.
Confesso que
fiquei totalmente abalado, tinha sido meu companheiro, amante, incentivador,
tinha compartido com ele toda minha vida, meus problemas, era ele quem me
escutava sempre, mas como amigo, nunca poderia ter alguém como ele.
Passei a atender
numa clínica de veteranos, que viviam nas ruas como homeless, ali passava o
dia, os meninos tinha seu trabalho, eu precisava me ocupar. O filho do Roger sempre que estava na
cidade, vinha me visitar. Me contava sua vida, tinha saído do armário
muito tarde, tinha sido casado duas vezes, por sorte como dizia sem
filhos. Mas tampouco se acertava com
nenhum homem. As vezes se insinuava,
mas sabia que era terreno movediço, até que encontrou um companheiro, tinha
conhecido num voo, para vir nos visitar.
Eu segui na
clínica, ajudando esses homens que tinha servido sua pátria, mas que essa não
fazia nada por eles.
Os meninos
reclamava, pois estava sempre estudando.
Afinal lhes dizia, essa é a minha vida.
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