lunes, 15 de marzo de 2021

BRUNO GAZZ

 

                                      BRUNO  GAZZ

 

Ele tinha uma diferença de 4 anos com os irmãos, só descobriria mais tarde por quê?

Os outros eram uma escadinha, com uma diferença de um ano entra cada um.

Ele era o mais velho, depois outro garoto, uma menina e o pequeno outro menino daqueles que por tudo chora.

As brigas entre seus pais eram intermináveis, mas acabavam sempre na cama, tinha direito a tudo, bofetadas de ambas partes, bem como beijos no meio, isso ele nunca tinha entendido, os motivos eram os mais banais possíveis.

Só não havia brigas quando ele estava trabalhando pela noite de guarda noturno, eram épocas de paz.    Embora sua mãe chegasse todo dia com uns copos a mais, dizia que tinha direito, depois de um dia inteiro em pé no restaurante que trabalhava, senão relaxo posso explodir, mas não se preocupava que os meninos tinham que comer.

Ele com treze anos, arrumou um emprego no armazém de um indiano a volta da esquina.  Este dizia que era o primeiro garoto que entrava para pedir emprego, não para roubar.  Era boa gente com ele, se via que seu pai ou sua mãe iam entrar para qualquer coisa, o avisava para se esconder.

Pelo menos levava comida para os pequenos, coisas que eles comiam sem reclamar.  No verão os levava na parte de cima do prédio que tinha como uma grande varanda, ele adorava ali, pelo menos tinha paz, podia ficar vendo o panorama da cidade.      Moravam no Bronx, do alto do edifício, podia ver o rio, Manhattan.

Tinham um vizinho que fazia a mesma coisa, subia para comer, sempre trazia batatas fritas do restaurante que trabalhava, os pequenos adoravam.

Até que seu pai descobriu, ficou uma fera, como podia ficar comendo com um negro, ainda por cima gay.                           Levou uma surra de fazer gosto, o argumento era que se os meninos se contagiavam, viravam gays.  Tinha vontade de argumentar, nessas alturas eu já virei, pois a anos convivia com esse homem.  Mas nessa hora mais valia a pena ficar quieto, não argumentar, pois senão a surra seria maior.   Tudo sempre caia em cima dele.

Ultimamente a cada briga os vizinhos os denunciavam, a polícia aparecia, mas nem assim resolvia.   Por duas vezes o levaram para ver o sol nascer quadrado, mas o soltavam pela manhã para ir trabalhar.

Mal o levavam, sua mãe descarregava em cima dele, como se tivesse feito alguma coisa errada, que ele devia se fazer cargo dos pequenos, que isso era alguma coisa que ele podia fazer direito, se argumentava, levava uma bofetada na cara.

Com tudo isso, era o melhor aluno de sua classe, suas notas eram sempre notáveis, obrigava quando estava em casa que os pequenos estudassem.  Eles entravam na escola de manhã, só saiam quando ele ia buscar, depois de trabalhar.   Mas não tinha sido nenhum dos dois que tinha conseguido isso, mas sim ele, que conversou com a diretora.   Qualquer coisa era a ele que chamavam.   Mas quando chamava a atenção dos menores, respondiam na sua cara, que não era o pai deles.

Um dia apareceu uma senhora, bem arrumada, se apresentou como sua tia, quando sua mãe chegou ficou uma fera, viu as duas discutindo, sua mãe completamente descomposta, ao lado da outra parecia uma velha.   Nisso chegou seu pai, a coisa foi a pior, a pegou pelo braço, a arrastou para fora do apartamento dizendo que não devia voltar a casa deles.  Enfie seu dinheiro pelo cu, puxa saco de curas.

Mas ela tinha lhe dado um papel com seu telefone.  Falou com ela desde o armazém, de repente aos 17 anos descobriu que não tinha futuro nenhum.   Não poderia ir à universidade, nem com bolsa de estudos, quem iria cuidar dos garotos.  Falou com a tia, esta disse que falasse com seus irmãos, estava disposta a que viessem viver com elas.

O pequeno contou ao seu pai, este lhe deu uma surra de fazer gosto, que ele se metesse em seus assuntos.  O melhor que fazes é ir embora dessa casa, aqui não serve para nada.  Conseguiu escapar para a varanda do edifício. 

O homem negro tinha escutado tudo, é garoto lhe disse, não tens muitas escapatória, ou ficas para seguir cuidando dos teus irmãos, que me parecem ingratos, ou vais embora.   Comigo foi assim, tive que ir para o exército, para escapar de uma família como a tua, os meus eram piores pois se metiam drogas.  Quando entrei para o exército, diziam que eu tinha barriga furada, pois comia pelo menos duas vezes em cada refeição.   Encostou sua cabeça no ombro do homem, ao parecer era o único que o entendia, falou da sua tia, sua mãe, dizia que tinha dinheiro, mas que era carola até o fundo da alma, que ia todos os dias a igreja.

Este riu, tampouco é uma boa solução, siga sua vida em frente, não olhe muito para trás pois a ingratidão das pessoas é sempre muito grande.

Sem saber por que, lhe deu um beijo.

O homem disse que não fizesse isso, eres menor de idade, podem me prender por causa disto, um negro, beijando um garoto branco, menor de idade.  Se levantou, espero que encontres uma saída, foi embora.

Nunca tinha se sentido tão sozinho na vida como agora.   Uma família que não o queria, a tia mal a conhecia.   Dormiu ali em cima todo encolhido, pois o inverno chegava.   No dia seguinte, fez sua mochila, passou pelo armazém, disse ao indiano que ia entrar para o exército, pois a situação em casa era ruim demais.   Pagou seu salário completo, agradeceu.

Encontrou um posto de recrutamento, se apresentou.  Duas horas depois, apareceu um ônibus, recolhendo os que tinham se inscrito nesse dia.   Os levaram para um aeroporto, embarcaram para San Francisco.   Lhe fizeram os documentos, como se ele tivesse 18 anos.   No dia seguinte começou o treinamento.   Estava tão acostumado a dar duro, que era um dos poucos que nunca reclamavam de nada.   Quando chegava de noite caia na cama, desmaiado, mas pela primeira vez dormia em paz.  Sem escutar discussões, gritos, porradas, coisas do gênero.

Logo viu que um sargento o observava nos treinamentos, que ele sabia lidar com os conflitivos, o encaminhou para o grupo que seria da Polícia Militar.  O treinamento era mais pesado, pois teria que lutar com homens algumas vezes mais fortes do que ele.  Como por milagre, começou a desenvolver seu corpo, inclusive cresceu mais.   Depois de seis meses de treinamento era um dos melhores.    Quando foi para a frente, na guerra do Golfo, chefiava um grupo de Policiais, dava um duro danado conter os jovens, muitos sem preparação nenhuma.   Quando os tinha que levar para enfermaria ou coisa parecida, ajudava, aprendeu a dar pontos cirúrgicos, a cuidar feridas superficiais.  Qualquer coisa o chamavam quando estavam transbordados.  Ficou conhecido como o faz tudo.   Voltou para os Estados Unidos, lhe ofereceram um curso de enfermagem de campo.  Tinha que ser rápido nos trabalhos, além de ajudar os médicos nos diagnósticos.   Ele gostaria de ter estudado para médico, mas dinheiro que é bom nada.

Dali foi para Kandahar, ficou três anos ali, seu dia era completamente intenso, aprendeu a dormir inclusive encostado em algum lugar.   Foi promovido várias vezes por seu serviços, os comandantes dos hospitais de campanha apreciavam seu trabalho.  Sabia lidar com os soldados, os tranquilizar com sua voz rouca.   Quando voltou ao Estados Unidos, para um curso de especialização numa base de Washington, telefonou para sua tia, mas nunca atendia o celular, até que um dia, disseram que esse número já não existia.

Pediu a um companheiro que estava de férias em NY, que se informasse sobre sua família, o que descobriu era que seu pai estava preso, por ter matado uma mulher, não sabiam informar mais, que ninguém vivia ali.

Embarcou em seguida outra vez para Kandahar, ficou mais dois anos, trabalhando como um louco, pelo menos não sobrava tempo para pensar na família que não o queria.

De lá foi para a Síria, por mais dois anos, quando finalmente voltou, depois de ver tanta tragédia, conseguiu um posto como enfermeiro especializado em cirurgias num hospital de veteranos de Washington, agora pelo menos tinha dias de folga, vivia num complexo, aonde viviam a maioria dos médicos, bem com enfermeiros.   Um lugar feio, um studio cinzento, o seu inclusive dava para um pátio interior, sem iluminação nenhuma.   Não se importava, pois quando estava em casa, era para estudar, estava tentando conseguir entrar para um curso de medicina, especializado no que fazia.   Um comandante o estava ajudando, tinha uma aventura com ele, mas era casado, o bom é que o respeitava, incentivava a ir em frente.  Era talvez o único que tinha convivido mais tempo, além de saber sua história.

Numa folga, de mais dias foi a NY, no endereço de sua tia, lhe informaram que tinha sido assassinada pelo seu cunhado, por tentar arrebatar seus filhos.   Este felizmente está na cadeia.

Procurou desesperado pela sua mãe, também estava presa, os meninos tinha sido recolhidos em um orfanato.   Quando conseguiu falar com sua mãe, ela o acusou de ter abandonado os seus.  Rebateu dizendo que eles o tinham expulsado de casa.   Foi quando ela soltou, que realmente ele não fazia parte daquela família, que o homem que pensava que era seu pai, não o era.  Lhe tinha tido com 18 anos, quatro anos depois conheceu seu marido, ele aceitou esse filho, nunca prestaste atenção, mas tens somente meu sobrenome.

Tua obrigação quando muito era cuidar de teus irmãos.   Por isso não os encontrava, procurava pelo seu sobrenome, eles tinham outro.

Quando por fim os localizou, o mais velho, tinha escapado do orfanato, não tinham feito nada, pois já tinha 18 anos, localizou sua ficha policial, andava metido com drogas.  Sua irmã tinha encontrado a saída num casamento como o de seus pais.   Quando a foi visitar, numa segunda ida a cidade, não o deixou entrar no apartamento, já sabia que ele era seu irmão só por parte de mãe.  Que tudo tinha acontecido por culpa dele.

O pequeno, ah esse estava na prisão, quando o viu, sem querer começou a chorar, era bonito, pasto para todos os homens dali.  Tinha matado um homem quando fez 18 anos, riu da cara dele, olha quem chora, me abandonou, agora chora, tinhas a obrigação de me cuidar.  Procurou um advogado para o ajudar, esse depois de ler o dossier, disse que não podia fazer muito, pois ele tinha no dia que o visitara, cortado o pescoço de um que estava tentando abusar dele. Que sua pena aumentaria.

Mas uma vez por mês o vinha visitar na prisão.  Até um dia que este pediu que não viesse mais, pois cada vez que vens, tenho vontade de te matar, por isso agora fogem de mim aqui, sabem que tenho força para isso.   Passava o dia fazendo pesas, tinha o corpo todo deformado.

Seu relacionamento, ia partir de novo para a Síria, ele no semestre seguinte entraria para a faculdade de medicina, com tudo que tinha de experiencia além da ajuda do exército, iria conseguir realizar seu sonho.     O conselho que lhe deu foi, esqueça, tu não tens culpa nenhuma, mesmo que tivesses ficado aqui, eles encontrariam em ti, uma maneira de culpar.

Siga tua vida em frente, encontre uma pessoa que te ame, eu te quero muito, mas tenho minha família, estou ficando velho, era quase 15 anos mais velho do que ele.

Na faculdade, ele era como o avô da turma, pois todos eram jovens demais em comparação com ele.   Além de levar tudo muito a sério, era um excelente aluno, com experiência, tirando as matérias que tinha que estudar em livros, nas aulas práticas ele era o melhor.  Tentava não destacar muito, mas os professores, perguntavam logo a ele.

Os outros alunos o detestavam, pois além de ser mais velho, tinha a experiencia que eles não tinham, pois seguia trabalhando no turno, tarde noite do hospital que estava designado, ajudando nas operações, entendia de amputações, era como seus sentimentos estivessem congelados, pois fazia tudo perfeitamente, dizia que se envolvia com os pacientes, seria mais difícil.  Então, era muito prático, o que havia que cortar, examinava, sua cabeça funcionava como uma máquina muito bem programada.    Os médicos, com quem trabalhava, faziam verdadeira baterias com ele, qual a solução, agora o que fazemos, lhe deixavam fazer as suturas, ele as treinava como um louco para fazer rápido, com eficiência, fez um curso nas férias com um cirurgião estético, então melhorou mais ainda.   Quando chegaram as práticas na universidade, foi para trabalhar em urgências, achava até os hospitais fracos, pois estava acostumado com a urgências nos campos de batalha.

Um dia se surpreendeu, ao atender um paciente, era seu irmão, que não tinha conseguido encontrar.  Não o reconheceu.   Estava de drogas até a alma, pior tinha que ser operado, ninguém queria se arriscar.   O fez adormecer, como se fazia algumas vezes no campo de batalha, o operou.    Dias depois o visitou.  Seguia sem o reconhecer.   Perguntou se queria entrar num programa de reabilitação.  A resposta do outro o surpreendeu, para que, voltarei a cair na mesma, não gosto de estar vivo, se o senhor não me tivesse costurado, eu já estaria em outra vida, odeio está.   Quando perguntou se não tinha família, respondeu, um pai em prisão perpetua, uma mãe, que saiu da cadeia, um irmão pequeno preso, uma irmã que faz tudo igual minha mãe fazia, é melhor nem saber deles.

Não tens mais ninguém?

Sim um meio irmão que meu pai expulsou de casa, pois o desafiou, era quem cuidava da gente, este estava certo, nos protegia, nos alimentava, não sabia que não era filho do meu pai, que o pegava por qualquer motivo, dizia que por culpa dele, minha tia estava tentando nos tirar daquele inferno que era a família.   A matou, junto com minha mãe, pois pensavam que ela tinha dinheiro.   Nos deixou todos na rua da amargura.

Meu irmão mais velho, era o único inteligente da família, bom aluno, um vizinho nosso, negro, depois me contou que ele estava arrasado quando se foi.  Não podia ir a universidade como sonhava.  Mas não sabia o que seria dele.

E se encontrasse teu irmão, não o deixaria cuidar de ti.

Não creio, sei que ele procurou os outros, menos meu pai.  Minha mãe quando saiu, queria de mim só uma coisa, dinheiro. 

Olhe bem para mim, tirou sua carteira do exercito com a foto de quando tinha entrado.

O outro chorava como uma criança, o abraçava, caramba, foi você que me salvou.

Sim levei muitos anos para chegar aqui, agora sou médico, aqui nas urgência, bem como no hospital de veteranos.  Vou te ajudar.

No dia seguinte quando voltou, encontrou o quarto vazio, perguntou pelo paciente, a enfermeira comentou, que meu papo devia ter feito efeito, pois o rapaz tinha se inscrito numa reabilitação, lhe deu a direção.   No dia seguinte tinha folga, foi até lá.  Lhe disseram que ele queria primeiro se reabilitar, depois o procuraria.

Voltou a visitar o irmão pequeno, o ódio que este tinha no olhar, era imenso, contou que tinha encontrado o outro.  O operei, agora trabalho em dois hospitais, o dos veteranos de guerra, bem como em urgência de outro.   Tens que pensar, que se queres podes fazer as coisas direito.

Virei te visitar, tentarei que de possas sair daqui.   Vou ver se consigo uma transferência para NYC, assim posso estar mais perto de ti.   Conversava com ele com voz calma.  Na volta, escreveu uma carta ao outro, a deixou aonde fazia reabilitação.

Tentou falar com sua irmã, mas esta era irredutível.  Sua vida agora era pior, pois a mãe vivia com ela.   Imagina o inferno que é isso, um marido igual nosso pai, além de uma mãe alcoólatra, tinha melhorado em prisão, agora voltou outra vez.   Nem me ajudar com as crianças quer.

Quando conseguiu a transferência para NYC, conseguiu também trabalho no Hospital Monte Sinai, era um bom cirurgião, especializado em operações delicadas, bem como trabalhava no dos veteranos.  Esta agora levava as crianças para ele examinar.  Na primeira vez, mandou fazer um exame geral, ela tinha dois meninos gêmeos, todos os dois tinham anemia.   Ficou com pena dos garotos, quis ajudá-la, mas ela disse na sua cara, se me dás dinheiro meu marido, vai roubar de mim, tudo continuará igual.     Ele vivia num apartamento melhor agora, perguntou a ela por que não pedia o divórcio, ele a ajudaria.

Um dia apareceu nas urgências, com um corte profundo no abdômen, quem a trouxe foi a polícia, disse que era sua irmã, perguntou pelas crianças, as levou pera sua casa, contratou uma senhora para cuidar delas.  Teve que fazer mais duas operações na irmã, pois descobriu que tinha um câncer, cuidou dela.   

Um dia esta perguntou, porque fazia isso, devia deixar que morresse.

Tens teus filhos para criar, ou pensa fazer como os nossos, que mal cuidavam da gente.

Esse homem com quem vivo não é o pais das crianças, esse era do exército, morreu no campo de batalha.  

Seu problema era que seu estado era cada vez pior, os anos de falta de cuidado causavam uma deficiência enorme.  Ela passou a guarda das crianças para ele.

As colocou na escola, as cuidava com mimo.  Seu irmão saiu de reabilitação, veio ficar com ele também.   O ajudou a arrumar um emprego no hospital, na limpeza, cuidava dele, sem lhe faltar respeito.

Ao outro ia visitar sempre, mostrava as fotos dos garotos, nossa irmã, as vezes melhora, passa uns dias em casa, com eles, mas em seguida tem que voltar para o hospital. Como sou funcionário me sai barato.

Já não olhava com ódio, conversava com ele naturalmente.  Começou a se abrir com ele, quando foste embora, foi como se tivesse perdido meu pai verdadeiro, pois só tu cuidavas da gente.  Era quem nos fazia tomar banho, estudar, nos alimentava.  Eles não se preocupavam com isso.  Descobrimos depois que sequer te davam dinheiro para comprar comida, que quem fazia isso eras tu.     Me senti perdido, quando tivemos que ficar no orfanato, o outro fugiu, pois já era grande, nunca mais o vi, até que veio me visitar.

Quando sai, pois claro quem quer adotar um garoto, que veio de uma família conflitiva, pai e mãe na cadeia, já grande.  Chorava todo os dias pensando em ti, foi quando abusaram de mim pela primeira vez.   Quando sai, só me restava isso, me prostituir.   Até que matei um que queria abusar de mim.  Foi quando vim para cá.

No final quem chorava era ele.  Agora as vezes se culpava de ter ido embora, mas conversando com um psiquiatra do hospital, este disse que a obrigação primeiro era dos pais.  Que eu de certa maneira tinha feito tudo que podia.

Minha irmã, ia cada vez pior, me deu os garotos em adoção, assim ficavam protegidos.  Nunca os vi tão bonito, não queria mais ir para casa, mas eu os trazia, eles tem que saber que estas doente, que não podes cuidar deles, por isso.

Depois quando morreu, a fiz enterrar, fomos com as crianças ao enterro.  Meu irmão, resolveu ir trabalhar em um outro emprego que arrumei para ele em Washington, pois gostava mais de viver lá.   Mas sempre telefonava.  Lá conseguiu um emprego aonde tinha feito reabilitação, assim estou mais protegido de mim mesmo.   Mas telefonava sempre.

Um dia me chamaram de urgência, tinham um caso complicado, uma senhora muito maior, que tinha sido ferida de gravidade em uma briga por um seringa.   Era minha mãe, nem me reconheceu, fiz todo o possível, se recuperou, era um caco humano.  Avisei meu irmão, mas ele disse que nem pensar, podia recair só de pensar em falar com ela.

Quando lhe disse que era seu filho, olhou meus cabelos brancos, riu na minha cara, não tenho um filho velho, alias não tenho filhos, nunca os quis ter, odeio crianças toda minha vida.

Quando se colocava assim, ficava agressiva, a iam internar com instabilidade mental, consegui que fosse para um bom psiquiátrico.  Tentou duas vezes fugir de lá.  Quando ia vê-la, ria da minha cara.  Lá vem o bom rapaz, nem sabe quem é seu pai, verdade.

Um dia que estava mais lucida me contou, sem eu saber se era verdade ou não, que tinha feito sexo com um companheiro da escola, mas quando soube que estava gravida, deu no pé, disse seu nome, escrevi o mesmo, comecei a procurar meu pai.   Era um nome um pouco comum, mas consegui descobrir aonde tinha estudado minha mãe, seus companheiros de turma, só um coincidia com o nome, fui procurando por ele.  Vivia na cidade, finalmente consegui falar com ele, primeiro me disse que era impossível, pois era gay.  Me despachou, mas acredito que pensou que eu era um explorador, como tinha deixado meu cartão, acabou me procurando no hospital.  Eu estava no meio de uma operação, ficou assistindo a mesma no meio dos alunos, ficou impressionado como eu trabalhava.  Me esperou para falar comigo. 

Concordou em fazer o teste de ADN, contei minha história, o que ele se lembrava era que na festa de final de curso, pressionado pelos seus companheiros, para não descobrirem que era gay, tinha feito sexo com uma companheira.   Tempo depois apareceu para dizer que estava gravida, lhe perguntei se tinha certeza, não tinha, pois tinha feito sexo com mais companheiros. Eu estava começando a sair do armário, estava na universidade, queria me livrar do meu passado, tinha uma bolsa de estudos, pois meus pais eram pobres como todos do bairro.  Logo fui trabalhar na Europa, só voltei a alguns anos atrás.

O teste deu positivo, vi que ficava na dúvida, sugeri fazermos outro aonde ele quisesse, fizemos, admiti para ele que era um gay diferente reservado, agora tinha meus sobrinhos para cuidar, nunca tinha frequentado a noite, discotecas, bares gays nada disso.  Vivia para o meu trabalho, para minha pequena família.

O teste seguinte deu positivo.  Me apresentou seu companheiro, um homem imensamente rico, me receberam num almoço no apartamento deles, no Central Park, mal sabia me comportar na mesa elegante que tinham montado.   Depois do almoço agradeci, mas pensava em continuar levando a minha vida.  Que me procurasse quando quisesse, mas que frequentar a vida deles para mim seria difícil, pois tinha dois filhos para cuidar.

Um dia estava no Central Park, encontrei o meu amigo comandante, quando me viu com as crianças, ficou contente.  Tinha voltado a muitos anos, não me adaptei a vida de família, meus filhos, minha ex-mulher eram belos desconhecidos para mim, tinham a vida deles, ao qual eu não fazia parte.   Estou estudando como te aconselhei a fazer agora depois de velho, história da arte.

Fomos almoçar com as crianças, ele tinha uma em cada perna.  Contei tudo para ele, como sempre fazia.   Comentei que sentia falta dele, do tempo que tínhamos esse relacionamento as escondidas, começamos a namorar, ele ia sempre a minha casa, gostava de estar como os garotos, voltamos a reatar, passamos a viver juntos. 

Foi meu sustentáculo, quando assassinaram meu irmão pequeno na prisão, esteve ao meu lado o tempo todo, consegui recuperar seu corpo, enterrei ao lado de minha irmã.  Meu outro irmão veio para o enterro.   Estava diferente, veio com sua noiva, uma senhora chinesa que trabalhava na clínica, viviam juntos.  Olhou as crianças, disse que elas o faziam lembrar como éramos, só que bem cuidados, em seguida foi embora, tinha sua vida, me agradecia, mas iria pelo seu caminho.

Trocávamos chamada telefônicas, tipo como vai, como estão as crianças, como vai a vida, nada mais.    Uma vez por mês ia visitar minha mãe, num momento de lucidez, falei que tinha encontrado meu pai verdadeiro.  Só me perguntou se ele teria dado uma boa vida para ela, lhe disse que era pobre como nós, sorriu, então não perdi nada.

Um dia fui ao teatro com Roger, meu namorado eterno, encontrei com meu pai, seu marido, ficaram encantados com Roger, mas ele era como eu, simples, queriam ir tomar um drink, num lugar requintado, mas dispensamos.   Perguntaram se íamos casar algum dia.  Olhamos um para o outro, rimos, somos amantes a muitos anos.  Contei que ele era meu comandante, mas era casado, que tinha filhos, por isso, não pensávamos nisso, não era importante para os dois.

Só quando os garotos fizeram quinze anos mais ou menos, é que pensamos, pois se passava alguma coisa comigo, eles teriam alguém.   Ele adorava as crianças, eram os filhos que não tinha convivido.   Foi a Washington, falou em particular com seus filhos, explicou a situação, pediu desculpas por não estar presente na vida deles quando criança, um aceitou bem o outro não.

Nos casamos somente na prefeitura, fomos almoçar os quatro, quando perguntamos aos garotos aonde queriam ir, pediram um hamburger.   Rimos muito, isso estava bem.

Agora tinha dinheiro para nas férias ir fazer viagens pela Europa com minha família, era respeitado como profissional.  Em breve me aposentava, tinha que escolher um hospital para seguir, continuei aonde tinha mais possibilidade de ajudar as pessoas.

Poderíamos viver no Central Park como meu pai, mas vivíamos num bom apartamento, os meninos iam a uma boa escola, em breve iriam à universidade, riamos, pois, como era gêmeos as pessoa se confundiam com eles, mas nós não.  Queriam fazer a mesma coisa, um deles era mais curioso, queria saber como tinham vindo parar conosco. Lhe contei minha história, da sua mãe, no quarto deles, tinha uma foto dela, só sabia que o pai deles tinha morrido numa batalha na guerra.

O outro creio por escolha não se lembrava muito dela, as vezes o via olhando a foto, me dizia que poderia ser de qualquer revista, contou que uma vez em criança, tinha desmontado o porta retrato, para ver se era mesmo uma foto ou um recorte de revista.

Quando minha mãe, morreu, a fiz enterrar com seus outros filhos, mas desta vez não consegui localizar meu outro irmão, na clínica me disseram que tinha emigrado ao Canadá com a chinesa que nunca soube o nome direito.   Nunca mais soube dele, como da última vez que o tinha visto me pediu que o deixasse em paz, pois cada vez que me via, todo o passado o voltava a atormentar, respeitei.

Um dia estava no hospital, me chamaram, tinha um cliente que queria ser operado por mim. Era meu pai, que quase não via.   Olhei todo o expediente, tive que ser franco.  Não sou oncologo, posso te operar, mas seu câncer esta muito estendido, falei com um companheiro oncologo, me disse que podes morrer na mesa de operação.    O senhor é que tem que escolher.

Ainda lhe perguntei por que não tinha se tratado antes, o que me respondeu me fez pensar bem por que não o procurava tanto, como iriam perder a Saison francesa que iam sempre.

Pois vê a Saison, o senhor não perdeu, mas agora pode perder a sua vida.  Lhe operaram, fui assistente do oncologo, teria um logo tratamento de quimioterapia, além da rádio.  Mas não se conformava em perder os cabelos, logo estava usando uma peruca, numa visita cruzei com ele, ia falar com o oncologo, como tinha emagrecido muito, queria fazer uma estética na cara, pois tinha ficado com muitas rugas.  De qualquer maneira parecia as vezes mais jovem do que eu.

Nunca perguntava pelas crianças, na minha cabeça eram como seus netos.  Contei para eles do meu pai.  Me perguntaram se eram avô deles, lhes disse que não, pois eu só era meio irmão da mãe deles.   

Fui ao seu enterro, com a minha família, seu marido nos apresentava como sendo da família dele.   Mas tudo era superficial.  Na missa, perguntaram se eu queria falar alguma coisa, me desculpei, pois na verdade não podia falar muito dele, era meu pai, mas eu mal o conhecia.

Um dos meninos, soltou, eu se fosse o senhor dizia, era um bom filho da puta.  Tinham odiado a cerimônia.   

Estávamos super felizes, pois os dois agora iam a Universidade, fariam medicina como eu, ria muito com isso, pois tinha discussões homéricas, cada um queria uma especialidade, eu brincava dizendo que as discussões eram uma herança genética da família deles.   Paravam imediatamente, pois sabiam da história.

Tiramos uma férias, fomos visitar lugares que sempre falávamos, mas não íamos, finalizamos em Paris, para comemorar a quantidade de anos que nos conhecíamos.

Apesar da diferença de idade, Roger se conservava muito bem, eu tinha mais cabelos brancos do que ele, alias tinha a cabeça inteira.   Ele ria me chamando de avô.

Finalmente deixei o hospital, quando percebi que meus reflexos já não eram os mesmos, não queria perder nenhum paciente por minha culpa.

Os meninos como estudavam em NYC, nunca saíram de casa, me dedicava a tirar dúvidas deles, acompanhar os novos descobrimentos médicos através deles.  Achava interessante, pois a mãe deles não gostava de estudar, os dois viviam disputando as notas máximas.  Pronto estavam trabalhando no hospital que lhes tocou.  Roger e eu, eráramos seus primeiros pacientes, desde garotos, nos tiravam a tensão, escutavam o coração.   Agora os velhos pais, eram atendidos pelos dois.

Seu filho que não tinha aceitado nosso relacionamento agora aparecia de vez em quando para ver seu pai.  A princípio insisti que fosse sozinho que colocassem seu papo em dia.  Mas depois vinha a casa.  Era uma pessoa divertida.   Quando Roger morreu, com quase 95 anos, foi o que veio ao enterro.   Falou desses anos todos recuperados, depois falaram meus filhos.  Não podíamos ter um pai melhor que o Roger, nos incentivou sempre.  Na missa tinham muitos generais, comandantes, coronéis, como ele.  Me entregaram a bandeira de combatente pelo seu país.

Confesso que fiquei totalmente abalado, tinha sido meu companheiro, amante, incentivador, tinha compartido com ele toda minha vida, meus problemas, era ele quem me escutava sempre, mas como amigo, nunca poderia ter alguém como ele.

Passei a atender numa clínica de veteranos, que viviam nas ruas como homeless, ali passava o dia, os meninos tinha seu trabalho, eu precisava me ocupar.   O filho do Roger sempre que estava na cidade, vinha me visitar.    Me contava sua vida, tinha saído do armário muito tarde, tinha sido casado duas vezes, por sorte como dizia sem filhos.  Mas tampouco se acertava com nenhum homem.   As vezes se insinuava, mas sabia que era terreno movediço, até que encontrou um companheiro, tinha conhecido num voo, para vir nos visitar.

Eu segui na clínica, ajudando esses homens que tinha servido sua pátria, mas que essa não fazia nada por eles.

Os meninos reclamava, pois estava sempre estudando.  Afinal lhes dizia, essa é a minha vida.

 

 

 

 

 

 

 

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