ABED FAISAL
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Encostado numa das impressionantes colunas do Templo da Roca, em
Jerusalém, com seu pequeno caderno de desenho, observava, anotando a lápis os
motivos intricados árabes.
Amava isso desde que era criança na pequena cidade que vivia no
interior do Líbano. Eram uma das poucas
famílias mulçumanas do lugar, com uma maioria maronita. Mas ali a paz reinava.
Ele tinha seus
domínios na loja de tecido de seu pai, adorava ir pelos estreitos corredores,
passando a mãos pelos tecidos, sentindo seu tacto, era como se lhe dissessem,
me transforme num lindo vestido.
Observava as
mulheres entrando para comprar alguma coisa, a algumas diria, esse tecido
merece uma proprietária mais bonita, ficava imaginando que transformariam o
mesmo numa roupa sem interesse nenhum, tinha vontade de lhes desenhar como iria
melhor, naqueles corpos gordos.
Era o único filho
homem de uma família, em que dominavam as mulheres, desde criança tinha vivido
no meio delas. Mas era o único que ia
a escola, tinha ensinado suas irmãs a lerem, escreverem, pois seu pais achavam
uma inutilidade para elas isso. Para
eles a obrigação delas era formar família, ter muitos filhos.
A mais velha que
ele 10 anos, já era casada, mas também só paria mulheres, vivia na casa ao
lado, seu marido trabalhava para seu pai.
Ele tinha saído a
sua mãe, cabelos negros, crespos, olhos negros, umas pestanas monumentais, como
se fossem postiças, a pele clara, mas com um pouco de sol ficava moreno. Suas irmãs ao contrário tinha saído imagem e
semelhança ao seu pai, nariz feio, cabelos negros, mas mortos sem brilho, caras
sempre cheias de acne. Ele era o filho
preferido pela sua mãe. Seu pai queria
colocar o nome do seu avô paterno, mas como tinha escolhido os nomes das
filhas, que só faltavam ser um, dois, três, quatro. Ela fincou o pé, escolhendo o nome de um
irmão que tinha morrido jovem, que era um artista, Abed Faisal. Dizia serás famoso como teu tio.
Ele adorava ir à
pequena mesquita, para admirar os desenhos intricados das paredes, da cúpula,
bem como o ritual, ao chegar, podia ter saído de casa, nem a 100 metros da
mesma, mas lavava as mãos, como fazia seu pai, os pés, dizia as preces, que
fazia, copiando seus mínimos gestos.
Amava, respeitava
seu pai acima de todas as coisas, ficava prestando atenção como fazia para
atender alguma cliente, quando lhe tocava atender alguma, usava tudo o que ele
dizia, os adjetivos todos. Ele se
matava de rir, já seu cunhado ficava uma fera, pois era uma pessoa sem graça nenhuma,
um homem desprovido de ambições, estava sempre de mal humor.
O escutava as
vezes falando com sua irmã, quando esse velho vai morrer, para que eu possa
realmente dirigir a loja, será a melhor do mundo.
Qual nada, ele
era um simples capacho de seu pai, que lhe dava ordens como se falasse com um
animal.
Cada vez que
passava por ele, o empurrava, lhe dava um beliscão, as vezes se atrevia passava
a mão na sua bunda. Reclamou com o seu
pai, que disse que isso eram simples brincadeiras, mas este passou a observar o
genro.
Teria uns 15
anos, um dia seu cunhado, estava de um humor de cachorro louco, o viu no
armazém medindo um tecido para uma cliente, não só se atreveu a passar a mão na
sua bunda, bem como abaixou suas calças, o empurrando contra os fardos. Nesse momento seu pai, entrou, ficou parado
na porta, gritou o nome dele, com o dedo indicou o escritório. Espumava de raiva, escutou através da porta o
cunhado se defender, dizendo que ele o provocava, que não era de ferro, com
aquele corpo que tinha. O velho ficou
uma fera, no dia seguinte, embarcou o genro, a filha e as filhas desta para uma
loja que tinha numa vila perto da fronteira.
Se acabaram os sonhos do genro de administrar a fortuna do velho.
Ele, ao contrário
foi mandado para Beirut, para se preparar para a universidade, teria que
estudar administração de empresas. Mas
ele queria como seu tio, estudar artes, se escapulia das aulas para ir as
classes de belas artes.
Quando o pai
descobriu, ficou uma fera, acho que teu cunhado tinha razão, tens que te tornar
um homem, nada de artes, o mandou estudar em Istambul, interno num
colégio. Sem direito a saídas, vigiado
24 horas do dia. Claro quando te tornas
prisioneiro, o anseio de liberdade aumenta.
Foi o que aconteceu, não estava permitido que desenhasse, mas isso o
fazia mentalmente, ia anotando em sua memória tudo o que via.
Mas claro num
ambiente fechado, ele chamava mais atenção que numa escola aberta, foi abusado
várias vezes por seus companheiros, pois era o mais frágil.
Quando um
superior, encontrou em seu lençol manchas de sangue, o devolveu ao seu pai.
A bronca foi
impressionante, justo dias depois sua irmã mais nova se casava com um novo
empregado do velho. Ele agora já sabia
que gostava de homens, quando viu o pretendente, que ia casar com sua irmã mais
feia, tudo é claro para posteriormente dirigir o negócio. O provocou no armazém, esse em seguida fez
sexo com ele.
Mas desta vez o
pai, não viu nada, passado o casamento, viu seu pai discutindo com o genro, o
queria mandar para estudar em Marseille, aonde vivia um irmão dele, seu cunhado
dizia que não, que o queria ali. Claro
para desfrutar de seu corpo.
Quando seu pai o
levou a Marseille, seu tio era uma pessoa muito fechada, era professor na
mesquita. Vivia cercado de seu corão,
bem como outros livros religiosos, seu pai se fechou com o irmão na biblioteca,
ficaram horas discutindo. No dia
seguinte o tio o começou a preparar para seguir seus passos.
Mas desenhava
escondido tudo o que podia. Quando fez
dezoito anos, descobriu aonde o tio, escondia o dinheiro que o pai mandava para
sua manutenção, não usava nunca pois dizia que era um dinheiro corrompido, pois
vinha de servir a mulher para tentar o homem.
Na surdina,
comprou um bilhete para Paris, todo o tempo que tinha livre, ia a um quiosque
ver as revistas de moda, sabia que era aquilo que ele queria fazer.
Chegou em Paris,
conseguiu um quartinho num hotel de quinta categoria, aonde as baratas ao
passar diziam bom dia. Procurou um
emprego, descobriu que não tinha documento nenhum, por isso não lhe davam
emprego. Foi a um departamento tirar
documentos, mas o homem o olhou de cima a baixo, dizendo que ele era estrangeiro,
apesar de falar um francês impecável.
O viu de novo num
bar da esquina, o homem fez um sinal para ele.
Disse que conseguia os documentos, se ele fosse generoso. Na hora pensou que o homem se referia a
dinheiro, mas não o levou a um hotel barato, fazendo sexo com ele. Desta vez aprendeu que não era só se deixar
penetrar, que existiam outras coisas, o homem brincou com seu sexo, alisava seu
corpo, dizia, para quem em uns cabelos assim como o teu, deverias ter o corpo
cabeludo, ao contrário, ele só tinha umas penugens em volta do sexo, nada mais. Se encontrou com o homem, várias vezes, até
que conseguiu documentos. Logo estava
trabalhando numa boutique na rue de Saint-Honoré, perto da Place Vendôme, aonde
estavam as lojas das grandes marcas.
A proprietária o
contratou, pois, além de falar um francês perfeito, falava árabe, inglês,
entendia de tecidos, de moda. Tinham
duas costureiras no andar de cima, quando uma cliente pedia, ele desenhava uma
roupa, para a mesma. Era capaz de ficar
depois da loja fechada, bordando alguma adereço para os vestidos. Eram senhoras que tinham dinheiro, mas que a
alta costura, não chegavam aos seus bolsos.
Logo contrataram uma moça que
tinha facilidade de bordar, entender o que ele queria. A senhora o queria como um filho, estava a
muitos anos nesse mundo, para perceber que ali tinha um artista de mão
cheia. Ensinou a ele a calcular, quanto
custava cada peça que fazia, analisar a cliente, para saber até aonde poderia
ir, todos os truques da profissão. Em
breve colocavam na vitrine roupas feitas por ele.
Ele com seu senso
agudo, viu que muitas vezes, alguma mulher árabe parava diante da loja para
observar suas roupas, sempre colocava num dos manequins uma capa árabe cobrindo
parcialmente o vestido. Isso se vendia
como água, escolhia tecidos vaporosos, mas que não mostrassem o que se levava
por baixo. Num cumulo de ousadia, um dia
colocou, umas calças largas de seda, com uma blusa, bordada em pedrarias, com
uma capa dessas por cima, não ficou nem dez minutos na vitrine, logo entrou uma
mulher que comprou tudo.
Trabalhou uns
bons oito anos com essa senhora. Morava
num pequeno apartamento em Marais, o bairro que anteriormente estava degradado
quando ele chegou. Agora virava a cada
dia mais um bairro de moda. Os gais
compravam apartamentos antigos, os reformavam.
Ele tinha seus
encontros, mas não queria perder tempo com nenhum homem, todos tinha sido
sempre um problema para ele. Tinham o sentimento de posse, isso ele odiava,
lutava loucamente para ser dono de sua própria vida. Não queria ser uma pessoa que lhe dissessem
esquerda, a direita, o rumo de sua vida era seu.
Um dia viu um
homem parado na frente da vitrine da loja observando um dos seus desenhos, uma
calças largas, as fazias assim, porque normalmente as mulheres árabes que
tinham parido, tinha cadeiras grandes, as fazia de tal maneira que disfarçava sua
silhueta, uma blusa com a frente toda drapeada, da qual saia uma fina linha de
ouro, a capa era a mesma coisa, negra, mas os fios de ouro, criavam um detalhe
a mesma. Uma mulher que era cliente, desceu de seu
Mercedes, o cumprimentou, lhe deu dois beijos, entrou na loja seguida pelo
homem, pensou que era seu amante ou marido.
Quero experimentar essa roupa que acabas de expor.
A dona da loja,
tinha um sorriso na cara. Conversando
com ela em árabe, perguntando pela família, lhe estendeu a roupa.
Ela saiu do provador,
vê mon cher ami, a caída é diferente, esconde meus michelines, esse garoto
entende as mulheres árabes. Virou-se
para a proprietária, levo o conjunto como sempre. Ele estava no balcão, se dirigiu a ela,
lembra-se da última vez que estiveste aqui, falamos num traje de noite,
desenhei isto para ti. Te vai
transformar em uma princesa das mil e uma noites. O homem simplesmente arrancou o desenho da
sua mão. Aonde aprendeste a desenhar
isso. Não era um simples rabisco, era
como ter ideia realmente do vestido.
Desenho desde
criança senhor, meu pai tinha uma loja de tecido no Líbano, eu via os tecidos,
imaginava como seria transformá-los, depois em casa desenhava o uso do
mesmo. Mas claro não podia dizer as
clientes que comprava os mesmo, na senhora ficara uma merda, melhor um tecido
negro.
Sabe quem sou,
lhe perguntou o homem?
Menor ideia
senhor, estava furioso, mas sem perder a educação, como tinha lhe ensinado a
senhora para quem trabalhava.
Ela rindo,
soltou, esse filho da puta, é o maior costureiro da França, mas não entende as
mulheres árabes, está perdendo todas suas clientes para ti.
Madame, não sejas
má, quero que venhas trabalhar comigo garoto.
Ele teve a
ousadia de responder, estou bem aqui, sou tratado com educação, respeito.
Madame se matava
de rir, abaixe sua crista monsieur.
Sabe que o rapaz tem futuro, com certeza vais colocar o mesmo num canto,
só para atender as clientes que não entendes.
Este virou as
costas, saiu batendo a porta.
Verás disse a
senhora árabe, sem querer fui eu que fiz essa confusão toda, quer apostar que
ele vai mandar fazer o vestido que desenhaste para mim, mas se fores esperto,
começas imediatamente o coloque na vitrine amanhã, eu o quero de qualquer
maneira, mas me faça uma capa de mil e uma noites, como Sherazade.
Ele passou o
resto do dia, cortando, passando o tecido as costureiras, a bordadeira que ia
aplicando borboletas, mas muitas capas da saia, o busto ele mesmo drapeou,
insertando pequenos bordados de prata que vinha fazendo a meses. De noite se dedicou a capa, desta vez a mesma
não escondia nada, nos ombros, era como um enxame de borboletas coloridas, a
bordadeira, dizia que estava com os dedos doendo de tanto aplicar as mesmas.
Logo as oito da
manhã ele colocou o vestido bem como a capa em um manequim sozinho na vitrine,
mas cobriu o mesmo. Só descobriu quando
a dona da loja, ia abrir, fez um sinal que fosse do outro lado da rua, para
olhar. Ela estava de boca aberta.
Passou a mão no
telefone, ligou para a cliente, já está, convide seu amigo, o melhor costureiro
do País para vir até aqui.
Viu o mesmo
saindo da Place Vendôme pisando duro, só então voltou a tirar o tecido que
cobria o manequim. Ele ficou parado
olhando, entrou sem dizer bom dia a ninguém, começou a examinar as costuras, os
apliques, como se fosse um fiscal de obras.
Virou-se para
ele, te contrato, soltou um valor absurdo, que nem sonhava em ganhar. Mas tens que trabalhar comigo.
Ele sempre tinha
sido atrevido, sua mãe dizia que as regras de boa educação, eram a base de
tudo.
Sinto muito, mas
o senhor é mal educado, prepotente, entrou aqui sem respeito nenhum, examinou
meu vestido, como se fosse um trapo sujo, de esfregar o chão. Agradeço o oferecimento, mas se eu fosse o
senhor, saia entrava novamente, seguia as regras de educação, cumprimentava a
dona da loja, elogiava o que estava exposto, perguntava quem tinha criado, aí
eu falaria com o senhor.
Só faltava
espumar. Saiu outra vez batendo a porta,
justo nesse momento parava o Mercedes na porta, saiam do mesmo, sua cliente,
cercada de amigas, com certeza clientes dele.
Entraram todas na
loja como loucas. Sua cliente provou o
vestido, em seguida passou a mão no telefone.
Meia hora depois entravam na loja, um fotografo, uma mulher que depois
descobriu que era a diretora de Vogue da França. Eram muitos oh, ah, que diziam.
Todas as mulheres
queriam roupas para a festa que ia promover a revista. Faltavam 10 dias para isso. Três
delas, já tinham seus vestidos, mas duas outras não. As olhou bem, pediu para ficarem a uma certa
distância dele, começou a desenhar, o mesmo fez com a outra, se viam que eram
irmãs, mas criou roupas completamente dispares, mas de acordo com a
personalidade que intuía em cada uma.
A diretora do
Vogue, pediu se ele podia desenhar um modelo, eu já tenho, mas quero imaginar o
que serias capaz de fazer para mim.
Enquanto ele
tinha desenhado, o fotografo, tinha feito mil fotos em cima dele.
Desenhou para
ela, um conjunto de calças, imensas, como uma saia, uma blusa totalmente
atrevida, com um bustiê todos de pedrarias por baixo, mas que deixaria tudo a
mostra. Pode fazer, mas te aviso, ao
receber os convidados, usarei um do teu competidor, mas em seguida usarei o
teu, na hora do jantar, Madame, a senhora, o seu fiel escudeiro, estão
convidados para a festa, mandarei os convites ainda hoje. Pegou na bochecha dele, meu lindo, esse será
teu debut no mundo da alta costura.
Depois que a
cliente pagou a roupa, colocando tudo numa caixa, saíram todas. Ele suspirou aliviado, estou morto de sono,
mas não posso perder um minuto.
Uma pausa, saiu
com a senhora para o café da esquina, aonde sempre comia o mesmo um café
imenso, acompanhado de um croissant.
Chamou a garçonete, Ivete, hoje quero outro café, um para levar. Ela se
chegou a ele, vi o vestido na vitrine, cheguei a chorar de emoção. Tens futuro meu garoto.
Madame olhou para
ele muito séria, lhe disse, hoje a tarde o contador, vira com uns papeis para
assinares, a partir desse momento eres meu sócio, outro estaria lambendo as
solas do sapato desse grande costureiro francês, não precisas dele, tens luz
própria. Aliás um conselho, nunca
querias ser tão grande como ele, pois perderas a criatividade. Isso ele escutou, seguiu ao pé da letra.
Foi uma batalha,
contrataram mais duas costureiras, duas bordadeiras. Ele mesmo cortou todos os vestidos, duas
capas. O bustiê de Catherine de Vogue,
bordou ele mesmo. Mas se esqueceu que
não tinha um traje para ir ele mesmo a festa. Foi ousado, na loja tinha um smoking feminino,
colocou uma calças jeans negras com uma faixa de centim nas costuras laterais,
com uma seda branca, drapeou em seu próprio corpo a parte de cima, colocou o
casaco, ficava com as costas nuas, uma gravata borboleta negra com um anel de
rubi no meio solto em seu pescoço, seus imensos cabelos crespos negro. Madame foi com um conjunto que ele tinha
desenhado a mais tempo, que ela gostava, nunca quis vende-lo.
Quando chegaram a
festa, ela o empurrou em direção a Catherine, que o abraçou e beijou, dizendo
ao seu ouvido, que atrevimento, estas chamando mais atenção do que eu. Tire esse casaco já, imagino o que tem por
baixo. Os flash não paravam de estourar.
Tornou a colocar o casaco, foi buscar madame que tinha lagrimas nos olhos. Meu filho acabas de nascer para o mundo.
A mesa de
Catherine, era redonda imensa, a viu dando uma ordem, eles estavam sentados
numa lateral, ela foi pessoalmente já vestida com seu traje, para que fosse se
sentar na mesa, Madame, sorriu, deixe o meu menino brilhar com luz
própria. Na mesa estavam sentados todos
os grandes da moda de Paris. Ela
atravessou todo o salão, com ele de braço dado, subiu a um pequeno palco, apresentou
a Paris, ao mundo, uma nova estrela. Pediu para as senhoras que ele tinha
vestido subirem com ele ao palco. Os
aplausos eram fantásticos.
Depois o guiou
até a mesa, o foi apresentando a cada um, Abed Faisal, as senhoras ele beijava
na mão, aos homens ele inclinava meio corpo, em respeito. Menos ao que o tinha ofendido, estendeu a mão
simplesmente o olhando nos olhos.
Todos elogiaram
sua criações. Um que estava ao seu
lado, lhe perguntou qual seria sua criação de outono inverno. Se dirigiu ao mesmo para que todos ouvissem,
senhor, não pretendo competir nas coleções, eu gosto mesmo é de desenhar para
minhas clientes, ao que posso dedicar de corpo e alma. Saber o que lhe convém, se faço coleções,
perderei essa liberdade.
Depois ainda
tenho muito que aprender dos grandes mestres, espero que com humildade.
Eles dois,
Madame, administrava, ele atendia as clientes, escolhia os tecidos que lhe
caiam bem, quando alguma cismava em querer uma coisa que ficaria horrível, ele
se levantava a acompanhava até a porta, dizendo senhora, estas no lugar errado,
aqui trabalhamos para a deixar linda, não para ser uma a mais.
Algumas voltavam,
outras iam aos grandes costureiros, para comprar qualquer coisa que queriam
usar de qualquer maneira, ficasse bem ou não.
Quando começaram
a crescer muito, ele um dia parou, assim não vamos a lugar nenhum, estamos
fazendo o mesmo que eles. Mal tenho
tempo para digerir, nem gastar o dinheiro que ganho. Tinham saído pelo menos três vezes nas capas
de Vogue, por causa de suas clientes.
Agora algumas
atrizes famosas, iam até ele, para pedir, vou ao festival de Cannes, preciso de
uma roupa que me faça brilhar.
Através de uma
cliente, milionária Libanesa, casada com um embaixador do pais, conseguiu
informação de sua família, tudo baixo sigilo. Para todos efeitos, ele era de um bairro
marginal de Marseille. Seu pai tinha
morrido, seu cunhado tinha enterrado a loja, tinham perdido tudo.
Como no momento
estava cansado, avisou Madame, vou resolver problemas particulares, logo
estarei de volta.
Comprou um
bilhete para Beirut, alugou um carro para o levar até sua cidade. Tudo continuava igual, mas a loja estava
fechada. Foi a casa familiar, só viviam
ali, uma irmã com sua família, sua mãe.
Esta pensou que ia ter um enfarte quando o viu. Se agarrou a ele, chorando.
Sua irmã lhe
contou tudo, depois da morte do pai, os genros tinham brigado pelo dinheiro, pelo
comercio, resultado o dinheiro correspondia a nossa mãe, que lutou como um leão
com eles, a loja acabou fechando, restam tecidos impressionantes dentro. O local é nosso, mas temos que tirar o que
está, para alugar.
Ele foi com a mãe
e a irmã olhar o local, sem se dar conta foi separando sedas antigas que ele
tinha passado a mão mil vezes, ia dizendo meninas voltei para buscar
vocês. Mandou embalar tudo, mandando
para Paris. Tinha trazido as revista em
que saia, com suas roupas, a mãe não fechava a boca, seu pai ia estar orgulhoso
de ti. Brilhas com tua própria luz.
Porque a senhora
não vem comigo, podemos viver juntos.
Não, aqui é meu
lugar, meus netos estão aqui, morrerei nesta casa aonde nasci. Antes de ir embora pediu a irmã que sempre
desse notícias. Foi embora da mesma
maneira que tinha chegado como um relâmpago.
Agora se podia
dar o luxo, de vez em quando tirava um tecido escondido, para fazer um vestido
ou uma roupa para brilhar.
Suas clientes
sabiam que estaria fazendo exclusivamente para elas, mas tinha sempre alguma
coisa especial na vitrine. Quando
encontrava algum costureiro num jantar que tinha sido convidado era educado,
perguntava pelo trabalho, escutava as reclamações sobre as coleções, o
estressados que estavam.
Um dia escutou um
barulho tremendo na rua, era um carro de segurança, uma limusine, outro carro
atrás, entraram na loja, perguntando por ele, se podia atender uma pessoa em
particular, que não se visse desde fora.
Claro que
sim. Viu um homem descer, entrou na
loja, foi direto a ele, se apresentou como um príncipe árabe.
Era jovem, disse
que não queria aparecer com o traje branco que usavam todos os árabes, era sua
festa de aniversário, que gostaria de estar diferente. Vi sua foto naquela festa da Vogue a muitos
anos, quero algo discreto, mas digno de mim.
Olhou bem para
ele, pediu se podia tirar essa casca de capa que usava, que ficasse só com o
que tinha por baixo, para poder imaginar o homem que estava vestindo.
Ficaram só os
dois na sala. Príncipe, ficou quase nu.
Ficou olhando nos olhos dele, ao mesmo tempo desenhava, lhe disse, vou
ser sincero consigo. Se faço uma coisa louca, ou absurda, irão dizer que o
príncipe é gay. Acredito que sua
sexualidade, deve ser guardada para seu foro íntimo. Mostrou o desenho, era um smoking branco,
mandarei bordar em ouro e prata, pois significam a riqueza do mundo, por cima o
jovem usará uma capa que farei, em seda branca, com as bordas bordadas com
vossa insígnia também em ouro e prata. Sugiro que como vejo que usas óculos,
que visite o oculista aqui ao lado, nesse dia você usara uma lente de contato.
O rapaz se
aproximou, foi o que imaginei, sabes falar.
Sim algo exagerado faria levantar suspeita a meu respeito. Pode fazer o traje. O convidou para a festa, seria numa sala
exclusiva do Hotel Ritz.
Como lhe aviso
para provar o traje? Lhe deu um
cartão, falas com meu secretário, mando te buscar.
A coisa agora era
o tecido que tivesse um caimento como uma roupa árabe. As bordadeiras, esticaram um tecido de lã
finíssimo, que ele mesmo foi buscar pelas fábricas, até encontrar o que
queria. Aplicaram os fios de ouro e
prata, a uma distância de um centímetro uma da outra, cortou o traje, na gola
de cetim, o mesmo desenho que estava na borda da capa, os signos de sua
dinastia. Bordados tão sutilmente, que só de muito perto se percebia.
Quando avisou que
tudo estava para prova, veio uma limusine para o recolher, o que estranhou é
que deram uma volta para entrar para a garagem do Ritz. O príncipe, na frente dele ficou quase nu,
vestiu a roupa, lhe caia como uma segunda pele.
Fantásticos,
apertou sua mão, mandou o secretário passar na loja para pagar. Te espero na festa, lhe estendeu um convite.
Justo no dia
seguinte lhe comunicaram que sua mãe tinha falecido. Embarcou num voo particular, para a cidade
mais próxima da sua. Chegou justo a
tempo. Sua irmã, lhe entregou um envelope. Só abra quando estiver em Paris.
Voltou no mesmo
avião depois do enterro, suas outras irmãs mal falaram com ele.
Não se incomodou,
o único vínculo que tinha com o Líbano, acabava de deixar de existir. Nunca
mais voltaria.
Quando chegou
estava exausto, Madame o avisou que teria a festa nesta noite, que deveria ir
para casa dormir.
Chegou ao seu
apartamento, sempre dizia que ia se mudar para um melhor, pois tinha dinheiro
para isso.
Tomou um bom
banho, caiu na cama, se não tivesse colocado o despertador, teria perdido a
festa. Se vestiu como sempre, um smoking
em cima de uma calças jeans, uma camisa, com fios de prata, gravata borboleta
negra com fios de prata.
Quase sai de casa
sem sapatos, uma cliente lhe tinha dado de presente umas babuchas de seda
prateada, as colocou.
Estava a fina
flor da sociedade francesa, misturada com jovens príncipes do mundo árabe,
jovens vestidos pelas grandes marcas francesas. Quando o príncipe apareceu com sua roupa os
outros estavam todos de negro, de longe parecia que estava com suas roupas
tradicionais. Mas quando tirou a capa
viram que estava todo de branco sim, mas que sua roupa brilhava
discretamente. Quando o aplaudiram, foi
até ele, levantou o seu braço como um campeão.
Estava cansado,
as conversas não podiam ser mais superficiais possíveis, isso o deixava a
margem, pois nunca tinha tido tempo para esse tipo de conversa, um homem que
estava sentado ao seu lado, calado todo o tempo, com um smoking severo, de
óculos escuros, com uma barbicha. Lhe
perguntou, se estava aborrecido, por falarem coisas superficiais, ou porque não
falavam de moda.
Eu nunca falo de
moda com ninguém, tampouco fofocas da vida alheia. Meus interesses são outros,
adoro livros, exposições de arte que vou sozinho para não ser perturbado enquanto
as admiro, absorvo tudo. Melhor, gosto
de estar em paz, na sua frente as taças de bebidas estavam cheias, mas sem
tocar, cada vez que faziam um brinde ao príncipe, ele levantava a sua, mas sem
tocar nem os lábios. Não gostava de
beber, claro só o café. Sem querer se viu conversando com o homem, um olhando a
cara do outro. O príncipe se aproximou,
dizendo que ia ficar com ciúmes, seu professor preferido, conversando com seu
costureiro preferido.
Então se
apresentaram, ele se chamava Jean-Pierre Al Laud, lhe explicou que era judeu
Druso, que vivia desde criança na França.
Somos de terras
vizinhas, começaram a falar de política quando a música aumentou, o professor o
convidou para saírem irem a algum lugar para seguir a conversa. Acabou na sua casa fazendo sexo com ele. Se sentia excitado quando o outro trocava seu
corpo, se exploraram mutuamente.
Ao final, lhe
perguntou se não tinha ninguém?
Se eu estivesse
alguém não estaria contigo. Minha vida
particular, é um pouco escassa, pois as vezes não me sobra muito tempo. Isso que não preparo coleções, mas estou
sempre informado das tendências de moda.
Depois o levou a
sua casa também, voltaram a fazer sexo, ele estranhou, imaginei uma casa cheia
de porcarias de decoração, mas vejo que eres uma pessoa que gosta de
simplicidade.
Quando ele foi
embora no domingo a tarde, se deu conta da carta da mãe. Com
sua letra miúda, lhe dizia que devia procurar um advogado, seu nome, sua
direção. Ele te dará outra carta que te
explicara tudo.
No domingo a
noite o Jean-Pierre lhe chamou, estou sentido tua falta, vens para cá, ou vou
para tua casa.
Venha para cá,
estou com preguiça de me vestir.
Jean-Pierre vivia
em Saint-Germain de Prés, chegou em seguida, disse que na verdade tinha lhe
chamado da rua. Se davam bem na cama,
bem como conversando, assim começaram um romance, que duraria 15 anos.
Quando foi ao
advogado durante a semana, este soltou que imaginaria que ele depois do
enterro, estaria ali direto. Mas ao
parecer tomaste teu tempo.
Só sei que o senhor
tem uma carta para mim, o resto nem imagino.
Lhe entregou um
dossier. Aqui tem tudo que lhe
pertence. Sua mãe, desde que o senhor
saiu de casa, vinha depositando dinheiro, não me pergunte como, pois não sei,
em Luxemburgo, este dinheiro está ao seu inteiro dispor. Era um valor bem considerável.
Pegou a carta,
guardou no bolso de seu casaco.
Minha mulher me
fez prometer que lhe perguntaria, se o senhor poderia lhe atender, mas que lhe
dissesse que não sou rico.
Lhe estendeu um
cartão com seu nome, em uma linha muito fina em prata. Que me procure na loja.
Semanas depois,
ele ainda não acreditava no que tinha.
Madame o chamou muito séria, temos problemas, o proprietário vendeu a
loja, o novo dono a quer quase imediatamente.
Vou ser franca
contigo, eu gostaria de me aposentar, já tenho uma idade considerável, nos pagar
uma indenização se saímos dentro de um mês.
O que pretendes.
Vou pensar. Fez uma coisa que nunca fazia, desceu, foi ao
Bar, pediu a Ivete um café, tinha o hábito de falar com ela. Como estava vazio,
pediu que sentasse com ele.
Contou o que
tinha entre mãos, queres vir trabalhar comigo, eu tenho poucas pessoas que
confio, te vejo sempre educada com todos, eres franca comigo, podias me
bajular, mas me trata como um igual.
Ela ficou de boca
aberta, riu. Contigo meu amigo, vou ao
inferno se for preciso.
Então toca
procurar um lugar para levar tudo daqui.
Em sua cabeça estalou um lugar que gostava de passear, vá trocar de
roupa, vamos ver um local, para nosso negócio.
Seu patrão já olhava feio, pelo fato de estar sentada com um
cliente. Ela chegou a ele, falou ao seu
ouvido, ele ficou furioso.
Voltou em
seguida, com uma saia justa negra, um casaco simples.
Ele só lhe disse,
te falta uma coisa, um batom vermelho, um coque bem apertado, que estire, de
luz aos teus pômulos.
Assim será chefe.
Foram olhar o
local, assim minha clientes não levam multas.
Quando negociou com o proprietário, esse não sabia com quem estava
falando. A loja era menor, mas a parte
de cima para o ateliê era perfeita, tinha sido uma galeria de arte. Tenho um apartamento, mas este está à
venda. Quando mostrou o mesmo, ele viu
que tinha encontrado o lugar de seus sonhos, de frente não estava devassado,
pois tinha uma arvore imensa na pequena praça que tapava o mesmo de olhos
indiscreto. Quando o homem disse o
preço, se inclinou, lhe perguntou ao ouvido, se lhe pago em Luxemburgo, como
ficamos?
O homem
economizaria em impostos, abriu um sorriso imenso. Trato feito.
No dia seguinte,
Ivete já estava ao comando da pequena obra necessária, as paredes já eram
brancas, o resto trairiam da outra loja.
Sentaram-se os três, elaboraram uma carta as clientes, lhe dando sua
nova direção, agradecendo sempre sua constância, bem esperando poder seguir
contando com elas.
No dia seguinte
levou suas poucas coisas para seu apartamento novo, agora poderia ir a pé, pois
estava perto da casa de Jean-Pierre, nunca chegariam a viver juntos. Ele necessitava de seu espaço para escrever,
dormia quase todas as noite juntos, jantavam, conversavam horrores.
Basicamente não
perdeu nenhuma cliente, o ateliê, montou como queria, com um pequeno salão
íntimo para atender as clientes. Depois
a sala de costura com as mesmas empregadas, todas queriam seguir trabalhando
para ele.
O mais interessante,
estava cercado de galerias de arte, mas compunha sua vitrine como se fosse mais
uma. As vezes turistas ricas americanas
viam a roupa na vitrine, entravam, logo encomendavam alguma roupa. Ivete lhe explicava, que a que estava no
manequim, era sempre uma peça única, poderiam arrumar para a cliente, mas o
senhor, teria prazer em atendê-la desenhar algo exclusivo para ela. Assim fez também uma clientela rica
americana que sabia que teria uma roupa diferente dos costureiros que seguiam
tendências.
Os primeiros
cinco anos, ele é Jean-Pierre eram inseparáveis. Depois ele começou a sugerir
sair para encontrar com seus outros companheiros, professores como ele da Sorbonne,
eram discussões, que pareciam nunca terminar, quando os assuntos não lhe
interessavam, tirava do bolso um bloco, ficava desenhando algum motivo árabe,
que depois usaria num vestido ou traje.
Jean-Pierre ria
disso, enquanto tentamos salvar o mundo, tu tentas salvar as mulheres de
parecerem feias. Normalmente dormia em sua casa, mas quando ele
começou a se fartar dessas reuniões, a maioria das vezes dormia na sua. Quando fizeram 10 anos que estavam juntos,
confessou, que necessitava de novas emoções, que gostaria de experimentar fazer
trios, ou outro tipo de relacionamento sexual.
Entendeu, a vida
junta, lhe parecia cômoda, queria emoções porque estava ficando velho, era mais
velho que ele 15 anos. Sem querer o
entendia, pois quando estavam na cama, sentia que cada movimento era igual ao
que já tinham feito antes.
Lhe disse que ele
é quem tinha que resolver, mas que não queria esse tipo de relacionamento,
podemos seguir amigos. Jean-Pierre
seguia o apresentando para todo mundo como seu companheiro. Não lhe incomodava.
Um dia andando na
rua, encontrou um de seus conhecidos, veio lhe contar que devia ter cuidado,
pois Jean-Pierre estava frequentando o baixos fundos do mundo gay. Saia agora de madrugada com jovens que não se
sabia de aonde tinha saído. Outro dia
foi preso, por estar com um menor. A
universidade já lhe advertiu que fosse discreto em sua vida.
Foi falar com
ele. Não se surpreendeu muito, pois foi
franco, necessito dessa emoção com os jovens, é como se por momentos,
recuperasse a juventude que perdi, ou não soube usar.
Um dia foi jantar
com ele, viu que estava com ansiedade, este o levou até a porta de sua casa, se
despediu.
Esperou um
instante, viu que ele mudava de direção, em seguida viu que estava com dois
jovens que quando muito tinham 18 anos, com cara de gigolos. Viu que iam para sua casa.
Ficou com pena
dele, ele também sentia o tempo passar, mas quando era abordado por alguém
jovem, a saída de um bar, pensava o que vou falar com esse idiota. Ia para casa sozinho.
Um dia
Jean-Pierre chegou arrasado ao ateliê, perguntou se podiam subir para falar com
ele.
No apartamento se
abriu, embora fosse um choque para ele, soltou como um soco no estomago, estou
com Aids, já em fase avançada. Quero que
faças um exame, pode ser que tivesse alguma aventura ainda quando fazíamos
sexo. Tinha vontade de lhe dar uma
surra.
Mas sempre tinha
exigido usar proteção, mesmo assim fez os exames, inclusive foi com ele fazer
outra vez. Ele não tinha nada, mas se
começava a notar em Jean-Pierre os signos da doença, o médico foi franco,
devias estar fazendo tratamento a mais tempo.
Durante o dia ele trabalhava, se revezava de noite como enfermeiro que
cuidava dele. O viu definhando, pediu se
podia encontrar um sacerdote Druso para ele conversar. Conseguiu, pediu que ele levasse suas cinzas
para Israel. Lhe prometeu, chamou um
advogado, pois queria deixar sua imensa biblioteca para a Universidade. Nunca nenhum amigo seu, esses com quem tinha
imensas discussões sobre o direito a liberdade sexual, apareceram, só uns
poucos vieram a cerimônia que teve antes de sua cremação. Agora estava ele em Israel, entregou as
cinzas a família, que o tratou de maus modos, como se ele fosse culpado de
alguma coisa.
Aproveitou, para
descansar, estava hospedado num apartamento em Tel Aviv, tinha ido já uma vez a
Jerusalém ao Domo da Roca, a primeira vez, se sentiu como quando era criança,
junto com seu pai, fazendo a cerimônia da limpeza corporal, as rezas que seu
pai fazia, voltaram todas a sua cabeça, entrou rezou, sentiu uma imensa
paz. Foi a primeira vez que viu o homem moreno, ali
ajoelhado, rezando com fervor.
Tinha um corpo de enfarte, se via que cuidava fazendo
exercício. O viu outra vez no ônibus
voltando para Tel Aviv. No dia seguinte
o viu na praia, fazendo exercícios. Na
última vez alguns jovens tinha tentado fazer uma paquera, lhes tinha respondido
que só gostava de homens mais velhos.
Agora o faziam
com o homem na barra, seu corpo era liso, como que desenhado a lápis, estava
excitado só de olhar. O mesmo disse aos
jovens alguma coisa, eles apontaram para ele.
Ficou se graça, procurou
se relaxar, mas o homem veio se sentar ao seu lado, estendeu a mão Drew Brow,
sou americano, mecânico de motos, os dois estavam excitados, foram diretos para
cama, ficou impressionado com seu corpo, sem um pelo, pensou que se depilava.
Esse corpo que
tanto admiras, só me deu problemas, todos querem só isso, a casca o que tem
dentro não. Contou para ele como tinha
se convertido.
Dois dias depois
se despediram, se sentia vivo outra vez, tinha sido uma experiencia fantástica,
mas cada um tinha sua vida, tinham que tocar em frente.
Voltar para
Paris, era como voltar para casa, ali tinha feito sua vida, tinha logrado
êxitos, tinha que seguir em frente.
Ivete lhe avisou
que uma cliente americana estava louca para falar com ele, disse quem era, riu,
pois, era uma mulher super divertida.
Muito natural, de uma beleza surpreendente, tinha sido miss pelo seu
estado, Texas, dizia sempre, todo mundo pensa que sou burra, porque sou bonita,
me casei com um milionário, nada mais longe da verdade, na minha família primamos
todos por sermos sempre os melhores da escola, as notas mais altas. Tinha um curso superior de fazer inveja, na
verdade, era diretora sênior da empresa do marido. Se ele bobear, le roubo a empresa porque a
entendo melhor que ele.
Ela apareceu logo
em seguida, desta vez estou na casa do meu irmão, ele vive aqui ao lado, estava
como uma rosa, calças jeans, tênis, camiseta bem decotada, com os cabelos
presos num rabo de cavalo. Rodou na
frente dele, nada mais americano, nem texano.
Meu querido amigo, necessito uma roupa para uma festa da Vogue em
NYC. Não quero nada de essas que pensam
que serão famosas a vida inteira usam.
Coisas incomodas, que mal podem andar, quanto mais sentar-se. Tirou da
bolsa uma caixa, veja essa joia era da minha mãe, me deixou de herança, mas
nunca pude usar, porque é uma coisa singela.
Era um colar, com dois brincos, tinham a forma de flor, no centro de
cada uma tinha um rubi. Queria um
vestido que pudesse usar isso.
Pertenceu sempre a família, diz sua lenda que na época da guerra foi
vendido para comprar comida para os escravos.
Mas que depois voltou a família.
Ele copiou o
desenho do colar, disse, amanhã venha fazer uma prova.
Buscou um vestido
dessa época, desenhou o mesmo como se fosse um vestido usado uma atriz num
filme de época. Usaremos uma coisa antiga, como anáguas
ligeiras, mas que criem volumes, por cima ia uma saia em que a rosas se
reproduziam na barra, era ligeiramente mais curta na frente pois sabia que
existia uma escadaria para subir, mais comprido atrás, formando uma pequena
cauda, nada como as gigantescas que usavam, o busto era todo plissado, como o
colar era de ouro, uma das bordadeiras, fez meias rosas em crochê, de fios de
ouro, com uma pequena pedra no meio, iam subindo da cintura encaixada no
plisse, quando chegavam em cima, só tinha uma que ficaria logo abaixo do colar.
Os braços estavam livres, buscou numa
caixa um leque precioso de plumas que tinha comprado num antiquário a anos, as
plumas eram brancas embaixo, depois rosa, finalizavam com a cor rubi.
No dia seguinte
ela apareceu mais arrumada, ele tinha chamado uma cabeleireira, amiga da Ivete,
lhe disse que antes como deveria ser seu cabelo, enquanto se arrumava, entrou
um homem com uma cara severa, perguntou por ela, o levaram para cima, ela disse
que estava emocionada, esse homem sabe me cativar. Ele estendeu a mão, perguntou como vai.
Tinha ligeira
sensação que o conhecia. Quando o
cabelos ficaram prontos, um imenso coque, cheios de flores brancas como do
desenho. Ele disse, agora feche os
olhos, deixe as ajudantes te vestirem, só abra quando estiver pronto. Ela docilmente se deixou vestir, o homem
sorria o que o deixava bonito. Ele
enquanto isso começou a buscar entre seus blocos de desenhos até que o
encontrou. Ficou quieto.
Quando o homem
lhe deu o colar, lhe sorriu, pediu que o colocasse. Agora abra os olhos, ela deu um grito. Caramba, em casa de minha mãe, tinha um
quadro da dona do colar, com um vestido mais ou menos como esse. É como voltar no tempo, me sinto bailando
naqueles bailes que aparecem nos filmes.
Ele ria, quando
estavam te vestindo pensei o mesmo, mamãe ia ficar feliz.
Ah este é teu
irmão, por isso tinha a sensação de conhecê-lo, fui buscar entre minhas coisas
um desenho. Mostrou para ela. Esta ria a bessa, ele quis ver o desenho,
era ele nas famosas conversas do Jean-Pierre, com a cabeça apoiada nas mãos,
como pensando, isso não vai acabar muito.
Ele ria a bessa, ficava mais bonito.
Me lembro da
conversa desse dia, uma discussão sem fim, sobre liberdade sexual de cada um.
Sim nesse dia
entendi que nosso relacionamento tinha ido para a merda, nessa noite vim
embora, porque já não queria perder meu tempo. Ele estava desesperado em busca da
juventude perdida, acabou perdendo sua vida.
Sinto muito disse
ela.
Não, eu lamentei
muito, cuidei dele até que morreu, pois no fundo era o único amigo que tinha,
acabo de voltar de Israel, aonde fui levar suas cinzas, ele negava de todas as
maneira suas raízes judias misturadas com árabe. A família me olhou como se eu fosse culpado
de alguma coisa, eu nem sabia que existiam.
Mas de outra maneira, me reencontrei com minha religião, a ligação que
tinha com meu pai, quando ia com ele a mesquita, o simples fato de lavar o
rosto, as mãos, os pés rezando, foi um balsamo para mim.
Ela o abraçou o
beijou.
Deixemos isso de
lado, mostrou o desenho da pequena capa, todas irão com aquelas capas
monstruosas, se queres faço essa para ti, mas meu presente é esse, lhe entregou
a caixa de seda, ela quando abriu deu um grito, que lindo.
Tenho até medo de
usar, como te devolvo depois?
Nada é um
presente para ti, o comprei num antiquário, sua dona original era uma grande
artista de teatro francês. Tem seu nome
no fundo.
Bom a partir de
amanhã podes vir buscar o vestido, vamos só terminar alguns detalhes.
Ninguém vai
esperar que eu apareça com um vestido lindo deste, esperam que eu apareça com
um escandaloso.
Hugh o que achas?
Em ti minha irmã
tudo esta sempre bem. Nosso amigo é um
mestre. Nesse dia do desenho, estávamos
os dois chateados com a conversa, olhei para ele desenhando, fiquei com inveja,
pensei, ele pelo menos pode se ocupar, eu me sinto aqui perdendo meu tempo com discussões
sem futuro, nunca mais voltei a me reunir com esse pessoal.
Sou professor na
Sorbonne, de literatura e filosofia aplicada ao pensamento americano, além de
ser teu vizinho. Te vejo sempre com tua
assistente, tomando café no mesmo lugar que eu vou, mas nunca tive coragem de
me aproximar.
Bom agora já sabe
que não sou nenhum bicho papão.
Porque não vamos
jantar essa noite sugeriu ela, porque depois eu irei embora.
Foi ótimo o
jantar, pois nos dias seguintes ele teve uma enxurrada de pedidos de clientes
americanas, que queriam roupas diferentes para a festa. Nas vésperas, recebeu um convite para ir a
NYC. Mas não estava de humor para
isso. Escreveu um e-mail, agradecendo,
mas tinha assumido outro compromisso.
Nada disso queria ficar em casa tranquilo.
Nesse dia pela
manhã, um domingo, encontrou Hugh no café, ele se aproximou, perguntou se podia
sentar-se.
Nada me dará mais
prazer de ter uma conversa tranquila contigo.
A irmã queria que ele fosse a festa, para ela no fundo é como
administrar seu negócio. Aproveitara,
que estará deslumbrante, para convencer muita gente de fazer negócios com ela.
Foram caminhando
para casa, o convidou para subir para conhecer seu apartamento.
Este da porta
riu, eu imaginava um apartamento totalmente superficial, embora saiba que eres
muito sério, posso fazer uma coisa que tenho vontade de fazer, desde o dia que
te conheci.
Se aproximou,
segurou seu rosto com as duas mãos, o beijando, era como beijar um vulcão em erupção,
nem teve consciência que estava nu com ele na cama, o sexo era igual, o homem
de tranquilo, como que explodia.
Quando comentou
isso com ele, respondeu, que era porque é você que me deixa assim, agora
estavam juntos sempre no café da manhã no restaurante, dormiam juntos todos os
dias, depois de fazerem sexo. Não se
cansavam, nunca nada era igual.
As conversas eram
imensas. Ele recebeu a revista em que
saia sua irmã, falando dele, o costureiro que tinha encontrado a alma do colar. Tinha posado para a foto, embaixo do quadro
da casa da mãe dela.
Temos que um dia
ir ao Texas, completava rindo, para fazer nosso casamento a moda de lá. Com uma
grande festa.
Um dia Ivete
chegou atrasada, a escola de seu filho tinha uma epidemia, estava fechada, não
tive com quem deixá-lo, ele pode ficar no ateliê, a cara do garoto era
divertida, examinava tudo cada detalhe, se aproximou de um vestido exposto,
como se examinasse as costuras.
O levou para
cima, apresentou ao pessoal, lhe deu um bloco, lápis, o deixou ali, mergulhou
no seu trabalho, quando levantou a cabeça, estavam todas costureiras olhando o
que fazia o garoto.
O estava
desenhando numa sequência, ele com o lápis suspenso no ar pensando, outra com o
lápis na boca, outra desenhando coçando a cabeça. Riu muito.
Como te chamas filho.
Ele rindo disse,
pensei que sabias, Ivo, estendeu sua mão, que eram firmes. Não desenho muito porque na escola dizem que
isso é coisa de gay, fui perguntar minha mãe, ela disse que os meninos eram
idiotas. Que uma coisa não tinha a ver
com a outra.
Em seguida voltou
a trabalhar rindo, mais tarde o viu sentado ao lado da que estava fazendo uma
barra bordada, o ensinando a fazer igual.
Agora ia todos os dias depois da
aulas, ficar no ateliê, disse que tinha que aprender de tudo, pois um dia
queria ser como ele. Quando estava com o
Hugh tinha conversas interessantes, riam a bessa.
Ficou olhando um
dia os dois juntos, imaginou se tivessem um filho, o Hugh seria um grande pai.
Conversando com a
Ivete, perguntou pelo pai dele.
Não sabe que
existe, é um homem casado, me mentiu, dizendo que era solteiro. Nem sei por aonde anda.
Vou te fazer uma
proposta, mas tens que falar com ele antes.
Eu não tenho herdeiros, esse menino se segue assim será um grande
costureiro. Queria adotá-lo.
Estava fazendo
pela primeira vez uma coleção, a pedido da Vogue para uma Festa por todo o alto
em Paris, depois iria para NYC, aonde a festa se repetiria.
Quando estava
retocando o último vestido, desmaiou, Ivo tomou rédeas da situação, chamando
uma ambulância, bem como avisando ao Hugh que estava dando aulas.
Tinha tido um
princípio de enfarte, por stress. Depois
dizia a Ivete, vês por que nunca quis fazer uma coleção, menos mal que estava
tudo pronto. Hugh dormiu todos os dias
no hospital, Ivo vinha vê-lo pela tarde depois das aulas com o Hugh, pareciam
pai e filho juntos.
Pediu ao Hugh se
o deixava falar sozinho com o Abed, minha mãe me contou que querias me adotar,
eu ia dizer que sim, quando tiveste esse princípio de enfarte, fiquei louco, ia
perder meu segundo pai. Não sei quem é
o primeiro, mas não quero te perder, se me queres como filho eu aceito, mas não
porque podes me deixar uma herança ou mesmo teu negócio, porque aprendi a
querer o senhor.
Quando ficou bom,
a primeira coisa que fez com o Ivo foi ir a mesquita, o ensinou como seu pai
tinha ensinado todo o processo de preparação para entrar, a reza que ele
fazia. Ele estava compenetrado. Minha mãe nunca vai a nenhuma igreja, não
creio que se aborreça que vá contigo.
Ivete ria,
imagina agora terei um filho mulçumano.
Quando foi com o Hugh a Texas numa reunião de família, ele insistiu em
levar o Ivo, bem como a Ivete, como todo ateliê estava de férias foram. Ela comentou com ele, esses dois conversando,
parecem pai e filho, verdade.
Sim Hugh o
adora. Me pediu para me casar com ele, aproveitando
toda a família junta.
A anfitrioa da
festa era sua irmã, os recebeu de braços abertos na mansão da família que ela
vivia. No salão, embaixo do quadro
estava exposto o vestido que tinha usado.
Não parava de
chegar gente no dia da festa, Hugh tinha saído a cavalo de manhã com Ivo,
voltaram rindo muito. Esses dois estão
tramando algo, disse para Ivete.
Ele estava
vestido como tinha dito para se vestir, com uma roupa normal, quando Hugh tomou
a palavra, estou a muitos anos fora do país, quando fui, imaginei uma vida de
aventura, mas nada mais longe da verdade, logo me aborreci, estava prestes a
pendurar a chuteira, deixar tudo para trás voltar com o rabo entre as pernas,
quando encontrei a pessoa que quero viver a vida inteira, encontrei na verdade
uma família, um filho adotivo dele, que adoro, é como meu filho, por isso por
querer ser dessa família, queria pedir a mão do senhor Abed Faisal, em
matrimonio, aproveitar que meu irmão que juiz oficialize essa união. Ivo foi até ele, arrastou realmente pois
estava com vergonha. Não tinha
imaginado nada assim.
Ele tinha
assinado um papel que Hugh tinha pedido, mas estava distraído, não viu que era
o de casamento. Quem falou ao final da
cerimônia foi o Ivo, quem não tinha nenhum pai, agora tenho dois, além de minha
mãe maravilhosa.
A festa foi
sensacional, todo mundo da família vinha falar com eles, Ivete ria, dizendo que
fazia anos que não se divertia assim.
Um dos irmãos do Hugh, não a deixava em paz, ele dizia aproveita é o
mais rico de todos, viúvo ainda por cima.
Quando voltaram,
passaram por NYC, aonde ia acontecer a festa para qual tinha feito as roupas,
mas se livrou de enxurrada de entrevista, dizendo que tinha que mostrar os
museus da cidade ao seu filho, junto com sua família. Numa das fotos da revista, apareciam os
quatro, numa foto da festa.
Agora Ivete vivia
na casa que tinha sido do Hugh, os dois tinha se casado novamente na França por
causa dos papeis, formalmente eram os pais adotivos do Ivo. Na cerimônia, só estava o pessoal do ateliê,
deu uma pequena festa em casa para comemorar.
Ivo agora, era um
aprendiz, mas sem largar os estudos, volta e meia, apresentava uma ideia, a
confeccionavam para colocar na vitrine, claro era vendida em seguida.
Ele reservava o
lucro, para ele ir a Universidade. Fez
belas artes, ali perto, mas dizia que aprendia mais com ele. Agora ficava ao lado dele, para aprender a
conhecer as clientes.
Tinha a cabeça
cheia de cabelos brancos o que lhe dava um charme especial. Nunca podia
imaginar amar uma pessoa como ele amava o Hugh, o relacionamento deles seguia
igual, o vulcão sempre estava ativo.
Ivo estava se
transformando num belo homem, como sempre conversava sobre tudo com Hugh, ele
ficava prestando atenção na conversa deles, inclusive ia com eles á mesquita,
com todo o respeito, fazia o mesmo que eles.
Mas para ele nada era mais importante que sentar-se depois de rezar,
ficar pensando na vida, lembrando do passado.
Mandou a sua irmã
uma foto de família, mas nunca recebeu resposta. Nunca chegou a usar todo o dinheiro que sua
mãe deixou para ele, era a herança do Ivo.
Tinha certeza de que iria adorar seu neto.
Sempre rezava
pelos seus pais, o que não esperava era que Ivo cada vez fosse mais religioso,
o acompanhava sempre.
Discutiam depois
os três fundamentos das religiões.
Cada vez mais foi
ocupando o lugar do pai no ateliê, algumas costureiras hoje eram filhas ou
netas das anteriores, ele não tinha prejuízo nenhum em sentar-se com as
bordadeiras, para fazer junto o que queria.
Seus primeiros
trabalhos, ganharam um prêmio, quem entregou foi o Abed, eles agora tinham uma
casa no campo, aonde ficavam mais tempo.
Ivete, acabou se casado com o irmão rico do Hugh, volta e meia vinha
para o filho lhe fazer um vestido para alguma festa.
Esperavam o dia
que Ivo chegasse dizendo que estava apaixonado. Mas este dizia que não tinha conhecido
ninguém ainda como os que tinha como exemplo.
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