lunes, 22 de marzo de 2021

ABED FAISAL

 

                                        ABED  FAISAL

 


Encostado numa das impressionantes colunas do Templo da Roca, em Jerusalém, com seu pequeno caderno de desenho, observava, anotando a lápis os motivos intricados árabes.

Amava isso desde que era criança na pequena cidade que vivia no interior do Líbano.  Eram uma das poucas famílias mulçumanas do lugar, com uma maioria maronita.   Mas ali a paz reinava.

Ele tinha seus domínios na loja de tecido de seu pai, adorava ir pelos estreitos corredores, passando a mãos pelos tecidos, sentindo seu tacto, era como se lhe dissessem, me transforme num lindo vestido.

Observava as mulheres entrando para comprar alguma coisa, a algumas diria, esse tecido merece uma proprietária mais bonita, ficava imaginando que transformariam o mesmo numa roupa sem interesse nenhum, tinha vontade de lhes desenhar como iria melhor, naqueles corpos gordos.

Era o único filho homem de uma família, em que dominavam as mulheres, desde criança tinha vivido no meio delas.     Mas era o único que ia a escola, tinha ensinado suas irmãs a lerem, escreverem, pois seu pais achavam uma inutilidade para elas isso.   Para eles a obrigação delas era formar família, ter muitos filhos.

A mais velha que ele 10 anos, já era casada, mas também só paria mulheres, vivia na casa ao lado, seu marido trabalhava para seu pai.

Ele tinha saído a sua mãe, cabelos negros, crespos, olhos negros, umas pestanas monumentais, como se fossem postiças, a pele clara, mas com um pouco de sol ficava moreno.  Suas irmãs ao contrário tinha saído imagem e semelhança ao seu pai, nariz feio, cabelos negros, mas mortos sem brilho, caras sempre cheias de acne.  Ele era o filho preferido pela sua mãe.  Seu pai queria colocar o nome do seu avô paterno, mas como tinha escolhido os nomes das filhas, que só faltavam ser um, dois, três, quatro.   Ela fincou o pé, escolhendo o nome de um irmão que tinha morrido jovem, que era um artista, Abed Faisal.   Dizia serás famoso como teu tio.

Ele adorava ir à pequena mesquita, para admirar os desenhos intricados das paredes, da cúpula, bem como o ritual, ao chegar, podia ter saído de casa, nem a 100 metros da mesma, mas lavava as mãos, como fazia seu pai, os pés, dizia as preces, que fazia, copiando seus mínimos gestos.

Amava, respeitava seu pai acima de todas as coisas, ficava prestando atenção como fazia para atender alguma cliente, quando lhe tocava atender alguma, usava tudo o que ele dizia, os adjetivos todos.   Ele se matava de rir, já seu cunhado ficava uma fera, pois era uma pessoa sem graça nenhuma, um homem desprovido de ambições, estava sempre de mal humor.

O escutava as vezes falando com sua irmã, quando esse velho vai morrer, para que eu possa realmente dirigir a loja, será a melhor do mundo.

Qual nada, ele era um simples capacho de seu pai, que lhe dava ordens como se falasse com um animal.  

Cada vez que passava por ele, o empurrava, lhe dava um beliscão, as vezes se atrevia passava a mão na sua bunda.  Reclamou com o seu pai, que disse que isso eram simples brincadeiras, mas este passou a observar o genro.

Teria uns 15 anos, um dia seu cunhado, estava de um humor de cachorro louco, o viu no armazém medindo um tecido para uma cliente, não só se atreveu a passar a mão na sua bunda, bem como abaixou suas calças, o empurrando contra os fardos.   Nesse momento seu pai, entrou, ficou parado na porta, gritou o nome dele, com o dedo indicou o escritório.  Espumava de raiva, escutou através da porta o cunhado se defender, dizendo que ele o provocava, que não era de ferro, com aquele corpo que tinha.   O velho ficou uma fera, no dia seguinte, embarcou o genro, a filha e as filhas desta para uma loja que tinha numa vila perto da fronteira.  Se acabaram os sonhos do genro de administrar a fortuna do velho.

Ele, ao contrário foi mandado para Beirut, para se preparar para a universidade, teria que estudar administração de empresas.   Mas ele queria como seu tio, estudar artes, se escapulia das aulas para ir as classes de belas artes.

Quando o pai descobriu, ficou uma fera, acho que teu cunhado tinha razão, tens que te tornar um homem, nada de artes, o mandou estudar em Istambul, interno num colégio.  Sem direito a saídas, vigiado 24 horas do dia.  Claro quando te tornas prisioneiro, o anseio de liberdade aumenta.  Foi o que aconteceu, não estava permitido que desenhasse, mas isso o fazia mentalmente, ia anotando em sua memória tudo o que via.

Mas claro num ambiente fechado, ele chamava mais atenção que numa escola aberta, foi abusado várias vezes por seus companheiros, pois era o mais frágil.

Quando um superior, encontrou em seu lençol manchas de sangue, o devolveu ao seu pai.

A bronca foi impressionante, justo dias depois sua irmã mais nova se casava com um novo empregado do velho.  Ele agora já sabia que gostava de homens, quando viu o pretendente, que ia casar com sua irmã mais feia, tudo é claro para posteriormente dirigir o negócio.  O provocou no armazém, esse em seguida fez sexo com ele.

Mas desta vez o pai, não viu nada, passado o casamento, viu seu pai discutindo com o genro, o queria mandar para estudar em Marseille, aonde vivia um irmão dele, seu cunhado dizia que não, que o queria ali.   Claro para desfrutar de seu corpo.

Quando seu pai o levou a Marseille, seu tio era uma pessoa muito fechada, era professor na mesquita.  Vivia cercado de seu corão, bem como outros livros religiosos, seu pai se fechou com o irmão na biblioteca, ficaram horas discutindo.   No dia seguinte o tio o começou a preparar para seguir seus passos.

Mas desenhava escondido tudo o que podia.  Quando fez dezoito anos, descobriu aonde o tio, escondia o dinheiro que o pai mandava para sua manutenção, não usava nunca pois dizia que era um dinheiro corrompido, pois vinha de servir a mulher para tentar o homem.

Na surdina, comprou um bilhete para Paris, todo o tempo que tinha livre, ia a um quiosque ver as revistas de moda, sabia que era aquilo que ele queria fazer.

Chegou em Paris, conseguiu um quartinho num hotel de quinta categoria, aonde as baratas ao passar diziam bom dia.  Procurou um emprego, descobriu que não tinha documento nenhum, por isso não lhe davam emprego.      Foi a um departamento tirar documentos, mas o homem o olhou de cima a baixo, dizendo que ele era estrangeiro, apesar de falar um francês impecável.

O viu de novo num bar da esquina, o homem fez um sinal para ele.  Disse que conseguia os documentos, se ele fosse generoso.   Na hora pensou que o homem se referia a dinheiro, mas não o levou a um hotel barato, fazendo sexo com ele.  Desta vez aprendeu que não era só se deixar penetrar, que existiam outras coisas, o homem brincou com seu sexo, alisava seu corpo, dizia, para quem em uns cabelos assim como o teu, deverias ter o corpo cabeludo, ao contrário, ele só tinha umas penugens em volta do sexo, nada mais.  Se encontrou com o homem, várias vezes, até que conseguiu documentos.     Logo estava trabalhando numa boutique na rue de Saint-Honoré, perto da Place Vendôme, aonde estavam as lojas das grandes marcas.

A proprietária o contratou, pois, além de falar um francês perfeito, falava árabe, inglês, entendia de tecidos, de moda.  Tinham duas costureiras no andar de cima, quando uma cliente pedia, ele desenhava uma roupa, para a mesma.  Era capaz de ficar depois da loja fechada, bordando alguma adereço para os vestidos.   Eram senhoras que tinham dinheiro, mas que a alta costura, não chegavam aos seus bolsos.   Logo contrataram uma moça que tinha facilidade de bordar, entender o que ele queria.  A senhora o queria como um filho, estava a muitos anos nesse mundo, para perceber que ali tinha um artista de mão cheia.  Ensinou a ele a calcular, quanto custava cada peça que fazia, analisar a cliente, para saber até aonde poderia ir, todos os truques da profissão.  Em breve colocavam na vitrine roupas feitas por ele.

Ele com seu senso agudo, viu que muitas vezes, alguma mulher árabe parava diante da loja para observar suas roupas, sempre colocava num dos manequins uma capa árabe cobrindo parcialmente o vestido.    Isso se vendia como água, escolhia tecidos vaporosos, mas que não mostrassem o que se levava por baixo.  Num cumulo de ousadia, um dia colocou, umas calças largas de seda, com uma blusa, bordada em pedrarias, com uma capa dessas por cima, não ficou nem dez minutos na vitrine, logo entrou uma mulher que comprou tudo.

Trabalhou uns bons oito anos com essa senhora.  Morava num pequeno apartamento em Marais, o bairro que anteriormente estava degradado quando ele chegou.  Agora virava a cada dia mais um bairro de moda.   Os gais compravam apartamentos antigos, os reformavam.

Ele tinha seus encontros, mas não queria perder tempo com nenhum homem, todos tinha sido sempre um problema para ele. Tinham o sentimento de posse, isso ele odiava, lutava loucamente para ser dono de sua própria vida.   Não queria ser uma pessoa que lhe dissessem esquerda, a direita, o rumo de sua vida era seu.

Um dia viu um homem parado na frente da vitrine da loja observando um dos seus desenhos, uma calças largas, as fazias assim, porque normalmente as mulheres árabes que tinham parido, tinha cadeiras grandes, as fazia de tal maneira que disfarçava sua silhueta, uma blusa com a frente toda drapeada, da qual saia uma fina linha de ouro, a capa era a mesma coisa, negra, mas os fios de ouro, criavam um detalhe a mesma.   Uma mulher que era cliente, desceu de seu Mercedes, o cumprimentou, lhe deu dois beijos, entrou na loja seguida pelo homem, pensou que era seu amante ou marido.  Quero experimentar essa roupa que acabas de expor.

A dona da loja, tinha um sorriso na cara.  Conversando com ela em árabe, perguntando pela família, lhe estendeu a roupa.

Ela saiu do provador, vê mon cher ami, a caída é diferente, esconde meus michelines, esse garoto entende as mulheres árabes.   Virou-se para a proprietária, levo o conjunto como sempre.  Ele estava no balcão, se dirigiu a ela, lembra-se da última vez que estiveste aqui, falamos num traje de noite, desenhei isto para ti.   Te vai transformar em uma princesa das mil e uma noites.   O homem simplesmente arrancou o desenho da sua mão.   Aonde aprendeste a desenhar isso.  Não era um simples rabisco, era como ter ideia realmente do vestido.

Desenho desde criança senhor, meu pai tinha uma loja de tecido no Líbano, eu via os tecidos, imaginava como seria transformá-los, depois em casa desenhava o uso do mesmo.  Mas claro não podia dizer as clientes que comprava os mesmo, na senhora ficara uma merda, melhor um tecido negro.

Sabe quem sou, lhe perguntou o homem?

Menor ideia senhor, estava furioso, mas sem perder a educação, como tinha lhe ensinado a senhora para quem trabalhava.

Ela rindo, soltou, esse filho da puta, é o maior costureiro da França, mas não entende as mulheres árabes, está perdendo todas suas clientes para ti.

Madame, não sejas má, quero que venhas trabalhar comigo garoto.

Ele teve a ousadia de responder, estou bem aqui, sou tratado com educação, respeito.

Madame se matava de rir, abaixe sua crista monsieur.   Sabe que o rapaz tem futuro, com certeza vais colocar o mesmo num canto, só para atender as clientes que não entendes.

Este virou as costas, saiu batendo a porta.

Verás disse a senhora árabe, sem querer fui eu que fiz essa confusão toda, quer apostar que ele vai mandar fazer o vestido que desenhaste para mim, mas se fores esperto, começas imediatamente o coloque na vitrine amanhã, eu o quero de qualquer maneira, mas me faça uma capa de mil e uma noites, como Sherazade.

Ele passou o resto do dia, cortando, passando o tecido as costureiras, a bordadeira que ia aplicando borboletas, mas muitas capas da saia, o busto ele mesmo drapeou, insertando pequenos bordados de prata que vinha fazendo a meses.  De noite se dedicou a capa, desta vez a mesma não escondia nada, nos ombros, era como um enxame de borboletas coloridas, a bordadeira, dizia que estava com os dedos doendo de tanto aplicar as mesmas.

Logo as oito da manhã ele colocou o vestido bem como a capa em um manequim sozinho na vitrine, mas cobriu o mesmo.  Só descobriu quando a dona da loja, ia abrir, fez um sinal que fosse do outro lado da rua, para olhar.    Ela estava de boca aberta.

Passou a mão no telefone, ligou para a cliente, já está, convide seu amigo, o melhor costureiro do País para vir até aqui.

Viu o mesmo saindo da Place Vendôme pisando duro, só então voltou a tirar o tecido que cobria o manequim.  Ele ficou parado olhando, entrou sem dizer bom dia a ninguém, começou a examinar as costuras, os apliques, como se fosse um fiscal de obras.

Virou-se para ele, te contrato, soltou um valor absurdo, que nem sonhava em ganhar.  Mas tens que trabalhar comigo.

Ele sempre tinha sido atrevido, sua mãe dizia que as regras de boa educação, eram a base de tudo.

Sinto muito, mas o senhor é mal educado, prepotente, entrou aqui sem respeito nenhum, examinou meu vestido, como se fosse um trapo sujo, de esfregar o chão.   Agradeço o oferecimento, mas se eu fosse o senhor, saia entrava novamente, seguia as regras de educação, cumprimentava a dona da loja, elogiava o que estava exposto, perguntava quem tinha criado, aí eu falaria com o senhor.

Só faltava espumar.  Saiu outra vez batendo a porta, justo nesse momento parava o Mercedes na porta, saiam do mesmo, sua cliente, cercada de amigas, com certeza clientes dele.

Entraram todas na loja como loucas.   Sua cliente provou o vestido, em seguida passou a mão no telefone.    Meia hora depois entravam na loja, um fotografo, uma mulher que depois descobriu que era a diretora de Vogue da França.  Eram muitos oh, ah, que diziam.

Todas as mulheres queriam roupas para a festa que ia promover a revista.  Faltavam 10 dias para isso.   Três delas, já tinham seus vestidos, mas duas outras não.   As olhou bem, pediu para ficarem a uma certa distância dele, começou a desenhar, o mesmo fez com a outra, se viam que eram irmãs, mas criou roupas completamente dispares, mas de acordo com a personalidade que intuía em cada uma.

A diretora do Vogue, pediu se ele podia desenhar um modelo, eu já tenho, mas quero imaginar o que serias capaz de fazer para mim.

Enquanto ele tinha desenhado, o fotografo, tinha feito mil fotos em cima dele.

Desenhou para ela, um conjunto de calças, imensas, como uma saia, uma blusa totalmente atrevida, com um bustiê todos de pedrarias por baixo, mas que deixaria tudo a mostra.  Pode fazer, mas te aviso, ao receber os convidados, usarei um do teu competidor, mas em seguida usarei o teu, na hora do jantar, Madame, a senhora, o seu fiel escudeiro, estão convidados para a festa, mandarei os convites ainda hoje.  Pegou na bochecha dele, meu lindo, esse será teu debut no mundo da alta costura.

Depois que a cliente pagou a roupa, colocando tudo numa caixa, saíram todas.  Ele suspirou aliviado, estou morto de sono, mas não posso perder um minuto. 

Uma pausa, saiu com a senhora para o café da esquina, aonde sempre comia o mesmo um café imenso, acompanhado de um croissant.    Chamou a garçonete, Ivete, hoje quero outro café, um para levar.   Ela se chegou a ele, vi o vestido na vitrine, cheguei a chorar de emoção.  Tens futuro meu garoto.

Madame olhou para ele muito séria, lhe disse, hoje a tarde o contador, vira com uns papeis para assinares, a partir desse momento eres meu sócio, outro estaria lambendo as solas do sapato desse grande costureiro francês, não precisas dele, tens luz própria.   Aliás um conselho, nunca querias ser tão grande como ele, pois perderas a criatividade.   Isso ele escutou, seguiu ao pé da letra.

Foi uma batalha, contrataram mais duas costureiras, duas bordadeiras.   Ele mesmo cortou todos os vestidos, duas capas.   O bustiê de Catherine de Vogue, bordou ele mesmo.  Mas se esqueceu que não tinha um traje para ir ele mesmo a festa.  Foi ousado, na loja tinha um smoking feminino, colocou uma calças jeans negras com uma faixa de centim nas costuras laterais, com uma seda branca, drapeou em seu próprio corpo a parte de cima, colocou o casaco, ficava com as costas nuas, uma gravata borboleta negra com um anel de rubi no meio solto em seu pescoço, seus imensos cabelos crespos negro.   Madame foi com um conjunto que ele tinha desenhado a mais tempo, que ela gostava, nunca quis vende-lo.

Quando chegaram a festa, ela o empurrou em direção a Catherine, que o abraçou e beijou, dizendo ao seu ouvido, que atrevimento, estas chamando mais atenção do que eu.  Tire esse casaco já, imagino o que tem por baixo.   Os flash não paravam de estourar. Tornou a colocar o casaco, foi buscar madame que tinha lagrimas nos olhos.   Meu filho acabas de nascer para o mundo.

A mesa de Catherine, era redonda imensa, a viu dando uma ordem, eles estavam sentados numa lateral, ela foi pessoalmente já vestida com seu traje, para que fosse se sentar na mesa, Madame, sorriu, deixe o meu menino brilhar com luz própria.   Na mesa estavam sentados todos os grandes da moda de Paris.   Ela atravessou todo o salão, com ele de braço dado, subiu a um pequeno palco, apresentou a Paris, ao mundo, uma nova estrela. Pediu para as senhoras que ele tinha vestido subirem com ele ao palco.  Os aplausos eram fantásticos.

Depois o guiou até a mesa, o foi apresentando a cada um, Abed Faisal, as senhoras ele beijava na mão, aos homens ele inclinava meio corpo, em respeito.  Menos ao que o tinha ofendido, estendeu a mão simplesmente o olhando nos olhos.

Todos elogiaram sua criações.   Um que estava ao seu lado, lhe perguntou qual seria sua criação de outono inverno.  Se dirigiu ao mesmo para que todos ouvissem, senhor, não pretendo competir nas coleções, eu gosto mesmo é de desenhar para minhas clientes, ao que posso dedicar de corpo e alma.  Saber o que lhe convém, se faço coleções, perderei essa liberdade.

Depois ainda tenho muito que aprender dos grandes mestres, espero que com humildade.

Eles dois, Madame, administrava, ele atendia as clientes, escolhia os tecidos que lhe caiam bem, quando alguma cismava em querer uma coisa que ficaria horrível, ele se levantava a acompanhava até a porta, dizendo senhora, estas no lugar errado, aqui trabalhamos para a deixar linda, não para ser uma a mais.

Algumas voltavam, outras iam aos grandes costureiros, para comprar qualquer coisa que queriam usar de qualquer maneira, ficasse bem ou não.

Quando começaram a crescer muito, ele um dia parou, assim não vamos a lugar nenhum, estamos fazendo o mesmo que eles.  Mal tenho tempo para digerir, nem gastar o dinheiro que ganho.  Tinham saído pelo menos três vezes nas capas de Vogue, por causa de suas clientes.

Agora algumas atrizes famosas, iam até ele, para pedir, vou ao festival de Cannes, preciso de uma roupa que me faça brilhar.

Através de uma cliente, milionária Libanesa, casada com um embaixador do pais, conseguiu informação de sua família, tudo baixo sigilo.   Para todos efeitos, ele era de um bairro marginal de Marseille.    Seu pai tinha morrido, seu cunhado tinha enterrado a loja, tinham perdido tudo.

Como no momento estava cansado, avisou Madame, vou resolver problemas particulares, logo estarei de volta.

Comprou um bilhete para Beirut, alugou um carro para o levar até sua cidade.  Tudo continuava igual, mas a loja estava fechada.  Foi a casa familiar, só viviam ali, uma irmã com sua família, sua mãe.   Esta pensou que ia ter um enfarte quando o viu.   Se agarrou a ele, chorando.

Sua irmã lhe contou tudo, depois da morte do pai, os genros tinham brigado pelo dinheiro, pelo comercio, resultado o dinheiro correspondia a nossa mãe, que lutou como um leão com eles, a loja acabou fechando, restam tecidos impressionantes dentro.  O local é nosso, mas temos que tirar o que está, para alugar.

Ele foi com a mãe e a irmã olhar o local, sem se dar conta foi separando sedas antigas que ele tinha passado a mão mil vezes, ia dizendo meninas voltei para buscar vocês.  Mandou embalar tudo, mandando para Paris.   Tinha trazido as revista em que saia, com suas roupas, a mãe não fechava a boca, seu pai ia estar orgulhoso de ti.  Brilhas com tua própria luz.

Porque a senhora não vem comigo, podemos viver juntos.

Não, aqui é meu lugar, meus netos estão aqui, morrerei nesta casa aonde nasci.  Antes de ir embora pediu a irmã que sempre desse notícias.  Foi embora da mesma maneira que tinha chegado como um relâmpago.

Agora se podia dar o luxo, de vez em quando tirava um tecido escondido, para fazer um vestido ou uma roupa para brilhar.

Suas clientes sabiam que estaria fazendo exclusivamente para elas, mas tinha sempre alguma coisa especial na vitrine.  Quando encontrava algum costureiro num jantar que tinha sido convidado era educado, perguntava pelo trabalho, escutava as reclamações sobre as coleções, o estressados que estavam.  

Um dia escutou um barulho tremendo na rua, era um carro de segurança, uma limusine, outro carro atrás, entraram na loja, perguntando por ele, se podia atender uma pessoa em particular, que não se visse desde fora.

Claro que sim.  Viu um homem descer, entrou na loja, foi direto a ele, se apresentou como um príncipe árabe.

Era jovem, disse que não queria aparecer com o traje branco que usavam todos os árabes, era sua festa de aniversário, que gostaria de estar diferente.   Vi sua foto naquela festa da Vogue a muitos anos, quero algo discreto, mas digno de mim.

Olhou bem para ele, pediu se podia tirar essa casca de capa que usava, que ficasse só com o que tinha por baixo, para poder imaginar o homem que estava vestindo.

Ficaram só os dois na sala. Príncipe, ficou quase nu.  Ficou olhando nos olhos dele, ao mesmo tempo desenhava, lhe disse, vou ser sincero consigo. Se faço uma coisa louca, ou absurda, irão dizer que o príncipe é gay.   Acredito que sua sexualidade, deve ser guardada para seu foro íntimo.     Mostrou o desenho, era um smoking branco, mandarei bordar em ouro e prata, pois significam a riqueza do mundo, por cima o jovem usará uma capa que farei, em seda branca, com as bordas bordadas com vossa insígnia também em ouro e prata. Sugiro que como vejo que usas óculos, que visite o oculista aqui ao lado, nesse dia você usara uma lente de contato.

O rapaz se aproximou, foi o que imaginei, sabes falar.  Sim algo exagerado faria levantar suspeita a meu respeito.  Pode fazer o traje.  O convidou para a festa, seria numa sala exclusiva do Hotel Ritz.

Como lhe aviso para provar o traje?    Lhe deu um cartão, falas com meu secretário, mando te buscar.

A coisa agora era o tecido que tivesse um caimento como uma roupa árabe.  As bordadeiras, esticaram um tecido de lã finíssimo, que ele mesmo foi buscar pelas fábricas, até encontrar o que queria.  Aplicaram os fios de ouro e prata, a uma distância de um centímetro uma da outra, cortou o traje, na gola de cetim, o mesmo desenho que estava na borda da capa, os signos de sua dinastia. Bordados tão sutilmente, que só de muito perto se percebia.

Quando avisou que tudo estava para prova, veio uma limusine para o recolher, o que estranhou é que deram uma volta para entrar para a garagem do Ritz.    O príncipe, na frente dele ficou quase nu, vestiu a roupa, lhe caia como uma segunda pele.

Fantásticos, apertou sua mão, mandou o secretário passar na loja para pagar.  Te espero na festa, lhe estendeu um convite.

Justo no dia seguinte lhe comunicaram que sua mãe tinha falecido.  Embarcou num voo particular, para a cidade mais próxima da sua.  Chegou justo a tempo.   Sua irmã, lhe entregou um envelope.  Só abra quando estiver em Paris.

Voltou no mesmo avião depois do enterro, suas outras irmãs mal falaram com ele.

Não se incomodou, o único vínculo que tinha com o Líbano, acabava de deixar de existir. Nunca mais voltaria.

Quando chegou estava exausto, Madame o avisou que teria a festa nesta noite, que deveria ir para casa dormir.

Chegou ao seu apartamento, sempre dizia que ia se mudar para um melhor, pois tinha dinheiro para isso.

Tomou um bom banho, caiu na cama, se não tivesse colocado o despertador, teria perdido a festa.  Se vestiu como sempre, um smoking em cima de uma calças jeans, uma camisa, com fios de prata, gravata borboleta negra com fios de prata.

Quase sai de casa sem sapatos, uma cliente lhe tinha dado de presente umas babuchas de seda prateada, as colocou.

Estava a fina flor da sociedade francesa, misturada com jovens príncipes do mundo árabe, jovens vestidos pelas grandes marcas francesas.   Quando o príncipe apareceu com sua roupa os outros estavam todos de negro, de longe parecia que estava com suas roupas tradicionais.  Mas quando tirou a capa viram que estava todo de branco sim, mas que sua roupa brilhava discretamente.   Quando o aplaudiram, foi até ele, levantou o seu braço como um campeão.

Estava cansado, as conversas não podiam ser mais superficiais possíveis, isso o deixava a margem, pois nunca tinha tido tempo para esse tipo de conversa, um homem que estava sentado ao seu lado, calado todo o tempo, com um smoking severo, de óculos escuros, com uma barbicha.  Lhe perguntou, se estava aborrecido, por falarem coisas superficiais, ou porque não falavam de moda.

Eu nunca falo de moda com ninguém, tampouco fofocas da vida alheia. Meus interesses são outros, adoro livros, exposições de arte que vou sozinho para não ser perturbado enquanto as admiro, absorvo tudo.  Melhor, gosto de estar em paz, na sua frente as taças de bebidas estavam cheias, mas sem tocar, cada vez que faziam um brinde ao príncipe, ele levantava a sua, mas sem tocar nem os lábios.   Não gostava de beber, claro só o café. Sem querer se viu conversando com o homem, um olhando a cara do outro.   O príncipe se aproximou, dizendo que ia ficar com ciúmes, seu professor preferido, conversando com seu costureiro preferido.

Então se apresentaram, ele se chamava Jean-Pierre Al Laud, lhe explicou que era judeu Druso, que vivia desde criança na França.

Somos de terras vizinhas, começaram a falar de política quando a música aumentou, o professor o convidou para saírem irem a algum lugar para seguir a conversa.  Acabou na sua casa fazendo sexo com ele.  Se sentia excitado quando o outro trocava seu corpo, se exploraram mutuamente.

Ao final, lhe perguntou se não tinha ninguém?

Se eu estivesse alguém não estaria contigo.  Minha vida particular, é um pouco escassa, pois as vezes não me sobra muito tempo.   Isso que não preparo coleções, mas estou sempre informado das tendências de moda.

Depois o levou a sua casa também, voltaram a fazer sexo, ele estranhou, imaginei uma casa cheia de porcarias de decoração, mas vejo que eres uma pessoa que gosta de simplicidade.

Quando ele foi embora no domingo a tarde, se deu conta da carta da mãe.   Com sua letra miúda, lhe dizia que devia procurar um advogado, seu nome, sua direção.  Ele te dará outra carta que te explicara tudo.

No domingo a noite o Jean-Pierre lhe chamou, estou sentido tua falta, vens para cá, ou vou para tua casa.

Venha para cá, estou com preguiça de me vestir.     

Jean-Pierre vivia em Saint-Germain de Prés, chegou em seguida, disse que na verdade tinha lhe chamado da rua.  Se davam bem na cama, bem como conversando, assim começaram um romance, que duraria 15 anos.

Quando foi ao advogado durante a semana, este soltou que imaginaria que ele depois do enterro, estaria ali direto.  Mas ao parecer tomaste teu tempo.

Só sei que o senhor tem uma carta para mim, o resto nem imagino.

Lhe entregou um dossier.  Aqui tem tudo que lhe pertence.  Sua mãe, desde que o senhor saiu de casa, vinha depositando dinheiro, não me pergunte como, pois não sei, em Luxemburgo, este dinheiro está ao seu inteiro dispor.  Era um valor bem considerável.

Pegou a carta, guardou no bolso de seu casaco.

Minha mulher me fez prometer que lhe perguntaria, se o senhor poderia lhe atender, mas que lhe dissesse que não sou rico. 

Lhe estendeu um cartão com seu nome, em uma linha muito fina em prata.  Que me procure na loja.

Semanas depois, ele ainda não acreditava no que tinha.   Madame o chamou muito séria, temos problemas, o proprietário vendeu a loja, o novo dono a quer quase imediatamente.

Vou ser franca contigo, eu gostaria de me aposentar, já tenho uma idade considerável, nos pagar uma indenização se saímos dentro de um mês.    O que pretendes.

Vou pensar.  Fez uma coisa que nunca fazia, desceu, foi ao Bar, pediu a Ivete um café, tinha o hábito de falar com ela. Como estava vazio, pediu que sentasse com ele.

Contou o que tinha entre mãos, queres vir trabalhar comigo, eu tenho poucas pessoas que confio, te vejo sempre educada com todos, eres franca comigo, podias me bajular, mas me trata como um igual.

Ela ficou de boca aberta, riu.  Contigo meu amigo, vou ao inferno se for preciso.

Então toca procurar um lugar para levar tudo daqui.  Em sua cabeça estalou um lugar que gostava de passear, vá trocar de roupa, vamos ver um local, para nosso negócio.  Seu patrão já olhava feio, pelo fato de estar sentada com um cliente.  Ela chegou a ele, falou ao seu ouvido, ele ficou furioso.

Voltou em seguida, com uma saia justa negra, um casaco simples.

Ele só lhe disse, te falta uma coisa, um batom vermelho, um coque bem apertado, que estire, de luz aos teus pômulos.

Assim será chefe.

Foram olhar o local, assim minha clientes não levam multas.  Quando negociou com o proprietário, esse não sabia com quem estava falando.  A loja era menor, mas a parte de cima para o ateliê era perfeita, tinha sido uma galeria de arte.  Tenho um apartamento, mas este está à venda.   Quando mostrou o mesmo, ele viu que tinha encontrado o lugar de seus sonhos, de frente não estava devassado, pois tinha uma arvore imensa na pequena praça que tapava o mesmo de olhos indiscreto.   Quando o homem disse o preço, se inclinou, lhe perguntou ao ouvido, se lhe pago em Luxemburgo, como ficamos?  

O homem economizaria em impostos, abriu um sorriso imenso. Trato feito.

No dia seguinte, Ivete já estava ao comando da pequena obra necessária, as paredes já eram brancas, o resto trairiam da outra loja.  Sentaram-se os três, elaboraram uma carta as clientes, lhe dando sua nova direção, agradecendo sempre sua constância, bem esperando poder seguir contando com elas.

No dia seguinte levou suas poucas coisas para seu apartamento novo, agora poderia ir a pé, pois estava perto da casa de Jean-Pierre, nunca chegariam a viver juntos.  Ele necessitava de seu espaço para escrever, dormia quase todas as noite juntos, jantavam, conversavam horrores.

Basicamente não perdeu nenhuma cliente, o ateliê, montou como queria, com um pequeno salão íntimo para atender as clientes.  Depois a sala de costura com as mesmas empregadas, todas queriam seguir trabalhando para ele.

O mais interessante, estava cercado de galerias de arte, mas compunha sua vitrine como se fosse mais uma.   As vezes turistas ricas americanas viam a roupa na vitrine, entravam, logo encomendavam alguma roupa.   Ivete lhe explicava, que a que estava no manequim, era sempre uma peça única, poderiam arrumar para a cliente, mas o senhor, teria prazer em atendê-la desenhar algo exclusivo para ela.   Assim fez também uma clientela rica americana que sabia que teria uma roupa diferente dos costureiros que seguiam tendências.

Os primeiros cinco anos, ele é Jean-Pierre eram inseparáveis. Depois ele começou a sugerir sair para encontrar com seus outros companheiros, professores como ele da Sorbonne, eram discussões, que pareciam nunca terminar, quando os assuntos não lhe interessavam, tirava do bolso um bloco, ficava desenhando algum motivo árabe, que depois usaria num vestido ou traje.

Jean-Pierre ria disso, enquanto tentamos salvar o mundo, tu tentas salvar as mulheres de parecerem feias.   Normalmente dormia em sua casa, mas quando ele começou a se fartar dessas reuniões, a maioria das vezes dormia na sua.   Quando fizeram 10 anos que estavam juntos, confessou, que necessitava de novas emoções, que gostaria de experimentar fazer trios, ou outro tipo de relacionamento sexual.

Entendeu, a vida junta, lhe parecia cômoda, queria emoções porque estava ficando velho, era mais velho que ele 15 anos.   Sem querer o entendia, pois quando estavam na cama, sentia que cada movimento era igual ao que já tinham feito antes.

Lhe disse que ele é quem tinha que resolver, mas que não queria esse tipo de relacionamento, podemos seguir amigos.    Jean-Pierre seguia o apresentando para todo mundo como seu companheiro.   Não lhe incomodava.

Um dia andando na rua, encontrou um de seus conhecidos, veio lhe contar que devia ter cuidado, pois Jean-Pierre estava frequentando o baixos fundos do mundo gay.  Saia agora de madrugada com jovens que não se sabia de aonde tinha saído.   Outro dia foi preso, por estar com um menor.  A universidade já lhe advertiu que fosse discreto em sua vida.

Foi falar com ele.  Não se surpreendeu muito, pois foi franco, necessito dessa emoção com os jovens, é como se por momentos, recuperasse a juventude que perdi, ou não soube usar.

Um dia foi jantar com ele, viu que estava com ansiedade, este o levou até a porta de sua casa, se despediu.

Esperou um instante, viu que ele mudava de direção, em seguida viu que estava com dois jovens que quando muito tinham 18 anos, com cara de gigolos.  Viu que iam para sua casa.

Ficou com pena dele, ele também sentia o tempo passar, mas quando era abordado por alguém jovem, a saída de um bar, pensava o que vou falar com esse idiota.    Ia para casa sozinho.

Um dia Jean-Pierre chegou arrasado ao ateliê, perguntou se podiam subir para falar com ele.

No apartamento se abriu, embora fosse um choque para ele, soltou como um soco no estomago, estou com Aids, já em fase avançada.  Quero que faças um exame, pode ser que tivesse alguma aventura ainda quando fazíamos sexo.   Tinha vontade de lhe dar uma surra.

Mas sempre tinha exigido usar proteção, mesmo assim fez os exames, inclusive foi com ele fazer outra vez.  Ele não tinha nada, mas se começava a notar em Jean-Pierre os signos da doença, o médico foi franco, devias estar fazendo tratamento a mais tempo.  Durante o dia ele trabalhava, se revezava de noite como enfermeiro que cuidava dele.  O viu definhando, pediu se podia encontrar um sacerdote Druso para ele conversar.  Conseguiu, pediu que ele levasse suas cinzas para Israel.  Lhe prometeu, chamou um advogado, pois queria deixar sua imensa biblioteca para a Universidade.   Nunca nenhum amigo seu, esses com quem tinha imensas discussões sobre o direito a liberdade sexual, apareceram, só uns poucos vieram a cerimônia que teve antes de sua cremação.   Agora estava ele em Israel, entregou as cinzas a família, que o tratou de maus modos, como se ele fosse culpado de alguma coisa.

Aproveitou, para descansar, estava hospedado num apartamento em Tel Aviv, tinha ido já uma vez a Jerusalém ao Domo da Roca, a primeira vez, se sentiu como quando era criança, junto com seu pai, fazendo a cerimônia da limpeza corporal, as rezas que seu pai fazia, voltaram todas a sua cabeça, entrou rezou, sentiu uma imensa paz.   Foi a primeira vez que viu o homem moreno, ali ajoelhado, rezando com fervor.

Tinha um corpo de enfarte, se via que cuidava fazendo exercício.    O viu outra vez no ônibus voltando para Tel Aviv.   No dia seguinte o viu na praia, fazendo exercícios.  Na última vez alguns jovens tinha tentado fazer uma paquera, lhes tinha respondido que só gostava de homens mais velhos.

Agora o faziam com o homem na barra, seu corpo era liso, como que desenhado a lápis, estava excitado só de olhar.  O mesmo disse aos jovens alguma coisa, eles apontaram para ele.

Ficou se graça, procurou se relaxar, mas o homem veio se sentar ao seu lado, estendeu a mão Drew Brow, sou americano, mecânico de motos, os dois estavam excitados, foram diretos para cama, ficou impressionado com seu corpo, sem um pelo, pensou que se depilava.

Esse corpo que tanto admiras, só me deu problemas, todos querem só isso, a casca o que tem dentro não.   Contou para ele como tinha se convertido.

Dois dias depois se despediram, se sentia vivo outra vez, tinha sido uma experiencia fantástica, mas cada um tinha sua vida, tinham que tocar em frente.

Voltar para Paris, era como voltar para casa, ali tinha feito sua vida, tinha logrado êxitos, tinha que seguir em frente.

Ivete lhe avisou que uma cliente americana estava louca para falar com ele, disse quem era, riu, pois, era uma mulher super divertida.  Muito natural, de uma beleza surpreendente, tinha sido miss pelo seu estado, Texas, dizia sempre, todo mundo pensa que sou burra, porque sou bonita, me casei com um milionário, nada mais longe da verdade, na minha família primamos todos por sermos sempre os melhores da escola, as notas mais altas.  Tinha um curso superior de fazer inveja, na verdade, era diretora sênior da empresa do marido.   Se ele bobear, le roubo a empresa porque a entendo melhor que ele.

Ela apareceu logo em seguida, desta vez estou na casa do meu irmão, ele vive aqui ao lado, estava como uma rosa, calças jeans, tênis, camiseta bem decotada, com os cabelos presos num rabo de cavalo.    Rodou na frente dele, nada mais americano, nem texano.   Meu querido amigo, necessito uma roupa para uma festa da Vogue em NYC.  Não quero nada de essas que pensam que serão famosas a vida inteira usam.  Coisas incomodas, que mal podem andar, quanto mais sentar-se. Tirou da bolsa uma caixa, veja essa joia era da minha mãe, me deixou de herança, mas nunca pude usar, porque é uma coisa singela.  Era um colar, com dois brincos, tinham a forma de flor, no centro de cada uma tinha um rubi.   Queria um vestido que pudesse usar isso.   Pertenceu sempre a família, diz sua lenda que na época da guerra foi vendido para comprar comida para os escravos.   Mas que depois voltou a família.

Ele copiou o desenho do colar, disse, amanhã venha fazer uma prova.

Buscou um vestido dessa época, desenhou o mesmo como se fosse um vestido usado uma atriz num filme de época.              Usaremos uma coisa antiga, como anáguas ligeiras, mas que criem volumes, por cima ia uma saia em que a rosas se reproduziam na barra, era ligeiramente mais curta na frente pois sabia que existia uma escadaria para subir, mais comprido atrás, formando uma pequena cauda, nada como as gigantescas que usavam, o busto era todo plissado, como o colar era de ouro, uma das bordadeiras, fez meias rosas em crochê, de fios de ouro, com uma pequena pedra no meio, iam subindo da cintura encaixada no plisse, quando chegavam em cima, só tinha uma que ficaria logo abaixo do colar.    Os braços estavam livres, buscou numa caixa um leque precioso de plumas que tinha comprado num antiquário a anos, as plumas eram brancas embaixo, depois rosa, finalizavam com a cor rubi.

No dia seguinte ela apareceu mais arrumada, ele tinha chamado uma cabeleireira, amiga da Ivete, lhe disse que antes como deveria ser seu cabelo, enquanto se arrumava, entrou um homem com uma cara severa, perguntou por ela, o levaram para cima, ela disse que estava emocionada, esse homem sabe me cativar.  Ele estendeu a mão, perguntou como vai.

Tinha ligeira sensação que o conhecia.  Quando o cabelos ficaram prontos, um imenso coque, cheios de flores brancas como do desenho.  Ele disse, agora feche os olhos, deixe as ajudantes te vestirem, só abra quando estiver pronto.  Ela docilmente se deixou vestir, o homem sorria o que o deixava bonito.   Ele enquanto isso começou a buscar entre seus blocos de desenhos até que o encontrou. Ficou quieto.

Quando o homem lhe deu o colar, lhe sorriu, pediu que o colocasse.   Agora abra os olhos, ela deu um grito.  Caramba, em casa de minha mãe, tinha um quadro da dona do colar, com um vestido mais ou menos como esse.  É como voltar no tempo, me sinto bailando naqueles bailes que aparecem nos filmes.

Ele ria, quando estavam te vestindo pensei o mesmo, mamãe ia ficar feliz.

Ah este é teu irmão, por isso tinha a sensação de conhecê-lo, fui buscar entre minhas coisas um desenho.   Mostrou para ela.    Esta ria a bessa, ele quis ver o desenho, era ele nas famosas conversas do Jean-Pierre, com a cabeça apoiada nas mãos, como pensando, isso não vai acabar muito.    Ele ria a bessa, ficava mais bonito.

Me lembro da conversa desse dia, uma discussão sem fim, sobre liberdade sexual de cada um.

Sim nesse dia entendi que nosso relacionamento tinha ido para a merda, nessa noite vim embora, porque já não queria perder meu tempo.     Ele estava desesperado em busca da juventude perdida, acabou perdendo sua vida.

Sinto muito disse ela.

Não, eu lamentei muito, cuidei dele até que morreu, pois no fundo era o único amigo que tinha, acabo de voltar de Israel, aonde fui levar suas cinzas, ele negava de todas as maneira suas raízes judias misturadas com árabe.  A família me olhou como se eu fosse culpado de alguma coisa, eu nem sabia que existiam.  Mas de outra maneira, me reencontrei com minha religião, a ligação que tinha com meu pai, quando ia com ele a mesquita, o simples fato de lavar o rosto, as mãos, os pés rezando, foi um balsamo para mim.

Ela o abraçou o beijou.

Deixemos isso de lado, mostrou o desenho da pequena capa, todas irão com aquelas capas monstruosas, se queres faço essa para ti, mas meu presente é esse, lhe entregou a caixa de seda, ela quando abriu deu um grito, que lindo.

Tenho até medo de usar, como te devolvo depois?

Nada é um presente para ti, o comprei num antiquário, sua dona original era uma grande artista de teatro francês.  Tem seu nome no fundo.

Bom a partir de amanhã podes vir buscar o vestido, vamos só terminar alguns detalhes.

Ninguém vai esperar que eu apareça com um vestido lindo deste, esperam que eu apareça com um escandaloso.

Hugh o que achas?

Em ti minha irmã tudo esta sempre bem.    Nosso amigo é um mestre.  Nesse dia do desenho, estávamos os dois chateados com a conversa, olhei para ele desenhando, fiquei com inveja, pensei, ele pelo menos pode se ocupar, eu me sinto aqui perdendo meu tempo com discussões sem futuro, nunca mais voltei a me reunir com esse pessoal.

Sou professor na Sorbonne, de literatura e filosofia aplicada ao pensamento americano, além de ser teu vizinho.   Te vejo sempre com tua assistente, tomando café no mesmo lugar que eu vou, mas nunca tive coragem de me aproximar.

Bom agora já sabe que não sou nenhum bicho papão.

Porque não vamos jantar essa noite sugeriu ela, porque depois eu irei embora.

Foi ótimo o jantar, pois nos dias seguintes ele teve uma enxurrada de pedidos de clientes americanas, que queriam roupas diferentes para a festa.  Nas vésperas, recebeu um convite para ir a NYC.   Mas não estava de humor para isso.  Escreveu um e-mail, agradecendo, mas tinha assumido outro compromisso.   Nada disso queria ficar em casa tranquilo.

Nesse dia pela manhã, um domingo, encontrou Hugh no café, ele se aproximou, perguntou se podia sentar-se.

Nada me dará mais prazer de ter uma conversa tranquila contigo.   A irmã queria que ele fosse a festa, para ela no fundo é como administrar seu negócio.   Aproveitara, que estará deslumbrante, para convencer muita gente de fazer negócios com ela.

Foram caminhando para casa, o convidou para subir para conhecer seu apartamento.

Este da porta riu, eu imaginava um apartamento totalmente superficial, embora saiba que eres muito sério, posso fazer uma coisa que tenho vontade de fazer, desde o dia que te conheci.

Se aproximou, segurou seu rosto com as duas mãos, o beijando, era como beijar um vulcão em erupção, nem teve consciência que estava nu com ele na cama, o sexo era igual, o homem de tranquilo, como que explodia.

Quando comentou isso com ele, respondeu, que era porque é você que me deixa assim, agora estavam juntos sempre no café da manhã no restaurante, dormiam juntos todos os dias, depois de fazerem sexo.  Não se cansavam, nunca nada era igual.

As conversas eram imensas.  Ele recebeu a revista em que saia sua irmã, falando dele, o costureiro que tinha encontrado a alma do colar.  Tinha posado para a foto, embaixo do quadro da casa da mãe dela.

Temos que um dia ir ao Texas, completava rindo, para fazer nosso casamento a moda de lá. Com uma grande festa.

Um dia Ivete chegou atrasada, a escola de seu filho tinha uma epidemia, estava fechada, não tive com quem deixá-lo, ele pode ficar no ateliê, a cara do garoto era divertida, examinava tudo cada detalhe, se aproximou de um vestido exposto, como se examinasse as costuras.

O levou para cima, apresentou ao pessoal, lhe deu um bloco, lápis, o deixou ali, mergulhou no seu trabalho, quando levantou a cabeça, estavam todas costureiras olhando o que fazia o garoto.

O estava desenhando numa sequência, ele com o lápis suspenso no ar pensando, outra com o lápis na boca, outra desenhando coçando a cabeça.   Riu muito.  Como te chamas filho.

Ele rindo disse, pensei que sabias, Ivo, estendeu sua mão, que eram firmes.   Não desenho muito porque na escola dizem que isso é coisa de gay, fui perguntar minha mãe, ela disse que os meninos eram idiotas.  Que uma coisa não tinha a ver com a outra.

Em seguida voltou a trabalhar rindo, mais tarde o viu sentado ao lado da que estava fazendo uma barra bordada, o ensinando a fazer igual.    Agora ia todos os dias depois da aulas, ficar no ateliê, disse que tinha que aprender de tudo, pois um dia queria ser como ele.  Quando estava com o Hugh tinha conversas interessantes, riam a bessa.

Ficou olhando um dia os dois juntos, imaginou se tivessem um filho, o Hugh seria um grande pai.

Conversando com a Ivete, perguntou pelo pai dele.

Não sabe que existe, é um homem casado, me mentiu, dizendo que era solteiro.   Nem sei por aonde anda.

Vou te fazer uma proposta, mas tens que falar com ele antes.  Eu não tenho herdeiros, esse menino se segue assim será um grande costureiro.   Queria adotá-lo.

Estava fazendo pela primeira vez uma coleção, a pedido da Vogue para uma Festa por todo o alto em Paris, depois iria para NYC, aonde a festa se repetiria.

Quando estava retocando o último vestido, desmaiou, Ivo tomou rédeas da situação, chamando uma ambulância, bem como avisando ao Hugh que estava dando aulas.

Tinha tido um princípio de enfarte, por stress.  Depois dizia a Ivete, vês por que nunca quis fazer uma coleção, menos mal que estava tudo pronto.    Hugh dormiu todos os dias no hospital, Ivo vinha vê-lo pela tarde depois das aulas com o Hugh, pareciam pai e filho juntos.

Pediu ao Hugh se o deixava falar sozinho com o Abed, minha mãe me contou que querias me adotar, eu ia dizer que sim, quando tiveste esse princípio de enfarte, fiquei louco, ia perder meu segundo pai.   Não sei quem é o primeiro, mas não quero te perder, se me queres como filho eu aceito, mas não porque podes me deixar uma herança ou mesmo teu negócio, porque aprendi a querer o senhor.

Quando ficou bom, a primeira coisa que fez com o Ivo foi ir a mesquita, o ensinou como seu pai tinha ensinado todo o processo de preparação para entrar, a reza que ele fazia.  Ele estava compenetrado.   Minha mãe nunca vai a nenhuma igreja, não creio que se aborreça que vá contigo.

Ivete ria, imagina agora terei um filho mulçumano.   Quando foi com o Hugh a Texas numa reunião de família, ele insistiu em levar o Ivo, bem como a Ivete, como todo ateliê estava de férias foram.  Ela comentou com ele, esses dois conversando, parecem pai e filho, verdade.

Sim Hugh o adora.  Me pediu para me casar com ele, aproveitando toda a família junta.

A anfitrioa da festa era sua irmã, os recebeu de braços abertos na mansão da família que ela vivia.   No salão, embaixo do quadro estava exposto o vestido que tinha usado.

Não parava de chegar gente no dia da festa, Hugh tinha saído a cavalo de manhã com Ivo, voltaram rindo muito.   Esses dois estão tramando algo, disse para Ivete.

Ele estava vestido como tinha dito para se vestir, com uma roupa normal, quando Hugh tomou a palavra, estou a muitos anos fora do país, quando fui, imaginei uma vida de aventura, mas nada mais longe da verdade, logo me aborreci, estava prestes a pendurar a chuteira, deixar tudo para trás voltar com o rabo entre as pernas, quando encontrei a pessoa que quero viver a vida inteira, encontrei na verdade uma família, um filho adotivo dele, que adoro, é como meu filho, por isso por querer ser dessa família, queria pedir a mão do senhor Abed Faisal, em matrimonio, aproveitar que meu irmão que juiz oficialize essa união.    Ivo foi até ele, arrastou realmente pois estava com vergonha.   Não tinha imaginado nada assim.

Ele tinha assinado um papel que Hugh tinha pedido, mas estava distraído, não viu que era o de casamento.   Quem falou ao final da cerimônia foi o Ivo, quem não tinha nenhum pai, agora tenho dois, além de minha mãe maravilhosa.

A festa foi sensacional, todo mundo da família vinha falar com eles, Ivete ria, dizendo que fazia anos que não se divertia assim.    Um dos irmãos do Hugh, não a deixava em paz, ele dizia aproveita é o mais rico de todos, viúvo ainda por cima.

Quando voltaram, passaram por NYC, aonde ia acontecer a festa para qual tinha feito as roupas, mas se livrou de enxurrada de entrevista, dizendo que tinha que mostrar os museus da cidade ao seu filho, junto com sua família.  Numa das fotos da revista, apareciam os quatro, numa foto da festa.

Agora Ivete vivia na casa que tinha sido do Hugh, os dois tinha se casado novamente na França por causa dos papeis, formalmente eram os pais adotivos do Ivo.  Na cerimônia, só estava o pessoal do ateliê, deu uma pequena festa em casa para comemorar.

Ivo agora, era um aprendiz, mas sem largar os estudos, volta e meia, apresentava uma ideia, a confeccionavam para colocar na vitrine, claro era vendida em seguida.

Ele reservava o lucro, para ele ir a Universidade.   Fez belas artes, ali perto, mas dizia que aprendia mais com ele.  Agora ficava ao lado dele, para aprender a conhecer as clientes.

Tinha a cabeça cheia de cabelos brancos o que lhe dava um charme especial. Nunca podia imaginar amar uma pessoa como ele amava o Hugh, o relacionamento deles seguia igual, o vulcão sempre estava ativo.

Ivo estava se transformando num belo homem, como sempre conversava sobre tudo com Hugh, ele ficava prestando atenção na conversa deles, inclusive ia com eles á mesquita, com todo o respeito, fazia o mesmo que eles.  Mas para ele nada era mais importante que sentar-se depois de rezar, ficar pensando na vida, lembrando do passado.

Mandou a sua irmã uma foto de família, mas nunca recebeu resposta.   Nunca chegou a usar todo o dinheiro que sua mãe deixou para ele, era a herança do Ivo.  Tinha certeza de que iria adorar seu neto.

Sempre rezava pelos seus pais, o que não esperava era que Ivo cada vez fosse mais religioso, o acompanhava sempre.

Discutiam depois os três fundamentos das religiões.

Cada vez mais foi ocupando o lugar do pai no ateliê, algumas costureiras hoje eram filhas ou netas das anteriores, ele não tinha prejuízo nenhum em sentar-se com as bordadeiras, para fazer junto o que queria.

Seus primeiros trabalhos, ganharam um prêmio, quem entregou foi o Abed, eles agora tinham uma casa no campo, aonde ficavam mais tempo.   Ivete, acabou se casado com o irmão rico do Hugh, volta e meia vinha para o filho lhe fazer um vestido para alguma festa.

Esperavam o dia que Ivo chegasse dizendo que estava apaixonado.   Mas este dizia que não tinha conhecido ninguém ainda como os que tinha como exemplo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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