LUZ NO FINAL
DO TUNEL
Os
momentos que passava lucido, eram um tormento, preferia voltar a escuridão da
sua cabeça, lá pelo menos se divertia com o zaping que fazia sobre sua vida,
tinha conseguido se lembrar inclusive de seu avô que ele tinha conhecido em
criança. Depois dessa época não se
lembrava absolutamente deles.
Sentiu
que passavam a gilettes, lhe fazendo a barba, queria gritar, não sabia se era
no plano real, ou imaginário que isso estava acontecendo.
Mas se
lembrou da cena, com detalhes ínfimos, estava na universidade, queria deixar o
bigode crescer para ficar na moda, seu companheiro de quarto dizia, que quanto
mais rapasse o mesmo, os pelos cresceriam fortes.
Deixa
comigo, estavam os dois de cuecas, o fez sentar-se encostar a cabeça na sua
barriga, passou o creme, suavemente começou a raspar. Sentiu seu pau duro nas suas costas, mas não
fez nada para se afastar, poderia dizer que ele tinha uma navalha na mão. Quando
terminou, se colocou na sua frente para ver como tinha ficado, o pau duro
continuava lá.
Com
uma mão o segurou. Schiu, fez o outro,
foi até a porta a fechou a chave, se a porta não estivesse fechada, os
companheiros entrariam.
Tirou
a cueca se aproximando, a muito tempo que quero fazer sexo contigo, o arrastou
a cama, abaixou a sua cueca, lhe penetrou sem aviso nenhum. Gozou, limpou o seu
sexo, riu, eu sabia que gostava, eu também gostei. Adeus marica. Saiu pela janela.
Sabia
agora que esse filho da puta ia contar aos outros.
Se
sentiu como uma puta, mas não comentou com ninguém, graças a deus, mas sim
pediu para trocar de quarto para estar mais próximo de seus companheiros de
equipe.
Filho
da puta pensou, conseguiu o que queria, me deixou com a cabeça completamente
alucinada pelo prazer que tinha sentido.
Volta
e meia se encontravam, mas não se falavam.
Estava furioso com a história, agora todos levavam bigodes, mas ele
tinha resolvido que levaria sempre a cara limpa, para nunca se esquecer do
primeiro homem que o tinha fudido.
Sua
cabeça fez como um retrocesso, durante o coito, o outro tinha segurado seu
caralho, tinha dito ao seu ouvido, seu caralho é lindo, mais bonito que o meu,
parou tudo o chupou, quando terminou gozando na sua boca, voltou a fazer o que
estava fazendo.
Por
isso nunca tinha falado nada. Só o
voltou a ver, num lançamento de um livro seu, em que ele apareceu com a mulher,
uma senhora um pouco mais velha que ele, mas com elegância, fina, ele ao
contrario estava gordo, meio calvo, que tentava esconder penteando o cabelo de
lado.
Num
intervalo, se aproximou, perguntou se podia falar com ele em particular?
Sinto
muito, tomo um avião daqui a pouco para Londres.
Nunca
me esqueci daquela noite, quero que saiba, foi o melhor da minha vida.
Não
voltou mais a vê-lo.
De
novo mergulhou no escuro, assim acontecia nesse processo de desintoxicação, ia
se lembrado das coisas como um flash back, as vezes coisas boas, outras nem
tanto.
Tinha
escrito três livros de sucesso, dois vendidos para o cinema, depois se sentiu
em branco, era incapaz de escrever qualquer coisa. Se desesperou, a única coisa que fez certo,
foi guardar seu dinheiro todo num banco, vender todas as propriedades que tinha
comprado. Disse ao diretor, só libere para mim esse dinheiro, no dia que volte
aqui com meu advogado, com uma carta de que estou limpo de drogas.
Foi
caindo, se fosse um filme, mostrariam uma pessoa caindo em câmera lenta, mas
tinha sido uma loucura, acabou vivendo na rua, implorando por um pouco de
dinheiro, para comprar drogas, fez todas as misérias. Mas sua cabeça estava bloqueada, era como se
uma pedra não lhe permitisse, examinar o que tinha acontecido com ele antes de
entrar para o colégio interno.
Ele
mesmo tinha guardado tudo numa gaveta,
fechado o arquivo a chave, sabe-se lá aonde guardou a chave. Se deu conta que tentavam reanima-lo, por
algum motivo, quando levou o choque, foi como se todos os arquivos que olhava,
abrisse de repente, jogando toneladas de papel no chão, agora como castigo ele
teria que recolher tudo, classificar.
Encontrou
uma pasta com o nome de sua mãe, retirou do arquivo, as folhas estavam limpas,
ordenadas por números, datas.
Ler
aqueles papeis, fez com que a figura frágil dela, fosse emergindo de suas
lembranças, era pequeno, ela vivia fechada no seu quarto, ele tinha ordem
estrita de seu avô para jamais se aproximar.
A
única vez que se aproximou, viu que estava atada na cama, quando o viu, sorriu,
a enfermeira olhava uma seringa enorme, a colocou no seu braço, via agora
claramente que ela dizia sem som “te amo, meu filho”, quando a enfermeira viu
que a porta estava aberta, ele em pé paralisado do outro lado. Fechou a porta bruscamente, falando
palavrões.
No dia
seguinte, quando ia sair do quarto notou que sua porta estava fechada por fora,
correu até a janela, estava fazendo sua mãe, entrar com força num carro branco,
grande, mais tarde descobriria numa loja
de brinquedos que era uma ambulância.
Nunca
mais ouvi falar nela. O velho,
tampouco falava com ele, mas escutou um dia dizendo a um amigo, o pior de tudo,
é saber quem herdará tudo, será um bastardo.
Correu
ao seu quarto, para olhar o dicionário o que era bastardo. Nessa noite entrou na biblioteca, serio,
cheio de perguntas, tinha resolvido enfrentar aquele velho horroroso, parou na frente dele muito sério perguntou,
porque o senhor me chamou de bastardo.
O
velho o olhou muito sério, porque não sabemos quem é teu pai, pode ter sido o
cocheiro, o motorista, alguém da cozinha, o mordomo, ela sempre se negou a
falar quem era.
Por
isso estas registrado com meu nome. Gustav André Gummercy, pelo menos honre o
nome que te dei.
Sua resposta,
foi cuspir na cara do velho, dizer que bastardo era ele, filho da puta.
No dia
seguinte quando despertou, tinha aos pés da cama sua maleta feita, bem como um
uniforme de um colégio para vestir. Só
voltou a ver o velho, já dentro do caixão para ser enterrado.
Estava
no último ano da universidade, pela primeira vez vivia num apartamento que o
velho tinha dado para ele. O anos anteriores, sempre tinha vivido em colégio
particular interno, até entrar para a universidade. Nunca tinha ido de férias como os outros,
tampouco natal, ano novo, seu aniversário nada. Recebia sim, uma carta, uma cópia de um
talão de cheque de dinheiro depositado em sua conta. O mesmo quando entrou para a universidade,
recebeu a escritura do apartamento. Teu
legado dizia o bilhete.
Depois
do enterro, foi com outras pessoas que não tinha menor ideia, quem eram, para a
leitura do testamento. A mansão tinha
sido vendida a tempos, o dinheiro dividido, estava num fideicomisso, ele
receberia tudo quando tivesse 30 anos.
Não antes disso.
Sabia
que tinha dinheiro no banco, porque o advogado lhe entregou, um papel com o
saldo da conta, bem como o acompanhou para tirar um cartão Visa.
Foi
tudo. Quando faça 30 anos, venha ao escritório para receber o resto.
Quando
fez trinta ano, foi ao escritório acompanhado de duas ONG, passou todo o
dinheiro para elas. Se o velho fosse
vivo, lhe diria na cara que não preciso do dinheiro dele. Tinha acabado de vender o segundo livro para
um filme. Seria um escândalo, falava
justamente dos problemas da família, tinha escavado fundo. Nem se deu conta que tinha mexido com ele,
tinha atirado no ventilador, todas as merdas que a família escondia, as taras,
drogas, roubos descarados. Disse ao
advogado, esse dinheiro é sujo.
Assinou
os papeis, desapareceu. Ficou lambendo
suas feridas, conheceu um rapaz na praia, que tomava drogas, ele estava tão
bloqueado que não conseguia ficar excitado, aceitou tomar drogas, ficou
alucinado. Seu terceiro livro os
críticos diziam que devia estar drogado para escrever sobre esse assuntos sem
pelos na língua.
Mas
depois não escrevia nem uma palavra, tudo era branco.
Entendeu
que tinha que chegar ao fundo do poço com tudo isso, se sobrevivesse já se
veria.
O
advogado que o acompanhou ao Banco, não entendia muito bem o que ele estava
fazendo.
Lhe
explicou, estou tentando me salvar para o futuro, no momento, estou em queda
livre num buraco que não tem tamanho.
Deu o nome de sua mãe, mais ou menos a data que a tinham levado de casa. Procure por mim, por favor.
Foi ao
seu antigo apartamento, o inverno começava a apertar, mas ele nem pensou duas
vezes, pegou um casaco que lhe protegeria do frio, numa mochila, colocou um
saco de dormir, saiu, nunca mais voltou.
Despertou
de novo desses sonhos. Olá disse o
médico que estava sentado ao seu lado, por pouco te perdemos.
Sua
resposta foi, ainda não vi a luz no final do túnel, me deixe por favor. Fechou os olhos querendo recuperar a
escuridão. Mas pronto começou a rir
muito alto, já sei não vais me deixar encontrar o caminho verdade, o túnel não
tem luz, pois deixaram de pagar a conta faz tempo.
Dois
dias depois começou a terapia, lhe perguntaram se queria individual, ou fazer
uma coletiva.
Ele
respondeu com outra pergunta, quem está pagando o hospital?
Seu
advogado, ele como administra uma parte do fideicomisso, que não podia ser
tocada, quando a polícia lhe avisou que tinhas sido encontrado, ordenou que o trouxessem para cá.
Só
deixou um recado, se recupere, encontrei o teu passado.
Entendeu
o recado, devia ter encontrado sua mãe.
Pediu
para durante um tempo, fazer terapia só.
Depois já se veria. O psicólogo
ficou surpreso, ele entrou na sala com um caderno, um lápis, que tinha pedido,
pratiquei durante o tempo que estive aí fora, apontou a sua própria
cabeça. Falou tudo, principalmente das
coisas que se lembrava, do que tinha visto, porque tinha sido internado. A palavra bastardo que o tinha afetado a vida
inteira, saber que tinha uma mãe tudo bem, mas quem era seu pai, achava que
nunca iria descobrir.
A
solidão nos colégios, os poucos amigos, mais para companheiro de cursos, aos
quais ele nunca tinha mencionado nada.
Do companheiro com que tinha feito sexo, das lembrança que tinha nesse
meio tempo resgatado. Desta vez,
entendi por que se afastou, porque sem querer
colocou sua parte homossexual para fora, não queria que os outros
soubesse. Falou do encontro com ele,
como estava feio, casado com uma mulher mais velha. Mas me neguei a falar com ele, porque essa
parte marcou toda minha frustação sexual.
Eu pensei que estava finalmente amando alguém, que era querido por outra
pessoa.
Depois
começou a cartasse, de falar do sucesso do primeiro livro, um sucesso ao qual
ele não estava preparado, dos amantes de uma noite, que fugiam porque ele em
seguida chamava de meu amor, queria que a pessoa ficasse para sempre com ele.
Nunca
tinha tido amor, então para ele era quase uma palavra utópica, pois não sabia
seu verdadeiro significado. Durante
muitos anos pensou que era uma palavra inventada para os consumidores. Nos seus livros nunca tinha usado essa
palavra, falava palavrões, termos eróticos, mas de amor nunca, não sabia o que
era.
Depois
levou dois meses com a terapia de grupo, ria, pois o drama das outra pessoas
eram piores que os seu. Então contar o
seu, lhe parecia uma besteira.
Uma
das mulheres, disse que o conhecia, fui a uma tarde de autógrafos, de um de
seus livros com meu marido, disse que te conhecia. Ele se lembrou dela.
Aonde
foi parar seu marido. Depois que te
viu, me largou por um negro de um pau imenso como me disse, que gostava de
homens, que te ver o fez se lembrar disso.
Deixou tudo, desapareceu, fiquei sabendo a pouco tempo que estava
vivendo em San Francisco, pois os papeis de divorcio vieram de lá. Ele se casou comigo, pois a família estava
arruinada, eu era jovem, tinha enviuvado de um homem rico. Mas nunca fui feliz com ele.
Abriu
mão de tudo, dizia que agora era feliz.
Posso
comentar que estas aqui?
Não
por favor não o faça, iria fazer com que eu ficasse mais tempo.
Cinco
meses depois sai, o advogado me estava esperando na saída da clínica. Perguntou se eu queria ir ao banco.
Lhe
disse que isso podia esperar, queria saber do outro, da mensagem.
Ah
encontrei a tua mãe, fuçando os papeis de teu avô. Ela viveu anos, num hospício, podemos ir até
lá se queres. Morreu alguns meses antes
dele.
Quando
fui até lá, me disseram que ela tinha deixado coisas para ti, mas com a ordem
de só entregarem a ti em pessoa.
Aonde
fica isso, é longe?
Podemos
ir amanhã se queres? Tens aonde ficar?
Não
tenho dinheiro tu sabes, mas que historia é essa do fideicomisso, que não podia
se tocar?
Era
justamente o que pagava o hospício, foi por aí que eu a encontrei. Ainda tem muito dinheiro, venho usando para
pagar tuas despesas.
O
médico disse que desde que recobraste a cabeça, te negavas a tomar qualquer
medicação?
Sim,
se eu entrei por drogas, é como seu eu tivesse usando novas drogas, se quero
estar limpo, tenho que ter a cabeça limpa, para seguir adiante. Nada mais de drogas, a única coisa que me decepcionou foi que ao final do túnel não
tem luz nenhuma. Riu com isso.
Teve
que explicar ao advogado, quando falei contigo a última vez, o que foi que te
disse.
Que caias
num buraco sem fim, que esperava que ao final do túnel tivesse luz.
Vê, eu
estava sempre mergulhado na escuridão, recordando porque tinha chegado a isso,
voltei a minha infância, como vi minha mãe ser afastada de mim por esse velho
filho da puta, bem como porque me mandou estudar interno, lhe cobrei porque me
chamava de bastardo pelas costa, quando me explicou, lhe cuspi na cara, lhe
chamei de filho da puta.
Depois
os anos todos de solidão, que acabaram, entre aspas, quando fiquei famoso com
meus livros, mas não me dei conta que estava mais sozinho do que antes. Pois todos que estavam em minha volta,
queriam seu cinco minutos de fama por estar comigo.
Eu
pensava que me amavam, não tinha amadurecido totalmente. Agora eu sei que sou
uma pessoa, a qual roubaram parte de sua vida. Quero recuperar isso para seguir
em frente.
O
levou a um hotel cinco estrelas, nem desceu do carro. Estas tentando que volte a ser o que era,
sinto muito, nada disso, basta me levar a um hotel descente, que seja limpo,
que eu possa dormir tranquilo, sem ruídos.
Queres
ir para minha casa, vivo fora daqui, acabo de me divorciar, prometo não beber
na tua frente.
Foi
ficar na casa do advogado. Um imenso
casarão, nas aforas de NYC.
Para
que vives sozinho aqui, não achas demasiado, ou espera que sua mulher volte.
Ela
não mas as crianças, porque perdi a custodia deles, estou brigando por isso,
mas eles se assustam comigo, me viam mais nos finais de semana, nos últimos
anos, bebia demais nesses dias. Me
sentia amargo, imagina, odeio ser
advogado, fui fazer direito porque meu pai o exigiu, me casei com uma mulher
que não escolhi. Nada sou eu. Quando te internaram, quando te vi. Fiquei muito abalado. Você é um homem bonito, tinha sucesso, mas
se preparou para mergulhar no teu poço escuro.
Queria te sacudir, desperta. Mas
estavas num coma profundo.
Não
sabes, mas fui te ver várias vezes, primeiro quando estavas cheios de tubos, as
vezes tinha sensação de que abria um olho, me olhando como me perguntando o que
estas fazendo aqui. Depois ia, ficava te olhando sentado nos jardins, sozinho,
as vezes fechavas os olhos como para te evadir. Sentia inveja disso.
Vou
fazer uma pergunta dura, posso?
Sim,
podes perguntar.
Achas
que teus filhos, que para ti são belos desconhecidos, vão querer viver contigo
assim, vais continuar afastando de ti cada vez mais. Acho que devias fazer um tratamento com um
psicólogo, te encontrar. Saber o que
realmente queres da tua vida, olhe em
volta, procure uma coisa que queiras fazer.
Comeram
alguma coisa, conversando, cada um com uma lata de coca cola, sentados nos
degraus que levavam ao jardim.
Minha
ex-mulher encontrou um outro homem, vão se casar. De um lado me sinto ofendido, nunca a amei,
essa é a verdade, mas tampouco me dei bem com nenhuma mulher, sempre fui muito
fechado.
Olha
vou cobrar pela terapia hem. Bateu com
sua mão em cima da dele.
Fique tranquilo, conversaremos sempre que
queiras te desabafar, eu nunca tive nenhum amigo para conversar, sei o que é
isso.
Samuel
Weiss, lhe levou ao quarto de convidados, quase o convidou para dormir com ele,
mas não queria estragar a amizade que começava a surgir.
Despertou
estranhando o quarto, procurou referência como os quartos da clínica.
Samuel,
bateu na porta para dizer que o esperava para tomar café. Tem o banheiro aqui do corredor, te espero
embaixo, já avisei que vou resolver coisas contigo hoje.
Desceu,
gostava de encontrar uma cara conhecida no café da manhã, na clínica, eram o
pessoal da limpeza, os enfermeiros, ia pelo corredor dizendo bom dia. Eles achavam estranho não estavam
acostumados.
Dormiste
bem a noite, lhe perguntou Samuel?
Sim e
tu?
Por
incrível que pareça fiquei um tempo desperto, pensando no que me disseste,
depois, talvez por isso, dormi bem.
Depois
do café, pegaram o carro, foram rumo ao hospício. Levaram mais de uma hora e meia, para
chegar, foram recebidos pelo diretor.
Este disse que depois que tinha assumido, tinha achado estranho a ficha
de sua mãe, não constava nenhum problema, neurológico, mandou ir diminuindo a
dose dos remédios que tomava, até que chegou a placebo. A
partir daí, pediu um caderno, lápis, começou a escrever, quando lhe perguntei,
me disse que estava escrevendo para seu filho, contando sua história.
Quando
falei com teu avô, que ela não precisava estar aqui, foi grosseiro, se eu pago,
além de ser tutor dela, ela fica. Não
quero nenhuma degenerada da família em minha casa.
Me
pareceu um homem retorcido, falei com ela, que poderíamos entrar na justiça
para libera-la, só me pediu informação ao teu respeito. Tinhas acabado de lançar teu primeiro livro,
o comprei para ela. Perguntei se
queria, comunicar-se contigo.
Ela
ficou pensando, me disse, nem quando era pequeno meu pai me permitia ficar
perto dele, que vai pensar ele agora, se apareço de repente em sua vida. De aonde saiu essa louca.
Lhe
disse que pensasse, o dia que fui comunicar que tinhas um segundo livro, que
poderia lhe interessar, estava na enfermaria, tinha tido um enfarte, me pediu
que guardasse seus cadernos para um dia entregar a ti. Logo em seguida morreu.
Foi
enterrada aqui mesmo, venha, os acompanhou a um pequeno cemitério, as vezes os
parentes não querem saber das pessoas que abandonaram aqui, de maneira nenhuma,
querem é esquecer que existem. Então
enterramos aqui.
Bom
qualquer lugar é lugar, já estamos mortos mesmo, não creio que faça diferença,
poderiam me deixar uns momentos aqui.
Já
sabem aonde esta minha sala, o Samuel,
também se afastou, ficou ali pensando nela, como se lembrava, chorando, não sabia rezar, nunca o tinha feito
na vida, mas pediu que existisse algum ser superior que a acolhesse, a deixasse
descansar. Que a luz do final do túnel
se acendesse para ela.
Voltou
no carro quieto, com o envelope, ali nas suas pernas.
Existiam
três cadernos, pelo que tinha visto, todos numerados.
Pediu
ao Samuel, se conseguia um hotel como tinha pedido para ele.
Não
queres ficar na minha casa, gosto da tua companhia. Assim tenho com quem conversar.
Bom
até que eu decida o que quero fazer, ok.
Passaram pelo banco, o gerente sorriu ao vê-lo, como estas diferente,
vejo que te recuperaste bem.
Tomou
posse de suas coisas, mas retirou uma quantidade de dinheiro, o resto
continuava como sempre sendo aplicado.
Lhe deram um cartão de crédito.
Disse
ao Samuel, necessito de um laptop, para escrever. Passaram numa loja, foram para a casa dele.
Não
tinha visto que tinha uma piscina no jardim, tomaram um bom banho os dois,
vestidos de cuecas. Samuel tinha um
corpo admirável.
Quando
o viu olhando, disse, sabe que me dizia minha mulher? Que apesar desse corpo todo, eu era como um
garoto na cama, no último ano, depois que me disse isso, foi dormir em outro
quarto. Fico sempre incompleta contigo,
gozas vira para o lado com vergonha, dorme.
Realmente
não tenho experiencia, podia ter procurado putas, mas não me sentia bem fazer
isso, uma vez que fiz uma viagem com um cliente, me convidou para ir de putas,
fui, acabei pagando a garota para ficar conversando comigo.
Com
homens nunca tentastes?
Sim,
mas também não funcionou, não sentia confiança no sujeito. O deixei me chupar, mais nada.
Ele
pediu desculpas foi ler o que sua mãe tinha escrito. A letra era miúda como de uma criança,
começava pedindo desculpas, nasceste num mal momento, no momento que o caos
caiu sobre minha cabeça. Me apaixonei
pelo homem que foi teu pai, quando lhe
disse que estava gravida, se assustou, no dia seguinte tinha desaparecido. Não quis te abortar, pois já te amava.
Meu
pai quando descobriu ficou uma fera, foi justo no dia, que vinha me avisar que
ia me casar com outro homem, que precisava de uma mulher, unir as famílias para
ficarem mais poderosos.
Me
neguei em te dar para adoção como ele queria, começou a nossa batalha, me tinha
trancada no quarto o tempo todo, nasceste ali, os primeiro meses me deixava
ficar contigo, te registrou com o sobrenome dele, mas quem escolheu teu nome
fui eu. Era do meu avô materno, esse
homem fez muito infeliz minha mãe também, só pensava em dinheiro.
Depois
tentou me casar com o mesmo homem outra vez, quando o vi me desesperei, era um
solteirão, velho, sem herdeiros, por isso queriam eu me casasse com ele. Me neguei, voltamos outra vez a batalha.
Foi
quando acabou me internando, menos mal
que antes te vi na porta, porque já não me deixava te ver como uma chantagem
para que me casasse. Pelo menos pude
dizer que te amava.
Passei
muitos anos dopada o dia inteiro, porque essas eram as ordens dele. Nunca veio me ver.
Mas
esses anos todos pensei em ti, quando o médico me liberou de tudo, pude pelo
menos saber de ti. Quando li teu livro,
entendi a tua solidão, que era igual a minha, senti que um vazio que
perturbava, então pensei que se me aproximava, podia complicar mais ainda essas
coisas.
No
terceiro caderno, que tinha poucas folhas escritas, analisava o livro, dizendo
aonde tinha percebido minha solidão.
Espero que um dia encontres alguém a quem amar, que te faça feliz.
Dormi,
ali, abraçado aos livros, quando despertei de madrugada, vi que na cama ao
lado, estava o Samuel dormindo, todo vestido.
Tirei seus sapatos, sem ele se despertar, fui ao banheiro, voltei a
dormir.
Quando
me despertei outra vez, ele também estava despertando, sorrimos um para o
outro, me disse que tinha me vindo chamar para comer alguma coisa, tinha se
emocionado em me ver abraçado aos cadernos, não quis te acordar, me sentei na
outra cama, creio que acabei dormindo.
Ficas
muito bonito quando dormes, teu rosto se relaxa completamente.
Sem me
tocar, o puxei para mim, lhe dei um beijo, mas não foi um beijo qualquer,
sentia vontade disso, nunca tinha beijado ninguém assim, quando vimos,
estávamos os dois nus na cama. Um olhou
para o outro, como perguntando e agora, ele riu, tenho vontade, nos agarramos
seguimos adiante. Nunca tinha me
sentido assim com outro homem, foi alguma coisa diferente, nos exploramos
calmamente, não era coisa de um só.
Chegamos
a um orgasmo ao mesmo tempo, sem penetrações, só pelo prazer de ter nossos
corpos um agarrado ao outro.
Tomamos
banho juntos, ele ria muito, chegou um momento, que se sentou no tampo da
sanita, rindo e chorando ao mesmo
tempo. Ela tinha razão, eu não sabia
fazer sexo. Pois nunca tive isso que
senti agora contigo.
O
levantei, lhe dei um banho inteiro, com muito carinho, ficou me olhando,
acompanhando tudo que eu fazia. Nos
abraçamos.
Fomos
tomar café, com a fome que tinhamos, comemos ovos, seu celular não parava,
tirou o som, tenho que decidir o que quero fazer, estou farto dessa merda,
posso perguntar aos outros sócios se querem comprar minha parte. Tenho dinheiro guardado, na repartição de
bens, fiquei com essa casa, mais um apartamento em NYC. Posso vender tudo, começar a vida em outro
lugar, ainda não sei concretamente o que vou fazer, mas já descobrirei.
E tu?
Tampouco
quero ficar aqui, pensava em ir viver em
algum lugar calmo perto do mar.
Sabe
Gustav, a época mais feliz da minha vida, era quando ia passar as férias com
meus avôs na Florida, ele viviam numa casa em frente ao mar, eu adorava.
Podemos
ir sem compromisso dar uma olhada, pelo menos lá o inverno é mais tranquilo,
eles morreram por lá, vou me informar.
Voltaram
para a cama, queriam se explorar mais, acabaram no chão, o deixou bem excitado,
se sentou em cima dele, fizeram sexo, com ele dentro, olhando um para o outro,
o sentimento que nascia era fantástico.
Depois
lhe perguntou se não tinha medo de se envolver com alguém que tinha andado nas
drogas duras, procurando escapar da vida, mergulhando nesse poço escuro como tu
dizes.
Por incrível
que pareça, não. Quero estar contigo,
quando me procuraste para te ajudar, quase te disse, espere vou junto contigo
fazer essas coisas, pois estou perdido.
Mas foi bom, porque te estive vigiando esse tempo todo, sei que não
fizeste sexo com ninguém, quando entraste no hospital, te fizeram um exame
rigoroso, teste de AIDS, todas essas coisas.
Estavas limpo.
Cuidaste
de mim, como ninguém na vida cuidou, talvez por isso goste de estar contigo.
Podemos
dormir juntos, mas não nessa cama estreita, vamos acabar no chão. Melhor, assim colocamos o colchão no
chão. Passaram quase o dia inteiro ali,
nus conversando, o celular estava desligado.
No dia
seguinte tinham decidido arriscar-se, iriam para Sarasota, perto de Tampa, na
Florida, ali alugariam um carro.
Ou
podemos fazer o seguinte, podemos alugar uma Motorhome, ir descendo, olhando o
que vemos pelo caminho, sem pressa, tenho que pensar o que quero.
Gosto
da ideia, assim posso ir gestando meu próximo livro. Aviso que dirijo muito mal, mas na estrada
gosto.
Separou
tudo que era seu íntimo, marcou com sua
ex-mulher, disse que ia se desfazer da casa, mas se ela quisesse ficar com ela,
sem problemas. Ao final disse, tinhas
razão em uma série de coisas, não sei quem sou, vou descobrir.
O novo
marido, disse que comprava a casa, assim as crianças voltavam a ter os mesmo
amigos, a escola que sentiam falta.
Ficaram
num hotel como ele queria desde o princípio, tipo apart-hotel, saiam para
comer, ir ao teatro, começaram a olhar as Motorhome, que poderiam alugar.
Samuel
vendeu a sua parte na firma, ele possuía 50% das ações, lhe dava um bom
dinheiro, combinou com sua ex-mulher que uma parte iria para um fundo, para os
meninos irem a universidade.
Quando
tudo ficou pronto, partiram, fizeram compras num grande armazém na estrada,
foram parando em campings perto do mar sempre.
Se acostumaram, a ficar sentados na frente da Motor Home que tinha um
avanço, era como uma varanda.
Levaram
meses assim, iam anotando os lugares que gostavam, qualidade da água, se era
fria ou não, se gostavam perguntavam na cidade como era o inverno.
Ao
mesmo tempo o relacionamento dos dois ia em crescente, a primeira vez que
penetrou Samuel, foi com cuidado, mas ele se relaxou, gostou assim ficamos mais
completos um com o outro. Os dois
juntos faziam uma dupla de respeito, quando entravam em qualquer lugar,
chamavam atenção.
Numa
das cidades, viu seu primeiro livro. Falou
com o dono, este lhe disse que o livro era seu, mas que gostava muito dele,
pedi mais aos editores, dizem que não sabem aonde anda o escritor para poderem
fazer um contrato para relançarem os dois primeiros, que fizeram muito
sucesso. Outro dia passava o filme que
fizeram sobre o primeiro.
Tens o
contato com os editores. Eu perdi,
soltou sem querer.
Podemos
chamar daqui disse o homem, muito simpático.
Falou com o que lhe representava, este perguntou aonde andava.
Buscando
outro livro, fiquei em branco, agora estou começando a esboçar ideias, talvez
saia alguma coisa.
Temos
pedidos de reedição dos dois primeiros, se autorizas, nos dá o número de tua
conta no banco, passou o Samuel, lhe dizendo que era seu advogado.
Se puderem
mandar o contrato, deu a direção da livraria, ainda estamos mais dois dias
aqui.
O dono
da livraria, pediu se ele podia falar do livro, tenho sempre uns clientes
fantásticos, que vivem por aqui.
Sim
posso, mas que seja uma conversa informal.
Estavam
em Brunswick, Georgia, tinham olhado
algumas casas na praia que gostavam, o inverno por estarem tão perto da Florida
era ameno.
A
reunião foi agradável, a maioria das pessoas da idade dele, tinham lido o
livro, era interessante agora com o distanciamento, comentar o que tinha
escrito. Ele mesmo na noite anterior
tinha lido o livro, com um distanciamento,
viu que sua mãe tinha razão.
Falava o tempo todo na solidão do personagem, estava era falando dele.
A
primeira pergunta, foi porque não tinha escrito mais nenhum livro.
Bom,
eu tomei uma decisão, que não sei se foi certa ou não, mas que me trouxe até
aqui.
Talvez
fale disso num próximo livro, terei que fazer um exercício que aprendi, quando
estava em reabilitação, que chamo de preencher lacunas.
Ontem
reli o livro que escrevi a tantos anos,
minha mãe com quem não convivi, o leu, ela viu coisas que eu não tinha
percebido quando escrevi. Falava da
solidão do personagem, mas no fundo falava da minha solidão. Hoje já não tenho vergonha de falar dessas coisas.
Uma
senhora levantou a mão, eu me identifiquei com o personagem, o que me serviu de
uma grande ajuda, pois no momento estava passando por uma solidão
impressionante, mas o livro me fez mudar minha vida, vivia em NYC, trabalhava
como uma louca, voltava a um apartamento horrível, resolvi, me encher de vida,
acabei aqui, tenho uma loja pequena, mas estou feliz.
Uma
outra muito simpática, uma loira, daqueles que os homens chamam de burra. Ela
foi direto a isso, eu também vivia fora daqui, em Boston, sempre amei ler, sou
inteligente, me graduei cum laude, mas para os homens eu era a loira burra e
gostosa.
Isso
gera uma solidão que as vezes destrói uma pessoa, quando descobri lendo o livro
sobre isso assumir essa solidão, sai em busca de um lugar para viver, aqui os
que me tratam de loira burra, levam logo um chute no saco.
Ao
mesmo momento que procurava um lugar, descobri que sou boa negociando a compra
ou venda de uma casa, ou mesmo um aluguel.
Tenho uma imobiliária. As pessoas me respeitam, ontem fiz o mesmo que
você, fui ler o livro outra vez.
Foi um
bate papo, todos frequentavam um bar, restaurante ao lado da livraria, o dono
inclusive estava ali, era um italiano, muito bonito. Os convidou todos para um drink.
Eles
dois tomavam coca cola. Perguntaram para
a loira, Mrs. Lena Haydin, se não tinha uma casa confortável para alugar, não
sabiam por quanto tempo, mas que tivesse espaço para guardar a Motorhome deles.
Mas que seja bem próximo ao mar.
Claro
que tenho várias, me procurem amanhã depois das dez, nunca trabalho antes
disso, vou a praia dar um mergulho, faz parte de minha vida.
No dia
seguinte começaram a olhar casas, ficaram loucamente apaixonados por uma toda
de madeira, precisando de uma mão de pintura, mas por dentro, estava
perfeita, tinha duas entradas, a detrás
cabia perfeitamente a Motorhome.
Acertaram
o aluguel, pediram se tinham alguém para pintar a casa, ficava no final da
praia, tinham dois quartos, os dois com cama de casal, todos os eletrodomésticos, estava bem.
Perguntou se podiam ter um contrato, que se amanhã ou depois quisessem
comprar tinham prioridade.
Se
instalaram, começaram a andar pela cidade para conhecer. Samuel viu um cartaz numa loja de
antiguidades, que estava a venda. Ficou
parado, colado ao vidro, até que um senhor, saiu da mesma, perguntou se queriam
entrarem.
Ficou
encantado com o que viu. Mas porque o senhor vai vender isso.
Porque
estou sozinho, aqui só vendo quando fica cheio de turistas, além de não ser bom
vendedor, é necessário ser mais jovem.
Podemos
fazer uma coisa, o senhor me ensina tudo que sabe, eu vou aprendendo, ao mesmo
tempo me dá liberdade, para trocar as coisas de lugar. Minha mãe fazia isso, se aborrecia das
coisas no mesmo lugar sempre, eu a ajudava a trocar as coisas de lugar para se
realçarem dizia ela.
Trato
feito, se apresentou como John Gilbert.
A
primeira coisa é limpar os vidros, pintar a fachada. No dia seguinte começou a trabalhar, seguiam
o conselho de Lena, primeiro um banho de mar, depois ir trabalhar. Ele
começou ajudar o da livraria, trabalharia de manhã, começou a resgatar livros
que estavam esquecidos, fazia uma resenha sobre o mesmo num papel, colocava
junto da capa. Limpou toda a livraria,
mandou pintar, o homem estava agradecido, as vendas aumentaram. Lhe passou um catálogo novo, me ajudas a
escolher livros.
Conversavam
com os editores, que pelo menos mandassem um para lerem, depois fariam o
pedido, montaram um grupo de conversa sobre livros, eram 10 a princípio, depois
foi aumentando.
Tomou
coragem, escrevia os capítulos do novo livro, passava para o Samuel ler, depois
tirava uma cópia, iam lendo no grupo,
escutava o que diziam, discutiam a respeito.
Um
perguntou por que ele não montava no fundo da livraria, uma lugar, aonde eles
também pudesse aprender a escrever. Como
uma escola de escritura.
Gostou
da ideia, quando viram já estavam vivendo ali a dois anos, a loja de
antiguidades, voltou a ter frequência, volta e meia aparecia alguém querendo
vender alguma peça, ele pesquisava a respeito, procurava um lugar ideal para
ela na loja. Tinha arrastado o John
para essas reuniões, ele ria, conversava com as pessoas. Logo fizeram amizades, um convidava cada
sábado o grupo mais coeso para comer em sua casa.
Agora
inclusive alguns se encontravam de manhã para o banho de mar, incentivados pela
Lena.
Caramba
disse ela, vocês dois movimentaram a cidade, ou pelo menos nosso grupo.
Quando
algum deles precisava de ajuda, estavam todos para ajudar.
Ele
tinha escrito dois livros ao mesmo tempo.
Um ele falava do seu mergulho no poço, tudo o que tinha acontecido.
No
outro tinha recriado em sua cabeça como era a vida no hospício de sua mãe, seu
diário, o que falava, como imaginava o filho.
Esse
ele só mostrou depois de pronto. As
mulheres amavam.
Foram
lançados ao mesmo tempo. Mas a surpresa
veio de Gino o dono do restaurante, era viúvo, vivia sozinho, disse uma vez que
suas amantes, eram os livros, que vivia desde jovem para eles, imaginando
coisas.
Foi o
primeiro a se inscrever nas aulas de escritura.
Chegou a comprar um Laptop, para escrever.
Gustav
montou um serviço na livraria, de encadernar o que eles escreviam.
Os
ensinou como escrever, já desde o princípio, tipo de letra, espaço, fazia junto
com eles correção de gramatica, mas o melhor era analisar, lhes ensinou a
revisarem mil vezes o que escreviam, procurar palavras melhores, para explicar
o que queriam dizer.
Gino
tinha um bom humor incrível, dizia que era sua parte italiano, mas que se
sentia evidentemente só. Olho vocês
dois, morro de inveja, queria uma coisa assim para mim, isso falava fazendo
confidencias ao Gustav. Quando quero
sexo, vou a outra cidade para um fim de semana, busco. Aqui tenho medo.
Medo
de que Gino, que as pessoas te olhem de esquerda, deixa disso, quando vamos ao
restaurante, vejo muitos homens sozinhos te olhando, é tudo uma questão de te
sentires atraído.
Seu
livro ficou pronto, contava a historia de seu avô, que tinha saído de Catania
na Sicília, para acabar ali, naquela cidade.
Falava do sucesso que fazia com as mulheres, mas que o amor incondicional
com a companheira que tinha vindo com ele da Itália, no livro citava receitas
de sua avó.
Samuel,
negociou com a Editora. Quando foi
lançado foram todos a NYC, para o lançamento.
Ficou
em destaque na livraria um bom tempo, todo mundo comprava, algumas mulheres
diziam que tinham feito a receita, mas que não ficava igual quando ele
fazia.
A
resposta fazia todos rirem, se conto o pulo do gato, fecho o restaurante.
Um
dia, apareceu um homem da idade dele, sentou-se no restaurante, ficou olhando
para o Gino, sorrindo. Quando ele
atendeu o homem, este riu dizendo, não se lembra de mim, não é, estudamos
juntos, foste meu melhor amigo, sentou-se com o outro, começaram a falar, ele
fez sinal para a garçonete que se virasse, ficaram falando horas. Os dois tinham descoberto o sexo juntos. Billy, lhe soltou que nunca tinha se
esquecido dele, a família mudou, mas sempre pensei em ti. Nunca me casei, quando pensei em voltar,
descobri que tinhas te casado, desisti.
Sou
viúvo, mas não tenho filho, nem tinham percebido que estavam de mãos dadas.
Billy foi ficando, estava aposentado por ter sofrido um acidente na fábrica que
trabalhava, tinha perdido o movimento num dos braços. Contínuas lendo como sempre Gino?
Sim,
lembras, eu comprava o livro, lia, passava para ti, anotando alguma coisa
interessante, tu me devolvias, liamos juntos.
Os dois faziam um par incrível, eram muito bonitos os dois.
Chegou
um dia para o Gustav, deixei de ter inveja de vocês, esse homem sempre foi o
melhor de mim. Antes nos masturbávamos,
agora fazemos sexo como dois homens devem fazer.
Todos
sabem desde o primeiro dia que veio que o amo.
Me importa um caralho se não vem ao restaurante, mas nada me afastara
dele.
Escreveu
um outro livro, falando da juventude deles, numa cidade pequena, era como uma
parceria, dois homens adultos, se lembrando de sua juventude. Quando saiu a lei, de casamento, se casaram,
o grupo todo foi ao casamento.
Eles
resolveram finalmente que ficavam, mas resolveram fazer o seguinte, descobriram
que o terreno ao lado que era imenso, estava a venda, compraram o terreno,
desenharam junto com o arquiteto como queriam a casa. Acompanhavam a construção, esta teria uma
vista fantástica, já que teria duas portas imensas de vidro, que davam para o
mar, bem como uma varada aberta, outra
fechada para o inverno.
John,
agora deixava tudo nas mãos do Samuel, ele era mais uma decoração da loja como
dizia, vivia em cima da mesma.
Samuel
descobriu que as peças mais bonitas, ele guardava ali, escondidas, para que
somente seus olhos vissem.
Quando
ele morreu deixou tudo para o Samuel.
Este fechou a loja uma semana, quando reabriu as pessoas ficaram pasmas,
ele tinha feito uma pequena reforma na loja, tirou coisas que estavam no
armazém que ele tinha em cima, montou a loja como se fossem pequenas salas, ou
quartos, como uma decoração particular.
Estava sempre mexendo em tudo.
Minha
mãe ia ficar contente, em saber que me passou conhecimentos, que no momento não
dei valor, agora me fazem feliz. Além de
ti, essa é a verdade.
Quando
quiseram comprar a historia da mãe do Gustav para fazer um filme, ele disse que
não, poderia escrever um roteiro,
similar, mas aquela história não.
Fez um
roteiro, usando o que tinha acontecido com ele, despertando de um sonho
profundo, aonde tinha recuperado dados de sua vida, no caso quando descobriram
que ela não tinha problemas. Foi até o
hospício, conversou com o médico, para saber como ele tinha agido, contou o que
estava fazendo, ele fez um sinal com o dedo, em cima de sua mesa estava o livro
que tinha escrito a respeito dela.
Ele ia
sair de férias, o convidou para vir visita-los.
Assim poderemos falar, o senhor, pode me dar palpites
Deixe
de me chamar de senhor, meu nome é simples
Louis Francis, vou sim, estou sem roteiro para sair. A muito tempo viajo sozinho, minha
companheira se afastou de mim, porque me dedico muito aos meus clientes. Graças a Deus não nos casamos, tampouco
tivemos filho.
Antes
de ir embora, foi visitar o tumulo da mãe, tinha levado flores desta vez.
Quando
o médico chegou uns vinte dias depois, fizeram um jantar para ele conhecer o
grupo, ficou como louco pela Lena, os dois pareciam ter mil assuntos.
Pensei
em dormir até tarde todos os dias, mas não quero perder tempo, se levantava,
para tomar banho de mar com ela.
Acabou vivendo junto com ela, abrindo um pequeno consultório, na
cidade. Ela feliz da vida, tinha
encontrado um homem como gostava, um companheiro.
Quando
faziam reuniões agora as conversas eram mais interessantes. As vezes algum turista que vinha passar o
verão descobria o curso de escritura, se incorporava também.
Mas o
mais interessante é que se integrava também nos banhos de mar pela manhã.
Quando
o roteiro ficou pronto, chamou o diretor que queria o livro, disse que lhe
mandava uma cópia do texto que tinha escrito para ele. Se gostasse que aparecesse na cidade.
Uma
semana depois, o homem entrava pela livraria adentro, segurando o texto. Filho
da puta, é melhor do que a historia do livro. Ficou duas semanas com eles, discutindo o
texto com o Gustav, inclusive, dando dicas no curso, falando sobre roteiros,
como deviam pensar para escrever, que as falas tinham que ser claras, pensem
que queremos atingir uma pessoa que nos está assistindo.
Se
incorporou aos banhos de mar, ria muito isso é um pedaço de um paraíso
construído por vocês.
Ele
era do Canadá, disse que assim que o filme ficasse pronto, passaria na cidade
primeiro, queria saber a opinião dos amigos.
Comprou
uma casa lá, agitou um festival que acontecia no verão, sua mulher logo se
adaptou a cidade. O seguinte roteiro
que Gustav escreveu, foi de parceria com o Gino. Mostrou para o Pierre Boutz, perguntou se ele
queria dirigir seu primeiro filme gay.
Leu o
roteiro, disse que sim, que o duro era convencer dois atores de peso para
fazerem o filme. Gino com seu bom humor
disse o nome de dois atores que todos sabiam que eram gays, mas que viviam no
armário. Mande o texto para os dois,
diga que mandou para verem, aconselharem quem podia fazer o papel.
Ficaram
furiosos, como vamos aconselhar, queremos é fazer esse papel.
Acabou
ganhando um premio no Sundance de roteiro, os dois atores concorreram a melhor
ator. Depois foram os Oscar, mas o tema
como sempre ainda era tabu, principalmente porque não se tratava de jovens
enamorados, mas sim de dois senhores.
Quando
foram a estreia em NYC, no dia seguinte saíram pela cidade, Gustav queria ir a
uma livraria que ia sempre, que tinha livros estrangeiros, queria ver os que
tinham tradução ou mesmo no original, para a livraria da cidade. Faz anos que não vou lá, mas sem dúvida é a
melhor da cidade, não é famosa, mas em compensação seus clientes são pessoas de
bom gosto.
Estavam
do outro lado da rua para atravessar, quando Gustav, ficou pálido, ofegante,
sinalizava o outro lado com o dedo, mas não conseguia falar, Samuel o ajudou a
se sentar num banco na parada de ônibus, repetindo com ele, respire fundo,
vamos respire fundo, ele fazia força para se levantar, até que conseguiu, o
sinal fechou, foi atrás de algumas pessoas, homeless que estavam por ali.
Samuel
o alcançou, tudo que escutou foi minha mochila, ele realmente tinha perguntado
pela mochila no hospital, depois tinha dado um suspiro.
Andava
apoiado na parede, com dificuldade. Até que sentou-se no chão, respirando com
dificuldade. Chamou uma ambulância, mas
ele estava olhando fixo ao que acontecia, viu aonde entravam as pessoas.
Começou
a seguir os conselhos do Samuel, quando chegou a ambulância, lhe colocaram uma
máscara de oxigênio, ele tinha hiperventilado.
O queriam levar para exames, mas disse que não podia, que depois iria ao
hospital. Se levantou, encostou na
parede, agradeceu aos da ambulância, seguiu em frente sem comentar nada, entrou
num velho edifício abandonado que estava logo ali. Sabia aonde estava, foi subindo com o Samuel
atrás, bem como um tipo da polícia que tinha estado junto a eles, quando chegou
num terceiro andar, o cheiro era insuportável.
Entrou direto num salão.
Uma
mulher gritou, nosso amigo voltou.
Correu até ele o abraçando pela cintura.
Falava rapidamente, guardei sua mochila comigo todo esse tempo, os
blocos tudo está aqui, não deixava ninguém botar a mão, pois sabia que um dia
irias voltar. Seu braço estava cheio de
picadas de agulhas. Ela sorrindo lhe entregou a mochila, ele abriu a carteira, mas antes lhe perguntou
se não queria passar por uma desintoxicação como ele.
Para
que meu querido, estou no final do caminho, a última vez que me internei,
disseram que tenho um tumor maior que um ovo de avestruz. Me neguei a cuidar. Para que se ninguém me quer, nem esse puto
pais, ao que servi. Não vale a pena,
pegou o dinheiro avidamente, vou comprar comida.
Ele
lhe enfiou na mão um cartão, dizendo é o número de telefone da livraria aonde
trabalho, se necessitas de alguma coisa me fale.
Obrigado,
se pudesse te mandava meu filho, mas não me permitem sequer me aproximar
dele. Meus pais o tem numa redoma,
quando sair para a vida, não saberá nada como eu.
Se
sentou no chão, ao lado dela, se te
cuidas, te fazem a operação, desintoxicação, depois meu amigo que é um bom
advogado pode tentar recuperar o filho para ti.
Sei que foste tu que chamaste a ambulância, quando todo mundo aqui
pensava que estava morto. Venha, eu te
ajudo, é sempre assim, um tem que ajudar o outro, ele me ajudou, agora estou
bem.
Tanto
falou que ela concordou.
A
levaram a clinica aonde ele tinha estado, lhe rasparam a cabeça cheia de
piolhos, lhe deram dois banhos, ele disse ao Samuel, ela salvou o que escrevi
durante esse tempo todo, nos momentos que estava desperto, ou mesmo drogado,
isso é a joia da coroa da minha vida, a historia de quando fui descendo a esse
poço profundo. Nem me lembro do que
escrevi, mas está tudo aí.
Eu vou
ficar esses primeiros dias com ela, precisa de alguém ao seu lado.
Se
você fica eu também, não penso em de deixar nenhum momento, avisamos aos
amigos, eles podem nos substituir, assim vou também procurando saber da
historia para buscar esse garoto.
Através
do nome dela, procurou sua ficha no exército,
Sandra Rodrigues, conseguiu todas as informações.
Depois
pelo que ela tinha falado, foi buscar o processo do filho. Tinha acontecido em Santa Fé. Ela vendo que o
que eles estavam fazendo por ela, começou a reagir. Contou toda a história, tinha ficado gravida
aos 17 anos, era ilegal no pais. O rapaz
era americano, mas sua família era contra eles ficarem juntos. Lhe ofereceram dinheiro para abortar, mas
ela se negou, era católica. O rapaz entrou
no exército, a deixou sozinha, para ter o filho. Achava que assim fugia dos pais e dela. Teve o parto, os pais dele se ofereceram
para cuidar dele, ela entrou para o exército para buscar o namorado e ao mesmo
tempo conseguir a cidadania. Cada vez
que vinha os pais do rapaz que tinha morto em combate, mal a deixavam ter
contato com o garoto, quando voltou definitivamente, tinham mudado de cidade,
ela os procurou até achar. Diziam que
ela tinha abandonado o garoto, a acusaram de mil e uma coisas, sem condições de
cuidar do garoto acostumado ao mimo de gente rica. Conseguiu ver o menino, as escondidas umas
quantas vezes. Mas ele nem se lembrava
dela. Isso foi um choque, quando o juiz
amigo dos avôs lhe disse que não tinha direito ao garoto, ela explodiu. Foi presa por desacato a autoridade.
Como
ainda não tinha dado baixa no exército, a mandaram para Washington presa,
quando saiu lhe deram a baixa, não tinha para aonde ir, sua família tinha
desaparecido no mapa, os advogados do exército, lhe tiraram qualquer esperança
de resgatar o filho. Em NYC, aonde tinha parentes, sua única
esperança, lhe fecharam a porta, o jeito foi viver na rua. Quase
em seguida conheceu Gustav, ficava ao lado dele, porque ele era imenso, lhe
inspirava proteção, não sabia como, mas ele sempre conseguia dinheiro para
comprar comida. Quando ele passou mal,
foi ela quem chamou a ambulância, mas não a deixaram ir junto, não sabia para
aonde o tinha levado, ficou com sua mochila, ele vai voltar.
Mas
ele tinha borrado de sua cabeça essa fase.
Quando
finalmente ela entrou em processo final da desintoxicação, eles foram até Santa
Fé seguindo o rastro dos avôs do garoto.
Este agora tinha 17 anos, conseguiram falar com ele, odiava os avôs pelo
controle ferrenho que tinham sobre ele, mas se queres pode te tornar independente,
Samuel explicou que era advogado.
Gustav contou que sem ela, ele teria morrido, não estaria ali agora.
Já sei
quem eres, li teu livros, o último devorei, os tenho escondido, porque meus
avôs até isso controlam.
Samuel,
conversou com um juiz da Suprema corte, amigo de seu pai, contou a história, perguntou
como devia agir.
Primeiro
vê se ele tem posse de documentos, inclusive certidão de nascimento, tire copia
de tudo, me mande, vou fazer uma coisa complicada, mas o faço por essa moça que
defendeu nossa pátria. Uma semana depois
iam no avião rumo a NYC.
André
Rodrigues, não tinham trocado seu sobrenome, ele só levava o da mãe na certidão
de nascimento, não existia nenhum
documento que dissesse que ela tinha aberto mão do garoto, tinha sido má fé do
juiz, bem como do avôs.
André
disse que estava nervoso, quando a vi a última vez estava muito nervosa, pois
os velhos tinham feito com sempre chantagem emocional, que ela era a culpada da
morte do filho deles, nada mais natural que o neto ficasse ali para o
substituir.
Meu
avô deve ter feito cursos de chantagem emocional desde criança, feito inclusive
doutorado, manipula sua mulher como quer, a mim, primeiro me comprava com os
melhores presentes, mas quando comecei a perguntar sobre meu pai, minha mãe,
ficava furioso, dizia que ele tinha morrido por culpa dela. Um dia apareceu um colega dele do exército,
queriam entregar coisas dele para os velhos, fecharam a porta na sua cara, eu saí
pelos fundos da casa alcancei o rapaz, me entregou um livro de capa dura, ele
sempre estava escrevendo aqui. Me entregou seu boné, bem como um anel que usava,
além do cordão de identificação.
Foi quando
que notei que meu sobrenome não era o mesmo.
Nunca tinha prestado atenção. Comecei a ler o que ele tinha
escrito. Vi que minha mãe não era
culpada, ele morria de medo do pai, não sabia que lado se colocar, sua solução
foi fugir. Depois se arrependia, afinal
tinha um filho que ia nascer. Sabia que
ela não se dobraria para o velho, que teria o bebê de qualquer jeito. Portanto devo ter um filho, queria voltar,
mas já era tarde.
As
últimas folhas era ele falando com o filho que nunca conheceria. Escondeu tudo do avô, pois esse era daquelas
pessoas que revistava seu quarto quando ele não estava.
Ria
agora, se lembrando do escândalo que tinha aprontado no fórum, o juiz agora não
era seu amigo, a ordem vinha de cima. O
juiz perguntou ao neto se queria ficar com os avôs, quando respondeu que não o
velho perdeu o controle, como teu pai, seu filho da puta, nos abandonou quando
devia ficar para cuidar de nós na velhice.
Eres tão ingrato como ele.
Acabou dormindo a noite na delegacia.
Ele aproveitou foi buscar o diário de seu pai, bem como algumas coisas
dele.
Saiu
sem sequer abraçar a avó. A cara de
megera dela era incrível.
Do
aeroporto foram para a clínica, Gustav,
avisou o médico, que os esperava na porta, ela se negou como tu a tomar
qualquer calmante.
Quando
viu o filho, as lagrimas corriam pela sua cara.
Olhava para o Gustav e Samuel com gratidão, obrigado foi tudo que disse.
Acho
que vocês poderiam ir conosco, nossa casa é grande, lá temos um psicólogo amigo
nosso, que pode te ajudar, tu disse ao André, como estas de férias, me ajuda na
livraria.
Quando
André viu o mar, ficou como louco, agora passava horas e horas conversando com
a mãe na praia, nos últimos dias, já se o via abraçado a ela, bem como a
chamando de mãe.
Sandra
ia agora duas ou três vezes por semana a consultório do Louis, estava
finalmente se livrando de todo o lastre do que tinha visto, dos seus problemas
com as drogas.
Como
os dois, só bebia coca cola.
Quando
teve finalmente coragem, Gustav, tinha pedido para o André levar a livraria uns
dias sem ele. Se sentava na sala que
dava aulas, ia lendo suas anotações, as vezes numa letra que nem ele conseguia
decifrar, inclusive usava uma lupa.
Ia
anotado em outra caderneta tudo que tinha escrito. Foi quando se deu conta que tudo tinha
começado, porque se sentia culpado de terem levado sua mãe. Se ele não estivesse parado na porta, não
tivesse perguntado sobre o que era bastardo ao avô, nada disso tinha
acontecido, essa culpa, junto com a solidão, tinha ficado como um lastre, uma
pedra pesada como as que os mafiosos colocavam aos pés de suas vitimas para a
atirarem ao mar.
Esse
mergulho que dava consciente de tudo, era para entender o porque disso tudo,
afinal quem era o filho da puta de seu pai.
Mesmo no diário de sua mãe, ela nunca mencionava o nome. Dizia que nem valia a pena mencionar, uma
pessoa que a tinha abandonado quando necessitava.
Talvez
por isso sentia tão próximo ao André, o queria como um filho. O Samuel, ainda tinha seus filhos, mas que
com o passar do tempo, mesmo que ia visita-los sempre, eram dois belos
desconhecidos para ele.
Quando
sua ex-mulher morreu, foi ao enterro, mas eles estava era abraçados ao pai que
os tinha criado. Nada mais justo
pensou, foi ele quem os criou.
Perguntou
se precisavam dele, estavam na universidade, deixou seu endereço, qualquer
coisa sabem aonde me encontrar. Nunca o
fizeram, ele nunca tinha existido em suas vidas.
Entendeu
que cada um escolhe seu caminho. Sandra
agora o ajudava na loja, conversavam riam, lhe contou ao contrário dela, que
seus filhos eram duas pessoas desconhecidas para ele, afinal não os tinha
criado.
Um dia
apareceu o menor, olhou a loja, comentou, com que de grande advogado agora
um antiquário, grande cambio, o levou
para sentar-se com ele no escritório.
O
tratava de senhor todo o tempo. Falou
que tinha terminado a universidade, que tinha ido procurar emprego no
escritório que tinha sido de seu avô, mas que o mesmo como tinha sido vendido a
uma grande corporação de advogado, não o contrataram.
Não me
diga que chegaste, fizeste a apresentação, exigindo que deveriam ter um lugar
para ti?
Sim,
natural verdade?
Se eu
vendi minha parte, metade deixei no banco para vocês poderem ir à universidade,
nem tenho vínculos lá. Se me vem
procurar por isso, sinto muito. Não
posso te ajudar. Eu quando entrei, meu
pai fez questão que fosse como qualquer outra pessoa que pede emprego. Nada de favoritismo. Para chegar a Sênior dei um duro desgraçado,
nem conheci na verdade meus filhos, pois quando chegava em casa, eles estavam
dormindo, quando saia de manhã, já tinham ido à escola. Só os via no final de semana, quando tampouco
queriam nada comigo. Não sei como o
marido de tua mãe os criou, mas eu penso igual ao meu pai, se queres um emprego
tens que começar debaixo. Até aqui, eu
primeiro fui empregado do dono, comecei a trabalhar aqui, primeiro porque gosto
disso, mas na minha infância, minha mãe, tinha o hábito de mudar as coisas de
lugar, para que as pessoas não se acostumasse, tinha que valorizar os pequenos
objetos que ela comprava. Só depois de
John Gilbert, o dono da loja morreu, que me tornei proprietário.
Quem é
essa mulher que está aí fora?
Estás
preocupado que tenha me casado de novo.
Sim o fiz, mas me casei com um homem, que amo demais. Ele estava no enterro de tua mãe
comigo. É meu companheiro de todas as
horas.
Bom
vejo que daqui não tiro proveito nenhum, ainda por cima um pai gay.
Um ano
depois apareceu o mais velho. Pediu
desculpas de não o ter procurado antes, mas tinha estado fora do pais. Trabalho no ministério de relações
exteriores, meu irmão me falou sobre o senhor, que era gay.
Por
isso vim, eu também sou, estou dentro do armário, mal posso respirar, estou
farto da vida que levo. Pensei que iria
ser diferente, mas não é frustrante.
Como
estavam na hora do almoço, o levou para comer em casa. Gustav o recebeu amavelmente, lhe
apresentou Sandra e André.
O
rapaz disse que o Gustav conhecia pois tinha lido todos teus livros, estás
escrevendo algum agora?
Sim um
que esta me devorando por dentro, tenho que analisar cada frase do que escrevi
para saber se é verdadeira ou não. Estou de férias da livraria, quem cuida é o
André, inclusive parei de dar aulas de escritura.
Isso
eu gostaria de fazer, sempre gostei de escrever. No final perguntou se podia ficar, precisava
muito conversar com o pai. Nessa noite
por acaso tinham um jantar com todos os amigos,
ficou alucinado, pois eram todos diferentes, falavam das coisas sem
problema nenhum, quando foi apresentado ao Gino que chegava abraçado ao Billy,
o apresentando como meu marido, ele se sentou para conversar com eles. Ao final estava relaxado com todos. No dia seguinte seu pai o despertou, venha,
regras da casa, todos tomamos banho de mar, antes de começar o dia, quando
chegou a praia, viu todos que basicamente estava de noite no jantar, riu, que
coisa diferente. Foi ficando, quando o
pai lhe perguntou quando se incorporava, riu dizendo, mandei uma carta,
encontrei finalmente o que quero viver.
Arrumou
um emprego de professor na escola local, para dar aulas de línguas, já que
falava várias, alugou a antiga casa de seu pai, ao lado, mas todo dia de manhã,
ia tomar banho de mar. Gostava muito de
cozinhar também, um dia apareceu com um novo professor da escola, que como ele
tinha vindo de fora. Este quando viu o
grupo, riu muito, isso parece uma irmandade.
Quando
falou com o irmão, este ficou furioso, porque nunca tinha lhe contado que era
gay.
Te
respondo com outra pergunta, ia mudar tua linha de pensamento?
Tinha
longos papos com o Samuel, este estava mais tranquilo.
Um dia
Gustav, demorava a sair do escritório, André abriu a porta, estava com a cabeça
apoiada a mesa, se via que tinha chorado, chamou uma ambulância rapidamente,
estava mal, avisou o Gustav, foi com ele ao hospital na ambulância.
Tinha tido uma princípio de
enfarte. Mas agora estava bem. Fazia mais de um ano, que vinha lendo o que
tinha escrito nos tempos difíceis, era complicado ler agora, o que tinha
sentido, mesmo seus desejos de morrer, por não conseguir se encontrar, repetia
sempre a mesma frase ao final de cada coisa que escrevia, que a luz do final do
túnel, continuava apagada.
Nesse
dia, sua overdose não era mais que uma tentativa de colocar fim a tudo isso,
essa puta luz não vai se acender nunca, tampouco deve existir o outro
lado. Ler agora todas essas misérias
que tinha vivido, que tinha visto, as conversas com todos os homeless que tinha
conversado, suas desesperanças, na verdade do velho grupo só tinha reencontrado
a Sandra.
De um
lado lhe agradecia ter guardado tudo isso, pois era uma coisa ter escrito como
tinha feito, falando desde uma distancia razoável, o que tinha acontecido com
ele, outra agora era ver o que realmente tinha feito com ele mesmo, tudo por
uma sensação de culpa, de uma impotência de entender a si mesmo, sua falta de
amor, o pior era a sensação de não ter amado ninguém em sua vida.
Ele
pediu para o Samuel ler antes de mandar para o editor. Este ao mesmo tempo que ficou horrorizado,
entendia agora tudo que ele tinha passado.
Cada um busca a luz do final do túnel a sua maneira. Tirou uma cópia mandou para o Editor.
Este
comentou que tinha lido de uma tacada só, que não conseguia parar de ler, é
aquele livro que amas ou odeia.
Se ele
quer, vamos editar. Será que ele está
pronto para entrevistas sobre esse livro, é como tirar sua própria pele.
Comentou
então com o Gustav que tinha mandado o texto para o editor, que esse queria
publicar.
O
médico avisou que ele não estava bem para fazer uma turnê, pois seu coração
está muito débil, sugiro fazerem um vídeo com vários entrevistadores, mas
atenção, ele não pode se cansar.
André
tinha descoberto que adorava levar a livraria, fez muitas amizades, foi ficando
com a desculpa de estar perto da mãe.
Quando
Gustav saiu do hospital, nos primeiros dias queria ficar somente sentado na
varanda olhando o mar, estava diferente, ter relido, redigido o novo livro, o
tinha massacrado psicologicamente, Louis
vinha sempre conversar com ele, tinham papos de horas, o conhecia bem demais,
quando leu o texto, falou com ele, que na verdade nada tinha sido culpa dele,
mas do seu avô, que era uma pessoa despótica.
Você acha que uma pessoa que ama sua família faria o que ele fez com tua
mãe, contigo. Nunca, o desequilibrado
era ele.
Isso o
foi liberando de toda carga que tinha, agora ficava grudado no Samuel, como se
quisesse guardar na sua memória, seu cheiro, a textura de sua pele.
Escreveu
seu último livro, falando sobre isso o amor que tinha encontrado, não no final
do túnel, mas quando tinha saído dele, nunca pensei que amar fosse isso, uma
pessoa ao teu lado que te entende, completa, é teu amigo. Era como uma ode ao amor dos dois.
Depois
da gravação do vídeo, os editores, passaram o livro para os jornalistas que iam
entrevista-lo, pediam respeito pois ele
estava doente.
Respondeu
todas as perguntas inerentes ao livro. Finalizou
dizendo que agora acreditava que o túnel tinham seu tempo sua hora, isso não
acontecia quando resolvias simplesmente procurar essa luz. Entendia agora que a luz era a própria
pessoa, pois é ela que ilumina o túnel.
Falou
do livro que estava terminando, é uma
ode ao amor de minha vida, a única pessoa que amei.
Morreu
dois dias depois, sem ter terminado o livro, sentado na varanda, olhando o mar,
tranquilamente. Pediu ao Louis, se
podia transladar o que restava de sua mãe, para enterrar com ele ali. Foi uma cerimonia comovedora, ele não tinha
religião, portanto a cerimonia foi ali perto da praia. Houve outra mais completa quando chegou os
despojos de sua mãe. Todos os amigos
falaram, ele sem querer tinha agrupado muitas pessoas, todas o amavam e
respeitavam.
No
testamento nomeou o André seu herdeiro, ficava com a Livraria, bem como com
todo o dinheiro que existia para realizar seus sonhos.
Samuel,
agora estava mais agarrado ao seu filho, deixou a casa para o André pois era
sua por herança, bem como Sandra. Foi
viver com seu filho, na casa ao lado. Um
dia sonhou com o Gustav, sorria feliz, encontrei a luz que tanto procurei, veio
acompanhada de minha mãe, dos amigos que já se foram. Estou feliz, estarei te esperando um dia
desses.
Cinco
anos depois o Samuel faleceu de um ataque do coração, sentado na loja,
tranquilamente, o lugar que o tinha feito feliz. Foi enterrado ao lado do amor de sua vida.
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