jueves, 3 de diciembre de 2020

LUZ NO FINAL DO TÚNEL

 

                                          LUZ  NO  FINAL  DO  TUNEL

 

Os momentos que passava lucido, eram um tormento, preferia voltar a escuridão da sua cabeça, lá pelo menos se divertia com o zaping que fazia sobre sua vida, tinha conseguido se lembrar inclusive de seu avô que ele tinha conhecido em criança.   Depois dessa época não se lembrava absolutamente deles.

Sentiu que passavam a gilettes, lhe fazendo a barba, queria gritar, não sabia se era no plano real, ou imaginário que isso estava acontecendo.

Mas se lembrou da cena, com detalhes ínfimos, estava na universidade, queria deixar o bigode crescer para ficar na moda, seu companheiro de quarto dizia, que quanto mais rapasse o mesmo, os pelos cresceriam fortes.

Deixa comigo, estavam os dois de cuecas, o fez sentar-se encostar a cabeça na sua barriga, passou o creme, suavemente começou a raspar.  Sentiu seu pau duro nas suas costas, mas não fez nada para se afastar, poderia dizer que ele tinha uma navalha na mão. Quando terminou, se colocou na sua frente para ver como tinha ficado, o pau duro continuava lá.

Com uma mão o segurou.  Schiu, fez o outro, foi até a porta a fechou a chave, se a porta não estivesse fechada, os companheiros entrariam.

Tirou a cueca se aproximando, a muito tempo que quero fazer sexo contigo, o arrastou a cama, abaixou a sua cueca, lhe penetrou sem aviso nenhum. Gozou, limpou o seu sexo, riu, eu sabia que gostava, eu também gostei.  Adeus marica.   Saiu pela janela.

Sabia agora que esse filho da puta ia contar aos outros.

Se sentiu como uma puta, mas não comentou com ninguém, graças a deus, mas sim pediu para trocar de quarto para estar mais próximo de seus companheiros de equipe.

Filho da puta pensou, conseguiu o que queria, me deixou com a cabeça completamente alucinada pelo prazer que tinha sentido.

Volta e meia se encontravam, mas não se falavam.   Estava furioso com a história, agora todos levavam bigodes, mas ele tinha resolvido que levaria sempre a cara limpa, para nunca se esquecer do primeiro homem que o tinha fudido.

Sua cabeça fez como um retrocesso, durante o coito, o outro tinha segurado seu caralho, tinha dito ao seu ouvido, seu caralho é lindo, mais bonito que o meu, parou tudo o chupou, quando terminou gozando na sua boca, voltou a fazer o que estava fazendo.

Por isso nunca tinha falado nada.   Só o voltou a ver, num lançamento de um livro seu, em que ele apareceu com a mulher, uma senhora um pouco mais velha que ele, mas com elegância, fina, ele ao contrario estava gordo, meio calvo, que tentava esconder penteando o cabelo de lado.

Num intervalo, se aproximou, perguntou se podia falar com ele em particular?

Sinto muito, tomo um avião daqui a pouco para Londres.

Nunca me esqueci daquela noite, quero que saiba, foi o melhor da minha vida.

Não voltou mais a vê-lo.

De novo mergulhou no escuro, assim acontecia nesse processo de desintoxicação, ia se lembrado das coisas como um flash back, as vezes coisas boas, outras nem tanto.

Tinha escrito três livros de sucesso, dois vendidos para o cinema, depois se sentiu em branco, era incapaz de escrever qualquer coisa.  Se desesperou, a única coisa que fez certo, foi guardar seu dinheiro todo num banco, vender todas as propriedades que tinha comprado. Disse ao diretor, só libere para mim esse dinheiro, no dia que volte aqui com meu advogado, com uma carta de que estou limpo de drogas.

Foi caindo, se fosse um filme, mostrariam uma pessoa caindo em câmera lenta, mas tinha sido uma loucura, acabou vivendo na rua, implorando por um pouco de dinheiro, para comprar drogas, fez todas as misérias.   Mas sua cabeça estava bloqueada, era como se uma pedra não lhe permitisse, examinar o que tinha acontecido com ele antes de entrar para o colégio interno.

Ele mesmo tinha guardado tudo  numa gaveta, fechado o arquivo a chave, sabe-se lá aonde guardou a chave.   Se deu conta que tentavam reanima-lo, por algum motivo, quando levou o choque, foi como se todos os arquivos que olhava, abrisse de repente, jogando toneladas de papel no chão, agora como castigo ele teria que recolher tudo, classificar.

Encontrou uma pasta com o nome de sua mãe, retirou do arquivo, as folhas estavam limpas, ordenadas por números, datas.

Ler aqueles papeis, fez com que a figura frágil dela, fosse emergindo de suas lembranças, era pequeno, ela vivia fechada no seu quarto, ele tinha ordem estrita de seu avô para jamais se aproximar.

A única vez que se aproximou, viu que estava atada na cama, quando o viu, sorriu, a enfermeira olhava uma seringa enorme, a colocou no seu braço, via agora claramente que ela dizia sem som “te amo, meu filho”, quando a enfermeira viu que a porta estava aberta, ele em pé paralisado do outro lado.  Fechou a porta bruscamente, falando palavrões.

No dia seguinte, quando ia sair do quarto notou que sua porta estava fechada por fora, correu até a janela, estava fazendo sua mãe, entrar com força num carro branco, grande, mais tarde descobriria  numa loja de brinquedos que era uma ambulância.

Nunca mais ouvi falar nela.    O velho, tampouco falava com ele, mas escutou um dia dizendo a um amigo, o pior de tudo, é saber quem herdará tudo, será um bastardo. 

Correu ao seu quarto, para olhar o dicionário o que era bastardo.    Nessa noite entrou na biblioteca, serio, cheio de perguntas, tinha resolvido enfrentar aquele velho horroroso,  parou na frente dele muito sério perguntou, porque o senhor me chamou de bastardo.

O velho o olhou muito sério, porque não sabemos quem é teu pai, pode ter sido o cocheiro, o motorista, alguém da cozinha, o mordomo, ela sempre se negou a falar quem era.

Por isso estas registrado com meu nome. Gustav André Gummercy, pelo menos honre o nome que te dei.

Sua resposta, foi cuspir na cara do velho, dizer que bastardo era ele, filho da puta.

No dia seguinte quando despertou, tinha aos pés da cama sua maleta feita, bem como um uniforme de um colégio para vestir.  Só voltou a ver o velho, já dentro do caixão para ser enterrado.

Estava no último ano da universidade, pela primeira vez vivia num apartamento que o velho tinha dado para ele. O anos anteriores, sempre tinha vivido em colégio particular interno, até entrar para a universidade.  Nunca tinha ido de férias como os outros, tampouco natal, ano novo, seu aniversário nada.   Recebia sim, uma carta, uma cópia de um talão de cheque de dinheiro depositado em sua conta.  O mesmo quando entrou para a universidade, recebeu a escritura do apartamento.  Teu legado dizia o bilhete.

Depois do enterro, foi com outras pessoas que não tinha menor ideia, quem eram, para a leitura do testamento.  A mansão tinha sido vendida a tempos, o dinheiro dividido, estava num fideicomisso, ele receberia tudo quando tivesse 30 anos.  Não antes disso.

Sabia que tinha dinheiro no banco, porque o advogado lhe entregou, um papel com o saldo da conta, bem como o acompanhou para tirar um cartão Visa.

Foi tudo. Quando faça 30 anos, venha ao escritório para receber o resto.

Quando fez trinta ano, foi ao escritório acompanhado de duas ONG, passou todo o dinheiro para elas.  Se o velho fosse vivo, lhe diria na cara que não preciso do dinheiro dele.  Tinha acabado de vender o segundo livro para um filme.  Seria um escândalo, falava justamente dos problemas da família, tinha escavado fundo.  Nem se deu conta que tinha mexido com ele, tinha atirado no ventilador, todas as merdas que a família escondia, as taras, drogas, roubos descarados.  Disse ao advogado, esse dinheiro é sujo.

Assinou os papeis, desapareceu.   Ficou lambendo suas feridas, conheceu um rapaz na praia, que tomava drogas, ele estava tão bloqueado que não conseguia ficar excitado, aceitou tomar drogas, ficou alucinado.   Seu terceiro livro os críticos diziam que devia estar drogado para escrever sobre esse assuntos sem pelos na língua.

Mas depois não escrevia nem uma palavra, tudo era branco.

Entendeu que tinha que chegar ao fundo do poço com tudo isso, se sobrevivesse já se veria.

O advogado que o acompanhou ao Banco, não entendia muito bem o que ele estava fazendo.

Lhe explicou, estou tentando me salvar para o futuro, no momento, estou em queda livre num buraco que não tem tamanho.   Deu o nome de sua mãe, mais ou menos a data que a tinham levado de casa.  Procure por mim, por favor.

Foi ao seu antigo apartamento, o inverno começava a apertar, mas ele nem pensou duas vezes, pegou um casaco que lhe protegeria do frio, numa mochila, colocou um saco de dormir, saiu, nunca mais voltou.

Despertou de novo desses sonhos.  Olá disse o médico que estava sentado ao seu lado, por pouco te perdemos.

Sua resposta foi, ainda não vi a luz no final do túnel, me deixe por favor.  Fechou os olhos querendo recuperar a escuridão.   Mas pronto começou a rir muito alto, já sei não vais me deixar encontrar o caminho verdade, o túnel não tem luz, pois deixaram de pagar a conta faz tempo.

Dois dias depois começou a terapia, lhe perguntaram se queria individual, ou fazer uma coletiva. 

Ele respondeu com outra pergunta, quem está pagando o hospital?

Seu advogado, ele como administra uma parte do fideicomisso, que não podia ser tocada, quando a polícia lhe avisou que tinhas sido encontrado,  ordenou que o trouxessem para cá.

Só deixou um recado, se recupere, encontrei o teu passado.  

Entendeu o recado, devia ter encontrado sua mãe.

Pediu para durante um tempo, fazer terapia só.   Depois já se veria.  O psicólogo ficou surpreso, ele entrou na sala com um caderno, um lápis, que tinha pedido, pratiquei durante o tempo que estive aí fora, apontou a sua própria cabeça.   Falou tudo, principalmente das coisas que se lembrava, do que tinha visto, porque tinha sido internado.  A palavra bastardo que o tinha afetado a vida inteira, saber que tinha uma mãe tudo bem, mas quem era seu pai, achava que nunca iria descobrir.

A solidão nos colégios, os poucos amigos, mais para companheiro de cursos, aos quais ele nunca tinha mencionado nada.   Do companheiro com que tinha feito sexo, das lembrança que tinha nesse meio tempo resgatado.   Desta vez, entendi por que se afastou, porque  sem querer colocou sua parte homossexual para fora, não queria que os outros soubesse.  Falou do encontro com ele, como estava feio, casado com uma mulher mais velha.  Mas me neguei a falar com ele, porque essa parte marcou toda minha frustação sexual.   Eu pensei que estava finalmente amando alguém, que era querido por outra pessoa.

Depois começou a cartasse, de falar do sucesso do primeiro livro, um sucesso ao qual ele não estava preparado, dos amantes de uma noite, que fugiam porque ele em seguida chamava de meu amor, queria que a pessoa ficasse para sempre com ele.

Nunca tinha tido amor, então para ele era quase uma palavra utópica, pois não sabia seu verdadeiro significado.   Durante muitos anos pensou que era uma palavra inventada para os consumidores.     Nos seus livros nunca tinha usado essa palavra, falava palavrões, termos eróticos, mas de amor nunca, não sabia o que era.

Depois levou dois meses com a terapia de grupo, ria, pois o drama das outra pessoas eram piores que os seu.  Então contar o seu, lhe parecia uma besteira.  

Uma das mulheres, disse que o conhecia, fui a uma tarde de autógrafos, de um de seus livros com meu marido, disse que te conhecia.  Ele se lembrou dela.

Aonde foi parar seu marido.   Depois que te viu, me largou por um negro de um pau imenso como me disse, que gostava de homens, que te ver o fez se lembrar disso.   Deixou tudo, desapareceu, fiquei sabendo a pouco tempo que estava vivendo em San Francisco, pois os papeis de divorcio vieram de lá.  Ele se casou comigo, pois a família estava arruinada, eu era jovem, tinha enviuvado de um homem rico.    Mas nunca fui feliz com ele.

Abriu mão de tudo, dizia que agora era feliz.

Posso comentar que estas aqui?

Não por favor não o faça, iria fazer com que eu ficasse mais tempo.

Cinco meses depois sai, o advogado me estava esperando na saída da clínica.   Perguntou se eu queria ir ao banco.   

Lhe disse que isso podia esperar, queria saber do outro, da mensagem.

Ah encontrei a tua mãe, fuçando os papeis de teu avô.   Ela viveu anos, num hospício, podemos ir até lá se queres.   Morreu alguns meses antes dele.

Quando fui até lá, me disseram que ela tinha deixado coisas para ti, mas com a ordem de só entregarem a ti em pessoa.

Aonde fica isso, é longe?

Podemos ir amanhã se queres?   Tens aonde ficar?

Não tenho dinheiro tu sabes, mas que historia é essa do fideicomisso, que não podia se tocar?

Era justamente o que pagava o hospício, foi por aí que eu a encontrei.  Ainda tem muito dinheiro, venho usando para pagar tuas despesas.

O médico disse que desde que recobraste a cabeça, te negavas a tomar qualquer medicação?

Sim, se eu entrei por drogas, é como seu eu tivesse usando novas drogas, se quero estar limpo, tenho que ter a cabeça limpa, para seguir adiante.   Nada mais de drogas, a única coisa que  me decepcionou foi que ao final do túnel não tem luz nenhuma.  Riu com isso. 

Teve que explicar ao advogado, quando falei contigo a última vez, o que foi que te disse.

Que caias num buraco sem fim, que esperava que ao final do túnel tivesse luz.

Vê, eu estava sempre mergulhado na escuridão, recordando porque tinha chegado a isso, voltei a minha infância, como vi minha mãe ser afastada de mim por esse velho filho da puta, bem como porque me mandou estudar interno, lhe cobrei porque me chamava de bastardo pelas costa, quando me explicou, lhe cuspi na cara, lhe chamei de filho da puta.

Depois os anos todos de solidão, que acabaram, entre aspas, quando fiquei famoso com meus livros, mas não me dei conta que estava mais sozinho do que antes.   Pois todos que estavam em minha volta, queriam seu cinco minutos de fama por estar comigo.  

Eu pensava que me amavam, não tinha amadurecido totalmente. Agora eu sei que sou uma pessoa, a qual roubaram parte de sua vida. Quero recuperar isso para seguir em frente.

O levou a um hotel cinco estrelas, nem desceu do carro.  Estas tentando que volte a ser o que era, sinto muito, nada disso, basta me levar a um hotel descente, que seja limpo, que eu possa dormir tranquilo, sem ruídos.

Queres ir para minha casa, vivo fora daqui, acabo de me divorciar, prometo não beber na tua frente.

Foi ficar na casa do advogado.   Um imenso casarão, nas aforas de NYC.

Para que vives sozinho aqui, não achas demasiado, ou espera que sua mulher volte.

Ela não mas as crianças, porque perdi a custodia deles, estou brigando por isso, mas eles se assustam comigo, me viam mais nos finais de semana, nos últimos anos, bebia demais nesses dias.   Me sentia amargo,  imagina, odeio ser advogado, fui fazer direito porque meu pai o exigiu, me casei com uma mulher que não escolhi.  Nada sou eu.  Quando te internaram, quando te vi.  Fiquei muito abalado.   Você é um homem bonito, tinha sucesso, mas se preparou para mergulhar no teu poço escuro.   Queria te sacudir, desperta.   Mas estavas num coma profundo.

Não sabes, mas fui te ver várias vezes, primeiro quando estavas cheios de tubos, as vezes tinha sensação de que abria um olho, me olhando como me perguntando o que estas fazendo aqui. Depois ia, ficava te olhando sentado nos jardins, sozinho, as vezes fechavas os olhos como para te evadir.   Sentia inveja disso.

Vou fazer uma pergunta dura, posso?

Sim, podes perguntar.

Achas que teus filhos, que para ti são belos desconhecidos, vão querer viver contigo assim, vais continuar afastando de ti cada vez mais.   Acho que devias fazer um tratamento com um psicólogo, te encontrar.   Saber o que realmente queres da tua vida,  olhe em volta, procure uma coisa que queiras fazer.   

Comeram alguma coisa, conversando, cada um com uma lata de coca cola, sentados nos degraus que levavam ao jardim.

Minha ex-mulher encontrou um outro homem, vão se casar.   De um lado me sinto ofendido, nunca a amei, essa é a verdade, mas tampouco me dei bem com nenhuma mulher, sempre fui muito fechado. 

Olha vou cobrar pela terapia hem.  Bateu com sua mão em cima da dele.

 Fique tranquilo, conversaremos sempre que queiras te desabafar, eu nunca tive nenhum amigo para conversar, sei o que é isso.

Samuel Weiss, lhe levou ao quarto de convidados, quase o convidou para dormir com ele, mas não queria estragar a amizade que começava a surgir.

Despertou estranhando o quarto, procurou referência como os quartos da clínica. 

Samuel, bateu na porta para dizer que o esperava para tomar café.  Tem o banheiro aqui do corredor, te espero embaixo, já avisei que vou resolver coisas contigo hoje.

Desceu, gostava de encontrar uma cara conhecida no café da manhã, na clínica, eram o pessoal da limpeza, os enfermeiros, ia pelo corredor dizendo bom dia.   Eles achavam estranho não estavam acostumados.

Dormiste bem a noite, lhe perguntou Samuel?

Sim e tu?

Por incrível que pareça fiquei um tempo desperto, pensando no que me disseste, depois, talvez por isso, dormi bem.

Depois do café, pegaram o carro, foram rumo ao hospício.   Levaram mais de uma hora e meia, para chegar, foram recebidos pelo diretor.   Este disse que depois que tinha assumido, tinha achado estranho a ficha de sua mãe, não constava nenhum problema, neurológico, mandou ir diminuindo a dose dos remédios que tomava, até que chegou a placebo.   A partir daí, pediu um caderno, lápis, começou a escrever, quando lhe perguntei, me disse que estava escrevendo para seu filho, contando sua história.

Quando falei com teu avô, que ela não precisava estar aqui, foi grosseiro, se eu pago, além de ser tutor dela, ela fica.  Não quero nenhuma degenerada da família em minha casa.

Me pareceu um homem retorcido, falei com ela, que poderíamos entrar na justiça para libera-la, só me pediu informação ao teu respeito.   Tinhas acabado de lançar teu primeiro livro, o comprei para ela.   Perguntei se queria, comunicar-se contigo.

Ela ficou pensando, me disse, nem quando era pequeno meu pai me permitia ficar perto dele, que vai pensar ele agora, se apareço de repente em sua vida.   De aonde saiu essa louca.

Lhe disse que pensasse, o dia que fui comunicar que tinhas um segundo livro, que poderia lhe interessar, estava na enfermaria, tinha tido um enfarte, me pediu que guardasse seus cadernos para um dia entregar a ti.   Logo em seguida morreu.

Foi enterrada aqui mesmo, venha, os acompanhou a um pequeno cemitério, as vezes os parentes não querem saber das pessoas que abandonaram aqui, de maneira nenhuma, querem é esquecer que existem.  Então enterramos aqui.

Bom qualquer lugar é lugar, já estamos mortos mesmo, não creio que faça diferença, poderiam me deixar uns momentos aqui. 

Já sabem aonde esta minha sala,  o Samuel, também se afastou, ficou ali pensando nela, como se lembrava,  chorando, não sabia rezar, nunca o tinha feito na vida, mas pediu que existisse algum ser superior que a acolhesse, a deixasse descansar.  Que a luz do final do túnel se acendesse para ela.

Voltou no carro quieto, com o envelope, ali nas suas pernas. 

Existiam três cadernos, pelo que tinha visto, todos numerados.

Pediu ao Samuel, se conseguia um hotel como tinha pedido para ele. 

Não queres ficar na minha casa, gosto da tua companhia.  Assim tenho com quem conversar.

Bom até que eu decida o que quero fazer, ok.   Passaram pelo banco, o gerente sorriu ao vê-lo, como estas diferente, vejo que te recuperaste bem.

Tomou posse de suas coisas, mas retirou uma quantidade de dinheiro, o resto continuava como sempre sendo aplicado.     Lhe deram um cartão de crédito.

Disse ao Samuel, necessito de um laptop, para escrever.  Passaram numa loja, foram para a casa dele.

Não tinha visto que tinha uma piscina no jardim, tomaram um bom banho os dois, vestidos de cuecas.   Samuel tinha um corpo admirável.

Quando o viu olhando, disse, sabe que me dizia minha mulher?   Que apesar desse corpo todo, eu era como um garoto na cama, no último ano, depois que me disse isso, foi dormir em outro quarto.   Fico sempre incompleta contigo, gozas vira para o lado com vergonha, dorme.

Realmente não tenho experiencia, podia ter procurado putas, mas não me sentia bem fazer isso, uma vez que fiz uma viagem com um cliente, me convidou para ir de putas, fui, acabei pagando a garota para ficar conversando comigo.

Com homens nunca tentastes?

Sim, mas também não funcionou, não sentia confiança no sujeito.    O deixei me chupar, mais nada.

Ele pediu desculpas foi ler o que sua mãe tinha escrito.   A letra era miúda como de uma criança, começava pedindo desculpas, nasceste num mal momento, no momento que o caos caiu sobre minha cabeça.    Me apaixonei pelo homem que foi teu pai,  quando lhe disse que estava gravida, se assustou, no dia seguinte tinha desaparecido.   Não quis te abortar, pois já te amava.

Meu pai quando descobriu ficou uma fera, foi justo no dia, que vinha me avisar que ia me casar com outro homem, que precisava de uma mulher, unir as famílias para ficarem mais poderosos.

Me neguei em te dar para adoção como ele queria, começou a nossa batalha, me tinha trancada no quarto o tempo todo, nasceste ali, os primeiro meses me deixava ficar contigo, te registrou com o sobrenome dele, mas quem escolheu teu nome fui eu.  Era do meu avô materno, esse homem fez muito infeliz minha mãe também, só pensava em dinheiro.

Depois tentou me casar com o mesmo homem outra vez, quando o vi me desesperei, era um solteirão, velho, sem herdeiros, por isso queriam eu me casasse com ele.   Me neguei, voltamos outra vez a batalha.

Foi quando acabou me internando,  menos mal que antes te vi na porta, porque já não me deixava te ver como uma chantagem para que me casasse.  Pelo menos pude dizer que te amava.

Passei muitos anos dopada o dia inteiro, porque essas eram as ordens dele.  Nunca veio me ver.

Mas esses anos todos pensei em ti, quando o médico me liberou de tudo, pude pelo menos saber de ti.   Quando li teu livro, entendi a tua solidão, que era igual a minha, senti que um vazio que perturbava, então pensei que se me aproximava, podia complicar mais ainda essas coisas.

No terceiro caderno, que tinha poucas folhas escritas, analisava o livro, dizendo aonde tinha percebido minha solidão.  Espero que um dia encontres alguém a quem amar, que te faça feliz.

Dormi, ali, abraçado aos livros, quando despertei de madrugada, vi que na cama ao lado, estava o Samuel dormindo, todo vestido.   Tirei seus sapatos, sem ele se despertar, fui ao banheiro, voltei a dormir.

Quando me despertei outra vez, ele também estava despertando, sorrimos um para o outro, me disse que tinha me vindo chamar para comer alguma coisa, tinha se emocionado em me ver abraçado aos cadernos, não quis te acordar, me sentei na outra cama, creio que acabei dormindo.

Ficas muito bonito quando dormes, teu rosto se relaxa completamente.

Sem me tocar, o puxei para mim, lhe dei um beijo, mas não foi um beijo qualquer, sentia vontade disso, nunca tinha beijado ninguém assim, quando vimos, estávamos os dois nus na cama.  Um olhou para o outro, como perguntando e agora, ele riu, tenho vontade, nos agarramos seguimos adiante.   Nunca tinha me sentido assim com outro homem, foi alguma coisa diferente, nos exploramos calmamente, não era coisa de um só.

Chegamos a um orgasmo ao mesmo tempo, sem penetrações, só pelo prazer de ter nossos corpos um agarrado ao outro.

Tomamos banho juntos, ele ria muito, chegou um momento, que se sentou no tampo da sanita, rindo e chorando ao  mesmo tempo.   Ela tinha razão, eu não sabia fazer sexo.   Pois nunca tive isso que senti agora contigo.

O levantei, lhe dei um banho inteiro, com muito carinho, ficou me olhando, acompanhando tudo que eu fazia.  Nos abraçamos.

Fomos tomar café, com a fome que tinhamos, comemos ovos, seu celular não parava, tirou o som, tenho que decidir o que quero fazer, estou farto dessa merda, posso perguntar aos outros sócios se querem comprar minha parte.  Tenho dinheiro guardado, na repartição de bens, fiquei com essa casa, mais um apartamento em NYC.   Posso vender tudo, começar a vida em outro lugar, ainda não sei concretamente o que vou fazer, mas já descobrirei.

E tu?

Tampouco quero ficar aqui,  pensava em ir viver em algum lugar calmo perto do mar.

Sabe Gustav, a época mais feliz da minha vida, era quando ia passar as férias com meus avôs na Florida, ele viviam numa casa em frente ao mar, eu adorava.

Podemos ir sem compromisso dar uma olhada, pelo menos lá o inverno é mais tranquilo, eles morreram por lá, vou me informar.

Voltaram para a cama, queriam se explorar mais, acabaram no chão, o deixou bem excitado, se sentou em cima dele, fizeram sexo, com ele dentro, olhando um para o outro, o sentimento que nascia era fantástico.

Depois lhe perguntou se não tinha medo de se envolver com alguém que tinha andado nas drogas duras, procurando escapar da vida, mergulhando nesse poço escuro como tu dizes.

Por incrível que pareça, não.    Quero estar contigo, quando me procuraste para te ajudar, quase te disse, espere vou junto contigo fazer essas coisas, pois estou perdido.  Mas foi bom, porque te estive vigiando esse tempo todo, sei que não fizeste sexo com ninguém, quando entraste no hospital, te fizeram um exame rigoroso, teste de AIDS, todas essas coisas.  Estavas limpo.

Cuidaste de mim, como ninguém na vida cuidou, talvez por isso goste de estar contigo.

Podemos dormir juntos, mas não nessa cama estreita, vamos acabar no chão.  Melhor, assim colocamos o colchão no chão.  Passaram quase o dia inteiro ali, nus conversando, o celular estava desligado.  

No dia seguinte tinham decidido arriscar-se, iriam para Sarasota, perto de Tampa, na Florida, ali alugariam um carro.

Ou podemos fazer o seguinte, podemos alugar uma Motorhome, ir descendo, olhando o que vemos pelo caminho, sem pressa, tenho que pensar o que quero.

Gosto da ideia, assim posso ir gestando meu próximo livro.  Aviso que dirijo muito mal, mas na estrada gosto.

Separou tudo que era seu íntimo,  marcou com sua ex-mulher, disse que ia se desfazer da casa, mas se ela quisesse ficar com ela, sem problemas.   Ao final disse, tinhas razão em uma série de coisas, não sei quem sou, vou descobrir. 

O novo marido, disse que comprava a casa, assim as crianças voltavam a ter os mesmo amigos, a escola que sentiam falta.

Ficaram num hotel como ele queria desde o princípio, tipo apart-hotel, saiam para comer, ir ao teatro, começaram a olhar as Motorhome, que poderiam alugar.

Samuel vendeu a sua parte na firma, ele possuía 50% das ações, lhe dava um bom dinheiro, combinou com sua ex-mulher que uma parte iria para um fundo, para os meninos irem a universidade.

Quando tudo ficou pronto, partiram, fizeram compras num grande armazém na estrada, foram parando em campings perto do mar sempre.  Se acostumaram, a ficar sentados na frente da Motor Home que tinha um avanço, era como uma varanda.

Levaram meses assim, iam anotando os lugares que gostavam, qualidade da água, se era fria ou não, se gostavam perguntavam na cidade como era o inverno.

Ao mesmo tempo o relacionamento dos dois ia em crescente, a primeira vez que penetrou Samuel, foi com cuidado, mas ele se relaxou, gostou assim ficamos mais completos um com o outro.    Os dois juntos faziam uma dupla de respeito, quando entravam em qualquer lugar, chamavam atenção.

Numa das cidades, viu seu primeiro livro.  Falou com o dono, este lhe disse que o livro era seu, mas que gostava muito dele, pedi mais aos editores, dizem que não sabem aonde anda o escritor para poderem fazer um contrato para relançarem os dois primeiros, que fizeram muito sucesso.   Outro dia passava o filme que fizeram sobre o primeiro.

Tens o contato com os editores.  Eu perdi, soltou sem querer.

Podemos chamar daqui disse o homem, muito simpático.  Falou com o que lhe representava, este perguntou aonde andava.

Buscando outro livro, fiquei em branco, agora estou começando a esboçar ideias, talvez saia alguma coisa.

Temos pedidos de reedição dos dois primeiros, se autorizas, nos dá o número de tua conta no banco, passou o Samuel, lhe dizendo que era seu advogado.

Se puderem mandar o contrato, deu a direção da livraria, ainda estamos mais dois dias aqui.

O dono da livraria, pediu se ele podia falar do livro, tenho sempre uns clientes fantásticos, que vivem por aqui.

Sim posso, mas que seja uma conversa informal.

Estavam em Brunswick, Georgia,  tinham olhado algumas casas na praia que gostavam, o inverno por estarem tão perto da Florida era ameno.

A reunião foi agradável, a maioria das pessoas da idade dele, tinham lido o livro, era interessante agora com o distanciamento, comentar o que tinha escrito.  Ele mesmo na noite anterior tinha lido o livro, com um distanciamento,  viu que sua mãe tinha razão.  Falava o tempo todo na solidão do personagem, estava era falando dele.

A primeira pergunta, foi porque não tinha escrito mais nenhum livro.

Bom, eu tomei uma decisão, que não sei se foi certa ou não, mas que me trouxe até aqui.

Talvez fale disso num próximo livro, terei que fazer um exercício que aprendi, quando estava em reabilitação, que chamo de preencher lacunas.

Ontem reli o livro que escrevi a  tantos anos, minha mãe com quem não convivi, o leu, ela viu coisas que eu não tinha percebido quando escrevi.   Falava da solidão do personagem, mas no fundo falava da minha solidão.   Hoje já não tenho vergonha de falar dessas coisas.

Uma senhora levantou a mão, eu me identifiquei com o personagem, o que me serviu de uma grande ajuda, pois no momento estava passando por uma solidão impressionante, mas o livro me fez mudar minha vida, vivia em NYC, trabalhava como uma louca, voltava a um apartamento horrível, resolvi, me encher de vida, acabei aqui, tenho uma loja pequena, mas estou feliz.

Uma outra muito simpática, uma loira, daqueles que os homens chamam de burra. Ela foi direto a isso, eu também vivia fora daqui, em Boston, sempre amei ler, sou inteligente, me graduei cum laude, mas para os homens eu era a loira burra e gostosa.

Isso gera uma solidão que as vezes destrói uma pessoa, quando descobri lendo o livro sobre isso assumir essa solidão, sai em busca de um lugar para viver, aqui os que me tratam de loira burra, levam logo um chute no saco.

Ao mesmo momento que procurava um lugar, descobri que sou boa negociando a compra ou venda de uma casa, ou mesmo um aluguel.  Tenho uma imobiliária. As pessoas me respeitam, ontem fiz o mesmo que você, fui ler o livro outra vez.

Foi um bate papo, todos frequentavam um bar, restaurante ao lado da livraria, o dono inclusive estava ali, era um italiano, muito bonito.  Os convidou todos para um drink.

Eles dois tomavam coca cola.  Perguntaram para a loira, Mrs. Lena Haydin, se não tinha uma casa confortável para alugar, não sabiam por quanto tempo, mas que tivesse espaço para guardar a Motorhome deles. Mas que seja bem próximo ao mar.

Claro que tenho várias, me procurem amanhã depois das dez, nunca trabalho antes disso, vou a praia dar um mergulho, faz parte de minha vida.

No dia seguinte começaram a olhar casas, ficaram loucamente apaixonados por uma toda de madeira, precisando de uma mão de pintura, mas por dentro, estava perfeita,  tinha duas entradas, a detrás cabia perfeitamente a Motorhome.

Acertaram o aluguel, pediram se tinham alguém para pintar a casa, ficava no final da praia, tinham dois quartos, os dois com cama de casal,  todos os eletrodomésticos,  estava bem.  Perguntou se podiam ter um contrato, que se amanhã ou depois quisessem comprar tinham prioridade.

Se instalaram, começaram a andar pela cidade para conhecer.  Samuel viu um cartaz numa loja de antiguidades, que estava a venda.  Ficou parado, colado ao vidro, até que um senhor, saiu da mesma, perguntou se queriam entrarem.

Ficou encantado com o que viu. Mas porque o senhor vai vender isso.

Porque estou sozinho, aqui só vendo quando fica cheio de turistas, além de não ser bom vendedor, é necessário ser mais jovem.

Podemos fazer uma coisa, o senhor me ensina tudo que sabe, eu vou aprendendo, ao mesmo tempo me dá liberdade, para trocar as coisas de lugar.   Minha mãe fazia isso, se aborrecia das coisas no mesmo lugar sempre, eu a ajudava a trocar as coisas de lugar para se realçarem dizia ela.

Trato feito, se apresentou como John Gilbert.

A primeira coisa é limpar os vidros, pintar a fachada.   No dia seguinte começou a trabalhar, seguiam o conselho de Lena, primeiro um banho de mar, depois ir trabalhar.   Ele começou ajudar o da livraria, trabalharia de manhã, começou a resgatar livros que estavam esquecidos, fazia uma resenha sobre o mesmo num papel, colocava junto da capa.  Limpou toda a livraria, mandou pintar, o homem estava agradecido, as vendas aumentaram.   Lhe passou um catálogo novo, me ajudas a escolher livros.

Conversavam com os editores, que pelo menos mandassem um para lerem, depois fariam o pedido, montaram um grupo de conversa sobre livros, eram 10 a princípio, depois foi aumentando.

Tomou coragem, escrevia os capítulos do novo livro, passava para o Samuel ler, depois tirava uma cópia,  iam lendo no grupo, escutava o que diziam, discutiam a respeito.

Um perguntou por que ele não montava no fundo da livraria, uma lugar, aonde eles também pudesse aprender a escrever.  Como uma escola de escritura.

Gostou da ideia, quando viram já estavam vivendo ali a dois anos, a loja de antiguidades, voltou a ter frequência, volta e meia aparecia alguém querendo vender alguma peça, ele pesquisava a respeito, procurava um lugar ideal para ela na loja.   Tinha arrastado o John para essas reuniões, ele ria, conversava com as pessoas.  Logo fizeram amizades, um convidava cada sábado o grupo mais coeso para comer em sua casa.

Agora inclusive alguns se encontravam de manhã para o banho de mar, incentivados pela Lena.

Caramba disse ela, vocês dois movimentaram a cidade, ou pelo menos nosso grupo.

Quando algum deles precisava de ajuda, estavam todos para ajudar.

Ele tinha escrito dois livros ao mesmo tempo.   Um ele falava do seu mergulho no poço, tudo o que tinha acontecido.

No outro tinha recriado em sua cabeça como era a vida no hospício de sua mãe, seu diário, o que falava, como imaginava o filho.

Esse ele só mostrou depois de pronto.   As mulheres amavam.

Foram lançados ao mesmo tempo.  Mas a surpresa veio de Gino o dono do restaurante, era viúvo, vivia sozinho, disse uma vez que suas amantes, eram os livros, que vivia desde jovem para eles, imaginando coisas.

Foi o primeiro a se inscrever nas aulas de escritura.  Chegou a comprar um Laptop, para escrever.

Gustav montou um serviço na livraria, de encadernar o que eles escreviam.

Os ensinou como escrever, já desde o princípio, tipo de letra, espaço, fazia junto com eles correção de gramatica, mas o melhor era analisar, lhes ensinou a revisarem mil vezes o que escreviam, procurar palavras melhores, para explicar o que queriam dizer.

Gino tinha um bom humor incrível, dizia que era sua parte italiano, mas que se sentia evidentemente só.   Olho vocês dois, morro de inveja, queria uma coisa assim para mim, isso falava fazendo confidencias ao Gustav.   Quando quero sexo, vou a outra cidade para um fim de semana, busco.   Aqui tenho medo.

Medo de que Gino, que as pessoas te olhem de esquerda, deixa disso, quando vamos ao restaurante, vejo muitos homens sozinhos te olhando, é tudo uma questão de te sentires atraído.

Seu livro ficou pronto, contava a historia de seu avô, que tinha saído de Catania na Sicília, para acabar ali, naquela cidade.   Falava do sucesso que fazia com as mulheres, mas que o amor incondicional com a companheira que tinha vindo com ele da Itália, no livro citava receitas de sua avó.

Samuel, negociou com a Editora.  Quando foi lançado foram todos a NYC, para o lançamento.

Ficou em destaque na livraria um bom tempo, todo mundo comprava, algumas mulheres diziam que tinham feito a receita, mas que não ficava igual quando ele fazia. 

A resposta fazia todos rirem, se conto o pulo do gato, fecho o restaurante. 

Um dia, apareceu um homem da idade dele, sentou-se no restaurante, ficou olhando para o Gino, sorrindo.  Quando ele atendeu o homem, este riu dizendo, não se lembra de mim, não é, estudamos juntos, foste meu melhor amigo, sentou-se com o outro, começaram a falar, ele fez sinal para a garçonete que se virasse, ficaram falando horas.  Os dois tinham descoberto o sexo juntos.   Billy, lhe soltou que nunca tinha se esquecido dele, a família mudou, mas sempre pensei em ti.  Nunca me casei, quando pensei em voltar, descobri que tinhas te casado, desisti.

Sou viúvo, mas não tenho filho, nem tinham percebido que estavam de mãos dadas. Billy foi ficando, estava aposentado por ter sofrido um acidente na fábrica que trabalhava, tinha perdido o movimento num dos braços.   Contínuas lendo como sempre Gino?

Sim, lembras, eu comprava o livro, lia, passava para ti, anotando alguma coisa interessante, tu me devolvias, liamos juntos.   Os dois faziam um par incrível, eram muito bonitos os dois.

Chegou um dia para o Gustav, deixei de ter inveja de vocês, esse homem sempre foi o melhor de mim.  Antes nos masturbávamos, agora fazemos sexo como dois homens devem fazer.

Todos sabem desde o primeiro dia que veio que o amo.   Me importa um caralho se não vem ao restaurante, mas nada me afastara dele.

Escreveu um outro livro, falando da juventude deles, numa cidade pequena, era como uma parceria, dois homens adultos, se lembrando de sua juventude.   Quando saiu a lei, de casamento, se casaram, o grupo todo foi ao casamento.

Eles resolveram finalmente que ficavam, mas resolveram fazer o seguinte, descobriram que o terreno ao lado que era imenso, estava a venda, compraram o terreno, desenharam junto com o arquiteto como queriam a casa.  Acompanhavam a construção, esta teria uma vista fantástica, já que teria duas portas imensas de vidro, que davam para o mar,  bem como uma varada aberta, outra fechada  para o inverno.

John, agora deixava tudo nas mãos do Samuel, ele era mais uma decoração da loja como dizia, vivia em cima da mesma.

Samuel descobriu que as peças mais bonitas, ele guardava ali, escondidas, para que somente seus olhos vissem.

Quando ele morreu deixou tudo para o Samuel.   Este fechou a loja uma semana, quando reabriu as pessoas ficaram pasmas, ele tinha feito uma pequena reforma na loja, tirou coisas que estavam no armazém que ele tinha em cima, montou a loja como se fossem pequenas salas, ou quartos, como uma decoração particular.  Estava sempre mexendo em tudo.

Minha mãe ia ficar contente, em saber que me passou conhecimentos, que no momento não dei valor, agora me fazem feliz.  Além de ti, essa é a verdade.

Quando quiseram comprar a historia da mãe do Gustav para fazer um filme, ele disse que não,  poderia escrever um roteiro, similar, mas aquela história não.

Fez um roteiro, usando o que tinha acontecido com ele, despertando de um sonho profundo, aonde tinha recuperado dados de sua vida, no caso quando descobriram que ela não tinha problemas.    Foi até o hospício, conversou com o médico, para saber como ele tinha agido, contou o que estava fazendo, ele fez um sinal com o dedo, em cima de sua mesa estava o livro que tinha escrito a respeito dela.

Ele ia sair de férias, o convidou para vir visita-los.  Assim poderemos falar, o senhor, pode me dar palpites

Deixe de me chamar de senhor, meu nome é simples  Louis Francis, vou sim, estou sem roteiro para sair.   A muito tempo viajo sozinho, minha companheira se afastou de mim, porque me dedico muito aos meus clientes.  Graças a Deus não nos casamos, tampouco tivemos filho.

Antes de ir embora, foi visitar o tumulo da mãe, tinha levado flores desta vez.

Quando o médico chegou uns vinte dias depois, fizeram um jantar para ele conhecer o grupo, ficou como louco pela Lena, os dois pareciam ter mil assuntos.

Pensei em dormir até tarde todos os dias, mas não quero perder tempo, se levantava, para tomar banho de mar com ela.    Acabou vivendo junto com ela, abrindo um pequeno consultório, na cidade.   Ela feliz da vida, tinha encontrado um homem como gostava, um companheiro.

Quando faziam reuniões agora as conversas eram mais interessantes.  As vezes algum turista que vinha passar o verão descobria o curso de escritura, se incorporava também.

Mas o mais interessante é que se integrava também nos banhos de mar pela manhã.

Quando o roteiro ficou pronto, chamou o diretor que queria o livro, disse que lhe mandava uma cópia do texto que tinha escrito para ele.  Se gostasse que aparecesse na cidade.

Uma semana depois, o homem entrava pela livraria adentro, segurando o texto. Filho da puta, é melhor do que a historia do livro.   Ficou duas semanas com eles, discutindo o texto com o Gustav, inclusive, dando dicas no curso, falando sobre roteiros, como deviam pensar para escrever, que as falas tinham que ser claras, pensem que queremos atingir uma pessoa que nos está assistindo.

Se incorporou aos banhos de mar, ria muito isso é um pedaço de um paraíso construído por vocês.

Ele era do Canadá, disse que assim que o filme ficasse pronto, passaria na cidade primeiro, queria saber a opinião dos amigos.

Comprou uma casa lá, agitou um festival que acontecia no verão, sua mulher logo se adaptou a cidade.   O seguinte roteiro que Gustav escreveu, foi de parceria com o Gino.  Mostrou para o Pierre Boutz, perguntou se ele queria dirigir seu primeiro filme gay.

Leu o roteiro, disse que sim, que o duro era convencer dois atores de peso para fazerem o filme.   Gino com seu bom humor disse o nome de dois atores que todos sabiam que eram gays, mas que viviam no armário.    Mande o texto para os dois, diga que mandou para verem, aconselharem quem podia fazer o papel.

Ficaram furiosos, como vamos aconselhar, queremos é fazer esse papel.

Acabou ganhando um premio no Sundance de roteiro, os dois atores concorreram a melhor ator.  Depois foram os Oscar, mas o tema como sempre ainda era tabu, principalmente porque não se tratava de jovens enamorados, mas sim de dois senhores.

Quando foram a estreia em NYC, no dia seguinte saíram pela cidade, Gustav queria ir a uma livraria que ia sempre, que tinha livros estrangeiros, queria ver os que tinham tradução ou mesmo no original, para a livraria da cidade.  Faz anos que não vou lá, mas sem dúvida é a melhor da cidade, não é famosa, mas em compensação seus clientes são pessoas de bom gosto.

Estavam do outro lado da rua para atravessar, quando Gustav, ficou pálido, ofegante, sinalizava o outro lado com o dedo, mas não conseguia falar, Samuel o ajudou a se sentar num banco na parada de ônibus, repetindo com ele, respire fundo, vamos respire fundo, ele fazia força para se levantar, até que conseguiu, o sinal fechou, foi atrás de algumas pessoas, homeless que estavam por ali.

Samuel o alcançou, tudo que escutou foi minha mochila, ele realmente tinha perguntado pela mochila no hospital, depois tinha dado um suspiro.

Andava apoiado na parede, com dificuldade. Até que sentou-se no chão, respirando com dificuldade.  Chamou uma ambulância, mas ele estava olhando fixo ao que acontecia, viu aonde entravam as pessoas.

Começou a seguir os conselhos do Samuel, quando chegou a ambulância, lhe colocaram uma máscara de oxigênio, ele tinha hiperventilado.  O queriam levar para exames, mas disse que não podia, que depois iria ao hospital.    Se levantou, encostou na parede, agradeceu aos da ambulância, seguiu em frente sem comentar nada, entrou num velho edifício abandonado que estava logo ali.   Sabia aonde estava, foi subindo com o Samuel atrás, bem como um tipo da polícia que tinha estado junto a eles, quando chegou num terceiro andar, o cheiro era insuportável.  Entrou direto num salão.    

Uma mulher gritou, nosso amigo voltou.  Correu até ele o abraçando pela cintura.  Falava rapidamente, guardei sua mochila comigo todo esse tempo, os blocos tudo está aqui, não deixava ninguém botar a mão, pois sabia que um dia irias voltar.   Seu braço estava cheio de picadas de agulhas. Ela sorrindo lhe entregou a mochila,  ele abriu a carteira, mas antes lhe perguntou se não queria passar por uma desintoxicação como ele.

Para que meu querido, estou no final do caminho, a última vez que me internei, disseram que tenho um tumor maior que um ovo de avestruz.   Me neguei a cuidar.  Para que se ninguém me quer, nem esse puto pais, ao que servi.  Não vale a pena, pegou o dinheiro avidamente, vou comprar comida.

Ele lhe enfiou na mão um cartão, dizendo é o número de telefone da livraria aonde trabalho, se necessitas de alguma coisa me fale.

Obrigado, se pudesse te mandava meu filho, mas não me permitem sequer me aproximar dele.   Meus pais o tem numa redoma, quando sair para a vida, não saberá nada como eu.

Se sentou no chão, ao lado dela,  se te cuidas, te fazem a operação, desintoxicação, depois meu amigo que é um bom advogado pode tentar recuperar o filho para ti.  Sei que foste tu que chamaste a ambulância, quando todo mundo aqui pensava que estava morto.  Venha, eu te ajudo, é sempre assim, um tem que ajudar o outro, ele me ajudou, agora estou bem.

Tanto falou que ela concordou.

A levaram a clinica aonde ele tinha estado, lhe rasparam a cabeça cheia de piolhos, lhe deram dois banhos, ele disse ao Samuel, ela salvou o que escrevi durante esse tempo todo, nos momentos que estava desperto, ou mesmo drogado, isso é a joia da coroa da minha vida, a historia de quando fui descendo a esse poço profundo.  Nem me lembro do que escrevi, mas está tudo aí.

Eu vou ficar esses primeiros dias com ela, precisa de alguém ao seu lado. 

Se você fica eu também, não penso em de deixar nenhum momento, avisamos aos amigos, eles podem nos substituir, assim vou também procurando saber da historia para buscar esse garoto.

Através do nome dela, procurou sua ficha no exército,  Sandra Rodrigues, conseguiu todas as informações.

Depois pelo que ela tinha falado, foi buscar o processo do filho.  Tinha acontecido em Santa Fé. Ela vendo que o que eles estavam fazendo por ela, começou a reagir.  Contou toda a história, tinha ficado gravida aos 17 anos, era ilegal no pais.  O rapaz era americano, mas sua família era contra eles ficarem juntos.   Lhe ofereceram dinheiro para abortar, mas ela se negou, era católica.  O rapaz entrou no exército, a deixou sozinha, para ter o filho.  Achava que assim fugia dos pais e dela.    Teve o parto, os pais dele se ofereceram para cuidar dele, ela entrou para o exército para buscar o namorado e ao mesmo tempo conseguir a cidadania.   Cada vez que vinha os pais do rapaz que tinha morto em combate, mal a deixavam ter contato com o garoto, quando voltou definitivamente, tinham mudado de cidade, ela os procurou até achar.   Diziam que ela tinha abandonado o garoto, a acusaram de mil e uma coisas, sem condições de cuidar do garoto acostumado ao mimo de gente rica.   Conseguiu ver o menino, as escondidas umas quantas vezes.   Mas ele nem se lembrava dela.   Isso foi um choque, quando o juiz amigo dos avôs lhe disse que não tinha direito ao garoto, ela explodiu.   Foi presa por desacato a autoridade.

Como ainda não tinha dado baixa no exército, a mandaram para Washington presa, quando saiu lhe deram a baixa, não tinha para aonde ir, sua família tinha desaparecido no mapa, os advogados do exército, lhe tiraram qualquer esperança de resgatar o  filho.  Em NYC, aonde tinha parentes, sua única esperança, lhe fecharam a porta, o jeito foi viver na rua.   Quase em seguida conheceu Gustav, ficava ao lado dele, porque ele era imenso, lhe inspirava proteção, não sabia como, mas ele sempre conseguia dinheiro para comprar comida.   Quando ele passou mal, foi ela quem chamou a ambulância, mas não a deixaram ir junto, não sabia para aonde o tinha levado, ficou com sua mochila, ele vai voltar.   

Mas ele tinha borrado de sua cabeça essa fase.

Quando finalmente ela entrou em processo final da desintoxicação, eles foram até Santa Fé seguindo o rastro dos avôs do garoto.   Este agora tinha 17 anos, conseguiram falar com ele, odiava os avôs pelo controle ferrenho que tinham sobre ele, mas se queres pode te tornar  independente,  Samuel explicou que era advogado.  Gustav contou que sem ela, ele teria morrido, não estaria ali agora.

Já sei quem eres, li teu livros, o último devorei, os tenho escondido, porque meus avôs até isso controlam.

Samuel, conversou com um juiz da Suprema corte, amigo de seu pai, contou a história, perguntou como devia agir. 

Primeiro vê se ele tem posse de documentos, inclusive certidão de nascimento, tire copia de tudo, me mande, vou fazer uma coisa complicada, mas o faço por essa moça que defendeu nossa pátria.  Uma semana depois iam no avião rumo a NYC. 

André Rodrigues, não tinham trocado seu sobrenome, ele só levava o da mãe na certidão de nascimento,  não existia nenhum documento que dissesse que ela tinha aberto mão do garoto, tinha sido má fé do juiz, bem como do avôs.

André disse que estava nervoso, quando a vi a última vez estava muito nervosa, pois os velhos tinham feito com sempre chantagem emocional, que ela era a culpada da morte do filho deles, nada mais natural que o neto ficasse ali para o substituir.

Meu avô deve ter feito cursos de chantagem emocional desde criança, feito inclusive doutorado, manipula sua mulher como quer, a mim, primeiro me comprava com os melhores presentes, mas quando comecei a perguntar sobre meu pai, minha mãe, ficava furioso, dizia que ele tinha morrido por culpa dela.   Um dia apareceu um colega dele do exército, queriam entregar coisas dele para os velhos, fecharam a porta na sua cara, eu saí pelos fundos da casa alcancei o rapaz, me entregou um livro de capa dura, ele sempre estava escrevendo aqui. Me entregou seu boné, bem como um anel que usava, além do cordão de identificação.

Foi quando que notei que meu sobrenome não era o mesmo.  Nunca tinha prestado atenção. Comecei a ler o que ele tinha escrito.   Vi que minha mãe não era culpada, ele morria de medo do pai, não sabia que lado se colocar, sua solução foi fugir.   Depois se arrependia, afinal tinha um filho que ia nascer.   Sabia que ela não se dobraria para o velho, que teria o bebê de qualquer jeito.    Portanto devo ter um filho, queria voltar, mas já era tarde.

As últimas folhas era ele falando com o filho que nunca conheceria.  Escondeu tudo do avô, pois esse era daquelas pessoas que revistava seu quarto quando ele não estava.

Ria agora, se lembrando do escândalo que tinha aprontado no fórum, o juiz agora não era seu amigo, a ordem vinha de cima.  O juiz perguntou ao neto se queria ficar com os avôs, quando respondeu que não o velho perdeu o controle, como teu pai, seu filho da puta, nos abandonou quando devia ficar para cuidar de nós na velhice.   Eres tão ingrato como ele.   Acabou dormindo a noite na delegacia.  Ele aproveitou foi buscar o diário de seu pai, bem como algumas coisas dele.

Saiu sem sequer abraçar a avó.  A cara de megera dela era incrível.

Do aeroporto foram para a clínica,  Gustav, avisou o médico, que os esperava na porta, ela se negou como tu a tomar qualquer calmante.

Quando viu o filho, as lagrimas corriam pela sua cara.  Olhava para o Gustav e Samuel com gratidão, obrigado foi tudo que disse.

Acho que vocês poderiam ir conosco, nossa casa é grande, lá temos um psicólogo amigo nosso, que pode te ajudar, tu disse ao André, como estas de férias, me ajuda na livraria.

Quando André viu o mar, ficou como louco, agora passava horas e horas conversando com a mãe na praia, nos últimos dias, já se o via abraçado a ela, bem como a chamando de mãe.

Sandra ia agora duas ou três vezes por semana a consultório do Louis, estava finalmente se livrando de todo o lastre do que tinha visto, dos seus problemas com as drogas.

Como os dois, só bebia coca cola.

Quando teve finalmente coragem, Gustav, tinha pedido para o André levar a livraria uns dias sem ele.  Se sentava na sala que dava aulas, ia lendo suas anotações, as vezes numa letra que nem ele conseguia decifrar, inclusive usava uma lupa.

Ia anotado em outra caderneta tudo que tinha escrito.  Foi quando se deu conta que tudo tinha começado, porque se sentia culpado de terem levado sua mãe.  Se ele não estivesse parado na porta, não tivesse perguntado sobre o que era bastardo ao avô, nada disso tinha acontecido, essa culpa, junto com a solidão, tinha ficado como um lastre, uma pedra pesada como as que os mafiosos colocavam aos pés de suas vitimas para a atirarem ao mar.

Esse mergulho que dava consciente de tudo, era para entender o porque disso tudo, afinal quem era o filho da puta de seu pai.  Mesmo no diário de sua mãe, ela nunca mencionava o nome.  Dizia que nem valia a pena mencionar, uma pessoa que a tinha abandonado quando necessitava.

Talvez por isso sentia tão próximo ao André, o queria como um filho.   O Samuel, ainda tinha seus filhos, mas que com o passar do tempo, mesmo que ia visita-los sempre, eram dois belos desconhecidos para ele.

Quando sua ex-mulher morreu, foi ao enterro, mas eles estava era abraçados ao pai que os tinha criado.   Nada mais justo pensou, foi ele quem os criou.

Perguntou se precisavam dele, estavam na universidade, deixou seu endereço, qualquer coisa sabem aonde me encontrar.   Nunca o fizeram, ele nunca tinha existido em suas vidas.

Entendeu que cada um escolhe seu caminho.  Sandra agora o ajudava na loja, conversavam riam, lhe contou ao contrário dela, que seus filhos eram duas pessoas desconhecidas para ele, afinal não os tinha criado.

Um dia apareceu o menor, olhou a loja, comentou, com que de grande advogado agora um  antiquário, grande cambio, o levou para sentar-se com ele no escritório.

O tratava de senhor todo o tempo.   Falou que tinha terminado a universidade, que tinha ido procurar emprego no escritório que tinha sido de seu avô, mas que o mesmo como tinha sido vendido a uma grande corporação de advogado, não o contrataram.

Não me diga que chegaste, fizeste a apresentação, exigindo que deveriam ter um lugar para ti?

Sim, natural verdade?

Se eu vendi minha parte, metade deixei no banco para vocês poderem ir à universidade, nem tenho vínculos lá.   Se me vem procurar por isso, sinto muito.  Não posso te ajudar.   Eu quando entrei, meu pai fez questão que fosse como qualquer outra pessoa que pede emprego.  Nada de favoritismo.   Para chegar a Sênior dei um duro desgraçado, nem conheci na verdade meus filhos, pois quando chegava em casa, eles estavam dormindo, quando saia de manhã, já tinham ido à escola.  Só os via no final de semana, quando tampouco queriam nada comigo.  Não sei como o marido de tua mãe os criou, mas eu penso igual ao meu pai, se queres um emprego tens que começar debaixo.   Até aqui, eu primeiro fui empregado do dono, comecei a trabalhar aqui, primeiro porque gosto disso, mas na minha infância, minha mãe, tinha o hábito de mudar as coisas de lugar, para que as pessoas não se acostumasse, tinha que valorizar os pequenos objetos que ela comprava.   Só depois de John Gilbert, o dono da loja morreu, que me tornei proprietário.

Quem é essa mulher que está aí fora?

Estás preocupado que tenha me casado de novo.   Sim o fiz, mas me casei com um homem, que amo demais.   Ele estava no enterro de tua mãe comigo.  É meu companheiro de todas as horas.

Bom vejo que daqui não tiro proveito nenhum, ainda por cima um pai gay.

Um ano depois apareceu o mais velho.  Pediu desculpas de não o ter procurado antes, mas tinha estado fora do pais.  Trabalho no ministério de relações exteriores, meu irmão me falou sobre o senhor, que era gay.

Por isso vim, eu também sou, estou dentro do armário, mal posso respirar, estou farto da vida que levo.   Pensei que iria ser diferente, mas não é frustrante. 

Como estavam na hora do almoço, o levou para comer em casa.    Gustav o recebeu amavelmente, lhe apresentou Sandra e André.   

O rapaz disse que o Gustav conhecia pois tinha lido todos teus livros, estás escrevendo algum agora?

Sim um que esta me devorando por dentro, tenho que analisar cada frase do que escrevi para saber se é verdadeira ou não.   Estou de férias da livraria, quem cuida é o André, inclusive parei de dar aulas de escritura.

Isso eu gostaria de fazer, sempre gostei de escrever.  No final perguntou se podia ficar, precisava muito conversar com o pai.   Nessa noite por acaso tinham um jantar com todos os amigos,  ficou alucinado, pois eram todos diferentes, falavam das coisas sem problema nenhum, quando foi apresentado ao Gino que chegava abraçado ao Billy, o apresentando como meu marido, ele se sentou para conversar com eles.  Ao final estava relaxado com todos.  No dia seguinte seu pai o despertou, venha, regras da casa, todos tomamos banho de mar, antes de começar o dia, quando chegou a praia, viu todos que basicamente estava de noite no jantar, riu, que coisa diferente.   Foi ficando, quando o pai lhe perguntou quando se incorporava, riu dizendo, mandei uma carta, encontrei finalmente o que quero viver.

Arrumou um emprego de professor na escola local, para dar aulas de línguas, já que falava várias, alugou a antiga casa de seu pai, ao lado, mas todo dia de manhã, ia tomar banho de mar.  Gostava muito de cozinhar também, um dia apareceu com um novo professor da escola, que como ele tinha vindo de fora.  Este quando viu o grupo, riu muito, isso parece uma irmandade.

Quando falou com o irmão, este ficou furioso, porque nunca tinha lhe contado que era gay.

Te respondo com outra pergunta, ia mudar tua linha de pensamento?

Tinha longos papos com o Samuel, este estava mais tranquilo.

Um dia Gustav, demorava a sair do escritório, André abriu a porta, estava com a cabeça apoiada a mesa, se via que tinha chorado, chamou uma ambulância rapidamente, estava mal, avisou o Gustav, foi com ele ao hospital na ambulância.

Tinha tido uma princípio de enfarte.  Mas agora estava bem.  Fazia mais de um ano, que vinha lendo o que tinha escrito nos tempos difíceis, era complicado ler agora, o que tinha sentido, mesmo seus desejos de morrer, por não conseguir se encontrar, repetia sempre a mesma frase ao final de cada coisa que escrevia, que a luz do final do túnel, continuava apagada.

Nesse dia, sua overdose não era mais que uma tentativa de colocar fim a tudo isso, essa puta luz não vai se acender nunca, tampouco deve existir o outro lado.   Ler agora todas essas misérias que tinha vivido, que tinha visto, as conversas com todos os homeless que tinha conversado, suas desesperanças, na verdade do velho grupo só tinha reencontrado a Sandra.

De um lado lhe agradecia ter guardado tudo isso, pois era uma coisa ter escrito como tinha feito, falando desde uma distancia razoável, o que tinha acontecido com ele, outra agora era ver o que realmente tinha feito com ele mesmo, tudo por uma sensação de culpa, de uma impotência de entender a si mesmo, sua falta de amor, o pior era a sensação de não ter amado ninguém em sua vida.

Ele pediu para o Samuel ler antes de mandar para o editor.  Este ao mesmo tempo que ficou horrorizado, entendia agora tudo que ele tinha passado.  Cada um busca a luz do final do túnel a sua maneira.   Tirou uma cópia mandou para o Editor.

Este comentou que tinha lido de uma tacada só, que não conseguia parar de ler, é aquele livro que amas ou odeia.

Se ele quer, vamos editar.  Será que ele está pronto para entrevistas sobre esse livro, é como tirar sua própria pele.

Comentou então com o Gustav que tinha mandado o texto para o editor, que esse queria publicar.

O médico avisou que ele não estava bem para fazer uma turnê, pois seu coração está muito débil, sugiro fazerem um vídeo com vários entrevistadores, mas atenção, ele não pode se cansar.

André tinha descoberto que adorava levar a livraria, fez muitas amizades, foi ficando com a desculpa de estar perto da mãe.

Quando Gustav saiu do hospital, nos primeiros dias queria ficar somente sentado na varanda olhando o mar, estava diferente, ter relido, redigido o novo livro, o tinha massacrado psicologicamente,  Louis vinha sempre conversar com ele, tinham papos de horas, o conhecia bem demais, quando leu o texto, falou com ele, que na verdade nada tinha sido culpa dele, mas do seu avô, que era uma pessoa despótica.   Você acha que uma pessoa que ama sua família faria o que ele fez com tua mãe, contigo.   Nunca, o desequilibrado era ele.

Isso o foi liberando de toda carga que tinha, agora ficava grudado no Samuel, como se quisesse guardar na sua memória, seu cheiro, a textura de sua pele.

Escreveu seu último livro, falando sobre isso o amor que tinha encontrado, não no final do túnel, mas quando tinha saído dele, nunca pensei que amar fosse isso, uma pessoa ao teu lado que te entende, completa, é teu amigo.   Era como uma ode ao amor dos dois.

Depois da gravação do vídeo, os editores, passaram o livro para os jornalistas que iam entrevista-lo,  pediam respeito pois ele estava doente.

Respondeu todas as perguntas inerentes ao livro.  Finalizou dizendo que agora acreditava que o túnel tinham seu tempo sua hora, isso não acontecia quando resolvias simplesmente procurar essa luz.   Entendia agora que a luz era a própria pessoa, pois é ela que ilumina o túnel.

Falou do livro que estava terminando,  é uma ode ao amor de minha vida, a única pessoa que amei.

Morreu dois dias depois, sem ter terminado o livro, sentado na varanda, olhando o mar, tranquilamente.   Pediu ao Louis, se podia transladar o que restava de sua mãe, para enterrar com ele ali.   Foi uma cerimonia comovedora, ele não tinha religião, portanto a cerimonia foi ali perto da praia.  Houve outra mais completa quando chegou os despojos de sua mãe.  Todos os amigos falaram, ele sem querer tinha agrupado muitas pessoas, todas o amavam e respeitavam.

No testamento nomeou o André seu herdeiro, ficava com a Livraria, bem como com todo o dinheiro que existia para realizar seus sonhos.

Samuel, agora estava mais agarrado ao seu filho, deixou a casa para o André pois era sua por herança, bem como Sandra.   Foi viver com seu filho, na casa ao lado.  Um dia sonhou com o Gustav, sorria feliz, encontrei a luz que tanto procurei, veio acompanhada de minha mãe, dos amigos que já se foram.   Estou feliz, estarei te esperando um dia desses.

Cinco anos depois o Samuel faleceu de um ataque do coração, sentado na loja, tranquilamente, o lugar que o tinha feito feliz.   Foi enterrado ao lado do amor de sua vida.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

   

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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