domingo, 22 de noviembre de 2020

STRUGGLE - TENTAR DURAMENTE

 

                                             STRUGGLE  

                                   TENTAR  DURAMENTE

 

Estava parado com o telefone caído ao seu lado, a voz continuava a falar, mas ele nem tinha movimentos.  As notícias não podiam ser piores.  Tinha acabado de se reincorporar para seguir trabalhando.   Era oficial com grado de capitão, cuidava de toda a enfermaria, além de ajudar nas operações.   Seu sonho seria ter sido médico, mas isso tinha sido impossível.

A notícia era que seu irmão pequeno, a quem ele tinha cuidado como seu bebê, durante sua infância, juventude, até entrar para o exército.   Sempre tinha sido complicado ele nem saberia diagnosticar porque ele era assim.  A notícia era que tinha assassinado sua tia, que basicamente os tinha criado.   Como só tinha 17 anos, estava recluído num reformatório.

Nem sabia o que fazer, se chorar, gritar ou mandar tudo a casa do caralho, sair correndo para lá. Mas claro era impossível, estava num posto avançado perto de Kandahar, era no meio do nada, tinham lhe avisado da chamada, saiu do hospital que mantinham ali, ele cuidava dos enfermeiros, que eram poucos, ajudava os médicos, fazia das tripas coração, por aqueles garotos que deviam estar fazendo surf, ou trabalhando no campo com sua família.

Sentiu o chão tremer, estavam sendo atacados, ele estava sem proteção nenhuma, correu para se abrigar, mais por instinto que outra coisa.   Por ele ficaria ali parado, para ver se uma bomba o livrava do peso de tudo isso que vinha acontecendo desde que se entendia por gente, o que tinha sido muito cedo.

Se sentiu atingido por algum estilhaço, passou a mão na cara, tirou o sangue, se encolheu o mais que pode, grudado a um container, como para proteger-se.  Depois de três novas explosões, sentiu uma dor no quadril imensa, queria gritar, já nem sabia se pela notícia, ou se pela dor.

Tentou mover-se, mas ao se virar, a dor era insuportável.  Puta que pariu, pensou, mais essa agora.  Nesse momento um enfermeiro novo, com os olhos arregalados, chegou perto dele, disse que encontrasse alguém com uma maca, que estava ferido, o rapaz olhava para ele como se não entendesse.   Fez uma coisa que fazia, batia palmas a centímetros da cara do enfermeiro, como se o tivesse pegando, mas o ruído, fazia com que as pessoas atendessem.

A médica, que o atendeu, só lhe perguntou o que estava fazendo lá fora sem proteção?

Honestamente, disse, antes dessa merda, tinha acabado de receber uma péssima notícia, creio que fiquei parado sem saber o que fazer, quando começou o bombardeio, me refugiei perto de um container.   Eles usavam container que vinham com produtos, para fazer uma barreira em volta do hospital de campanha.

Enquanto um lhe dava pontos no da cara, ela cortava suas calças, para fazerem um scanners, ei cuidado, essas calças são novas.

Quer dizer eram novas, estão boas para se atirar no lixo.  Mandou que uma enfermeira, recolhesse tudo que estava ali nos bolsos, o que era pouca coisa.  Foi fazendo o scanner, ele pediu para ir vendo junto.    Puta merda pensou, os troços de bomba que voaram, tinha estilhaçado totalmente o quadril, a coisa agora era parar a hemorragia, manda-lo para um hospital maior, aonde teriam que lhe colocar uma prótese de cadeira.

Isso sem querer fazia com que voltasse para casa.   Não conseguia tirar o irmão da cabeça, se estava nervoso não aparamentava, sempre tinha sido assim, tinha que tomar decisões.

A médica disse que o principal, era ir para um hospital maior, pois aqui será impossível te operar, corres o risco de perder a perna.    Avisaram que um helicóptero estava para sair, saíram arrastando a maca até o helicóptero,  lhe pediu que não lhe desse morfina, ele aguentava.   Sempre tinha se negado a isso, sabia que tudo era um problema, depois se ficava viciado, ele precisava de sua cabeça funcionando.

Quando o desembarcaram no hospital maior, foi direto para cirurgia.   A médica era muito boa, levou horas operando, as fazer além da prótese, arrumar o que tinha acontecido com a perna era difícil.

Brincando com ele disse, pelo menos vai para casa, a mim me toca pelo menos mais 365 dias.

Ele pensou, nem sei se preferia ficar aqui, do que ter que enfrentar a situação.

Na sua última licença, quando foi a casa, o irmão ao contrário de o receber bem, lhe deu um murro dizendo, me abandonaste outra vez.   Isso não se faz.

Ele tinha sido mãe e pai do irmão.   Era uma larga história.

Sua mãe, bem como seu pai, eram dois desajustados da vida.   Primeiro se juntaram, tinha nascido sua irmã mais velho, depois ele, depois teve uns quantos abortos, mais tarde viria a saber que tinham sido provocados por ela.  Depois dele, tinha mais cinco, contando com o pequeno.  Ele achava que tinha tido mais abortos pelo meio do caminho.  Pois sempre se recordava dela, com a barriga de gravida.

Era uma lastima, com 45 anos, parecia uma velha de 70, o trabalho duro do campo, os problemas, muitos filhos, ela tinha que se virar para colocar comida em casa, seu pai era muito desajeitado para as coisas da vida.   Sua tia sempre dizia que a ele lhe faltava um parafuso.

Agora pensando bem, tinha que ter tido abortos no meio de tanto filhos, pois mal paria um já estava outra vez com barriga.

Claro não parava de trabalhar no campo.   Quando resolveram viver juntos, ela com sua tia, tinham uma boa fazenda, minha tia comprou a parte dela, pois não queria que a irmã se casasse com esse idiota como ela dizia.   Foi a sorte dela, manteve o patrimônio intacto.

Quando meu irmão nasceu eu tinha uns 12 anos, estava no campo ajudando a recolher batatas, o chão estava duro da neve do dia anterior.  Tudo isso me fez ficar com os músculos que tenho hoje.   Ela começou a gritar que a criança não parava de dar patadas muito fortes, eu gritei ao meu pai para ir buscar a caminhonete que se caia aos pedaços, tínhamos que ir ao hospital, ele fez uma coisa comum nele, ficar olhando parado, com os olhos bem abertos, que depois vi muitas vezes com o pessoal que andava nas drogas.

Só havia uma maneira de desperta-lo, tinha visto minha mãe fazer isso, lhe deu um tapa tão forte na cara, que se tocou, que está acontecendo perguntou.    Gritei que tínhamos que levar minha mãe para o hospital.     Tive que fazer força para a colocar na cabine da caminhonete, ele nem se mexeu de seu lugar, lá estava outra vez estático.

Lhe empurrei para o lado, assumi o mando da mesma, mal entramos na cidade, nos parou uma patrulha, lhe disse que tinha que levar minha mãe para o hospital, o policial quando olho, viu que estava se esvaindo em sangue.

Quando chegamos foi direta para a sala de cirurgia.   A médica depois me disse que nunca tinha visto uma coisa igual, o bebê, tinha dado tantas patadas, que tinha arrebentado a placenta.

Tiveram que fazer uma Cesária porque ela não tinha dilatação nenhuma, ela morreu na mesa de operações, pois tinha sangrado demais,  além de ter alguma coisa errada, se descobriu que tinha um câncer enorme nos rins.

Minha tia chegou como uma fera, entre os dentes, dizia esse filho da puta, só pensa em fazer filhos, porque não usa camisinha.   Tinha falado com a irmã muito disso, eu sabia por que escutava as conversas.

Minha irmã mais velha, já vivia um tempo com ela, pois alegava que meu pai, queria abusar dela.  Até eu acreditava nisso.   Era normal vê-lo no campo, apoiado numa enxada, com o caralho fora das calças se masturbando.

Pegou o bebê que não parava de chorar, o que fazia com que os outros pequenos chorassem também, o jeito foi colocá-lo nos meus braços, imediatamente parou de chorar, em seguida procurava meu peito querendo mamar.   Eu tive que rir, garoto lhe disse, não sou mulher, tampouco tenho peito.

Uma enfermeira me ensinou a lhe dar leite que usavam no hospital.  Mas quando o tentavam tirar dos meus braços, ele chorava.  Pensei com 12 anos, virei mulher, tenho um filho.

Os maiores voltamos com meu pai, para ajudar no seu campo, os pequenos ficaram com minha tia.  Dois dias depois me chamou, era impossível fazer o pequeno se calar, só fica quieto quando escuta tua voz.

Ela o trouxe, eu andava com ele, como tinha visto minha mãe andar com os outros quando pequeno, ia como que acoplado ao meu corpo.  Por causa dele, aprendi a dormir sem me mover na cama, pois se não ficava ao meu lado, não dormia, chorava.

Eu tinha que fazer de tudo, abandonei a escola, seguia estudando em casa de noite, consegui os livros de uns conhecidos que estavam um ano na minha frente.    Um deles quando me veio trazer os livros, me viu com o pequeno, grudado no meu peito.

Assim me caso contigo, me disse, pode ser que daqui algum tempo possas amamentar também.

Anos mais tarde tivemos uma aventura, uma das coisas que gostava de fazer, me dava um prazer imenso era mamar meus mamilos.   Dizia que tinha vontade disse desde aquela época, mas no mais quando agarrava meu caralho, não o soltava.

Nessa época eu tinha 1,90 metros de altura, ele também.

Meu dia, era levantar de madrugada, tirar leite da vaca que minha tia tinha nos dado, fazer um barulho incrível, para meu pai se levantar da cama, pois por ele era capaz de ficar o dia inteiro sem fazer nada.

Arrumava meus irmão para irem a escola, os acompanhava até próximo aonde passava o ônibus, não me aproximava muito senão tinha que aguentar a gozação de todo mundo, por ter meu irmão grudado comigo.

Eu tinha uns 16 para 17 anos, ele ainda teimava que tinha que dormir comigo.  Mas tinha aprendido a lidar com ele, lhe falava seriamente olhando seus olhos.  Mas algumas noites despertavam com ele se ajeitando ao meu lado.

Com essa idade, basicamente fazia tudo da fazenda, arava, semeava milho, batatas, a maioria para nosso consumo.  Tudo era a base de batata, sobras de milho, minha tia algumas vezes trazia carne, mas preferia que os meninos se alimentassem.    Meu pai estava cada vez, mais no seu mundo.    As vezes tinha que brigar com ele, pois andava nu pela casa, eu lhe dizia das meninas, me respondia mal, um dia elas terão alguém lhe enfiando um pelo meio das pernas.

Falei com minha tia, ela levou as meninas para viver com ela.  Nem sei o que faria se não fosse ela. 

Um dia apareceu um homem com um carabina, só tive tempo de chamar o xerife, queria matar meu pai, ele nem se deu conta, estava como sempre parado no meio do campo, com os braços apoiado na sua enxada, não era com ele.

Quando chegou a polícia, o levou, o homem alegava que tinha feito sexo com sua filha.

Depois a garota se desculpou, tinha usado o nome do meu pai, pois ele as vezes ficava parado na beira da estrada com o piru para fora.

Nessa época apareceu uma fábrica, que antes comprava de todos da região o milho que plantavam, bem como tomates.     Resolveram eles mesmo ganhar mais dinheiro.  Foram comprando as terras.

Meu pai foi o primeiro a vender, nos levou a casa de minha tia, lhe deu uma parte do dinheiro, o resto embolsou, disse que não  sabia cuidar de crianças.   Me apontou, quem faz isso é ele, assim vai acabar virando gay.   Eu vou tentar seguir a vida, não posso

O campo de minha tia era mais próximo a cidade, além de que ela tinha empregados. Assim pude fazer os exames dos anos letivos anteriores, os professore ficaram impressionados, pois estudando sozinho, era melhor que os outros alunos.

Um dia caminhado para casa, vi no meio do um bosque que fazia divisa das propriedades, um bando de aves, entrei pelo bosque para ver que animal estava ferido.

Nada, se via um homem, quando me aproximei, vi que era meu pai, tinham lhe cortado a jugular, mas os pássaros pelo tempo que ele devia estar ali, já tinham comido os olhos, as orelhas, o reconheci mais pela roupa que usava.    Deviam fazer mais de três semanas que nos tinha deixado.   Examinei com cuidado suas roupas, para saber se era um roubo, nada seu dinheiro estava ali, o meti na mochila, o resto deixei como estava.

Corri até em casa, chamei a polícia, Tamar, como se chamava meu irmão, estava rindo, lhe perguntei de que ria, ele com seus sete anos de idade, disse que tinha menos um filho da puta no mundo.

Aquilo foi um escândalo, eu peguei todo o dinheiro que ele tinha, guardei numa lata, enterrei bem longe da casa.  Assim teria um dinheiro de emergência.

Minha tia foi uma das últimas a vender a propriedade, pois sabia quanto valiam suas terras, de todas era a mais produtiva, conseguiu um bom dinheiro com ela.  Nos mudamos para a cidade.

Eu agora, era o cabeça de família, minha irmã mais velha nunca se interessou pelos outros, o primeiro que fez, era uma boa aluna, diga-se de passagem, foi conseguir uma bolsa para ir a Universidade, minha tia lhe deu dinheiro.  Foi como se tivesse desaparecido no mapa.

Minha tia arrumou um emprego na fábrica, eu também, um dia o chefe dos mecânicos me viu arrumando uma máquina que estava operando.   Me perguntou por que o fazia.

Lhe respondi que até que aparecesse os mecânicos, demorava muito, isso é coisa simples, lhe mostrei que sempre tinha ao meu lado, algumas ferramentas.   Essa engrenagem está mal montada, lhe mostrei aonde estava o defeito, pelo menos umas duas vezes por semana para.

Mas para consertar, teríamos que parar esse lado da produção remontar tudo.

Ficou me olhando, rindo, Ok, vamos fazer isso no final de semana, quer ganhar uns extras?

Claro fui trabalhar.  Apesar da birra do Tamar, a quem tinha prometido jogar bola.

O meu salário ia todo para o banco, por se acaso eu tivesse oportunidade de ir à universidade, não sabia como.  Fui aproveitando disfarçadamente, fui depositando o dinheiro que estava com meu pai.  Depositava todas as horas extras que fazia, carros que consertava.  Estava sempre por alguma coisa extra.

Nessa época o Tamar começou a me seguir por todas as partes, parecia um cachorro que não sabe o que fazer sem o dono.    O deixava na escola, nem uma hora depois, estava me espiando trabalhar em algum carro dos chefes ou consertando alguma máquina.   Não adiantava brigar com ele, dizia que as aulas era uma merda, que não conseguia aprender nada.

Por duas vezes o vi como uma navalha, a retirava de suas posses, lá estava ele outra vez com uma.

O meu chefe, me disse, porque não entras para o exército, diz que queres estudar, vou te indicar ao meu irmão, ver o que ele pode fazer por ti.  Tive que fazer tudo escondido, pois já imaginava o escândalo do garoto.

Resultado entrei, direto para um curso de enfermagem do exército, me saia bem, bastava olhar para aprender, mas ir embora foi um drama.    Tamar aprontou um escândalo monumental, um dia vou ter que te matar me disse, porque estas sempre tentando escapar de mim.   Ficou dois dias desaparecido.

Eu de certa maneira, gostei de me livrar dele, me sentia sempre na obrigação de protege-lo, mas claro isso tinha um preço, não vivia a minha vida.

Estava sempre falando com minha tia, que reclamava dele, que era difícil, que agora desaparecia um dia ou dois, quando voltava ria muito.   Na primeira oportunidade, fui passar uma semana em casa, quando fui me arrumar para ir embora, meu macuto tinha desaparecido, o fui encontrar atrás da casa enterrado.   Na sua cabeça ele achava que sem isso, não ia me deixar voltar.

Uma das últimas noites estava dormindo, ele se deitou ao meu lado, começo a segurar meu caralho, levei um susto de fazer gosto.   O que estas fazendo?

Alguma coisa para que me queiras. 

Fiquei uma fera com ele, disse que isso não se fazia, tocar o sexo do irmão.

Caramba pensei que assim ias me querer para sempre, mencionou o colega da escola, nos tinha visto fazendo sexo.   Hoje penso que sorte que a família dele foi embora, pois Tamar poderia ter feito alguma coisa.

Fui em outra missão, fiquei dois anos fora, quando voltei, minha tia tinha envelhecido, meus outros irmão, cada um para um lado, não aguentam conviver com Tamar.  Ele está cada vez mais complicado, não tem nenhum amigo ou conhecido, vive vagabundeando pelas ruas, ou mesmo desaparece nos bosques. 

Como da outra vez, só se aproximou dois dias depois, como se estivesse se acostumando comigo, tentei conversar com ele, mas era quase impossível, me ficava escutando olhando nos meus olhos, era como se o tempo tivesse parado, não dizia nenhuma palavra, em seguida se levantava ia embora.    Comecei a segui-lo, vi que tinha construído um barracão , num dos bosques mais frondosos que tinha em volta da cidade, falei isso para o xerife.

Minha tia confessou que já não aguentava mais, que tinha pensado em interna-lo, mas nenhuma escola o tinha aceitado, pois as anotações dos professores eram, difícil aprendizagem, agressividade, quando viam isso as escolas internas não queriam.

Agora, passa quase o tempo todo fora, vai em casa só para roubar mantimentos, tenho feito uma coisa, todo o dinheiro da minha conta, transferi para a tua, assim se me pede dinheiro tenho pouca coisa na minha conta.     

A tempos perguntou aonde era que estava, quando lhe expliquei que estavas na guerra, me olhou fixamente, então esta matando, lhe disse que não, que eras enfermeiro, que cuidava das pessoas.   Ficou decepcionado, errei, pensei que matava, é mais interessante.

Não era tonto, pois quando tentei me aproximar da cabana, estava a vários metros protegida por uma série de obstáculos, feito por ele, inclusive, com artefatos de caça que deve ter encontrado pelo bosque.

Fiquei observando o espaço que existia, era como se o barracão fosse um castelo, estava mais elevado, dali ele podia observar quem se aproximava.

Fiquei tentado a descobrir o que lhe ia pela cabeça, mas falar com ele, era como se dirigir a um muro de pedra, podias falar, perguntar, argumentar, a cara ficava imutável. Nenhum musculo, nada, somente os olhos fixo em ti, esperando talvez um descuido ou uma fraqueza.

Tentei reunir meus irmão para conversar, era a mesma coisa, você nos abandonou, se enganavam eu mandava dinheiro para que minha tia cuidasse deles.  Pois nenhum deles trabalhou até sair ou escapar de casa.

Quando argumentei isso, se lhes tinha faltado de algo, comida, roupas. 

Não faltou nada, o que faltou era que nos protegesse de Tamar.  

Nunca entendi por que meu pai escolheu esse nome para ele.  Eu o achava horrível.

Tive que partir, podia dizer o dever me chama, mas o mais certo seria, uma maneira de escapar dos problemas, que me acompanharam.  Todo o tempo que estava livre, estava ruminando como resolver o problema.   Conversei com médicos, com psicólogos, todos me diziam que se seu comportamento tinha sido sempre diferente porque nunca tinha ido fazer exames.

Lhes disse que os exames nunca deram nada, inclusive os scanners de cérebro, não aparecia nada diferente.

Foi quando me chamaram ao telefone, foi tudo como uma grande tormenta, aonde acontece tudo ao mesmo tempo.

Do hospital chamei a irmã, com quem tinha feito contato, me disse que a vila inteira tinha ido ao enterro da tia, que a cena do que tinha acontecido, tinha perturbado todo mundo.  O que impressionou aos policiais, foi a tranquilidade com que ele cortou sua jugular, porque se negou a dar-lhe dinheiro, ninguém sabe como estava consumindo drogas.

Mesmo sendo magro como era, mais baixo que a maioria de nós, derrubou 10 policiais que tentavam segura-lo.   Ninguém sabia de aonde vinha essa força.

Quando por fim consegui andar novamente, tinham me transladado a um hospital na Alemanha, aonde me recuperei.   Andava agora com um simples bastão, me iriam transladar para trabalhar no hospital de San Francisco.   Não queria deixar o exército.

Quando o fui visitar, me olhou primeiro, examinado minha cara, ficou olhando fixo para minha cicatriz, o que soltou em seguida me deixou frio.   Vê o que dá, em tentar ajudar as pessoas, em vez de mata-las.

Tentei conversar com ele, porque tinha feito essa maldade com minha tia. 

Ela não queria que eu fosse te procurar, iria para matar aos que te perseguem na guerra, mas me disse que eu era menor de idade, mais fraco, provei para ela que posso matar qualquer pessoa.   Não tinha como argumentar, que ele sempre repetia o mesmo, como um mantra.

Quando fez dezoito anos, tinha uma condena de 20 anos, tentei de todos os meios que não fosse para uma prisão normal, mas seu comportamento no reformatório não ajudou.  Era violente com qualquer um que se aproximasse dele.

Os que tentaram abusar dele, por aparentemente ser mais frágil, saíram mal parados, pelos menos dois deles foram parar na enfermaria.

Era como se fosse ele contra o mundo.

No segundo dia no presidio, fui vê-lo, teria que me apresentar em San Francisco, aonde ia trabalhar.  Me olhou de cima a baixo, quando me viu com um bastão para andar, me chamou de aleijado, ficou rindo, me disse que o grande senhor da justiça tinha caído do pedestal.

Lhe perguntei que pedestal era esse. 

Me olhou friamente, você sempre cuidou de todos enquanto pode, achavam que essa era sua obrigação, mas não era, o velho, aquele filho da puta, bem como nossa irmã mais velha que desapareceu, escaparam de suas responsabilidades, jogaram tudo nas suas costas.  Você foi para o exército, para que todos fossem a universidade.   Os que foram, nunca mais voltaram pois seguiram suas vidas longe, para trás só fiquei eu, com a velha tia.   Temos que pensar, que ela não construiu uma família própria, porque tinha a da sua irmã para cuidar.

Isso a transformava numa mulher infeliz.  Não entendia por que eu precisava de ti.  Às vezes me dizia, deixe teu irmão em paz, está dando duro, para que teus irmão possam ir a universidade.  

Quando me dizia que estavas salvado vidas ao mesmo tempo que trabalhava, eu lhe dizia que devia deixar morrer, que sua obrigação era comigo.   Me tinha deixado viver, quando eu deveria ter morrido com nossa mãe.

Contei para ela, que o garoto chupava teus peitos, quando devia ser eu a fazer isso, que não me permitias ter sexo contigo.   Ficou horrorizada, como eu podia falar isso de ti, falou que desde o primeiro momento, tu tinhas cuidado de mim.  Mil coisas, queria me confundir.

Por isso a matei, pelo menos nunca mais escutarei sua voz me perguntando, porque fazes isso.

Sai do presidio arrasado, era como se ele não tivesse malicia no que fazia.  Falei com o xerife, que fosse ao Bosque, procurasse por lá, existia uma zona estranha por detrás da cabana.

Dias depois me chamou a San Francisco, sua tia não foi a primeira pessoa que ele matou, encontramos ali atrás aonde disseste, pelo menos cinco tumbas, homens, mulheres, que não sabemos quem seja, além de animais que ele deve ter matado.

Quando me contou tudo isso, tive sorte de estar sentado, será que tinha sido ele que tinha matado meu pai.  Era impossível, era muito pequeno para isso.  Só me lembrava que quando o velho tinha vindo ele estava com uma roupa, depois nunca mais encontrei essa roupa.

O xerife tinha sempre pensado que tinha sido um assalto que saiu mal, pois tinham lhe cortado a garganta, não como uma pessoa que vem por detrás, mas sim pela frente.

Aproveitei que tinha que fazer um exame para estudar medicina, era uma convalidação de enfermagem, em que não precisava fazer todas as matérias.

Fui ao presidio, estava na solitária, por ter agredido um guarda que o chamou de carne fresca no pedaço.

Fiz meu exame, menos mal que tinha tido sempre a capacidade de isolar os problemas numa parte da minha cabeça, para poder trabalhar, ou para qualquer outra coisa, depois podia tornar a raciocinar sobre o assunto.

Fui falar com um psicólogo clínico, a respeito.  Ou ele tem uma distorção da realidade muito grande, alguns filhos pensam assim, como a mãe os cuida desde pequenos, pensam que a mesma seja sua propriedade, que tem obrigação de fazer isso.

Disse que de posse de seus scanners iria falar com médicos a respeito.

Finalmente consegui falar com ele.  Desta vez o enfrentei da mesma maneira que ele fazia comigo.   Me conta como mataste nosso pai.  

Ficou me olhando entre surpreso, sorriu, era algo demoníaco.  Imagina, ele foi embora, para refazer sua vida, muito contente, passei pela cozinha, peguei uma faca que usavas muito afiada, a que me vivias dizendo, nunca pegue esse faca, corta muito.   Fui atrás dele, quando o alcancei, pois tinha se sentado como sempre fazia, para ficar quieto, alisando seu membro, lembra quando fazia isso no campo, podia ficar horas parado, com o queixo em cima da enxada, passando a mão pelo seu sexo.  Assim estava, quando me viu, sorriu,

Ah, estas aqui, queres ir embora comigo, meu pequeno.  O deixei me abraçar, então me empurrei para trás, com todas as forças, lhe enfiei a faca na garganta, começou a se engasgar com o sangue, quando caiu para trás, me soltou, ai lhe cortei o pescoço, como te vi fazer tantas vezes com as galinhas.

Eu devia estar de boca aberta, pois nessa época, ele era uma criança.  Tentava fazer cálculos qual era sua idade nessa época.   Riu dizendo, você nunca entenderá, pois desde pequeno eu pensava, me lembro de quando queria chupar teu peito, mesmo sabendo que ali não tinha leite.

Que isso te fazia graça, por isso tentava, das noites que dormia contigo, me sentia protegido, em que ninguém podia tirar você de mim.   Eras meu, só meu, assim seria a vida inteira, mas estragaste tudo.

Quem são essas pessoas que encontramos atrás da cabana?

Eu sabia que ias descobrir, te vi muitas vezes indo atrás de mim, pensei que ias te atrever a entrar, eu estava preparado para te matar,  mas só observaste, como respeitando meu espaço.

Quando sai, tive que me sentar num banco, ficar fazendo exercício de respiração, tudo escapava do meu raciocínio, como uma criança podia fazer isso.  Como tinha força para enfiar uma faca no pescoço de um adulto.

Chamei o xerife que a estas alturas, tinha virado um bom amigo, perguntei se tinha a análise do assassinato de meu pai.  Me leu, era como ele tinha falado.   Achas que uma criança poderia ter feito isso.  Essa facada do pescoço, não exige tanta força como pensas, depois deve ter perdido muito sangue, a roupa diz isso, caiu de costa no chão, tentando respirar, o corte da jugular aconteceu depois, como quisessem matar uma galinha.

Contei para ele, o que tinha surgido na minha cabeça, bem como o que ele tinha me contado.

Essa faca estava na cabana, tinha muitos tipos de sangue nela, todas a vítimas foram assassinadas da mesma maneira, primeiro de frente um corte profundo no pescoço, o que faz a pessoa não conseguir respirar, ao mesmo tempo a perda de sangue. Só depois cortava de lado a lado.

Já conseguimos descobrir quem era uma das vítimas.  Eram pessoas que andavam pelas estradas sem rumo, desorientadas.  Como captava a mesma, não sabemos.

Vou tentar descobrir, não sabe como tem sido difícil digerir tudo isso.

Imagino, que não consiga entender, eu mesmo fico pensando, se o olhas de uma maneira diferente, quando se fala com ele o interroga, comenta as coisas sem prejuízo nenhum, como se contasse uma história.

A coisa piorou, fui chamado pelo diretor do presidio.  Desde que entrara, como sempre acontecia, tentaram abusar dele, mas ele conseguia se livrar, ao mesmo tempo, começou a juntar em volta dele todos os jovens abusados dentro do presidio.   Pelo que nos contou um disse, verão como quem vai mandar aqui sou eu.  Todo os presos têm seu chefe principal o que controla tudo, normalmente alguém cadeia perpetua.

Pois ele entrou no lugar que estavam todos, sorrindo, se aproximou do manda mais, falou alguma coisa ao seu ouvido, como se fosse o beijar na frente de todos, o matou tranquilamente, depois disse aos outros que matassem aos abusadores.

Tudo isso ele fez sorrindo para as câmeras que gravam tudo.   Sabia que todos estávamos vendo.

Foram preciso dez homens para colocá-lo na solitária.   Depois disso já matou mais dois dos abusadores.  Então tem de seu lado, como um harem de jovens que foram abusados aqui dentro.  Ninguém se aproxima dele.  Ele tampouco permite que sejam abusados.

Já pedi reforços, pois as coisas irão a pior.

Dias depois já em San Francisco, saia da universidade, quando viu na primeira página do jornal, uma revolta na prisão, que os mais jovens chefiados por um deles, tinha atacado todos os guardas para tomarem o mando da prisão, que pelo menos o cabeça, bem como outros tinham sido metralhados.

Sabia que não me dariam notícias, o jeito foi falar com o xerife, sim foi ele quem liderou tudo, mas o pior não, sabes, pegou um policial de sua mesma estatura, o matou, roubou sua roupa, sai do presidio como se nada.   Ninguém sabe aonde está.   Estamos vigiando o bosque, pois se volta para cá.

Ficou num estado de ansiedade, analisando cada coisa com o psicólogo que ia tentando encontrar uma brecha para entender sua cabeça.    Se lembrou do momento que estava por nascer, que sua mãe reclamava que dava tantas patadas, tão forte, que mal conseguia respirar.

Será que tentava matá-la, para não nascer.  Então o culpado era ele, que tinha feito todo o possível para que ele nascesse.

O duro foi quando meses depois chegando de uma aula, o encontrou sentado tranquilamente em seu apartamento.  Ficou gelado.

Apertou um botão do seu celular que gravava tudo.

Então acreditavas que ias escapar de mim, verdade, que não ias pagar por me ter trazido ao mundo.  

Sim sou o culpado, rememorou em voz alta tudo o que tinha visto na época, nossa mãe, caída no campo, dizendo que as patadas eram muito fortes, que querias sair de qualquer maneira.

O idiota de nosso pai como sempre com a cabeça apoiada na enxada sem trabalhar, como corri para buscar a caminhonete, os levando para o hospital. 

Vê, finalmente chegaste ao começo, eu já nasci consciente de tudo, não queria nascer, para viver outra vez essa vida, queria ficar quieto aonde estava, mas diziam que eu tinha que cumprir meu Karma.    Me fizeram entrar nesse corpo pequeno dentro de uma barriga, odiei tudo nesse mesmo instante.

Agora vou acabar contigo, seu idiota, pensavas que te amava, verdade, eu te manipulava, quando imaginavas que eram meu sustentáculo, em que eu queria mamar de teus peitos, sabia que te dava prazer, se tivesses deixado, chegaria um dia, que farias sexo comigo.   Mas isso nunca seria possível, porque foste sempre um idiota, preocupado em cuidar dos outros.

Mas quando de ti com aquele garoto, te chupando os peitos, o prazer que sentias, perdeu a graça, qualquer um podia te manipular.

Quem são essas pessoas que estavam atrás da cabana?

Eram pessoas que estavam perdidas para a vida, eu as ajudava a morrer, para uma nova vida.

Mal sabem eles que a nova vida, sempre será uma merda, nunca nada é como sonhamos.

Essa puta lei do Karma, vamos, voltamos sempre, se não melhoramos, voltamos outra vez, mas desta vez, vou te levar comigo.

Fiquei sentado, olhando diretamente aos olhos dele, então, vens me cobrar a vida, porque fiz com que viveste.   Mas lembre-se tinhas a oportunidade de ter uma vida melhor, melhorar teu Karma como dizes, mas fizeste tudo ao contrário, aumentaste teu Karma, eu numa valorização, acho que já alcançaste o 100 por cento, então se me matas vais te superar, vão te mandar de volta mais umas quinhentas vezes até limpar tua barra.

Nem sei de aonde estava tirando tanta calma, ao meu lado tinha um abajur, sabia que estavam vigiando meu apartamento, comecei a mandar código Morse.

Estas nervoso sim, não paras de brincar com esse abajur. 

Sim talvez para me distrair, nisso colocaram porta abaixo. Todos estavam armados até os dentes.

Rosnou, me traíste outra vez, fez pontaria para atirar em mim, mas levou um tiro na testa antes.

Desmaiei, sabia depois que me sentiria culpado o resto de minha vida, segui fazendo terapia, pois era a única solução que eu tinha.

Um dia fui abordado na rua por um senhor negro muito velho, o ajudei a atravessar a rua, do outro lado me agradeceu, me disse, tudo isso que estas sofrendo, vem de vidas passadas, tentaste ajudar, mas nem sempre as pessoas querem ajuda.   Siga em frente trabalhando como médico, eres muito bom.  Quando fui falar o velho tinha desaparecido.

Toquei minha vida em frente, nunca quis me casar ou ter um romance, tampouco amar ninguém, pois na verdade, eu tinha dado todo meu amor a essa criança.  Mas não tinha funcionado.

Vivia para meu trabalho, agora era um médico respeitado, o dinheiro que existia no banco, doei para crianças necessitadas, para que tivessem uma vida melhor.

Tinha um pequeno apartamento, que era meu pouso depois do trabalho.   Isso bastava.

 

 

 

 

 

 

 

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