BABA
Meu
nome é Baba ou Pai Vidar Shorn, ou na verdade um babalorixá, além é claro de
psiquiatra, o que faz de mim uma gozação entre os médicos que me conhecem,
dizem que sou um médico de alma diferente.
Nasci
por um acaso, conto o caso, minha mãe só descobriu que estava gravida quando
estava no 4 para o 5 mês, já não podia abortar. Isso a deixou furiosa. Já tinha um filho do seu primeiro casamento,
bem como meu pai, tinha uma filha do seu primeiro casamento. Ela era pelas fotos que vi, uma beleza
estonteante. Os dois eram de famílias
ricas. Quando o médico descobriu que se
desmaiava porque estava sempre em regime para não engordar, lhe perguntou se
queria matar o feto, pois assim não me desenvolveria. Ficou furiosa, foi a outro médico que lhe
disse a mesma coisa. Esse era amigo de
meu pai, falou com ele, cancelaram todas as viagens, pois viviam assim,
Londres, Paris, New York, festas para lá, festas para cá. O mundo deles era esse, alta sociedade,
gastar dinheiro. Quando nasci, tive que ficar um tempo na
incubadora, pois mais parecia uma criança de 7 meses de pequeno que era, ela
tinha tomado remédios para não ter leite, que lhe fizesse crescer os
peitos.
Minha
avó paterna era uma mulher especial, arrumou logo uma mãe de leite para mim,
Idalina, que acabou sendo minha cuidadora, toda a vida, até hoje está
comigo. Eu sempre a chamei de mãe. Diz ela que quando chegou ao hospital, vinha
traumatizada, pois pela quinta vez tinha perdido a criança que gestava, que
para me amentar, bastava uma mão para me segurar.
Era
uma mulher de 1,80 de altura, forte de trabalhos manuais, educadíssima, acabou
sendo como uma filha para minha avó.
Nunca mais saiu da sua casa.
Minha avó, era esperta, falou com seu filho, ou melhor o convenceu que
era preferível que eu ficasse com ela, que minha mãe não me queria, tampouco
tinha jeito para ser mãe, o outro filho ela nunca visitava, como ia cuidar de
mim. Mas como boa judia, fez isso de
papel assinado, portanto tinha minha guarda, eles nunca poderiam se meter na
minha educação, nem pedir-me de volta.
Isso
foi bom, pois me criei com as duas, raras vezes os dois apareciam, quando muito
para uma escala entre lugares aonde ele ia a negócios. Tinha uma empresa de pedras preciosas, que
vendia por toda a Europa, América do Norte e Japão.
Portanto
sempre estava de um lado para o outro.
Quando estavam no Rio, ficavam num apartamento que minha avô tinha quase
ao lado do Copacabana Palace, na Rodolfo Dantas, era imenso, ela aproveitava
para se bronzear na Piscina do Hotel, aonde sempre tinha amigos
hospedados. Passavam as vezes dois meses
no Rio, se os via uma vez era muito, mais meu pai. Que chegava, passava a mão
na minha cabeça, deixava um presente ao meu lado, o que ele estranhava, é que
não o abria. Era um garoto diferente,
não gostava de brinquedos.
Depois
quando saiamos, eu dava para algum garoto de rua, sem sequer abrir o mesmo para
saber o que era.
O que
eu gostava mesmo, era de aonde vivíamos, na Estrada Dona Castorina, no Jardim
Botânico, numa mansão que meu avô tinha mandado construir para sua esposa
amada, pois ela gostava da
floresta, ninguém sabe como conseguiu
comprar, pois ali já era reserva federal, a casa estava no meio da subida da
montanha, da floresta. Esse era meu
brinquedo, ir jogar com os Orixás que lá estavam.
Idalina
se ria, soltava esse menino vai ser pai de Santo, olha como ele conversa com os
Orixás, minha avó que apesar de ser judia, adorava um candomblé. As duas me arrastavam para o terreiro aonde
ia Idalina, lá pós lado de Bento Riberio, eu chegava, descia do carro, corria
como um louco para perto do Iroco do lugar.
Ia saudar meus amigos. O pai de
santo, bem como sua Yao, riam a não mais poder. Quando comecei a falar direito, me ensinaram
o Yoruba, o que o deixa de boca aberta, pois só falava com ele no idioma do
Ifá, além de o corrigir quando falava errado.
Eita
esse menino vai longe, o tinha visto jogar os búzios para um cliente, ele tinha
uma interpretação, eu outra. Disse para
o homem o que ele queria ouvir, eu tonto o consertei, que não se metesse com
essa mulher que ia dar merda. Mal
sabia que a mulher estava escutando do lado de fora.
Idalina,
leve esse garoto daqui, como sempre está se metendo aonde não deve.
Fiz
birra, na vez seguinte, lhe disse a Idalina, não quero mais ir lá, ele engana
as pessoas, os meus amigos que me desculpem, mas ele não os entendem.
Acabamos
indo a um outro em Padre Miguel, minha avó só reclamava era do verão, pois
fazia muito calor por lá. Eu fazia o
mesmo, descia do carro, ia saudar os do Iroco, depois pedia benção a senhora do
Terreiro, ela me olhava, dizendo, hum, precisas levar agua para as quartinhas
dos teus santos. Eu mesmo tinha
montado, um quartinho, perto da floresta para meus santos, isso era para muitos
uma besteira. Que sabe esse garoto de
santos.
Talvez
pelo leito da Idalina, ou mesmo pela alimentação que me tinha dado em criança,
de repente eu dei uma esticada, com 10 anos era alto demais, com uma diferença,
era muito, mas muito magro mesmo. Isso
que comia por dois.
Nessa
época, escutei uma conversa do meu pai, com minha avó, que as coisas não iam bem,
que muita gente estava traficando com pedras semipreciosas para fora do Brasil,
estava lhe queimando o mercado, já não dava tanto lucro.
Ela
respondeu que o trem de vida de ele levava, tampouco ajudava, tens que ter o
pês no chão, deixar de ficar gastando dinheiro em festas, correndo de um lado
para o outro com essa tua mulher. Parecem
dois bonecos de festas, sempre preocupados com roupas, superficialidades,
gastam muito dinheiro.
Ele
riu, pois é assim que conseguimos clientes.
Sinto
muito disse ela, chegou a hora de fechar o grifo, com esses governos que o
Brasil tem, com essa economia flutuante, hora sobe, ora baixa, ninguém aguenta.
Mas
mamãe?
Lembre-se
que eu sou a dona da empresa, tu não passas de um diretor de fachada, todo
mundo pensa que tu é que mandas, mas as contas vem todas para minha mão. A partir de hoje, darei ordem pra
restringirem seu cartão de crédito, bem como talões, se gastas demais ficarás
sem dinheiro nenhum.
Ele
saiu de casa batendo as portas, passou por mim, nem me olhou, nem fez o que
fazia sempre mexer nos meus cabelos.
Mas entendi o que se passava, a boa vida deles terminava.
Para
ele terminou realmente, foi a Diamantina, buscar pedras, num teco-teco, ela não
foi pois só gostava de viajar de primeira classe. Resultado, caiu, morreu no ato, com o corpo
todo despedaçado.
O
enterro, foi daqueles judio, juntaram o que encontraram do corpo, colocaram enrolado
num sudário de linho branco, caixão de pinho fechado, ela sentada ao lado como
uma Madalena arrependida, fingindo que chorava, minha avó, eu, Idalina, fomos
somente na hora do enterro.
Mas o
melhor veio na leitura do testamento dele.
Ela não tinha direito a nada, pois minha avó tinha colocado no meio dos
papeis que ela tinha que assinar para o casamento, uma documento que se casavam
em separações de bens, ganhou sim um apartamento em Copacabana, que era o único
bem que ele tinha em seu nome, minha avó riu, dizendo que surpresa vai ter.
Era
uma garçonniere, um lugar que ele encontrava seus amantes homens, parecia um
lugar de putas, ela ficou de boca aberta, pois tinha muita lingerie de mulher
no tamanho dele. Minha avó sabia que o
casamento deles era só de fachada, tinham me tido, numa das suas bebedeiras, ou
mesmo sabe-se lá como.
Eu era
super parecido com ele, pois senão poderia se pensar que era filho de
outro. Mas ela não gostava de sexo,
gostava de se insinuar com roupas exageradas, impudicas como dizia Idalina, mas
na hora H, fugia. Ele ao contrário, em todos
os lugares que ia, tirava umas horas do dia para seus momentos íntimos.
Minha
avó me contou tudo tempo depois. Para
suas filhas tampouco ficou nada, pois quando se divorciou, deixou sua ex-mulher
bem, ela sabia de sua vida.
Tudo
ficava para mim. Dias depois a megera
como dizia a Idalina, chegou a casa de minha avó de mala e cuia. Mas minha avó,
disse que nem pensar, que ela fosse viver no seu apartamento.
Mas
sou a mãe do seu neto, não podes fazer isso.
Eu que escutava do alto da escada, com meus dez anos de idade, desci, a
enfrentei. Mãe, aqui só tenho uma a
Idalina, a senhora não passa de uma bela desconhecida, uma invasora de
domicílio. Porque não disseste que era
minha mãe na leitura do testamento, sequer falaste comigo. Como se diz, “a porta da rua, é a serventia
da casa”, fora daqui. Sabia que se ela insistisse muito, minha avó
ia deixar que ficasse, nossa vida viraria um inferno.
Esta
ria muito com a cara da outra, quem semeia vento, colhe tempestades, soltou.
O
jeito foi ela voltar para a casa dos pais que eram ricos, mas tacanhos.
Nunca
mais apareceu para nada. Anos depois
conheci no Colégio Divina Providência, na rua Lopez Quintas, o meu irmão por
parte de mãe, era mais velho do que eu, mas ficamos amigos, ele tampouco sabia
nada dela.
Ele
talvez foi o único amigo que fiz nessa época, eu era o melhor aluno da minha
turma, gostava disso de estudar, mas claro, por outro lado trazia
problemas. Ele me ensinou a me
defender, pois um dia um professor chamou os dois, dizendo a ele, que como meu
irmão mais velho tinha que me defender, foi assim que descobrimos tudo.
Na
hora do lanche, se sentava ao meu lado, falando dos planos que tinha para sua
vida, eu olhava para ele, sabia que teria uma vida curta, mas lhe incentivava a
realizar seus sonhos. Podia ver a vida
dos outros, mas a minha era uma incógnita.
Mãe
Maria de Oxóssi, dizia que eu teria uma vida grande, não se preocupe com o
aqui, agora, teu futuro é cuidar das almas de duas maneiras, uma como médico
outra como pai de santo.
Com 16
anos, eu já tinha raspado a cabeça, como se diz, feito todas as obrigações, ela
ria com uma risada contagiante, se todos fosse como tu, eu estaria feliz, pois eu
nunca perguntava nada como devia fazer as coisas, me comunicava diretamente com
os orixás para fazer como eles diziam.
Se
jogo para ti, posso errar, melhor tu decidires com eles o que queres fazer.
Mas eu
tinha meu Iroco, no fundo da casa da minha avó, uma árvore imensa, que tinha no
meio da floresta, um caminho que eu mesmo tinha aberto, acompanhado de Xangô,
como do Exu Bara, que estava ligado ao meu orixá principal.
Era
uma árvore imensa, tinha o tronco aberto ao meio, por um raio, ali eu deixava
as minhas oferendas aos meus santos.
Descobri
no armário do meu avô, uma série de ternos de linho branco, camisas de linho
branca, experimentei, ficavam perfeitas em mim.
Passei a andar só de roupa branca, quando estas se acabaram, descobri
aonde ele tinha feito essas, fui a alfaiataria, mandei fazer mais para mim.
Minha
avó tinha me ensinado a cuidar do meu dinheiro, vendeu o apartamento de
Copacabana, se alugamos o preço será alto, as pessoas destroem a casa dos
outros, melhor vender.
Mais
uns quantos escritórios que tinha em Copacabana, na Barata Ribeiro, bem como na
Nossa Senhora de Copacabana, esse dinheiro era sempre aplicado pelo escritório
que cuidava de tudo, a cada 15 dias, vinha um diretor prestar contas a ela, que
me ensinou a ver essa parte, tens que ter olhos de águia, pois estarão sempre
tentando sacar partido para eles.
Não
dava outra. Sempre ao final tinha
discussão, aonde estava o dinheiro do dia tal.
Nessa época existia o over Night, o do escritório aproveitava aplicava
no nome dele. Acabou com a mamata do
sujeito que foi para a rua.
O mais
interessante é que ela sempre no final do ano, pagava um plus para os que a
atendiam, mas claro a gente quando vê dinheiro fácil, quer logo botar a mão. Era dura na queda, me ensinou tudo.
Eu
entrei para a Faculdade de Medicina, já predisposto a fazer psiquiatria, com a
nota máxima nos exames seletivos.
Mesmo
não me interessando pelas outras matérias, eu era bom estudante. Nada de perder
tempo, Idalina é que me dizia, filho,
tens que viver um pouco a vida, estudar, ir cuidar dos santos tudo bem, mas tem
que sobrar um tempo para ti.
Um dia
conversando com meu irmão mais velho, me contou que era gay. Fiquei surpreso, pois ele era muito
sério. Mas aceitei, lhe disse que de
momento, não me sentia atraído nem por um lado nem pelo outro.
Não
tenhas pressas, como eu tive, resultado, estou sempre sozinho.
Quando
entrei definitivamente para a especialização em Psiquiatria, é pude então
analisar todos meus sentimentos, meus orientadores ficavam pasmos, pois não
tinha ódio, ou raiva da minha mãe, tinha apenas certeza de que ela tinha sido
um meio para eu chegar a esse mundo. Como nunca convivi com ela, não podia ter
sentimentos. Meus sentimentos todos se
canalizavam para a Idalina, bem como minha avó.
Eu
estava no último ano da faculdade, já fazendo práticas no Hospital Psiquiátrico
de Jurujuba, um lugar que ninguém queria ir.
Todos queria ir fazer práticas no Pinel, mas fui para este, um dia de
madrugada a Idalina me avisou que tinha levado minha avó para o hospital, mas
quando o médico disse que não podia fazer nada, pediu para voltar para casa,
deitar na sua cama, que Idalina abrisse as janelas, para que o povo da mata
viesse ficar com ela.
Cheguei
para seus momentos finais, fiquei ali, de um lado eu segurando sua mão, do
outro lado Idalina, era tudo como ela queria.
Queria ser cremada, nada de enterro, que as cinzas ficassem no oco do
meu Iroco na floresta, essa mesma que ela tanto amava.
Me
deixou tudo que tinha, mas nem sabia quanto de dinheiro tinha, estava mais
preocupado em acabar a universidade, trabalhar.
Consegui
fazer um trabalho impecável no hospital de Jurujuba, logo me chamaram para
ficar em experiencia algum tempo no Pinel, já não gostei tanto, havia uma
confusão de tipos de pessoas, eu gostava das pessoas mais simples. Acabei voltando definitivamente para
Jurujuba, gostava de lá, ninguém se metia comigo, quando eu descobria que o
problema do paciente era espiritual não físico, consegui mandar muita gente
para casa, recuperados.
Mas
claro ficava num vai e vem desgraçado, tudo era muito longe, acabei ficando
estressado, cansado. Resolvi tirar um
mês de férias que nunca tinha tido, fui para Parati, aluguei uma casa perto da
praia, fiquei lá descansando. Um dia
passeando pelo cais, vi um marinheiro lindo, se ofereceu para me levar de passeio
pela baia. Conheço umas praias lindas,
aceitei, precisava me distrair. A coisa
acabou em farra, ele bateu o olho em mim, queria outras coisas.
Mas
disse de cara que nunca sairia de Parati, que gostava de muitos homens, mas
nenhum fixo.
Mas no
tempo que estive lá ficou grudado a mim.
Que lastima que vais embora, estou acostumado ao teu caralho, é bom
demais.
Mas
tinha minhas obrigações. Fui levando
adiante, resolvi tentar um tempo atender numa clínica, mas claro era diferente
que num hospital, era um sistema que só quem tinha dinheiro aparecia. Mesmo assim eram casos complicados.
Quando
resolvi fazer uma viagem ao Benin e Nigéria, muita gente levantou as mãos para
o céu, mas ignorei todo mundo, parti.
Só
voltei anos depois quando Idalina precisou de mim, estava já muito doente,
voltei para cuidar dela.
No
primeiro dia, entrei pela floresta saudando todos os Orixás, agora os entendia
melhor, era mais experto no Yoruba.
Tinha aprendido a diferença de sons, estalados na boca, para pronunciar
alguma coisa.
Cuidei
muito bem de minha mãe de leite Idalina, ela se recuperou, menino queres me
fazer viver 100 anos, assim não é possível.
Te
falta muito para isso Idalina, confessa era que estava com saudade de mim.
Agora,
com tinha ganhando muita experiencia no jogo, atendia em casa, quando era um
problema diferente consultava como devia tratar a pessoa.
Isso
me deu fama, mas também uma série de problemas, diziam que eu não estava
preparado para isso, tive que me valer de meu diploma de psiquiatra para seguir
em frente.
Era um
meio difícil, eu sabia, encontrei sempre muitos charlatães pelo caminho, o duro
era ver as pessoas serem enganadas por dinheiro.
As
pessoas ficavam surpresas, pois nunca pedia uma matança, ou obrigações
complicadas, quando queriam isso mandava para outro lugar. Sabia que isso era balela para os orixás que
eu trabalhava.
Tinha
alguns que ficavam comigo, mas sabia do meu rigor, nunca cobrava nada, pois não
precisava de dinheiro.
Um dia
meu irmão mais velho me procurou, estava uma sombra, tinha Aids, cuidei dele
até o final, ele achava engraçado,
dizendo eu é que devia ter cuidado de ti.
Mas no
final, me contou toda sua vida, uma mistura de problemas de abandono, de uma
vida complicada, mas o escutava com carinho.
Morreu nos meus braços.
Fiz o
que ele tinha pedido, nos últimos meses que passou comigo, passou a amar a
floresta, foi cremado, pediu que as cinzas ficassem embaixo do Iroco, pois ali
teria paz.
Ninguém
veio a sua cremação, nem sua mãe, nem seu padrasto, estavam de viagem, alegava
que tinha dado muita dor de cabeça, que partisse sozinho.
Fiquei
furioso, só lhe respondi que sozinho ele não estava, nem estaria nunca. Nunca
poderia entender meus pais, os dois eram como estranhos no ninho, tinham parido
filhos, mas nunca tinham tomado conta deles, relegando para segundo plano, para
uma vida vazia.
Discutia
isso com Idalina, ela só dizia, com isso ganhei um filho que quero muito, agora
com a idade estava muito frágil, tinham duas moças na casa para cuidar
delas. O respeitava, bem como a ela.
Volta
e meia, acontecia algum caso, de pessoas que falavam mal dele, não ligava, pois
normalmente eram pessoas que o tinham procurado para outros fins que não o que
ele praticava.
Ajudou
uma artista de teatro, que tinha tido um problema, veio consulta-lo, ele olhou
o que era, lhe respondeu, se fosse outro pai de santo, diria que tens mal
olhado, faríamos mil trabalhos, mas no fundo o problema, é que esse personagem
que estás fazendo, te está transtornando, pois te identifica com o problema
dele. Viveste isso no passado, quiseste
encarar o mesmo, para resolver teus problemas, vamos dizer enfrentando o mesmo,
quiça o deixasse para trás, mas o tiro saiu pela culatra. Isso nada tem a ver com candomblé, ou mesmo
fazer um despacho.
Podemos
falar do problema, pediu que todos saíssem, fechassem a porta, seu companheiro
queria ficar. Nada disso, a partir de
agora quem a atende é o psiquiatra.
Como
sabia aonde estava o problema, falou com ela a respeito. Tia sido abusado quando jovem por o irmão de
sua mãe, ninguém acreditou nela, o homem aproveitou isso, repetiu várias vezes
a imobilizando, até que sua mãe o viu fazendo.
Mas ao
invés de ficar de seu lado, disse que ela com sua beleza, atraia os homens, que
era uma pecadora. Então para ti o sexo
sempre terá essa conotação suja. A atriz
passou a vir semanalmente falar com ele sobre isso. Até que colocou tudo para fora, recuperando a
voz.
Quando
retomou o papel que fazia, era como uma outra representação, ela observando de
fora, analisando, criticando sua postura de indefesa.
Normalmente
nessas circunstâncias, o abusado, pode se transformar num abusador, no caso
dela carregava uma culpa que não tinha.
Chegou à conclusão que fingia todos os orgasmos que não tinha. Quando falou isso com seu parceiro, ele
achou que Vidal a tinha enganado.
Foi
tomar satisfação.
Olha
não posso falar nada, porque ela é minha cliente, o que se fala com um
psiquiatra fica entre 4 paredes. O caso
não tem nada a ver contigo, apenas ela precisa se liberar desse bloqueio que
tem. Se a amas de verdade, a ajude.
Algumas
outras atrizes ao ouvirem falar que esta tinha ido falar com ele, corriam como
moscas, pois se ela fazia, queriam também.
Analisou cada uma, disse que não
podia ajuda-las, não tem nenhum problema que eu possa resolver.
As
pessoas quanto mais modernas, mais superficiais ficavam. Comentava isso com Idalina, ela concordava
com ele. As vezes escuto na rádio,
adorava escutar programas de rádio, as pessoas telefonam por problemas
considerados idiotas, mas são aduladas pelos apresentadores, que aconselham
superficialmente cada uma.
E a
mesma coisa, corro ao pai de santo, para pedir que jogue para mim, pois quero
saber o número premiado da loteria. Como
se isso fosse resolver o problema da sua vida.
Ele
bastava olhar para a pessoa, para saber o que tinha ido fazer ali, algumas
acreditavam que com uma matança, um oferecimento de comidas para o santo resolviam
o problema, em seguida de esqueciam que se tinham um santo, tinham que manter
viva essa chama.
Um dia
se enfrentou a um homem imenso, que vivia nos ginásios, as duas vezes que
apareceu, a primeira disse que queria fazer uma oferenda a Exu, pois as coisas
iam mal com ele. Jogou para o homem, Exu
não lhe pedia nada, ficou furioso, lhe disse que sim precisava conversar a
respeito dele mesmo. Voltou outra vez,
dizendo que precisava fazer uma para Xangô.
Meu
filho tens Xangô, mas teu pai de cabeça é outro, nenhum esta pedindo nada,
venha comigo, passemos a minha consulta.
Era uma sala confortável, toda branca, poltronas de orelha
confortável. Vou ser direto contigo,
pelo que vi no jogo. O teu problema é
outro completamente. Sentes atração por
outros homens, isso para ti é uma calamidade, crês que os Orixás te estão
provando para saber se realmente eres homem.
Verdade?
Sim.
Vê,
uma resposta simples, os Orixás jamais interferem nas tuas opções sexuais, te
sente frustrado, por isso maltratas o teu corpo, que perdão ao meu ver, está
ficando feio, pois colocaste na cabeça que tens que parecer forte, que não
desejas outro homem.
Meu
melhor amigo me disse isso, deixei de falar com ele, pois fiquei mais
perdido.
Pelo
jogo, vejo que tens atração por um homem em especial. Passe dele, pois significa problemas para
ti. O que tens é encontrar teu eu
verdadeiro. Ninguém te colocou nesse
armário como se diz hoje em dia, foi você mesmo. Procure teu amigo, fale com ele, quem sabe
ele te ajude a enfrentar a situação.
Ele
voltou na semana seguinte, sai da academia, vou a uma outra agora, estou
diminuindo o ritmo pois meu amigo é médico me avisou que posso ter problemas
por causa dos anabolizantes que andei tomando.
Quando
disse que tinha vindo aqui, ele perguntou se podia vir, fazer uma consulta.
Sim
pode.
Foi
interessante, era um homem completamente normal fisicamente, tinha um bom
corpo, mas sem ir ao ginásio. Comentou
que o conhecia de nome, pois tinha estagiado no Pinel, falavam muito de ti lá.
Sempre
invejei esse poder saber separar quais são os problemas dos pacientes, leio de
tudo a respeito.
O
primeiro que tens bloqueado, aparece aqui no jogo, é o teu instinto, mas isso
vem de muito tempo atrás. Houve uma
época na tua juventude que acreditava nele, mas isso lhe deu medo.
O
instinto funciona, como uma auto proteção de seu espírito, ao mesmo tempo, que
auxilia tua cabeça a pensar, a tomar decisões.
Fizeste psicologia, mais também para resolver teus problemas, mas isso
não aconteceu, pois eles foram se acumulando, foste jogando para baixo do
tapete, agora isso te faz tropeçar de vez em quando.
Quando
olhas para mim o que vês?
Vejo
um homem que conseguiu encontrar um equilíbrio entre o espírito e a razão.
Bom,
até pode ser isso, mas tudo tem seu preço, por esse dito cujo equilíbrio, as
pessoas têm medo de mim. Além claro
como sou pai de santo, me veem como um bruxo que vai prende-los para sempre.
Nada
mais longe da verdade. O mesmo se
passa, tens medo da solidão, o que te
falta é aprender a conviver com ela, encontrar razões porque escolhes estar
sempre sozinho, uma época pensavas que
estavas apaixonado pelo teu amigo, mas como o viste confuso, o alertaste, mas
correste dele, quando devia ficar ao seu lado.
Teus
sentimentos, consegue analisa-los?
De uma
certa maneira agora, sim, ele sempre foi meu melhor amigo, mas quando meteu na
cabeça essa de cuidar do seu corpo virando um sapo de tanto exercício, vi que
ia pelo caminho errado, por mais que eu falasse, não me escutava.
Pois é
as pessoas as vezes não gostam das interferências, na sua vida. Preferem errar, alias esse é um direito
delas, cabe aos amigos ficarem ao lado, para tentarem mostrar o verdadeiro
caminho.
E o
que estou sentido agora?
Estás
deslumbrado comigo, como eu falo contigo, também me sinto atraído por ti, mas
para ter algo contigo, tenho ter certeza que sais do teu casulo. Vamos
tentar desbloquear esse teu medo ao teu instinto, ver aonde chegamos.
Pediu
que ele fechasse os olhos, o colocou sentado em direção a floresta, vou contar
até três, se deixe levar pela floresta, sinta que caminhas descalço, seguro por
ela, vá me contando o que vê.
Primeiro
um largo silencio, viu que ao seu lado apareciam dois Orixás dele, que o iam
guiar pelo que queriam que ele descobrisse.
Sua cara foi se relaxando, vejo uma trilha, vou segui-la, é como esse
caminho, fosse usado muitas vezes, quando chegou no Iroco, falou de tudo que
estava vendo ali, dos dois Orixás que estavam atrás dele, de seus pais, que
pediam desculpas de terem atrofiado seu instinto, pensando que o
protegiam. Nunca o deixando
arriscar-se, na vida.
Depois
o escutou cantando uma música em Yoruba.
Foi se relaxando, chegando mesmo a dormir. Era uma nana, cantada por Oxum.
Quando
voltou a si, a primeira coisa que falou, essa senhora, de branco que me
acompanhou do lado direito, quem é?
É a
Oxum, ela cuida do teu equilíbrio, Xangô que estava do outro lado, te protege,
o que ia na tua frente é Exu, o guia dos caminhos, ele te dá o instinto para
saber a que lado correr ou se proteger.
Venha,
agora, vamos fazer essa caminhada em tempo real, foram entrando pela floresta,
ele deixou que ele fosse a frente, percorra o caminho que fizeste antes, até
chegar ao Iroco, se sentaram no chão, ele começou a falar em Yoruba, Jarbas
Vasconcelos, que era o cliente, entendia.
Sempre escutei essa linguagem nos meus sonhos.
Estão
realmente todos aí, verdade? Não é nada
da minha imaginação.
Não,
isso é um Iroco, uma árvore imensa, que no seu tronco abriga os espíritos, ou
Orixás, através dela pode ver teus seres queridos.
Quando
voltaram, Jarbas pegou sua mão e a beijou, bem no centro da palma da mão, a
fechou, me guarde para ti por favor.
Vou
tentar ajudar meu amigo.
Isso,
converse com ele, escute esse homem que está ao teu lado, o Exu, bem como a
sabedoria de Oxum. Quem sabe possas
ajuda-lo. Mas não o deixe confuso, ao
fazer isso, para que penses que o ama carnalmente, pois seria uma mentira.
Jarbas
agora vinha todas as semanas conversar com ele, falar dos seus avanços, vinha
depois do trabalho, ainda com a bata branca, se sentavam na varanda, olhando a
floresta, que o por do sol ia acariciando suas folhas.
Tens
um lugar magico aqui.
Sim,
esse lugar, Idalina, minha avô me salvaram a vida, fui criado por elas, minha avô apesar de judia, era filha de
santo, gostava desse mundo. Idalina,
foi criada nele, me amamentou, é minha verdadeira mãe.
Um dia
veio com seu amigo, o corpo já estava voltando ao normal, seguia um estrito
treinamento para que seu corpo não ficasse flácido. Não tomava mais anabolizantes, para diminuir
sua massa muscular. Na cara tinha um
sorriso de felicidade, reencontrei com meu amigo, graças a ti, agora estou
saindo com um rapaz que conheci, me
senti atraído, ele também, estou experimentando, procurando ser eu mesmo.
Quando
Jarbas voltou, disse que agora viria sempre como um amigo dele, que queria
outra coisa em relação a eles.
Experimentaram fazer sexo, foi como se dois corpos se transformassem em
um só.
Acabou
indo viver ali com ele. Pela primeira
vez era feliz nesse sentido, sabia que os Orixás tinha abençoado isso.
Ajudou
Jarbas a fazer todo o percurso com os Orixás, agora no meu trabalho no Pinel,
ficou mais fácil, as vezes dizem que eu me pareço contigo, nada sabe que estou
vivendo aqui.
As
vezes quando o caso era mais simples, passava para ele.
A
primeira viagem que fizeram juntos, foram a Nigéria a desculpa era um curso
sobre Yoruba, mas ele queria ver um Babalorixá com quem vinha sonhando
ultimamente. Foi difícil encontra-lo,
mas seguindo sua intuição, pois parecei que os outros tinha esse homem como um
tabu.
Numa
aldeia remota, descobriu que o mesmo, estava preso por um grupo de muçulmanos,
o iam vender como escravo.
O
comprou, só muito distante de lá, já cuidado e medicado. Chamei tanto teu Exu,
que ele te colocou a minha procura. Não
tenho nada para te ensinar, mas sim aprender, agora vivemos um momento difícil,
em que os muçulmanos vão ganhando espaço através do medo, da pressão em cima de
seus fiéis. Mas claro eles não tem a
magia do animismo.
Contou
que tinha estudado Yoruba desde jovem, que sabia ler o Ifá, mas que não era
santeiro, ou coisa parecida. Eu só sei
jogar os búzios, analisar a situação, tentar entender o que querem os Orixás.
Acabou
indo com eles para o Brasil, se encantou com a terra, mas disse que sua missão
não era no Rio de Janeiro, foi para a Bahia, ensinar Yoruba aos novos pais de
santo. Volta e meia chamava para
trocarem ideia.
Os
anos foram passando, um dia bateram na porta, levou um susto era sua mãe,
velha, mal vestida. Não tenho para aonde
ir, vim ver se podias me ajudar financeiramente, porque não tenho nem nunca
tive nada para dar a ninguém.
Tudo
seria sempre pelo dinheiro, quando perguntou aonde estava vivendo, soltou uma
risada nervosa, na garçonniere de teu pai, foi tudo que restou.
Por
que não vais para uma casa de maiores?
Que
vou fazer lá, jogar biriba, ou qualquer outra coisa com as velhas, quero sim
que me des uma mesada que tenho direito, afinal quer queira quer não te pari.
Ele
riu, exatamente, foste somente o meio que usei para chegar aqui, nada mais,
nunca foste minha mãe verdadeiramente.
Lhe deu um cartão do seu advogado, fale com ele, te dará um salário
mínimo por mês para sobreviveres. Viu
que ela ia reclamar, agora te toca viver o outro lado da moeda, das pessoas que
pisaste, maltrataste, nem cuidar do teu filho mais velho cuidaste, por isso,
verás esse lado, que ninguém quer cuidar de ti.
Foi
embora, resmungando, vou fazer um escândalo, verás, obrigarei os juízes a me
darem uma parte de tua fortuna.
Observando
como ia embora, mais parecia uma bruxa, só lhe faltava a vassoura. Meses depois foi avisado pela polícia que a
tinham encontrado morta na garçonniere. Alguém
a matou, pois limparam o apartamento.
Como os corredores tinham um sistema de vigilância, viram que chegavam
com um garoto jovem, desses que fazem sexo por dinheiro. Quando
o conseguiram reter, disse que ela não queria sexo, mas sim seu esperma para
passar na cara, para recuperar sua juventude.
Falou uma serie de mentiras, que
era rica, que frequentava os melhores salões da cidade, mas nem para roubar
tinha nada.
A
enterrou como era devido, ao lado do seu pai, nunca ia lá mesmo, detestava
entrar em cemitérios.
Mas
quando morreu Idalina, foi como se o mundo tivesse vindo abaixo, era a mãe que
ele conhecia, a amava como tal. Fez suas
últimas vontades, ser cremada, que suas cinzas ficassem no Iroco. Passou ir ao fim da tarde, se sentar aos
pés do Iroco para conversar com seus entes queridos.
Houve
um congresso no Rio de Janeiro, sobre o Yoruba, queriam que apresentasse alguma
coisa, disse que assistir podia assistir, ou mesmo sentar-se numa mesa de
debate, desde que viessem pessoas qualificadas da Nigéria e do Benin, mas
quando olhou a lista, eram todos de segunda, estavam vendendo como se fossem os
melhores, ele declinou o convite, disse não tinha muito tempo para perder com
essas coisas oficiais. Um dos mestres que ele não conhecia, foi
conversar com ele em sua casa. Escutou
tudo que o outro disse, eu fui o único que não fui escolhido pelo governo, o de
lá como o daqui são coniventes em muitas coisas, mas esses professores que
vieram, ganharam isso como um agradecimento do governo, por não falar mal
deles.
Ficaram
até tarde conversando, o senhor conhece a derivação do Yoruba, da região
noroeste do pais?
Sim
estive lá estudando, talvez seja a mais gutural, com muitos estalos de língua,
sons que não fazem parte da tradução gramatical. Muitos Orixás, usam essa derivação, quando
querem falar, para que os outros não entendam.
Exato,
pediu perdão ao Jarbas, que não conhecia direito. Começaram os dois a conversar, falavam
rápido, com esses sons todos, riram no final.
Eu te proponho uma coisa, quero avançar nisso. Podemos os dois falar sobre o significado
desses sons no congresso, fazendo uma interpretação do que dizem os Orixás,
reais. No que Vidal olhou, atrás do
outro, conhecido como mestre passarinho, um Exu enorme sorria para o seu. Os dois são parentes.
Jarbas
ficaras de mediador, os deixaremos incorporar, que eles falem o que queiram,
mas queremos que grave isso.
Jarbas
ficou como louco, era como uma batalha verbal entre duas pessoas, com milhões
de estalos, sons diferentes, eles mesmo foram tirando as cadeiras do lugar,
transformando a sala numa palco de teatro de Arena, essa era a ideia,
fazer como se fosse uma arena.
Pediriam
isso que a plateia fosse transformada numa imensa arena.
No dia
seguinte escutou o diretor do Congresso, felicitando o Mestre Passarinho, ter
convencido a grande pessoa que era Vidal Shorn, para participar de um debate
como uma arena, sobre linguística de uma região específica.
Vidal
como sempre, com seu traje branco, com um turbante próprio de Exu, cedeu
primeiro a palavra ao Mestre Passarinho.
Pelo
que conhecemos da história, divulgada pelos Griots, os contadores das historias
dos Orixás em especial, eles vieram dessa região da qual falaremos a maneira
especial de falar o Yoruba. Dizem que
os Orixás são originários deste lugar.
A verdade é que a historia dos Orixás, como de todas as religiões foram
deturpadas com o passar dos séculos.
Mas os Griots desse região se mantiveram aferrados a essa casta. Agora vamos representar o que sempre
acontece, se um Orixá é desta região, ao traduzi-lo, para quem consulta,
normalmente se perde coisas, os pais de santos ou Babalorixá, são humanos,
poucos sabem dessas variações todas, eu sou originário dessa região, o Baba
Vidal, esteve muitos anos por lá. Ainda hoje se desenvolve muito bem com isso.
Queremos
saber quem de vocês ao final, entenderam todas as mensagens, quero avisar que
poderão receber críticas dos
Orixás, no meio disso. Pessoalmente pedimos desculpas, pois não
poderemos criticar o que dizem.
Sem
dar tempo, ao tempo, cada um de seu lado da arena, se deixou incorporar.
A
plateia primeiro levou um susto, já havia uma diferença impressionante entre os
dois, Vidal, branco, com seus cabelos brancos que pareciam de um leão, do outro
lado o Mestre Passarinho, que parecia um gafanhoto negro retinto.
Os
dois deram um salto altíssimo, que pegou todo mundo desprevenido, começara uma
verdadeira batalha verbal contando numa linguagem rápida, tudo sobre os orixás,
bem como suas adaptações, tanto no candomblé, original, como o da Bahia, as
confusões provocadas por não falarem direito.
Jarbas
que já tinha visto, filmava a cara dos participantes, era de espanto geral,
depois que acabaram as histórias, começaram agora uma batalha com os que
estavam ali assistindo, tinham combinado que mestre Passarinho o faria com os
brasileiros, ele com os africanos.
Mestre
passarinho foi para um pai de santo que parecia mais um papa de tantas joias,
roupas finíssimas, rebordadas. Começou
falando com ele num Yoruba coloquial, ao que o outro perdia a metade do que ele
dizia. O senhor entende de Yoruba
afinal?
Ele
balançava a cabeça firmemente, a voz que se escutou era diferente, mentes, a
muito tempo deixei de dar sinal, nunca entendes as mensagens que te digo, não é
como esses dois que veem o orixá que fala.
Finges entender, mas mesmo ao ler os búzios, não entendes a linguagem,
mas tens boa lábia, para cada trabalho ganhas muito dinheiro, para fachada, diz
que são para um orfanato, mas mentira.
O
homem se levantou descomposto, filhos da puta, isso é uma arapuca, no que quis
se lançar em cima do Mestre Passarinho, com um gesto ele ficou no ar. Só desceras daí, quando reconheceres que nem
sabem quem eu sou, ou seja um embusteiro.
Agora
foi a vez do Vidal, com um babalorixá que tinha vindo acompanhado de uma
verdadeira entourage, com roupas rebordadas, era o babalorixá oficial do
governo.
Foi a
mesma confusão. Cito, no dia 2 de
novembro do ano passado, o senhor induziu o presidente a provocar uma
manifestação, quando seu Orixá pedia ao contrário, depois disso, ele nunca mais
se aproximou de vôs.
Mentira,
da plateia se levantou uma pessoa que tinha vindo com ele, possuído pelo seu
Exu, esse o chamou de filho da puta para baixo.
O
organizador estava tremendamente horrorizado, mas viu que 90% dos que estavam
ali, estavam tentando entender tudo que se dizia.
Mestre
Passarinho, perguntou a um jovem Baba, se ele entendia, tudo que eram as
mensagens.
Realmente
Mestre Passarinho, não, lido com a dificuldade, que primeiro falo um Yoruba
deficiente, segundo nunca entendo as nuances que vocês falam. Tento seguir meu instinto, mas fica difícil.
Quando
terminaram, se viram cercados pelos participantes, pois tinha sido a coisa mais
interessante durante todo o congresso. Instigante
dizia um, os da Nigéria dizia que o governo dificultava a ida até essa
região.
O Ifá,
não tem barreiras meu irmão, quando chegas a qualquer vilarejo do interior, os velhos falam Yoruba, basta
apenas escutar os estalos os sons feitos com a boca que são complementações das
palavras.
O
organizador, só pode agradecer a presença deles, pois tinham conseguido
transformar o congresso no último dia em algo interessante. Ele mesmo reconheceu que seu Yoruba era
deficiente.
Convidou
Mestre Passarinho, para passar uma temporada dando aulas. Ele ia comentar algo, mas Vidal lhe fez um
sinal.
Depois
lhe explicou, você vem de fora, será bem recebido, mas eu como sou branco e
daqui não, sempre haverá um problema.
Acho interessante que o senhor fiquei para melhorar o entendimento da língua
e do Ifá.
Passou-se
dois anos Mestre Passarinho vinha de uma gira pela Bahia, estava decepcionado,
aonde nasceu tudo nesse pais, ignoram tudo, cada pai de santo fala o seu
Yoruba, se crê dono de uma língua que não tem dono, sim uma tradição oral.
A
daqui foi igual, se dois entenderam as nuances foi muito, acho que o melhor é
retornar ao meu Pais, riu dizendo, serei recebido como um herói, por ter ido ao
uma pais imenso, resgatar nossa língua.
O
levaram ao Aeroporto para se despedir.
Ele
entendia que era difícil, ensinar isso, pois uma letra podia ter numa palavra,
uma quantidade de sons diferentes como se fosse uma pronúncia. O que eles falavam não era tanto saber falar
a língua, mas entender essas nuances para traduzir a quem perguntava, direito.
Depois
de 15 anos Vidal, já não estava para grandes confusões, o que queria, era poder
sentar-se embaixo do seu Iroco, conversar, entender alguma coisa diferente.
Morreu
ali um dia dobrado sobre si mesmo rezando. Tinha feito um testamento, complexo,
sabia que Jarbas sonhava em ir viver na Africa, ele não podia deixar seu
espaço. Então sua herança era dinheiro
para o Jarbas ir viver o tempo que quisesse, enquanto isso, a casa seria
cuidada, para um futuro. No local
tinham dois empregados que vinham regularmente limpar a casa, arejar.
Quando
Jarbas voltou um tanto decepcionado, levou uma baita surpresa, um dia encontrou
um negrinho, sentado justo embaixo do Iroco, conversando tranquilamente com os
Orixás.
A
Mensagem que ele recebeu, era esse garoto é mais dotado que nos dois juntos,
ele deve ser preparado, é necessário que você o adote como teu filho, para que
ele possa ir em frente aqui mesmo.
Jarbas
pelo menos tinha uma missão pela frente, um dos seus hábitos era sentar-se com
o garoto embaixo do Iroco, recebendo orientações. O
garoto tinha tal poder, que quando jogava os búzios, os via ao cair, sabia qual
a posição, bem como o que queria dizer.
O
proteja Jarbas, para que os outros não se apoderem de seu saber.
Foi
feito o mais jovem Babalorixá do Brasil, com somente 16 anos, os que vinham
consulta-lo, ficaram pasmo, com como dizia o que tinha lido em pleno ar. As nuances todos faziam parte do seu ser
interior.
![]()
No hay comentarios:
Publicar un comentario