Tinha escapado
outra vez da casa aonde estava sob custodia, era sempre mais o mesmo, queriam
abusar dele. Agora com 16 anos, já não
era um tonto, com 12 anos tinha conseguido escapar, delatar o sujeito que
estava abusando dele. Um pédofilo
procurado, tinha sido vendido basicamente pelo sistema. Quando o recolheram, prometeram que se
testemunhava contra o sujeito, cuidariam dele.
Nada aconteceu, acabou o juízo, foi levado para um albergue de menores,
de aonde não podia sair, em seguida, outra vez sobre a guarda de uma família
que era desconcertantes, pois ora o homem, ora a mulher invadiam seu quarto
atrás de sexo.
A mulher dizia
que a culpa era dele, ser um moreno tão bonito.
Nem sabia direito
quem era, pois tinha ido passando de mãe em mãe, o que se dizia seu pai, era um
louco de muito cuidado, tinha uma aparência espetacular. Fazia com que as jovens se apaixonassem por
ele, dizia que precisava de alguém para ajudar a cuidar do filho, quando a
coitada já estava na sua rede a colocava para se prostituir, passar drogas. Elas nunca o denunciavam pois achavam que ele
as ajudaria. Só uma não caiu nesse
conto, o denunciou, foi preso, condenado, descobriram muitas coisas no seu
passado. O teste de ADN, dele, não coincidia
com o meu, fui levado em seguida para um orfanato. De lá adotado num sistema mal cuidado por um
casal, logo fui vendido. Assim fui
levando a vida.
Desta vez tinha
jurado que não voltaria para o sistema de governo, ia arrumar minha vida de
qualquer maneira.
Estava ali na
parada de ônibus, abaixo de uma chuva torrencial, quando parou um carro ao seu
lado, o sujeito já tinha passado antes, ele sabia o que o homem estava
buscando. A conversa mole, queres
companhia nessa chuva toda. Esta
ameaçando um temporal de fazer gosto. Venha moro perto.
Ele aceitou, pelo
menos, quem sabe podia dormir numa cama.
Mas mais uma vez viu que tinha errado no seu juízo. O sujeito era daqueles, cheio de músculos,
forte, com a cabeça raspada, apesar de tudo conforme o ângulo, era bonito.
Quando entraram
na casa, ele já temendo o pior, ficou de sobreaviso. Viu que o homem tinha todas as janelas
fechadas por dentro com cadeado, a porta da cozinha também, o banheiro tinha a
janela tapada. Mal entraram ele fechou a
porta com outro cadeado, estava prisioneiro.
O mesmo disse como desculpa, estavam na zona dos tornados. Estava ameaçando um, que parecia
forte. Realmente o vento fazia um ruído
na casa imenso.
Tentou alcançar
as chaves, que estavam presas na calça do homem, este lhe deu um murro no peito
o jogando longe. Não tente me roubar.
Eu só quero a
chave do cadeado para ir embora.
Nada disso, ainda
não fizemos sexo, garanto que vamos fazer muito.
O levou para a
parte de baixo da casa, aonde ele viu, aqui posso gritar, que ninguém vai me
escutar. Porra estou fudido.
Viu ali toda
espécie de aparelhos para musculatura.
O sujeito, simplesmente arrancou sua roupa, mas quando ele pensou agora
ele vai me arrebentar, nada, ficou parado olhando para seu sexo. Não me enganei, poderemos nos divertir
horrores. Começou a o provocar de todas
as maneiras, mas ele estava desesperado, não conseguia ficar excitado. O homem o algemou mesmo ele lutando contra
ele, numa tabua que estava ali meio inclinada.
O fez cheirar algo de um vidro, mesmo contra sua vontade ficou com o
sexo duro. O outro fez de tudo com ele,
não podia se mexer ou defender. Tentou
com as pernas dar-lhe patadas, levou foi um puta murro na cara.
Tens que
colaborar bonitão, pretendo fazer muitos vídeos contigo. Os velhos vão adorar, ver esse caralho
bonito, moreno.
O deixou ali, ele
escutava movimento no andar de cima, mas perdeu a noção se era dia ou
noite. Vou ter que ser engenhoso se
quero sair daqui.
Ele desceu com um
prato com um sanduiche, coca cola de lata, o soltou, vê se te comporta, abriu
um armário que estava na parede, feito de madeira bruta. Viu uma quantidade de CDs arrumado em
fila. Tudo garotos com quem fiz sexo.
Todos
colaboraram, depois foram embora tranquilos, pelo sorriso dele, viu que de
tranquilos nada.
Ele colocou uma
rádio, com notícias, está dizia que o tornado alcançaria terra dentro de
momentos, que todos estivessem abrigados. Talvez seja minha chance nesse momento, o
homem olhava para ele, passando a língua nos lábios. Não terei como escapar disso, seu caralho
ainda estava sob efeito do que ele o tinha feito cheirar. Passava por ele o alisava, tentava beija-lo.
Mas era bruto em tudo que fazia. Ouviram
um estrondo imenso, parecia que a casa se balançava, ele subiu correndo a
escada, tinha certeza que se ficasse o homem o mataria, ficaram correndo na
parte de cima, como num jogo de gato atrás do rato, não havia muito aonde se
esconder, num determinado momento, quando já estava quase sem folego, ele foi
se aproximando, com uma faca na mão, desta vez tu passaste não acabou a frase,
o teto inteiro desabou em cima dele, as vigas todas da casa de madeira, caíram
sobre suas costas. Ele correu na parte
de baixo, procurou roupa para vestir, encontrou roupa que devia ter sido de
algum outro garoto, cheiravam a mijo, seja quem fosse tinha mijado na calça,
não importava, uma camiseta que também cheirava a mal, escutou outro estrondo, se caia mais uma
parte da casa.
Apesar das luzes
piscando, viu que no armário aberto, tinham um portátil, bem como uma caixa de
metal. As chaves estavam na porta, procurou uma que pudesse abrir a caixa, dentro
muito dinheiro, bem como uma agenda de direções, deviam ser seus clientes. Na parte de baixo viu uma mochila de couro
negra, enfiou o dinheiro dentro de um saco de plástico meteu tudo ali.
Buscou um casaco
para sair no meio do temporal. Calçou
seus tênis velhos, ainda dava para usar, todos seus movimentos eram
automáticos, desesperados.
Pegou uma barra,
que dessas que se usam para colocar pesos, subiu, viu que ele tentava sair
debaixo das vigas. Chegou por detrás,
acertou na sua cabeça a barra várias vezes, viu quando ele caiu. Foi a cozinha
lavou a barra, desceu, a colocando no lugar. Esses anos todos presos em casas
desconhecidas, aonde o que podia fazer era ver filmes, por puro instintos,
pensou tenho que destruir tudo, levou as chaves para cima, abriu a porta da
cozinha, que dava para uma garagem. O
carro estava ali, viu vários galões com líquidos amarelos, cheirou, era
gasolina, subiu com dois, foi jogando nos moveis, gastou esses dois, voltou por
mais, um derramou pela escada abaixo, inclusive no armário. Foi até o homem, se lembrou de um filme que
o sujeito coloca o celular no micro-ondas, esse explode, colocando fogo na
casa, de um outro filme Shooter o ator Mark Wahlberg, explode a casa, rompendo
a tubulação do gás, procura como tinha
visto no filme a ligação, a rompe abre a porta da cozinha, joga uma caixa de
fosforo que estava por ali, na gasolina, foi como se iniciou o incêndio. A explosão já escutou um tempo depois
escondido detrás de um tronco de árvore imenso que tinha caído com o tornado.
Depois correu o mais
que pôde, com a mochila nas costa, com a chuva lhe atrapalhando a visão, vais
adiante, viu como um celeiro, a casa tinha voado inteira, mas o celeiro só
estava inclinado, não viu viva alma.
Ali encontrou um baú cheio de roupas de algum garoto de seu tamanho,
inclusive umas botas, de couro. Trocou
rapidamente a roupa molhada, a colocando num saco de lixo. Como lhe ficavam bem, escolheu mais uma
calça jeans velhas, bem como camisa de quadros, camisetas, uma cueca já amarela
pelo tempo.
Nesse momento a
chuva e o vento, deram uma parada, saiu correndo, por detrás se via uma estrada
em direção a cidade de aonde tinha vindo.
Sabia que a parada não estava muito longe, viu ao longe ainda as chamas da
explosão. Correu tudo que pode. Quando estava na parada passou uma senhora
num chevrolet velho, parou dizendo, hoje não creio que apareça ônibus nenhum
por aqui, vou a cidade mais próxima, que está fora do círculo do furacão, esse
vai voltar logo, é um perigo ficar ai.
Era uma senhora de idade.
Não parou de
falar, sem perguntar nada a ele, minha casa ficou arrasada, o celeiro meio
caído, menos mal que me abriguei na casa de uma vizinha que é de material
resistente, vou para a casa da minha filha, os telefones não funcionam. Parece que a casa do homem estranho que se
mudou a meses atrás, foi destruída por uma explosão. Aquele homem me metia medo.
Estava sempre com
todas as janelas fechadas. O único
momento que perguntou o que fazia ele por ali.
Estava esperando um ônibus, para ir para San Francisco, foi o nome que
saiu nesse momento.
Então te deixo na
estação de ônibus. Acho que tem um que
sai dentro de duas horas, disse olhando seu relógio. Como é seu nome?
Mark Berg, disse
usando o nome do ator, mas só o final de seu sobrenome.
Muito bem Mark,
espero que o tornado não alcance o ônibus, riu muito de sua piada.
O deixou justo na
frente da estação. Espere, abriu uma
bolsa que estava no chão, minha amiga é exagerada, me deu dois sanduiches
imensos, não acredito que bar da estação esteja funcionando. Pelo
menos ainda estava seco.
Viu numa placa
que o ônibus para San Diego saia em 15 minutos, correu ao guichê, pedindo um
bilhete, o homem mal olhou, se tivesse olhado, teria visto um garoto assustado.
Até a metade do
caminho, só tenho um lugar no final do ônibus, depois troque de lugar.
A ele lhe
importava uma merda isso, pagou, entrou correndo no andem da estação, viu aonde
estava o ônibus, o condutor já estava dentro, vamos, que o temporal volta em
minutos, se consigo pegar a estrada, será mais fácil.
Mesmo assim o
começo da viagem foi emocionante, pois ao longe conseguiam ver os estragos que
fazia o furacão, animais voando, telhados desaparecendo num sopro. Parecia um filme de ação, ficou colado a
janela, até que toda essa paisagem desapareceu, ficou escuro como a noite,
começou a chover sem parar. Na parada
seguinte, uma família que estava mais à frente desceu, mas não subiu ninguém, o
condutor ainda esperou uns minutos, mas nada.
Creio que com esse tempo desistiram da viagem. Seguiu o caminho, ele mudou de lugar, pois o
final do ônibus era desconfortável. Em seguida
se relaxou, usou a mochila que com as roupas, lhe serviam de travesseiro, ao
mesmo tempo que a protegia com o dinheiro que tinha dentro.
Não tinha ideia
de quanto tinha, mas era algo para ele começar a vida. Dois dias e meio depois
iria chegar a San Diego, ficou tentado em várias cidades a descer,
principalmente em San Antonio, ou Tucson, ao descer na Estação, mudou de
pensamento, se me buscam, irão a San Diego, comprou um bilhete para San Antonio, tinha
deixado no ar, San Francisco e San Diego, se é que iam procura-lo.
Quando chegou a
San Antonio, buscou um hotel pequeno para se hospedar. Nessa noite contou o dinheiro que tinha na
mochila, tinha mais de dez mil dólares em notas grandes. Uau pensou, posso me virar, mas na verdade
preferia procurar um trabalho. Entrou
numa loja que vendia de tudo, comprou umas calças, bermudas de surfistas, duas
camisetas, cuecas e meias, viu um tênis barato também colocou no carrinho.
No caixa quando
estava pagando, perguntou se não sabia de nenhum emprego para um jovem, preciso
trabalhar.
O homem chamou
uma senhora de cabelos compridos brancos que estava falando com outra
senhora. Melissa, não procuravas alguém
para fazer pequenos serviços, o rapaz está procurando emprego.
Ela o olhou de
cima a baixo, que sabes fazer?
De tudo um pouco,
vivi em casas de acolhida, aonde me faziam trabalhar de tudo, até cozinhar um
pouco eu sei. A mim me basta olhar para
aprender, gosto de prestar atenção aos outros trabalhando, nunca se sabe se vamos
precisar ou não.
Como te chamas?
Mark Berg, nem
sei por que tenho esse nome, já que meu pai era mexicano, minha mãe não sei,
pois nunca a conheci.
Bom eu moro perto
da praia, posso precisar que venhas comprar material para mim, passar máquina
no jardim que dá para a praia, as vezes preciso de algumas coisas da cidade.
Sabes conduzir?
Não mas posso
aprender, ou posso ir de ônibus se for longe, ou andando se for perto.
Bom tenho um
pequeno apartamento no fundo da casa que antigamente quando vinham muitos
surfista por aqui eu alugava, mas acabavam me dando dor de cabeça. Podes ficar lá, tem cama, banheiro com
chuveiro, até uma pequena piscina.
Ela transmitia
confiança. Na caminhonete velha, foi dizendo que era pintora, mas hoje em dia
vivendo de sua velha gloria, pois ninguém se interessava mais por seu tipo de
pintura, herdei de meu marido, essa casa, por isso vivo aqui. Não é nada demais, na verdade não passa de
uma cabana, no meio dessas casas de veraneio.
Tens bagagem?
Não senhora, só o
que acabei de comprar, essa mochila, com outra muda de roupa, mas a cueca já está
cheirando mal, bem como a bota. Tenho
que jogar fora, pois estiveram molhadas, nem eu aguento o cheiro.
Devias ter
comprado um chinelo para andar pela praia, mas no puxado atrás, deve ter alguma
esquecida pelos surfistas.
Quando chegaram
mostrou primeiro o lugar para ele, ficava na frente da praia, ele ficou
deslumbrado, era muito bonito. Depois de
colocar o carro num puxado ao lado da casa, lhe mostrou o que ela chamava de
apartamento, era um quarto comprido, com
uma cozinha num armário, bem como um banheiro pequeno, mas ele podia tomar o
banho ali.
Devias ter
comprado escova de dentes, sabonete, bom eu te arrumo isso, da próxima vez,
compras, reponha na minha dispensa. Venha
lhe vou dar uma toalha de banho, roupa de cama, depois também compras para ti,
pois sou muito desligada, sempre me esqueço de comprar essas coisas. A cozinha de sua casa era boa, grande, ali
estava a televisão, com duas poltronas, faço meu final de dia aqui, ou sentada
na varanda vendo o por do sol. Não
gosto muito de cozinhar, faço o básico.
De noite sanduiches. Ao falar
isso a barriga dele começou a roncar.
Ela riu, toma a
toalha o sabonete, a roupa de cama, tome um banho, jogue essa roupa suja no
lixo, bem como essa bota, agora sinto o cheiro.
Ele fez isso,
quando saiu do banho, ela o chamou, vamos sentar na varanda da frente, olhar o
pol do sol acompanhada, será bom, deu
uma lata de coca cola para ele, atravessaram o salão ele ficou de boca aberta,
o salão era seu studio de pintura, ficou parado na frente de um quadro que era
a paisagem de um por do sol. Chegou a
sentir lagrimas nos olhos de tão bonito que era.
Ela sorriu, ganhaste
meu coração garoto. Amanhã durante o
dia, me limpas o studio, eu te mostro meu trabalho. Se sentaram fora, ficaram vendo o por do
sol em silencio, era impressionante, a
praia estava vazia.
No sábado iremos
a um lugar que fazem um mercado, isso se fizer sol, ali aproveito para vender telas pequenas com
paisagens, que uso como dinheiro para comprar material, algo de comida. Assim economizo, me ocupo também, enquanto
não vem o click para pintar algo grande.
Se sentia bem ali
com o corpo lavado, a cabeça parecia que tinha barro de tanta sujeira que saiu.
Ficou super contente.
Ela disse que
gostava de dormir cedo, no verão é mais problemático, porque tem muito turista,
no final de semana sempre, gente que vem ou de San Francisco, ou de Los
Angeles, que tem casa aqui na praia.
Se tem ondas,
muitos surfistas, jovens, os que tem carro, essas coisas vão a outras praias.
Pela primeira vez
em dias dormiu contente, enfiou a mochila no fundo da cama, se ela tentasse
pegar, ele saberia.
Mas acabou
dormindo como uma pedra, só despertou com o ruído na casa. Se levantou lavou a cara, colocou uma
camiseta nova, as bermudas de surfista, como ela disse, ali tinha uma sandália
dessas de dedo. Descobriu também uma
bicicleta que os pneus estavam murchos além de um skate. Isso ele sabia usar.
Ela o chamou para
tomar café. Depois o levou para o
studio, varra tudo por aqui, tinha um pote cheio de pinceis sujos, ela lhe
ensinou como limpar, como os deixar secando.
Tinha um bloco imenso num cavalete preso com uma pinças, o desenho de um
homem, velho, cheio de rugas.
Ao lado uma foto de aonde estava tirando o desenho. De um viagem a Marrocos que fui, a muitos anos atrás com meu marido, ele escrevia, eu pintava, ficamos mais ou menos 3 anos percorrendo o Pais, por isso tenho muitas fotos que estou usando agora.
Ao lado uma foto de aonde estava tirando o desenho. De um viagem a Marrocos que fui, a muitos anos atrás com meu marido, ele escrevia, eu pintava, ficamos mais ou menos 3 anos percorrendo o Pais, por isso tenho muitas fotos que estou usando agora.
Veja esse quadro,
era uma garota, com um menino pendurado atrás, recolhendo ervas, muito bonito,
a expressão da garota era de tristeza.
Quando comentou isso, rapidamente ela respondeu, a vida das mulheres
nesse lugares é uma merda, estão desde criança fadadas a serem uma mulas de
carga. Os homens não fazem grande
coisa, a maioria fica rezando ao Alah, tomando chá.
Quando ele acabou
de limpar os pinceis, pediu que limpasse umas espátulas, tenho horror a fazer
isso, com os anos piorou, explicou como se limpava, deixar de molho, ir
raspando uma com a outra.
Olhe a geladeira,
vê se consegue preparar algo de comida com o que tem. Para mim pode tostar pão.
Ele olhou,
procurou aonde cozinhar, preparou uma salada com o que tinha na geladeira,
depois fez ovos fritos dois para cada um, tostou o pão.
Quando a chamou,
teve que o fazer várias vezes, estava tão concentrada no que fazia que não via
mais nada.
A chamou de
perto, ela levou um susto, me esqueci de ti.
A comida vai
esfriar.
Se sentaram para
comer, disse que os ovos estavam como ela gostava, para molhar com o pão, me
lembre de te dar dinheiro para comprar comida no supermercado, lhe explicou
como ir.
Vou arrumar
aquela bicicleta que está no quarto detrás.
Era do meu
marido, creio que ao lado do supermercado tem um senhor que arruma. Ele sempre
levava lá.
Lhe deu dinheiro,
para compras, a bicicleta ele disse que tinha um pouco de dinheiro. Foi andando até aonde ela tinha falado,
deixou a bicicleta com o homem, que ia arrumar enquanto ele fazia compra. Tinha olhado tudo que faltava na geladeira.
Anotou mentalmente, não sabia escrever direito, ler sim, mas escrever tinha
dificuldade.
Comprou com seu
dinheiro, blocos de desenho, lápis de cor, um estojo de aquarela de criança, de
tarde se sentou olhando o mar, foi desenhando, depois tentou usar a aquarela,
ria como uma criança, porque ia fazendo por intuição, não notou que Melissa
estava atrás dele olhando.
Não está mal, mas
o papel não é apropriado para isso, espere, foi buscar um bloco especial para
aquarela, lhe explicou como se fazia. Tens quer ser rápido, pois o papel
absorve a tinta, precisas tentar colocar uma por cima da outra para dar certo,
fez um exemplo para ele. Entendeu?
Sim, vou
experimentar, um pouco depois fazia numa velocidade boa para quem faz aquarela.
Ela ficou
admirada com a destreza dele, foi ensinando ele a trabalhar. No final de semana, se sentou depois de suas
obrigações, observando os surfistas, pintando os mesmo, ia fazendo tirando a
folha do Bloco para secar, as vezes
retornava a mesma para mais alguns detalhes.
Melissa estava
encantada com o trabalho, lhe ensinou como fazer sua assinatura, com um pincel
mais fino. Podes fazer um M.B. junto o ano.
Assim documentas que época pintaste isso.
Ele sorriu sem
graça, disse para ela, na verdade não sei meu nome, pequei esse nome de um ator
de cinema, abreviei para não ser igual ao dele, Porque para mim é difícil
escrever o nome inteiro dele.
Não sabes escrever?
Muito mal, nunca
ia a escola tempo demais, pois ou era abandonado, ou ia para outra família,
algumas não me colocavam em nenhuma escola, queriam o dinheiro que o governo
paga para elas.
Vamos resolver
isso, vou arrumar uma professora para ti, mas tens que te aplicar.
Tinha uma vizinha
na parte de trás, tão antiga como ela ali na praia, tinha sido professora,
quando ele lhe quis pagar. Disse
que não cobrava, porque seria uma distração para ela, se aborrecia de não ter o
que fazer. Ficou pasma com a
facilidade que ele tinha de aprender, misturada como desejo de saber mais. Ensinou tudo o que pode para ele, inclusive
matemática prática, de como conferir um troco, coisas assim. Uma vez por semana ele fazia compras para ela
nunca ficava com o troco, prestava contas exatas. Melissa achava isso engraçado, porque os de
sua idade, com certeza iriam ficar com o troco.
Sempre tirava
tempo para andar de skate pela linha de praia, pois mais adiante havia uma
avenida que na verdade não passavam carros, era como um passeio largo
acompanhando a praia.
Depois se sentava
ali na frente da casa, desenhando ou fazendo aquarelas, quanto teve uma boa
quantidade, acompanhou Melissa a feira, ajudou a carregar a barraca que ela
usava, a arrumar os quadros pequenos, o ensinou a colocar as aquarelas, num
envelope, que um lado era transparente.
Resulta que no primeiro dia ele vendeu todos, gostavam da coisa do surf.
Para a próxima
prepare mais, vou te ensinar a trabalhar com tinta acrílica, que pode ficar melhor,
preparou das duas coisas, um dia ficou de boca aberta, ao longe apareceu um
veleiro, ele foi desenhando a aproximação do mesmo, depois ficou na linha atrás
dos surfistas. Ele desenhou e pintou os
dois juntos.
No dia da feira,
foi vendendo, até que parou um casal na frente deles, dizendo olha nosso
veleiro aqui, o rapaz nos acompanhou.
Era um homem alto, com uma mulher muito bonita, um rapaz da idade
dele. O
mesmo disse que o tinha visto desenhando na praia.
Não sabes fazer
surf?
Não, mas gosto de
olhar mais do que pensar em fazer.
Nos dias de feira
de peixes, ia ficava anotando detalhes dos peixes, passou a ilustrar com eles
seus desenhos. Cada vez ia acrescentando
mais coisas.
Os anos foram
passando, quando acreditava que fazia 18 anos, já tinha aprendido a conduzir a
caminhoneta de Melissa. Mas precisa de
documentos.
Um dia a viu
remexendo umas gavetas, procurando documentos.
Até que achou.
Meu filho morreu
no Marrocos, contraiu uma doença, nunca disse aqui que tinha morrido, que achas
de usar o nome dele oficialmente.
Como era o nome
dele?
Robert
Montgomery, mas podes seguir usando esse de Mark Berg como se fosse teu nome
artístico, fica melhor.
Foi com ele,
tirar os documentos, meu filho precisa de seus documentos, para tirar carteira
de motorista. Atualizaram tudo,
oficialmente ele era agora Robert Montgomery, além de filho da Melissa.
Agora ela a
levava a todos os lados, um dia pediu para colocar na caminhoneta os quadros
grandes que estava no studio. Os
embalou todos antes, depois entre um e outro, colocou lençóis velhos que ela
usava para limpar pinceis.
Quando chegaram a
San Francisco, ela tomou a direção, pois conhecia o caminho aonde iam.
Foram a uma
galeria, que comprou todos os quadros dela.
Dali foram a um banco, ela abriu uma conta no nome dele, depositando
tudo. Assim se me acontece alguma coisa,
estas coberto, depois ela foi a um advogado, lhe mostrou ali perto uma loja de
material de pintura, os alunos de Belas Artes, compram ali. Leva meu cartão de artista, diga que é uma
encomenda para mim, olhe o que queiras, assim podes seguir pintando. Ele fez
todas as encomendas dela, foram dormir num hotel, ela se registrou com seu
nome, o apresentou como seu filho.
No dia seguinte
foram visitar um museu, que ela queria mostrar umas obras suas antigas, que
vais gostar, são de uma época que pensava diferente.
Tinha um muito
grande, ele ficou sentando num banco mais atrás admirando. Te sentias exuberante não é, qual idade
tinhas.
Quando ela disse,
ele sorriu, estavas solteira e apaixonada, não é verdade.
Sim, mas era por
outro homem, o verdadeiro pai de meu filho, me abandonou no dia que ele nasceu,
disse que não tinha madeira para ser pai.
Mas quando me
casei, meu marido adotou meu filho.
Infelizmente ele não viveu muito, tinha uma saúde frágil, no Marrocos
contraiu uma doença normal ali nas crianças, mas não resistiu.
Agora que falas
nisso, quando eu morrer levas minhas cinzas para enterrar com ele, vou deixar
escrito aonde ok. Foi em Fez uma das
antigas capitais do pais. Foi lhe
falando da cidade, da sua cor, do Zocco, era como se ele estivesse vendo, eram
tantos os detalhes que ele ficou com a cabeça cheia. Em casa tenho uma serie de fotografias de
lá, depois te mostro.
Agora dava aulas
para ele de pintura a óleo, lhe foi aumentando o tamanho dos quadros, em breve
os dois dividiam o studio.
Um ano depois,
estava trabalhando, quando olhou para ela, estava sentada, sem se mover, ficou
assustado, chamou uma ambulância como tinha aprendido fazer. Eles a levaram para o hospital, ela tinha
tido um pequeno enfarte, mas em consequência disso passou a ter os movimentos
complicados, ficava horas sentada na varanda, as vezes a via falando com
alguém. Um dia perguntou com
quem falava. Com meu marido, com meu
filho, amigos que já partiram. Explicou
a ele o que deveria fazer se ela morresse, quero ser cremada, nada de missas ou
qualquer outra coisa. Lhe entregou um
cartão, chames imediatamente esse advogado. Se for num final de semana, chame
esse outro número que é o seu particular.
Escreveu num papel tudo como queria.
Ele pediu se ela
podia posar para ele, fez um quadro grande dela sentada numa cadeira da varanda
dessas trançadas, com um vestido florido que tinha, com seus imensos cabelos
brancos soltos pelos ombros. Ele
pensou que não conseguiria, mas ela ficou emocionada ao se ver através dos
olhos dele.
Está perfeito meu
filho, agora só o chamava assim, nunca podia imaginar que herdasses de mim o
talento, as vezes confundia realmente ele com o filho que tinha tido, o
chamando inclusive de Robert ou Bob.
Os da galeria
vieram visita-la, ela pediu para ele mostrar todos os quadros que tinha feito
do Marrocos a partir das fotografias dela.
Parece como se estivesses lá, ela teimou dizendo que seu filho tinha
estado lá com ela. Ele tinha escutado
ela falando de cada fotografia com tanta paixão, que sentia isso ao pintar.
Ficaram
interessados em fazer sua primeira exposição.
Quiseram lhe oferecer um contrato, ela telefonou ao advogado que mandou
um rapaz recolher o contrato para ver.
Disse ao Robert pois o conheciam assim, que não assinasse nada, que
fosse sempre livre.
Marcaram a
exposição, parecia que era ela que ia expor, foram juntos para San Francisco,
ele disse como era para colocar os quadros, disse para escreverem ao lado a
história, ela ditou a uma secretária o que devia escrever. Ele tinha pintado suas memorias. Ela nunca tinha pintado nada de lá, porque
lhe lembrava o filho. Agora que ele
voltou, eu amo isso.
Na inauguração,
estava sentada num cadeirão como num trono, falando com as pessoas, os que a
conheciam murmuravam, como esse reencontro com o filho lhe fez bem, está menos
agressiva.
Venderam 90 por
cento dos quadros, saiu matéria no jornal.
Ele só não quis vender o quadro grande dela.
Semanas depois
morreu dormindo, com um sorriso nos lábios, ele pensou ela encontrou com o
marido e o filho. Avisou o advogado,
ela deixou uma serie de coisas para serem feitas, não tenho experiencia nenhuma
nisso.
Um deles veio,
providenciou tudo, como ela queria ser cremada, num caixão simples de pinho,
com a mesma roupa do quadro. Que ele
levasse suas cinzas para Fez, tinha uma indicação, tumulo número 97.
Ele devia depois
escutar a leitura do testamento.
Perguntou que é
um testamento. O advogado lhe explicou.
Foi até lá com o
coração apertado, teria que deixar a casa aonde tinha sido tão feliz, tinha
aprendido uma nova profissão ali. Agora
tinha dinheiro no banco, não só o que ela tinha depositado, bem como o da sua
própria exposição, numa das vezes que foi ao centro da cidade depositou o
dinheiro que tinha escondido, não tinha usado quase nada.
Estranhou, pois
pensou que teria mais gente para escutar o que o advogado ia falar.
Eres como seu
filho o único benificiário de seu testamento, ela te deixa tudo, a casa, o
dinheiro que tinha no banco, bem, como a caminhoneta. Deixou uma carta para ti também.
Voltou para casa,
agora era dono de uma, depois iria ao banco, se sentou na varanda para ler a
carta.
Meu querido Bob,
No dia que te vi
na loja, primeiro levei um susto, eras parecido ao meu filho, tinha a mesma cor
de pele dele, dos olhos, esses teus cabelos que estavam tão sujos.
Quando te vi
desenhando pela primeira vez, pensei meu filho vive nesse garoto, passei a te
amar como se fosse ele, tratei de te ensinar tudo que sei, pois tenho certeza
que serás melhor do que eu fui.
Eres rápido
desenhando, eu sempre fui lenta, por isso fazia fotografias.
Encheste meu
final de vida, que não podia ser melhor, te deixo o meu studio, tudo o que
possa possuir, só te peço aquilo que te disse, leve minhas cinzas para perto do
meu filho.
Um beijo nesse
teu coração imenso. Melissa.
Ele ficou ali na
varanda, tinha realmente perdido a mãe que nunca tinha tido, olhava agora o por do sol, com que esperando
que ela viesse se sentar ao seu lado.
Continuava dormindo no quarto detrás.
Nunca tinha
subido ao andar de cima, era somente dela.
Foi uma surpresa,
encontrou quadros dela quando jovem, fotos imensa dela, sentada como no quadro
que ele tinha pintado. Ela o marido, o
filho, esse realmente se parecia com ele.
Quando recebeu as
cinzas, procurou saber como devia fazer para ir até Fez. Dali não havia voos diretos, na agência de
viagem lhe aconselharam ir até Londres, de lá a Casablanca, alugar um carro, ir
a Fez. Lhe arrumaram um Riad para se
hospedar. Lhe explicaram que a maioria
falava francês, mas alguns falavam inglês.
Conseguiu uma
licença para levar as cinzas, dentro de uma maleta de mão. Fez um voo San Diego, Londres, de lá outro
até Casablanca, eram muitas horas de voos para quem nunca nem tinha subido num
avião, Arrumou um hotel, perto da praia
para se hospedar. Ficou dois dias ali,
sentando olhando o mar, estava guardando tudo na sua cabeça. Mas no segundo dia, saiu com seu bloco de
desenho, sentou-se no cais, começou a desenhar tudo, as crianças vinha ficar
perto dele. Ele lhes dava uma moeda, ela
se sentavam quietas para que ele as desenhassem, ficavam impressionada com a rapidez
com que ele desenhava. Alguns realmente
posavam, gostavam de fazer isso.
Falavam com ele
em sua língua, era como se ele as entendesse.
No dia seguinte
recolheu o carro comprou um guia, conversou numa agencia de viagem, que lhe
fizessem um roteiro, iria primeiro a Fez
para cumprir sua obrigação, depois iria
devagar aos lugares que lhe interessavam.
Lhe traçaram um
roteiro. Iria direto a Fez, aonde tinha
o Riad reservado, de lá na volta iria visitar umas ruinas romanas, entre Fez e Mequinez,
lhe disseram o que visitar lá.
Foram reservando para ele todos os Riad.
Voltaria a Casablanca, de lá iria bordeando o mar até Esauíra, lá
ficaria 10 dias num Riad, depois iria a Marrakesh, a Uazazate, voltaria a
Marrakesh, Casablanca, por último se ele decidisse a Rabat, mas lhe disseram
era francesa demais.
Levou três meses fazendo
esse viagem, a quantidade de blocos de desenhos que comprou era imensa, caixas
de lápis de cor, outra quantidade, ainda material para aquarela. Em alguns lugares dormiu no furgão que tinha
alugado, em praias, em aldeias de pescadores, aonde parava para conversar,
desenhar. Estavam acostumados com
turistas que faziam fotos, mas que desenhasse não. Ainda mais que tinha a mesma
cor que eles, deixou os cabelos crescerem, estava sempre com um turbante em
volta da cabeça, como eles usavam. Sem
sentir foi aprendendo a falar, a entender o que lhe diziam. Em Esauíra, se deliciou desenhando, fazendo
aquarela dos barcos, de uma praia cheia de surfistas. Um deles inglês, lhe perguntou se queria
fazer sexo, pensando que ele era dali.
Quando disse que era americano, ficou olhando para ele, nesse dia ele se
questionou, porque nunca se interessava em fazer sexo. Talvez pelo que tinha sofrido, não sabia
explicar.
Em Marrakesh, fez
a mesma coisa, entrou nos palacios que podia se visitar, desenhou os pátios,
contratou um guia que o levou aonde ele tinha pedido. Foi visitar a casa Majorelle que pertencia ao
YSL, passou horas ali desenhando, bem como La Cotovia uma torre impressionante
de uma mesquita. Visitou também La Menara, um belo lugar, mas sua paixão pelas
cores o levou mudar toda sua viagem, em Uazazate. Ficou conhecido por lá, passava os dias pelas
ruas estreitas, desenhando as mulheres com ruas roupas coloridas, bem como os
homens com seus turbantes, anotava detalhes de portas de madeira, bem como
lâmpadas. Comprou tapetes de Lã para
levar para a casa da praia. Voltou a Marrakesh,
mas só dormiu uma noite, foi para Casablanca, conseguiu despachar tudo que
tinha comprado, que lhe aguardasse no aeroporto de San Diego. Mesmo assim pagou um excesso pelos seus
cadernos de desenhos. Quando desembarcou
em Londres, uma aeromoça lhe chamou atenção pois estava de turbante, cuidado
pode complicar sua entrada. Claro ele
estava de barba grande, cabelos imensos,
chamava muita atenção. Mudou de roupa no
banheiro do aeroporto, seguiu para San Diego.
Alugou um furgão tinha se acostumado a usar um. Levou horas para liberar tudo que era seu que
estava no aeroporto como coisas despachadas.
Só o seu material, eram duas caixas de cadernos.
Avisou o Advogado
que já estava de volta, contou como tinha sido emocionante, encontrar o que ela
tinha lhe pedido. Tinha feito inclusive
um desenho baseado na fotografia que tinha encontrado no andar de cima, o
tumulo, o jarro com sua cinzas, ela junto como filho como na fotografia.
Os da galeria
queriam ver todo material que ele tinha trazido. Os convidou para passarem o final de semana,
pois era um casal gay, lhe cedeu o quarto dela. Que estava igual. Os deixou
foleando horas e horas todo os cadernos.
Disse que faria
por sequência da viagem. Que pensavam em
arrumar o studio primeiro, depois começaria a trabalhar.
Os dois
comentaram com ele, que nessa viagem ele tinha deixado de ser um garoto, para
ser um homem diferente.
Lhes contou o que tinha acontecido com o Surfista em Esauíra, da
confusão que o rapaz tinha feito.
Porque não
ficaste quieto, aproveitavas fazia sexo com ele.
Isso queria falar
com vocês, tenho confiança para isso, fui tão abusado em criança, que não me
sinto a vontade, nem com vontade de fazer sexo.
Pode me aconselhar um psicólogo para que eu possa conversar, terei que
ir a San Francisco. Assim converso com
um.
Aqui mesmo vive
um amigo nosso, já tem uns cinquenta anos, mas é uma pessoa agradável,
telefonaram para ele, este foi até a casa.
Ficaram andando na praia, ele contou mais ou menos o que tinha
acontecido, os primeiros abusos que tinha sofrido nas casas de acolhida.
O Cristóbal,
disse que tinha encontrado um lugar incrível para conversarem, podia usar sua
varanda.
Estiveram ali
sentados conversando muito tempo. Falou
da viagem que tinha feito ao Marrocos, a emoção que tinha sentido, cumprindo os
sonhos de sua mãe postiça, na praia, quando perguntaram se queria fazer sexo,
que se deu conta que não pensava no assunto.
Evidentemente
estás te protegendo a muito tempo dessas recordações, quando chegaste aqui encontraste um lar, um
oásis para descansar. Seguiram falando
vários dias.
Um dia Cristóbal
chegou o encontrou colocando na tela um desenho, perguntou de aonde era?
Fez, Marrocos,
aonde estive como te contei. Estive
andando pela Judiaria de lá, vi esse símbolo numa sinagoga antiga, pegada ao
cemitério.
Minha família
esteve por lá, contou o Cristóbal, meu filho acaba de retornar de uma viagem
que fez a España, buscando a origem dos nossos antepassados, foram expulsos
primeiro de Castilla, foram para Granada, finalmente atravessaram o estreito,
viveram em Fez, para ele foi muito importante isso. Ele encontrou um diário de meu bisavô, quando
veio para América, aqui foi interessante o mesmo deixou de acreditar em
qualquer deus, nunca mais praticou nada, nem o Sabbat, nem circuncisão dos
filhos nada. Meu pai tampouco, sabia que era judeu, mas isso não lhe importava,
o meu filho ao contrário, necessitava depois de ler o diário, refazer o trajeto
do avô, inclusive fala o dialeto Sefardita, bem como o Árabe. Como te entedias por lá.
Foi interessante,
pois ao final eu os entendi. Aonde ia estava cercado de garotos, eles falavam
sem parar, só faziam silencio quando me viam desenhando. Em Uazazate, aluguei um burro, para levar
cavaletes, meu material, para desenhar a cidade por fora, me acompanhavam o
tempo todo, espera.
Procurou um
desenho que tinha feito, dos meninos cercando o burro, tomando banho num riacho
ali. Fiz esse auto retrato também, ele
no meio da garotada. Um dia no Riad, me
olhando no espelho, com turbante, roupas dali, me fiz um autorretrato assim
também, sempre me parecia mais um deles. Os velhos também me recebiam bem, pois era
educado, antes de desenha-los, perguntava se podia. Oferecia chá para eles, eles achavam graça
dos garotos me seguirem. Dizia que eu
os estava ensinando a serem respeitosos com os mais velhos.
Posso trazer meu
filho aqui?
Claro que sim,
não tenho amigos da minha idade, as vezes o filho do vizinho vem de férias, mas
como faz surf o tempo todo quase não o vejo.
No último verão veio acompanhado de um amigo da universidade, fez que
não me conhecia.
Essa coisa dos
preconceitos já conheço de longa data, quando era mais jovem me incomodavam, um
dia perguntei a Melissa, ela disse que todos não passavam de uns tontos porque
tinham dinheiro.
Dias depois ele
apareceu com o filho, estava justamente pintando um homem do Zocco de Fez,
sentado em sua pequena loja de telas de lã.
Tinha lhe encomendado um traje, um casaco que o homem tinha costurado
tudo a mão, numa velocidade espantosa.
Esse seria o seguinte quadro.
O filho era mais
moreno que o pai, talvez pelo sol da praia.
Joseph estendeu mão, que maravilha teu trabalho. Eu atravessei o
estreito, para ir a Tanger, aonde se perde a pista da família, para aparecer
mais tarde aqui.
Na sinagoga de
Fez, tem uma lista de pessoas que habitavam ali, pode ser que consiga alguma
informação, a dona do Riad, era uma Francesa, Judia segundo ela, tinha se
casado com um árabe marroquino, por isso vivia lá. Te dou o telefone, pede para ela verificar.
Ficaram
conversando um tempo, perguntou se podia voltar no final do dia para seguirem
conversando.
Lhe disse a hora
que costumava parar para ficar olhando o pôr do sol.
Na hora exata,
ele tinha acabado de tomar banho, estava com os cabelos molhados, como um
cachorro, o outro riu, fazendo a comparação, balançou a cabeça, o molhando,
pediu desculpas.
Foi buscar
Coca-Cola, ele seguia sem gostar de bebida alcoólica. Joseph perguntou porque,
não sei talvez da minha infância, quando via gente drogada ou alcoolizada,
peguei pavor de me imaginar assim.
Agora ele vinha
todo dia conversar. Lhe falava de
Sevilla, Córdoba, Granada, aonde tinha estado na España, buscando fontes de
referência da família.
Acho interessante
meu pai nunca se interessar por isso, mas creio que foi sua educação, ele disse
que leu o diário do bisavô, como se fosse um romance.
Cada um na
verdade tem uma maneira de reagir. Eu só
comecei a me questionar minha sexualidade, quando me confundiram com um
marroquino, me perguntando se queria fazer sexo. Quando respondi em inglês, que era americano,
desistiram no ato.
Levo tanto tempo
embutido nessa capa de proteção que nem sei como será o dia que me interesse
por alguém.
O outro ria, eu
ao contrário, imagina, queria descobrir de aonde tinha saído, quando cheguei na
España, era um gringo, todos queriam fazer sexo comigo. Os olhava, meu interesse era outro, quando
perguntava se tinham alguma ascendência Moura, como eles chama os árabes,
mudavam de assunto no ato.
Também tinha
colocado minha sexualidade a parte. Me
questionava coisas que mais tarde quando estendi minha viagem a Israel
entendi. Agora os Gays de lá são mais
livres, mas antes estavam dentro de um armário a sete chaves. Mas realmente sou como tu, necessito de
tempo para me interessar, me tornar amigo pelo menos. Acredito sempre nisso, que há que ter uma
amizade também nesse relacionamento, não pode ser só sexo, pois este acaba, o
que fica é a amizade.
Vinha ver todos
os dias seus trabalhos, viu o desenho do seu autorretrato, soltou que ele
ficava super interessante vestido assim.
Se fosse contigo para cama, ia pedir que colocasse um turbante. Ficaram rindo.
Se queres posso
colocar, não sei por que fiquei excitado.
O levou para seu
quarto no fundo da casa.
Joseph perguntou
se esse era seu quarto apenas para fazer sexo?
Olha podia ter-me
mudado para o quarto da Melissa, mas para mim é um santuário, gosto de
continuar vivendo aqui. É simples não
preciso de muita coisa, tirei sim a estante aonde tinha o fogão, coloquei um
tapete de lã que comprei por lá, um
cadeirão para ler as vezes que não tenho sono.
Nunca pensei em me mudar para a casa.
Lá está a cozinha, o meu studio, raramente subo para o quarto que tem lá
em cima.
Ficaram um longo
tempo se beijando, conversando, até que realmente partiram para o sexo, foram se
explorando devagar, quando chegaram ao clímax os dois ao mesmo tempo, foi
ótimo.
Agora vinha
dormir todos os dias com ele, meu pai outro dia me abordou, estando preocupado
por ti, não por mim. Lhe contei como
levamos a coisa. Ficou mais relaxado.
Buscou para saber
como era as roupas safardi, mas fazia quando ele não estava, sempre cobria a
tela com um lençol velho. Até que
terminou. O deixou ali a mostra, Joseph entrou, esteve falando por celular com
alguém, até que se deu conta do quadro.
Parou de falar, ficou com a boca aberta.
Se aproximou dele, o abraçou.
Incrível isso. Quero ele para
mim.
É um presente
para ti, pelos momentos maravilhosos que temos passados juntos.
Tenho uma má
notícia, me chamaram para dar aulas na Universidade em San Diego, estaremos
mais afastado.
Eu entendo, deves
ir, estás a tanto tempo esperando essa oportunidade, que deve ir.
Mas, nós dois?
Venhas quando
queira, sabes que eu sentirei tua falta,
mas os caminhos são assim, tua vida profissional tem que ter
importância, a quanto tempo estas esperando essa oportunidade.
Já perdi a conta,
se não aceito, será mais difícil sair outra.
Então, se podes
escapar para os finais de semana, afinal não estamos tão longe.
Passavam o final
de semana juntos, até que um dia Joseph lhe disse que tinha conhecido um
professor, que lhe interessava.
Conversaram a
respeito, se despediram como amigos que sempre tinham sido.
Realmente sentia
falta dele, principalmente para ter com quem falar.
Quando tinha uma
boa quantidade de quadros, avisou os da galeria, que vieram como loucos para
ver, estamos esperando a muito tempo essa oportunidade.
Estavam
maravilhados com o que tinha feito, a única concessão de avanço, tinha
desenhado dois quadros grandes, com os barcos de Esauíra. Eles queriam fazer dois catálogos, um com os
desenhos, outro com a pintura. Eram
tantos os desenhos, que esse seria o número um, só com Casablanca, Fez, algo de
Esauíra, Um dos primeiros grandes
de Uazazate, uma panorâmica da cidade
que ficaria no final da Galeria.
Esperaram os
catálogos ficarem prontos, começaram a divulgação, foi entrevistado pela
televisão, contou o que tinha ido fazer lá, não disse que o rapaz de quem
levava o nome estava enterrado lá.
Expos o desenho de Melissa com o filho, mas este não estava a venda.
Antes mesmo,
recebeu um convite para expor em NYC, pela primeira vez.
Os quadros
estavam vendidos, agora levavam o nome dos compradores que emprestavam os
mesmos. Mesmo assim como a galeria era
maior, preparou mais 10 quadros imensos, o dos garotos, ele com o burro, foi
vendido rapidamente para um museu. Os
outros, as mulheres carregando agua, os
velhos na frente da sinagoga, todos vendidos, eram imensos todos.
A capa do catálogo
de NYC, era seu autorretrato de árabe. O
de desenho, já tinha esgotado a primeira edição, agora estava na segunda.
Na de San
Francisco, Joseph apareceu com seu pai, além de seu namorado, imediatamente não
gostou do sujeito, mas não comentou nada, achava que era porque estava com
ciúmes.
Antes de ir para
NYC, Joseph apareceu para conversar, o viu com uma cara de fazer pena, mais uma
vez me enganei, meu pai quando o conheceu, disse que não confiava nele, eu fiz
ouvidos surdos, me dei mal.
Lastima que vou
para NYC amanhã, senão iriamos conversar muito a respeito disso. Joseph perguntou se tinha conhecido alguém.
A verdade,
verdade é que não tinha muito trabalho, tampouco saio tanto para conhecer
gente.
Em NYC, foi uma
roda viva de entrevistas para jornais, televisão, as perguntas as vezes eram
cretinas, ele não respondia, só dizia a seguinte. Uma entrevistadora lhe perguntou por que
fazia isso.
Porque as
perguntas são cretinas, não gosto de perder meu tempo falando besteiras. Se me perguntas algo interessante respondo.
Esteve contente,
mas louco para voltar para seu atelier, queria seguir trabalhando, tinha uma
outra viagem em mente. Mas ainda lhe
faltava muito para acabar.
Seria como uma
segunda exposição sobre o mesmo tema.
Agora o catalogo era sobre Marrakesh, Uazazate, as marinhas com os barcos,
eram imensas, sempre com surfistas misturados,
um dos quadros lhe deu trabalho, pois tinha mais de dois metros, eram os
barcos chegando as pessoas ajudando a traze-lo até a praia, fazendo uma fila
imensa, puxando a corda, num desses, se colocou junto. Fez um auto retrato dele de peito nu, com
turbante colorido que usava nesse dia, ajudando os homens a arrastarem o
barco. Depois ao lado retratos de todos
eles, assim sem camisetas, com panos na cabeça, alguns com uma caixa de peixes
na cabeça, os peixes como que saltando da mesma. Os
garotos na praia, querendo aprender surf, fazendo com pedaços de madeira. Revendo todos os desenhos, riu, pois tinha
sido feliz ali, bem como Uazazate, pois tinha sido considerado um deles. Isso que não usava todos os desenhos, pois
eram muitos.
Tinha também
muitas paisagens das ruas estreitas de Uazazate, a cor da terra subindo pelas
paredes, alguns velhos sentado na porta de suas casas, com quem tinha parado
para desenhar e conversar.
Quando tudo ficou
pronto, estava exausto, pois se levantava as vezes a seis da manhã, porque a
imagem esta ali em sua cabeça viva, querendo sair.
Um dos críticos
comentou justamente isso, que seus personagens estavam tão vivos que ele não
estranharia que se levantassem, saíssem andando dos quadros.
Lhe convidaram
para sair, para conhecer a cidade, foram jantar, não conhecia direito o grupo,
um deles lhe disse, não entende as indiretas não?
Indiretas, não
sei do que falas.
Estão todos se
oferecendo para ti, é como se nada, contínuas na tua.
Desculpe não
estou acostumado a conviver, passo muito tempo no studio, gosto de coisas
simples.
Para complicar o
arrastaram para uma discoteca, primeiro ficou surdo com tanto barulho, não
bebia, viu que todos fumavam erva. Foi
saindo de fininho, na rua parou para respirar, um homem ficou rindo. Se vê que não gosta de ambientes assim, eu
tampouco, fui arrastado por um grupo de amigos.
Vim ver uma
exposição, amanhã, de um artista que gosto muito, ele me faz lembrar o tempo
mais feliz de minha vida, quando vivi no Marrocos.
Estas brincando
comigo, não é?
Não, porque ia
brincar contigo, era um tipo completamente diferente, barba grande, cabelos
como o dele compridos, mas ruivos misturado com branco. Eu vivo basicamente perto do mar, venho
raramente a cidade, tenho apartamento aqui, mas desde que fui viver em Fire
Island, deixe de vir a cidade.
Aproveito a paz para escrever.
Como sabem que vivi muitos anos no Marrocos pediram para que eu
escrevesse sobre o assunto no Times, inclusive amanhã tenho uma entrevista com
o rapaz.
Ficaram
conversando, foram tomar um refrigerante ali perto. Ele se identificou como Thomas Brookmaster,
escrevi vários livros sobre o Marrocos, agora escrevo romances.
Tu com te chamas?
Robert Montgomery. Não disse o nome que usava para assinar os
quadros.
Quer vir até
minha casa, ou preferes que marquemos alguma coisa amanhã?
Prefiro amanhã
depois que tenhas tua entrevista. Aonde
vai ser?
Na Galeria, ira
um fotografo, vou entrevistar o rapaz.
Se lembrou disso,
que tinham lhe pedido que colocasse o turbante, para a entrevista.
O levou até seu
hotel, antes que ele entrasse, posso pedir um beijo de boa noite?
Sim claro,
trocaram número de celular, amanhã nos falamos.
Achou
interessante o homem lhe interessar, afinal era um tipo diferente, relaxado na
maneira de vestir, como ele, viu que tinham algo em comum.
No dia seguinte
se vestiu como sempre, nem notou que a camiseta estava suja na parte de baixo
de manchas de tinta, nunca dava muita importância para isso. Como fazia frio, colocou o casaco que tinham
feito para ele em Fez, bem como um pano em volta do pescoço, se lhe pedisse,
colocaria na cabeça.
Foi para a
galeria, atendeu a primeira entrevista, numa sala a parte, posou para as fotos,
voltou para sala para descansar, 15 minutos depois lhe anunciaram o Thomas,
ficou de costa para a janela, esperou que entrasse, então se virou.
O que fazes aqui?
Foi sua pergunta.
Sou Mark Berg, o
pintor que vais entrevistar, mas também me chamo Robert Montgomery, uma larga
história.
Ficaram os dois
rindo, o fotografo não entendia nada. Quando esse pediu que pusesse o pano na
cabeça como turbante, lhe perguntou sério.
Tens certeza disso, o uso com orgulho, porque me sentia um deles, mas fazer
pose de uma coisa tradicional, me parece fútil, desagradável.
As perguntas era
sérias. Como sabia dos lugares aonde
tinha estado, falou o que tinha se sentido em cada um. Mas te confesso que talvez tenha sido
Uazazate, aonde me senti em casa, me receberam como um igual, talvez a cor da
minha pele, ou minha postura, estão acostumados com turistas que vem fazem uma
fotografia, ou um selfie, que esta mais de moda, vai embora em seguida, ou fica
fechado dentro de um Riad, porque acha bonito.
Eu me levantava
cedo, pois gostava de pegar a luz da manhã, para fazer aquarelas, desenhar,
venha, foram a sala de exposição, apesar de ser um auto retrato, pois não fiz
baseado em fotografia, mas sim num desenho, os meninos me acompanhavam o dia
inteiro para me ver trabalhar. Conversava com ele, numa mistura de língua ou
sinais. Se riam muito comigo, como eu
com eles. Os velhos, ah, com esses
tens que ser respeitoso, mas isso me ensinou minha mãe Melissa. Ela tinha vivido um tempo por lá, então
estava sempre falando. Eu fui na verdade
levar suas cinzas para deixar no cemitério de Fez. Foi uma das coisas mais emocionantes da minha
vida. Tinha uma ideia, mas pensei que
não aguentaria ficar três meses por lá.
Agora não consigo tirar isso da cabeça.
Se eu quisesse ainda faria outra tanda de quadros, os tenho dentro de minha cabeça. Tomei consciência de que tinha sido os
melhores momentos da minha vida. Talvez
volte, depois entre por cima no Senegal, mas dizem que é perigoso.
De uma certa
maneira quero me adentrar na arte negra.
A cada pergunta
do Thomas que estava gravando, ao mesmo tempo que um dos homens que lhe
acompanhavam faziam um vídeo.
O que fazia o
vídeo lhe perguntou se não tinha relacionamentos, nem família.
Não tenho ninguém
na minha vida, como desde da morte de Melissa, não tenho família, ela foi o
melhor que aconteceu na minha vida, me ensinou a pintar, quando observou que eu
tinha um certo talento.
O mesmo fez outra
pergunta, alguém ventilou que você continua dormindo num quarto pequeno atrás
da casa, quem falou sobre isso, disse que ganhaste muito dinheiro, mas continua
vivendo como se não tivesse, agora mesmo, se nota que sua camiseta está suja de
tinta.
Primeiro claro
que esta suja, sou um pintor, não vou me vestir uma roupa nova porque estou
dando uma entrevista. A única coisa nova aqui é esse casaco que esta aí,
mostrou o casaco numa poltrona. Gostei
como costuravam em Fez, a mão, se tens o catálogo de desenhos, verá dois, um
eram os movimentos da mão do homem, que o fazia numa velocidade incrível. Outra porque foi feito com amor
pela sua profissão.
Isso eu sempre respeito, mas não vou te responder, eu gosto da minha
vida como esta. Talvez o fato de dormir
no pequeno quarto, me faça ter os pés no chão, me lembrar quem sou, de aonde
sai . Isso é só meu, está guardado dentro de mim.
O homem ia fazer
outra pergunta, mas Thomas lhe cortou, lhe perguntando se tinha feito contato
com o mundo intelectual do pais.
Na verdade não
Thomas, sou tímido, creio que prefiro estar entre a gente do povo, pois eu sai
daí, aprendi a escrever tarde, a ler,
leio os livros velhos que Melissa tinha
em casa, li o que ela tinha sobre Marrocos antes de ir. Imagina, nunca tinha viajado de avião, lá
aluguei um furgão para andar pelo pais.
Dormi em praias, algumas vezes em Riad, uns bons outros nem tanto.
Gostei por
exemplo que vi em Esauíra, de todos ajudando o barcos chegarem à areia, a
descarregar os peixes, mas sempre com cuidado como se fosse seu. Isso não vemos aqui, todos querem
saber até a cor da merda que fazes. Com
quem vais para a cama, ou quem te incomoda, então vamos falar mal da pessoa.
Vivo numa casa
velha, que era de minha mãe, continuo pintando no atelier que era o seu, de vez em quando encontro algum tubo de tinta
esquecido por ela em algum lugar. Por isso não vou embora. No verão a coisa fica mais complicada, pois
a praia está cheia, nunca fecho a porta, as pessoas entram para olhar o que
estou fazendo. Como comecei pintando
surfistas, me perguntam por que agora retrato essa gente feia. Tento ser educado, para não dizer, não te
olhaste ainda no espelho. Outros querem
encomendar um retrato, lhes digo que não faço isso, ao menos que o rosto da
pessoa me diga algo.
O dono da galeria
fez um sinal, dando por acabada a entrevista.
Mark, Robert, foi
um imenso prazer em te conhecer. Queres
jantar comigo essa noite?
Sim, mas vou embora
amanhã, sinto saudade de ver o mar.
Foram jantar,
ontem parecias duvidar que eu não te conhecia, nunca tinha visto uma foto tua,
as únicas que me mandaram era as que estavas com turbante. Ficas diferente, gosto também como falas, sem
problema nenhum de ser franco.
Depois foram
andando pela ruas sem rumo, até que Thomas lhe disse, vivo ali, mostrou um
edifício antigo, queres subir?
Foi como entrar
num mundo caótico, cheio de mascaras, coisas dos países por aonde ele tinha
andado.
Se aproximou,
aquele beijo de ontem a noite só me deu vontade de dar mais beijos. Aviso não tenho ninguém, vivo sozinho como
tu, adoro minha solidão para escrever.
Estavam nus em
cima de uma cama, me senti atraído por ti, na hora que te vi na discoteca,
tinhas uma cara de chateado por estar ali, bem como eu, houve uma época que eu
necessitava dessa musica no último volume, para abafar o que tinha na
cabeça. Mas hoje o silencio para mim é
importante. Ficaram juntos a noite inteira.
De manhã, ele se
despediu, tinha que passar no hotel, para pegar sua bagagem, para ir para o
aeroporto.
Não se preocupe
eu te levo. Quero que tenhas meu endereço,
pois se queres estar de novo comigo, como eu quero o teu, caso tenha vontade de
ir te ver.
O levou ao hotel,
depois ao aeroporto, se despediram com um beijo. Assim que tiver o texto te mando uma cópia.
Uma semana depois
recebeu um envelope daqueles antigos pardos, dentro estava o texto que ele
tinha escrito.
Começava, tive a
oportunidade de conhecer um grande artista, que retrata a terra que amo, fui
esperando encontrar alguma brecha na sua história, mas esse homem, é fiel à si
mesmo, vive como quer, sem se importar com o glamour de ser o pintor da moda. Foi criado por uma mulher que não conheci,
mas que sei que pensava da mesma maneira.
Posso dizer
abertamente que me apaixonei por essa pessoa.
Quando vês em seus retratos, os personagens saindo do mesmo, parecem ter
a intensão de falar alguma coisa, de se expressar seus sentimentos, tens
realmente a ideia de que esse homem captou tudo. Pelo que sei, não faz fotografias, ficou
dias convivendo com essas pessoas desenhando cada expressão. Espero que um dia me receba em seu
atelier. As fotos que acompanhavam, era
ele ao lado dos quadros que Thomas mais tinha gostado. O melhor era ele na frente do quadro com os
meninos, o burro. Embaixo, estava
escrito, isso diz tudo dessa pessoa.
Lhe chamou, não
atendeu, meia hora depois, ele lhe chamou, perdão, não tenho o hábito de levar
o celular nos meus passeios pela praia.
Ficaram
conversando. Num rompante lhe perguntou
por que não vinha passar uns dias com ele.
Dois dias depois estava trabalhando, ainda tinha ideias sobre Marrocos,
estava pintando uma sinagoga de Fez que tinha entrado, era cheio de detalhes, um
único homem com uma chilaba branca, estava lavando seus pés para entrar na
sinagoga, ele tinha ficado impressionado com isso, estava acostumado a ver as
pessoas colocarem suas melhores roupas, para irem a igreja. Esse homem estava com a roupa do dia a dia,
mas tinha lavado suas mãos, seus pés, o rosto, o braço.
Sentiu uma sombra
na porta, Thomas, com a bagagem no chão encostado olhando para ele, senti que
falavas com esse homem.
Estava pensando
no respeito que tem pela oração, eu não acredito em Deus ou Deuses, mas admiro
quem tenha uma fé assim.
Correu para ele,
se abraçaram. Então aqui é teu pequeno
paraíso. Levou as coisas dele para seu
quarto, depois foram se sentar na cozinha para conversarem. Num determinado momento ficou quieto, se
levantou, foi para a varanda.
Isso é a minha reza diária, me sentar aqui, como
sempre fizemos, olhando o mar, deixando que a nossa cabeça, flutuasse além do
horizonte.
Ficou ali de mãos
dadas com o Thomas.
Este foi ficando,
entendia agora o que ele dizia, ele realmente podia escrever sem ser
perturbado, podia passar dias até que aparecesse alguém pela porta. O
observava agora uma pintura que fazia, era as mulheres subindo uma rua, em
fila, cada uma com um alguidar de barro
na cabeça, com água para suas casas.
Algumas eram crianças ainda.
Ficava sempre de
boca aberta, com sua concentração total, a sensação que tinha tido no primeiro
dia, era a mesma, ele estava falando com essas pessoas.
Nesse dia ao
olharem o por do Sol, contou o relacionamento que tinha tido com o Joseph, o
que este tinha ido buscar do passado de sua família Sefardita, pensei em fazer
isso, ir a España.
Sevilla, Córdoba,
Granada, depois cruzar o estreito, entrar por Tanger, Tetúan, Rabat, depois
descer outra vez, indo para Uazazate.
Desta vez quero aproveitar, vou levar para esses meninos, lápis,
cadernos, passar um bom tempo por lá, me impregnando de tudo isso.
Thomas o ficou
olhando, creio que vais precisar de um companheiro, para irem trocando a
direção da Motorhome que fores alugar.
Ele riu, estava
mesmo pensando em comprar uma, depois vender antes de voltar.
Queres realmente
ir comigo. Levo o mínimo de bagagem, mas
material muito para poder desenhar, pintar, essas coisas. Que precisas tu?
Meu laptop, o
amor de minha vida, alguma coisa de roupa, porque gosto de estar nu com ele.
Desfrutaram
muito, porque agora um chamava a atenção do outro para algum detalhe, o mais
interessante foi um dia que estavam os dois na praia, em Casablanca, prontos
para adentrarem rumo a Uazazate, quando um rapaz parou na frente de Mark,
voltaste, eu sabia que um dia voltaria,
era um dos meninos do quadro.
Que fazes aqui
tão longe de casa. Estou trabalhando na
construção, mas é o que me toca, não tenho muitos estudos. Gostaria, pensei que aqui poderia trabalhar,
aprender. Mas vejo que não, venho dormir
aqui na praia, pois não tenho casa.
Nos vamos amanhã
cedo para tua cidade, queres vir, passe esse tempo conosco, vou ver se te levo
comigo. Era o garoto que lhe fazia
milhões de perguntas sobre américa, como era
viver lá. Ele lhe olhou sério,
sempre foste honesto comigo, isso não significa que queres fazer sexo comigo,
como todos esses que se aproximam de mim.
Não para nada,
tenho o que quero, colocou a mão em cima do Thomas, Olha essa noite, de dou um saco de dormir, amanhã,
vamos embora, queres vir.
Sim quero voltar
para casa. Lá pensarei na tua oferta.
Foram a viagem inteira, com Thomas ensinando o rapaz a falar
inglês. Quando chegaram a Uazazate,
saiu correndo, voltou com os meninos, agora todos grandes, gritava, eu não
disse que ele ia voltar um dia.
Thomas tinha a
revista com a reportagem, mostrou a foto dele, na frente do quadro.
Aquilo era uma
festa, ficaram na motorhome, fora da cidade, mas todo o dia tinha garotos, os
velhos vinha conversar com ele, se deixarem desenhar, falavam com ele, o rapaz
de se chamava Mahamud, dizia, sabes o que ele disse.
Ele respondia
perfeitamente, sim, não sei por que os entendo. Perguntou se ali havia uma professora. Sim apareceu dois jovens, não muito maior do
que os outros rapazes. Ele era do grupo,
como a família tinha mais dinheiro, tinha ido estudar em Marrakesh, aonde conheceu a jovem, com quem tinha se
casado. Perguntou o que precisava para
a escola.
Nos falta tudo,
cadernos, lápis, livros, tudo. Thomas
arrumou uma caminhonete, foi com eles até Marrakesh, compraram tudo o que eles
precisavam, mas em grande quantidade, Mark tinha dado o dinheiro. Depois começou a ajudar as famílias, que os
velhos diziam que mereciam ser ajudadas.
Como uma maneira
de pagar ou retribuir o dinheiro que tinha ganho com os quadros. Numa das idas
a Marrakesh, foram ao consulado americano, para conseguir visto para o Mahamud,
lhe disseram que era menor de idade. A
solução foi o Thomas que era conhecido, no consulado, adotar o rapaz.
Deixou a
Motorhome para que os professores pudessem ter uma casa, viviam os dois num
quarto, foram até Marrakesh, para pegar um voo para San Diego, via Madrid,
depois Miami, finalmente em casa. Antes de voltarem, conversaram como iriam
fazer. Thomas não pensava deixa-lo, foi a NYC, vendeu tudo que tinha por la,
inclusive a casa da praia. Enquanto isso, ele comprou a casa dos herdeiros da
vizinha, ampliaram a deles. Mas a casa
de Melissa ficou igual. Como ela tinha
feito com ele, conseguiu uma professora, que lhe ensinou a falar, escrever
direito. Perdeu um ano recuperando
tudo. Hoje em dia fazia universidade,
sempre falava, como era o mais velho da turma, os outros o respeitavam.
Era um exímio
surfista, tinha inclusive ensinado ao Thomas, ele não podia perder tempo, tinha
que pintar. Tinha altas conversas com o Thomas sobre a
idade de ouro dessa parte de Andaluzia, quando estiveram habitada pelos Árabes,
então todos os quadros referentes tinham uma figura como ele tinha visto nos
livros que tinha comprado, mas com a cara dos habitantes de Uazazate.
Tornou a pintar
várias coisas. Começou a sentir
dores nas articulações, os médicos atribuíam o fato de ele ter sido desnutrido
em sua infância. Diminuiu o ritmo, não
pintava por dinheiro, não necessitava de muito para viver, mas sim, agora
usufruía mais da conversas intermináveis que tinha com Thomas. Mahamud ou Mud, como o chamavam os amigos,
dizia, que os vê de longe, parece que vão sair aos tapas. Eu sempre digo, estão apenas conversando.
Ele mesmo entrava
as vezes nas conversas, colocando seu ponto totalmente oposto, por ter vivido
tudo aquilo.
Um dia contou sua
verdadeira historia aos dois. Ficaram
olhando para ele, sem saber se acreditar ou não. Mas pela força dos detalhes, acabaram
acreditando.
Quando Mud, se
formou na universidade, era o orador, falou de aonde tinha vindo, um paraíso
miserável, sem futuro. Um dia quando
era criança, apareceu um homem da mesma cor que a minha, com um furgão,
carregado de blocos de papeis, eu ia aonde ele ia, queria ver o que ia desenhar
ou pintar, as figuras pareciam sair do papel.
Procurei não perder nenhum dia de sua companhia. Dava gosto ver esse homem, conversando com
os velhos da sinagoga, com todo respeito do mundo, ao mesmo tempo que ia
desenhando seu rosto. Bom esse é um dos meus
pais, quando o reencontrei com meu outro pai, em Casablanca, estava cansando de
tentar melhorar minha vida, me apresentei diante dele, me disse amanhã vamos
para aonde vivias, depois te levamos para América. E assim fizeram, sempre me cuidaram como seu
filho, me deram a oportunidade de estudar, me formo hoje graças a eles. Obrigado por serem meus pais.
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