lunes, 20 de julio de 2020

ROY


                                                        ROY   PARK

Tinha graça, tinha saído a dois dias de reabilitação, lhe ofereciam uma taça de champagne, riu agradeceu, levantou a taça para um brinde, fez que bebia, colocou a mesma sobre a mesa, começou seu discurso, agradecendo a associação de atores de Hollywood, pelo prêmio de uma carreira.  Falou dos colegas que já tinham partido, com quem tinha feito amizade nos cenários, dos diretores, a maioria estava morta.  Ou de sobre dose, câncer, álcool, outras merdas, mas ele seguia ali.    Daqui uma semana faço 60 anos, tomei uma resolução na minha última reabilitação.
Fez uma pausa, sabia que estava sendo retransmitindo em cadeia nacional, o da reabilitação já tinha sido forte, mas agora vinha o golpe de graça para ele mesmo.  Depois de muito pensar, deixo a carreira, já ganhei o suficiente, bem como me droguei, bebi demasiado, fumei todas as ervas do mundo para me esconder.  Sou gay, depois de anos de especulação, finalmente posso admitir perante todos, bem como a mim mesmo sou um senhor homossexual desde que nasci.
Entrar, se manter nessa indústria não é fácil, vi muita gente se casar, ter filhos, divorciar, tudo para esconder quem é.   Nunca paguei esse preço, nunca me casei, tive filhos nada disso, as mulheres que me acompanhavam nas estreias era contratadas para isso.   Portanto receberam dinheiro, não lhes devo nada.   Tampouco nos dias atuais que todos abrem a porta de seus armários escuros, posso ficar fechado, sou quase um decano na artes cinematográficas, a maioria dos meus colegas já morreram.   Não penso tampouco escrever uma autobiografia falando com quem fui para a cama, porque é uma coisa que só interessa a mim mesmo.
Agradeço o prêmio,  apesar dos Oscar todos que ganhei, que uso para segurar as portas da minha casa, riu, muitas vezes os considerei injusto, pois meus colegas mereciam mais do que eu mesmo.  Não importa, não tem volta atrás.                      Acredito que depois de falar hoje, não me concedam um mais para finalizar minha carreira.   Teria que ser um maior, para segurar a porta do meu estabulo.   Boa noite, se divirtam, por favor, não me ofereçam mais nenhuma bebida pois terei que pagar a última reabilitação, não quero voltar atrás.
Poucas pessoas vieram falar com ele, algumas falsamente, apertaram sua mão, outras sorriram, como dizendo eu sabia, mas seu agente se aproximou, lhe abraçou, lhe disse ao ouvido, estas fudido meu amigo, estas fudido.
Segurou com as duas mãos, seus ombros, disse, nosso contrato terminou a dois dias, não lhe devo nada, ganhaste dinheiro comigo, foda-se.
Fez um sinal para a porta, ali estava seu fiel valete, o único amigo que tinha, era para que buscasse o carro para o levar para casa.
Desta vez se sentou no volante, posso dirigir, pois não bebi nada somente a água que estava na minha frente.
Foi tranquilamente para casa, respirou fundo algumas vezes, se as pessoas soubessem o seu dia anterior iriam rir.
Tinha se preparado a consciência para isso, não para a cerimonia em si, mas para o discurso que faria, não ensaiou, escreveu nada disso.
Passou o dia indo de banco em banco, aonde tinha suas contas espalhadas com seu verdadeiro nome Aaron Ishah, era filho de Drusos, vindos da Síria, seus avôs chegaram primeiro, depois vieram seus pais.  Mudaram seu nome quando fez o primeiro teste de câmera, para fazer um filme.
Pelo mesmo motivo a família o excomungou, nunca mais teve contato com nenhum deles, tampouco com a sua fé.   A pouco tempo voltou a rezar em sua língua original, algumas palavras tinha se esquecido.
Ninguém sabia, que ele, fazia uma coisa, recebia o dinheiro de algum contrato com o nome de Roy, em seguida depositava no banco em nome de Aaron.   Reuniu tudo num banco só, que tinha agência perto de sua casa, iria viver finalmente quem ele era.
Tinha tido uma juventude traumática, por serem uma comunidade extremamente cerrada, não lhe estava permitido conviver com os amigos da escola, era bom estudante, bem como um excelente esportista.   Mas foi no teatro da escola que se encontro, fazendo outros personagens, descobriu que se liberava.   Saia da escola, trabalhava numa confeitaria, ali aprendeu a fazer coisas.  Nos finais de semana, se levantava as 4 da manhã, para ir ajudar o proprietário a preparar pães.  Podia trabalhar horas, sem dizer nenhuma palavra.              Quando começou a primeira coisa que pediu, foi que seu pagamento fosse direto a ele, nada de entregar aos seus pais, queria ir a universidade, eles eram contra, queriam que exercesse o trabalho que todos faziam, eram alfaiates.  
Nunca tinha entendido, como podia ser diferente deles, a maioria era extremamente morena, com nariz que delatava sua origem étnica, ele ao contrário tinha nascido loiro, olhos negros, grande demais para sua mãe tão pequena.    Não podiam pensar que tinha sido trocado, porque tinha nascido em casa.  Tampouco era o filho mais velho, sua mãe tampouco saia de casa, até que sua avô se lembrou que duas gerações atrás havia loiros.
Mesmo assim foi desde criança, diferente, gostava de esportes, era mais alto que os outros irmãos, o mais bonito de todos dizia sua pequena mãe.
Seu pai, era interessante, mesmo com todas explicações, não se aproximava muito dele, fazia carinho nos outros, mas nele nunca.
Quando acabou a secundária,  ele já tinha conseguido uma bolsa de estudos, pelo esporte para a universidade de NYC,  tudo isso em segredo.  Recebeu seu último salário, juntou com o que tinha escondido.  Quando seu pai lhe disse que tinha que começar a trabalhar na alfaiataria  na semana seguinte, não disse uma palavra.  No domingo quando todos foram rezar, arrumou uma desculpa que tinha dor de barriga, arrumou a pouca roupa que tinha, tudo numa bolsa de pano, foi em rumo à estação de Trem de Búfalo, de lá tomou um trem a NYC.
Não se despediu de ninguém.  Ia estudar línguas, em que se daria sempre bem, acreditava que tendo falado inglês a vida inteira, Druso, uma língua complicada, podia falar qualquer outra.  Se dava bem no curso, mas se interessou pelo grupo de teatro.         Daí foi um pulo para conseguir fazer casting na Broadway.   Era um tipo interessante, pois sendo loiro, com aqueles olhos grandes negros, uma cara talhada a faca, um nariz reto.  Era um tipo diferente.  De uma ponta, na seguinte conseguiu um papel, depois outro, depois o segundo personagem, até chegar o primeiro.
Já tinha até um agente.  Um dia seu pai viu numa folha de jornal que comprava para fazer moldes para economizar, sua fotografia, com o nome embaixo.  Tomou um trem a NYC, foi até o teatro, viu o espetáculo, aonde ele fazia um papel de filho da puta.  Depois foi ao seu camarim, lhe disse na cara que não queria que ele manchasse o nome da família, que desse um jeito de trocar de nome.  Que por favor, nunca aparecesse por Búfalo, se por um acaso fosse não procurasse a família.   Sempre foste um estorvo na família, eu tinha razão, não eras meu filho.
Falou com o agente, esse o ajudou a mudar de nome, mas o fez oficialmente, Roy Park, Roy porque quando era garoto, roubava dinheiro da lata aonde sua mãe escondia moedas, notas pequenas, para ir ao cinema assistir filmes de Roy Rogers, o mochinho dos filmes de cowboy.
Park, porque já viviam em Park Avenue, num apartamento pequeno, mas que não tinha que compartir com ninguém.
Lhe conseguiram um teste logo em seguida para um filme, segundo o câmera, sua cara, comia a tela.  A partir de então se mudou para Hollywood, aonde fez de tudo, filmes de cowboys, detetives, dramas, guerras, romances, tudo ele saia bem.  Mas desde o primeiro momento zelou por sua vida pessoal.
Para as revistas do coração, vivia numa casa do studio, mas ele tinha aprendido uma coisa, se queria uma vida só sua, teria que se virar, então entrava nessa, casa, saia pelos fundos, tinha sempre um jeep velho ali, no meio do caminho mudava de roupas, das roupas de glamour, usava uma roupa de obreiro, ia para sua casa verdadeira.  Vivia em Venice Beach, em uma das muitas casas dos canais, a mais afastada, ninguém dava muita importância a aquele homem, ia a praia muito cedo, fazia surf de madrugada, nunca era visto com ninguém.  Mas não era verdade, tinha tido sempre amantes, ou outros atores, ou gente que conhecia nos bares a noite, como usava óculos para ler, usava um que disfarçava totalmente sua cara.
Quando perguntavam seu nome dizia Aaron, nada mais.   O problema, era que sempre bebia muito, no total tinha feito pelo menos 8 desintoxicação.   Ninguém sabia claro, os studios faziam tudo que isso ficasse em segredo.
Cada vez que fazia um filme de guerra, roubava um dos carros usados, tampouco trocava as placas, assim nunca pagava impostos.    A uns vinte anos atrás tinha conhecido seu fiel valete, um negro alto que tentava fazer carreira.  Mas nunca passava de extra, um dia o encontrou num bar de Venice.   Ele já estava muito bêbado, o ajudou o levou para casa.  Nunca tiveram nada, afinal Sean, era heterossexual, as mulheres babavam com ele.  Mas sempre lhe foi fiel.       Era quem podia melhor que ninguém contar sua vida.  
Era sua família.  Agora no carro dizia vamos para casa finalmente meu amigo, anos atrás tinham feito uma filmagem em um rancho de criação de cavalos, quando falou com o proprietário que se via que estava velho para levar aquele local. 
Este lhe contou que o alugava, para pagar suas dívidas, mas queria morrer ali, seu único filho tinha morrido na guerra do Vietnam.    Ficaram amigos, lhe propôs uma coisa, lhe comprava o rancho, ele poderia continuar vivendo ali, como sempre, ali seria seu esconderijo.  Usaria uma casa de hospedes que caia aos pedaços.   Sean o ajudaria a levar o rancho.
O rancho passou a pertencer a Aaron Ishah, sem problemas nenhum,  reformou a casa de hospedes,  aonde tinha seus encontros amorosos, o velho descobriu fácil, mas nunca o criticou. Com o tempo, Sean passou a ser um experto em cavalos,  se casou com uma mexicana que levava a cozinha, sempre viviam ali.   Quando o velho morreu, foi enterrado aonde tinha pedido, reformou a casa grande, passando a viver lá.   Era um pouco longe, de Los Angeles, mas se apanhava.
Quando chegaram queria gritar, finalmente sou livre.  Ria muito, tinha um bom humor incrível. No dia seguinte levantou muito cedo, quando viu um cowboy levando cavalos um grupo grande. Perguntou ao Sean, se era algum cowboy novo.   Novo e velho ao mesmo tempo é um cara experimentado, sorriu.   Porque não vais ajuda-lo a levar os cavalos.
Realmente não tenha que fazer, a não ser pensar merdas.  Selou o velho Brow, como chamava seu cavalo, velho companheiro de mil filmagens.
Saiu atrás do cowboy, a trote, até que o alcançou, o homem o olhou devia ter a mesma idade que ele, quando vais aposentar o velho Brow?
O conheces?
Sim, muito, olhe bem a minha cara.
Caramba, fizemos muitas filmagens juntos, as vezes era meu doble, outras fazias figuração, me lembro aquela vez que filmamos uma viagem de vaqueiros com gado, lutamos contra os índios, me lembro que briguei com o diretor para te dar falas, para irmos falando, mas se negou disse que tinhas uma voz horrível, mas eu não achava.
Menos mal, porque sempre fui um canastrão representando.  Riu, agora trabalho aqui, Sean me contratou, porque não tenho idade mais para fazer essas filmagens.  Além de que vinha trabalhando na fazenda ao lado, o filho da puta falou mal de ti, não me contive, lhe dei um murro.
Falou o que de mim?
Que eras um gay de muito cuidado, pois te via entrando na casa de hospede com homens, lhe perguntei e daí?
Lhe respondi que já tinha dormido contigo muitas vezes, me ofendeu, lhe dei um murro.
Mas nunca dormi contigo.
Não, mas quase.    Nesta filmagem que falas, um dia depois de um dia inteiro filmando, me disseste que fosse ao seu trailer, quando cheguei, estavas até os fios de cabelo de cocaína, tinha bebido também, mas escorregaste, bateste a cabeça.  Estava desacordado, chamei o Sean, ele me ajudou, até que veio o médico, fiquei te segurando nos meus braços.
Alguém realmente me segurava, me sentia num porto seguro, segundo o médico, isso me salvou, que eu sorria enquanto me davam os pontos.  Que essa pessoa, tinha enfiado o dedo na minha garganta, fazendo com que eu vomitasse muito.
Pois é dedos grandes, servem para isso também.
Filho da puta, por que não me disseste depois?
Eu, ia parecer que te cobrava algo, tinha tesão em ti, mas não queria ser um mais na tua lista.
Riram os dois.
Aproveitando que entendes de cavalo, levamos estes, depois quero te mostrar um lugar, que quero comprar.   Deixaram os cavalos num pasto mais acima, saíram a trote, volta e meia o outro se voltava, sorria.              Estava fazendo um esforço muito grande para se lembrar do seu nome, acabou soltando, estou ficando velho demais para me lembrar.  Qual o teu nome?
Se é verdade o que se diz que escolheste o nome principal, Roy, eu sou o Rogers.
Agora me lembro, por isso devo ter-te convidado, me fazia graça, acho que tenho uma foto dos dois, embaixo escrito justo isso  Roy & Rogers.
Parou o cavalo, olhe aquela ravina, faz parte da fazenda vizinha, queria fazer aqui um lugar para o descanso de guerreiro do Braun, está ficando velho, nem me atrevo a fazer um galope, quero preserva-lo para uma aposentadoria boa, ele merece.
Desceram do cavalo, ficaram olhando, teria que descobrir quem é?
Creio que faz parte da fazenda do outro lado, vou me informar para ti, pois podem querer enfiar a faca em ti, se vê que não usam esse lugar.
Voltaram conversando, já era hora de comer, venha comer conosco.  Sempre é bom encontrar um velho amigo.
Sean sorria, tava esperando que o reconhecesse.
Estou ficando velho amigo, demorei, ele teve que me dar uma dica.  Aquela vez que vocês me salvaram.
Pois é não tenho vergonha, hoje posso reconhecer isso, estava cansado de estar só, queria alguém comigo, mas era muito vigiado, tinha vergonha, uma serie de coisas, embora tenha sempre separado minha vida pessoal do personagem, era difícil.
Não conseguia sair do círculo vicioso, beber até cair, ou cheirar.  Era o único que eu pensava que me fazia bem.
Minha mulher trabalhava no filme, por causa disso pediu divorcio pouco depois?
Mas porque, por você ter-me salvado?
Não, porque quando viu pela porta do trailer, que eu te socorria, aproveitei para te beijar, era um sonho que eu tinha.
Porra, sinto muito.
Nada, ela já estava desconfiada, pois quando chegava em casa depois de alguma filmagem contigo, não parava de falar em ti.                 Contava ao meu filho milhões de histórias, como te comportava.   Ele achava genial, quando ela se casou de novo veio viver comigo, porque não gostava do marido dela.
Trabalhei muito para que ele fosse a universidade, fazer o que eu não fiz, estudar.  Esta acabando um livro, sobre a historia dos filmes de cowboy, tem um ou dois capítulos, pois não me deixou ler ainda, falando de ti.
Pois o convide para vir aqui, pode ser que eu possa lhe dar informação sobre isso, tenho muito material.
Não temos aonde hospeda-lo, aonde vivem os cowboys que estão solteiros, está cheio.
Ora Sean, arrume a casa de hospede para os dois, afinal Rogers é um amigo, me salvou a vida.
Vou telefonar para ele, voltou sorrindo, ficou como um louco, sempre quis te conhecer.
Ficaram os três depois sentados na varanda falando dessas terras atrás.
Queria colocar lá o Braun, para que ele tivesse algumas éguas para montar, o final da vida de um guerreiro.    O comprei quando soube que o studio ia mandar mata-lo, pois já não galopava como antes.  Filhos da puta, fiquei uma fera.
Nessa noite, sonhou com as cenas justamente que tinham falado, porque tinha se interessado por ele.   O tinha olhado nos olhos, não como faziam os outros que viam um ídolo, mas sim como um homem olhando outro homem.   Despertou, ficou se lembrando disso.   Talvez isso o tivesse feito lembrar o quanto estava sozinho todos esses anos.   Nunca tinha um romance como os que ele fazia nos filmes.   Estava sempre sozinho, talvez por isso emendava um filme no outro.
Tinha sim muitas aventuras, mas não lhe interessavam, era um corpo bonito a mais.
Gostou como o Rogers tinha olhado para ele hoje, a cara, o sorriso que tinha lhe dado, a facilidade de falar com ele das coisas.
No outro dia montou um outro cavalo, castanho escuro, mas muito bonito, que tinha comprado a pouco tempo.  Foi levando o Braun, pelas rédeas, para solta-lo num pasto mais acima.  Quando chegou lá, tirou a brida,  o abraçou como fazia sempre, falou ao seu ouvido, eres livre meu amigo, tão livre como eu quero ser.  Depois traria até ali duas éguas para lhe fazerem companhia.
Quando montou para voltar, viu que Rogers vinha em sua direção.  Desceu do cavalo, resolveste adiantar.
Sim, acho que ele merece, seu repouso de guerreiro.  Agora quero encontrar duas éguas bonitas para lhe fazer companhia, que ele não se sinta só.
Ele parecia ter entendido, saiu a galope pelo campo, ia e voltava até aonde eles estavam.
Olha Rogers, essa noite sonhei como que tínhamos falado, já sei por que te convidei para ir se encontrar comigo.  Eu estava tremendamente sozinho, não me olhavas como esse olhar de todo mundo, opa um famoso, vou me aproveitar.   Me olhaste como um homem olha o outro, querendo estar juntos.    Me lembro que falamos muito durante o dia, enquanto gravamos juntos.  Aparentemente eram dois vaqueiros conversando.
É verdade eu estava apaixonado por ti, quando minha mulher me perguntou, eu lhe disse a verdade, estava farto de estar escondido, como tu.
Quando meu filho veio viver comigo, eu lhe contei a verdade, que gostava muito de ti, como homem.
Os dois se aproximaram, se beijaram, o que não tinha feito naquela época.
Quando se separaram, Aaron lhe perguntou se não achava que estavam velhos para isso?
Não sei Aaron, mas sempre fui apaixonado por ti.  Conheço todos teus filmes, nunca te condenei por ter que fazer sexo escondido.   Queria dizer olha estou aqui, mas eu não queria esse sexo de um dia somente.
Bom quem sabe podemos tentar.  Sentia uma necessidade de um abraço forte, lhe pediu sem vergonha nenhuma.  Ficaram ali parados, um abraçado ao outro, sentiam que estava excitado, mas não fizeram nada, depois ficaram ali, na cerca olhando o Braun.
Sabes qual o problema, as pessoas se apaixonavam pelos personagens, confundiam comigo, jamais, podia imaginar que eu fosse uma pessoa por assim dizer frágil, que o álcool, as drogas não ajudavam, pioravam.
Eu ao contrário, pensava, quantos Roy existe, porque procurava algo de ti realmente nos personagens, mas nenhum era como o homem simples com quem tinha conversado várias vezes montado em cima de um cavalo.  Agora o que fazes com o Braun, me toca, pois sempre amei os cavalos.
Entendo o que dizes, porque, tinha feito um filme contigo, em seguida estavas fazendo um policial corrupto.  Num era um justiceiro, tudo pela lei, no outro um policial corrupto, inclusive ganhaste um Oscar por esse filme.
A esse segura a porta do escritório.  Começou a rir, não parava mais, quando disse na cerimonia que usava os Oscar para segurar portas.  Claro nunca fiz nada pensando tenho que fazer isso para ganhar um prêmio.   Fazia porque gostava.
Quanto a esse filme, o anterior era muito agua com açúcar, tonto vamos dizer assim, mas fui obrigado a fazê-lo, lhes  disse que fazia se me deixavam escolher o seguinte.  Quando escolhi, imagina era um roteirista desconhecido, o diretor idem, saiu o filme como eu queria.
Eu estava numa época dura, fudido da vida, mas com o personagem me desafogava, tentava colocar na boca dele, o que eu no fundo estava sentindo com relação a vida.
Poderia analisar contigo os filmes todos que fiz.  Alguns aceitei porque diziam alguma coisa de mim, sem que realmente o publico soubesse.    Não sei se te lembras de um filme que fiz, que fazia o papel de um sacerdote, que está numa ilha, ninguém o quer ali, só um garoto que o aceita porque diz que ele conta boas histórias.   Nesse filme, me sentia tão terrivelmente só, estava cada vez me fechando mais, tinha medo de que a bebida me consumisse.  Até que um dia o garoto que trabalhava no filme, se virou para mim perguntou se eu não tinha vergonha de aparecer todos os dias na filmagem basicamente bêbado, ele tinha que ir para a escola, além de aguentar meu bafo de álcool.
Fiz uma desintoxicação severa, mas não durou muito tempo.    Hoje em dia ele vive entrando e saindo de clínicas por ser alcoólatra.
A vida é um eterno vaivém, mas desde que estou aqui, não bebo, não fumo.  Me levanto cedo, vou andar a cavalo, venho ver o velho Braun, falo com ele.
Agora tens a mim para falar.  Eu tampouco tive uma vida tão fácil, creio que me dei conta que era gay realmente, quando sem querer me tocaste numa filmagem.  Tive uma ejaculação sem estar excitado.  Morri de vergonha, por isso quando me chamaste para ir ao trailer, fui esperando te conhecer direito, não o ator, mas o homem que me provocava isso.
Entendo quando falas de solidão, como comecei a ter encontros, me passou o mesmo, essa coisa que as pessoas esperam que sejas de um jeito, não es o que ela espera de ti.   De mim  esperam que eu seja um macho alfa, mas quando tiro as calças, veem um homem normal, com tudo normal, esperam um caralho imenso, mas é um normal.   No dia seguinte, não as encontro, estou sozinho outra vez.   Até que tomei a decisão, de nada de ir para a cama com ninguém, se querem sexo comigo, será no meio de uma rua escura, rápido, ali mesmo dizes adeus, vais para casa, contigo mesmo.     Mas até disso desisti.
Quero alguém na minha vida, quando me casei foi por isso, mas não consegui enganar a ela, desconfiou logo, dizia que na cama eu estava perdido.
Acho que quando fizemos sexo, do qual nasceu meu filho, eu pensava em ti, foi impressionante, ela dizia, pela primeira vez eres realmente um homem na cama.   Mal sabia que eu procurava outro homem.
Estavam assim, quando Sean avisou que o filho dele tinha chegado.
Voltaram rindo da conversa que tinham tido, volta e meia, paravam os cavalos para um beijo.
O rapaz era a cara do pai quando jovem, Aaron riu dizendo, quando te conheci, eras como ele, esses cabelos loiros rebeldes, esse olhar desafiante.  Nos apertamos as mãos, ias ser meu doublé, nas cenas perigosas, te desejei sorte.  Vais salvar um idiota de fazer feio.
O rapaz estava olhando os dois, percebeu o que passava.
Aaron, desceu do cavalo, o abraçou, prazer em te conhecer meu filho.  Como é teu nome?
Ele riu, por tua culpa Roy Rogers.  A gargalhada foi geral.
Então poderei realmente te chamar de meu filho. Viu que ele abraçava o pai, com muito carinho, ficou com uma certa inveja.   Nunca teria um filho que lhe abraçasse assim.
Rogers foi levar o filho até a casa de hospede, se refrescaram, voltaram para comer.
A mesa da cozinha era imensa, ali comiam todos que não tinham família.
Aaron, foi mostrar a casa para Roy, o que ele gostou foi da biblioteca, havia uma parede cheia de roteiros de filmes,  guardei todos, com minhas anotações de como encarar o personagem.
Como vai o livro que escreves, espero que me permitas ler.  Assim posso te acrescentar informações sobre a filmagem.  Tinha um hábito que não interrompia nunca, ia escrevendo mais ou menos como ia a filmagem, as merdas, os erros, tudo no roteiro, estas livre para procurar o que querias.    Atenção, hoje falava com seu pai sobre isso, que muita gente me confundia com os personagens,  mas o Aaron, estava lá no fundo escondido.  Mas inclusive se queres falar mal de mim, podes, me importa um pepino.
Tenho uns dias de folga, acha que poderia ler o que quisesse, escrever aqui?
Com uma condição.   Pai e filho ficaram olhando para ele, esperando alguma coisa espantosa.
Que venhas andar a cavalo comigo, com teu, pai, assim nos falamos. Ok.
Claro que sim.
No final do dia, estavam sentados na varanda como sempre, conversando.  Rogers disse que tinha separado duas éguas para o Braun.
Roy perguntou com espanto, esse cavalo ainda vive?
Sim, está solto num pasto só para ele, agora lhe damos duas concubinas, para comemorar seus dias de herói.
No dia seguinte saíram os três, foram conversando, quando chegaram a um alto embaixo de uma árvore imensa, ficaram ali sentado apreciando Brown com suas meninas, corriam como loucos pelo prado.
Roy, estava feliz, puxa pai, faz tanto tempo que não saímos assim, que sentia falta.  Ficaram ali falando de quantos filmes tinha participado o Braun.
Aaron, contava que tinha sido amor a primeira vista, os outros cavalos nunca me interessavam, a principio ele pertencia a um homem que fornecia cavalos para as filmagens, depois que fiz o primeiro filme com ele, que foi um sucesso, só queria a ele, fui até o rancho do homem e o comprei, tinha primeiro um estabulo perto de casa, achavam uma loucura de ator, que saia a passear pelo parque com seu cavalo.   As vezes as crianças, me cercavam, eu dava uma volta com elas, as mães ficavam loucas, imagina um ator de cinema que vai ao parque com seu cavalo preferido, passear.  Era muito divertido, todas queriam conversar, até que apareceu o marido de uma delas, que era da polícia dizendo que eu não podia fazer isso, que era proibido.  Assim passei a procurar lugares para passear com ele.    Me lembro de uma vez que descobri um lugar fantástico, na estrada de Las Vegas, quando tinha muito tempo, saia com ele por ali, tirava os arreios, o deixava livre, mas bastava assoviar que ele vinha correndo.
Depois quando tinha folga, passei a acampar com ele, nesse lugar, até que um dia apareceu o proprietário da região, reclamando que eu não tinha licença para estar ali.
Procurei outro lugar, o Sean já cuidava das coisas para mim, íamos com um motorhome, acampávamos, o deixávamos solto.  Era fantástico, de noite nos sentávamos em volta de uma fogueira o Braun, vinha se chegando, ficava ali como um cão de guarda.
Sabe o que eu queria fazer Aaron, era ir gravando isso tudo em vídeo, depois montar como se fosse um documental, mas claro se você me autoriza.
Claro, que sim, se isso faz com que tua vida siga em frente, tudo bem.
Na seguinte ida, ele se posicionou, pediu para contar a historia do Braun, o filmou com suas namoradas, pediu para o Aaron contar, como tinha deixado que ele vivesse seu retiro de guerreiro.  Depois pediu para contar como tinha sido o tempo que tinha contracenado com ele.
Aaron, soltou, realmente entendeste, a maioria acredita que não, mas o cavalo faz parte do personagem, estas contracenando com ele, com os outros personagens, mas os coitados nunca aparecem nos títulos.  Por isso merece esse retiro.
Depois Roy foi a cidade, alugou todo um equipamento, começou devagar a entrevistar o Aaron, pedindo que ele lhe contasse sua infância.   Isso com ele, que ele achacava a idade, conseguia se lembrar de milhões de coisas.  Começava dizendo, vocês me conhecem como Roy Park, mas meu verdadeiro nome é Aaron Ishah, sou descendente de 2ª geração de Drusos, espero que saibam o que é, sua origem, se não sabem busque no Google, tem muitas informações a respeito.
Falou da dificuldade em sua adolescência de viver numa família fechada, em que seguiam fazendo o mesmo geração, após geração, nunca tive vergonha deles, mas eles sim de mim, fui embora para NYC, banido pela família.    Mas tinha sonhos a realizar.
Se escutava a voz em Of, perguntando se estava arrependido disso?
Jamais, acho que cada um tem o direito, inclusive a obrigação de buscar seus sonhos, evidentemente tudo tem seu preço, eu paguei o meu.                  Vivi solitário muitíssimos anos, trabalhando como um louco, as vezes desafogando na bebida, nas drogas, por ninguém conseguir ver na verdade quem eu era.
Creio que isso sempre será um choque, entre o ator, seus personagens, seu íntimo.         Fez um gesto mostrando a estante, cheia de manuscritos, tinha por hábito por ter vindo do teatro, escrever no dorso das páginas, como ia a criação dos personagens, nada escapava.  Bem como anotações de tudo que acontecia nas filmagens, inclusive não poupava críticas a mim mesmo, algumas por ter aceitado um papel idiota numa comedia romântica.  Mas claro, os contratos te obrigavam.   Se levantou, até um deles que estava meio para fora,
Vou mostrar um exemplo, ontem estive relendo esse roteiro, creio que se o fizesse hoje teria brigado muito com o diretor, por não ter sabido ler nas entrelinhas.
Como o autor do roteiro já morreu eu posso falar.  Ele era gay, sei porque me deitei com ele, uma pessoa excelente, serio, critico com tudo, vou ler uma anotação que fiz no final, depois de ter lido o roteiro pela primeira vez.
“vejo que o personagem, reflete uma dualidade, entre ser um homem de família, mas tem algo escondido, que para meu gosto ficou fora.   Pois no final aparece uma amante, evidentemente pelo texto se percebe que essa amante é um homem, no filme, era uma mulher atrativa”.
Fui falar com o roteirista, lhe disse porque não se atrevia  a colocar que o amante era um homem.
Me respondeu se eu teria coragem de fazer o papel principal assim.  Disse que sim, fui falar com o diretor, esse armou um escândalo impressionante, o que iam pensar, perderíamos o financiamento da filme, tudo como imaginamos.
Eu sugeri, vamos a pagina que esta marcada aqui, ia mostrando para o vídeo, solicitei que não existisse o personagem feminino, no filme eles se encontravam, mas pedi para cortar isso, faria o seguinte, eu chegaria em frente a casa, olharia para os lados, abriria com uma chave, entraria na casa, pela janela, se veria a sombra de duas pessoas se abraçando, nada mais.
Basta ver o filme para saber que essa cena esta aí,  mas não se vê o sexo da pessoa, pois a cortina só mostrava duas pessoas se abraçando.   Inclusive que foi a figura, foi alguém da filmagem.
Essa arma de dois fios, como era Hollywood, estragou muitos filmes, imagina um homem de família, abandona tudo pelo amante, isso na época seria imperdoável para os de moral dupla.
Conheci muita gente que tinha família, ao mesmo tempo amantes, não posso falar nomes, não porque me proíbem, ou podem me processar, mas eram grandes companheiros de filmagem.
Conhecias essas pessoas, via-se que viviam num poço de solidão incrível, eu mesmo padecia disso, me questionavam o porque de uma filmagem depois da outra.   Na época tinhas uma resposta do studio na ponta da língua.
Voltando a esse filme, fiquei muito chateado, porque o texto era bom.   Por um acaso ganhei um Oscar com esse filme.  Quando fui recebe-lo, disse sinceramente, pois tinha visto os outros filmes, que meu personagem não merecia esse prêmio. Não entenderam, publicaram que eu não apoiava esse tipo de pessoas, que sejam fortes suficiente para abandonar uma vida pública miserável, estar dentro do armário a vida inteira, se sacrificar por uma sociedade que o condena, mas faz coisas piores.
Esse roteirista me apresentou um roteiro para um filme fantástico, riamos os dois, pois sabíamos que jamais seria feito.    Ele se suicidou com drogas pouco depois.
Espera, aqui está, funcionaria como uma comedia/drama romântico, entre dois homens, que estão na guerra, as confusões que aprontam para esconderem que são amantes.
Leia, creio que vais gostar?
Realmente teria feito esse filme?
Sim, claro que sim, estava louco para sair do armário, na verdade os dois estávamos, mas claro nem nos atrevíamos mandar para os diretores ou produtores do studio.   Quando começaram a fazer filmes com personagens gays, na verdade eram produções independentes. 
Farias um filme com um personagem gay, hoje, um personagem da tua idade?
Sem dúvida nenhuma, se o roteiro fosse bom, sim.
Um dos dias, quando já estavam no final desses gravações, Roy trouxe todos os recortes de jornais, falando de sua saída do  armário, durante a entrega de prêmios, críticas, ou outros que elogiavam embora que fosse tarde. 
Veja esse que critica, o conheço, é uma maricona de muito cuidado,  tenta se aproximar de todos atores jovens que conhece, se está dentro do armário, mais fácil de alcançar, mas os atores hoje cagam para Hollywood, a maioria dos filmes bons, são feitos fora de lá.
Quando a reportagem ficou montada, Roy passou para eles, a cena embaixo da árvore falando do Braun, era ótima, na biblioteca, falando dos roteiros, os comentários, no final, ele colocou a história do roteiro gay.  Juntou a gravação de antes, com como era hoje.
Ficou excelente meu filho.  Se um dia tens um roteiro, me mostre.
Roy lhe passou um envelope, eu vou embora essa noite, dê uma olhada depois me fala.
Três dias depois disse que o documentário tinha sido aceito para se apresentar no Concurso do Sundance,  o queriam presente na inauguração.
Sinto muito meu querido, mas impossível, já não tenho paciência para perguntas idiotas.
Foi necessário muita conversa para aceitar.  Mas vou com teu pai.  Tinha dormido pela primeira vez juntos, adorava escutar sua voz rouca, lhe falando ao ouvido na cama, eram dois homens maiores fazendo sexo.
Tinha lido o roteiro do Roy, gostava, mas faltava vivência que ele não tinha, escreveu em todas as páginas do roteiro.
Lhe entregaria depois da apresentação.
Agora já dormiam juntos quase todos os dias, mas Rogers, dizia que estava tão acostumado a dormir sozinho que tinha dias que não aguentava, saia na surdina.  Já Aaron, gostava de acordar com ele ao seu lado.
O jeito foi trocarem a cama por duas, assim era melhor.  Aaron ria, dizendo, estamos como os casais antigos, que dormiam em camas separadas.
Quando chegaram, tinham agendado para ele, uma serie de entrevista, antes de qualquer uma, se sentava ao lado do Rogers, que não queria a princípio.   Soltava logo de cara, se alguém fizer alguma pergunta idiota, já sabem que não responderei. Tampouco falarei da minha vida pessoal, portanto cuidado.
Mas parecia ter falado com as paredes, a primeira pergunta era sobre os dois, ele se levantou com o microfone na mão, foi até a repórter, perguntou seu nome, bom senhorita, imagino que seja, não tem anel de compromisso, a examinou, eres lesbiana, ou muito moderna para sentar com as pernas abertas, acredito que lesbiana, tem um chupão no pescoço, ou seja a foda da noite foi boa.  Ela fez menção de se levantar para ir embora, ele a obrigou a sentar,  vê como pimenta no cu dos outros é refresco.  Olhou bem os reportes, fez que como se contasse, depois perguntou quem aqui assume que é gay.   Ninguém levantou a mão, ele foi sinalizando um a um, assim vocês nunca mais vão me perguntar se sou gay, com quem durmo, etc.
Só aceito perguntas sobre o documentário?
Ai saiu a primeira pergunta, se ele hoje em dia teria feito o roteiro do seu amigo?
Sem dúvida nenhuma, teríamos saído do armário rindo a bessa, se tivesses a oportunidade de ler o mesmo, veria que nas entrelinhas, nos momentos cômicos principalmente havia melancolia, solidão, muitas coisas que não se falam nos filmes.
Hoje vemos os filmes, ou séries falando dos problemas dos soldados que foram a guerra por esse pais, uma guerra que eles não provocaram, quando voltam, cheio de problemas na cabeça,  os cineastas falam mais abertamente disso, mas veja se fossemos colocar o dedo na ferida, veríamos que o governo, o povo pelo qual lutaram, cagam para eles.
A maioria deve sair do cinema, pensando, isso já aconteceu a tanto tempo.  Mas quando um desses provoca uma matança porque está desequilibrado, não comentam porque ele está assim, sempre olhamos somente para o que interessa.
Os jornalista, viram que ele não tinha nada mais a ver com o personagem Roy Park, agora ele era Aaron Ishah, com opiniões, sem censura do studio.
Um dos primeiro papos que tive com meu velho amigo Rogers, verão no documentário que nos conhecemos a muitos anos.  Se mostra uma fotografia dos dois, na qual escrevi Roy & Rogers, neste dia ele me salvou a vida.  Quando entrou no trailer, eu tinha cheirado cocaína, bem como bebido muito, cai, bati a cabeça em algum lugar.  Tive que ir para o hospital.  Tudo porque me sentia sozinho.  Até hoje mantemos essas conversar no pé daquela grande árvore, olhando como meu cavalo Braun é feliz, com suas duas donzelas.  Aviso, recebemos notícia aqui que as duas estão imensas, ele as deixou gravidas.   Espero que sejam dois animais, tão nobre quanto ele.
A apresentação do documentário foi um sucesso, ele agora olhando numa tela grande, via que era o dono finalmente de sua vida, que se tivesse sido antes, teria sido um ator imenso.
Tornou a dar entrevistas no dia seguinte, agora as perguntas eram mais interessante, com o Roy sentado ao lado dele.
De noite lhe entregou o roteiro que ele tinha escrito,  leia minha anotações, medite sobre elas, algumas te pareceram uma crítica, mas veras que não são, seria impossível para ti, nessa idade saber como funciona isso tudo.
Quando tiveres lido tudo, vá visitarmos.
Ele riu, irei, agora então que já entendi que tenho dois pais, uma família completa.
Ele se desligou totalmente, seu prazer era agora subir, mesmo sozinho para ficar observando a gravidez das éguas, ainda pensou como os animais são fantásticos, era como se o Braun, cuidasse delas com mimo.    Tinha consultado um veterinário, que as vezes vinha examinar as mesmas.
Sabes se ele tinha cruzado com alguma égua antes?
Não tenho a menor ideia.
Quando ia sozinho, sentia falta do Rogers, mas sabia que ele tinha que trabalhar, não estava ali para o distrair.  Conversava com ele mesmo dentro de  sua cabeça, era como se seus dois eu estivesse sentados frente a frente, dizendo verdades um ao outro.
Agora o que fazia era escrever isso.  Não queria perder o confronto dele mesmo.  Algumas coisas realmente chegou à conclusão eram culpa dele.  Se tivesse se defendido melhor, talvez, tivesse sido diferente.   A fama, também leva a pessoa a desconfiar das outras, sabia que algumas se aproximavam dele por isso, era um ator famoso.
Mas ele na verdade se ria por dentro, pois o confundiam com a imagem que tinha dele os jornais, revistas. 
Algumas inverdades ele mesmo tinha construído. O fazia de proposito, para confundir os jornalistas.  Nunca tinha suportado isso, de ficarem fuçando sua vida, ele não fazia isso com a vida dos outros, entendia que era o preço da fama.
Claro nem podia dizer, se eu pudesse voltar a trás, faria diferente.    O mundo hoje era rápido demais, soltavas um peido, em seguida está na internet.
Quando Roy, chegou, passou a acompanha-lo para ver Braun, pois seu pai estava com os outros levando as manadas de cavalo, de um pasto para outro, montanha acima.
Lhe perguntou se tinha digerido bem os comentários, as críticas do texto?
Confesso que num primeiro momento, fiquei confuso, mas retornei a leitura de cada página, a analisando de cima a baixo, passei a entender, claro, eu mesmo passei a escrever como tu fazes, ao lado, com o que não concordei.   Depois, escrevi o texto inteiro, num acrescentei tuas sugestões, noutro, como eu sentia isso.   Foi uma experiencia interessante,  mostrei a dois conhecidos, que leram as duas, me soltaram que eu devia juntar tudo que ficava mais interessante.
Sean voltou trazendo o Rogers, pois ele tinha sofrido um acidente, os dois desceram como loucos, o acompanharam ao hospital.  Depois de vários exames, o médico disse que o problema era sério.  Ele tinha um tumor no cérebro, talvez devido a tantas caídas do cavalo,  agora no momento estava inflamado justo nesse lugar, não podia simplesmente retirar, por não conseguirem saber a extensão.
Aaron, passava o dia inteiro no hospital, segurando sempre que possível a mão do Rogers, era impressionante, o sentia mais frágil a cada dia.  Quando finalmente puderam fazer os scanners como deviam, a notícia foi terrível.   Estava espalhada por toda a parte traseira da cabeça, era impossível operar,  o médico foi honesto, tu podes escolher.  Ter teus últimos meses ou ano, com qualidade de vida, ou uma tortura com quimioterapia, mas no fundo vai dar no mesmo, os efeitos colaterais serão imenso.
Subiam os dois todos os dias a cavalo a árvore, ele colocava uma manta, ficavam ali deitados observando.   Rogers dizia que os dois estavam tendo um final de vida, de verdadeiros guerreiros de seu tempo.  Braun com suas éguas, ele com o homem que tinha amado a vida inteira.
Quando chegou o inverno o jeito foi descer as éguas com o Braun, para as cocheiras da fazenda, elas pariram lá.    O tempo esse ano estava horrível, chovia demais, ficavam os dois sentados na varanda, conversando, até o momento que só podia fazer em cadeiras de rodas.  Roy, ficou o tempo todo ali na fazenda, salvo as poucas vezes que teve que ir a Los Angeles.  Mas Aaron, não saia dali de maneira nenhuma.     Um dia se pegou no campo chorando, maldizendo a tudo que se podia acreditar nos deuses.  Porque justo quando ele tinha encontrado um equilíbrio, uma pessoa que o queria, a perdia, não era justo.
Rogers, morreu em seus braços.  Com o filho do outro lado.  Tudo que pediu ao Aaron, foi que cuidasse dele.
O enterraram lá em cima aonde se sentavam para conversar.
Roy mostrou o texto que tinha refeito mil vezes para o Aaron, este gostou, agora toca botar isso para frente, mande para os produtores.  O silencio foi total.
Que se fodam, vamos levantar a produção, procure qualquer para ser diretor do filme, um desses que são jovens arrojado.   Já foi melhor a coisa, pois três se candidataram.
Entrevistaram os três, ficaram com o que tinha a visão, mais próxima do texto.
Roy e este debatiam página por página, quase que frase por frase, a ideia.
Agora era encontrar os atores, Roy pediu que ele fizesse o papel do personagem no presente, se ele se arriscaria. 
Não tenho nada a perder.
Ensaiaram com os atores um bom tempo.  Aaron, deixou que algumas partes do filme fosse ali na fazenda, o resto seria num studio em Hollywood.
O primeiro dia lá, para ele foi como ter um sabor amargo na boca, estava um pouco mal humorado,  tinha tanto o texto dentro da cabeça, que podia rodar as cenas de um tirão só.
Pela primeira vez em todos esses anos, acompanhou a montagem do filme.  Quando ficou pronto, convenceu uma serie de atores que conhecia, que viesse ver.
Todos aplaudiram no final, as cenas que ele fazia mesmo sozinho, era um verdadeiro tour de force, de um ator.   Principalmente do final,  o fazia sentado na biblioteca de sua casa, era como se profetizasse o que iria acontecer.
Pela primeira vez na vida, usava seu nome verdadeiro, o tentaram fazer mudar de ideia, mas se negou.
Quando o filme entrou em circuito, foi um sucesso, passou em todos os festivais de  cinema, principalmente os LGBT, foi lançado no Sundance, considerado o melhor filme da temporada, depois Cannes, foi outro sucesso, lhe deram o primeiro prêmio ao Roy, para gargalhada geral ele ganhou como ator revelação.
Depois Londres, Berlin, acabou sendo indicado para os Óscares.  Cabe lembrar que ele não foi a nenhum, dizia que estava no seu retiro de guerreiro.
Depois da perda do Rogers, não tinha muita vontade de ver gente, ficar falando algo vazio.
Os potros tinham nascido, se sentia como avô os mesmos, pois o inverno chegava ao fim, assim podia estarem no pasto, ia todo os dias ver a família.
Os chamava de os meus meninos.  Braun parecia sentir o mesmo com eles, era como se estivesse ensinando o que era a vida de um cavalo.
Todos queriam que fosse a cerimônia do Oscar, se negou rotundamente.  Lhe disse a Roy, vá seja o orgulho de teu pai.   Ele tornou a ser nomeado apesar da critica ser toda contra, o queriam como ator principal, de novo como ator revelação.
Qualquer coisa tinha vindo uma equipe para gravar o que diria.
Roy ganhou como melhor roteiro, agradeceu, dizendo que sem o auxílio do Aaron, não seria possível.  Ele tem uma vivência que eu não tive,  conversamos muito sobre todo o roteiro. Não ganhou para melhor filme, não se atreviam dar um premio assim para fomentar  tipo de filme, Ele ganhou o Oscar de ator revelação.  Fez uma coisa divertida, saiu pela casa mostrando os Oscares que tinha, segurando portas, soltou a dúvida agora, aonde colocarei esses.  A segunda parte, ele estava no campo abraçado ao Braun, como todos sabem, ele está vivendo seu retiro de guerreiro, nunca ganhou nenhum Oscar, embora tenha feito trabalho maravilhosos, foi uma honra contracenar com ele durante tantos anos.   O público veio abaixo com isso.
Roy, recolheu o prêmio por ele, soltou, foi o grande amor da vida de meu pai, o conheci em criança como Roy, entendi então por que levava esse nome.  Mas quando voltei a reencontra-lo ele já era Aaron Ishah, um grande homem.  Meu segundo pai, este prêmio é teu, já podes começar tua segunda carreira.
Ele viu tudo pela televisão,  nessa noite fazia mais calor, se sentou na varanda com o Sean, é, parece que consegui recuperar a pessoa que existia dentro de mim.  Lastima que Rogers não estava aqui para ver seu filho vencer, numa coisa que ele amava, que era fazer cinema.
Sean disse que ia dormir, pois queria levar a nova manada para os pastos de cima, como tinham novos cowboys, tinha que ver se algum era experimentado realmente.
No dia seguinte o encontraram morto ali, do pasto de cima veio um cowboy, a galope dizendo que o velho Braun tinha morrido também.
Deixou tudo para o Roy, dividindo a fazenda em duas partes, entre Sean e ele.   Assim poderiam levar para frente.
Com sua morte o documentário voltou a ser passado nas televisões, seus filmes todos eram passados como uma homenagem a ele.  Roy reviu todos ali, sentado com o Sean na biblioteca.
Do último não falavam, era outro personagem, só que esse era o real Aaron Ishah.







  








   


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