martes, 14 de julio de 2020

ROCK


                                                   ROCK
Meu nome verdadeiro é Rockefeller, mas todo mundo me conhece por Rock, imagine dizer a alguém, já me bastam os do banco, que me chamo Rockefeller Macfarley, muita gente pensa que é por causa do ritmo Rock and Roll, nada mais longe da verdade.  Fui criado dentro da música Country, porque era o que escutávamos na Rádio.
Sou o filho temporão de uma família rural, comigo foi tudo por um acaso, a diferença com meu irmão mais velho é de dez anos.  Ele era um tipo, quase dois metros de altura, com um corpo incrível, tudo pelo trabalho do campo.  Parecia um jogador de futebol americano ou nadador, mas ao contrário tinha medo da água, nem sabia nadar.
Eu ao contrário não sei se nasci por descuido, cheguei a 1,75 metros de altura, tinha como ele um corpo bom.   Estudamos o básico na cidade mais próxima, ele antes de mim,  meu pai morreu dois anos depois que eu nasci, uma ferida mal curada, além da cabeça dura que tinha ao não resolver cuidar-se, dizia que tudo se cura por si só.
Então tocou a ele levar as terras que tínhamos, ele, eu o ajudava, era uma terra ruim como dizia minha mãe, cheia de pedras, meu ofício desde pequeno era ir tirando as pedras amontoando por ali.   O bom de trabalhar com ele, era que cantava o tempo todo as músicas country que escutava pela rádio, cantava altíssimo, para se fazer ouvir por em cima do trator.  Foi a minha primeira paixão.  Ele era tudo para mim.   Me defendia quando algum garoto se metia comigo, alias adorava uma briga.  Dizia que assim se descarregava.
As garotas da cidade próxima brigavam por ele, se é que se pode chamar de cidade, um lugar com três ruas paralelas.  A sorte do lugar, era que ficava ao lado de uma estrada interestadual, mas com um tráfego de merda.   Até isso aqui é horroroso, dizia minha mãe, odiava viver lá, tinha sido enganada dizia, sou de cidade.   Infelizmente estava desgastada pelo tempo, pela vida dura, quando vi uma foto sua de jovem, fiquei com a boca aberta. Tinha sido uma preciosidade quando jovem.
Meu irmão se chamava Marc Macfarley, foi um grande cantor de Country, tudo começou por um acaso, eu tinha uns 15 anos, ele 25, as vezes o encontrava na varanda de casa no final do dia, olhando o campo, aonde estava plantadas batatas, milho, algo de cevada para os animais.  Seu olhar era triste, sem querer lhe comecei a cantar uma música que tinha na minha cabeça, ele se virou ficou me olhando, quando parei me disse, repete, repeti, riu de onde tiraste essa música fedelho.  Bati na minha cabeça, daqui.
Ele começou a cantar com aquela voz potente que tinha, a letra falava de ter plantado, a espera, o vazio dessa espera, quando estas só, da solidão de ficar olhando a paisagem de tudo crescendo.
Escreva para mim, quero ter essa música em minha cabeça.
Uns quinze dias depois, ele estava arando a terra, perto da estrada, quando viu um carro descapotável, parado.   Perguntou ao homem o que passava.  Este ficou de boca aberta quando viu meu irmão, com aquela velha camisa de quadros, aberta, mostrando um peito peludo, forte, calças ajustadas jeans, era uma beleza de olhar.
Meu irmão arrastou com o trator o carro até a casa, chamou o mecânico da cidade, enquanto isso o homem já tinha se refrescado, sentou-se na mesa para comer conosco. Tinha se apresentado como Gene Brow, era agente de cantores, tinha ido a uma feira, para escutar cantores locais.  Voltei com a mão vazia, nada de novo, só imitadores.
Minha mãe lhe ofereceu um quarto que não era usado para dormir, na cidade não tem hotéis. Riu dizendo, quem ia querer vir passar uns dias nesta merda de lugar.
O mecânico disse que teria que pedir a peça para o carro, o levou para sua oficina numa grua. O Gene ficou lá em casa, no dia seguinte estava sentado na varanda, viu meu irmão arando, cantando altíssimo, com sua voz poderosa, para se escutar por cima do trator.
Ficou de boca aberta, quando meu irmão parou, pois ficava repetindo uma e outra vez a música, para encontrar a maneira perfeita para cantar a mesma, lhe disse que tinha uma voz fantástica, mas porque cantava tão alto?
Lhe explicou, senão não escuto o que estou cantando, mostrou o trator, tento que a letra dessa música fique melhor.
De quem essa música?
Do pirralho, de quem vai ser.  Já cansei das músicas que escuto no rádio, ele sempre tem letras na cabeça, me canta a mesma, depois vou arrumando para minha voz.
Me canta outra que ele tenha feito.
Lhe cantou a música da tristeza, automaticamente abaixava seu tom de voz, parecia que estava sussurrando ao ouvido de quem escutava.
Queres vir comigo para Nashville, só precisas aprender a modular um pouco tua voz.
Minha mãe que escutava tudo, disse que só se fossem todos, pois estava farta de viver ali, que eu merecia algo melhor.
Na verdade, meu irmão nunca seria capaz de deixarmos para trás, porque amava minha mãe acima de tudo.
O homem concordou, ela vendeu as terras ao vizinho que sempre a tinha cobiçado, juntou um pouco de merdas que tínhamos, trapos dizia ela. Subimos na nossa caminhonete, fomos seguindo o Gene até Nashville, nos colocou todos num hotel barato, mas no dia seguinte ela já saiu atrás de uma casa para nós, tinha dinheiro da venda das terras. Encontrou uma casa simples, fora do centro, de madeira, dizia que amava isso.
No mesmo dia, eu segui Mac, para as aulas que ele ia ter, ficava do lado escutando tudo, aprendendo por osmose vamos dizer assim.   A professora tinha sido cantora de Country, até que perdeu a voz, por um câncer nas cordas vocais.
Ensinou o Mac a modular a voz, a colocar-se em cena, a cantar minha música, dizia, pense que estas cantando no ouvido da pessoa amada.
Eu ficava como louco, pois era impressionante.  Um dia me escutou a fazer seus exercícios, disse que era de família, que eu modulava muito bem em outro tom.  Podia fazer falsetes inclusive, sem querer soltei outra música que estava na minha cabeça, falava de admiração por uma pessoa que pode ensinar, apesar das tragédias, tem um motivo para seguir adiante.
Uau, saiu agora da tua cabeça?
Sim disse eu, fiz para a senhora.
Ela trabalhou mais essa com meu irmão, como devia cantar essa música.
Gene o levou a uma audição, estávamos os dois aprendendo a tocar guitarra, a mim, me saia estupendamente, tinha basicamente aprendido de ouvido, as cordas eram como seguir meus dedos guiados pelo que escutava na minha cabeça.
Ensaiamos muito.  Lá fomos os dois, tinham umas 10 pessoas escolhidas pelo Gene para escutarmos, nem tinha ideia de quem eram.
Mac cantou, soltou a voz, como não sabia ainda usar direito o microfone, cantou como fazia na fazenda, mas controlando a voz, modulando,  eu lhe seguia como contraponto, nos momentos que tínhamos combinado.
A primeira ficaram em silencio, um homem gordo, imenso de grande, em que a roupa parecia muito pequena, pediu outra, mas country.   Ele soltou a primeira que tinha feito para ele.
Bom agora estamos de acordo, quem compôs essas músicas?
Mac me apontou, o homem olhou para mim, com minha cara de garoto.  Riu, esse pivete escreve música?
Então escute a melhor que ele fez.  Soltou a que tinha composto para ele na fazenda, essa posso cantar de diversas maneiras.  Quando terminou uma mulher que estava ali, aplaudiu.
Fazem uma dupla perfeita, Gene, precisamos que ele tenha acompanhamento certo, o rapaz toca direito, mas ele com esse corpo a guitarra parece um brinquedo.
Foram dias e dias montando o grupo, Mac como era cabeça dura, disse que só queria gente em quem ele confiasse.
Mas continuamos indo as aulas, um dia estava sentado na sala, vi um livro aberto, por curiosidade, comecei a ler, era de Walt Whitman, a professora me viu lendo de boca aberta, me falou quem era.
Pediu que eu lesse, depois comentou, tens uma voz linda, me disse abaixe o tom um pouco a deixe ficar um pouco mais rouca.
“Apenas me movo, pressiono, sinto com meus dedos, e sou feliz, tocar com meu corpo a do outro e quase todo o que posso resistir”
Me desafiou a compor uma música só com isso.
Fiquei dois dias, compondo a música, era um tanto erótica, imaginava como um prenuncio de sexo.
Quando Mac escutou, disse que eu estava libidinoso, de devia parar de bater punheta, tentar fazer sexo com alguém.   Ele dizia isso, porque as mulheres viviam correndo atrás dele, se fazia de desentendido, rindo, mas só escolhia as de um dia.
Minha mãe, não se intrometia, vivia feliz na sua casa nova, comprava roupas, tinha ido a cabelereiro, cortado pelo sano como dizia, agora estava mais jovem, tinha comprado cremes para a cara, para a mão.   Saia com as amigas que tinha feito, não se intrometia em momento algum com a nossa vida.
Um ano depois, com a maioria de músicas minhas,  Mac fez sua primeira apresentação, foi um sucesso, gravamos um disco.
Gene queria que Mac aparecesse como compositor das músicas, das letras, mas a professora, antes dele assinar contrata algum o orientou.  Nada disso, isso seria como roubares teu irmão, se essas músicas funcionam, lhe explicou como funcionava a coisa.  Eu sempre ganharia algo, quando ele cantasse, ou tocassem a música no Rádio. 
Gene ficou uma fera, mas já sabia que quando Mac dizia uma coisa, não arredava o pé.  A única pessoa que conseguia convence-lo era eu.
Assim fiquei conhecido como compositor.
Depois do sucesso do disco, tocando na rádio, já com bastante dinheiro, Mac, comprou uma Motorhome, para sairmos de tour por um sem fim de cidades, feiras agrícolas, a lista era imensa, minha mãe se negou terminantemente a sair de sua casa, que eu fosse em seu lugar, cuidando do Mac.  
Fez uma reunião comigo, me dizendo que não o deixasse beber muito, nada de fumar erva, nem drogas.
Eu agora, agora quando não me apareciam músicas na cabeça, pegava uma ou duas frases do livro, desenvolvia uma música.   Mas claro as transformava em minhas essas palavras, mudava o sentido delas.
Um dia Mac estava de bares com os da banda,  estávamos numa feira, fiquei sentado num monte de feno, na frente de um lugar cheio de animais, pensando, estava no mundo da lua. Quando apareceu um Cowboy, ficou parado me olhando.  Mas claro eu estava em outro mundo.
Garoto acorda, estou falando contigo, quando o olhei, fiquei de boca aberta, tinha a camisa aberta, num peito peludo, um sorriso de cara a cara, as pernas arqueadas, Vem vamos dar uma volta, vi você tocando com Mac, depois soube que as musicas era tua.  Fiquei pensando esse garoto não tem vivência para falar dessas coisas.
Ficamos sentados no chão, seu nome era Scott, me perguntou se eu já tinha amado na vida, se tinha sofrido por amor, como podia compor se não tinha experiencia.
Para um cowboy de rodeio, ele era inteligente. Me olhou nos olhos, dizendo vou te ensinar a amar. Foi a primeira vez que fiz sexo.  Minha cabeça explodiu, ele foi me tirando a roupa desabrochando tudo, puxou minhas calças para baixo, me segurando pela cintura, beijou meu corpo inteiro, me chupou o caralho, fez de mim um boneco de trapo. Fiquei alucinado.
Os dias que estivemos ali, nos encontramos todos os dias de noite, ficávamos conversando, depois acabávamos fazendo sexo.   Fiz uma música para ele, falando nisso, de como passávamos de uma conversa, a que ele fosse me desvestindo, que me sacava a virgindade em todos os sentidos.  Não coloquei um personagem masculino nem feminino na letra, falava como se fosse ele, tendo esse privilégio de fazer isso com uma pessoa virgem em todos os sentidos.
Nesse dia o sexo, foi como uma despedida, ele ia em outro sentindo que não o da nossa turnê, sabia que ia sentir falta dele, me disse no último momento, vou sentir falta de ti, me beijou apaixonadamente.
Nesse dia cheguei tarde a Motorhome, meu irmão queria saber aonde tinha estado.  Vi que tinha bebido demais, mudei o rumo, fiquei bravo com ele, tens que te controlar, sei que todos querem te oferecer mais bebidas, mas agradeça, não podes ficar bêbado todos os dias.
Seu mal talvez fosse esse não sabia dizer não.
Quando lhe mostrei a música, ficou como louco, primeiro quero saber para quem compuseste essa música, porque vou partir a cara desse sujeito.
Fiquei de boca aberta, como sujeito.
Ninguém faz uma música assim, a não ser que estivesse com outro homem, achas que não sei da vida.  Venho fudendo o Gene todo esse tempo.  Gosto de homens também, não sou tonto.
Lhe contei o que tinha acontecido.
Soltou, pelo menos tiveste um romance, com Gene é só um momento de sexo nada mais, se quero romance, tenho que ter sexo com uma garota, me preocupando se não é uma menor de idade.  Ele fica vigiando, olhando as vezes, depois pede que eu o penetre.  Filho da puta.
Vamos arrumar essa música, entre os dois arrumamos a letra, quando cantava, mandava o grupo parar de tocar, só eu tocava a guitarra, cantava com a boca quase colada ao microfone, rouca, como se estivesse fazendo sexo.   As mulheres ficavam loucas, mas percebi que os homens também.
Um dia estava acertando contas com Gene, afinal ere eu que levava as contas de tudo, no dia seguinte iria ao banco depositar na conta, tínhamos uma conta em conjunto.
Quando entrei na Motorhome, lá estava ele deitado com um homem, fazendo sexo. O homem gemia como um animal, fiquei parado sem saber o que fazer, excitado, Mac me disse, tire essa pau para fora, de para ele chupar.    Foi uma das muitas vezes que participei de sexo com ele, o pior era que me beijava na boca, me dizia ao ouvido, meu único amor.
Quando percebia que algo ia acontecer, desaparecia do mapa, não queria isso, estava confundindo minha cabeça.   Se a cidade era grande, me vestia diferente, camiseta, tênis, amarava meus cabelos compridos num rabo de cavalo, ia aos lugares gays.   Tinha aquelas famosas relações de uma noite, pois no dia seguinte não estaríamos ali.
Um dia voltava de madrugada, escutei o Gene brigando com ele.  Só escutei Mac dizendo, tire esse cu sujo da minha frente, o caralho é meu coloco aonde queira.  Quando entrei, tinha um rapaz da minha idade, sentado nu na cama. Meu irmão estava em pé, completamente nu, o Gene possesso, entendeu que tinha perdido seu lugar. 
A partir desse momento fui a ligação com os dois.  Sabia por exemplo que no dia que ele cantava essa música era porque queria um homem com ele.   Eu escapulia, pois não queria que ele me beijasse na boca, me confundia.  Fui buscar na biblioteca o que era isso, um incesto.
Ele quando me neguei uma vez a participar, riu dizendo que eu tinha medo de me apaixonar por ele.  Como dizer ao teu irmão, que estava apaixonado por ele desde garoto.  Mas não uma paixão física, apenas ele era meu mundo.
Uma frase do livro me chamou a atenção “ Zombam de minha confusão na calma luz do dia”.
Compus uma música, falando dos meus sentimentos. Não mencionava sexo, nada.
Ele escutou a música, soltou eu nunca zombaria de ti, sei que me queres como sempre desde criança.  Eu sempre vi teu olhar de admiração. Como o mesmo tenho por ti, por saber colocar palavras na minha boca para que eu expresse meus sentimentos.
No show desse dia, ele soltou, agora meu irmão, me apontou, vai cantar para vocês sua última música.   Lhe disse baixinho que não podia, nunca tinha enfrentado o público sozinho.  Olhou na minha cara, nem se atreva a não fazer, cante como se fosse para mim.
Assim fiz, o publico ficou louco, cantei em ritmo de balada.  Depois do show, dois rapazes se aproximaram de mim, para dizer que isso tinham sentido da primeira vez que tinham feito sexo.
No dia seguinte tínhamos uma entrevista na rádio.             Gene já não nos acompanhava, apenas administrava os contratos, acertava contas comigo.                    Estava mais triste, apagado, fiquei preocupado.
Ele exigiu que eu participasse da entrevista, ria, conversava descontraído com o locutor, agora quero que escutem essa música incrível que compôs meu irmão, que cantou ontem a noite com sucesso.  Me obrigou a cantar.
Em seguida a radio começou a receber chamadas de telefone, Mac se levantou, disse agora é contigo.
Fiquei ali, atendendo a cada chamada, escutando as pessoas falarem do que tinham sentido, ao escutarem isso.     Um homem com uma voz suave me disse que tinha sido assim a primeira noite de sua vida com outro homem.
Quando terminou o programa, o diretor da rádio disse que se eu quisesse um emprego, era meu.
Nessa noite conversei com Gene, me preocupava os dois, quando lhe perguntei o que sentia pelo Mac.   Disse somente que tinha se acostumado a fazer sexo com ele, que nunca tinha imaginado ser rechaçado.
Mas o amas?
Não sei o que é amor, apenas quero que ele me penetre nada mais.
Depois do show, vi Marc conversando com  os músicos, iam a uma festa, voltou bêbado, drogado, isso passou a ser o cotidiano.   Quando brigava com ele, me dizia que não o entendia, me pedia perdão.
Fomos fazer uma apresentação na televisão em Los Angeles, nunca tinha visto o mar assim, fiquei fascinado.  Nesse dia ele estava mal humorado, tínhamos uma entrevista numa rádio, que na verdade tocava música Rock, para os mais jovens, lá pelas tantas, disse, já escutaste a voz do meu irmão cantando baladas, me fez cantar a maldita música.   Ele a chamava de confusão. Aconteceu o mesmo, as pessoas telefonavam para falar comigo.  Eu paciente respondia a tudo, olhando na cara dele.
No hotel, nessa noite, chegou com um rapaz, como ele totalmente drogado,  como era uma suíte fui dormir no outro quarto.  Quando despertei de manhã, escutei o rapaz gritando, corri, não via o Marc, o rapaz estava agarrado na cortina do quarto, quando olhei para baixo, vi o Marc na piscina boiando com o corpo virado para baixo, nu completamente.
Disse ao rapaz, que se vestisse, que saísse dali rapidamente para evitar confusão. 
Ele é o teu namorado?
Não, por quê? 
Pois ele passou a noite inteira me chamando de Rock.  Disse que não podia viver sem mim. Eu lhe dizia que não me chamava Rock, mas isso não o incomodou, seguiu fazendo o mesmo.
Olhei finalmente o rapaz, era super parecido comigo, apenas a diferença era os cabelos.
Me vesti, desci correndo, mesmo sabendo que era tarde,  ele não sabia nadar.  Tinha pulado da varanda dentro da piscina.  Chamei o Gene, esse cuidou de tudo, pela primeira vez fez um gesto de carinho no rosto do meu irmão.   Eu me sentia como uma pedra de gelo.
Avisei minha mãe, disse que me esperava em Nashville.  Ele ia ser enterrado lá.
Quando chegamos, a vi depois de quase quatro anos rodando pelos Estados Unidos, de braço com um homem de sua idade.   Me disse que estavam vivendo juntos.
O enterro foi uma coisa impressionante, da mesma maneira que estava cheia de garotas, também havia muitos garotos chorando, na hora não entendi por que, até que vi o que tínhamos feito sexo a três.   Depois se aproximou, marcamos de conversar.
Mais tarde tomando um café, me disse que Marc o tinha chamado muitas vezes para fazer sexo, mas que só o chamava de Rock.   Pensei que era uma brincadeira, pois ele sabia que eu gostava de Rock And Roll, até que descobri teu nome, me penetrava, ficava passando a mão na minha cabeça, dizia que eu cuidava dele, essas coisas.
Eu não sabia, fiquei me culpando, por achar que ao ter aceitado a participar do sexo a três, tinha feito aflorar nele isso.
Um advogado me procurou, para que eu fosse ler seu testamento.        Nem sabia que tinha feito, me disse, que no dia antes de termos ido a Los Angeles.  Perguntei se minha mãe deveria ir, disse que sim.   Mas ao sair, se virou, ia me esquecendo, deixou isso para o senhor.
Era uma carta, a letra dele sempre tinha sido infantil.
Quando nasceste me apaixonei por ti, eras pequeno, quase podias caber na minha mão, creio que fui teu pai desde essa época. As vezes você de noite corria para minha cama, para dormir comigo.  Eram momentos incríveis, eu te amava, protegia.   Aceitei ir para Nashville, aonde nunca fui feliz.  Gene ia para minha cama, já na fazenda.   Fiquei louco por ele, mas depois descobri, que não passava disso, ele para esconder sua homossexualidade, fazia sempre tudo escondido, não conseguia sair desse círculo vicioso.  Não conseguia escapar disso, aquele dia que descobri que tinhas feito pela primeira vez sexo com um homem, morri de ciúmes, fiquei furioso comigo, pois tinhas esse direito.  Mas cada vez que te via perto de alguém ficava com ciúmes, não entendia meus sentimentos.
O pior foi, te peço desculpas por isso, no dia que basicamente te obriguei a fazer sexo a três, quando te beijei, senti amor, passei a ficar procurando isso, queria fazer sexo com pessoas que se parecessem a ti, buscava a ti, até que entendi que isso não era normal.
Quando chegava bêbado, ou drogado em casa, lá estavas tu, para me cuidar, chegou a um ponto que fazia de proposito, pois queria isso, que me cuidasses, na verdade o fizeste isso muito tempo.  Sei que foste falar com o Gene, pensando que eu o amava.   Para nada, tinha descoberto o amor de outra maneira.
Essa é a última viagem, não suporto mais, quero fazer sexo contigo, mas não posso, sou uma vergonha.
Adeus, cuide-se, mas lembre-se que eres melhor músico, compositor, canta baladas como ninguém.   Não deixe que te arrebatem isso.   Não fique em Nashville, busque teu lugar.
Passei o dia inteiro chorando, finalmente colocava para fora tudo, chorei tanto, que no dia seguinte tive que ir ao advogado com óculos escuros, para esconder minha cara.
Minha mãe, estava vivendo sua segunda vida, parecia feliz.
A leitura era simples, me deixava tudo o que tínhamos no banco, além de transferir todos os direitos autorais das músicas para mim.    A minha mãe, lhe deixava dinheiro também numa outra conta.  A única coisa que tenho é a Motorhome, fica para ti, ou a vendas.
O advogado depois conversou comigo é com o Gene, para resolvermos os problemas das músicas.
Depois saímos, Marc tinha falado com ele o que estava acontecendo.  Eu sinto muito, mas gostaria de levar tua carreira, sempre nos demos bem, sabes falar cara a cara comigo, isso eu gosto.  Quisera ter músicos como tu.
Me lançou como cantor de baladas, de repente descobriu, que meus fans não eram só ali, fazia sucesso nas grandes cidades.   Em San Francisco, o publico era totalmente gay, achei graça disso, depois fomos para NYC, foi uma loucura, descobrir que os gays me adoravam.  Tampouco escondi que o era.  Gene achava que isso não era bom.  Mas estava seco de músicas novas.
Nosso contrato terminava, lhe disse que não pensava ficar mais de turnê, que queria parar um tempo, que queria recuperar minha vida, saber na verdade quem eu era.
Ele montou o show de despedida, em Los Angeles, fui de novo a muitas rádios, televisão, a última rádio era aonde tinham me convidado para trabalhar.  O apresentador, me perguntou se eu podia cantar de novo aquela balada que meu irmão gostava tanto.   Cantei, mas chorando no final.   Segundo o diretor, se colapsou a linha telefônica pela quantidade de gente chamando. Atendi a todos que pude. Queriam me consolar. 
Durante o show que estava lotado, eu disse que me retirava por um tempo, que precisava saber quem eu era na verdade.  Todos esses anos segui meu irmão estive na estrada todos os anos da minha juventude.  Agora me cobro quem eu sou.  Agradeço a todos, seguirei compondo, os verei algum dia.
Gene ficou furioso, tinha um contrato embaixo do braço, para tentar me convencer, mas lhe disse que não.  Ainda tentou me chantagear, que estava velho demais para procurar novos cantores, lhe disse na cara que se aposentasse.
Aluguei uma casa em Venice Beach, aonde tinha passado bons momentos com Marc na praia, ninguém nos conhecia, como agora, cortei meu cabelo imenso, passei a usar as roupas que antes usava como disfarce, era um a mais entre todos os outros ali, aprendi a fazer surf.
As vezes ria, quando estava no mar, pensando o quanto Marc tinha medo da água.
Tinha algumas aventuras, mas nada demais,  precisava me recompor.  Um dia lendo o jornal, vi um anúncio de um curso de escritura.   Pensei comigo, talvez isso me ajude com as letras que agora me saiam tão complicadas, que me davam um trabalho incrível para colocar para fora.
Justo no dia que começava o curso, logo pela manhã bateram na porta de casa.  Ela o rapaz que tinha dormido com Marc em sua última noite.  O convidei para se sentar, lhe procurei uma cerveja, já que não bebia.
Soltou logo de cara que estava indo a uma terapia para deixar as drogas, aquela noite foi super confusa na minha cabeça. Eu era fã dele, o conheci num bar gay, mas o reconheci em seguida, me fez sinal para ficar quieto.
Todo o tempo me chamava de Rock, mas só depois descobri que era teu nome.  A partir dai minhas lembranças ficaram mais clara.  Ficou um bom tempo sentado comigo na cama, abraçado, passando a mão para minha cabeça, só então entendi que não estava falando comigo, mas sim com quem estava atrás da outra porta.   Por isso de manhã pensei que eras o namorado dele.  Creio que te chamou várias vezes, me segurava a cara, me beijava, me dizendo que o estava fazer beijar outra pessoa, que era a ti que queria, mas chorava ao mesmo tempo, depois me penetrou selvagemente, chorando todo o tempo.  Dizendo, Rock te amo, que vou fazer, que vou fazer.
Quando despertei, o procurei por todas parte, quando olhei pela janela que ficava em cima da piscina, foi que o vi.    Levei uma bofetada na cara vamos dizer assim.  Quando gritei, saíste, era como ver eu mesmo num espelho, mas com cabelos compridos.
Depois descobri que chamavas Rock, aí minha cabeça embaralhou tudo.  Por isso comecei a terapia, para drogas, vou a um psicólogo também.   Foram muitos anos fazendo sexo com quem não devia, me meti em muitas confusões.    Mas uma coisa eu sei, que de verdade ele te amava.
Primeiro claro, entendia que pela cabeça dele isso devia ser um pecado.   Mas quando falava, demonstrava amor.  Acho que nunca terei esse tipo de amor de nenhum homem, queria que soubesses disso.
Eu sei, as lagrimas rolavam na minha cara.  Demorei tempo demais para entender isso, nem sei como, ele foi durante minha infância, minha figura paterna, eu o acompanhava por todos os lados, era sua sombra.   Quando chovia, ou tinha trovões, corria para a cama dele, ficava agarrado a ele.  Sentia que estava protegido.  Na época da escola, havia o famoso bullying, eu foi lá meteu a bronca em todo mundo.
Quando saímos pelo mundo na maldita Motorhome, essa era nossa casa.  A princípio nunca trazia ninguém, via que tinha namoradas, o peguei fazendo sexo com seu agente, mais bem apenas lhe metendo o caralho pelo cu.    Fiquei muito confuso, depois descobri que sempre tinha sido assim, desde um princípio.   Creio que nesse momento alguma coisa se rompeu dentro dele, pois passou a trazer jovens para fazer sexo.   Mas sexo de uma noite, que era o tempo, que estávamos numa cidade.  Ele quando descobriu que eu durante uns dias num rodeio, estive várias noites com um cowboy, ficou puto da vida, me chamou a atenção, ficou bravo comigo, na hora não entendi.   Achei que estava era bancando meu pai.
Tudo foi se estropeando, eu fiz uma música falando disso, me obrigou a cantar, todo mundo gostou, ele não, os jovens se aproximavam de mim, pois entendiam o que eu estava cantando.
Quando por qualquer motivo brigava comigo, me obrigava a cantar essa música.  Ele pensava que eu não via, que saia do palco para cheirar cocaína.     Nossas brigas eram frequentes, pois ele saia, voltava com alguém,  depois chorava, me perdia perdão.  Um dia perdi a paciência, lhe disse que não era nem seu namorado, que as merdas fazia ele sozinho, que eu continuava sendo seu irmão.  Isso foi no dia que ele te conheceu, bateu a porta foi embora, quando vi que vinha acompanhado, fui para o outro quarto.
Eu também vou a um psicólogo, quero entender esse amor dele por mim.  Eu sempre o adorei como se fosse o pai que não tive.  Na verdade, nos dávamos carinho mutuo, pois minha mãe tampouco era carinhosa, estava farta da vida que ela não queria, até que ele sem querer lhe deu a escapatória.   Ele não queria ser cantor, queria continuar na fazenda, lá era seu porto seguro.
Então agora entendo, que ele foi perdendo o rumo durante todos esses anos, sorria, quando queria chorar.  As vezes estávamos na estrada, ele ia olhando o campo, logo tocava no assunto de como era feliz lá.  Que devíamos ter ficado os dois um cuidando do outro.
No fundo, não sei como funcionava a cabeça dele.            Foi um erro não perceber o quanto ele sofria, mas  tinha descoberto uma coisa que amo, escrever músicas que ficam rondando na minha cabeça.   Hoje começo um curso de escritura, para ver se a transformo numa coisa menos complicada.
Nos despedimos, lhe agradeci ter vindo.  Trocamos número de celulares, apertamos a mão, foi como despedir do meu passado.
Gostei do grupo que faziam as aulas, o professor era jovem, lhe disse que nunca tinha chegado a universidade, que escrevia música, que dado a um bloquei, as letras agora surgiam em minha cabeça, muito complicadas, que tinha dificuldade de encontrar palavras, para transformar em uma letra mais fácil de entender.
Voltando descobri que vivia perto da minha casa, me disse que também tinha passado por uma crise que entendia.   Atualmente dava aula, por ser sentir bloqueado no meio de um livro.
Ficamos amigos, conversamos muito.  Quando escrevi uma letra que estava na minha cabeça, foi até em casa para trabalharmos.  Era como se eu quisesse colocar para fora um sentimento que estava num lugar escuro.  Falamos muito nisso.  Aproveitei comecei a analisar esse sentimento com o psicólogo.   O que era afinal que eu sentia pelo meu irmão.  O que tinha sentido quando fiz sexo com ele, além do outro rapaz.  Me fez recordar com detalhes.
Acabei aceitando, que queria estar no lugar do outro, queria que beijasse só a mim.  No meio disso tudo, fui ao casamento da minha mãe.  Não queria, mas fui.  Tivemos uma conversa antes, falamos no Marc.  Ela me contou que na verdade tinha se casado com meu pai, porque estava gravida de outro que a tinha abandonado.   Mas não pensei que ia viver naquele lugar que odiava.    Concordou que ele nunca tinha sido carinhoso com Marc, pois era tão diferente dele, que acreditava que não era seu filho.   Era mais alto que ele, loiro, olhos verdes.  Quando tu nascestes, sim, se via que era filho dele, mas morreu pouco depois.   Marc ficou apaixonado por ti, não saia do teu lado.  Mal eu virava as costas, lá estava ele contigo no colo.
Sei que ele queria ficar lá, mas quando vi o Gene indo para a cama dele, o que faziam, tínhamos que ir embora.   Não fui boa mãe eu sei, devia ter os acompanhado nesses viagens, mas queria uma vida para mim depois de tudo.
Fiquei com pena dela, mas de qualquer maneira, talvez se Marc soubesse que só era meu meio irmão, poderia ter sido mais feliz com o que ele chamava de seu pecado.
Gene foi ao casamento,  estava velho, falou que realmente tinha um bloqueio com suas emoções, que amava Marc, mas não sabia ser carinhoso, achava que ele estando contente dentro de mim, bastava, mas ele queria mais, esse mais eu não sabia dar.  Agora estou sozinho, não bebo, fico horas e horas escutando sua música,  na verdade tua.  Preste atenção, falavas sempre em amor.   Ele quando cantava, era esse amor que ele queria também.
Voltei para casa de um lado confuso, de outro mais relaxado.  Falei com o psicólogo, se achava, se ele sendo meu meio irmão, seria errado ter sexo com ele.                 Me falou de uma serie de personagens que tinha tido sexo com seus irmãos.        Na verdade, nenhum saiu bem parado da situação.
O que acho é que deves procurar um novo caminho para ti, seja compondo, ao ler esta última letra sua, é um hino ao amor entre dois homens.  Achas que algum cantor vai querer assumir isso de cantar essa música.
Comecei a trabalhar na rádio, fazia um programa a partir da meia noite, colocava músicas que gostava, músicas que ia descobrindo, pela própria rádio, as pessoas me ligavam, comentavam coisas.   Um dia quando dei por terminada a música, a toquei no programa.   Contei que a música estava a muito tempo dentro da minha cabeça, mas que acreditava que nenhum cantor ia se arriscar a cantar a mesma.
Apesar de ser de madrugada, o sistema de telefonia da rádio se colapsou.   Achavam que devia ser eu a lançar a música. 
O problema era que não queria voltar outra vez a fazer turnês intermináveis, sem ter tempo para mim.   Fui trabalhando várias músicas, alguém a gravou, publicou no Youtube, um dia vieram me dizer quantas pessoas no mundo inteiro adoravam a música, as ajudava a se entender.
Aceitei uma série de apresentações, em teatros pequenos, formei uma nova banda, alguns da antiga outros novos.  Lá fui eu outra vez, estrada afora.   Mas agora, só fazia capitais. A segunda depois de Los Angeles foi em San Francisco.  O teatro era grande, mas estava lotado.  Subi ao palco, cantei duas canções antigas, parei respirei fundo, essa música agora a lancei no programa que faço.       A fiz para meu irmão, no fundo para mim mesmo, buscava me entender.  A cantei inteira, o silencio era impressionante, quando acabei, a plateia começou a cantar sozinha a mesma, fiquei parado no palco, chorando, agradeci escutar todos cantando era um consolo que necessitava.   Em NYC, foi igual, o público adorava a música.                Circulava no Youtube, quando a plateia cantava para mim.
No final estava louco para voltar ao meu programa da rádio, sentia essas pessoas perto de mim, concordei em dar shows no final de semana quando não tinha programa, mas só uma vez por mês.
Segui a vida em frente, um dia uma pessoa chamou a rádio, soltou, eu sou um cowboy solitário, me chamo Scott,  que um dia encontrou sua alma gêmea, mas a deixou escapar.   Me arrependo muito, será que essa pessoa aceitaria se encontrar comigo?    Quando nos encontramos, aos meus olhos ele continuava o mesmo, nessa noite nos mergulhamos outra vez um no outro.  Nunca tinha tido esse tipo de relacionamento com outra pessoa.    Me contou que tinha um rancho, perto de Nashville, que quando me procurou, meu irmão o espantou, não teve coragem de voltar a procurar, mas ao escutar minha música na rádio, tomou coragem.  Queres passar uns dias no rancho comigo, é pequeno, para que eu possa leva-lo basicamente sozinho.        Tirei férias da rádio, fui com ele, quando desci da sua caminhonete, me senti em casa outra vez, não era igual, mas estava em casa, entendia agora o que dizia Marc, ao falar vendo passar os campos.
Fui ficando, estamos mais de 10 anos nesse ficando, me procuram para cantar em shows daqui, mas não, prefiro cantar para Scott, na varanda da nossa casa.  A sintonia que sinto com Scott, não tem igual.   Quando brigamos por alguma coisa tonta, ameaço ir embora, ele se ajoelha pede que eu fique.  Mas na verdade, nem pensava em passar da porta.


















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