lunes, 27 de marzo de 2023

FATHER/ SAD SMILE

 

                                                     FATHER

 

 

Seu nome era Trevor Fustemberg, embora sempre tivesse pensado que isso era um nome que seu pai tinha inventado ao entrar nos Estados Unidos, pois lhe dava importância, anos depois descobriu que era seu nome verdadeiro, de um judeu, que nunca ia a nenhuma sinagoga, pois se sentia frustrado com a religião.  Embora seguisse todos os preceitos da mesma.

Um dia contou a ele, bem com a Helene sua irmã pequena, que seu pai era muito rico na França, mas tinha muitos filhos, com a chegada de Hitler ao poder, mandou os filhos para os quatro cantos do mundo, colocou à disposição de cada um, dinheiro para começarem a vida.  Mas ficou em Paris, com sua mulher, pois essa se negava a sair dali, estavam velhos, porque iam atrapalhar a vida dos filhos.  Claro morreram num campo de concentração nada mais ao chegar.

Seu pai o obrigou a casar-se num desses casamentos arrumados, sua mulher também era de família rica, recebeu um bom dote pelo casamento, ou seja começariam a vida em NYC, sem problemas.

Um irmão foi para a Argentina, outro para Australia, outro para Africa do Sul, mas com os anos perderam contato entre si.

Ele mesmo tinha tido seis filhos, mas seus preferidos eram Trevor e Helene, esta nasceu ao mesmo tempo que morria sua mulher, um problema derivado de uma gestação complicada, pois ela já não queria ter filhos.

Viviam num apartamento imenso, com uma governanta, bem como empregados suficientes para cuidarem deles.

Os dois cresceram a parte dos irmãos, Helene era a filha que nasceu muito mais tarde, com uma diferença dele de quase oito anos, era como seu brinquedo.  A adorava, os dois estudaram em casa com professores particulares, aprenderam a falar outras línguas antes de mais nada.

Os outros filhos, seu pai tinha suportado, nenhum era brilhante como eles, maus estudantes, o primeiro ia a universidade porque seu pai pagava.

Todos iam se casando com casamentos combinados, com outras famílias ricas, o que se casava recebia do pai um apartamento bom, de certo luxo.  Um dinheiro para começar alguma coisa, mas claro era mais fácil viver na sombra dele.

Já Trevor que tinha o mesmo nome do velho, era ao contrário, era um excelente aluno, gostava de estudar, mas ao contrário dos outros, quando descobriu que era judeu, passou a ir a sinagoga escondido, as vezes levava Helene com ele.

O pai quando descobriu não disse nada.

Trevor sempre tinha gostado da música, usava os cabelos compridos, como todos os jovens de sua geração, gostava do rock, de dançar, de fumar seus porros, ia aos concertos de rock, escondido de seu pai.

Quando esse lhe avisou que tinha que parar com isso, pois teria que ir à universidade, ao mesmo tempo se casar, lhe falou que tinha combinado seu casamento com uma rica herdeira judia.   Ele quando viu uma foto dela, a detestou ao momento, já a conhecia.  Era uma idiota segundo ele, filhinha de papai, que fazia todas suas vontades.

O pai insistia, pois era um grande negócio.  Ele fez uma coisa que ninguém imaginou, foi de visita a casa de cada irmão, para ver como viviam se eram felizes.  Sentiu como se abrisse uma geladeira, era pessoas frias, fúteis.    Pensou não quero nada disso para mim.

O velho insistia, dizia que ele tinha que se preparar para um dia assumir seu lugar, lidar com os irmãos mais velhos.

Não havia muita escapatória, já estavam quase no final da guerra do Vietnam, não teve conversa, foi a um concerto de um pré grupo que depois fariam sucesso nos anos 70, Aerosmith, no dia que se inscreveu usou esse nome, Trevor Aerosmith, em seguida sem muita preparação, embarcou, nunca deu noticia a família, era como se tivesse desaparecido da face da terra.

Voltou com a última leva de soldados, feridos, tinha perdido basicamente seu batalhão inteiro, numa guerra que já estava na final, tinha defendido já os ataques a Saigon, voltou com um ferimento na cabeça, além de um braço meio inútil.

Quando apareceu na casa de seus pais, foi um verdadeiro horror o encontro com a família, no primeiro almoço saiu da mesa, tudo o confundia.

Dois dias depois desapareceu. Ninguém sabia aonde estava.

Foi viver num acampamento de homeless que ainda não tinha esse nome, embaixo de um viaduto, conheceu uma garota que vivia ali, com seus pais, se enamorou dela, foram viver de okupas numa velha fabrica.  Quando ela ficou gravida, ele ainda pensou voltar com a família, mas sabia que seu pai jamais aceitaria isso, uma garota que basicamente tinha crescido pelas ruas, uma família que vivia nas drogas.

Seus pesadelos tinham fase, quando estava bom, trabalhava, trazia alguma coisa de dinheiro para viverem.  Deu o nome do filho de Trevor Aerosmith, que era grupo que agora fazia sucesso.  Seus pesadelos foram piorando, pois nunca tinha tratado do mesmo, com o menino nas costas, iam mudando de lugar em lugar, breve estavam nas drogas, pois era a única coisa que o fazia suportar os pesadelos.  Viviam numa barraca dentro de uma velha fabrica.

O menino crescia parecido com ele, mais moreno como sua mãe, mas o olhava, pensava, é uma cópia de mim.   Sempre dizia ao mesmo tens que ser tu mesmo sempre, defenda teus valores, o garoto o olhava como se não entendesse.   Ele achava que o menino aceitasse a vida que tinham, passaram uma larga temporada num acampamento no meio do nada, só com ex-combatentes, quando chegou o verão voltaram para NYC, pois o governador mandou destruir o acampamento.   Sempre existiria o medo dos radicais.

Sua companheira nunca entenderia, porque passava horas contando ao seu filho, tudo o que tinha sentido, lutado, para sobreviver.

As vezes repetia uma mil vezes essa palavra sobreviver. Ele tinha uns 10 anos quando drogado falou com o filho sobre essa palavra, sobreviver, os sentidos que tinha para ele, mas sabia que ia gravar isso na cabeça do seu filho, criando nele um instinto para sempre.

Sua companheira era como uma criança, apesar de viver na rua não estava preparada para isso, ele não entendia se sempre tinha vivido na rua, como buscava outra coisa.

Ali pelo menos ele se sentia livre, ficava imaginando se descobrissem que ele era na verdade o que aconteceria.

Um dia chegava a uma praça, viu de longe Helene com uma foto, mostrando para as pessoas, entendeu que ela o procurava, talvez fosse a necessidade que tinha de ir em frente, se escondeu, a escutou falando com as pessoas.  Tinha amadurecido rápido demais, mas ainda era a garota de quem ele sem lembrava nas horas baixas, gostaria de lhe dizer, livre-se do velho, faça algo, mas não podia.

Mal desconfiava que era ela que sustentava tudo, tinha estudado para levar os negócios, mas se negava a se casar como queria o velho, quando ele insistiu muito soltou na cara dele, que não podia porque era lesbiana.  Soletrou essa palavra na cara dele.

Ele achava que se casando resolveria isso, quando lhe apresentou um pretendente, um homem imensamente rico, se enfrentou ao pai, dizendo ao homem que agradecia o interesse, mas lhe perguntou se queria casar com uma mulher que gostava só de sexo com outra mulher.

Diante do escândalo, da fama que conseguiu com isso, seguiu solteira.

Nunca cessou de procurar o irmão, o único que tinha certeza de que a entenderia.

Como os outros irmãos, o pai lhe deu um apartamento, mas ela ao contrário dos outros, escolheu um mais longe possível daquele lugar, se perguntou mentalmente aonde poderia estar seu irmão, se resolvesse se esconder. Foi morar no Brooklyn.

Um dia a viu falando com sua companheira, acariciando a cabeça do seu filho.  Talvez por sorte não mostrou a sua fotografia para ela.

Em vista disso, foram morar em outro lugar, para os lados do Bronx, no meio de drogados, de pessoas complicadas.  Seus companheiros militares, que tinham caído no mais baixo da degradação humana.   Mas talvez por amar o filho, o levava para tomar banho no verão, nas fontes das praças, lavava seus cabelos compridos, com carinho, não queria que ele tivesse piolhos, como as outras crianças, roubava nas lojas, sabonete, para que tivesse um banho agradável, o acostumou, ensinou a se defender.   Não podia imaginar que seus ensinamentos o fariam ir em frente.

Agora tinha um problema derivado de sua ferida, os ruídos lhe pareciam mais fortes, uma brecada, ou um estouro, lhe faziam retornar a guerra.

Colocava seu filho para dormir o mais longe dele, pois tinha a visão muitas vezes de uma luta que tinha tido com um vietcong, que acabou matando, mas descobriu que no fundo era um garoto, isso o destroçou por dentro, pensava ele devia ter me matado, não ao contrário, não podia se perdoar por isso.  Quando tinha esse pesadelo, tinha medo de matar seu filho.

Cada vez estava mais tempo em silêncio, sua companheira estranhava, só quando estava perto do filho falava, era como se estivesse dando diretrizes para sobreviver.

As vezes drogado, repetia outra mil vezes tudo relativo a essa palavra, seus significados, seu filho lhe prestava atenção.  Se fosse outra criança, se afastaria, mas ele não ficava ali sentando segurando a mão do pai como se temesse perde-lo.

No dia que desapareceram, o deixou como sempre no acampamento tendo aula com o professor.    Estava se sentindo muito mal, foram atrás de dinheiro, drogas, o ruido da cidade o atordoavam atrás da orelha tinha um tumor, não sabia, isso diriam posteriormente os que fizeram sua autopsia, um tumor imenso no crâneo que lhe devia provocar muitos problemas.

Ninguém tinha entendido como se tinha metido no meio do tiroteio entre a polícia com os traficantes de drogas, sua companheira foi quem primeiro levou um tiro na cabeça, se sentiu outra vez em plena batalha, viu um traficante jogado no chão com uma metralhadora, se apossou dela, saiu atirando para ambos os lados, até que caiu varado por balas.

Foi enterrado como Trevor Aerosmith, porque levava presa no pescoço uma placa do exército com esse nome, número, mas não se encontrou nenhuma família com esse sobrenome. Tampouco na ficha militar constava, quando a preencheu, não colocou parentesco nenhum, como se tivesse saído de um orfanato.

Mal sabia que seu filho, seguiria seus mandamentos, sobreviver de todas as maneiras, que teria um caminho largo pela frente.

 

                                           SAD SMILE

 

Seu nome era inventado, ou melhor roubado, vivia desde criança indo de uma acampamento a outro de homeless, as vezes conseguiam ocupar algum edifício abandonado.

Tinha aprendido a ler, escrever o básico, com um professor que vivia por ali, se ocupava das crianças enquanto os pais iam conseguir algo de comer, que compartiam com ele.  Tinha tuberculose, mas não queria tratar, as vezes quando alguém argumentava com ele, dizia, que adiantava, se não tinha sonhos, nem futuro.

Mas o interessante que insuflava nas crianças a ideia de sonhos a serem realizados.

Um dia seus pais não voltaram, ficou vivendo no mesmo edifício abandonado, agora ele ia pelas ruas pedindo dinheiro, ou mesmo como lhe dava vergonha, recolhia comida jogada em algum restaurante, tinha já uns 12 anos, apesar de tudo era alto, magro, aparentava mais.

Viu um cartaz procurando um ajudante de cozinha, perguntou ao homem que estava ali fumando se ele podia se candidatar.

Procurava andar o mais limpo possível, ali tinha uma garagem, o levou até ali, com uma máquina raspou sua cabeça, embora ele explicasse que lavava a mesma, mesmo que fosse num parque.  O mandou tomar banho, lhe deu uma toalha pequena, uma muda de roupa branca, lhe explicou como amarrar um lenço na cabeça, assim começou a trabalhar para ele, era um restaurante de comida para levar, havia que estar cedo, preparar sanduiches para os que iam trabalhar, depois ajudava a fazer o café, tudo era colocado num saco para a pessoa, o chefe ficava no caixa enquanto isso.  Foi aprendendo em breve manejava muitas coisas sozinho.

Tempos depois, consegui alugar um pequeno apartamento, velho, caindo aos pedaços, mas era jovem para subir os cinco andares sem elevador.

Aprendeu uma coisa, dizer sempre bom dia, para todo mundo, mesmo que seu sorriso fosse triste, sorrir, desejar aos outros o que ele não tinha, no fundo não tinha importância, sabia que dependia dele sobreviver.

Agora afastado dos homeless, ficava com pena do pessoal que tinha desistido de lutar, mas pensava, quem sou eu para julgar, cada um escolhe o seu caminho, não sei de aonde saiu a maioria, que sonhos tinham.

Ele queria sim ter um teto seguro para viver, aonde vivia tinha o mínimo, como comia, no restaurante, trazia para casa o que sobrava, para aquele dia, pois não tinha geladeira, se deu ao luxo de comprar um edredom barato, trouxe do acampamento, um saco de dormir, que lavou, desinfetou, era nele que dormia no chão, mas tinha uma coisa, limpava o lugar muito bem, não era porque era pobre que ia viver sujo.

O patrão tinha o mesmo tamanho que ele, lhe deu uma porção de roupas que não usava mais, ele não se incomodava, estavam sempre limpa, lavava tudo na pia do pequeno banheiro, deixava secando no verão com a janela aberta, no Inverno era um problema mas se apanhava.

Não era registrado, ganhava por fora, guardava cada gorjeta que lhe davam, o dinheiro que o homem lhe pagava, escondia, num velho armário do banheiro, por detrás, num saco plástico, gastava o mínimo possível.   Quando acreditou que fazia 17 anos, procurou ajuda de uma ONG para tirar seus documentos, a muito custo, conseguiu que colocasse que tinha 18 anos.   O patrão era malandro, achava que o tinha ajudado, mas ele de tonto não tinha nem um pelo, procurou nas horas vagas algum lugar, quando conseguiu, com um salário melhor, ser registrado, foi franco com o homem, agradeceu muito a ajuda dele, não ia fechar a porta nunca se sabia do futuro.  O homem se surpreendeu, pois soltou que normalmente as pessoas nem apareciam para acertar o resto do salário.   Por isso lhe pagou o mês completo.

Agora aprendia cozinhar outro tipo de comida, era honesto no que fazia.   Aprendia corretamente, nesse trabalhou durante quase dois anos, seguiu assim, quando saiu, procurou outro diferente.

Quando avisaram que tinham que sair do edifício, pois ia ser demolido, recolheu suas poucas coisas, enfiou num saco, escondeu bem o dinheiro, arrumou outro lugar similar, um pouco melhor, pois tinha agua quente, para o inverno, além de calafetação, o caseiro lhe arrumou alguns moveis, que algum antigo morador tinha deixado, uma velha poltrona, um estrado para colocar um colchão, pelo menos tinha um elevador velho, mas que funcionava.

No verão subia para dormir na varanda que tinha em cima. Gostava de dormir olhando as estrelas pensando no que poderia fazer com seu futuro.

Seguia guardando todo o dinheiro que podia.

Escutou um dia, um dos cozinheiros falando de um curso de cozinha francesa, reclamava que era caro o curso, mas foi se informar.  Lhe atenderam bem, explicou sua situação, sobrava uma vaga, como se fosse uma bolsa de estudos.

O francês se interessou por ele, tinha um restaurante em Toronto, viu que ele se esforçava para aprender.  Um dia se insinuou para ele, demorou para entender, não tinha traquejo sexual, nem vivência no assunto, estava sempre preocupado em sobreviver, para pensar nisso.

Foi honesto com o homem, me desculpa, devo estar entendendo mal, sou honesto, não tenho nenhuma prática sexual, em nenhum âmbito, estou mais preocupado em sobreviver.

O professor ficou de boca aberta, pois viu que ele estava sendo honesto.

Perguntou se ele tinha algum dia livre, vou cozinhar no restaurante de um amigo, vejo que me entendes, se eles te veem trabalhar, pode ser que te contratem.

Pediu um dia de licença aonde trabalhava, foi com o professor.  Ele tinha razão o chefe, disse que era raro um americano se esforçar tanto.  O contratou, ganhava mais, mas nem por isso mudou de casa, seguia economizando.  Como ele dizia, não queria que o mundo o pegasse de calças curtas.

Fez tudo para seguir em frente, mesmo nesse lugar.   Agora já comprava roupas simples para ele, mas descobria aonde comprar mais barato, nada de roupas de marcas como via os outros fazendo.   Para ele o mais importante era andar limpo, por sorte a roupa que usava na cozinha, era lavada no próprio restaurante, por isso estava sempre limpo, ao começar o dia trabalhando.

Aprendeu nova maneiras de cozinhar, agora mais refinada, era intuitivo.

Um dia lhe perguntaram se cozinhava em casa, riu, disse que tudo que tinha na cozinha era uma cafeteira para o café, duas taças, um prato, que nunca cozinhava em casa.

Mantinha como desde o primeiro dia seu cabelo rasurado, pois assim não ficava com o cheiro da cozinha. O mesmo fazia com sua roupa, as colocava dentro de um saco de plástico hermético, assim não ficavam com o cheiro da cozinha.   Este lugar tinha um banheiro para tomarem banho depois de sair.

Deste foi convidado, o que para ele era como se sentir subindo na vida, num outro restaurante que só abria de noite, mas tinha que deixar a maior parte da comida elaborada, então trabalhava da tarde até as duas da manhã, quando saia deixando sua parte da cozinha limpa, brilhando, ninguém precisava dizer que o fizesse, entendia que era parte do seu trabalho.

O proprietário o observava.

Finalmente como lhe pagava o salário num banco, colocou todo seu dinheiro lá, mas quando lhe ofereceram um cartão de credito, não se interessou, fazia uma coisa, sabia mais ou menos quanto gastava por mês, isso ele tinha seu esconderijo, para o dia a dia.

Um dia que foi ao banco, um gerente lhe sugeriu que aplicasse seu dinheiro para ir rendendo, tinha já escutado muitas conversas, sobre aplicações, gente que comprava ações, que se podiam perder, aceitou um sistema, que ele nunca perderia o dinheiro que tinha.

Na parte da manhã, fazia todos os cursos possíveis, aprimorava tudo que sabia, no momento fazia um de doces, coisas delicadas francesas.

Quando o que fazia isso no restaurante saiu, ele imediatamente se ofereceu para o lugar, lhe fizeram o teste, de fazer tudo que estava na carta.  O fez, mas perguntou se podia sugerir fazer algumas mudanças, disse que analisaria no mês o que saia mais, o que saísse menos, colocariam receitas novas.

O chefe estava encantado com ele, pois chegava mais cedo, preparava tudo, depois ia fazer seu trabalho normal, não precisou pedir, nem que o próprio chefe da cozinha o fizesse, recebeu um aumento.

Os anos foram passando, ele achava engraçado em notar, que as pessoas o olhavam, mas ele nunca estava interessado nelas, seguia sendo virgem, não tinha pensado nisso ainda, nem se interessado por ninguém.

Na cozinha gozavam dele, mas não era com ele.   Escutava sim os outros falando das decepções, os romances de uma noite, o frustrados que ficavam.  Alguns reclamavam que buscavam um amor, ou alguém com quem pudessem compartir uma vida.

Um dia lhe perguntaram a respeito, num respiro, antes de começarem o serviço noturno.

Não sabia se dizer a verdade ou mentir.  Por sorte foi salvo pelo gongo, pois o chefe lhe chamou para uma reunião, o restaurante no final de semana, teria uma parte fechada para uma festa, queriam saber o que ele poderia sugerir de doces para o final.

Perguntou se era um aniversário, embora ele nunca tivesse tido nenhum, sabia como preparar.

Sim comemoram o aniversário do patriarca de uma família.

Deu uma série de sugestões de pratos, viria uma senhora experimentar tudo.

Achou estranho, que ela o olhasse muito, mas estava atendo em saber se ela gostava ou não.

Preparou tudo como ela pediu, algumas coisas com um dia de antecipação, no dia da festa, preparou o resto logo cedo.   Depois passou a ajudar o chefe da cozinha a preparar o resto, sem reclamar como alguns estava fazendo.

Se escutava claro que eram muitas pessoas.

Quando acabaram o serviço, o patriarca, pediu ao dono do restaurante, que chamassem os cozinheiros, para elogiar o trabalho.

Quando o viu ficou de boca aberta, perguntou seu nome?

Meu pai sempre me chamou de Trevor Aerosmith, mas descobri depois que esse não era seu sobrenome, que nunca soube qual era, mas mantive esse quando tirei os documentos.

Aonde anda seu pai?

Não tenho a menor ideia senhor, os dois um dia desapareceram, nunca mais os vi. Não sei portanto se morreram ou não.

O dono do restaurante não entendia, então fez um sinal de que podiam ir para a cozinha.

Nesse dia todos receberam uma boa gorjeta.  Que como sempre foi parar no banco.

Dias depois estava para entrar cedo para fazer as sobremesas, viu na porta um senhor bem-vestido.  Perguntou se ele era o Trevor Aerosmith?

Sim sou eu, algum problema?

Podemos tomar um café?

Sim, foi com o homem ao café em frente do restaurante.  Este lhe explicou que o senhor que tinha estado no restaurante, ao qual tinha sido oferecido a festa, disse que tu eres igual ao filho que desapareceu, depois de voltar da guerra.  Se podias fazer um teste de ADN.

Eu já disse ao senhor que não tenho ideia aonde estão meus pais, me deixaram num acampamento de Homeless, a partir desse momento, fui sobrevivendo, fui aprendendo a cozinhar, essas coisas.

Mas porque ele quer fazer isso, já procurou seu filho?

Nunca foi encontrado.

O homem insistiu muito, ele tem uma boa idade, gostaria como ele diz, de morrer tranquilo, sabendo ou não que eres seu descendente.

Combinou com o homem, no dia seguinte foi ao médico com ele logo de manhã.

Duas semanas depois apareceu, perguntou se ele tinha livre a manhã do dia seguinte.

Ele lhe explicou, que usava as manhãs para preparar os doces, assim ganhava um dinheiro extra.

Mas no domingo de manhã, como não abrimos, estou livre.

O advogado comentou, que outra pessoa estaria ansiosa.

Ele depois de tirarem seu sangue, seguiu como se nada tivesse acontecido, nunca tinha precisado de uma família, não ia ser agora que sairia procurando, afinal ele nem sabia o sobrenome de seu pai.

Mas no domingo, se arrumou como sempre, nenhuma roupa especial, fez a barba, rasurou a cabeça como sempre fazia, lavou sua roupa interior, depois foi até o restaurante, aonde o advogado lhe esperava.   Não tinha dado a ele o endereço da sua casa, isso era uma coisa que ele não fazia.

Foram para a parte mais fina da cidade, com edifícios residenciais de luxo.

Quando entrou, viu que a família toda estava ali.

Disse bom dia a todos, espero que todos estejam bem.

Foi levado a uma biblioteca, aonde estavam sentados o senhor, além da senhora que tinha conhecido no dia da prova do restaurante.

Ela se apresentou, bem como seu pai, lhe perguntou se o sobrenome lhe dizia alguma coisa?

Isso eu já respondi, não, se tem a ver como meu pai, eu só tinha meu nome anotado num pedaço de papel, pois o homem que nos ensinava a ler, escrever, no acampamento perguntou um dia, riu muito quando ele disse Trevor Aerosmith, só muito tempo depois fui descobrir que era o nome de um grupo musical, que aliás não gosto.

Gostas de música?

Ele ainda pensou por que tanta pergunta.   Mas respondeu nunca tive tempo para parar para ficar escutando nada.   Agarrei a primeira oportunidade que tive, aos doze anos, para aprender a cozinhar, para deixar de comer comida do lixo, me dava muita vergonha pedir dinheiro na rua para comprar comida, então comia do lixo dos restaurante.

A cara dela era impressionante.

Bom, fez um sinal ao seu pai.

Meu filho, o resultado dos teste deu positivo, fizemos em outro laboratório também, deu a mesma coisa.  Ao que parece você é filho do meu filho Trevor, que desapareceu, logo que voltou da guerra.

Ele ficou olhando serio o homem, não sabia o que dizer.

Sinto muito, eu não preciso de uma família a estas alturas da vida, vejo pelo lugar em que vivem que devem ter dinheiro, mas sou honesto de dizer que não me interessa nada de vocês.

Se levantou, disse bom dia, apertou a mão do homem que devia ser seu avô, desculpe decepciona-lo, mas meus pais, um belo dia saíram para comprar drogas, nunca voltaram, eu aprendi a viver, me defender sozinho, posso dizer que sobrevivi.

Virou as costas, saiu, atravessou o salão interior, até a porta de saída, com todo mundo olhando para ele, foi dizendo até logo, passem bem.

Desceu pelo elevador, nem sabia como ir embora dali, foi até uma entrada do metro, viu qual lhe serviria, foi embora.

Pela primeira vez, chegou em casa, se jogou na cama como estava, cruzou as mãos atrás da cabeça como sempre fazia, tinha pegado esse hábito, porque inicialmente não tinha travesseiro, depois por hábito para pensar.

Não tinha com quem falar sobre o assunto.  Mas claro era bom observador, viu a cara da família que o observava ao entrar, com certeza pensavam mais um para compartir a herança do velho.

Tomou uma decisão, tinha o telefone do dono do restaurante, sempre o tinha tratado bem, o chamou, perguntou se podia conversar com ele.

Foi até sua casa, contou o que tinha descoberto, não quero nada dessa gente, meu medo é que comecem a aparecer pelo restaurante, preferia me afastar daqui.

De uma certa maneira, lhe contou como tinha sido sua vida, não quero nada deles.

O que o senhor recomenda?

Eu não gostaria de perder meu melhor empregado, se eu fosse você enfrentaria a família, se começam a incomodar, peça uma ordem de afastamento, isso posso conseguir com o advogado da empresa.   Mas não fuja, não faça como teu pai, pois no momento que faças isso, nunca mais deixaras de fazer.

Agradeceu muito ao homem.

Esse disse que tinha uma curiosidade a respeito dele, nunca te vi perdendo tempo, falando em romances, ou discutindo futebol, ou mesmo parando o trabalho para sair para fumar um cigarro.

Nunca tive romances, o resto incluído, tinha que sobreviver, quando comecei a trabalhar no primeiro restaurante, foi porque o dono me pegou fuçando no lixo atrás de comida, tinha vergonha de pedir dinheiro, era alto, tinha 12 anos, me deu o meu primeiro trabalho, mas sem registro. Quando fiz 17 anos, ou acho que tinha essa idade, nunca soube quantos anos certos que tinha, procurei uma ONG, eles arrumaram minha documentação, foi então quando descobrir que o meu sobrenome era de uma banda de música, deixei igual, embora quando escutei os dito cujos, não gostei.  Nunca procurei pelos que seriam meus pais, pois imaginei já que andavam nas drogas, ou tinham morrido, ou desaparecido.   Eu não queria ir para um orfanato, primeiro vivi num edifício de okupas, depois quando já tinha dinheiro, fui mudando, agora vivo num lugar decente, simples mas decente.   Meu primeiro patrão me ensinou que eu devia andar sempre limpo, pois isso, coloquei na minha cabeça, que o meu espaço de casa, bem como aonde trabalho sempre devem estar limpos.

No dia seguinte quando chegou, o advogado estava lá com a senhora, que pelo que tinha entendido era sua tia.   Disse que se não o deixava em paz, pediria uma ordem de afastamento, não estou interessado no vosso dinheiro, quero somente seguir meu caminho, tinha pensado em fugir da cidade, mas meu chefe me disse que não devia fazer isso.

Não sabia, tampouco imaginei qual seria o nome do meu pai, ou da minha mãe, por isso, sempre manterei o de Aerosmith, não quero vosso sobrenome.  Financeiramente estou bem, não preciso de nada mais do que eu já tenho.

A cara da senhora era espetacular, sem saber ou não se acreditava nele.  Pediu desculpas, mas tinha que trabalhar, espero que disfrute de vir comer aqui, mas jamais me chamem. Por favor.

Entrou para trabalhar, tive que se concentrar, tinha medo de errar alguma receita.

Nunca mais os viu, tempos depois escutou o dono do restaurante falando de um curso em Paris, perguntou em particular a ele se podia fazer, tinha dinheiro guardado.

O homem lhe disse que lhe daria uma resposta no dia seguinte.

Se sentou com ele, perguntou se ele pensava em voltar?

Sim, só quero saber mais, veja as sobremesas, eu desfruto muito fazendo, mas acabam sendo repetitivas, eu gosto sempre de fazer coisas novas, descobrir como fazer.

Então tenho uma proposta, pago a metade do curso, bem como a viagem.

Agora quem tem que pensar sou eu.  Pois ficaria em divida com o senhor, nunca gostei disso, ter divida com ninguém, nunca comprei nada a prestação, ou como o senhor possa imaginar. Prefiro eu mesmo pagar tudo, tenho dinheiro economizado para isso, já olhei inclusive um voo que me saia barato, um pequeno hotel, afinal o curso são só vinte dias.  Deixarei a maioria dos doces congelados, assim cada dia, teria que retirar somente o que se fosse usar.

A cara do homem era fantástica, acabou contando que a família o tinha procurado para que ele intercedesse, mas rejeitei, depois se ofereceram para comprar o restaurante em teu nome, de novo rejeitei.

Por favor nunca ceda a eles, porque senão eu iria embora.

Preparou tudo, só comprou abrigos de segunda mão, porque seria inverno em Paris.

Conjugou fazer curso, com ir pelos lugares mencionados pelo professor que tinha tido, para comer, imaginar como se fazia isso ou aquilo.

Ao mesmo tempo conheceu os lugares emblemáticos, um belo lugar para acabar a velhice, ao mesmo tempo que pensava, que idiotice, tinha visto tanta gente morrer jovem no acampamento, nunca tinha tirado da memória, um jovem ao qual faltava uma perna, morto com a seringa ainda presa ao braço.   Por isso tinha horror a palavra drogas.

Quando voltou, os senhores do edifício, lhe fizeram uma festa imensa.  Achou estranho, mas acabou descobrindo, o caseiro lhe disse que tinham lhe oferecido dinheiro para entrar no teu apartamento, eu me neguei, nunca mencionaste essa senhora que chegou aqui com um carro com chofer.  Me soltou que queria melhorar teu apartamento.  Lhe disse que sem tua autorização nada feito.

No restaurante lhe fizeram uma festa, nesse mesmo dia, preparou uma receita nova, que o chefe da cozinha provou, bem como o dono do restaurante.  Uau disse ele.  Como pretendes fazer?

Bom aprendi muita coisa, bem como imaginei não gastar todas a ideias de uma vez.  Se mudamos radicalmente a carta, os clientes vão estranhar, então penso que o melhor seria, fazer de uma maneira simples, cada semana retiramos o menos vendido, incluímos uma coisa nova, se faz sucesso, continua na lista, senão cancelamos, incluímos outra.

Mas seguiu sua vida como se nada.

Um dia o proprietário o chamou ao escritório, lá estava a senhora, ela estendeu a mão, sou tua tia Helene, meu pai está muito mal, quer te ver antes de morrer, te peço por favor que vá visita-lo, arrumarei de uma maneira que toda a família não esteja lá para te incomodar.

Assim fez, ele ficou com pena do velho, deitado numa cama imensa, num quarto que era maior que seu apartamento.

Segurou a mão dele, ele pediu que ele se aproximasse para olhar bem seu rosto.

Pediu que abrisse a mesa de cabeceira, tens aí uma carta, minha para ti, mas só abra depois que eu morrer.   Peço desculpas por tudo.

O senhor não tem que me pedir desculpas, talvez eu tenha sido mal-educado, mas cresci me virando sozinho, uma ideia de família me aterra, não saberia como me comportar com uma família como tem o senhor.

Me fale de sua viagem a Paris?

Contou dos cursos que tinha feito, coisas que tinha aprendido.

Lhe perguntou se tinha aprendido a fazer um doce que quando ele ia, visitava esse restaurante para isso.

Ele riu pela primeira vez, meu professor daqui falava nesse doce, fui lá provar, depois aprendi a fazer no curso que fiz.

Como amanhã é domingo, mandarei alguém trazer para o senhor, ou sua filha pode ir buscar.

A filha que estava ali, sorriu, eu irei papai.

Ele segurou sua mão outra vez, disse nela podes confiar, sempre respeitara tua vontade, sua grande lastima, foi nunca ter conseguido encontrar teu pai.

Se despediu dos dois, ela queria mandar o motorista o levar, ele disse que não se incomodasse, pegaria o metro.   Só pediu que ela nunca voltasse aonde ele vivia, isso o incomodava.

Foi embora, no dia seguinte preparou o doce, pediu para o proprietário avisar sua tia.  Um carro veio buscar, no final do dia, lhe chamaram para atender um telefonema, era o velho para agradecer, foi o meu melhor presente em muitos anos, obrigado meu filho.

Ele agora uma vez por semana mandava para o seu avô o doce mas não ia até la, não tinha nada para falar com ele.

Sua tia Helene, lhe avisou da sua morte, pelo menos morreu em paz, em saber que tem um neto que é melhor que os filhos que ele criou.

Lhe avisou da cerimonia do enterro.  Foi com o proprietário do restaurante.  Assistiu a mesma, mas quando lhe convidaram para a recepção, pediu desculpas mas tinha que trabalhar.

Dois dias depois o proprietário lhe chamou, estava rindo, te livraste de uma boa.

Porque perguntou ele.

Teu avô deixou a empresa para tua tia, que não tem filho nenhum, além de deserdar todos os que nunca fizeram nada na vida, que sempre viveram pendurados nele.

Todo o dinheiro que tinha será repartido por ONGs, que cuidam dos homeless, em nome do teu pai Trevor Fustemberg.

Nem ele sabia que esse era o sobrenome de seu pai.  Ele tinha firmemente decidido que seguiria usando o seu Aerosmith.

Um dia foi ao banco para analisar suas finanças, quando lhe apresentaram, tinha um valor incrível, falou como gerente, não tenho todo esse dinheiro.

Ele foi depositado a mando do senhor Fustemberg, quando fizeram isso, disse que tinha deixado uma carta para ti.

Ele tinha se esquecido completamente da carta que tinha entregado em mãos, a tinha guardado.

Quando chegou em casa a localizou numa mesa que guardava suas coisas, tinha se esquecido completamente dela.

Apesar de ser tarde, estar cansado, leu.

Querido neto,

Me deste uma lição muito merecida, eu sempre comprei meus filhos com meu

Dinheiro, teu pai foi o único que sempre foi rebelde a isso.

Entrou para o exército, como uma maneira de fugir de meu controle.

Voltou destroçado, eu queria que fosse para um hospital particular, para que ele

Não tivesse que conviver com a gente que estava ali, que me horrorizava, mas ele

Escapou, indo viver nas ruas com os que tinha passado pelo mesmo que ele.

Nunca mais o encontrei, imagino que tenha adotado o sobrenome Aerosmith que

Era seu grupo de rock favorito.

Minha filha Helene, nunca me perdoou por isso, ela amava o irmão, o procurou como uma louca, por isso confie nela.

Os outros ao longo dos anos, desfrutaram de todo meu dinheiro, já lhes dei dinheiro suficiente a vida inteira.   No dia que apareceste aqui, me perturbaram, tinha medo de que te favorecesse.

Por isso no meu testamento, não consta para nada, mas não sou um velho tonto.  Sei que um dia iras querer realizar teu sonho, ter um belo restaurante francês, por isso te deixo um pouco de dinheiro para isso, não corresponde nem a um terço do que o resto já usufruiu.

Minha filha Helene, ira contribuir com ONGs em nome de teu pai, para ajudar aos incompreendidos que estão pelas ruas do pais inteiro.

Que eu mesmo nunca entendi.  Nem podia imaginar que meu filho vivesse assim.

Perdoe esse velho egoísta, que sempre pensou que sabia de tudo, acabou que descobri que não sei de nada.

Deus te abençoe

Trevor pai.

Ficou emocionado, a guardou bem guardada, a iria colocar num cofre do banco, bem como esse dinheiro, não queria que estivesse na sua conta.

Sem querer do envelope caiu uma corrente com um coração, ali estava uma foto de seu avô quando jovem, com sua avô,

No dia seguinte foi ao banco, alugou uma caixa forte, retirou o dinheiro da sua conta, bem com o envelope, guardou tudo ali.

Uma vez por mês sua tia Helene vinha jantar, depois esperava para comer com ele, alguma receita nova de doce.

Contava como ia as ajudadas, entendi que não posso modificar a vida de todos, mas sim colocar uma espécie de ambulatório por perto, que os ajude, bem como um albergue, para tomarem banho, cortarem cabelos, que tem um consultório médico, o primeiro a funcionar é aonde você me disse que vivia.  Já esta funcionando, ninguém reconhece o nome do teu pai, como apelido da família, por isso, optei a usar o de Trevor Aerosmith.  Que no fundo é bom, pois meus irmãos e sobrinhos não entendem.

Todos fizeram universidade, agora fora os benefícios que sempre tiveram do meu pai, cada um tem um bom apartamento, uma mesada, mas tem que trabalhar, estão tendo dificuldades, pois nunca fizeram isso.

Estou liquidando toda a empresa como ele me pediu, investindo o dinheiro nas ONGs por todo o pais, quando funcione sozinho, vou realizar o sonho de minha vida, viver um tempo em Paris, estudar história da arte que foi meu sonho.

Um detalhe, teu pai adorava ficar na cozinha vendo as senhoras que trabalhavam ali, fazerem comida, dizia que um dia seria um grande cozinheiro, achei essa foto no meio de suas coisas.

Se parecia a ele, na mesma idade, ele no meio das cozinheiras.

Agradeceu a foto, comprou um porta foto, a colocou na sua mesa que usava para estudar.

Agora fazia um curso de francês, queria saber falar direito para um próximo curso.

Tempo depois o proprietário, alegando que estava ficando velho, sem herdeiros, propôs a ele, bem como ao chefe da cozinha uma sociedade.

Foi ensinando aos dois como administrar o restaurante.

Primeiro pensou que estava apaixonado por ele, pois era a primeira pessoa que se preocupava por ele, era mais velho que ele vinte anos, um dia lhe disse isso, sei que o senhor é gay, esta sozinho, podia me ensinar a fazer sexo.

A cara dele foi ótima, Jean Paul Lausde, disse que a muito tempo se interessava por ele, mas tinha medo, pela diferença de idade.   Mas se completavam, só refutou muito ir viver com ele, mas acabou aceitando, ou melhor entraram num acordo, um outro apartamento, aonde passariam a viver, mais simplesmente.   Pela primeira vez, preparava um café da manhã para outra pessoa, Jean Paul dizia que estava vivendo uma segunda juventude.

Lhe ensinou muitas coisas, viveram juntos mais de 15 anos.   Quando ele morreu, deixou o restaurante para os dois sócios.  Mas seu chefe de cozinha, queria partir para outros voos, concordaram em vender o mesmo.

Ele iria passar uma temporada em Paris, tinha ido duas vezes com Jean Paul, nas férias quando fechavam o restaurante, tinha conhecido agora a cidade de outra maneira.  Com o patrimônio que tinha construído, nunca mexeu no dinheiro do avô poderia ter uma vida por um tempo por lá bem simples.

Procurou pela tia, para dizer o que tinha resolvido, soube que já fazia tempo que vivia em Paris, conseguiu seu endereço.

Arrumou uma bagagem, simples, alugou um apartamento, pequeno, mas como ele gostava, limpo.

Quando a procurou, deu que ela tinha uma loja de antiguidades, tinha até remoçado, pela primeira vez a deixou abraça-lo, tinha aprendido isso com Jean Paul.  Antes dele morrer tinham se casado, para ele não ter problemas com o apartamento que tinham juntos, bem como a parte do restaurante.

Agora uma vez por semana se encontravam para almoçar ou jantar.  Ele estava aproveitando para fazer pequenas viagens para conhecer melhor o pais.

Um dia sua tia lhe contou que eles eram judeus, que na verdade seu pai Trevor, tinha adotado esse nome ao entrar nos Estados Unidos.   Toda nossa cultura era de aqui.  Aqui voltei a frequentar a sinagoga, que ele odiava.

O foi apresentando para muita gente que ela tinha conhecido.  Foi quando teve uma paixão impressionante com um escritor, riu muito quando este lhe fez um comentário.

Ela lhe disse como podia ele ter impressionado a pessoa mais chata que ela conhecia, a Flaubert Jean, ele inclusive usa o nome invertido, loucura da cabeça dele.  Me pediu o número de celular.  Deve ter ficado mais surpresa ainda, quando ele disse que podia dar.

Começaram os dois a se encontrar para comer, um verdadeiro namoro.  A primeira vez que estiveram na cama, foi como uma explosão, Flaubert dizia que com ele podia falar, sem ter uma postura de intelectual, pois lhe entendia.  Agora iam a todos os lugares juntos, ele na cozinha da casa dele, preparava pratos para ele.  Ele que era muito magro dizia que ia engordar, não somos jovens assim para esse tipo de comida.

Demoraram a irem viver juntos.  Mas chegou o momento que um já não sabia viver sem o outro, os conhecidos estranhavam, estavam acostumados ao mal humor que sempre tinha, agora era agradável, sorria, quando não queria dizer nada.

Quando começavam alguma conversa sobre filosofia, ou outra coisa, ele voltava ao seu ataque de mal humor, se vocês nunca viveram, a maioria nunca trabalho, como podem querer consertar o mundo.

Trevor se matava de rir, pois ele pensava a mesma coisa.

Trouxe todas suas coisas que NYC, agora convivia mais com sua tia Helene, que sempre lhe contava alguma coisa de seu pai.  Ela não se perdoava, ter aceitado a vontade de seu pai, com relação ao irmão, ele antes de fugir para o exército, meu pai já tinha um casamento combinado para ele, bem como que assumisse suas empresas.

Quando ele desapareceu, fiquei desesperada, perdia o único irmão com quem podia falar, sonhar, compartir desejos, claro nenhum deles encaixava nos objetivos de teu avô.

Mas nunca descobri aonde poderia estar, pois usava esse novo sobrenome, aliás pelo que descobri, foi com ele ao exército.   Depois que te conheci, procurei descobrir quem era tua mãe, mas nada foi possível.  Nos acampamentos nunca estão interessados na vida das outras pessoas. Ninguém sabia nada.

Sabe as vezes penso, que com isso ele me ensinou a sobreviver, o pouco que me lembro, era que sempre dizia bom dia para todo mundo, estava sempre sorrindo, me dizia mesmo que teu sorriso seja triste, não importa, sorria.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

 

No hay comentarios: