UN
VOL DE GRUES
CABARET VOL….TAIRE
O show tinha
terminado, estava ali sem sono, fechando o caixa da noite, ainda lhe restava um
pouco de maquilagem na cara.
Sentiu a presença
de outra pessoa, quando levantou a cabeça, sorriu, quem te viu, quem te vê,
falou com o homem que estava ali, em pé, com uma gabardina aberta, mostrando
seu traje impecável.
Pois é nunca me
chamas, sempre sou eu que vem atrás de ti, com boas ou más notícias.
Qual é a desta
vez?
Acaba de morrer
num hospital em Nimes, um velho conhecido nosso.
Pelo nome do
lugar, já sabia quem era, August Castanho, soltou.
Sim o mesmo,
finalmente descansou, foi encontrado morto em sua casa, sozinho, isso que sabes
o quanto ele odiava estar só.
Necessitava sempre de plateia, para viver.
Em sua cabeça,
era como se todas as caixas de sua memoria se destapassem ao momento, abriu a
boca, não conseguia fechar.
Era como se
estivesse sendo sugado no tempo. August
tinha sido um amigo querido, experimentaram fazer sexo, mas ele viu que o outro
precisava na verdade de um pai, isso ele não era para ninguém. Nesta
época tinha já seus trinta anos, um homem de sucesso em seu trabalho, mas
insatisfeito com tudo, justamente quando deu a volta a torta como ele chamava.
Agradeceu por vir
dar pessoalmente a notícia.
Isso não se pode
falar por telefone, aliás o teu celular, sempre está desligado.
É verdade Paul,
já nos resta poucos amigos, para conversar, quando os escutamos, na verdade são
só reclamações, comigo acham que estou louco por ter a essa idade um show de
Drags, em vez de estar em casa, me lamuriando.
Me nego
redondamente a isso, tenho uma proposta de compra do prédio, mas de qualquer
maneira não penso em vender, pois afinal a propriedade é minha, minha casa está
aí em cima, vou para aonde, fazer o que?
Paul rindo disse,
para uma residência de pessoas de idade, para fazer crochê, ensinar o pessoal a
dançar tango, rumbas, em que eres um mestre.
Ficaram rindo,
sente, te sirvo um Cointreau, assim falamos um pouco do pobre August.
Paul se sentou,
antes tirou sua gabardine.
Tu como sempre
como um dândi, segues te vestindo como se fosse trabalhar?
Sim essa é uma
verdade, foram tantos anos usando esse tipo de roupa, que é como minha
mortalha, August dizia que era meu disfarce de homem sério, mas que quando
ficava nu, se via realmente quem eu era.
Sim, ele sempre
nos falava dessa maneira, um dia soltou na minha cara, que o meu seria ser dono
de um cabaret, que usasse uma roupa decotada, vermelha com bolas brancas, um
colar de bolas imensas vermelhas, além de um salto agulha.
Até hoje faço um
número assim, talvez amanhã repita, em homenagem a ele.
Serviu ao dois em
pequenos copos, uma dose do licor, que no mesmo momento fez entrar calor nos
ossos como diziam.
Quanto a ele,
sinto sempre, que nunca foi feliz, trazia uma bagagem com ele, de ser uma
pessoa que não era o que queria ser. Queria de qualquer maneira subir na vida,
gostava de homens que inspirassem poder, para se sentir no alto. Uma vez discuti com ele, se realmente tinha
amado alguém, me devolveu a mesma pergunta.
Eu pelo menos fui
honesto, nunca tinha amado ninguém, nem mesmo nos meus relacionamentos mais
largos.
O duro dessa
época, era que todos estavam dentro do armário, eu não, sempre fui eu mesmo, não
era afetado ou coisa assim, mas tinha lutado todo o tempo com minha família,
para ser eu mesmo, respeitado pelo que era.
Nessa época
estava no mais alto de uma hierarquia, que tinha subido com dificuldade, mas
tinha chegado lá em cima, foi quando mandei tudo a merda.
Herdei esse
edifício dos meus pais, meus irmãos, ficaram com os de luxo, menosprezavam que
só me tocasse esse lugar, eu ao contrário, adorei.
É como tu,
ficaste até o final nesse emprego no Quai D’Orsay, sendo sempre de confiança
dos primeiros-ministros, entrava um, saia, seguiste ao pé do canhão.
É verdade Louis, nunca
me meti na parte política, assim quando pediam minha opinião, tinha a
verdadeira. Agora mesmo o novo primeiro-ministro,
me chamou para voltar, o mandei tomar no cu, minha aposentadoria, nem se
esfriou ainda, já me querem no matadouro.
Como vai ser o
enterro do August?
Falei com seus
amigos de lá, vão fazer uma coleta para pagar o enterro, neste momento devem
estar esperando a autopsia, para saber a que se deve essa morte.
A dele foi uma
morte lenta, desde o momento que descobriu que tinha Aids, foi duro, ele amava
a vida, queria estar sempre apaixonado. Aliás,
cada vez que vinha a minha casa, era para me contar de alguma nova paixão. As vezes eu lhe dizia que tomasse cuidado, mas
ele nunca escutava. Se metia sempre em
confusões, da mesma maneira que se apaixonava, no instante seguinte, conhecia
outra pessoa, esquecia o problema anterior.
Acabou pegando
Aids justamente de uma pessoa que lhe avisei que tomasse cuidado, um sujeito
inclusive casado, com filhos, acabou se suicidando, quando soube que estava
doente.
August ficou para
trás. O escutei dias e dias, reclamando
como ia fazer.
Mas o pressionei,
para saber se não estava com mais alguém, pois ele fazia isso, as vezes estava
com mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Quando
comunicou a estas, apareceu aqui em casa, com um olho negro.
Ficou meses
aqui. As vezes de madrugada, vinha para
minha cama, queria ser abraçado, ter afeto.
Eu quando lhe
dizia que ele sempre tinha feito confusão, entre afeto e sexo, ria na minha
cara, mas depois sério me perguntava como tinha conseguido isso.
Lhe expliquei que
como ele, levando pauladas na cabeça.
Quando era jovem, achava que estava amando, quando não passava de sexo
de dois ou três dias.
Tu sabes que
levei anos com Maurice, que em paz descanse.
Claro ele era também casado, mas nunca, desde o primeiro momento me
escondeu isso. Aparecia quando podia
escapar das reuniões sociais que era obrigado pela família a participar. Mas nos momentos que estávamos juntos, era
meu companheiro ideal. Me dizia que eu
era livre para fazer sexo com quem quisesse, mas eu me negava. Pois a Maldita já estava em campo.
Me ajudou a
assumir este lugar, me orientou como devia gerir tudo o que tinha. Nesse ponto foi espetacular comigo. Até se atreveu a vir um dia com sua mulher,
seus amigos, como se fosse um lugar novo para ver um show fantástico.
Creio que foi
quando sua mulher desconfiou de tudo, se aposentou, veio viver comigo, só saiu
daqui, porque os filhos quando os avisei vieram buscar seu corpo, me pedir para
não ir ao enterro.
Eu não me
importei, embora muita gente tenha me criticado, ele já não estava, essa era a
verdade, fui feliz com ele, se eu o amei, nunca saberei, mas que ele a mim sim,
tenho certeza, para fazer o que fez, era necessário muito amor. Não sei se teria a coragem que ele teve,
enfrentar aos seus para vir viver aqui, em cima de um cabaret com outro homem.
Nunca mais quis
ninguém, por isso agora tenho duvidas se sigo com isso, ou vou curtir a vida no
sul, como ele gostava.
August o
respeitava horrores, tinham conversas homéricas, na verdade dos poucos amigos
que sabiam da época que ele ainda estava casado, ele era um.
Me dizia, que se
não fosse meu amigo, me roubaria o Maurice.
Este ria com está
história, nas épocas que esteve muito mal, nos revezávamos em cuidar dele, eu
ia durante o dia ao hospital, Maurice, passava algumas noites lá.
Foi um período
difícil, perdemos muitos amigos essa era a verdade, havia finais de semana, que
quando olhava a plateia, só via caras novas, me perguntava aonde estão os
velhos clientes, que riam das minha piadas.
Dos novos alguns
me criticavam, por me vestir de mulher, usar essa barba imensa, não usar
perucas, mas sim meu cabelo naturalmente brancos, como hoje, só apresento os
números nada mais. Nada é igual, querem
uma coisa mastigada, se faço uma piada política, não riem, talvez porque não
saibam do que escaparam.
Acho que a
maioria segue sem tomar cuidados como os que passamos a tomar.
August ria, dizia
que eu não arriscava, com toda a liberdade que me dava o Maurice.
Como tu, tinhas a
mesma liberdade, mas tomavas cuidado, nunca fomos desses de saunas, de trios,
ou coisa parecida, drogas tudo o mais.
Ele dizia as
vezes que erámos da velha guarda, mas a maioria dos jovens daquele tempo, se
foram para o outro lado.
Os que se
politizaram, fundaram ONGs, para defender seus direitos a medicina, ajudei a
todos que me pediram ajuda, inclusive de usar o local para assembleias, hoje me
olham de esquerda, porque nunca me politizei.
Não me interessava.
De uma certa
maneira amigo Paul, essa notícia, me abriu minha cabeça, como uma caixa de
pandora.
Em breves
minutos, consegui ver todos os namorados que August me apresentou, uns dizia
que fazia isso para sentir ciúmes, lhe respondia, que ele era meu amigo.
Mas ele sim tinha
ciúmes, inclusive de ti, pois nessa época os dois saímos muito por aí, para dançar,
relaxar do stress de trabalhar para o governo.
Se estávamos em
alguma discoteca, alguém se aproximava de mim, ele se colocava ao meu lado,
como dizendo é meu.
Eu deixava porque
assim me poupava o trabalho de dizer não a alguma pessoa.
Depois quando já
estava com Maurice, ele dizia, ele pode sair comigo, nunca deixarei que alguém
se aproxime dele, podem querer te roubar esse homem imenso.
Contigo, conosco,
ele virou realmente o amigo, pois fomos os únicos que o socorremos nos momentos
difíceis. Sua família que nem sei como
ele fazia, ajudava, colocou sua irmã para frente, isso que era mais velha do
que ele, a obrigou a fazer universidade.
Nada apareceu
quando ele precisava.
Mas claro não
suportou o rechaço que aconteceu depois, perdeu sua beleza, era um homem
triste, se via que tinha a maldita, então ninguém queria nada com ele. Isso para um homem que conseguia o que
queria, foi como se sentir derrotado.
Eu lhe dizia que
finalmente via a realidade, que tudo era efêmero, nunca nada é para sempre.
Quando estourou o
escândalo do Maurice, imagine um alto funcionário da república, abandonar sua
família para viver com um louco, que se vestia de mulher, para trabalhar num
cabaret.
Ele ficou ao lado
do Maurice, foi o filho que o entendeu, porque os seus realmente ficaram
horrorizados.
August o entendia
por que tinha sentido na própria pele, o de sua família, se tornou o filho
querido do Maurice. Quando ele morreu,
queria ir ao enterro, eu não, me obrigou a ir com ele, ninguém sabe disso, nem
tu. Fomos os dois, bem-vestidos, quando
uma pessoa perguntou quem ele era, respondeu, sou o filho maldito do Maurice,
por quê?
Eu tive que rir,
pois imaginei o Maurice inchando o peito como um pombo, de orgulho.
Mas para todos os
efeitos não fui. Primeiro me imaginei indo
vestido de mulher, com essa barba que tenho, ia ser um escândalo.
Depois que
Maurice veio com os amigos, sua mulher, está lhe perguntou qual a graça de um
homem vestido de mulher, com aquela barba imensa. Que não entendia meu texto, que lhe parecia mais
uma besteira, se queria falar mal do governo que fosse ser político.
Maurice a
principio não lhe fazia graça me ver vestido assim, me dizia que gostava de me
ver nu. Dizia que a primeira vez que me
viu, foi numa festa na casa de algum amigo, que eu estava na piscina
conversando contigo, ficou deslumbrado, pois nos víamos sempre em reuniões de
trabalho, queria tirar o resto de roupa que eu tinha, para ver como era o
resto.
Ele tinha um
corpo para sua idade impressionante, quando nos vimos a primeira vez fora do
trabalho, foi ótimo, nos encontramos numa reunião, começamos a conversar, ele
sabia da morte de meus pais, o convidei para tomar alguma coisa, conversar fora
dali, pois gostava disso dele, poder falar sobre qualquer coisa.
Quando estávamos
num bar, os dois ao fundo, virou-se para mim, colocou a mão no meu joelho,
soltou tudo de repente, depois dizia que o tinha feito assim, por medo que eu
saísse correndo.
Mas fiquei,
olhando para ele, com aqueles olhos negros que tinha, pensando, deve ser
brincadeira desse sujeito. Eu o achava
sempre muito interessante, gostava de o ver falar, explicar alguma situação.
Era verão, a
família dele estava na praia, me perguntou que tal minha casa nova.
Estou terminando
a reforma, era a velha casa da família, ainda no lugar do Cabaret, tinha a loja
de meu pai, que estava alugada, veio comigo, passamos o final de semana inteiro
na cama.
Telefonou para
sua mulher dizendo que tinham surgido problemas.
Eu aceitei
imediatamente que o teria por momentos, ou algumas horas, ou quando ele
inventava uma viagem, que nunca poderíamos sair juntos para um cinema. Mas o tempo que podíamos aproveitar era o
máximo.
August, dizia que
eu o devia roubar da família. Como ele
tinha feito com alguns casados do rol de relacionamento que tinha, mas o sem
vergonha, quando o sujeito dava esse passo, perdia o interesse.
Quero que não
seja meu, para poder conquista-lo.
Porque ele o que gostava era isso a conquista, depois perdia o
interesse.
Te lembras
daquele arquiteto, o sujeito tinha um relacionamento de anos, ele foi se
intrometendo entre os dois, fizeram sexo a três, quando o arquiteto abandonou o
namorado por ele, perdeu o interesse.
Ficou furioso, queria dar uma surra nele, claro se escondeu lá em casa.
Se matava de rir,
eu lhe dizia que isso não se fazia. Mas
no fundo ele era como o Maurice dizia o filho que eu nunca tive, pois tinha
idade realmente para ser meu filho.
Avise aos amigos
dele lá da cidade aonde vivia, que iremos, que ajudaremos em tudo que for
possível, quero que tenha um enterro digno.
Te venho buscar
amanhã por volta das dez para irmos.
Me despedi do
Paul, sabia que ele era pontual, por isso fui para cama, limpei bem a cara como
fazia sempre.
Mas foi uma noite
infernal, pois em minha cabeça, me veio tudo, desde o momento que o conheci,
todas muitas conversas que tínhamos, das tentativas dele de seguir fazendo sexo
comigo quando lhe desse a louca. As
largas noites quando ele não tinha com quem se desabafar das verdades de sua
vida. Talvez tenha sido o único amigo
que sabia de tudo, vamos dizer assim, do buraco de aonde tinha saído, até aonde
tinha chegado.
Uns pais, amorfos
como ele dizia, sem ambição nenhuma na vida, que por eles, ele nunca teria ido à
universidade, teria ficado trabalhando ali no negócio que tinham. Que aprender línguas, o que ele tinha uma
facilidade imensa, lhes parecia uma besteira, como dizendo para que.
Mas isso o fez
subir na vida, realizar seus sonhos, conhecer países, tudo bem sempre se metia
em confusão, mas fez amizades em todos os lugares. Era uma pessoa que queria ser querida, as
mulheres, o adotavam mal o viam, tinha esse jeito de rapaz desamparado. O que não deixava de ser verdade.
Acredito que no
fundo, como lhe dizia, a maioria das vezes ele não queria sexo, sim carinho,
como o que eu lhe dava.
As vezes aparecia
no meu antigo apartamento, me dizia na cara, venho dormir aqui, porque sei que
vais me abraçar, cuidar de mim. Não
acontecia nada de sexo.
Muita vezes
chorou nos meus braços, por não entender, não conseguir analisar o que sentia
realmente por uma pessoa. Pois da mesma
maneira que se apaixonava, no dia seguinte já não falava da pessoa.
Quando resolveu
voltar para o lugar de aonde tinha saído, perto de Nimes, lhe disse que estaria
só, mas conseguiu fazer amigos, os tempos tinham mudado. Ele tinha perdido toda a beleza que
tinha. Seu rosto estava marcado pela
doença, a eterna barriga inchada o delatavam, até isso, o corpo de garoto que
tinha, desapareceu.
Rolei na cama a
noite inteira, me lembrando dessas conversas.
Acabei me
levantando cedo, pois me era impossível dormir. Também tinha tomado uma
decisão, ir viver na casa que Maurice me deixou de herança, em Aix en Provence,
aonde passamos dias fantásticos. Chega
de tanta papagaiada como August dizia.
Quando desci, com
uma pequena maleta, não sabia se íamos conseguir voltar no mesmo dia ou não, em
último caso, iriamos depois para Aix.
Avisei o meu gerente que a vida seguia no cabaret, mas tinha surgido um
imprevisto.
No carro, Paul me
disse que tampouco tinha dormido muito, fiquei pensando a noite inteira, agora
somos só nos dois desse grupo de amigos, era uma verdade.
Me deu uma
noticia que caiu como um mal trago, mas engoli em seco para digerir, que ele na
verdade tinha se suicidado, tinha tido uma recaída, estava como corpo cheio de feridas,
que seu rosto estava destroçado. Os seus
amigos queriam saber se o caixão devia ser fechado.
Lhes disse que
sim, para que ficar olhando os destroços de alguém, que colocássemos uma
fotografia dele bonito quando era jovem.
Um deles, que foi seu namorado na sua juventude, disse que tinha
uma. Isso bastava.
Chegamos, era um
enterro diferente, só havia homens, a uma presença feminina era sua irmã que
tinha vindo de Marseille, sozinha. Não
trouxe os filhos, nem o marido.
Fiquei
conversando um tempo com ela, me contou que ele estava na miséria, melhor era
não ver como vivia na velha casa de nossos pais.
Seu dinheiro mal
dava para pagar as medicinas que tinha que tomar.
Mas disse que
sempre chegava o dinheiro que mandavas para ele. Com isso ele se apanhava, porque o que recebia
dava para as medicinas. O resto, vinha
de ti.
Quase soltei, que
da parte dela, que ele tinha pagado a universidade, nada. Mas para que levantar brigas nesse momento.
Maurice não
gostava dela, dizia sempre ao August, a ajudas tanto, mas ela nunca estará por
ti, pois tem vergonha que sejas gay.
Quando se casou
com um companheiro, professor na universidade, não o convidou, ele tinha
acabado de sair do hospital, estava lá em casa.
Ficou primeiro ofendido, depois machucado, pelo que tinha feito por ela.
Quando voltou
para Nimes, creio que foi mais para sacanear, ela queria vender a propriedade,
não podia pois ele estava lá.
Quase perguntei
se era isso que tinha vindo fazer.
Os seus amigos
eram uma confusão de homens de todas as idades, todos vinham falar comigo, me
conheciam de nome, que ele sempre estava falando do melhor amigo que ele tinha.
Lhes gostaria de
dizer, que não fui nem de longe o amigo que ele foi para mim, inclusive o filho
que não tive.
Pois quem me
aguentou quando Maurice morreu foi só ele.
Paul estava fora do pais, em uma missão diplomática.
Ele me aguentou
semanas, sem animo de me levantar da cama, me ajudou em tudo que foi
necessário. Quando fui chamado para a
leitura de testamento, achei que era uma loucura, pois achava que a família
estava lá.
Por sorte, erámos
só os dois. Sua família, ele já tinha
dado sua parte, quando se divorciou, me deixava a casa de Aix, além de
dinheiro, para o August, dinheiro para seu tratamento.
Ele chorava como
uma criança, aí tive que me fazer de forte.
Realmente o filho
da puta do governo não ajudava, o preço das medicinas era terrivelmente
caro. Muitos morriam por não poder
pagar o tratamento.
Um dos amigos
dele, era o padre da igreja, seu confessor, contou durante a cerimônia, que ele
não se confessava, pois dizia que fosse tirar a lista de pecados que tinha
feito na vida, seria uma verdadeira confusão lá em cima.
Que o convidava
para tomar um café, acabava eu contando meus problemas, de fé, de segurança, me
incentivou a seguir em frente.
Foi uma missa
muito bonita, depois veio falar comigo, me entregou uma carta, enfiei no bolso,
pois sabia se lesse alguma coisa agora que estava muito emocionado, era capaz
de ter um enfarte.
No carro em
direção a Aix, contei ao Paul o que ia fazer, vender tudo em Paris, vir viver
ali, arrumaria alguma coisa que fazer, já que não podia ficar quieto.
Caralho, vou ter
que vir contigo, ontem a única boa noticia que tinha era para te dizer que me
aposentei. Não tenho por que ficar em
Paris. Com seu natural sorriso
sardônico, perguntou se aceitava hospedes.
Ele tinha sido meu hospede em Aix mil vezes.
Claro que sim
amigo, afinal estamos sozinho no mundo, ri lhe dizendo, pois sabia que ele
gostava de jovens, depois tem a universidade da cidade, cheia de jovens
querendo explorar e corromper uns senhores velhos. Foi a primeira risada do dia.
Esqueci
completamente a carta, passamos dois dias na casa, fui falando dos planos que
teria para ela. Ele escolheu viver na
parte de cima, como se fosse um apartamento a parte, compartiríamos cozinha.
Voltei para
Paris, fechei o cabaret, tinha dinheiro para indenizar o pessoal que trabalhava
comigo, tinha aprendido com Maurice administrar bem o que ganhava ali.
Falei com a
construtora que queria o local, que falassem com meu advogado, ele negociaria o
preço, lhe disse quanto queria, mas que não moveria nem um pé desse valor.
Ele foi esperto,
pediu muito mais alto, assim acabei no lucro.
Tinha uma boa aposentadoria dos meus anos no governo, depois de muita
luta para conseguir.
Paul no último
instante, decidiu ir fazer uma viagem volta ao mundo, um cruzeiro como ele
gostava, eu ao contrário odiava, ficava imaginando fechado num barco, que tinha
limites, nem pensar.
Chamei uma ONG,
dei tudo que não queria da casa, as roupas de show, para as meninas como eu
chamava aquele bando de marmanjos, ficou como resto. Levei alguns livros, roupas que gostava,
minha foto de cabeceira, do Maurice me sorrindo, uma do August, o resto queimei
no banheiro da casa.
Quando cheguei a
Aix, levei uns dias para me acostumar, que agora viveria sempre ali. Comecei a fazer largos passeios pela cidade,
explorando como dizia o Maurice.
Num dos meus
largos passeios, reencontrei um lugar que íamos sempre fazer compras juntos.
O dono fez uma
festa imensa, a quanto anos não o vejo por aqui?
Sim desde que
Maurice morreu, perdeu a graça, agora vim para ficar.
Ficou me olhando
sério, me soltou em plena cara. Eu tinha
inveja dos dois, somos da mesma idade, quando os via juntos, pensava quero um
relacionamento assim para mim.
Não sabia que
Maurice tinha morrido.
Me deu seu
telefone, quando quiser alguma coisa, é só pedir, terei o maior prazer em
entregar.
Fiz uma das
minhas brincadeiras preferidas, que tudo com prazer custava mais caro.
Riu, para ti eu
faço tudo grátis.
Quando pedi pela
primeira vez num dia de chuva no final da tarde, me disse que levava na hora
que fechasse se tinha problema.
Chegou meio
molhado, lhe ofereci um café, esse homem entrou na casa como um sol, foi
ficando, estamos juntos até hoje, nos dias complicados, vou lhe ajudar na sua
loja.
As vezes imagino
o que diria o August, soltaria, eres um sem-vergonha, esse tipo é meu ideal,
mas avançaste antes.
Tínhamos os dois
por volta dos 65 anos, nem por isso menos vigor. Maurice tinha vinte mais do
que eu, estaria agora com 80 e qualquer coisa, ou noventa, que importa isso.
Jean-Marie, ri
quando falo nisso. Me diz que mantem o
local, para se ocupar, que andou muito pelo mundo, procurando uma pessoa
especial, que sempre tinha se interessado por mim, mas estava o Maurice.
Agora é o momento
que me abraça, diz, agora eres meu.
Talvez pela primeira vez, pode ser por causa da madures posso dizer que
amo alguém. É uma relação completa,
sexo, carinho, companheirismo, tudo que alguém podia dizer perfeito.
Mas não comemos
perdizes, porque algumas vezes discordamos completamente das coisas.
Paul, ah esse,
conheceu no puto cruzeiro, um milionário português, vive agora numa bela mansão
em Sintra. As vezes os dois aparecem.
Paul a primeira
vez que viu Jean-Marie, me disse que era um homem bruto, ri dizendo para ele,
te enganas, é o carinho personificado, gosto dessas mãos duras percorrendo meu
corpo.
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