Subsistir, sobreviver
a qualquer custo, não é fácil, mas isso pode fazer parte de tua vida, inclusive
contar como medalhas para quando chega na parte que é só uma rampa de descida
para o final da vida. O bom é poder
olhar para trás, pensar, confesso que vivi.
Nessa fase agora,
que ia anotando num bloco, as coisas que ia se lembrando do passado, ria,
porque sempre tinha lhe parecido interessante isso, que depois de uma certa
idade, as pessoas não se lembravam do que tinham comido, mas coisas do passado
sim.
Ele com uma idade
precoce, sentia que não pertencia ao mundo de sua família, não encaixava
ali. Eram descendentes de poloneses, que
tinham fugido antes da guerra, imagina, judeus, poloneses, não havia maneira
que não fosse essa, seu avô era professor na universidade de Varsóvia, quando
viu o andar da carruagem, como ele dizia, enfiou tudo no seu velho carro, sua
mulher que não queria ir embora, seus dois filhos, no teto arrumou umas maletas
daquelas antigas, de papelão duro, com um pouco de roupa para cada um, escondeu
embaixo dos bancos, os livros que usava para rezar, nunca ia a sinagoga, rezava
em casa.
Se atreveu a
fazer uma coisa, atravessar a fronteira com Alemanha, justo na fronteira, ajudado
pelo meu pai, roubou umas placas de um carro estacionado numa rua deserta, como
falavam todos alemão foi fácil passar por eles, era loiros, altos, olhos azuis,
todos muito brancos, atravessaram o pais inteiro, entraram na Holanda, pegaram
um navio para os Estados Unidos.
Entraram
legalmente no pais, como se viessem de férias, logo pediram asilo, quando
Hitler invadiu a Polonia. Nessas alturas
tinham atravessado o pais inteiro, com um Ford de segunda mão que comprou em
NYC, não estavam fazendo turismo, procuravam sim um cidade para viver.
Foram parar em
Lancaster, porque minha avó disse que dali não se movia mais, estava farta de
tanto olhar cidades, meu avô colocava defeito em todas, nenhuma era parecida a
sua na Polonia. Ele conseguiu uma
escola para dar aulas, ela colocou os filhos para trabalharem.
O mais
interessante era que meu avô sendo professor, os filhos não gostassem de
estudar. Logo comprou umas terras fora da cidade, que ela escolheu, começaram a
plantar batatas, outras coisas. Ela
aprendeu a dirigir uma caminhonete, ia pelos mercados vendendo o que plantava.
Meu pai foi
trabalhar de mecânico, pois ao longo da viagem num carro de segunda mão,
aprendeu a mexer nele, meu tio ao contrário, logo desapareceu em direção a Las
Vegas, esse adorava a aventura, aparecia de quando em quando, ora rico, ora
fudido totalmente, mas nunca saiu de lá.
Meu pai se casou
por um acaso com uma polaca como ele, minha mãe era diferente, não era judia,
mas sim filha de um pastor protestante.
Uma bela mistura,
um judeu com um pastor protestante. Mas
meu avô nunca interferiu nisso, lhe dava igual, eles nunca tinham seguido a
religião. Meu avô dizia que era ateu.
Tive quatro
irmãos, todos altos como eu, loucos todos por carros, eu nem sabia distinguir a
diferença de um para o outro. Por isso
era a gozação, mas era louco por livros.
Aprendi o polonês primeiro que o Inglês, pois em casa se usava essa
língua. Talvez por isso, tive facilidade
em aprender outras línguas.
Era considerado o
melhor aluno da escola, por isso me tornei o querido do meu avô que tinha se
frustrado com os filhos. Em casa não existia luxos, meu pai considerava
que todos tinham que trabalhar, não pedia a nenhum filho dinheiro, o que
ganhavam era deles.
Meus irmãos
esbanjavam o que ganhavam, roupas novas, eu me contentava a usar as roupas
deles de segunda mão. Pois com uns 13
anos, comecei a trabalhar na parte da tarde numa livraria da cidade, foi o que
me ajudou a seguir em frente.
Guardava todo o
dinheiro que ganhava, quando me perguntavam o que queria de presente no
aniversário, natal, essas coisas, dizia que queria dinheiro, para ir à
universidade. Meu pai abriu uma conta no
banco para mim, assim eu ia guardando.
Dos meus irmão
herdava tudo, roupas, sapatos, só me comprava cuecas, meias, os resto eram
deles, usavam uma temporada, em seguida não queriam mais.
Todos tínhamos a
mesma altura, acima de 1,80 metros, loiros, olhos azuis, pele muito branca, mas
meus pais cuidavam que fossemos ao dentista regularmente, afinal o mesmo era
seu cliente. O filho do dentista era
meu companheiro na escola, capitão do time de basquete, um tipo complicado,
vivia me provocando, pois eu não gostava de nenhum esporte, não me
interessava. Mas se dava mal comigo,
imagina, com quatro irmãos maiores, tinha que saber me defender. A primeira vez que tentou fazer bullying
comigo se deu mal, lhe dei um murro em pleno nariz, que fomos parar os dois no
gabinete do diretor. Enquanto esperávamos
para falar com ele, o James me olhava, entre surpreso, de uma maneira diferente.
Quando o diretor
me perguntou por que lhe tinha dado um murro, lhe disse que não ia aturar que
me enchessem o saco, que estava lendo tranquilamente um livro da biblioteca,
que este o tinha arrancado da minha mão, destroçando o livro. Isso não se faz, afinal o livro não era meu,
agora terei que comprar com minhas economias, para entregar um novo no lugar.
Nada disso, me
disse o diretor, se foi ele quem destroçou, quem tem que comprar será ele.
James me olhava
quieto, quando o diretor disse isso, ia reclamar, mas o outro lhe disse que
estava suspenso. Na verdade não cumpriu
nenhum dia, pois estava em pleno campeonato, o professor de educação física,
conseguiu libera-lo.
A partir desse
dia passava por mim, me dizia, bom dia Paul, eu lhe respondia.
As vezes ia
caminhando para casa, ele me alcançava, para ir conversando. Nos tornamos amigos, de uma certa maneira,
foi meu primeiro namorado, na escola a única coisa que fazia de esporte, era
nadar, mas não competia, adorava a água.
Ele tinha me visto nos banheiros, adorava segurar meu sexo, foi também o
primeiro que colocou na boca. Seus pais
estavam sempre fora, então na volta da escola, ele me convidava. Mas claro eu tinha que ir trabalhar, me
desculpava sempre. Mas aconteceu.
Quando chegou a
famosa época dos 16 anos, que eu estudava como um louco, para poder ir à
universidade com bolsa de estudos, ele arrumou uma namorada, mas me procurava.
Fomos uma vez
numa excursão da escola a Bervely Hills, eu me apaixonei, depois fomos ao Píer
de Santa Monica, descemos para a praia, tomamos banho de mar. Pensei, quero viver aqui, ia fazer tudo para
isso. Depois na volta, o professor com
segunda intenções, passou pela University of California. Foi outro amor à primeira vista, ele nos deu
folhetos dos cursos, afinal tinha estudado lá.
Eu já tinha
definido o que queria fazer, estudar literatura.
Faltava pouco
para isso, mandei meu curriculum escolar para a Universidade, para saber se
seria aceito. Quando num almoço da
família, verbalizei isso, só meu avô me deu força, ele tinha me introduzido no
mundo do livro, era seu único neto que lia em Polonês, inglês, francês, também
o que tirava as notas mais altas da escola.
Tinha uma boa
economia. A preocupação dos meus pais,
era como ia me manter.
Escapei um dia,
peguei um ônibus, fui andar por ali por perto da universidade, queria saber
como era, apesar de ser um domingo, tinham muitos restaurantes abertos, eu
queria ver se algum procurava gente para trabalhar. Numa esquina vi do outro lado da rua, uma
livraria, fui dar uma olhada, a primeira coisa que me chamou atenção, foi um
cartaz, procurando alguém para trabalhar da parte da tarde para a noite. Tinha um adendo, trabalhar dois domingos do
mês, entrei, tinha uma senhora, com uma cara gentil, cabelos brancos, que me
pareciam precoces pois não aparentava muita idade. Lhe perguntei pelo emprego, disse que tinha
sido aceito na universidade, que iria fazer literatura, que trabalhava numa
livraria em Lancaster.
Lhe expliquei que
meu único problema era alojamento, pois imaginava que ali por perto o aluguel
seria caro.
Depende do que
procuras.
Me estendeu a mão
Marie Floret, pelo sotaque vi que era francesa, comecei a falar com ela nessa
língua, adorou, ria muito. Contei que
falava polonês, francês, claro além do inglês, que me interessava por
literatura, pois queria ser escritor.
Ela primeiro me
disse das condições, que queria uma pessoa que começasse a trabalhar as duas da
tarde até as oito da noite, dois domingos inteiros do mês, assim eu folgo dois
a pessoa outros dois, o salário era quase o triplo do que eu ganhava, mas claro
a vida em Los Angeles era mais cara.
Colocou um
cartaz, que já voltava, disse venha comigo, tenho um amigo que tem uma oficina
mecânica aqui atrás, era um beco.
Justo virando a
esquina, se entrava num beco mais largo, ali só tinha uma oficina mecânica de
dois andares, em cima um pequeno apartamento.
Fui apresentado para o senhor que me olhou de cima a baixo, mas não dei
atenção, falou que tinha feito esse apartamento, por causa do seu filho. Esse agora era ator de cinema, nunca
aparecia. Subi, com ele, enquanto ela
voltava a livraria.
O apartamento,
era pequeno, logo na entrada um banheiro, pequeno, mas com um bom chuveiro,
depois uma pequena cozinha americana, depois o resto era aberto, só tinha uma
cama grande, um armário, o resto teria que comprar.
O sacana do meu
filho, levou todo o resto, para aonde esta vivendo hoje em dia, em Malibu.
O homem não
parava de me olhar, só faltava pedir que eu tirasse a roupa.
Acertamos o aluguel,
me disse como vinha recomendado, me cobraria menos. Me perguntou se eu queria ser ator também.
Ri muito, nada
disso, vou estudar na universidade aqui perto, vou trabalhar no horário tarde
noite na livraria, quero ser escritor.
Ele disse que era
cliente da livraria, posso colocar umas estantes para ti, se tens livros.
Apertamos as
mãos, as suas eram calosas, imaginei as mesmas passando pelo meu corpo, fiquei
excitado, ele percebeu.
Voltei a
livraria, com o que ela ia me pagar, podia pagar tranquilamente o aluguel, pois
ia estudar com bolsas de estudo.
Me perguntou
quando podia começar, era uma sexta-feira, eu lhe disse que na segunda-feira,
que no sábado ia trazer minhas coisas, se no domingo ela estava podia me
ensinar como gostava as coisas.
Nessa noite, isso
sentou como uma bomba em casa, todos falavam ao mesmo tempo, eu esperto, tinha
convidado meu avô, só tinha que transferir a conta no banco.
No dia seguinte
ele apareceu logo cedo com a caminhonete de minha avô para levar o que eu
queria, me ofereceu uma poltrona que tinha comprado, que afinal não era o que
queria, para que eu tivesse aonde sentar para ler.
Gostou do lugar,
bem com fez amizade com a dona da livraria. O Gaspar tinha pintado de noite o
apartamento todo de branco como eu disse que gostava, as duas janelas, que
davam para o beco, estavam abertas, para entrar ar, para tirar o cheiro. Ele olhou tudo, foi comigo comprar roupas de
cama, tudo que eu ia precisar, disse que era o presente de aniversário
antecipado.
Na segunda-feira
iria ao banco aonde tinha conta, pediria para transferir meu dinheiro.
Nesse dia já
fiquei. Meu avô depois que comemos
juntos, ainda comprou uma série de livros que queria, na despedida me disse
segurando meus ombros, o mais importante na vida meu neto, é poder voar, tu
começaste a mexer as asas, o mundo é todo teu.
Vou esperar ansioso teu primeiro livro.
Trabalhou todos
os dias até começar a universidade, nos domingos livres ia a praia, primeiro a
Santa Monica, depois conforme as pessoas foram falando, ia mais longe, aonde
tivesse ônibus para ir.
Em casa só tinha
coisas para um café da manhã, depois comia num dos muitos restaurantes ali
perto, nunca tinha gostado muito da ideia de cozinhar.
Com os olhos
muito aberto, começou a descobrir o mundo, todas semanas tirava um dia para
falar com seu avô, que lhe contava rapidamente o que acontecia com a família,
depois lhe perguntava sobre sua nova vida.
Foi conhecendo os
clientes, alguns compravam livros, discutiam com ele, sobre o autor que
gostavam, lhe davam o número de telefone, para lhe avisar se chegava algum
novo.
Um dia um desses,
ao lhe dar o cartão, a Marie ria, soltou na sua cara, não captaste a mensagem
verdade?
Que mensagem?
Esta te
convidando para o chamar para um café, ou algo mais.
Então entendeu,
era como nos livros policiais, ele era carne fresca no pedaço. Pelas tardes estava um bom tempo sozinho. Marie, as duas da tarde saia para ir para
casa almoçar, depois ia se encontrar com suas amigas para um café, voltava umas
duas horas antes de fechar, para fazer o caixa com ele, aproveitavam a lista
dos livros vendidos para ver se tinham que encomendar outros. Ela gostava de analisar, quanto tempo o
livro tinha estado ali esperando para venda.
Ele fez uma
sugestão, em Lancaster a proprietária, os livros que ficavam muito tempo,
colocava em promoção, mas claro ali havia que separar, não se ia colocar um
autor famoso assim.
Ela comentou que
em sua casa tinha muitos livros que tinha levado, que não pensava tornar a ler,
podíamos engordar uma mesa com isso, livros parados, livros de segunda mão.
Ele organizava
isso, tinha um caderno só para isso.
Esses livros parados, ele conversava com as pessoas, para saber por que
não tinham saído antes. Descobriu que a
maioria não gostava de procurar nas estantes, pois tinham que inclinar a
cabeça.
Quando comentou
com a Marie, ela concordava a mesa funcionava mais. Decidiram deixar só nas estantes livros que
eram mais para os estudantes da universidade.
Quando começaram
as aulas, descobriu que muitos clientes eram professores lá, inclusive uns dois
que lhe tinham dado o cartão eram seus professores.
Um deles dava um
curso a parte de escritura, se tornou sua aula favorita, ele tinha uma série de
pequenos relatos de sua época de estudante, com esses começou a fazer uma
coisa, que faria o resto de sua vida.
Escrever, revisar, revisar, revisar, até ter certeza de que estavam
relativamente bons para ensinar no curso.
Esse professor,
Darius Walt, riu muito, quando ele entregou um texto assim. Comentou com ele que queria ver um desses, se
ele ainda tinha o original?
Sim conservo todos,
usava uma velha Remington, presente de seu avô, como sempre de segunda mão, mas
isso não lhe importava o mais mínimo. Na livraria usava uma parecida, nos momentos
que tinha livre, que não entrava nenhum cliente. Quando estava fazendo algum exercício mental,
fazia uma coisa, trocava os livros da mesa de lugar, muitos pensavam que eram
novos.
Os romances que
tinha, não passavam de uma noite. Ficava
frustrado, esperava se apaixonar, mas descobria que a maioria das pessoas
queriam sexo, nada mais que isso.
Um dia conversou
justamente com o professor Darius sobre isso.
Ele queria carinho, romance, mas se esbarrava que as pessoas queria sexo
nada mais.
Se sentia
incompleto.
Darius riu muito,
isso é assim, te vem com toda essa estampa, pensam esse é forte, aguenta
qualquer coisa, é duro, quer sexo nada mais.
Experimentou
fazer carinho, em vez de sexo, a pessoa se levantou foi embora. Descobriu que a maioria era casada. Um domingo, estranhou ver a oficina mecânica
aberta, se aproximou, viu o dono falando, com um homem de uma estampa incrível,
deduziu que era o seu filho.
O apresentou,
teve um rechaço imediato com o mesmo, lhe pareceu um sujeito fútil, tinha
estampa, nada mais. Sabia que ele fazia
esse papel tão costumas nos filmes bobos, o macho alfa.
Quando voltou de
noite o senhor seguia trabalhando, parecia chateado, começaram a conversar,
imagina, apareceu porque precisa que eu arrume seu carro, não foi ver sua mãe,
que o criou dessa maneira, agora reclama, se acha o umbigo do mundo. Estou aqui
perdendo o domingo, quando poderia estar na praia, me distraindo com meus
amigos.
Começara a falar
das praias, domingo que vem se o tempo estiver bom, irei, como sempre, pego um
ônibus aqui na avenida, passo o dia inteiro, fazendo uma coisa que amo, nadar.
Não sabes fazer
surf lhe perguntou?
Nunca fiz, fico
com inveja das pessoas que fazem, mas nunca fui fazer.
Eu normalmente
vou a Venice Beach, lá tenho amigos, que me avisaram muito que não me casasse,
nem tivesse filhos, mas o idiota não escutou.
Queres tomar uma
cerveja, perguntou ao homem, viu que estava suado. Fechou a oficina, subiu com
ele, acabaram na cama, foi a melhor foda que tinha tido em muito tempo, cheia
de carinho, gostou, ria com isso.
Ao final lhe
comentou das aventuras, que o frustravam.
Veja sou casado, um
casamento de muitos anos, ela tem sua vida própria, eu ao contrário, me sobram
os amigos, eu quero é isso, calor humano que não tenho em casa, embora me sinta
fantástico contigo.
No domingo
seguinte, o veio buscar, ele tinha um tipo rancheira, vinha com duas pranchas
em cima, vou te ensinar a surfar.
No caminho foi
comentando, todos esses meus amigos, os conheci no exército, o primeiro que vão
dizer, é que poderias ser meu filho, espero que isso não te importe.
Segurou sua mão,
lhe disse, esta semana me senti melhor, encontrei alguém que me entende, pois
tinham falado muito, contou para ele, pois os únicos com que tinha falado a
respeito, tinha sido a Marie além de seu avô.
A história que tinha apresentado ao Darius, ele tinha mandado para uma
revista literária que o tinha publicado.
Quero ler lhe
soltou Samuel.
Passou o dia lhe
ensinado como surfar, apanhou mas aprendeu, mas o que mais gostou, comentava
depois, era ter ficado além da ondas, esperando uma especial, se sentiu em paz,
comentou isso com ele.
Também é o lugar
que mais gosto.
Na volta, ficou
para dormir com ele, disse a minha mulher que ficaria para dormir na casa de um
amigo da praia.
Adorava isso, os
dois se entendia, se exploravam, fazia carinho, adorava passar a mão pelos cabelos
crespos, cheios de fios brancos do Samuel.
Ele dizia não sei o que vês em mim, não sou bonito como meu filho, nem
tenho um físico de jovem cheio de músculos.
Samuel, isso não
me interessa, apesar de ser jovem, quero poder conversar, trocar ideias, isso
tenho contigo.
Ele quando leu o
texto, lhe disse que o entendia, tinha se casado por isso, pensava que ia ter
uma família, carinho, tudo que não tinha tido antes.
Nos domingos
quando chovia, lhe ensinou a conduzir, o animava a respeito.
Acabou de escrever
seu primeiro livro, mandou uma cópia para seu avô por entrega rápida, outra deu
ao Samuel, a Marie, além do Darius.
Tinha construído
um personagem que não encaixava no mundo de agora, com os valores tão
superficiais, incluía isso, de um amor de uma noite, de não conhecer as
pessoas, por isso a princípio tinha estranhado, muita gente entrava na
livraria, mas conversava sobre o autor, acabavam falando de suas vidas.
Samuel agora
escapava algumas noites, disse que iria pedir o divórcio de sua mulher, tinha
descoberto que ela tinha uma aventura. Por isso não reclama os dias que estou fora.
No último domingo
o viu com cara de cansado, lhe perguntou o que passava. Ela assinou o divórcio, mas ficou com quase
tudo o que eu tinha a casa, terei que sair de lá. Só me restou a oficina, meu carro, dinheiro
que guardo na conta do banco aqui perto.
Menos mal que não
tenho que pagar nenhuma pensão. Vai se
casar com o sujeito com quem tem aventura.
Não seja por
isso, venha ficar comigo.
Mas como sempre a
felicidade nunca era uma coisa que durasse muito. Apesar dele insistir Samuel não gostava de
médicos. O via cada vez mais cansado, só
estava super bem quando estava na praia.
Marie um dia lhe perguntou se ele realmente gostava do Samuel?
Perguntas isso,
por que tenho idade para ser seu filho?
Sim, ele me disse
que nunca imaginou ser feliz com alguém, que contigo é.
Pois não sinto
essa diferença, com ele posso conversar, o que sentia falta com os outros,
tenho com ele, é carinhoso, se preocupa comigo, gostamos de muitas coisas
iguais.
Sei que não é só
por sexo, como acontece muito agora.
Agora quando ia
para casa, se encontravam iam comer ali por perto, pareciam dois namorados, não
lhe importava que falassem dele.
Seu livro
finalmente foi editado, ele evitou que tivesse sua foto na contracapa, para não
descobrirem que trabalhava ali na livraria.
Vendia bem, quando
estava já na terceira edição acabou o seguinte.
Justamente nesse dia, voltava para casa, com o pacote de cópias que
tinha mandado fazer, para mandar para seu avô, para os outros lerem, fazerem
comentários com ele.
Estava louco para
o Samuel ler, estranhou que a porta da oficina estivesse aberta, o encontrou no
chão, chamou uma ambulância, mas era tarde, tinha tido um enfarte.
Sabia que tinha o
telefone de seu filho, chamou a este, lhe disse que estava filmando em NYC, que
infelizmente não podia ir. Que falasse
com o advogado de seu pai.
Foi o que ele
fez. Este sabia o que tinha que fazer. Uma
cerimonia simples, tinha uma lista de amigos para avisar, que fosse cremado,
que levassem para além das ondas, deixassem as cinzas ali. Tenho uma carta para ti, que ele deixou.
Estava imaginando
que o filho agora podia querer o local para vender.
Depois da
cerimônia que foi uma surpresa, o local estava cheio, o filho, nem a mulher
apareceram.
O advogado disse
que o filho não podia sair da filmagem, mas creio mesmo que não quer perder
tempo, só perguntou se tinha algo no testamento para ele. Lhe disse que ele tinha liquidado tudo, com
a mãe dele, seguindo suas ordens disse que tinha vendido o local.
Para minha
surpresa deixou sua berlinda, bem como o local com o apartamento para mim,
pelos últimos e maravilhosos anos de sua vida.
Bem como um pouco de dinheiro que tinha no banco.
Eu agora,
despertava de noite procurando por ele na cama, em breve faria 30 anos, tinha
que redefinir minha vida.
Marie,
estranhava, que já tendo um livro pelo qual tinha recebido um bom dinheiro, não
deixasse de trabalhar na livraria. Lhe
expliquei que não podia, não tinha nada a ver com ela, sim pelo fato de ser meu
meio de conviver com outras pessoas, além de compartir ideias, tivemos uma
conversa interessante, ela pensava em vender o local que era seu, ir viver com
umas amigas numa residência, perguntei quanto queria pelo local.
Me disse o valor,
a livraria queria pouco, pois atualmente quem levava tudo era eu. Só vinha nos
domingos que me tocava livre.
Aliás, eu nunca
entendia o porquê dos domingos, eram dias de turistas, que compravam guias,
mapas, livros de fotografia sobre artistas, mas isso só na parte da manhã, na
parte da tarde todos iam comer por ali, o movimento era nulo.
Eu na parte de
baixo que era oficina, agora só tinha o carro do Samuel, que continuava usando
para ir à praia para surfar com os amigos que tinha feito a partir dele.
Dois deles que
eram seus amigos de sempre, me perguntavam por que não tinha ninguém, lhes
contei que Samuel tinha preenchido minha vida, era o que eu tinha sonhado.
Não estava para
voltar outra vez as famosas fodas de uma noite.
Riam quando ele
falava nisso, mostraram alguns dos que eu conhecia, esses são famosos por isso,
não querem nada, eu sempre digo que é melhor uma punheta bem-feita que isso.
Concordo contigo,
o pior é que ele foi durante esses anos o melhor da minha vida, então o patamar
é alto.
Riam comigo,
diziam que ao largo desses aos eu tinha mudado, agora usava cabelos compridos,
com alguns fios brancos, mas minha pele era mais morena.
Quando ia visitar
meu avô, ele ria, dizia que adorava minha aparência, já meu pai, meus irmãos,
suas famílias criticavam. Nenhum tinha
se interessado pelos meus livros, me achavam um idiota por seguir na
livraria. Segundo meu avô, pensavam que
escrever livros não devia dar muito dinheiro.
Um dia fui
visitar meu avô, ele me entregou uma caixa, estava bem embrulhada, me disse na
hora de me despedir, só abra depois que eu morrer. Olhei para ele, o via bem fisicamente.
Mas morreu
semanas depois, sentado embaixo de um pé de maça que era aonde ele gostava de
se sentar para ler. Segundo descobrimos
mais tarde, tinha um câncer, tinha resolvido que já tinha vivido demais, tomou
todos os comprimidos de uma medicina, morreu ali sentado com um livro nos
joelhos.
Tinha pedido que
o cremasse, que deixassem suas cinzas ali ao pé daquela árvore.
Minha avó
comentou que tinha sido a primeira que ele tinha plantado, tinha trazido as
sementes da Polônia, de um uma árvore que tinham nos fundos da casa.
Sempre que ia
vê-los, ele me dava maças dali, ela compotas que tinha feito com as mesmas.
Ela me contou que
com os anos, ele tinha vindo se afastando dos filhos, não tinham nada a ver com
ele, tu foste o único que realizaste seus sonhos.
Seus filhos
queriam vender o campo, mas a minha avó se negou. Sabia que um ia gastar tudo nas mesas de jogo
em Las Vegas, que o outro usaria em besteiras.
Ela tinha
aprendido a se mover no meio que vivia, o comercio, fez uma coisa que ninguém
esperava, vendeu para um homem que comprava o que ela produzia, dividiu o dinheiro
para cada um dos netos, assim nenhum filho podia brigar.
Meus irmão usaram
a cabeça, guardaram para seus filhos irem à universidade. Embora eu olhasse aqueles garotos, não via
futuro neles, estavam sempre metidos na oficina mecânica.
A mim não me deixou
nada, pois sabia que eu não precisava.
Quando abri
finalmente o pacote que ele tinha me dado, tive que rir. Eram dois cadernos escrito a mão, com a letra
maravilhosa que ele tinha, contando sua história, sua juventude, junto tinha um
saquinho com três diamantes, que deviam valer uma fortuna.
Fui lendo nas
minhas largas noite solitárias, o que ele escrevia. Começava dizendo que tinha inveja de mim, por
conseguir colocar para fora tudo, falando honestamente o que eu sentia, eu ao
largo desses anos com o Samuel, ele tinha sido a única pessoa que eu tinha
apresentado. Os dois se deram bem,
inclusive veio a cerimônia quando ele morreu.
No que estava
escrito, me contava um romance que tinha tido antes de se casar, seu casamento
como todos de muitos judeus, tinha sido combinado entre duas famílias. Tive sorte dizia, tua avó foi uma grande
companheira, mas o amor de minha juventude foi um homem que soube anos depois,
foi um carrasco com os judeus.
Falava dessa
época, de sua juventude, descrevendo conforme ia se lembrando, desse tempo,
citava nome das pessoas, a maioria ele achava que estava morta.
Podia descrever
lugares que frequentava em Varsóvia com detalhes, praças aonde se sentava com
esses amigos, falavam de seus sonhos, já nessa época ele pensava ir para os
Estados Unidos, falava de sua experiencia sexual com esse seu amigo, que tinha
medo de tudo, comentava que não entendia como depois tinha se transformado em
carrasco.
Ele nunca mais
tinha sequer tido vontade de voltar a Varsóvia, principalmente na etapa
comunista.
De uma certa
maneira, falava da solidão, pois era muito diferente de minha avô, dos seus
filhos, apesar da grande aventura que tinham feito, atravessar quase que os
Estados Unidos inteiro, os filhos nunca falavam nisso, ele ao contrário tinha
realizado um sonho, falava de cada lugar o que tinha significado os dias que
tinha estado em cada cidade, o que tinha observado, porque não a tinha
escolhido. Realmente nunca ouvi meu pai
mencionar nada a respeito.
Da solidão, até
que descobriu que tinha um neto que amava as mesmas coisas que ele, porque
sempre tinha me ajudado, não desprezando os outros, serão meros reprodutores de
crianças, se deles sair alguma que seja como tu, a ajude por favor.
Um dia estava na
livraria, recebeu a visita de um advogado, representava uma grande empresa,
estavam interessados no espaço da livraria, bem com aonde ele vivia, queria
fazer uma grande construção, um edifício que metade seriam apartamento a parte
de baixo um grande estacionamento.
Escutou a
proposta, ficou de analisar. Conversou com os vizinhos, 80% já tinha concordado
com a venda, só ele basicamente não tinha se resolvido.
Estava tão
acomodado ali, que pensou, caralho, talvez seja a hora de mudar tudo, embora
gostasse da ideia do trabalho que tinha.
Como demorou,
acabou vendendo mais caro, mas pediu tempo, queria encontrar outro lugar para
se mudar com sua livraria.
Conversando com
esses dois amigos da praia, lhe perguntaram por que não abria ali em Venice, o
levaram para ver um local, um deles lhe disse o sujeito está enforcado, cheio
de dividas, porque se meteu com quem não devia. Ficou com pena do homem, o lugar lhe
interessava. Podia se aproveitar da
informação, mas pagou o preço justo. Com isso ganhou um novo amigo.
Reformou tudo, o
andar de cima dava um apartamento como o que ele tinha, o problema seria o
carro, mas acabou resolvendo alugando uma garagem. Montou uma livraria com uma cara mais
moderna, já não teria livros técnicos como os procurados pelo pessoal da
universidade.
Separou tudo o
que tinha, levou para a biblioteca da mesma.
Estes agradeceram.
Agora levava um
outro tipo de vida, se levantava cedo, ia fazer surf, depois voltava, tomava um
bom café, banho, descia para trabalhar, usava um balcão moderno aonde podia
trabalhar, agora usava um laptop para isso, a velha maquina Remington, agora
ficava na mesa grande que tinha em cima.
Convidou a
família inteira para a inauguração, mas só apareceu o irmão que era um ano mais
velho do que ele, tinha os cabelos todos brancos. Tinha três filhos, uma mulher complicada,
perguntou se podia vir falar com ele.
Ficava pasmo, por
viverem tão perto do mar, nunca irem à praia.
Ele desceu no
domingo, acompanhado de um de seus filhos, Saul, muito tímido, quase se
escondia atrás do pai. Este conversou
com ele, sentados na praia, enquanto o filho estava sentado na beira do mar,
olhando para a frente.
Ele está sempre
assim, ou grudado com um livro, é o melhor aluno de sua escola, como você, outro
dia tentei falar com ele, meu jeito de entrar em contato com ele, foi falar de
ti, que era diferente de nós. Pela
primeira vez em alguns anos, vi meu filho sorrir, quando contei como aprendeste
a te defender de nós, ele riu.
Minha mulher diz
sempre com desprezo que ele saiu como tu, que é gay, que não quer um filho
assim. Pensei muito, desde garoto
sempre foste agarrado ao nosso avô, que em paz descanse, mas não encaixava nem
com seus filhos, as vezes no meio daquela bagunça do almoço, ele estava em
outro lugar, quando te descobriu, parecia que tinha voltado a viver.
Queria que
conversasses com meu filho, se queres cuidar dele, eu te dou a guarda dele, não
quero que sofra por ser diferente. Me
lembro quando eras jovem, parecias andar com cuidado conosco, para não sabermos
como pensava. Outro dia encontrei o
James, aquele teu amigo, um pobre infeliz, se casou, não deu certo, é
alcoólatra hoje em dia.
Vou dar uma volta
nesse paraíso aonde vives, se ele fica contigo, virei mais vezes desfrutar
desse lugar.
Sentou-se com o
Saul, começou a falar de um livro que estava escrevendo, sobre ser diferente do
resto. Este lhe contou que um dia
tinha ido a casa do bisavô, viu dois livros dele, escondi, comecei a ler, fui
anotado as palavras que não sabia o que queriam dizer. Duas delas, não encontrei o significado, a
professora me viu buscando num dicionário, mas mesmo assim eu não entendia, me
perguntou aonde eu tinha visto essas palavras, reclamou com minha mãe, que eu
estava lendo livros que ela não recomendava para jovens. Esse escritor, fala muito diretamente as
coisas, não respeita as convenções da sociedade.
Lhe perguntou
quais eram as palavras, explicou o que as mesmas queria dizer, no conceito que
ele tinha usado. Falou justamente isso,
quando eres diferente, as convenções da sociedade, são limitadas, as pessoas
normalmente têm problemas a aceitarem isso.
Seus amigos se
aproximaram, os apresentou ao seu sobrinho, me ensinaram a fazer surf, quando
se afastaram, ele disse que adoraria, mas nem sabia nadar. Eu te ensino, queres?
Eles tem uma
amizade especial, verdade?
Sim estiveram
juntos no exército, eram os melhores amigos do Samuel, com quem vivi muitos
anos.
Que o senhor quer
dizer com vivi?
Isso que estas
imaginando, foi o homem que amei muito, demorei muito para descobrir o que
significa essa palavra. Veja hoje em
dia, todo mundo diz “eu te amo”, em muitas conjecturas, mas realmente o uso tão
grande dela a tornou uma coisa vulgar.
Uns usam a palavra para dizer que fizeram sexo. Mas
fazer sexo, não significa que amas. Falou
abertamente com ele do sexo de uma noite, no fundo são duas pessoas que
necessitam de outra coisa, mas poucas tem coragem de enfrentarem, muitas
confundem precisar de carinho, um simples gesto, como esse, mexeu nos cabelos
crespos dele, isso é um carinho, um afago vamos dizer assim.
Não tem nada a
ver com o sexo, algumas vezes na nossa solidão necessitamos disso, não fazer
sexo.
Caramba, o senhor
fala de uma maneira muito simples tudo.
Quando perguntei na escola sobre isso, sobre dois homens fazendo sexo,
foi um escândalo, lá foi a professora chamar outra vez minha mãe, que ficou
escandalizada.
Não me chame de
senhor, para ti, sou Paul.
Quando seu irmão
voltou, os levou até seu apartamento, na livraria estava o homem que tinha
perdido o local para ele. Contou ao
irmão que tinha perdido tudo que tinha, pois sua mulher tinha câncer, perdeu o
emprego, este local, ficou inclusive a princípio sem lugar para viver. Agora vive com uns amigos, que o ajudaram, é
muito boa gente, conseguiu pagar toda sua dívida, dá a vida para ter um tempo
pela manhã, ou no final da tarde pegar umas ondas.
O irmão perguntou
ao Saul, sei que já conversaste com teu tio, que em casas andas agoniado com
tua mãe, minha pergunta como agora vais entrar em férias, gostaria de viver com
ele?
Os olhos do
garoto brilharam, claro que sim, me disse que ira me ensinar a nadar, bem como
surfar. Mas adoraria que o senhor
viesse me ver sempre, num sinceridade absoluta, disse ao pai, agradeço o que o
senhor está fazendo, mas saiba que o amo.
Seu pai foi até o
carro, trouxe uma maleta, lhe deu dinheiro, entregou uma caixa com um celular,
me chame sempre que queiras. No
domingo, desço com teus irmãos, eles nunca viram como tu o mar.
Tinha um
sofá-cama, arrumou para ele dormir.
Aqui tudo é simples, não tenho empregadas, a única coisa que não faço é
cozinhar, odeio.
Acho que minha
mãe também, a comida dela é horrível, ficamos todos esperando o dia que vamos a
casa dos avôs para comermos bem.
Como tinha
algumas lojas abertas, foram comprar roupa de praia para ele, bem como umas
sandálias, andar na praia de tênis, é um horror. Comprou todas as camisetas que ele gostou,
claro com estampas de surf.
Disse todas as
manias que tinha, mas não se preocupe, eu normalmente não vou trazer nenhum
homem para casa.
Brian o homem que
o ajudava na livraria, ficou encantado com ele, sempre quis ter um filho,
talvez por isso me casei, voltei da guerra meio perdido, não tinha madures
quando fui, nem quando voltei, minha mulher me ajudou a colocar os pés no chão,
mas entre nós as coisas nunca foram 100%, pois tínhamos sonhos diferentes, não
queria filhos, embora fosse professora da escola aqui do bairro. Nunca entendi isso, ela cuidava, educava os
filhos dos outros, mas não queria ter os seus.
Um dia lhe perguntei por que, me respondeu furiosa, porque tinha
insistido muito, me disse que sabia que eu era gay, não queria filhos assim,
que talvez minha genética fosse a responsável.
Ele não sabia que
Brian era gay, de uma certa maneira, faziam um grupo da praia, apesar de serem
homens fortes, duros na queda vamos dizer assim, eram todos gays, tinha pensado
que ele tinha ido a guerra juntos, embora nenhum deles falava no assunto.
Brian lhe contou
que ela tinha descoberto sobre ele, porque em seus pesadelos, gritava o nome do
homem que tinha amado, o vi morrer num ataque inimigo, fiquei ali sustentando
sua cabeça meio destroçada, chorando.
As vezes quando
estou nervoso, tenho esse pesadelo.
Soube que o
vizinho, vendia o prédio ao lado, com um dos diamantes, comprou o mesmo,
aumento seu apartamento, fazendo um quarto com banho para o Saul, outro para
ele, assim tinha privacidade. Muito
lentamente, começou a namorar o Brian, sentiam-se atraído um pelo outro, não
eram jovens, antes lhe perguntou se ele tinha pensado bem, poderia querer
recuperar o tempo perdido.
O que está
perdido, já está passado Paul, seria hoje uma besteira, essa garotada, faz sexo
como se estivesse espirrando, não quero isso.
Podem até me atrair, mas não, prefiro passar meu tempo fazendo surf com
os amigos, trocando ideias.
Seu irmão tinha
cumprido com sua promessa, vinha agora aos domingos com seus outros filhos,
além de algum outro sobrinho. Saul agora
era quem ensinava os irmãos a nadarem, a fazer surf.
Estava feliz, se
abraçava ao pai, quando esse chegava, dizendo, agora sei quem sou.
Na primeira
infância, Paul tinha esse seu irmão como ídolo, pois era mais velho do que ele,
nunca tinha entendido por que não tinha estudado.
Este acabou um
dia lhe confessando, que se sentia protegido pelos seus irmãos maiores, eu era
como o cachorro deles, acabou que não fiz amizades na escola, meus amigos eram
seus amigos, nunca fiz nada por mim.
Um dia lhe
chamou, dizendo que queria falar com ele em particular, se podia?
Claro que sim,
marcaram na praia, sabia que Saul estaria ajudando na livraria. Deu uma desculpa qualquer, tipo tinha que ir
ao Banco.
Seu irmão lhe
disse que estava se divorciando, que viver com sua mulher, que o acusava todo o
tempo de ter sido culpa dele, Saul sair dessa maneira, ela se tornou ultra
ortodoxa, eu nem sabia que tinha alguma sinagoga assim. Deixa os meninos jogados, não sei o que
fazer, os conselhos dos nossos irmãos, são horríveis.
Converse com teus
filhos, se for o caso, venha viver aqui, essa outra loja que está vazia é
minha, porque não a usas fazendo alguma coisa que goste.
Eu adoro
consertar motos, achas que poderia?
Claro que sim, eu
te ajudo, mas antes fale com teus outros dois filhos, eles são mais velhos que
o Saul, vamos ver se te entendem.
Eles adoraram
estar aqui, se ela concordar, eles sei que não querem viver com ela.
Vive alardeando
coisas, que ninguém a entende, mistura religião, com o fato de ser mãe, faz
anos que não me deixa a tocar. Na
verdade nem a procuro, depois que Saul nasceu, ela ficou com problemas, odiou
ser mãe outra vez.
Falou com o
Brian, esse riu, tens certeza de que queres seguir com o nosso relacionamento.
Mais do que
nunca, gostava de conversar com ele, na cama se entendiam bem.
Na verdade, ele
acabou se apaixonando pelo seu irmão, começou a trabalhar junto com ele na loja
de motos, quando viram estavam apaixonados.
Ele entendeu, isso talvez era uma coisa que faltava entre eles, se davam
bem, mas não eram apaixonados, talvez tivesse sido as circunstâncias, tinha
ensinado Josias a surfar, bem como aos garotos.
Fez uma coisa,
procurou, tinha dinheiro para isso, quase nunca tinha gastado dinheiro dos
livros, estavam todos aplicados, encontrou uma casa no canal, foi olhar com o
Saul, que lhe perguntou se podia seguir vivendo com ele.
Claro, eres o
filho que eu não tive.
Não estás
aborrecido com meu pai, por ter roubado teu namorado?
Imagina, explicou
para ele o que tinha acontecido, uma coisa é você ter amizade com uma pessoa,
mas é necessário a paixão, como tem os dois, ficaram tanto tempo fechados em si
mesmo, que precisam disso.
Isso eu tinham
com o Samuel, ele era mais velho do que eu, mas em compensação tinha um coração
imenso, nos gostamos desde a primeira vez que nos vimos, mas levamos tempo para
chegar a algo.
Encontram uma
casa grande, mas ele vinha pensando muito tempo numa coisa, seus livros eram cada
vez mais complicados dentro de seu processo de escrever, Saul daqui a algum
tempo teria que se preparar para a universidade.
Tentava não
influir em nada.
Seu irmão se
preocupava que tinha invadido sua casa, ele disse que nem pensar, fez uma coisa
que depois iria gerar uma briga com os outros, colocou os dois edifícios, no
nome dos filhos do irmão, com usufruto do mesmo. Liquidou a livraria, iria sentir falta, mas
queria viver a vida, nunca tinha viajado.
Pela primeira vez aceitou fazer a divulgação do seu novo livro, foi a
NYC com Saul num final de semana, depois viajou pelas principais cidades do
pais para isso.
A coisa
funcionava melhor. Desta vez Saul ficou
com o pai.
Ele e seus irmão
iam a mesma escola, ali no bairro, mas o interessante ele algumas coisas
ensinava aos irmãos.
Essas viagens
fizeram bem a ele, contacto com outros escritores, sair pelo mundo. Nas férias
antes da universidade, foi com Saul, embora tenha convidado seus outros dois
sobrinhos, mas estes estavam trabalhando com o pai na oficina mecânica. Tampouco interessavam-se por estes viagens.
Foram os dois a
Paris, percorreu lugares que tinha lido em livros, tinha passado os mesmos para
o Saul, os dois se divertiam imaginando como era na época. Foi um mês superdivertido.
Seu editor lhe
colocou em contacto com um editor interessado em publicar seus livros em
francês, foi falar com o homem, este se surpreendeu que ele falasse sua língua.
Era sobre os dois
primeiros, disse claramente que podia, mas que ele primeiro revisaria os mesmo
ou melhor os atualizaria, pois seria interessante, falou do processo que usava
de revisar muitas vezes, mas podemos fazer o seguinte, posso fazer isso em
francês, assim vocês só teriam que revisar a ortografia.
Lhe ofereceram uma casa, mas ele apesar de gostar de Paris, preferia
fazer isso no seu canto, voltaram para casa, de uma certa maneira, se abria em
sua frente uma nova oportunidade.
Antes de voltarem, tiveram um jantar num desses restaurantes famosos
da cidade, riram muito depois.
Na volta tio e
sobrinho fizeram um desafio, tinha os dois feito anotações, iriam escrever um
livro, mas sem um olhar o do outro, sobre o que tinham vivido.
Ele agora se
dedicava parte do dia, em revisar, atualizar, traduzir para o francês. Gostava desses desafios.
Quanto ao livro,
os dois tinham lido basicamente tudo do Patrick Modiano, um escritor que
descrevia Paris de várias épocas. Quando
terminaram, mandaram para a França primeiro, o editor se decantou por publicar
os dois juntos, pois tinha feito uma coisa, conforme o capitulo, a visão dos
dois do mesmo lugar era diferente.
Quando voltaram a
Paris, levava seus dois livros revisados, traduzidos embaixo do braço, desta
vez resolveram ficar um tempo, alugaram um apartamento, com dois quartos assim
cada um tinha um lugar para escrever.
Quando os livros
foram lançados, foram a uma feira de livros em Frankfurt, sabia que ali se
negociavam os títulos. Aproveitou para
ir com o caderno do avô a Polônia que nesse momento começava a dar seus passos largos
em direção a democracia.
Fez a mesma
coisa, ia pelos lugares que seu avô descrevia, foi outra experiência diferente.
Quando voltaram a
Paris, Saul, resolveu fazer um curso na Sorbonne, mantinham o contato com seu
pai, além dos irmãos.
Ele era convidado
para falar nas universidades, sobre essa sua maneira de escrever, foi um tempo
novamente que as pessoas se aproximavam dele, para uma aventura de uma noite,
mas ele se negava a isso. Se sentia
sozinho, porque lhe faltava uma pessoa de sua idade para conversar, a falta que
isso lhe fazia as vezes lhe provocava mal humor.
Quando foi a Tel
Aviv, fazer a mesma coisa, lançar seus livros em hebreu, bem como falar na
universidade. Muita gente não sabia que
ele era descendente de judeus, quando isso saiu no jornal, o público pareceu
aumentar, já não era só o americano.
Quando lhe
perguntavam se frequentava a sinagoga, disse que nunca tinha ido, que seu avô
tinha cortado esses laços, ao emigrar para os Estados Unidos.
Conheceu muita
gente, um dia em Tel Aviv, jantando sozinho num restaurante, se aproximou um
tipo, mais ou menos da sua idade, se apresentou como um professor, que tinha
assistido sua conferência, o convidou para sentar, pois tinha se sentido
atraído pelo outro.
Tiveram uma
conversa interessante, quando lhe perguntou se era casado, esse riu.
Fui criado numa
colônia ultra ortodoxa, quiseram me casar quando tinha 17 anos, mas eu não
queria seguir a vida deles, me sentia diferente, não acreditava em nada
daquilo.
Fugi, aqui,
existia um grupos de conhecidos, que tinham passado pelo mesmo, o jeito foi
cortar os laços de família, entrar para o exército, que eles não aceitam, assim
fui literalmente banido, mas era o que eu queria. Era uma família grande, mas fria, todos
voltados sempre para essa coisa do pecado, nada estava permitido, tudo era
restrito.
Começou a rir,
soltando que ele adorava o pecado.
Acabaram no seu apartamento, dois dias depois se mudou com ele, tinha ao
parecer encontrado sua meia laranja, falavam de tudo, contou tudo o que tinha
vivido, as suas poucas paixões, quanto odiava esses encontros só para sexo.
Heron, ria muito,
eu também, durante um tempo sim, mas depois me cansei, além de que aqui era
proibido. Tudo tinha que ser muito
sutil, nada a ver com o que acontece hoje.
Ele estaria de
férias durante uns dias, o convidou para ir com ele a Venice Beach, lhe contou
o que tinha acontecido, com o seu romance, que agora era o do seu irmão, foi
interessante, era um homem sofrido, os dois encaixam perfeitamente. O resto da família não aceitou, mas ele é
feliz, isso é o mais importante.
Heron que tinha
um humor impressionante, lhe perguntou se tinha mais irmãos, assim quem sabe
ele também amava mais alguém da família.
Passaram por
Paris, Saul tinha um romance, com um professor da universidade, estava feliz,
escrevendo um livro de como enfrentar uma outra ideia de escrever uma história.
Um dia de manhã,
quando chegaram a Venice Beach, despertou sem encontrar o Heron, na cama, se
assustou, quando se levantou, ele entrava pela porta, viu sua cara, riu dizendo
que não tinha fugido, tinha ido comprar pão para o café. Ele adorava isso, sentar-se a mesa para
tomar o café da manhã, conversando.
O que sentiste
quando não me viu?
Foi honesto em
lhe dizer que tinha ficado chateado, que estava aprendendo a gostar dele.
Então volte
comigo para Israel, eu adoro a praia tudo isso, mas também temos lá, tu estas
livre, mas ainda tenho dois anos pela frente antes de me aposentar. Depois podemos dividir temporadas lá e cá.
Ele se deu bem
com seu irmão, com Brian, conversavam muito os quatro.
Um dos sobrinhos ia
ficar tomando conta da sua casa. Assim
ele se despreocupava, Saul, voltaria quando acabasse o livro, com seu namorado.
Desta vez ele não
tinha apoio de nenhum amigo, era como começar do zero, para se ocupar, aprendeu
a escrever em hebreu, ao mesmo tempo que escrevia um novo livro, um personagem
que começa uma nova vida, em um lugar totalmente diferente dele.
Conheceu vários
amigos do Heron, que tinha passado o mesmo que ele, passou a observar os ultra
ortodoxos, que em Los Angeles, basicamente não existiam.
Entrevistou
vários deles, para entender o que passava.
Durante esses
dois anos, escreveu dois livros, baseados nos sentimentos dos jovens que eram
obrigado, ou doutrinados a viverem fora da possibilidade de construírem uma
vida fora dessa sociedade, no fundo eram como um gueto dentro de Israel.
Saul pediu
socorro pois estava passando uma fase difícil, justo quando Heron se aposentou,
foram lhe dar uma força. Mas ele se
repunha sozinho, tinha se enganado com o rapaz que era seu namorado.
Depois foram para
Venice Beach, mas tinha se acostumado a viver com Heron, quando esse disse que
tinha problemas para se adaptar, resolveu voltar com ele.
Viveram juntos
mais de 15 anos, quando ele morreu, Saul veio visita-lo, também foi ficando,
arrumou sua vida por lá.
Fazia tempo que
tinha vendido sua casa, comprado outra em Tel Aviv, não pensava em voltar.
Quando morreu,
foi enterrado ao lado do Heron, que tinha sido o amor de sua vida madura.
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