martes, 28 de febrero de 2023

OBERON MACTOSH

 

                                              OBERON MACTOSH

 

A primeira parte de minha vida, só fui descobrir com uns 12 anos, quando uns garotos começaram a querer fazer bullying comigo.   Primeiro dizia que minha mãe era uma puta, depois diziam mil coisas.   Meti a mão na cara deles sem remordimento algum.

Claro a chamaram na escola.

Nesse dia me contou sem problema algum, minha história, porque diziam isso, os dois sentados na mesa da cozinha grande lá de casa, tomando café com leite, pequenas madalenas que ela fazia.  Sempre sentirei o cheiro delas em minha vida, porque tinham sempre canela.

A história começava em Montana, aonde ela era uma garota que vivia com uma família imensa, que se escapava para ir ao cinema ver musicais, na verdade em casa a música era uma coisa permanente.   Um dia se escapou com suas economias de caixeira de um supermercado, para NYC, queria tentar fazer musicais na Broadway.   Era bonita, sabia cantar, tinha uma boa voz.

Mas claro como ela tinha muitas, loiras, morenas, altas, baixas, ou seja, ela era uma das muitas candidatas.   Mas para ganhar a vida enquanto não surgiam oportunidade, trabalhava num restaurante de luxo, tinha um aspecto excelente, bem como educação.  Loira, de quase 1,80 de altura, olhos verdes fortes, um corpo de fazer gosto.

Nas horas vagas estudava música, para aperfeiçoar sua voz.

No restaurante sempre cheio de personalidades de todos os tipos, levava muita cantadas, algumas companheiras, cediam a troco de algum dinheiro a mais, ou mesmo a possibilidade se serem amantes de alguém.   Mas ela se negava, era virgem, não ia por aí dizendo isso, mas não estava para aventuras.

Um dos homens que era sempre educado com ela, normalmente vinha a algum almoço de negócios, ou de política.  Pedia sempre um reservado, que fosse ela a atender, pois sabia que se escutasse alguma coisa, nunca falaria nada.   Dizia isso, porque sabia que ela tinha escutado conversas comprometedoras, mas nunca tinha vazado nada aos jornais.

Nesse dia estava discutindo com um advogado seu divórcio, se via que para ele era algo doloroso.  O escutou dizendo ao mesmo, sei que tenho culpa, minha família aqui, eu vivendo em Washington, mas descobrir que me coloca cornos, isso não, vivem num senhor apartamento, as melhores escolas para os garotos, ainda me quer colocar de culpado em tudo, para me tirar dinheiro.  Nem pensar, pagarei quando muito a pensão dos garotos, desde que seja administrada por outra pessoa, não por ela, pois sei que passara a mão em tudo.

Depois que o advogado foi embora, ele ainda pediu uma sobremesa, era um tipo de 1,90 metros de altura, senador, metade de sua cabeça estava branca.  Mas não era tão velho assim, beirava os 55 anos.

Ficou com pena dele, lhe disse honestamente que sentia muito.

O pior Trichie, não é perder teu casamento, é a solidão que sinto a muito tempo, uns filhos que estão contra mim, são uns adolescente mimados, nunca serão nada na vida, pois a mãe os educa para gastar dinheiro como ela, superficiais, outro dia mencionei um escritor para meu filho mais velho, me perguntou diretamente, quem é esse idiota.  Não me contive, lhe disse que idiota era ele, pois era o escritor mais importante dos Estados Unidos.  Walt Whitman.

Ela recitou de cabeça uma frase dele.  Estudei quando jovem, adoro ler, me sobra pouco tempo, pois faço aulas de canto, bem como de música, assim se não consigo ser cantora, posso pelo menos dar aulas.

Ele lhe perguntou seu sobrenome, no dia seguinte, recebeu uma das primeiras edições do Walt.   Ficou como boba, dentro tinha uma dedicatória dele, dizendo que pelo menos nem tudo estava perdido no mundo.

Agora ele ia mais ao restaurante, a negócios ou não.   Uma das últimas vezes, com o advogado para comemorar seu divórcio.

Ela se despediu dele, pois deixava de trabalhar, ia fazer um pequeno papel numa obra de teatro, um musical em cima de uma obra se Shakespeare, “sonho de uma noite de verão.

Ela fazia o papel pequeno, bem como cantava no coro.

Se admirou no dia da estreia, receber um ramo de rosas vermelhas, suas preferidas.  Era do Senador.    A obra não foi muito bem, entendeu então que não adiantava, ela era uma das muitas, como tinha acabado a universidade, estava procurando uma colocação de professora de música.

Vivia num pequeno apartamento, enquanto isso tinha voltado a trabalhar no restaurante, não se incomodava, pelo menos era um trabalho honesto.  Meses depois o senador apareceu outra vez, estava discutindo com uns companheiros, que ele se retirava da carreira política, tenho minha fazenda para cuidar, ele tinha deixado o apartamento de NYC para sua mulher e filhos, a fazenda nunca tinha feito parte de nada disso, a herdou de seu pai, depois que se divorciou.

Os outros foram embora, ele ficou, sozinho, comendo um das sobremesas que era sua preferida, ela lhe trouxe café.

Ele começou a conversar com ela, sinto que não tenha sido um sucesso seu trabalho, mas não se deve desistir.  Ela contou que estava tentando algum lugar para dar aula de música, mas que era difícil.

Sem querer soltou para ele, que os castings as vezes eram complicados, pois algum produtor sempre queria se aproveitar das jovens que sonhavam com o estrelado.

Ainda soltou no seu entusiasmo de falar com ele, que se mantinha virgem, não era para pagar nada disso, imagina, depois nunca mais poderia me respeitar.  Contou que um deles, lhe tinha dito que ninguém saberia.    Mas eu saberia o que tinha feito, vendido meu corpo por uma oportunidade.  Não condeno ninguém que o faça, por isso fiz universidade, estudei, dei um duro aqui.  Quantas garotas daqui saíram pelo mesmo, uma oportunidade de serem amantes de alguém.

Quando deixou seu trabalho nesse dia, ele a estava esperando, saíram conversando como se fosse a coisa mais natural do mundo.  Ele não avanço nenhuma vez com ela, foram ao teatro, ao cinema, ele disse que não fazia isso a muito tempo.

Depois a avisou que iria para Albany, a capital do estado, perto de onde tinha sua fazenda.

Voltou tempo depois rindo, graças a deus não sou tonto, meu pai tinha deixado nas mãos de seus empregados, tudo estava mal organizado.

Nesse dia, comentou que não poderia estar sempre por lá, sentaram-se numa praça, a pediu em casamento.    Ela se espantou, pois o tinha como um amigo com quem partilhar coisas, nunca tinha tido nenhum.    Lhe disse que teriam ir com cuidado, pois iriam pensar que ela estava dando o golpe do baú.

Ele agora vinha pelo menos uma vez por mês, para corteja-la, até que ela aceitou.  Perguntou como ela queria o casamento.  Esperando que ela quisesse alguma coisa toda por alto.

Sejamos práticos, lhe soltou, eu quando muito convidaria duas amigas para uma festa, tu não sei, eres conhecido, eu não tenho ninguém.

Concordaram se casaram num registro civil, ele concordou com tudo que ela quis.  Com suas economias, comprou uma traje branco, num saldos, não escondeu isso para ele.  A muito tempo tinha aprendido a administrar suas economias.

Foram viver na fazenda.  Ela o ajudava a administrar, afinal tinha crescido em uma, a casa era imensa. Foram segundo ela os dez anos mais felizes de sua vida, mas não entendia por que nunca ficava gravida.   Fez milhões de exames, nada.   Quando ele teve pela primeira vez câncer, ficou furiosa com ele, pois acabou sabendo a verdade, ele tinha feito uma operação de vasectomia, na época que era político, quando via os políticos tendo filhos fora do casamento.

Com os dois que tinha de seu matrimonio, já tinha o bastante.   Ela ficou furiosa, nunca tinha falado para ela.   Mas mesmo assim não saiu do lado dele.   Tempos depois ficou pior, o câncer tinha resistido a todos os tratamentos.

No dia que eu nasci, segundo ela, voltava de NYC, depois da leitura de testamento dele, deixava para ela a fazenda, bem como dinheiro da conta conjunta que tinha no banco, tudo que estava na fazenda era dela.   Ela sabia que no cofre do mesmo, tinha muito dinheiro.

Seus filhos fizeram um escândalo, pois para eles deixava pouca coisa, teve que se conter na leitura, pois mandava um recado para os mesmo, paguei as melhores universidade, que eles fossem à luta com o dinheiro que tinha deixado para eles.

Estava com todos os papeis que o advogado tinha entregado em suas mãos, agora teria que decidir sua vida, sabia que os filhos iriam entrar com algum processo, para lhe retirar tudo.

Era de noite, chovia muito, ela voltava para casa, como chamava a fazenda.

Na estrava, não vinha rápido, escutava uma música baixinho, para não se distrair, quando um carro lhe cortou pela frente atravessando a estrada, indo se chocar com uma árvore.  Vi que era uma garota que conduzia a caminhonete, carregada de engradados de galinhas, pois disse que viu pelo retrovisor, as galinhas voando por todos os lados.

Parou o carro ao lado da estrada, saiu correndo, até a caminhonete, a menina tinha a cara cheia de vidro, mas respirava, viu que tinha uma barriga de gestante, um caminhão que parou atrás dela, desceram dois homens.   Um a ajudou a tirar a garota que sangrava muito, o senhor nos leva até Albani, disse o hospital que ela tinha sua conta de seguro.

Foram embora, o caminhão os seguia. No hospital, a conheciam pelo tempo que seu marido esteve lá, pediu para avisarem a polícia.  Enquanto atendiam a garota, esta não tinha nenhum documento, nada que comprovasse quem era.  Estava vestida com um vestido que se via pequeno para ela, com a barriga dilatada, o médico veio falar com ela, está em coma, não creio que escape, teríamos que fazer uma cirurgia, retirar a criança, deve estar de sete meses.

Fizeram uma cesárea, as enfermeiras diziam que criança feia, diziam que era muito moreno, que talvez fosse filho de algum emigrante.

A policia já tinha recebido a queixa do proprietário da caminhonete, disse que estava num posto de gasolina, que foi pagar, quando a roubaram.   Ali perto tinha um prostibulo, mas claro, ninguém reconheceu a garota, pelo que dizia o médico era menor de idade.

Ela foi até sua casa, mas voltava todos os dias, segundo ela, me apaixonei por ti nesses dias, ficava comigo no berçário, fazendo com que me alimentasse.

Tua mãe verdadeira, durou uma semana em coma, mas morreu.  Ela ajudada pela enfermeira chefe, bem como pelo chefe de polícia, conseguiu me adotar.   Me registrou com seu nome de solteira que voltava a usar, Oberon Mactosh.  Quando tinha uns meses, resolveu voltar a NYC, o sonho da fazenda era do marido, não dela.  Queria voltar a trabalhar com música.

Vendeu a fazenda, guardou tudo que estava no cofre numa boa maleta, só levou seus objetos pessoais.  Transferiu todo seu dinheiro para a NYC, alugou um pequeno apartamento, saiu procurando um para comprar, claro não podia comprar em Manhattan, pois seria perder muito dinheiro.   Encontrou um num edifício antigo, tinha sido de um músico, tinha inclusive um piano, se vendia com tudo que estava dentro, era um segundo andar, de frente para a Rua, com muito sol como ela gostava, o edifício tinha cinco andares, mas sem elevador.

O da imobiliária disse que o único problema era que o administrador, não era muito de fiar.

Ela mandou retirar todo o papel de parede velho, repintar tudo de branco, os móveis que não queria, deu para uma ONG, o resto adaptou, a parte que mais gostava era a cozinha do mesmo que era grande, bem como o salão, aonde pensava dar aulas.

Montou um quarto para mim, ao lado do seu, embora nos primeiros anos, dormia no seu.  Gostava também porque havia uma pequena praça perto, aonde podia passear comigo.  Sempre escutava um comentário que respondia de mal humor, como uma mulher tão bonita podia ter um filho tão feio.  Mandava tocar conta da vida delas, que a deixassem em paz.

Logo descobriu o que o da imobiliária tinha falado, o administrador, engava o resto dos vizinhos, ela começou a brigar com eles, exigindo a apresentação de gastos como devia ser, teve apoio de todos.  Acabaram pedindo que ela administrasse o edifício, com isso deixava de pagar o condomínio.   Dois anos depois tinham dinheiro para pagar a colocação de um elevador pequeno, no espaço entre a escada que subia até o último andar.   Os velhos adoravam, assim não sofriam tanto, bem como valorizavam os apartamentos.

Ela mandou arrumar a parte elétrica dos corredores, bem como pintar tudo, uma vez por ano, para que fosse mais claro possível.

O último andar, era uma maravilha, pois eram como dois apartamentos em um só, quando os velhos que viviam ali, foram para uma residência, ela o comprou, reformou transformando em dois apartamentos melhores, para alugar.  Assim engordava suas economias.

Eu de feio, fui me transformando, ela dizia que parecia que saia de um casulo, uma coisa seja verdade era a melhor mãe do mundo.   Começou a dar aulas numa academia de música ali perto, as vezes dava aulas em casa, me ensinou a tocar piano, a cantar desde garoto.

Só não fazia uma coisa, ir à igreja, seja qual fosse, não era com ela.  Lhe perguntei um dia, por isso, pois meus companheiros de escola, a maioria eram católicos, iam fazer primeira comunhão.   Me explicou que não era católica, mas porque eu queria fazer essa parte, como toda criança, pensava na festa, nos presentes que diziam que ia receber.  Riu muito, para isso é necessário uma família imensa, nossa família somos nós dois.   Mas no meu aniversário, ela sempre convidava todos do edifício, para fazer um lanche em casa.  Todos me davam presentes, mas exigia que fossem úteis, livros, jogos que podiam se jogar a duas pessoas, nada do que ganhavam meus companheiros de classe.

Se candidatou ao cargo de professora de música na escola, conseguiu. Montou um coro com os alunos, mas a maioria queria era jogar futebol, basquete, eu não gostava de nada disso.  Fazia parte do coro.

Nossa casa era um exemplo de democracia como ela dizia, eu tinha direito a pedir as coisas, argumentar, mas ela sempre ganhava, pois me obrigava a pensar.  Se pedia alguma coisa tonta porque os outros tinham, me perguntava por quê?

Se meus argumentos vencessem, ganhava, me dizia tens que saber argumentar.

Fui me transformando cada vez mais, era mais moreno que ela, cabelos lisos, olhos escuros, mas fui crescendo, ficando bonito.    As velhas do edifício me adoravam, pois nos momentos livres, me chamava para comprar alguma coisa para elas, me davam um dinheiro por isso.

Sabia o que cada uma gostava, a marca tudo isso, ia ao supermercado perto, com a lista, o dinheiro que me dava, minha mãe me ensinou a administrar, quando tive um bom dinheiro comprei uma das muitas besteiras que os garotos que conhecia tinham, mas logo me desencantei do mesmo, pois surgia outro modelo mais caro, mais moderno.  Se eu nem gostava desse, ela tinha deixado que eu comprasse, pois o dinheiro era meu.

Tens que usar a cabeça, me fez sentar como sempre na nossa mesa da cozinha, pegou a propaganda do que eu tinha, ali dizia que era o mais moderno do mundo, essa baboseiras todas, depois a propagando do novo, era a mesma coisa, agora o mais importante, vamos olhar a parte técnica, me mostrava, na verdade tinha mudado um pouco algumas coisas, mas no fundo era igual ao anterior, me explicou o que era isso, um engana tonto.

Nunca mais gastei dinheiro em besteira.   Houve um concurso de corais entre os colégios, o nosso ganhou.   Eu fazia dois solos, logo vinham me dizer que tinha uma voz muito bonita.

Eu agora estuda num conservatório, depois iria a faculdade como ela tinha feito, tocava piano, bem como sabia ler, escrever músicas.

Mas gostava mesmo era de me sentar ao piano, cantar junto.  No último ano de escola, no show final, sem que ela soubesse, me apresentei, sentado ao piano, cantando sua música preferida, “Over de Rainbow”, os aplausos foram muitos.   Depois toquei minha preferida Moon River, mas a minha maneira.    As pessoas diziam, filho de peixe, peixinho é, pois todo mundo pensava que realmente era filho dela.   Mas claro tinha escutado música a vida inteira, em casa a rádio só se desligava na hora de ir dormir, meu despertador não fazia aquele barulho costumeiro, estava conectado a uma rádio de jazz, me despertava sempre alguma música bonita.

Na universidade, vários caçadores de talento, se apresentaram, mas ela dizia, tenhas cuidado, desconfie sempre de tantos louvores, propostas, analise cada uma.

Acabei formando com uns companheiros um grupo, tocávamos as músicas do momento, era a época dos Beatles, do The Rolling Stones, Elton John, mas me faltava algo, fizemos uma música que foi um sucesso, nos convidaram para ir a um programa de televisão sobre música.

Me perguntaram, como era o cantor do grupo, o que me gostava na realidade, vocês tocam as músicas do momento, mas todos tem formação musical.

Cada um falou a sua, a mim me disseram, cante alguma coisa, eu sabia que ela estava em casa vendo pela televisão.  Falei que a música estava presente na minha casa, desde que abria os olhos, até a hora de ir dormir, que minha mãe era professora de música, 80% do que sabia tinha aprendido dela.

Me pediram para cantar alguma coisa que gostasse, eu nunca poderia depois que sabia da minha história agradecer a ela, pois poderia ter ido a um orfanato, ser abandonado, ou coisa assim.

Por isso, me sentei ao piano, como sempre cantei duas músicas suas preferidas.  O pequeno público aplaudiu de pé.  Houve um intervalo, os outros disseram que tinha sido o máximo, um dos companheiros soltou, estamos no caminho errado.

O mesmo disse o apresentador depois, tens timbre, bem como formação para cantar Jazz.

Eu ri, ela vive me dizendo isso, mas temos que viver nossa juventude, eu nunca parei de cantar nenhuma música que escuto.

Me pediram para cantar outra, ri muito.  Comentei vão dizer que essa música foi feita para uma mulher, mas eu a adoro, podia mudar o contexto da mesma, mas gosto como está, cantei “My Man”, o publico ficou alucinado, pois abaixei o tom da minha voz, cantando quase num sussurro.   O apresentador, riu muito, disse, encontramos no meio de tanto rock, descobrimos um futuro cantor de jazz.  Logo choviam chamadas telefônicas.

Alguém importante me viu cantando, procuravam um cantor para um musical, sobre Jazz, o resto dos cantores eram negros, queriam alguém diferente no meio.

Ela conhecia o musical, tinha feito muito sucesso anos atrás.  Me incentivou a ir fazer o casting, sabia duas músicas do mesmo que tinham feito sucesso, fora do espetáculo.

Ensaiamos os dois em casa, eu cantando ao piano, depois no centro da sala, me dizia, mova-se dentro do ritmo.

Fomos os dois, disse que por nada do mundo ia perder isso.  Se sentou ao fundo do teatro, depois durante anos, fui a gozação das pessoas por isso, o rapaz que vai com sua mãe, ao casting.  Nunca me desculpei, ou consertei isso, tinha orgulho dela.

Fiz como tínhamos ensaiado, fui aprovado de primeira, me disseram que somente teria que fazer aulas de dança para me mover melhor no palco.

Acabou que o espetáculo, era metade de negros, o resto de todas as raças.  Tinha uma música que eu cantava juntos com os outros, o principal deste grupo era um negro com uma voz impressionante.   O rapaz se deslumbrou com a fama, foi encontrado drogado num beco, com uma facada no coração.   Me perguntaram se podia cantar no tom que ele fazia. Ensaiei duas vezes os outros não gostaram porque era a chance deles, o diretor deu oportunidade a todos, mas quem se saia melhor era eu.   A temporada também estava acabando, fiz até o final, emendei com um outro musical da Broadway, sem querer estava realizando o sonho dela.

Se fosse outro, seria o momento de voar do ninho, mas estava tão acostumado a viver com ela, que não tinha por quê.  Tinha aprendido a administrar meu dinheiro, gastava somente o necessário.   Se ia algum programa de televisão, usava uma das roupas do show.

Era para ficar um ano em cartaz, seis meses depois, lhe disse para ela um dia, tomando café da manhã, creio que isso não é para mim, fico chateado de cantar a mesma música todos os dias, ontem me peguei cantando como quem está no chuveiro, com a cabeça em outro lugar, ninguém percebeu, mas eu sim.

Ela sem querer tinha voltado ao meio, montamos um show, os dois cantando, um pequeno grupo, eu ou ela no piano, um contrabaixo, um saxofone, um baterista.  Todos tinham sido alunos dela, nos apresentamos para uma das melhores casa noturna, fomos contratados, para fazer o show, nos dias de semana com menos público, para começar estava bem.

Meses depois fazíamos todos os dias, descansávamos, segunda e terça, mas assinamos o contrato com uma condição, podíamos mudar as músicas sempre que tivéssemos vontade.

As que ficavam melhor, ficavam no show, outras trocávamos, como ela dizia num sistema democrático, todos opinavam.  Logo nos convidavam para apresentar na televisão, a casa estava sempre cheia.   Um dia cantamos os dois nossas músicas preferidos, nos chamaram para gravar nosso primeiro CD, os lucros repartíamos entre todos.

Me chamaram para fazer um filme, era o papel de um cantor de orquestra de jazz.  A principio não queria muito, mas lá fomos para Hollywood, alugamos os dois uma casa em Venice Beach, era longe, mas tinha me apaixonado pelo mar, pelo clima.

O filme fez um sucesso incrível, o que eu não gostava muito eram das músicas, eram boas, mas exigi que fosse com a minha voz natural, nada de imitar o cantor.

Fomos ficando, algumas vezes fazíamos temporada em Las Vegas, outras nas casas noturnas de Los Angeles, nunca parávamos.   Meus dias livres eram para a praia, aprendi a muito custo a fazer surf.  Me apaixonei pela primeira vez, por um homem que também o fazia, tinha um problema no braço, tinha sido militar, ficamos primeiros amigos.  Depois ele aparecia em casa para me escutar cantando.

Minha mãe ao contrário de mim sentia falta de NYC, quando acabamos a última temporada que fazíamos em Los Angeles, me disse, agora tens que seguir sozinho o teu caminho, tinha percebido que eu estava apaixonado, mas não me atrevia a dar um passo em frente, sempre tinha tido namoradas de uma noite, nada mais.  Se acabava também a licença que ela tinha na escola aonde trabalhava.   Sentia falta da sua casa, a tinha tão a sua maneira que lhe fazia falta.

Comecei a me apresentar sozinho, tocando piano, cantando minhas músicas preferidas, nem tinha uma sequência, cantava o que me saia no momento.

Finalmente Brown tomou conta da ação, um dia me disse na cara, como é, vamos ficar nesse lenga, lenga, estou apaixonado por ti, tu também, vamos ficar nesse jogo.  Nesse dia acabamos na cama.   Nunca tinha podido imaginar o que seria algo tão forte.

Fui para uma casa noturna de Las Vegas, ele foi comigo, enquanto cantava, ele fazia a contabilidade do local.  Um dia me disse, esse sujeito é um tonto, se não tomar cuidado vai perder o local.  O dono todos os dias, saia depois de fechar, gastava metade do dinheiro nas mesas de jogo.  Um dia perguntou se não queríamos comprar.   Nos sentamos os dois, tínhamos economias, mas estava longe do mar.   Arrumamos uma casa, nas aforas, numa urbanização, não era grande, mas tinha um bom jardim, bem como piscina.  Nos apanhávamos, minha mãe veio para a remodelação, a convenci de tocar em dias alternados comigo.  Se acostumou a viver com os dois.  Dizia que eu tinha sorte, basta ver como o Brown te olha, te ama muito.

Eu também a ele, essa era a verdade, estava com 35 anos, me sentia completo com ele, volta e meia um casino pedia que eu cantasse com sua orquestra, pois os cantores nunca paravam.

Como o show, tinha um horário concreto, aceitei, não por dinheiro, mas sim pela orquestra, democraticamente como ela dizia, com a sua orientação, fizemos o reportório, eu cantava no nosso local, ela tomava meu relevo, a elogiavam sempre, estava perfeita, seus cabelos bem penteados, uma maquilagem suave, roupas de bom gosto.

Fiz sucesso, Brown ficou com um pouco de ciúmes, pois levava muitas cantadas, mas não me interessavam, acabava o show, ia para o nosso local.

Quando acabou a temporada, estávamos exaustos, vendemos o local, a casa não era problema, fomos passar uma temporada em NYC, chegamos em plena canícula de verão, adorava andar de bermudas, camiseta pela cidade.  Um dia numa praça, encontrei o meu saxofonista tocando ali, estava mal, me parei ao seu lado, ele tocava uma das nossas músicas, comecei a cantar, primeiro ficou espantado, depois se animou, ficamos ali quase uma hora, tocando todo o reportório que fazíamos antes, ele ria, porque a caixa de seu instrumento não parava de cair moedas, notas de cinco.

Quando paramos, Brown, ria, deviam ter aqui um cd para vender, os dois juntos nem precisam trabalhar muito.

Soube que estava vivendo um abrigo, tinha perdido tudo, pelas drogas, mas estava recuperado, nesse dia, comprei um piano elétrico, desses fáceis de levar, aluguei um pequeno apartamento perto de casa para ele, ia comer conosco todos os dias.

Nos dias de verão, nos apresentávamos em vários lugares, até que um dia um repórter nos viu, ficou espantado, porque eu fazia isso.  Tomamos um café, contei a história.

Estou me divertindo, ele ganhando dinheiro, pois lhe dava toda a arrecadação.  Brown descobriu os cds numa loja em saldos, comprou todos, colocava ali para vender.

O puto reporte trouxe gente da televisão para nos gravar, logo choveram convites para nos apresentar.  Voltamos ao mesmo club de aonde saímos, Simba era negro como um carvão um dia soltou quando estávamos ensaiando uma música que sempre tinha sido apaixonado por mim, mas não tinha tido coragem de se aproximar, agora que tenho, tens o Brown.

Brown fazia toda a parte administrativa, aplicava nosso dinheiro, ia aos bancos, os dois vivíamos num dos apartamentos do último andar, minha mãe continuava no seu. Quando do outro lado ficou livre, Simba veio viver nele, as vezes me dizia que lhe doía nos ver juntos, mas Brown o tratava de maneira especial, como se soubesse de alguma coisa, eu nunca falei nada.

Estava ele um dia num banco, depositando nosso dinheiro, quando o mesmo foi assaltado, ele com seu tipo de militar, se mexeu quando não devia, pensaram que tinha uma arma, atiraram na cabeça dele.   Morreu no ato, quando a policia apareceu, não sabia o que fazer, quem me ajudou foi minha mãe, bem como o Simba.

Fiquei no fundo muitos dias, não era capaz de cantar, tocar, de fazer nada.  A casa rescindiu nosso contrato, me vi de novo cantando com Simba pelas ruas, como para me recuperar.

Gostava de fazer isso, ninguém nunca ia imaginar que precisasse de dinheiro, era pelo prazer.

Nos convidaram para participar numa cidade costeira, de um festival de Jazz, ao ar livres.

Era o fim do verão, fomos, eu sentia uma falta incrível de Venice Beach, aonde tinha sido tão feliz.   Logo depois do festival, enquanto pensava na vida, minha mãe morreu.

Desci para tomar café, nos últimos meses ficava mais tempo na cama, estava agora com os cabelos todos brancos, mas sempre arrumados como ela gostava.  Entrei, a chamei, não me respondeu, fui até seu quarto, a vi na cama, dormindo placidamente, a chamei outra vez, mas era tarde, tinha morrido dormindo.

Na leitura do testamento, fiquei vendo como tinha dinheiro, ela sabia investir muito bem seu dinheiro.  Ri muito quando descobri uma conta que entendi que era o dinheiro dos shows que fazíamos juntos.

Desci para viver em sua casa, convidei o Simba para viver comigo, ele entendeu outra coisa, lhe disse que me desculpasse, mas ainda me doía a falta do Brown, não era capaz de me interessar, ele recebeu um convite para tocar em Toronto, resolveu aceitar.

Fiquei literalmente sozinho.   Aluguei os apartamentos de cima, com uma parte do meu dinheiro e do Brown, voltei para Venice Beach.   Recomecei outra vez a tocar nos lugares, agora com quase quarenta anos, era um belo desconhecido outra vez.

O que me surpreendeu que pela primeira vez, conseguia compor músicas, tinha aprendido isso quando estudava, mas era como se tivesse ficado guardado um alguma caixa esquecida da minha mente.

Quando tinha um bom número delas me apresentei num casa de jazz, aonde tinha tocado em Los Angeles, fez sucesso, logo gravaram todas as músicas.  Ganhei um prêmio, gostava dessa nova faceta, me chamaram para fazer a trilha sonora de um filme, li o argumento, bem como tinha uma ideia para musica incidental, preparei com queria o projeto.

Tive que ir a NYC, por um problema com um inquilino, resolvi vender tudo, tinha saído do clima de Venice Beach, para o puto inverno de NYC, pensei já não quero viver aqui, fiquei com um dos apartamentos de cima, mandei transportar para lá o piano da minha mãe, meus livros, nada mais. Vendi o grande, bem como o outro, assim se precisasse tinha um pouso.

Transferi toda a conta para perto de casa.   Um dia conversando com um amigo na praia, esse me contou que ajudava num orfanato, se eu não queria dar aulas de música lá.  Contei para ele, que se não fosse minha mãe teria acabado num, falei do que tinha acontecido.

Passei a ir, fazia sucesso com os garotos, chegava com meu piano elétrico, dava aulas, encontrei uns dois com alma de músicos, fiz uma coisa, institui bolsa de estudos, em nome da minha mãe, assim esses garotos podiam ir a um conservatório de música, entre meu amigo Donald e eu, os levamos para as aulas.

Um dia apareceu um menino novo no lugar.  Seus pais tinham sido artistas, morreram nas drogas, o garoto me viu ao piano, se sentou ao lado, sem saber por que comecei a cantar para a garotada “Over de Rainbow”, ele sabia a letra, começou a cantar comigo.

Me apaixonei por ele, perguntei se podia adota-lo.   A diretora, disse que estavam tentando localizar algum familiar dos pais, mas não encontraram nada.  Ela moveu seus contatos, o consegui adotar, lhe dei meu sobrenome.  O dele era divertido, era Punk, como um personagem do Shakespeare, ri muito com isso, era tudo que ele sabia dele.

Agora tinha uma família outra vez.

 

 

  

 

 

 

 

 

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