lunes, 13 de febrero de 2023

SUBURBAN BOY

 

                                     

 

Ele era o quarto filho, sua mãe queria desesperadamente uma menina, naquela época não se fazia exames para saber, nem ela queria.   O pior disso tudo, é que tudo que tinha sonhado era fazer uma universidade, detestava ser dona de casa, muito mais cuidar de crianças.  Não tinha paciência.

Já no terceiro filho, chegou para viver com eles, Lotte uma amiga de infância de sua mãe que tinha ficado solteira, essa foi nossa mãe verdadeira, a que todos respeitavam, acatavam suas ordens, todo mundo dizia que devia ter sido militar, pois só faltava nos colocar em ordem, fazer revisão, isso ela fazia, antes de irmos à escola.

Minha mãe quando me esperava fez um enxoval todo em cor de rosa, queria desesperadamente talvez uma filha, para brincar de boneca, como dizia Lotte.

Mas nasci eu, talvez como dizia o médico, nunca tinha visto uma criança tão feia, nem tão cabeluda.   Era ao contrário dos meus irmãos, todos eles loiros de olhos azuis, como meu pai, eu ao contrário devo ter saído o lado de minha mãe, moreno, cabelos negros, olhos negros.

Ela imediatamente fez uma cirurgia para não ter mais filhos, com isso basta.

Ficou frustrada por não ter uma filha, Lotte estava sempre brigando com ela, pois me queria vestir de menina.  Para o batizado, tinha mandado fazer uma roupa cor de rosa, toda bordada, na véspera, Lotte que nunca tinha sido tonta, colocou a roupa para descolorir, para ficar branca, retirou todas os apliques de rosinhas que tinha, foi minha salvação, imaginava depois com essa história ter todo mundo me gozando quando visse, uma foto.

Ao contrário do esperado, era o querido do meu pai, eu o olhava com admiração, aquele homem alto, quase dois metros de altura, loiros com os olhos transparente, quando era criança pensava não me admira que ela tenha se apaixonado por ele.

Morávamos numa bela casa no Boulevard John F. Kennedy, em Weehawken, em frente ao Hamilton Park.  Da varanda da casa, bem como os quartos da frente se tinha uma vista fantástica de NYC, eu tive o privilégio de dormir num deles, dividia quarto com meu irmão mais velho Brian.  Ele se apaixonou por mim desde que nasci.  Dizia sempre me gozando, era o bebe mais feio que tinha visto em minha vida.  Ele ao contrário era o homem mais bonito que conheci, não me admira que acabasse como ator de cinema.

O outro quarto da frente era da Lotte, meus pais ocupavam um quarto que dava para o quintal da casa, que era uma suíte, no outro quarto meus irmãos Boris, Billy.  Eu quando era pequeno não entendia, todos os nomes começavam com “B”, menos o meu que era Sam, um dia meu irmão me contou em segredo, minha mãe queria que me chamasse Samantha, daí me chamar de Sam.

Não fui a típica criança bonita, tampouco na adolescência, olhava meus irmãos com inveja, pois eles sim eram bonitos, eu tinha uma cara dura, na adolescência cheia de grãos, Lotte sempre me passava produtos, mas fiquei com a pele toda esburacada, tinha um nariz como os da família de minha mãe, grande, ela era descendente de turcos.    De meus irmãos, todos iguais ao do meu pai.   Eles não entendiam por que eu era seu favorito.  Talvez por ser diferente deles, no final da sua vida não os reconhecia, dizia que eu era seu único filho.  Talvez porque era o único que ficou em casa.

Brian era o mais divertido, já tinha nascido para o cinema, essa era uma verdade, alto, tinha, 1,95 de altura, encorpado pelo esporte, era capitão do time de futebol, era bom no atletismo, o querido de todas as garotas, mas ao contrário dos outros participava do teatro da escola.  Eu era obrigado a ler com ele os textos, fazendo o papel feminino.

O mais interessante, era que eu o pegava na cama, ora com garotas, ora com algum amigo seu, quando lhe perguntei sobre isso, me disse que gostava de variar, não me admira que esteja hoje em seu terceiro matrimonio, mas todos sem filhos, nunca os quis ter.  Eu sempre fui seu confidente, achava ótimo isso, me contava as coisas, eu o escutava muito sério, nunca comentei com nenhum dos outros, tampouco com meus pais, ele sabia que em mim podia confiar.

As vezes estava com algum amigo seu no quarto, me mandava vigiar a escada, assim não tinha perigo.   Uma vez o vi com o outro rapaz mais bonito da escola, os dois se rivalizavam nos esportes, nas garotas, os dois estavam fazendo um sessenta e nove, eu devia ter uma 12 anos, lhe perguntei depois que tal era isso.  Me respondeu rindo, já chegara teu tempo, é divertido.

Quando foi estudar arte dramático, minha mãe, virou para ele na mesa, soltou, está na hora de voares de casa.   Isso ela sempre fez com todos, menos comigo, não teve essa oportunidade.

Meu pai não queria, ela batia a mão na mesa, dizendo, os filhos são como os pássaros, tem que voar, ir em busca de outro ninho.   Eu fiquei desesperado, ia perder o único amigo que tinha, mas ela foi com ele, procurar um apartamento pequeno, perto de aonde ia estudar.

Depois foi Boris, resolveu fazer belas artes, foi a mesma coisa, lhe disse na cara, não quero que minha casa vire um studio de pintor, ou o que seja.   Lotte se matava de rir.

Hoje Boris vive em Paris, fez duas exposições com sucesso em NYC, se mandou para Paris, só voltava quando tinha algum enterro, primeiro minha mãe, depois do velho, por último da Lotte.

Billy, foi o único meio louco da família, se metia em milhões de confusões, gostava de uma boa erva, um belo dia, ninguém precisou falar para ele voar, se mandou, de vez em quando mandava um cartão desses turísticos, dizendo aonde estava.  Trabalhava em poços de petróleo, seu negócio não era estudar.   Eu ao contrário deles, tinha encontrado meu refúgio nos livros, comecei lendo os da Lotte, ela adorava os romances água com açúcar, no escritório só tinham livros de direito, pois meu pai era advogado num dos escritórios mais famosos da cidade.

Nenhum filho quis fazer direito.  Quando só fiquei eu em casa, ele sempre falava nessa frustação que tinha.   Queria que todos estudassem direito, para montar um escritório só com seus filhos.

Justo nessa época morreu minha mãe, sem sofrimento, nada, estava vendo televisão na sala ao lado da cozinha, aonde as duas ficavam horas falando.  Lotte contava uma história de uma vizinha que tinha encontrado na rua, começou a rir, estranhou que minha mãe não o fizesse, estava com a cabeça caída sobre o peito.  Tinha morrido silenciosamente.

Não posso falar muito nos meus sentimentos, pois as vezes pensava que Lotte era minha mãe, pois sempre tinha sido ela que cuidava de mim, me levava a escola, até ter idade para ir com meus irmãos.   Era quem nos acompanhava a alguma festa, que ia resolver os problemas na escola, quem fazia compra, ou seja ela era a dona da casa.

Então só ficamos os três.   Eu subia a rua, na avenida tomava um ônibus, ia para a universidade, só voltava de noite, porque fazia ao mesmo tempo direito, literatura.  Eu queria fazer só literatura, mas para agradar meu pai, fiz direito.

No enterro de minha mãe, o Brian, que veio acompanhado de uma mulher linda, era sua namorada em Hollywood, já tinha feito dois filmes, eu quase o beijei na boca, como o via fazendo com seus amigos.  Estava lindo.

Passou dois dias foi embora, logo em seguida Boris foi para Paris, minha mãe ainda teve a oportunidade de ver sua exposição mais importante na cidade, uma individual que vendeu tudo, mas disse que não se satisfazia, que iria estudar para escultor em Paris. 

Meses depois o Billy desapareceu pela primeira vez.  Ficou mais de anos fora, as vezes telefonava para Lotte pedindo dinheiro, se dizia algum absurdo, ela lhe perguntava se tinha cara de banco, repense o valor, torne a me chamar, ainda soltava, vá trabalhar sem vergonha.

Passavam uns dois dias, chamava outra vez, diminuindo o valor.  Ela perguntava aonde ele estava, mandava o dinheiro escondida de meu pai.  Depois que desligava essas ligações balançava a cabeça me dizendo, meu querido, esse jamais vai assentar a cabeça.

Tempos depois meu pai, pediu que ela se cassasse com ele, ela aceitou desde que eu concordasse, mas que ela seguiria vivendo em seu quarto, ele no dele.   Eu achava natural, era ela que fazia tudo.  Nessa época, ele fez uma coisa que nunca tinha feito com minha mãe, me explicou que ela odiava isso, já Lotte gostava.

A levava a todas as festas que era convidado, ela se arrumava toda, ia ao cabelereiro, fazia tudo que tinha direito, comprava um vestido novo, discreto como ela, mas bonito, alguns descobri depois que eram de segunda mão que ela arrumava.

Mas eu sabia que ao chegar em casa, que tinham saído, porque encontrava um bilhete dizendo a comida aonde estava.

Eu me apaixonava por todos os homens que me dessem atenção, mas confundia tudo. Ninguém queria nada comigo, eu era o feio da universidade, era grande isso sim, pelo esporte, forte, tinha um belo corpo, mas de cara, até diziam que eu sorrindo ficava mais feio.

Tinha os cabelos crespos muito escuro, algumas vezes me confundiam com algum mexicano, ou sul-americano.  A polícia me parava volta e meia.   Um dia, depois de mostrar meu cartão de universitário, um ficou me olhando, como dizendo que não acreditava.  Fiquei apaixonado por esse homem, ele era descendente de irlandeses, era tão feio como eu.  Como estavam sempre no mesmo lugar, o via sempre, um dia estava lendo um livro na praça em frente a universidade, se aproximou, perguntando o que eu lia, lhe mostrei, era para um trabalho que fazia sobre James Joyce, Ulysses, ele comentou que não tinha conseguido passar das dez primeiras páginas, começamos a falar sobre isso, me convidou para um café, acabamos em seu apartamento em Queens. 

Lhe perguntei o que fazia no seu dia de folga tão longe de casa, me disse que tinha ido atrás de mim.  Na cama erámos como um embate de dois machos alfas, pois o tamanho era o mesmo, quando tinha uma folga no final de semana, passávamos na cama.   Um dia sem mais nem menos me disse que ia se casar.  Fiquei surpreso, mas aceitei.

Nessa época já pensava em entrar para a polícia, não queria ser advogado, achava um saco, literatura só arrumaria um emprego de professor, eu queria aventura.

Acabei literatura antes, tomei a decisão, falei primeiro com a Lotte, ela riu, me contou pela primeira vez um detalhe de sua família original, seu pai era xerife na cidade aonde tinha nascido, nunca me disse qual.

Ajudou que eu falasse com meu pai, ele ficou frustrado, nessa época ele também já estava farto de ser advogado, aceitou rapidamente.   Fui para a academia, como tinha formação universitária, foi mais fácil.   Quando sai, patrulhei algum tempo, logo passei para inspetor, pois era bom em descobrir coisas, diziam que eu assustava no interrogatório, claro fazia um pouco de teatro, me fazia de mau, a cara ajudava, era fácil.

Voltei a encontrar meu antigo namorado, tinha se casado, divorciado, tinha um filho, andamos mais algumas vezes na cama, mas tinha perdido meu interesse.  Não sei se foi por vingança, espalhou que eu era gay.  Na época isso era uma merda.

Mas fiz que não era comigo, fui transferido depois para a delegacia mais importante de Manhattan, era uma espécie em extinção como dizia, pois era difícil de compartir com um colega.  Gostava de fazer as coisas sozinho.

O chefe um dia de castigo, depois de uma briga com meu companheiro, me colocou uma mulher para andar comigo.  Se deram mal, funcionávamos juntos.  Ela gostava de conduzir, eu não, era uma louca ao volante.

Sabia que eu falava pouco, estava sempre atento a tudo, não tinha tempo para conversas triviais. Nessa época morreu meu pai, já muito mal de Alzheimer, na época se dizia demência, só reconhecia a mim, Lotte morreu antes, vieram o Brian com sua segunda esposa, bem como Boris, acompanhando de um japonês, com quem vivia.  O problema ficava sendo o velho, os dois renunciaram a casa, pois era necessário vende-la, para pagar uma residência para ele, eu nunca estava em casa, tinha um pequeno apartamento perto da delegacia. Localizei o Billy que mandava uma procuração, mas queria a metade de sua parte, primeiro pensei em comprar, tinha um dinheiro de um livro que tinha escrito sobre um caso que tinha resolvido. Mas claro que ia fazer com essa casa tão grande.  Nessa época minha companheira Brittany, me acompanhou para resolver tudo, quando viu a casa ficou como louca, me chamou de garoto suburbano, ela tinha nascido e crescido no Harlen, me dizia, porque não comprávamos a casa os dois juntos.   Mas nem precisamos mandar o velho para a residência, ele morreu antes.

Nesses dias conversei como Brian, viu que eu estava escrevendo outro livro, pediu para ler, depois me perguntou se eu podia transformar num roteiro de cinema.  Não tinha prática, mas fiz um curso de noite para isso, nesse período pedi ao chefe que me deixasse num horário fixo.

Nunca ninguém reclamou nada, pois as vezes usava nos textos histórias que tinha passado comigo resolvendo um caso.  Porque mudava o nome das pessoas, o bairro, trocava algumas, coisas, imaginava como a pessoa podia ter chegado até ali.

Fiz o curso, criei a figura do inspetor, que depois seria durante anos, o personagem predileto do Brian.  Com o dinheiro que ganhei, comprei um apartamento melhor o West Side.

Justamente, nessa época me apaixonei outra vez, mas claro, nem chegou a durar semanas, um tio complicado, advogado, escondido dentro de uma armário escuro.

Eu nunca falava da minha vida particular com ninguém, Bella reclamava que falava de seus namorados, que eu só dizia hum, hum.   Até que tempos depois a vi num momento que tomávamos café, olhando uma revista de vestidos de noivas.  Lhe perguntei se ia se casar, disse que seu atual namorado a tinha pedido em matrimônio.   Perguntei como o tinha conhecido, me contou que num desses encontros a cegas com outra pessoa.

Meses mais tardes quando o vi de longe, era o tal do romance que tinha tido durante algumas semanas, o sujeito era bonito, mas como uma mulher na cama.

Fiquei quieto, ela sempre estava com uma revista nova, eu de brincadeira perguntava se era tão difícil escolher.  Ela dizia que as vezes ele falava no assunto, para depois dar um tempo.

Um dia sem querer me dei de cara com os dois, tinha ido fazer compras antes de ir para casa num supermercado, quando sai, dei de cara com eles, ele fingiu não me conhecer, eu também.

Tinha sempre uma dúvida de falar qualquer coisa para ela, pois nunca tinha mencionado meus relacionamentos.   Sabia que os outros da delegacia comentavam, porque estava sempre só.

Mas claro estava ocupado, do meu último livro, mandei uma cópia para o Brian, ele disse que eu pensasse em transformar numa série, uma coisa que se colocava de moda, pois precisava trabalhar sempre, pois agora tinha três pensões de ex-mulheres para pagar.

Quando veio da última vez, tinha me perguntado se não tinha nenhuma namorada, ou se tinha relações com a Bella, me abri com ele, te via mais feliz, quando estavas com algum amigo teu na cama, que sempre quis isso para mim.  Mas claro até hoje não deu certo.

Ele me abraçou, dizendo que exemplo que te dei.

Não esperava minha resposta, pois eu acho que devias sair do armário, eras mais feliz pelo menos, essas mulheres realmente as amas, ou porque as tens, não tens filho, nada disso.

Me confessou que seguia tendo sexo com homens, mas sempre que fossem fora do circuito.

Vives escondido.  Fiz uma maldade com ele, transformei o personagem num inspetor que sai do armário.    Quando leu o primeiro capítulo da série, me telefonou as gargalhadas, filho da puta, queres me obrigar a sair do armário.   Lhe disse que não, se o personagem tinha a ver comigo, tinha que ser assim.

Por incrível que pareça, os produtores gostaram, porque não era uma coisa escandalosa, apenas um homem que tem relações, durante sua investigação.

Foi quando aconteceu o terremoto da Bella.  Estava um dia em casa, quando recebi um vídeo, bem como uma chamada dela com urgência.

Tinha chegado na casa do namorado, o tinha encontrado na cama com outro, se escondeu, filmou um vídeo, mas ela era uma mulher dura, desceu, foi ao seu carro, colocou umas luvas, uma máscara, um gorro, pegou um revolver, mas antes descarregou o mesmo.  Uma porra que era da época que patrulhava nas ruas.   Entrou no apartamento outra vez, eu namorado estava de quatro algemado na cabeceira da cama, os prendeu um ao outro, não deixou o outro tirar o pau do cu dele. Mas colocou, de uma certa maneira a porra no outro, que não podia mover-se que a mesma entrava mais, pegou o celular dos dois, colocou para gravar, mandou para todos os da lista do celular. Amigos, clientes do escritório, para todo mundo.

Mas os deixou ali algemados, presos um no outro. Retirou sua porra, pois podia ser uma prova contra ela, limpou todas as impressões da sua entrada antes, foi embora tranquilamente, me encontrei com ela no bar da esquina, me mostrou o vídeo.

Por isso essa filho da puta, sempre mudava a época do casamento. Mas foi uma bela vingança.

Mesmo assim não contei nada para ela.

Vi o vídeo, dos dois, me matava de rir, pareciam dois cachorros fazendo sexo, se poder se separar, ela tinha feito de tal maneira que se via a cara dos dois o tempo todo.

Tinha deixado a porta aberta, uma vizinha que era dona do apartamento, além de fofoqueira do mesmo, também tirou fotos, além de pedir ao namorado que saísse do apartamento.

Eu fiquei imaginando o caso, ela fez uma coisa que achei demais, ficou furiosa, o encarou no dia seguinte, pois tinha mandado o vídeo para si mesma.

O sujeito estava arrasado, tinha perdido o emprego, os dois trabalhavam no mesmo escritório, o outro era filho do dono, todos os clientes, colegas, tinham recebido o vídeo.

Resolveram sair da cidade.   Pediu desculpas a ela, chorando, mas ela era perfeita para ele se esconder, ela gravou tudo isso, depois me mostrou.

Bela como podes ser tão má?

Se ele tivesse me falado que era gay, sem problemas, mas me usar, nem pensar.

Na verdade eu sempre tinha pensado que ela era lesbiana, pois tinha um tipo meio masculinizado, por isso a tinha colocado comigo, por detrás todo mundo dizia que pelo menos os dois gays do departamento estavam juntos.

Ela nunca tinha desconfiado, contei isso para ela.  Ficou furiosa, queria pedir transferência de delegacia.  Reclamei dizendo como podia pensar em me deixar, ela era minha amiga.

Me respondeu, eu sou tua amiga, mas tu não, nunca me contas nada.

Isso é verdade Bella, mas minha vida é trabalhar, escrever, aqueles romances de uma noite, nada mais.  Não tenho parte romântica na minha vida.

Mostrei o roteiro da série, ela disse que só ficava, se eu inventasse um personagem baseado nela.   Refiz todo o roteiro.

Os produtores gostaram, assim eu lhe dava também uma parte do dinheiro, ela comprou um apartamento pequeno perto do meu, pode sair do Harlem, aonde ainda vivia com sua família.

Por essa época chegou à delegacia, um sujeito, com a cara como a minha, tinha cara de mau, vinha da DEA, de narcóticos, tinha estado infiltrado anos.

Os dois juntos, podia se dizer que era meu parente.  Desde o primeiro dia vi que me olhava, um dia me agarrou, me colocou ao seu lado diante de um espelho.  Realmente nos parecíamos.

Ficamos amigos, lhe falaram que suspeitavam que eu era gay, mas ele mandou quem tinha falado, cuidar de sua vida que ganhava mais.

Saímos tomávamos cerveja os três, ele estava sempre conversando com a Bella, um dia veio com uma notícia bomba, tinha sido convidada, para trabalhar como ajudante de um fiscal, ela tinha o curso de direito, seria a inspetora da mesma, iria ganhar quase o dobro.

Quando vi, tinha como companheiro o Raul, era como eu, falava pouco quando estava trabalhando, gostava de dirigir o carro como um louco, eu me matava de rir, parecia um gangster dirigindo.

Todo mundo falava dos dois, mas importava uma merda.   Ninguém sabia nada dele, eu ao contrário sim, tinha estado infiltrado muito tempo, tinha tido muitos problemas depois, pois quase fica enganchado nas drogas.  Mas conseguiu resolver o caso.

Depois tinha passado mais de dois anos em tratamento, tenho pesadelos, com coisas que vi, que fiz, que não me orgulheço.

Para mim, tinha encontrado um companheiro igual a mim.

Os bandidos tinham medo dos dois, pois parecíamos mais bandidos do que eles, pela nossa cara feia.   Ele era descendente de mexicanos.

Um dia me levou a casa de seus pais, no Bronx, era uma família imensa, mas como eu, ele era o mais feio de todos.

A casa de meus pais, estava alugada, pois não a vendemos.

Do Boris eu não sabia nunca nada, ele sempre telefonava ao Brian, para quem contava tudo, seguia com o japonês, Brian ria, dizendo em nossa família alguma coisa saiu errada, todos homens mas a não ser o Jimmy, que não sabemos, somos todos gays.

Brian seguia mantendo o seu personagem próprio de macho alfa, as mulheres mesmo sabendo que seu personagem na série era gay, isso não parecia lhes importar.

Uma vez por semana, nos reuníamos com a Bella, para tomar uma cerveja.  Ela agora se vestia melhor, tinha mudado tudo, cortado os cabelos mais modernos, a roupa também era outro tipo, uma vez brinquei que devia estar muito enamorada.  Me respondeu, aprendi contigo uma coisa, amar a mim mesma.

Um dia me perguntou se já tinha ido para a cama com o Raul.  

Nem tinha me passado isso pela cabeça.

Estas perdendo o tempo, pois ele te olha de uma maneira especial.

Um domingo, ele apareceu lá em casa, nos tinham dado um caso importante, um assassinato de um rico banqueiro.   Passamos horas revisando o caso, não fomos os primeiros a ver o mesmo, estava parado.

Ele examinou minha casa, inteira, me soltou na cara de gozação, imaginei um apartamento, daqueles cheio de coisas, mas por aonde olho, só vejo livro, passou a mão pela minha mesa de trabalho, uma mesa bruta, que tinha encontrado uma vez num desses lugares que vendem coisas de segunda mão.

Me olhou nos olhos, já fizeste sexo em cima dela.

Eu só respondi “como”, sem entender a pergunta.

Me pegou de surpresa, me empurrou para cima da mesma, fizemos sexo com urgência.

Ficou olhando para minha cara.

Desculpa, mas não podia aguentar mais, quando vi essa mesa, fiquei imaginando fazer sexo contigo aqui.  Foi bom demais.

Eu estava sem respiração, fazer sexo com ele, era como estar numa montanha russa.

Ele seguiu indo a sua casa para trocar de roupa, mas dormíamos juntos, eu morto de medo, pois adorava trabalhar com ele.   Quando escrevia, ele agora se sentava numa poltrona, lhe passava o capitulo, as vezes fazia alguma sugestão.

Sempre imaginei uma vida assim, me dizia, dois homens como nós vivendo suas vidas.

Tempos depois, após um inverno de merda, acabávamos de resolver o crime do banqueiro, demoramos que descobrir que o relatório inicial estava malfeito, o detetive tinha escondido detalhes, pois era amigo da mulher do banqueiro, mas mesmo assim resolvemos o problema.

Fazia calor, como se de repente o inverno tivesse acabado, em seguida tivesse começado o verão, sem passar pela primavera.

Olhávamos, o rio Hudson, lhe mostrei do outro lado aonde tinha sido criado.  Me disse que sempre tinha gostado disso.

Faziam quase um ano que estávamos juntos, olhei para ele, lhe perguntei o que pensava de nós.

Segurou minha mão, ficou me olhando, eu não sei você, mas estou apaixonado, quero viver sempre contigo, quando te vi no primeiro dia na delegacia, mesmo no dia que te coloquei ao meu lado, era mais para dizer, nos completamos.

Tive um problema com os inquilinos, ele foi comigo até lá, a casa estava um desastre. Ele amou a mesma, mas eu lhe disse, para viver aqui, trabalhar do outro lado é complicado.

Depois tenho que vender, tem a parte dos meus irmãos.  Só então ele ficou sabendo que o Brian que sempre falava era um ator de cinema que ele gostava, falei do Boris, que vivia em Paris, do Billy que ninguém sabia aonde estava.   A última vez que tinha sabido dele, estava no Dubai, num campo de petróleo.

Quando Brian veio a NYC, para uma entrevista na televisão, os apresentei, fiquei com ciúmes, pois o meu irmão passou metade da noite falando com ele.   Ao leva-lo ao hotel, pensei agora vai convidar o Raul para subir.

Virou-se para ele, o segurou pelos ombros, gostei da tua escolha irmão, mas tu Raul, nem te atreva a fazer alguma maldade com meu irmão, venho aqui te encho de porrada.  Me beijou dizendo, finalmente encontraste tua meia laranja, estou com inveja.

Fomos embora rindo, gostei de ver tua cara com ciúmes do teu irmão, me soltou na cara, era uma verdade. 

Mas estávamos conversando, na verdade ele estava fazendo um inquérito para saber se sirvo para ti.

Brian tinha comprado uma casa em Malibu, pois finalmente agora só tinha uma ex-mulher solteira, as outras tinham se casado, lhe sobrava dinheiro.

Tiramos férias juntos, fomos passar uns dias lá.  Adoramos, descobrimos que ele tinha uma aventura com um surfista de uns 40 anos, os dois juntos eram um monumento.

Era como me lembrava dele, quando jovem com seus namorados.  Quando comentei isso, ele riu muito, chamou o James, ele não te reconheceu.

Era realmente um dos seus namorados de jovem.  Todos os dois tinha se casado, se divorciado, se reencontrado.   Raul de sacanagem dizia que parecia um conto de fadas.

De noite na cama, disse, poderia dizer que imagino os dois na cama.  Mas nunca será nada parecido com o que temos.

Eu tinha um bom dinheiro, guardado das últimas temporadas da série.  Rindo lhe disse, que adoraria viver lá.

Vamos um dia os quatro comer num restaurante de uma amigo de Brian, em Venice Beach, foi um amor à primeira vista, adorei o lugar.  Era verão, estávamos sentados no restaurante, na calçada, quando vimos um ladrão escapado da polícia, o Raul, somente estendeu a perna o sujeito caiu, ele rapidamente colocou o pé em cima da mão do mesmo, com a arma.

Nos identificamos, para o policial.   Esse filho da puta, sempre me faz correr, menos mal que falta pouco para me aposentar.  Levou o mesmo a delegacia dali, voltou para conversar conosco.

Depois nos levou para conhecer a delegacia, todo mundo queria autografo do Brian, ele soltava que quem escrevia a história era eu.

O capitão, nos ofereceu trabalho, Raul disse que gostaria de tentar, eu soltei que queria parar de trabalhar, ajudaria mas queria estar fora escrevendo, estava fazendo um livro novo.

Conversei com Brian sobre a casa, temos que vender a mesma, está uma merda fechada.

Tu como o mais velho devia tomar rédeas no assunto.  Raul, conhecia gente em muitos lugares, começou a procurar pelo Billy, o último que sabíamos era do Dubai.

Acabamos descobrindo que estava na Indonésia preso por drogas.  Movemos mundo e fundo, mas já era tarde, ele estava no último estágio da Aids, contraída através de seringas contaminadas.   Fomos até lá, para tentar liberta-lo para morrer fora da prisão, mas essas coisas lá eram difíceis, com muito custo subornando muita gente conseguimos, o levamos para um hospital, que parecia o mais limpo, nos revezamos Brian, James, Raul e eu, para cuidar dele, Boris não se moveu, disse que estava fazendo um trabalho imenso, antes de morrer assinou os papeis da sua parte.

Quando voltamos, com suas cinzas, a enterramos junto com nossos pais, com a Lotte, me lembrava dela, o chamando de bala perdida.  Na verdade era um belo desconhecido para nós, nunca soubemos nada de sua vida.   Nos dias no hospital, disse que tinha vivido como queria, que tinha experimentado todas as drogas possíveis, acabarei morrendo por causa de um seringa contaminada.

Mandamos a parte do Boris, na verdade nunca mais o vimos, dez anos depois fomos avisados pelo seu namorado, que sequer sabíamos o nome, os dois sempre falavam tudo em japonês, nem sabíamos que Boris tinha vivido um tempo por lá.   Já o tinha cremado, o ia levar para o Japão, para um lugar aonde os dois tinham se conhecido.

Ainda disse ao Brian, realmente nossa mãe nos mandou voar. 

Ele me disse, tu foste o único que ficou para trás.

James um dia me contou que se lembrava de mim olhando pela fresta da porta os dois fazendo sexo.  O amava desde essa época.

Agora vivemos em Venice Beach, consegui com a venda do apartamento de NYC, bem com minha parte da casa, algo de dinheiro do Raul, comprar uma casa no canal. Vivemos bem os dois, ele trabalha como investigador, as vezes me conta o caso, porque diz que tenho sempre uma maneira de pensar aguda.  Vejo coisas que ele não vê.

A tempos atrás levou um tiro, quando soube, fiquei muito nervoso, porque de pensar em perde-lo, ia ser difícil.

Meu irmão ria, dizendo os dois são mais feios que a mãe da miséria, mas quando estão juntos, vocês se olham, ficam bonitos.   Nunca alguém diria que são gays.

Um dia recebemos o convite do casamente da Bella, se casava com uma fiscal de NYC, rimos muito, fomos os dois, lhe disse ao ouvido, nunca me enganaste.

Fomos visitar a família do Raul, que sempre fazia uma festa imensa quando nos via.

Sua mãe que dizia que estava velha, nos perguntou na mesa na frente de toda a família, quando vocês dois vão se casar, quero morrer tranquila, que meu Raul, esteja com alguém que o cuide.

Seus irmão nunca tinha desconfiado que vivíamos juntos a tantos anos.

Eram metidos a machões.

Ele ria muito essa noite, estamos fudidos me soltou, terás que se casar comigo na marra, pois ela não vai desistir.

Um dia apareceu com duas alianças, que tinha visto, muito masculinas, me pediu em casamento, estávamos só os dois em casa.   Eu ri muito, viva tua mãe, estou esperando a muito tempo esse pedido, embora para mim não seja importante.

Teria que ser em NYC, lá fomos os quatro, imaginem a festa que faziam com o Brian, um ator famoso na festa deles.

Foi uma festa familiar, como dizia sua mãe, muito simples, mas quando nos tocamos, tinham pelo menos umas cem pessoas na festa, num salão que ela tinha arrumado, tudo com comida mexicana, com direito a mariachis, família imensa, Brian se divertiu horrores, aquele homem imenso, loiro, ninguém acreditava que era meu irmão, muitos pensavam que eu era mexicano, principalmente agora que por causa do sol da praia, estava muito queimado.

Um dos sobrinhos do Raul, destoava dos outros.  Era filho do primeiro casamento de um de seus irmãos, até a pouco tempo tinha vivido com sua mãe.  Era moreno com olhos verdes.

Estava embaixo das asas da mãe do Raul.

No final da festa quando os dois estávamos sentados com ela, o chamou Antonio, venha aqui meu filho.  Na frente dos dois lhe perguntou se gostaria de ser nosso filho.  Levamos um susto danado.   Ela como sempre foi clara, não tenho muito tempo de vida. Esse menino precisa de dois homens como pais, ele é gay, teu irmão o aceitou porque a mãe do Antonio morreu, ele sempre viveu com ela, não encaixa aqui.

Olhei para o garoto, que nos olhava com adoração.  Eu disse que com uma condição, iria conversar com o Raul, mas se fosse assim o queria de papel passado, nada de filho emprestado.

Ela me dava mil beijos na cara.  Quando te vi a primeira vez com o Raul, vocês nem estavam juntos, pensei, esse é o homem perfeito para meu filho, eu sempre soube que ele era gay.

Se escondia no meio dessa família de brutos, os dois podem ser feios como dizem os outros, mas são belos por dentro.

Nessa noite levamos horas conversando.  Raul tinha medo, conhecia bem seu irmão, era um sujeito complicado.   Meu argumento era, se dizemos sim, falamos com tua mãe, deixe tudo nas mãos dela.   O pai nem se aproxima dele, os irmãos tampouco.

Ainda ficamos mais dias ali na casa dela, um dia ela disse que estava tudo resolvido, que tinha conversado com o filho, bem com a nora, que dava graças a deus em se livrar do garoto.

Nos deram de papel passado o Antonio.

O levamos conosco, ele tinha nessa época 13 anos, era alto, mas desengonçado, tinha saído a nós dois, pois não era um garoto bonito.

Quando chegamos a Venice Beach, ele adorou, logo tinha amigos na praia, fazia exercícios nas barras com os conhecidos, era muito agarrado aos dois.  Talvez porque não queria perder nenhum minuto da vida do nosso filho, Raul se aposentou.

Agora tinha uma horta no fundo da casa, ia fazer surf com o Antonio, sua mãe, tinha razão ele mudou, era um paizão.   Era tudo que o Antonio precisavam um pai, no caso dois.

Talvez por sermos como erámos, nada afetados, ele também deixou de ser.  Anos depois participou de um filme do Brian, fazia um papel bom, de um rapaz mexicano, que quer escapar das drogas, o roteiro era meu.

Daí não parou mais, mas a única coisa que pedi, foi que fizesse universidade, ele obedeceu, lhe disse que escolhesse o que queria, foi fazer uma de cinema, logo estava trabalhando como um louco num projeto.

Escrevi seu primeiro roteiro, os dois ajudamos em tudo, Raul fazia um pequeno papel, ficava bem no cinema.   Ele ria dizendo, eu agora velho, gostoso, os homens ficaram como loucos atrás de mim, eu de gozação o ameaçava de cortar seu piru.

Estamos até hoje levando a vida.  Antes da mãe dele morrer, fomos várias vezes vê-la, ela dizia que sabia que não tinha errado.

Seu enterro foi impressionante, muita gente, que os filhos nem sabiam que existia, uma das noras disse, que toda essa gente sempre vinha pedir auxílio para ela, orientação, era como uma dessas velhas da vilas do México, que cuidam da comunidade.

Fui com Raul, mas dois irmãos deles, além do Antonio, levar suas cinzas para a vila de aonde tinha saído, ela dizia que não queria que enterrassem suas cinzas em NYC, pois odiava os invernos.   Foi uma coisa muito emotiva, tinha saído jovem de lá, agora voltava.

Acabamos ficando quase dois meses, pois Antonio estava de férias, os dois, começamos a alinhavar uma história dela, para o cinema.

Contamos sua infância, a partir da memória do pessoal da vila, até ela partir para Estados Unidos com o namorado.  Até eu fiz uma participação, fazendo papel de um bandido da fronteira. Brian foi um dos produtores, Antonio ganhou uma série de prêmios, principalmente como diretor jovem.

James sentia ciúmes do relacionamento que Brian tinha com o Antônio, pois ele tinha filhos do seu casamento, mas Brian nunca tinha tido filhos, se identificava com o Antonio, porque o fazia me lembrar quando jovem.

Um dia brigaram, Brian apareceu em casa, chateado, foi ficando.  Embora a casa fosse sua, James levou um tempo para ir embora, soubemos depois com um jovem que podia ser seu filho.

Brian nunca mais foi embora, ficou vivendo em casa, trabalhando com o Antonio, agora era seu protegido, quando lhe perguntavam se tinha alguma coisa entre eles, ficava horrorizado, pode ser meu neto, nem pensar.   Os dois amavam a mesma coisa, o cinema, isso os unia.

Agora estão preparando um filme, Brian tinha uma coisa guardada que nunca soube existia, um diário da Lotte, que falava dela, de nossa mãe, quando me entregou, ele pediu se eu podia escrever um roteiro.

Com o diário entendi muitas coisas, mas escrevi a história.  Ia desde quando se conheceram na cidade pequena que viviam, até se reencontrarem outra vez, em NYC.

Brian caçoava de mim, dizia que eu tinha nascido errado, que tinha alma de mulher para poder entende-las dessa maneira.

Agora estamos esperando a estreia, deu muito trabalho a montagem, pois tinham os dois filmado demais.

Seguimos em frente, sempre.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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