GOOGLY EYES
Jerry devia ter
uns seis ou sete anos quando um dia depois de um pesadelo acordou com os olhos
esbugalhados, sua mãe assustada o levou a muitos médicos, nada, dizia que eram
normais, que ele via bem, que não necessitava de óculos.
A levou a uma
negra benzedeira que vivia nas margens do rio, aonde viviam todos os negros,
ela olhou para ele, perguntou o que ele estava vendo em volta dela, ele foi
dizendo. Ela soltou uma gargalhada
tremenda, dizendo esse menino vê o que ninguém vê.
Esse é seu
futuro, ver as misérias do mundo, achar normal, porque estão na frente dele.
Essa foi uma
verdade, que depois ele consideraria como uma maldição, ver tudo que os outros
não viam, antecipar o futuro de alguns, ver a miséria de outros. As vezes o que via era tão forte que
fechava os olhos.
Sua mãe ao
contrário pensava que essa maldição era o olho gordo de alguém, porque era
rica, vinha de uma boa família, que não passava de inveja pura.
Ele passou a ir
escondido na casa de negra velha, contar para ela o que ele via.
É meu filho lhe
dizia ela, não queria estar na tua pele, eu vejo as coisas me calo, porque sou
negra pobre, analfabeta. Mas a você foi
dado o direito de falar de tudo.
Podes olhar um
político, ver que está mentindo, poder denunciar o que vê.
Na escola ele
podia prever as coisas, quando olhava um grupinho, já sabia que vinham por ele,
tinha o dom de poder se esconder, antes que lhe fizesse mal algum.
Nas aulas,
antecipava que o professor estava falando, encontrando a solução antes, por
isso tinha boas notas. Durante anos sua
mãe preocupada que lhe fizessem bullying ia de carro busca-lo na escola, isso
fazia com que todos o chamasse de filhinho da mamãe.
Foi duro
convence-la a não fazer mais isso.
Quando foi para a
universidade, ela cismou de ir para a mesma cidade, tinha que proteger seu
filho. Seu pai graças a Deus não
permitiu. Disse que nem pensar, que ele
era um homem adulto, que o devia deixar ir sozinho pelo mundo.
Mas ela o chamava
dia sim, dia não. Ele foi estudar
jornalismo, não sabia se era uma escolha errada ou não, mas aguentou firme, era
o que mais discutia com os professores a respeito de ética, outras problemas
claves do jornalismo.
Mesmo assim,
nunca quis participar do jornal da universidade. Os colegas insistiam, mas ele dizia que
quando tivesse alguma coisa, escreveria a respeito.
Um dia viu uma
reunião de professores, discutiam com o reitor, o abuso de uma aluna, queriam
tapar o sol com a peneira, falava do professor, que não estava presente.
Foi ao seu
gabinete, por um acaso era um professor que ele respeitava. Falava muito bem, tinha argumentos.
Sentou-se diante
dele com uma desculpa qualquer, começaram a conversar, ele olhou para dentro do
homem, viu que não tinha nada a esconder, era sim gay, portanto era o que ele
escondia.
O homem levou um
susto, porque não usa isso em sua defesa, que eres gay. Este ficou de boca aberta, o senhor é um
livro aberto, vai deixar que essa aluna, o coloque a margem da vida.
O homem tinha uma
estampa, as garotas se apaixonavam por ele, por ser educado, respeitoso.
Algumas se
insinuavam para ele, mas ele se mantinha a margem.
Depois foi falar,
ou melhor observar a que lhe denunciava.
Esta estava feliz da vida com a sua vingança, tinha se insinuado para
ele, chegou mesmo a invadir o quarto do professor. Mas com quem tinha feito sexo, era como
capitão da equipe de futebol.
Chegou para ela,
soltou, se vais levar isso em frente, lembre-se estas gravida, do capitão da
equipe de futebol, quando fizerem a prova de ADN, saberão que o professor não é
o pai.
O homem que te
fudeu, tampouco vai querer casar contigo, porque tem noiva, nunca vai acreditar
que é o pai, mesmo com prova de ADN, serás a puta de todos da universidade.
Pediu para se
possível reunirem todos na sala outra vez, convidou o professor, este pediu que
não falasse de seu problema. O encarou,
professor, não é nenhum crime ser gay, falou de todos os professores do grupo
reunido que eram, alguns era casados, se dizem alguma coisa eu abro a boca.
A garota quando o
viu na reunião, se levantou assustada, pediu desculpas, mas tinha inventado a
história do professor, porque ele não lhe dava a atenção que ela queria, como
todas se apaixonavam por ele, por ser educado, respeitar os limites. Eu perdi minha virgindade atrás do campo de
futebol, com esse aí, sinalou o capitão da equipe. Me disse que ficasse quieta, que acusasse
alguém, pois sua família tem um compromisso com outra família muito rica, que
me mataria se contasse.
Foi uma confusão
de fazer dó. Nessa noite ele escreveu
pela primeira vez para o jornal, que tinham acusado o professor injustamente,
que antes de publicarem qualquer merda, primeiro deviam saber qual era a
verdade, consultar todas as fontes, aprender a olhar nos olhos das pessoas, se
não sabiam fazer isso, seriam uma merda como profissionais. Exigiu uma desculpa do jornal, porque senão
contaria os podres de todo mundo que estava nele. Inclusive quem consumia drogas, com quem
tinham feito sexo.
Dois dias depois
a garota que tinha escrito o artigo, pediu desculpas publicamente ao professor,
era uma das que ele tinha rejeitado.
Depois veio tirar
satisfação com ele.
Ele riu na cara
dela, que ela jamais passaria de uma dessas jornalistas que escrevem coluna de
horóscopo da cidade de aonde tinha saído, que sempre seria um fraude.
Ela tentou
difama-lo dizendo que fazia sexo com o professor.
Ele respondeu
durante uma aula como mesmo na frente. Se levantou, apontou para ela, senhor,
me desculpe o que vou fazer, essa senhorita me acusa de defende-lo, porque faço
sexo com o senhor. Se fosse verdade, eu
jamais teria vergonha de falar a respeito.
Mas ao contrário, se estamos aqui discutindo ética, ela não tem
nenhuma. Tudo que escreve, copia de
outros jornalistas já consagrados, mudando os termos as palavras, na verdade
nem sabe o que está escrevendo. Além
claro de não poder confessar que é lesbiana.
Finge estar interessada no senhor, mas faz sexo apontou para uma outra
colega, com esta senhorita, que alias se fosse ela eu escolheria melhor.
O escândalo foi
tremendo. Até o professor colocar ordem
na turma foi incrível. As outras garotas
da classe, todas a acusaram de tentar se aproximar delas, nos momentos que estavam
na redação do jornal da universidade. De
fomentar suspeitas sobre alguns colegas.
Ela se levantou
saiu enxovalhada da classe.
Jurou vingança,
mas quando chegou tudo aos ouvidos da sua família, porque na turma tinha um
estudante de sua cidade, os pais vieram busca-la, porque na cidade todos
falavam dela.
Ele ao contrário,
passou a ser o querido de todos, vinham conversar com ele, pois ele era o único
ali que nunca tinha participado de nenhuma rodinha, nem comentários sobre os
outros.
O professor lhe
disse não sei como fazes, mas tens futuro.
Escreveu uma carta a um editor de um jornal de NYC. Mas acabou a universidade, foi para lá,
falou com o pai em particular, pois estava farto das ingerências de sua
mãe.
O pai lhe liberou
o fideicomisso que tinha para ele de seu avô.
Não era muito, mas podia alugar um apartamento pequeno na cidade.
Se apresentou ao
editor, com a carta do professor.
Esse o mandou,
como prova, ler dois artigos, que escrevesse o que via nos mesmo.
Leu
profundamente, em sua volta estava toda a confusão de um departamento de
jornalismo, telefone tocando sem parar, gente falando alto, gritos de alguém
chamando outra pessoa.
Ele deixou de
escutar tudo, se concentrou somente nas letras, elas pareciam dançar na frente
dele. Os dois jornalistas, tinham
escrito de uma maneira pessoal, um não tinha se aprofundado no assunto,
simplesmente escrito o que as pessoas em volta tinham falado, mas não levantou
nenhum fundamento, se tudo aquilo era verdade ou não.
O outro, tomou
partido, falava da mesma coisa, mas tampouco ia na direção correta. No fundo falavam de um assassinato, acusando
uma pessoa, mas ele tinha lido em outro jornal que tinham entrevistado o
inspetor de polícia, este tinha dúvidas a respeito.
Nada era o que
parecia. Entregou um escrito, baseado
somente em tudo que tinha lido a respeito.
Perguntou ao
editor, ao entregar se podia, tentar entrevistar o acusado, bem como ao inspetor.
O homem leu o que
tinha escrito sobre as duas reportagem, ficou olhando na cara dele.
Tudo muito sério
sem acusar ninguém verdade.
Mandou uma
secretária lhe preparar um crachá, que ele fosse a delegacia, falasse com o
inspetor.
Este se sentou
com ele, ele mencionou as dúvidas que tinha o mesmo. De tudo que eu li, tenho a sensação, que esse
homem esconde alguma coisa, ou está assumindo a culpa por alguém, ou está sendo
chantageado.
O inspetor disse
que não o podia colocar diante do prisioneiro, mas podia deixar que ele visse
um interrogatório, por detrás do espelho.
Se tiveres alguma sugestão, lhe disse que falasse por um microfone que
estava ali, ele escutaria na sua orelha.
Quando o
prisioneiro sentou-se olhou em direção ao espelho, ele entrou por seus olhos, olhou
tudo que tinha em frente. Disse ao
inspetor, se dirija a ele com esse nome, disse o nome, o homem abriu uma boca
imensa. Foi dizendo ao inspetor tudo
que via. Esse homem tinha mudado de
nome, para escapar de uma chantagem, mas alguém tinha descoberto isso, por isso
tinham matado a pessoa que ele gostava, mas o acusava de a ter matado, por usar
um nome falso.
O homem se
desmoronou, contou tudo ao inspetor.
Depois chorava, não se pode esconder-se no meio da multidão, ser mais
uma agulha no mundo, nos descobrem sempre.
Confessou que
tinha escapado da cidade aonde vivia antes, para não depor contra um homem
importante. Que resultou ser solto por falta de provas.
O advogado de
acusação o descobriu, estava o chantageando, quando a mulher que morreu,
enfrentou o advogado, esse sem querer a matou.
Ela morreu por minha covardia, é natural que eu assuma a culpa.
O inspetor, ficou
depois olhando para ele, estás na profissão errada, eres bom no que fazes,
devias ir para o FBI ou CIA.
Nem pensar nisso,
me usariam, nada disso. Mas tenha
certeza de que quando o senhor tenha alguma dúvida, podemos falar.
O ajudou uma
série de vezes. No jornal, ele escreveu
a versão final da história, o que levantou uma série de problemas com os
colegas. Mas tinha aprendido desde
criança a ignorar tudo.
Quando o mandaram
assistir um debate na ONU, em que falaria um ditador de um dos muitos países da
África, escutou toda a verborreia do que o homem dizia, como guiado por um imã
o homem olhou na direção, dele, se sentiu incomodo. Cortou o que estava dizendo.
Ninguém entendeu
nada.
No dia seguinte
publicou uma matéria, sobre tudo que ele não tinha falado.
Dois dias depois
quando saia do jornal, ele tinha por hábito, talvez como auto defesa, fazer uma
coisa que a negra velha o tinha ensinado, encostado na parede de saída, olhou
para todos os lados, viu dois homens altos fortes, negros armados, esperando
que ele desse mais um passo na calçada, nesse momento se abriu a porta ele
voltou a entrar. Chamou o chefe de
segurança, mostrou os homens, avise a polícia.
Eram dois tipos da embaixada do pais em questão, não tinham autorização
para usar armas no pais. Bem como foram
liberados e embarcados imediatamente no primeiro avião.
Ele escreveu uma
matéria, de um detalhe que tinha visto nos olhos do homem, tinha feito um
contato através de um senador, para que um amigo deste explorasse um tipo de
mineiro do seu pais, tudo devia ir para uma conta na suíça.
Foi um escândalo
em letra maiúscula.
O senador, foi
até a edição do jornal, exigindo que ele se retratasse, se sentou comodamente
na frente do mesmo, começou a lhe perguntar, como o senhor vai explicar esse
dinheiro, disse o valor nas ilhas Caimãs, falou o nome do amigo que ele ia
apresentar ao ditador, quem estava no meio da negociação, citando nomes, tudo o
mais, o senador, não sabia que estava sendo filmado. Ficou uma fera, como ele se atrevia a falar
dessas coisas secretas, podiam prejudicar o pais.
A contra
resposta, foi, ou prejudicar suas negociações em venda de armas para o mesmo
ditador. Pois esse é o trato, o senhor
apresenta seu amigo, ele compra armas da empresa que paga pela sua campanha
para reeleição.
Ele queria saber
quem era sua fonte. Ele quase disse, os
seus olhos. Mas respondeu firmemente, as
minhas fontes são secretas, viu que ele tinha uma amante, soltou muito próxima
ao senhor, não devia falar de negócios na frente das putas que Madame fulano,
arruma para o senhor.
O homem espumava,
foi quando viu a câmera filmando tudo. Avançou para cima dele.
Filho da puta,
vou acabar contigo, o mandarei matar.
Depois disso
sofreu dois atendados, mas claro com era previdente, nada o atingia. A um ponto que o FBI passou a segui-lo.
Conversava com o
inspetor um dia num café, quando uma carro bomba explodiu justo ao lado, mas
ele com seu reflexo, puxou o outro para o chão antes.
Como sabia que ia
explodir, teve que confessar que seus olhos o ajudavam, pois conseguia ver
movimento melhor que muitas pessoas.
Jefferson ou
Jeff, o inspector agradeceu muito o ter salvado, semanas depois teve outro
atentado, saia do jornal, nesse dia estava distraído, tinha tido uma proposta
do diretor, ao mesmo tempo uma notícia sobre sua mãe. Teria que ir até para visitar seus pais.
Ia se encontrar
com um informante da polícia, para saber sobre um assunto envolvendo a
prefeitura da cidade.
Algo o fez parar
um segundo, quando viu o que ia acontecer, se jogou por detrás de uma coluna,
só teve o tempo de recolher as pernas, a explosão, arrebentou todos os vidros
do hall do jornal. Mesmo assim se
levantou, foi ao encontro do informante.
Ao falar com ele, viu que escondia coisas pois estava com medo.
Foi dirigindo as
perguntas sutilmente, de tal maneira que o outro acabou contando tudo.
Era como se agora
fosse persona no grata na cidade, as pessoas tinham medo de lhe dar
entrevista. Visitou a mãe, que já
estava melhor depois de uma operação, ele tinha saído no jornal por causas do
atentado. Depois foi visitar a velha, pela
primeira vez notou que ela era cega.
Quando lhe comentou, a resposta o deixou com a boca aberta.
Era cega de
nascença explicou, mas conseguia ver através de sua sensibilidade, bem como dos
sentimentos, cheiro, tudo que exalava a pessoa que vinha falar com ela.
Lhe disse que
devia aceitar a proposta do diretor, mas faça o seguinte.
Mandou que ele
visualizasse um mapa de aonde ia, lhe disse todo o roteiro que devia fazer.
Quando propôs ao
diretor, mencionando sobre o que poderia escrever, ele adorou a ideia, deu
carta branca para ele, mas que tomasse cuidado.
Saiu de NYC, via
Paris, aonde assistiu uma reunião dos países membros da Comunidade Europeia,
viu que muita coisa não era o que parecia.
Sempre havia interesses por detrás, de quem mantinha mais poder, as
influências. Escreveu um artigo, mandou
para NYC.
De lá foi para o
Cairo, acompanhou as protestas dos mais jovens, escutou todo mundo, como era
moreno, passava bem no meio do pessoal.
Havia muita manipulação,
uma coisa que ele não entendia, como os mais jovens se deixavam enganar, por
uns poucos. Tinha noção exata que era o que acontecia sempre em âmbito
político, os jovens como que tinham necessidade de acreditar em um líder que os
levasse por diante. Mas sempre havia
algo por detrás. Conseguiu entrevistar
alguns desses líderes, sua decepção foi imensa, no fundo estavam vendidos a
alguma ideia, ou algum partido que precisava que alguém manobrasse por eles.
Foi descendo o
Nilo, entrevistando gente do povo, sentido nele ao visitar templos, lugares
considerados sagrados, a presença de espíritos, que lhe contavam coisas.
Escreveu um
artigo sobre essa sensação. Numa das
cidades, ouviu falar de uma caravana que partia para um oásis, para buscar as
melhores datiles do mundo. Conseguiu se
incorporar a caravana, alugando um camelo, se vestindo como os demais. Quando chegaram ao Oasis, era como estar num
mundo a parte, ou dependendo de algum ponto de vista, fora do mundo, ali a vida
se regia, fora do relógio, sim pelo sol, quando o dia amanhecia, meio-dia, pôr
do sol.
Conversou com os
velhos, com os mais jovens pelos seus anseios, a maioria não pensava em deixar
a vida que tinha, as crianças, que de uma certa maneira eram ingênuas, como ele
pensava, eram crianças. Um dos velhos,
disse que poucos jovens voltavam ao mundo real, com as caravanas, alguns
retornavam porque não se encontravam nesse mundo novo.
Voltou o tempo
todo meditando sobre isso. Tinha duvidas
de escrever um artigo, que os putos turistas viesse até ali, para o corromper.
Deixou o texto
apartado, para quem sabe um dia escrever sobre isso.
Seguiu subindo o Nilo,
até chegar a fronteira com o Sudan, conseguiu entrada alegando que ia escrever
um artigo sobre as pirâmides do pais. Mas ao mesmo tempo aproveitava como se vestia
igual, ia junto com ele um guia que tinha separado de uns quantos que se
apresentaram, quando falou com o homem, conseguiu ver sua alma ferida. Esse conseguia entrevista com os que
governavam o pais, ao mesmo tempo que mostrava sua realidade, a eterna briga
entre as duas partes do pais. As
manobras, os enganos, para dizerem que sempre estavam certos, via claramente,
os que acompanhavam o mesmos, queria logo depor para alçar-se com o poder.
Essa era a ideia
sempre “o poder”. De lá atravessaram
para Etiópia, até a nascente do Nilo, a região norte, do pais que se ia
modernizando, graças ao apoio dos Chineses.
Voltou ao Egito,
descendo de barco pelo mar roxo, até chegar à altura do Golfo de Agaba, cheia
de turistas alemães, o que ele achava interessante, de certa maneira, queriam o
sol, pois era inverno na Europa, mas não se interessavam pela cultura, tampouco
pela língua, ou história do pais. Viu
que ali, não podia ter o descanso que queria.
Aproveitou só
para mandar desde ali, os textos que tinha escrito ao longo do caminho.
Entrou no deserto
com seu fiel escudeiro, até o Mosteiro de Santa Catarina, foi bem recebido,
ficou dias ali desfrutando da paz.
Teve tempo para meditar sobre sua vida, suas obrigações, conversou muito
com o prior, um homem já de muita idade. Olhar para ele, era com ver um oásis
dentro de um turbilhão que era o mundo.
Foi ele quem lhe
procurou, sentou-se diante dele, falou das visões que ele tinha, que te salvaram
até agora, falou inclusive da negra que o tinha orientado pelo mundo.
Os teus poderes
ainda não estão totalmente desenvolvido, lhe propôs um lugar para meditar, uma
cela, de um ermitão, nos altos do monte de Santa Catarina. Levou só agua, datiles, viveu ali quase um
mês, quando desceu, sua cara estava diferente.
Depois foi
descendo por Israel, ao mesmo tempo pela Cisjordânia, ia fazendo um zig-zag,
ora numa parte, ora em outra, ia analisando cada lugar, como viviam, as ideias,
esperanças.
Foi até Jerusalém,
aonde entrevistou, políticos, lideres ultra ortodoxos, com seus disparates
todos, alguns estava louco como ele pensava.
Se despediu de
sua ajudante, este embarcou para o Cairo, ele para NYC.
Voltar a cidade,
ao princípio lhe causou um pouco de confusão, mas esteve fechado em seu
apartamento escrevendo, tudo que tinha visto como pensava.
Queria escrever
um livro, mas a cidade lhe incomodava.
O jeito foi ir para fora, se encontrou antes com o Inspetor Jeff, que
disse que queria ler o livro dele contando suas aventuras, lhe emprestou uma
cabana que tinha perto de uma praia.
Lá encontrou a tranquilidade necessária para escrever, o Jeff vinha
passar os finais de semana, lia o que ele já tinha escrito. Conversavam, era talvez a pessoa com quem ele
podia se expor sem problemas.
Um dia lhe contou
tudo, porque Jeff fez uma pergunta, que ele só podia responder contando
tudo. Era porque ele nunca tinha
ninguém, tampouco falava de sexo.
Imagine estar
fazendo sexo, ou mesmo antes, saber como é a pessoa, nunca daria certo, sei que
tenho uma missão, inclusive me manter casto.
Depois de três
livros com sucesso um dia sonhou com a velha, ele tinha ido a pouco tempo ao
oculista, pois via crescer em cima de seus olhos, um película branca. O médico disse que não tinha solução, apesar
dos avanços da medicina, no final ele ficaria cego.
Entendeu que
tinha chegado ao momento, só avisou ao seu amigo Jeff, que tinha chegado o
momento de voltar a sua cidade.
Para seus pais,
que já estavam com muita idade, foi um escândalo, que ele fosse morar no
barraco da velha, que gradativamente fosse assumindo as funções dela. Sua mãe, dizia que a maldição tinha sido
colocada pela velha.
Ele nunca
respondia a isso, tinha tido uma vida como ele tinha imaginado, conhecido o
bicho homem para saber como se comportava.
Quando a velha
morreu, ninguém sabia na verdade seu nome, para colocar na lápida, mas foi um
enterro monstruoso, a quantidade de gente que ela tinha ajudado, a encontrar
seu caminho, a curar.
Nos últimos meses
ela o tinha ensinado a curar, quais ervas a usar do seu pequeno horto, se
orientar entre elas pelo cheiro de cada uma.
Quando seus pais
morreram, era um enterro normal, nada a ver com o da velha.
Jeff vinha sempre
visita-lo, quando se aposentou, construiu junto ao seu barraco, uma cabana, era
o único amigo que tinha. Podiam passar
horas falando, um dia apareceu uma senhora, que vinha de muito longe, trazendo
uma garota com o mesmo problema. Lhe
disse que seu marido, não aceitava a filha.
A deixou ali com ele, ajudado pelo Jeff, a foram educando. Chegou a ser uma grande médica, até o dia que
veio substitui-lo.