lunes, 28 de noviembre de 2022

GOOGLY EYES

 

                                 GOOGLY  EYES

 

Jerry devia ter uns seis ou sete anos quando um dia depois de um pesadelo acordou com os olhos esbugalhados, sua mãe assustada o levou a muitos médicos, nada, dizia que eram normais, que ele via bem, que não necessitava de óculos.

A levou a uma negra benzedeira que vivia nas margens do rio, aonde viviam todos os negros, ela olhou para ele, perguntou o que ele estava vendo em volta dela, ele foi dizendo.  Ela soltou uma gargalhada tremenda, dizendo esse menino vê o que ninguém vê.

Esse é seu futuro, ver as misérias do mundo, achar normal, porque estão na frente dele.

Essa foi uma verdade, que depois ele consideraria como uma maldição, ver tudo que os outros não viam, antecipar o futuro de alguns, ver a miséria de outros.    As vezes o que via era tão forte que fechava os olhos.

Sua mãe ao contrário pensava que essa maldição era o olho gordo de alguém, porque era rica, vinha de uma boa família, que não passava de inveja pura.

Ele passou a ir escondido na casa de negra velha, contar para ela o que ele via.

É meu filho lhe dizia ela, não queria estar na tua pele, eu vejo as coisas me calo, porque sou negra pobre, analfabeta.   Mas a você foi dado o direito de falar de tudo.

Podes olhar um político, ver que está mentindo, poder denunciar o que vê.

Na escola ele podia prever as coisas, quando olhava um grupinho, já sabia que vinham por ele, tinha o dom de poder se esconder, antes que lhe fizesse mal algum.

Nas aulas, antecipava que o professor estava falando, encontrando a solução antes, por isso tinha boas notas.  Durante anos sua mãe preocupada que lhe fizessem bullying ia de carro busca-lo na escola, isso fazia com que todos o chamasse de filhinho da mamãe.

Foi duro convence-la a não fazer mais isso.

Quando foi para a universidade, ela cismou de ir para a mesma cidade, tinha que proteger seu filho.  Seu pai graças a Deus não permitiu.  Disse que nem pensar, que ele era um homem adulto, que o devia deixar ir sozinho pelo mundo.

Mas ela o chamava dia sim, dia não.   Ele foi estudar jornalismo, não sabia se era uma escolha errada ou não, mas aguentou firme, era o que mais discutia com os professores a respeito de ética, outras problemas claves do jornalismo.

Mesmo assim, nunca quis participar do jornal da universidade.  Os colegas insistiam, mas ele dizia que quando tivesse alguma coisa, escreveria a respeito.

Um dia viu uma reunião de professores, discutiam com o reitor, o abuso de uma aluna, queriam tapar o sol com a peneira, falava do professor, que não estava presente.

Foi ao seu gabinete, por um acaso era um professor que ele respeitava.  Falava muito bem, tinha argumentos.

Sentou-se diante dele com uma desculpa qualquer, começaram a conversar, ele olhou para dentro do homem, viu que não tinha nada a esconder, era sim gay, portanto era o que ele escondia.

O homem levou um susto, porque não usa isso em sua defesa, que eres gay.   Este ficou de boca aberta, o senhor é um livro aberto, vai deixar que essa aluna, o coloque a margem da vida.

O homem tinha uma estampa, as garotas se apaixonavam por ele, por ser educado, respeitoso.

Algumas se insinuavam para ele, mas ele se mantinha a margem.

Depois foi falar, ou melhor observar a que lhe denunciava.  Esta estava feliz da vida com a sua vingança, tinha se insinuado para ele, chegou mesmo a invadir o quarto do professor.  Mas com quem tinha feito sexo, era como capitão da equipe de futebol.

Chegou para ela, soltou, se vais levar isso em frente, lembre-se estas gravida, do capitão da equipe de futebol, quando fizerem a prova de ADN, saberão que o professor não é o pai.

O homem que te fudeu, tampouco vai querer casar contigo, porque tem noiva, nunca vai acreditar que é o pai, mesmo com prova de ADN, serás a puta de todos da universidade.

Pediu para se possível reunirem todos na sala outra vez, convidou o professor, este pediu que não falasse de seu problema.  O encarou, professor, não é nenhum crime ser gay, falou de todos os professores do grupo reunido que eram, alguns era casados, se dizem alguma coisa eu abro a boca.

A garota quando o viu na reunião, se levantou assustada, pediu desculpas, mas tinha inventado a história do professor, porque ele não lhe dava a atenção que ela queria, como todas se apaixonavam por ele, por ser educado, respeitar os limites.  Eu perdi minha virgindade atrás do campo de futebol, com esse aí, sinalou o capitão da equipe.   Me disse que ficasse quieta, que acusasse alguém, pois sua família tem um compromisso com outra família muito rica, que me mataria se contasse.

Foi uma confusão de fazer dó.  Nessa noite ele escreveu pela primeira vez para o jornal, que tinham acusado o professor injustamente, que antes de publicarem qualquer merda, primeiro deviam saber qual era a verdade, consultar todas as fontes, aprender a olhar nos olhos das pessoas, se não sabiam fazer isso, seriam uma merda como profissionais.   Exigiu uma desculpa do jornal, porque senão contaria os podres de todo mundo que estava nele.  Inclusive quem consumia drogas, com quem tinham feito sexo.

Dois dias depois a garota que tinha escrito o artigo, pediu desculpas publicamente ao professor, era uma das que ele tinha rejeitado.

Depois veio tirar satisfação com ele. 

Ele riu na cara dela, que ela jamais passaria de uma dessas jornalistas que escrevem coluna de horóscopo da cidade de aonde tinha saído, que sempre seria um fraude.

Ela tentou difama-lo dizendo que fazia sexo com o professor.

Ele respondeu durante uma aula como mesmo na frente. Se levantou, apontou para ela, senhor, me desculpe o que vou fazer, essa senhorita me acusa de defende-lo, porque faço sexo com o senhor.   Se fosse verdade, eu jamais teria vergonha de falar a respeito.  Mas ao contrário, se estamos aqui discutindo ética, ela não tem nenhuma.  Tudo que escreve, copia de outros jornalistas já consagrados, mudando os termos as palavras, na verdade nem sabe o que está escrevendo.   Além claro de não poder confessar que é lesbiana.  Finge estar interessada no senhor, mas faz sexo apontou para uma outra colega, com esta senhorita, que alias se fosse ela eu escolheria melhor. 

O escândalo foi tremendo.  Até o professor colocar ordem na turma foi incrível.  As outras garotas da classe, todas a acusaram de tentar se aproximar delas, nos momentos que estavam na redação do jornal da universidade.  De fomentar suspeitas sobre alguns colegas.

Ela se levantou saiu enxovalhada da classe.

Jurou vingança, mas quando chegou tudo aos ouvidos da sua família, porque na turma tinha um estudante de sua cidade, os pais vieram busca-la, porque na cidade todos falavam dela.

Ele ao contrário, passou a ser o querido de todos, vinham conversar com ele, pois ele era o único ali que nunca tinha participado de nenhuma rodinha, nem comentários sobre os outros.

O professor lhe disse não sei como fazes, mas tens futuro.  Escreveu uma carta a um editor de um jornal de NYC.   Mas acabou a universidade, foi para lá, falou com o pai em particular, pois estava farto das ingerências de sua mãe. 

O pai lhe liberou o fideicomisso que tinha para ele de seu avô.  Não era muito, mas podia alugar um apartamento pequeno na cidade.

Se apresentou ao editor, com a carta do professor.

Esse o mandou, como prova, ler dois artigos, que escrevesse o que via nos mesmo.

Leu profundamente, em sua volta estava toda a confusão de um departamento de jornalismo, telefone tocando sem parar, gente falando alto, gritos de alguém chamando outra pessoa.

Ele deixou de escutar tudo, se concentrou somente nas letras, elas pareciam dançar na frente dele.   Os dois jornalistas, tinham escrito de uma maneira pessoal, um não tinha se aprofundado no assunto, simplesmente escrito o que as pessoas em volta tinham falado, mas não levantou nenhum fundamento, se tudo aquilo era verdade ou não.

O outro, tomou partido, falava da mesma coisa, mas tampouco ia na direção correta.  No fundo falavam de um assassinato, acusando uma pessoa, mas ele tinha lido em outro jornal que tinham entrevistado o inspetor de polícia, este tinha dúvidas a respeito.

Nada era o que parecia.   Entregou um escrito, baseado somente em tudo que tinha lido a respeito.

Perguntou ao editor, ao entregar se podia, tentar entrevistar o acusado, bem como ao inspetor.

O homem leu o que tinha escrito sobre as duas reportagem, ficou olhando na cara dele.

Tudo muito sério sem acusar ninguém verdade.

Mandou uma secretária lhe preparar um crachá, que ele fosse a delegacia, falasse com o inspetor.

Este se sentou com ele, ele mencionou as dúvidas que tinha o mesmo.  De tudo que eu li, tenho a sensação, que esse homem esconde alguma coisa, ou está assumindo a culpa por alguém, ou está sendo chantageado.

O inspetor disse que não o podia colocar diante do prisioneiro, mas podia deixar que ele visse um interrogatório, por detrás do espelho.  Se tiveres alguma sugestão, lhe disse que falasse por um microfone que estava ali, ele escutaria na sua orelha.

Quando o prisioneiro sentou-se olhou em direção ao espelho, ele entrou por seus olhos, olhou tudo que tinha em frente.   Disse ao inspetor, se dirija a ele com esse nome, disse o nome, o homem abriu uma boca imensa.   Foi dizendo ao inspetor tudo que via.  Esse homem tinha mudado de nome, para escapar de uma chantagem, mas alguém tinha descoberto isso, por isso tinham matado a pessoa que ele gostava, mas o acusava de a ter matado, por usar um nome falso.

O homem se desmoronou, contou tudo ao inspetor.  Depois chorava, não se pode esconder-se no meio da multidão, ser mais uma agulha no mundo, nos descobrem sempre.

Confessou que tinha escapado da cidade aonde vivia antes, para não depor contra um homem importante. Que resultou ser solto por falta de provas.

O advogado de acusação o descobriu, estava o chantageando, quando a mulher que morreu, enfrentou o advogado, esse sem querer a matou.   Ela morreu por minha covardia, é natural que eu assuma a culpa.

O inspetor, ficou depois olhando para ele, estás na profissão errada, eres bom no que fazes, devias ir para o FBI ou CIA.

Nem pensar nisso, me usariam, nada disso.  Mas tenha certeza de que quando o senhor tenha alguma dúvida, podemos falar.

O ajudou uma série de vezes.  No jornal, ele escreveu a versão final da história, o que levantou uma série de problemas com os colegas.   Mas tinha aprendido desde criança a ignorar tudo.

Quando o mandaram assistir um debate na ONU, em que falaria um ditador de um dos muitos países da África, escutou toda a verborreia do que o homem dizia, como guiado por um imã o homem olhou na direção, dele, se sentiu incomodo.  Cortou o que estava dizendo.

Ninguém entendeu nada.  

No dia seguinte publicou uma matéria, sobre tudo que ele não tinha falado.

Dois dias depois quando saia do jornal, ele tinha por hábito, talvez como auto defesa, fazer uma coisa que a negra velha o tinha ensinado, encostado na parede de saída, olhou para todos os lados, viu dois homens altos fortes, negros armados, esperando que ele desse mais um passo na calçada, nesse momento se abriu a porta ele voltou a entrar.   Chamou o chefe de segurança, mostrou os homens, avise a polícia.  Eram dois tipos da embaixada do pais em questão, não tinham autorização para usar armas no pais.  Bem como foram liberados e embarcados imediatamente no primeiro avião.

Ele escreveu uma matéria, de um detalhe que tinha visto nos olhos do homem, tinha feito um contato através de um senador, para que um amigo deste explorasse um tipo de mineiro do seu pais, tudo devia ir para uma conta na suíça.

Foi um escândalo em letra maiúscula.

O senador, foi até a edição do jornal, exigindo que ele se retratasse, se sentou comodamente na frente do mesmo, começou a lhe perguntar, como o senhor vai explicar esse dinheiro, disse o valor nas ilhas Caimãs, falou o nome do amigo que ele ia apresentar ao ditador, quem estava no meio da negociação, citando nomes, tudo o mais, o senador, não sabia que estava sendo filmado.  Ficou uma fera, como ele se atrevia a falar dessas coisas secretas, podiam prejudicar o pais.

A contra resposta, foi, ou prejudicar suas negociações em venda de armas para o mesmo ditador.   Pois esse é o trato, o senhor apresenta seu amigo, ele compra armas da empresa que paga pela sua campanha para reeleição.

Ele queria saber quem era sua fonte.   Ele quase disse, os seus olhos.  Mas respondeu firmemente, as minhas fontes são secretas, viu que ele tinha uma amante, soltou muito próxima ao senhor, não devia falar de negócios na frente das putas que Madame fulano, arruma para o senhor.

O homem espumava, foi quando viu a câmera filmando tudo. Avançou para cima dele.

Filho da puta, vou acabar contigo, o mandarei matar.

Depois disso sofreu dois atendados, mas claro com era previdente, nada o atingia.  A um ponto que o FBI passou a segui-lo.

Conversava com o inspetor um dia num café, quando uma carro bomba explodiu justo ao lado, mas ele com seu reflexo, puxou o outro para o chão antes.

Como sabia que ia explodir, teve que confessar que seus olhos o ajudavam, pois conseguia ver movimento melhor que muitas pessoas.

Jefferson ou Jeff, o inspector agradeceu muito o ter salvado, semanas depois teve outro atentado, saia do jornal, nesse dia estava distraído, tinha tido uma proposta do diretor, ao mesmo tempo uma notícia sobre sua mãe.  Teria que ir até para visitar seus pais.

Ia se encontrar com um informante da polícia, para saber sobre um assunto envolvendo a prefeitura da cidade.

Algo o fez parar um segundo, quando viu o que ia acontecer, se jogou por detrás de uma coluna, só teve o tempo de recolher as pernas, a explosão, arrebentou todos os vidros do hall do jornal.   Mesmo assim se levantou, foi ao encontro do informante.  Ao falar com ele, viu que escondia coisas pois estava com medo.

Foi dirigindo as perguntas sutilmente, de tal maneira que o outro acabou contando tudo.

Era como se agora fosse persona no grata na cidade, as pessoas tinham medo de lhe dar entrevista.    Visitou a mãe, que já estava melhor depois de uma operação, ele tinha saído no jornal por causas do atentado.  Depois foi visitar a velha, pela primeira vez notou que ela era cega.  Quando lhe comentou, a resposta o deixou com a boca aberta.

Era cega de nascença explicou, mas conseguia ver através de sua sensibilidade, bem como dos sentimentos, cheiro, tudo que exalava a pessoa que vinha falar com ela.

Lhe disse que devia aceitar a proposta do diretor, mas faça o seguinte.

Mandou que ele visualizasse um mapa de aonde ia, lhe disse todo o roteiro que devia fazer.

Quando propôs ao diretor, mencionando sobre o que poderia escrever, ele adorou a ideia, deu carta branca para ele, mas que tomasse cuidado.

Saiu de NYC, via Paris, aonde assistiu uma reunião dos países membros da Comunidade Europeia, viu que muita coisa não era o que parecia.  Sempre havia interesses por detrás, de quem mantinha mais poder, as influências.  Escreveu um artigo, mandou para NYC.

De lá foi para o Cairo, acompanhou as protestas dos mais jovens, escutou todo mundo, como era moreno, passava bem no meio do pessoal.

Havia muita manipulação, uma coisa que ele não entendia, como os mais jovens se deixavam enganar, por uns poucos. Tinha noção exata que era o que acontecia sempre em âmbito político, os jovens como que tinham necessidade de acreditar em um líder que os levasse por diante.   Mas sempre havia algo por detrás.   Conseguiu entrevistar alguns desses líderes, sua decepção foi imensa, no fundo estavam vendidos a alguma ideia, ou algum partido que precisava que alguém manobrasse por eles.

Foi descendo o Nilo, entrevistando gente do povo, sentido nele ao visitar templos, lugares considerados sagrados, a presença de espíritos, que lhe contavam coisas.

Escreveu um artigo sobre essa sensação.   Numa das cidades, ouviu falar de uma caravana que partia para um oásis, para buscar as melhores datiles do mundo.  Conseguiu se incorporar a caravana, alugando um camelo, se vestindo como os demais.  Quando chegaram ao Oasis, era como estar num mundo a parte, ou dependendo de algum ponto de vista, fora do mundo, ali a vida se regia, fora do relógio, sim pelo sol, quando o dia amanhecia, meio-dia, pôr do sol.

Conversou com os velhos, com os mais jovens pelos seus anseios, a maioria não pensava em deixar a vida que tinha, as crianças, que de uma certa maneira eram ingênuas, como ele pensava, eram crianças.   Um dos velhos, disse que poucos jovens voltavam ao mundo real, com as caravanas, alguns retornavam porque não se encontravam nesse mundo novo.

Voltou o tempo todo meditando sobre isso.  Tinha duvidas de escrever um artigo, que os putos turistas viesse até ali, para o corromper.

Deixou o texto apartado, para quem sabe um dia escrever sobre isso.

Seguiu subindo o Nilo, até chegar a fronteira com o Sudan, conseguiu entrada alegando que ia escrever um artigo sobre as pirâmides do pais.   Mas ao mesmo tempo aproveitava como se vestia igual, ia junto com ele um guia que tinha separado de uns quantos que se apresentaram, quando falou com o homem, conseguiu ver sua alma ferida.    Esse conseguia entrevista com os que governavam o pais, ao mesmo tempo que mostrava sua realidade, a eterna briga entre as duas partes do pais.    As manobras, os enganos, para dizerem que sempre estavam certos, via claramente, os que acompanhavam o mesmos, queria logo depor para alçar-se com o poder.

Essa era a ideia sempre “o poder”.   De lá atravessaram para Etiópia, até a nascente do Nilo, a região norte, do pais que se ia modernizando, graças ao apoio dos Chineses.

Voltou ao Egito, descendo de barco pelo mar roxo, até chegar à altura do Golfo de Agaba, cheia de turistas alemães, o que ele achava interessante, de certa maneira, queriam o sol, pois era inverno na Europa, mas não se interessavam pela cultura, tampouco pela língua, ou história do pais.    Viu que ali, não podia ter o descanso que queria.

Aproveitou só para mandar desde ali, os textos que tinha escrito ao longo do caminho.

Entrou no deserto com seu fiel escudeiro, até o Mosteiro de Santa Catarina, foi bem recebido, ficou dias ali desfrutando da paz.    Teve tempo para meditar sobre sua vida, suas obrigações, conversou muito com o prior, um homem já de muita idade. Olhar para ele, era com ver um oásis dentro de um turbilhão que era o mundo.

Foi ele quem lhe procurou, sentou-se diante dele, falou das visões que ele tinha, que te salvaram até agora, falou inclusive da negra que o tinha orientado pelo mundo.

Os teus poderes ainda não estão totalmente desenvolvido, lhe propôs um lugar para meditar, uma cela, de um ermitão, nos altos do monte de Santa Catarina.  Levou só agua, datiles, viveu ali quase um mês, quando desceu, sua cara estava diferente.

Depois foi descendo por Israel, ao mesmo tempo pela Cisjordânia, ia fazendo um zig-zag, ora numa parte, ora em outra, ia analisando cada lugar, como viviam, as ideias, esperanças.

Foi até Jerusalém, aonde entrevistou, políticos, lideres ultra ortodoxos, com seus disparates todos, alguns estava louco como ele pensava.

Se despediu de sua ajudante, este embarcou para o Cairo, ele para NYC.

Voltar a cidade, ao princípio lhe causou um pouco de confusão, mas esteve fechado em seu apartamento escrevendo, tudo que tinha visto como pensava.

Queria escrever um livro, mas a cidade lhe incomodava.   O jeito foi ir para fora, se encontrou antes com o Inspetor Jeff, que disse que queria ler o livro dele contando suas aventuras, lhe emprestou uma cabana que tinha perto de uma praia.

Lá encontrou a tranquilidade necessária para escrever, o Jeff vinha passar os finais de semana, lia o que ele já tinha escrito.  Conversavam, era talvez a pessoa com quem ele podia se expor sem problemas.

Um dia lhe contou tudo, porque Jeff fez uma pergunta, que ele só podia responder contando tudo.   Era porque ele nunca tinha ninguém, tampouco falava de sexo.

Imagine estar fazendo sexo, ou mesmo antes, saber como é a pessoa, nunca daria certo, sei que tenho uma missão, inclusive me manter casto.

Depois de três livros com sucesso um dia sonhou com a velha, ele tinha ido a pouco tempo ao oculista, pois via crescer em cima de seus olhos, um película branca.  O médico disse que não tinha solução, apesar dos avanços da medicina, no final ele ficaria cego.

Entendeu que tinha chegado ao momento, só avisou ao seu amigo Jeff, que tinha chegado o momento de voltar a sua cidade.

Para seus pais, que já estavam com muita idade, foi um escândalo, que ele fosse morar no barraco da velha, que gradativamente fosse assumindo as funções dela.  Sua mãe, dizia que a maldição tinha sido colocada pela velha.

Ele nunca respondia a isso, tinha tido uma vida como ele tinha imaginado, conhecido o bicho homem para saber como se comportava.

Quando a velha morreu, ninguém sabia na verdade seu nome, para colocar na lápida, mas foi um enterro monstruoso, a quantidade de gente que ela tinha ajudado, a encontrar seu caminho, a curar.

Nos últimos meses ela o tinha ensinado a curar, quais ervas a usar do seu pequeno horto, se orientar entre elas pelo cheiro de cada uma.

Quando seus pais morreram, era um enterro normal, nada a ver com o da velha.

Jeff vinha sempre visita-lo, quando se aposentou, construiu junto ao seu barraco, uma cabana, era o único amigo que tinha.   Podiam passar horas falando, um dia apareceu uma senhora, que vinha de muito longe, trazendo uma garota com o mesmo problema.   Lhe disse que seu marido, não aceitava a filha.  A deixou ali com ele, ajudado pelo Jeff, a foram educando.  Chegou a ser uma grande médica, até o dia que veio substitui-lo.

 

 

 

 

 

 

 

 

lunes, 21 de noviembre de 2022

ALL LOST

 

                                       

 

Mesmo depois de tanto tempo de tudo transcorrido, ainda tinha pesadelos sobre o que tinha acontecido.

Tinha sido um dia fatídico em que a soma dos dias, meses, anos anteriores tinha estalado em sua cara como uma bola de gás, o deixando aturdido.  Assim via os dois anos que tinha estado catatônico, até ir para o lugar que estava.  Era um correcional para menores de idade, ele não reclamava, pois em comparação com o que tinha vivido depois dos cinco anos de idade, era como estar num paraíso, um lugar que determinado dias o inferno surgia, mas ele tinha aprendido a aguentar.   Tinha uma casca ou um casulo forte e resistente que tinha construído ao longo desses anos.  Breve teria 18 anos, o colocariam para fora, honestamente isso o aterrava, falava disso muito com o psicólogo do lugar, bem como quando vinha a cada 15 dias o inspetor que tinha levado seu caso, devia muita coisa a ele.   Senão, depois dos dezoito iria para uma prisão, por muitos anos.

Seu único lugar de paz, era a biblioteca, a senhora que cuidava da mesma, o deixava entrar, sentar-se na mesa para ler, reler alguns livros, o tinha inclusive ensinado a escrever na velha máquina que tinha ali.  Assim ele preenchia as folhas que faltavam.

Quando ela contou aos professores o que ele fazia, estes passaram a lhe dar aulas particulares na biblioteca.   Claro depois tinha que aguentar as provocações, mas tinha aprendido a se defender.   O inspetor quanto tinha tempo, lhe ensinava truques, como boxear, lutar pela sua vida.   De vez em quando um dos meninos já sem escapatória nenhuma se suicidava.

Ele tinha pensado muito nisso quando voltou a realidade.  A primeira coisa que pensou, porque estou vivo.  Chorou muito por causa disso, queria estar morto como sua mãe e sua irmã pequena.   Mas estava vigiado 24 horas do dia, o quarto que estava tinha uma câmera de vigilância.

Estava pele e osso, durante esse tempo tinha sido alimentado por via intravenosa, inclusive teve que aprender a andar de novo, a mijar, cagar, pois tudo o fazia na fralda que usava.  Justamente tinha voltado a si, num dia que lhe limpavam.

Meses depois foi a julgamento, durante esse tempo, vinha um advogado contratado pelo inspetor, bem como ele, para ainda proteger alguma lacuna.  Todas as lembranças lhe pareciam distante.   Amava aquele quarto branco, a cama que estava.

Um dia perguntou ao inspetor se não poderia ficar ali naquele quarto para sempre, porque fora tudo lhe parecia uma grande merda.

Nesse momento, ia fazer 14 anos, tudo tinha acontecido dois anos antes, talvez por isso o caso não tinha mais tanto interesse.

Com doze anos tinha matado dois filhos da puta. Mas tudo tinha começado quando tinha cinco anos, viviam bem, sua mãe era uma mulher muito bonita, ele era filho dela com seu chefe, um rico advogado de fusão de empresas.

Viviam num belo apartamento, pelo que ele imaginava, um dia sua mulher, que eram quem tinha mais dinheiro dos dois, descobriu tudo.  Os dois anos seguintes que sua mãe perdeu o emprego, a coisa foi piorando, foram mudando de apartamento em apartamento, até que ela entrou para a droga, a coisa se foi ao traste, o homem que era seu pai desapareceu, algumas vezes mandava dinheiro num envelope, ela basicamente gastava tudo em drogas, depois começou a se prostituir, a coisa foi a pior, viviam num hotel de 15 categoria. Ele ficava no corredor encolhido enquanto ela atendia algum cliente.  Ficou gravida de sua irmã, mas não parou de tomar drogas, a menina nasceu com uma série de problemas, acabaram vivendo num edifício que caia aos pedaços, cheio de ocupas.  Foi quando descobriu que tinha câncer na cabeça, mas claro não tinha dinheiro para se cuidar, tentou conseguir alguma coisa com seu pai, mas esse não estava interessado, tinha medo da mulher.  As vezes lhe telefonava, se encontrava com ele, na estação do metrô, este lhe dava um envelope, lhe dizia mexendo nos seus cabelos, coragem campeão.

Como se isso fosse resolver tudo, com esse dinheiro.    Com dez anos, aprendeu a não deixar na mão dela, fazia compras de comida, ele mesmo preparava alguma coisa, lavava a roupa dele para ir à escola pública ali perto, dava banho na irmã, cuidava de sua mãe, claro já nenhum homem se interessava por aquele trapo de mulher, que no meio do sexo, podia começar a gritar, que a dor de sua cabeça era impressionante.   Saiam correndo, subindo as calças.

Ele sempre guardava dinheiro para comprar seus remédios.  Mas fazia semanas que não tinha dinheiro, de tarde para a noite, limpava dois pequenos mercados do mesmo dono, esse sempre lhe dava as frutas que tinham alguma parte estragadas, com que ele fazia um tipo de purê para sua irmã, comia o que sobrava.  Antes de ir para casa, revistava todas as lixeiras do caminho.

Alguns companheiros da escola viam isso, mas quando fazia alguma brincadeira com ele, só olhava feio.

Para sua idade, estava forte, era alto, talvez tivesse saído nisso ao filho da puta de seu pai.

Nesses dias as dores de sua mãe, pareciam insuportáveis, dormia quando muito, umas duas horas, depois começava a gritar, pior, sua irmã fazia o mesmo.  Se alguém tentava pegar sua irmã no colo para a fazer calar, era pior, se tornava agressiva, para uma criança, ela tinha uma força incrível.   Sua mãe tinha consumido seu remédio, que devia durar um mês, em uma semana.  Não tinha dinheiro, telefonou desesperado atrás do pai, atendeu uma secretária dizendo que ele estava na Europa, forçando “com sua família”.

Telefonou para sua casa, atendeu a mulher que ele sabia que era sua avó.  Mas lhe respondeu o mesmo, frisando que devia deixar seu filho em paz.

Tentou conseguir dinheiro em todos os lugares possíveis, o remédio custava caro, com o pouco que tinha, na farmácia que comprava sempre, o homem ficou surpreso do fato de sua mãe ter consumido tudo já.   Isso pode ser um problema meu filho.   Lhe deu um outro remédio, para a dor, de graça.  Passou a mão na sua cabeça, ele ainda lhe disse que podia limpar a farmácia, faria qualquer coisa para que sua mãe não sentisse dor.

Estava desesperado, quando lhe deu do remédio que este tinha lhe dado grátis, sua mãe tomou tudo de uma vez, mesmo assim, segurava a cabeça com as duas mãos, gritando, que queria alguma coisa que tirasse o que tinha ali dentro.

Limpou sua irmã o melhor que pode, saiu de novo, andou por todo o bairro, foi aonde costumava buscar comida, pois faziam dois dias que não comia nada consistente.  No caminho encontrou dois de uma classe mais adiantada, que estudavam ali, mas chegavam de carro todos os dias, já tinha sido expulsos de todas as escolas possíveis, seus pais tinham dinheiro.

Como última tentativa, lhes pediu dinheiro emprestado.

Concordaram em dar, se ele fosse buscar drogas para eles, foi o que fez, sabia que os dois eram vigiados, por isso não podiam ir. Marcou com eles na frente do edifício que vivia.

Procurou o lugar que os mesmos tinha falado, comprou o que tinham pedido, viu que um homem o seguia.     Quando entregou, os dois entraram no edifício, cheiraram toda a cocaína que lhes tinha trazido, já era quase de noite, correu pelas farmácias, aonde comprava sempre já não tinha o remédio, foi andando por todas as outras, só encontrou na última.

Voltou correndo, viu que o mesmo homem o seguia, pensava que era um ladrão, corria como um condenado.  Quando chegou na porta do edifício, encontrou uma ambulância, bem como três carros da polícia.   Desciam dois sacos desses negros fechados, demorou para entender que eram sua mãe e sua irmã, queria passar, foi quando viu a polícia saindo com os dois cheios de sangue.  Escutou como se alguém falasse ao longe, que tinham entrado aonde viviam para esconder a droga, quando sua mãe, louca de dor os atacou, a mataram, bem como sua irmã.

Alguém tinha chamado a polícia.  Ele ali parado, olhando os dois, sem se dar conta, tirou o revolver do policial que estava ao seu lado, esticou o braço atirou nos dois que lhe roubavam tudo o que tinha na vida.  Acertou na cabeça de cada um, depois abaixou o braço, não viu mais nada. Ficou ali ajoelhada, até que o homem que o tinha perseguido chegou.

Um médico disse que estava catatônico.  Isso ficou sabendo depois, hoje talvez tivesse agradecido aqueles dois drogados, pôr o terem livrado de seu inferno particular.

Mas naquele momento, lhe tiravam tudo o que tinha na vida, apesar de tudo, amava sua mãe, sua irmã.  Alguns poderiam dizer que não tinha futuro, mas era sua irmã.

Quando voltou a si, quase dois anos depois, esteve chorando na cama muito tempo. Pois se despertou, no momento que sua mãe e ela lhe apareceram, não como as vias nos últimos momentos, mas bem, ela com toda sua beleza, sua irmã como uma garota normal.

Sua mãe lhe disse toque sua vida para frente, mereces.

Dois dias depois o homem que o perseguia, se apresentou, era o inspetor Mark Davies, lhe explicou que o tinha seguido o dia inteiro, se eu soubesse naquele momento o que fazia, teria comprado o remédio, só fui entender, depois que falei com todos os vizinhos.

Estou aqui para lhe ajudar.   Ele tinha levantado toda a história, tentou inclusive falar com seu pai, mas esse disse que não ia responder nenhuma pergunta.    Apesar de o ter reconhecido como filho, chamou imediatamente um advogado, nunca fez nada para ajuda-lo, tampouco foi vê-lo nunca no hospital.  Soltou ao inspetor, que ele devia ser louco como sua mãe.

O inspetor reconstruiu toda a história, junto com o fiscal, que lhe tocou.  No fundo ele era uma vítima de tudo.

Quando foi a juízo, o advogado era um contratado pelo inspetor, fez o melhor possível. Quando lhe começaram a interrogar.  Fez uma coisa que ninguém esperava.  Disse ao Juiz, porque o senhor não me faz as perguntas todas, toda essa gente falando me confunde.  Prefiro contar para o senhor minha história, qualquer dúvida o senhor me interrompa.

No final quando o juiz perguntou por que tinha matado os dois rapazes.

Ele olhou ao juiz, talvez tenha sido uma coisa instintiva, me arrebataram as duas únicas pessoas que tinha, minha mãe, minha irmã.   Esta não tinha culpa de nada, nasceu assim, sei que a culpada podia ser minha mãe, porque durante a gravidez toda, tomou drogas, fez sexo com qualquer pessoa, para comprar mais.  Já tinha perdido tudo mesmo, já não tinha força de lutar.

Nunca soube se as dores da cabeça eram por causa dos tumores, ou se já estava num grau de loucura, total.

Contou como tinha sido esse dia, com quem tinha falado, a chamada ao escritório de seu pai, de sua casa, o que tinha respondido a mulher que ele sabia que era sua avô.

O juiz os obrigou a testificar.  Seu pai não estava na Europa, estava ali ao lado de sua nova secretária, amante.   Essa quando descobriu a história caiu fora, testificou também.  O de sua avô foi pior, disse diante do juiz, que não queria nenhum bastardo telefonando para sua casa.

Ele escutou todos os depoimentos de cabeça baixa, não queria olhar aquele homem que era seu pai, por quem tinha agora um ódio mortal.

Quando o juiz perguntou ao seu pai, se ia fazer alguma coisa por ele, as lagrimas começaram a rolar pela sua cara, mas o inspetor, segurou sua mão, o fazendo voltar a realidade.  Depois o agradeceria.

O homem que era seu pai, disse que não ia misturar seus outros filhos, com um assassino.

Lhe condenaram já que ninguém lhe queria, a ir para o reformatório.

O inspetor, lhe contou na sua primeira visita lá, que tinha pensado em pedir sua guarda, mas neste momento sua vida particular, estava desmoronando também, seu filho tinha morrido na guerra do golfo, sua mulher tinha pedido o divórcio, fiz tudo que pude para te ajudar.

Inclusive o dono do lugar que limpava, contou que era um menino correto, os professores disseram que apesar de tudo, era um aluno brilhante.  Com todos os problemas era o único que trazia os deveres prontos.  Como ele fazia, não sabiam.    Imaginavam o mesmo, escutando os gritos das duas, estudando ao mesmo tempo.

Quando o juiz lhe perguntou sobre isso, ele disse, me isolava, estudar era a única coisa que me salvava.

Já aonde estava, basicamente leu todos os livros da biblioteca.  Os outros garotos que estavam ali, não estavam interessados nas poucas aulas que existiam, uma coisa básica, os professores estavam no final de carreira.

Quando a bibliotecária falou com eles, alguns se interessaram, lhe davam aulas a parte, ficavam surpreso com sua inteligência.

O de línguas, quando soube que ele os livros que os outros internos tinha arrancado páginas dos livros, ele lia, relia até encontrar, como o escritor pensava, reescrevia esses pedaços que faltavam como ele imaginava, por isso usava a máquina de escrever, depois inseria no livro o que faltava.   A bibliotecária, depois lia o livro, dizia que tinha logica, como ele conseguia entrar nos personagens.

O inspetor trouxe todos os livros que seu filho tinha, ele pediu a bibliotecária, se os podia guardar ali, pois os outros garotos, o roubariam dele, ou queimariam os mesmo, para lhe aborrecer.   A estas alturas, ele já era seu preferido.  Era educado quando pedia as coisas.

Os maiores que ele, ou mais forte, quando queriam abusar dele, quando depois de lutar, tentar se defender, os deixava fazer o que queriam, sem se mover, escrevendo na sua cabeça uma história maravilhosa, que estava andando em algum parque da cidade, como via as outras pessoas fazendo.   Se levantavam quando eles terminavam, ia ao banheiro se lavava, voltava para sua cama, tentava dormir, não chorava mais, não valia a pena.

Ficava quieto, tentando pensar na sua vida depois dali, o que faria.

Não teria ideia, estudar como, não tinha dinheiro, teria sim que conseguir algum trabalho, mas sabia que seria difícil.

Quando comentou com o inspetor, este lhe disse que antes de sair, uma junta o analisaria, que os professores, a bibliotecária, o próprio diretor iam alabar o fato de ser o mais comportado.

Quando o inspetor sabendo o que acontecia ali, perguntou se algum dos outros tinha abusado dele?

Respondeu, encontrei a solução, me defendo, quando vejo que é impossível, deixo que façam o que querem, mas coloco minha cabeça em outro lugar, imagino que estou passeando por um parque cheio de flores, que minha mãe me segura a mão de um lado, minha irmã do outro, elas sofreram mais do que eu, então consigo aguentar.  Depois me levanto, me tomo um banho de água fria, pois a estas horas, já não tem água quente, volto para a cama, não choro, porque seria dar um prazer a eles, que me venceram, não me sinto vencido.

A cara do inspetor era impressionante o escutando falar assim, sem levantar a voz, sem chorar, nem protestar.   Era o que chocava.

Minha única preocupação senhor Mark, é imaginar o que vou fazer quando sair. Quem vai querer me dar emprego, como farei para estudar.  Tudo é uma grande incógnita.

Com 18 anos, ele seria considerado maior de idade.

Mark Davies, se preocupava que ele caísse nas mãos de algum traficante de drogas, ou de alguém que o explorasse sexualmente. ou que se tornasse um desses garotos que vendem o corpo para sobreviver.

Tomou coragem, falou com o juiz, o levaria para sua casa.  Tentaria o ajudar, ia se aposentar dentro em breve, vivia num apartamento pequeno, mas tinha um quarto que poderia dar a ele.

Tomou coragem, se desfez de tudo que tinha sido de seu filho, guardado em caixas nesse quarto, começou olhando cada coisa, chorando muito.    Mas tomou uma decisão, ficar aqui chorando não resolve nada, chamou uma instituição, pediu que viessem recolher tudo.

Ele mesmo pintou o quarto todo de branco, comprou uma cama, uma mesa de estudos, uma velha máquina de escrever dessas portáteis.

Sentou se com George, fez seu oferecimento, mas antes contou que seu filho tinha morrido na guerra, que sua mulher tinha se divorciado dele, foi tudo ao mesmo tempo que acontecia isso contigo.   Se surpreendeu que George colocasse as mãos sobre as suas, como o consolando.

A única coisa que falou foi, “li num livro, que muita água passa por debaixo da ponte, primeiro como, uma enxurrada, depois tudo volta ao normal”.  

Creio que encontrarei uma maneira de sobreviver.

Só irei para sua casa, se realmente queres, não quero mais ser um intrometido na vida de ninguém, tampouco que sinta vergonha por mim.

Mark sabia que falava do pai.   Isso tinha calado muito fundo nele.   Perguntou se pensava um dia se vingar.

Sabe quando li o “Conde de Monte Cristo”, vi tudo que ele tinha feito para se vingar, por mais que ganhasse no final, fiquei analisando muito, fez mil coisa, mas no fundo isso não o deixou mais feliz, ou mais contente.   Já tinha perdido tudo, recuperar, seu filho, a mulher amada, no fundo saberia que eram já diferentes do que ele tinha conhecido.  Não vale a pena.

Meu pai é um coitado, me pergunto se foi feliz depois do julgamento, quando todo mundo viu quem ele era, mesmo sua mulher que estava ali no tribunal, como a mulher que obrigou a me dizer que estava na Europa.  Nunca mais o respeitariam, não vale a pena, será sempre um homem medíocre. 

Se ele imaginava que seus últimos dias ali seriam fáceis, foi tudo para a casa do caralho, um fim de tarde um bando de quinze da mesma idade deles, alguns mais fortes, o arrastaram para uma lateral do edifício do ginásio, um lugar estreito, que por isso nunca tinha uma câmera de vídeo, o encheram de porrada, abusaram dele, de uma certa maneira não viu nada, porque primeiro para o poderem arrastar, deram em sua cabeça com uma pedra grande, não teve conhecimento do que passou.  Só foram notar sua falta, na hora de dormir, pois sua cama estava vazia.

Levaram mais de 3 horas para encontra-lo.  Primeiro pensaram que tinha fugido, mas saiu dali, como um vencido, na maca de uma ambulância direto para um hospital, já em coma.

O inspetor, estava furioso, mas não havia como saber quem tinha feito isso com ele.  Se culpava, o devia ter retirado de lá, quando me contou a história dos abusos.

Tinha cinco costelas partidas, bem como um desgarro anal de fazer gosto. Além da contusão da cabeça, lhe operaram a parte de maior emergência, para depois resolverem fazer o que fosse possível.

O inspetor, segurava sua mão, não saiu dali.  As vezes rezava, como o tinha feito por seu filho, outras vezes, falava com ele, pedindo que não o deixasse sozinho, pois o queria em sua casa.

Antecipou sua aposentadoria em um mês, ninguém reclamou, sabiam o que se passava.  Levou uma maleta para lá, as enfermeiras, levavam suas roupas para lavar, tomava banho no próprio quarto do hospital, deixou de fumar, ficava horas inteiras ali com ele.   Leu o Conde de Monte Cristo, analisava o que ele lhe tinha falado.  Chegou à conclusão de que Alexandre Dumas, não tinha sido coerente, pois no final, era o famoso, comeram perdizes foram felizes para sempre.

O final nunca era esse na verdade, os escritores mentiam.

Quando saiu do coma, quem encontrou ao seu lado foi o inspetor, tinha um bloquei em sua cabeça que o fazia não se lembrar de nada, tudo que se lembrava, era ter abaixado para pegar um papel que tinham jogado no chão para colocar na lixeira.

De fato, a contusão da sua cabeça estava melhor, depois de todos os exames, os médicos achavam que poderia ocasionar algum problema.

Falou com o juiz, para ele poder usar seu sistema médico, era necessário adota-lo. Conversou com ele.    Primeiro ficou olhando na cara do inspetor, imutável, perguntou se tinha certeza de que queria isso.   O senhor vê como vem junto comigo uma série de problemas.   Talvez fosse melhor eu me jogar na rua, ver o que sai.   Já estou tão insensível com todas as desgraças, que o que venha, eu como até com as mãos.

Eu gostaria muito que fosses viver comigo.  Estou sozinho, tenho poucos amigos, aprendi muitas coisas de ti.  Me deixe pelo menos ajudar-te.

Cheio de dúvidas, mas aceitou.   Passou o seu aniversário ainda no hospital, depois da última operação, para reconstrução do anus.

Os papeis o juiz resolveu rapidamente, tinha pena desse rapaz, pensava o karma dele, é forte.

Mark Davies, deu entrada, dias antes de assinar os papeis de sua aposentadoria, nos documentos que ele tinha direito ao sistema médico como seu filho.

Falou muito com uma psicóloga que atendia os policiais, se ela podia recomendar alguém para ajudar seu novo filho. George Davies.

Este gostou quando lhe propôs trocar de nome.  Um dia o Mark foi ao hospital, viu um papel cheio de seu novo nome, estive treinando como me chamo agora, creio que escreverei uma nova página na minha vida.

Foi busca-lo no hospital, com seu velho jeep, de toda a vida, contou ao George que tinha sido de seu filho, nos dois reconstruímos o motor juntos.

Quando chegou na casa do Mark, viu o quarto que tinha preparado para ele, o resto agora é por tua conta, tem uma série de livros que acabei de ler, para que leias, depois discutimos cada um.

Teve uma professora, que o ajudou a se colocar nas matérias que lhe faltavam aonde estava antes.   Escreveu uma carta a cada professor que o tinha ajudado lá, mas uma em especial a bibliotecária.

Resolveu estudar filosofia, bem com literatura americana.  Foi se destacando, nas aulas, era um bom estudante.  

Mark lhe perguntou um dia se iria escrever sua história?

A resposta demorou, mas acabou verbalizando o que sentia.   Creio que terei que me afastar muito de tudo isso, para daqui alguns anos, com outra perspectiva escrever.

Um professor, disse que havia um concurso de contos, se ele estava interessado, se dedicou de corpo e alma a escrever.   Foi o único que apresentou um trabalho escrito a máquina, os outros entregaram pen drives.

Sem querer foi o primeiro que o professor leu.  Como o tema era livre, cada um podia escrever sobre o que queria.

Ele escreveu sobre uma coisa que debatia muito com o Mark, o final das histórias.   Normalmente os finais era o bom vence o mal, foram felizes para sempre, seguiram a vida mas melhores do que antes.   Ele fazia uma versão, do depois, tinha reanalisado com Mark o final de O Conde de Monte Cristo.   Usou os personagens para criar o conto, como cada um seguia ao final.  Se eram felizes ou não, era como um jornalista entrevistando cada personagem.

O filho por exemplo, depois de anos acreditando que o pai era um, agora se via com um pai diferente que inicialmente o tinha feito sofrer, com se sentia.  

A mulher que ele tinha amado, que pensava que estava morto, o reencontro, como ela tinha sentido isso. Se sentia bem reconstruindo sua vida com ele.

O próprio Conde, se depois da vingança toda, como se sentia, como pensava em levar a vida depois disso.

Não tinha nada a ver com que os outros alunos tinham escrito, todos falavam de futuro, de coisas do momento.   Todos eram otimistas demais.

Cada um foi analisado, depois teriam que se apresentar a banca, conversar sobre o que tinha escrito.   Ele se sentou comodamente, respondeu todas as perguntas que tinham a respeito do assunto.     Contou do tempo que esteve no reformatório, dos livros que faltavam páginas, que ele tinha que imaginar o que o autor tinha pensado a respeito.  Da conversa com o hoje seu pai, sobre sua pergunta sobre a vingança.

Eu lhe disse que não valia a pena, pois o próprio karma da pessoa se encarregaria dela.

Analisei cada frase, cada personagem do Dumas, mesmos os maus, que tinha alcançado seus objetivos, se analisas profundamente, eram ricos, comiam perdizes, mas não eram felizes.

O fato de no livro, a amada, o aceitar sem muitas explicações, ela que sempre tinha acreditado em mentiras, será que aceitaria a verdade dele.  Bem como o filho, que ele não sabia que era dele, a quem basicamente tinha torturado, com o aceitaria como pai.   Então imaginei cada um sendo entrevistado por uma revista dessas que hoje em dia vendem a vida dos famosos.

Por que escreveste a máquina?   Foi uma das perguntas.

Eu escrevia a lápis, mas meus companheiros do reformatório estavam sempre roubando os mesmos, como queria colocar as páginas dentro do livro, pedi a bibliotecária que me ensinasse a usar a máquina de escrever que tinha ali, que ela não usava mais.

Que sabia que todos escreviam com um laptop, depois ou colocavam num pen drive, ou imprimiam, ele não tinha esses recursos.   A máquina velha que tinha resolvia o mesmo.

Ele acabou ganhando o primeiro prémio, que era ser publicado numa revista literária, bem como foi publicado numa revista dessas de domingo de algum jornal.

Mark ficou orgulhoso dele, tinham debatido o texto mil vezes.   Inclusive, Mark tinha feito o papel de cada personagem.

Numa entrevista, tocaram no assunto da máquina de escrever.  Ele repetiu que estava contente de usar uma velha, não lhe incomodava.  Que ainda não tinha um emprego para comprar um Lap top.

Por acaso um jornalista se lembrou dele fez uma matéria do assunto.  Começaram a surgir mil pedidos de entrevista, conversou com Mark a respeito.  Se negou a dar qualquer entrevista.

Se não fosse para falar do texto, nada.

Escreveu um livro, sobre o que já na época pensava de sua irmã, como seu passado devia ser pesado, para vir nessa vida daquela maneira. Não poder se expressar, com todos os problemas que tinha, como pensaria no seu interior.  Porque gritava, se era em protesto, se era de raiva, revolta.

Quando estava mal, pensava nisso, se fosse ela, que não falava, só gritava, como poderia expressar o que sentia.

Mark leu cada capitulo, disse que se sentia como uma dessas solteironas, que reclamam sem cessar da vida, que encaram uma realidade que nunca viveram, com um lenço nas mãos lendo essas páginas.

Pediu se o seu professor preferido podia ler.   Ele o fez, bem como levou para um editor.

Esse se interessou imediatamente, tinha feito parte da banca que tinha analisado o conto, só fez uma pergunta, ele segue usando a velha máquina de escrever?

No dia seguinte, estava em casa escrevendo, recebeu uma encomenda, primeiro pensou que tinha sido o Mark, que não estava em casa nesse momento, um laptop, bem como uma impressora.

Agradeceu ao editor.  Este marcou um almoço com ele, que foi acompanhado do Mark.

Apresentou ao editor, esse é meu pai.

Quando o mesmo disse que tinha lido o livro, que gostaria de publicar. 

Ele escutou tudo, sem dizer uma palavra.    Só disse uma coisa, se negaria falar do seu passado, já estava fazendo através do livro, só responderia perguntas nas entrevista sobre o mesmo.

O livro foi publicado com sucesso, Mark ia sempre com ele as entrevistas, quando o reporte se excedia, ele não respondia.

Quando terminou o curso, os dois foram passar uns dias numa praia, que Mark gostava muito, contou que tinha passado toda sua juventude ali, seus pais ainda eram vivos.  Alugavam essa mesma casa.   Aqui foi o lugar aonde fui feliz.

Conforme ele foi contando as coisas que se lembrava dessa época, ele escutou tudo, depois escrevia, construiu um personagem, que foi feliz primeiro, depois teve que encarar a dura realidade da vida.  Um casamento, um emprego, um filho que amava, que morria muito cedo.

Mark, comentou que quando leu os primeiros capítulos, tinha ficado arrepiado, pois tinha conseguido captar exatamente o que ele sentia, pensava desse época.

Depois escreveu uma história que escutou de um pescador, que nunca tinha saído dali, tinha nascido, crescido, sempre ali, via entrar verão sair verão, as pessoas que vinham passar essa época ali, os sentimentos que tinha, primeiro quando era jovem, inveja, pois podiam ir embora, depois os analisava já maduros, vinham ali, pois queriam recuperar uma época que tinha sido felizes, já velhos, porque era a única felicidade que tinham para recordar, mas ele sempre tinha sido feliz, principalmente quando estava no mar em comunicação com a natureza, com o deus dos mares, que lhe dava o que comer sempre.

Em nenhum momento deixou de escrever, montou um livro de contos sobre isso, a felicidade.

Quando mandou para o editor, esse imediatamente o chamou.  Tiraste meu sonho, li todos os contos até o final, queria que viesses falar comigo.

Tinha mostrado os contos para um produtor de serie de televisão, ele se interessava em montar uma série em que essas histórias de cruzavam no mesmo lugar, se ele era capaz de escrever, mas de qualquer maneira ele editaria o livro.

Conversou com o Mark a respeito, teria que fazer um curso de escritura de roteiros.

Mark tinha alugado a casa para todo o ano.  Lhe deu a chave do apartamento.

Chegou o momento de enfrentares o mundo sozinho.

Ele parecia levar uma vida de ermitão, pois fazia as aulas, aprendeu a manejar os personagens, alguns alunos se aproximaram dele, mas ele tinha medo do relacionamento.

Criou um personagem em cima dele mesmo, que ia para o mesmo lugar aonde estavam os outros, para aprender a se relacionar.

Mandou o primeiro capitulo para o produtor, este pediu um entrevista com ele, junto com o diretor que tinha selecionado.

O Mark tinha lido tudo, foi com ele para analisar o contrato, os valores da oferta.

Negociaram, ele teria que escrever seis capítulos, com finais diferentes.

Com o dinheiro comprou sem o Mark saber a casa que tinham alugado. Lhe deu de presente.

A série bem com o livro foram bem recebidos.  Um dia estava dando autografo, quando um rapaz um pouco mais velho que ele se aproximou, se apresentou, era seu irmão mais velho, filho do seu pai verdadeiro.

O esperou terminar, sentaram-se para conversar.  Em momento algum tocou no nome do pai, só no final soltou que a muito tempo não sabia dele, tinha fugido pelo mundo.

Gostaria de te conhecer, pois somos irmãos.

Ok, lhe deu o número de seu celular, quando venha a cidade, te chamarei.

Assim fizeram cada vez que ele tinha aulas, o chamava, conversavam.  Mas quem mais falava tinha sido o irmão, aos poucos começou a soltar, que isso dos filhos, era uma coisa que seu pai no final tinha vários.   Me fez uma imensa confusão quando era adolescente descobrir tudo isso. Não sabia como me posicionar, em casa, vivia nossa avó, ela chamava todos de bastardos, defendia seu filho como ele fosse um varão escolhido por deus.

Um dia minha mãe se fartou a colocou numa residência de maiores, espero que seu varão escolhido por deus venha resgata-la.   Evidentemente isso nunca aconteceu, morreu amargada, culpando todos os bastardos que tinham roubado seu filho.

Eu tinha um ódio particular por ela, pois me dizia que eu não era suficiente bonito, nem esperto como seu filho.  Um dia a mandei tomar no cu, foi quando minha mãe resolveu tudo.

Levei muito tempo num psicólogo para analisar tudo, a ideia que eu tinha era uma, a que me vendiam era outra.    Meu pai se casou com minha mãe, não porque fosse bonita, mas sim porque tinha uma bela fortuna.  Mas meu avô o obrigou a casar-se com separação de bens, não confiava nessa bela estampa.

Minha avô dizia que ele tinha feito um favor a ela em se casar, pois acabaria sendo uma solteirona.   Minha mãe se casou outra vez, vive feliz com o homem que escolheu, um homem simples, mas trabalhador.

Eu fiquei no meio disso tudo.

Embora fosse uma realidade que não tinha vivido, escreveu a história do irmão, quando lhe entregou para ler.  Chorou, vejo que me entendeste completamente.

Claro de fora é mais fácil observar, escrever, que dentro da história.

Uma vez me perguntaram se eu pensava em me vingar, eu respondi, que tinha aprendido que não valia a pena.  Que a própria vida se encarregaria disso.

Se viam agora uma vez por mês, pois ele só ia a cidade quanto tinha que fazer algum exame médico, que eram periódicos.   Seu irmão lhe contou que o pai tinha-lhe procurado, pois precisava de um doador de medula óssea.  Me encheu o saco, eu a princípio disse que não, mas por desencargo de consciência fiz o exame.   Era compatível, mas depois pensei bem, lhe disse que não, que ele se apanhasse com toda merda que tinha feito, foi de filho em filho pedindo, fiquei sabendo que contando contigo eram onze filhos.

Nenhum outro sequer fez o exame, quando a pessoa se nega, ele faz como a mãe, os chama de bastardo.  Talvez ainda faça contato contigo.

Mas não fez, talvez porque soubesse que era o que mais tinha saído prejudicado em tudo com ele.   Souberam depois que tinha morrido, sem um tostão, que toda a pose que tinha, morreu com ele.  Segundo algumas pessoas, ele acusava sua mãe de ser como era, pois tinha sido criado achando que o mundo vivia em torno ao seu umbigo.   Ele nunca era culpado de nada.

Pensou em escrever um livro sobre isso, mas achou que remover a merda, não ia ser salutar.

Mark sempre cobrava que ele devia ter alguém em sua vida, ele dizia que não, que seus traumas sexuais, era mais poderosos que ele mesmo.

Que gostava da vida que levava. Sentar-se na praia conversar com ele, as noites que debatiam algum livro que tinha lido os dois, ou algum texto que tinha escrito, os dois falavam sobre o mesmo.

Quando Mark morreu, com quase 85 anos, para ele foi duro, era o melhor pai, amigo que podia querer na vida.   Rendeu homenagem a ele na cerimônia que fizeram ali na praia.  Depois de cremado, com o amigo deles o pescador, levaram suas cinzas para alto mar.   Esse era seu sonho.

Agora escrevia mais devagar.

Quando descobriu que tinha câncer, por causa de seu trauma na cabeça, apesar de todos os exames que fazia, resolveu não tratar.

Foi nesse momento que escreveu sua história, tinha tudo guardado numa caixa em sua mente, quando a abriu, foi como abrir a caixa de Pandora, saíram as coisas más, bem como as boas.

Principalmente o que veio depois de tanta desgraças.

Entregou ao editor, lamentando que desta vez, não tinha o Mark para debater tudo. Um dia quando já não aguentava mais de dor, subiu a um pequeno barco que tinha comprado, passou pelas ondas da pequena enseada, deixou depois que o barco, fosse levado por alguma corrente, o encontraram meses depois, já quase Cabo de San Lucas, na Baixa California, já México.  Como tinha todos seus documentos, o devolveram.  Deixou a casa para seu irmão, o dinheiro deixava para várias pessoas, como a bibliotecária que o tinha ajudado, o professor que tinha lhe ensinado o que podia, para o pescador.

Seu irmão foi morar ali, dizia que tinha encontrado a paz que necessitava.

Seu corpo, já então totalmente mumificado pela água do mar, foi cremado, o pescador o levou numa urna até aonde tinha deixado o do Mark.   Assim pai e filho se reuniam.

 

 

 

 

 

 

 

 

   

martes, 15 de noviembre de 2022

OUTBREAK

 

                                           

 

Depois de anos se submetendo, de silêncio, de aguentar o seu pai, porque era senador, os pressionando, tudo estava preste a explodir.

Os dois irmãos, não se viam a tempos, marcaram de se encontrar num pequeno hotel, perto da universidade, não entendia por que tanto sigilo, mas aceitou.

Não se viam desde a leitura do testamento de sua mãe, aonde cada um recebeu o fideicomisso que ela tinha estipulado.   Seu pai queria vender a mansão familiar, foi quando descobriram que a mesma não pertencia a ele, simplesmente tudo era dela.   Eles teriam direito a tudo quando fizessem 25 anos.

Claro o pai queria meter a mão para mais uma campanha de senador, estava a anos no cargo sem fazer merda nenhuma.  Tanto que depois disso perdeu para outro homem mais jovem.

Os dois tinham horror ao velho, eram filhos relegados a segundo plano, desde a infância, o que lhe importava era somente a política.   Nos primeiros anos em Washington sua mãe o acompanhou, os dois ficaram com seus avôs.   Mas de repente um dia voltou, tinha descoberto que ele tinha amantes.

Para eles começou uma etapa horrorosa, lidar com o alcoolismo dela.   Anos mais tarde quando seus avôs morreram, continuavam a viver na mesma casa, estudavam em colégios públicos, usavam o nome da mãe, para não terem favoritismo, com relação ao pai.  Este só aparecia quando estava de campanha, para tê-los ao seu lado para fotos.

Marc, era mais velho que ele dois anos, estava na universidade, quando teve que trancar matricula, para ajudar a cuidar da mãe, quando pensaram que estava boa, teve uma recaída, o pai só apareceu para o enterro, vestido todo de negro, cercado de televisão, os puxou para perto deles, pela primeira vez se negaram a posar com ele, que deu uma entrevista, com lagrimas nos olhos.    Logo em seguida foi a leitura do testamento.

Quando saíram do lugar, os jornalista os cercaram, Marc, com os braços em cima do irmão Jerry, falou claramente, meu pai não tem direito a nada, foi um mal pai, mal esposo, um bom filho da puta, nunca fez nada por ninguém, não votem nele.

Este ficou uma fera, os queria fora da mansão, mas eles chamaram o advogado de sua mãe, que veio acompanhado do xerife, o canal de televisão filmou ele sendo levado para fora da casa.

Jerry agora ia para a universidade, a casa ficaria fechada.

Marc, desapareceu no dia seguinte, durante dois anos, recebia alguma chamada, quando lhe perguntava aonde estava, ele nunca respondia.

Mas sempre dizia, eu te amo meu irmão.

Ele estava na universidade, por causa do pai, estava estudando direito, vivia numa casa que pertencia geração após geração, a uma irmandade.  Ele odiava isso, com seu dinheiro próprio, alugou um pequeno apartamento, em cima de um restaurante, aonde trabalhava nos finais de semana de garçon.

Jogava basquete com os amigos, quando recebeu a chamada do Marc.

Foi até o hotel, lhe disseram o número do apartamento.  Levou um susto, quando abriram a porta, primeiro pensou que era alguma namorada do Marc, até que falou, então viu que era ele. Este o puxou para dentro.  Mal podia mover-se com o susto, pensou esse agora é travesti.

Marc o fez sentar-se, numa poltrona. Sentou-se na frente dele, sinto muito que tenha que ser assim, mas era uma coisa que tinha que fazer.

Imagina o Marc tinha 1,90 metro de altura, forte, quadris estreito.  Agora tinha peitos, não exagerados, um pouco mais de quadril, o resto era igual, estava sim bem maquilado.

Pensou primeiro que era uma brincadeira.

Sempre me senti uma mulher num corpo de homem, mamãe, foi a única que entendeu, antes de morrer me disse realize teus sonhos, não deixe ninguém interferir.  Sabia que papai, era capaz de me internar num hospício para que não fizesse isso.

Tudo é meu, os cabelos, não coloquei nenhum silicone, é um processo longo, foram necessário dois anos para fazer tudo. 

Ele continuava não acreditando.

Marc entendeu, abriu a blusa lhe mostrou os seios, fez com que a saia caísse, para ele ver que tinha agora outra coisa no meio das pernas.

Pelo susto começou a chorar, porque não me disseste nada.

Porque podias comentar com papai, ele me impediria.

Como apareces agora, crês que vou aceitar tudo isso, assim goela abaixo.

Não, sei que necessitaras de tempo para querer-me outra vez, mas continuo sendo teu irmão.

Eu sei, na mesa, tinha uma garrafa de whisky, com dois copos, um balde de gelo, serviu um ao Jerry.  Ele o tomou de um gole só, fez cara feia, pois não estava acostumado a beber.

Foram dois anos, te procurando, sem saber notícias, a não ser quando chamavas, sabia que era de alguma cabine, pois era impossível localizar.

Passei toda minha vida, com essa incógnita Jerry, como ia solucionar isso, meus anseios eram de uma mulher.   Não imaginas como é o processo de conversão, é duro, doloroso, solitário, o fiz somente com a ajuda de uma associação em San Francisco.

Eu com todo esse tamanho, ficou mais complicado.  Mas superei tudo, o pior é o depois, as dúvidas, se fiz certo ou errado.

Porque estas aqui hoje.

Vim com a associação, participar de uma palestra na universidade, a convite de um grupo LGBT.

Eu se fosse tu não iria, pois as irmandades estão pensando em atacar.

Temos proteção da policia do campus, bem como do FBI.

Não vais me dar um abraço pelo menos?

Jerry se levantou, se aproximou do irmão, chorando, me senti muito só sem ti, papai me dando na cabeça para saber aonde estavas, para vendermos a casa, lhe emprestar dinheiro para sua próxima campanha.   Quer ser senador outra vez.

Tanto fez que conseguiu que um juiz amigo seu, autorizasse entrar na casa, agora vive lá.  Eu num pequeno apartamento fora da universidade.

Vive me dizendo que se você morreu, eu tem direito a tua parte, continua um filho da puta.

Ficaram ali em pé abraçados, era estranho, mas o cheiro do irmão era o mesmo.

Não sabes como sonhei em te encontrar outra vez.

Quando é a palestra?

Hoje à noite.

Sugiro que diga aos organizadores, que uma turba de violentos, planeja atacar vocês.

Como te chamas agora?

Continuo sendo Marc, ainda não troquei de nome.

Passaram o resto do dia junto, Jerry contando sua vida de solitário.

Nem sei por que faço esse curso, odeio tudo isso, queria fazer outra coisa, belas artes, mas não estavas aqui para me defender, como sempre fizeste.

Talvez tenhamos feito errado, te protegendo de tudo, da bebida de mamãe, do filho da puta do nosso pai.

Pediram comida, ficaram ali na varanda, conversando. 

Jerry em determinado momento, soltou, ficas bonito como mulher, até eu me apaixonaria.

Ainda não posso fazer sexo. Na verdade os médicos se espantavam, de alguém que era virgem fazer essa transformação.

A única pessoa nesse tempo todo que amei sempre, foi o Brandon, lembra-se dele, era meu companheiro na universidade, papai quando descobriu que eu compartilhava um quarto com um rapaz negro, fez tudo para que eu ficasse sozinho.  Era apaixonado por ele.  Mas tudo que sei dele, foi que entrou para o FBI, como saída para sua vida.

Nesse meio tempo o chefe de segurança do campus, discutia com os organizadores, não tinham homens suficiente para defender esses viados, como ele dizia.   São como uma praga, não deviam estar aqui.

Mas os organizadores, um deles tinha um parente no FBI local, tinha pedido ajuda.

Em qualquer caso, acionariam a policia de fora do campus.

Ficaram juntos, até a hora de ir para o auditório, Marc seria a segunda pessoa a falar, tinha feito palestra em outros lugares. Mas nunca num auditório.

Quando chegaram a multidão era grande, o auditório, ficou lotado.

Ele se foi sentar na parte de cima, aonde estava uma pessoa, com um sistema de vídeo, iriam gravar tudo.

A primeira pessoa a falar, foi um homem, simpático, tinha sido mulher, falou de todo seu processo, as complicações derivadas, como sempre falou do depois, que também não era fácil, todos seguimos sendo atendidos por psicólogos, para ir superando as barreiras.

Quando Marc começou a falar, era impressionante, era uma mulher interessante, falou de seus anos de criança, das dúvidas, primeiro por falta de informação, pensei que era simplesmente gay, mas não era assim, eu queria vestir-me de cor de rosa, como as outras garotas, na etapa da universidade, a coisa ficou pior.  Mas tive que trancar a matricula, para atender minha mãe, que estava morrendo de câncer.  Foi com ela que falei, durante meses, falávamos no assunto, ela sempre me dizia que eu tinha que realizar meus sonhos, que os outro no interessavam.  Que vivíamos cercado de pessoas egoísta, de uma falsa moral, quando todos faziam de tudo por baixo da mesa.   Quando ela, morreu, voltei a estudar, mas fui para muito longe, para poder dar inicio ao processo da transformação.   Dizem que é como sair de um casulo, só que meu casulo era grande demais, quando me viam numa sala de espera do psicólogo, me olhava, como dizendo como esse vai usar um salto agulha, com todo esse tamanho de pés.

Nunca me importei com isso, nem com quem acabaria fazendo sexo, quando se faz esse processo, não estás pensando nisso, alguns talvez, mas queres é sair desse maldito casulo que te prende, faz sofrer.

 Nesse instante como uma explosão, as porta se abriram de par em par, entrando um grupo imensos de homens com armas improvisadas na mão.

Ele ficou em pé, tinha que descer para proteger o Marc, mas a porta estava fechada por fora, para proteger o pessoal do vídeo.   Ele olhou, não teve conversa, se jogou se pendurando no lustre caindo justo em cima dos dois homens que estavam lutando com o Marc, eles não esperavam que aquela mulher grande soubesse se defender.

O foi ajudando, ao mesmo tempo reconhecendo gente que estudava com ele, normalmente eram maus alunos, filhinhos de papai, que estava ali, para beber, fazer sexo, fumar marijuana, levar uma boa vida.

A porrada estava comendo solta, os policiais do campus desapareceram, tinha ordens do chefe que não deviam entrar em confronto, só ficou um, mais dois tipos, um negro alto, outro um que parecia japonês.  Os de fora, imaginavam que os que assistiam iam soltar gritinhos, sair correndo, mas não era assim.

Viu um que estava atrás de seu irmão com uma arma branca, gritou, as o barulho era imenso, nessas altura Marc estava no chão com dois homens grandes lhe dando porradas, esse o ia matar, jogou o tio que estava dando porradas, para fora do palco, foi defender o irmão.  Sentiu a navalha lhe entrando na carne, que o fazia o reconheceu, seu maricon de merda, soltou, lhe deu mais dois, como tinha caído, o mesmo o encheu de chutes, na cara, nas costelas, foi ficando tudo negro.  O único que viu por último, foi o tal negro alto, jogando o mesmo pelo alto do palco, no chão embaixo.  Ao mesmo tempo que corria para ajudar o Marc.

Depois ficou tudo escuro, se lembrava de umas luzes, que pareciam um disco voador em cima de sua cabeça, estou sendo abduzido, pensava.  Depois tornou a mergulhar na escuridão, procurando pelo Marc, justo agora que o tinha encontrado, acontecia isso.

Quando despertou, sentado numa cadeira de rodas, estava o negro alto, sorriu, sou Brandon, o amigo de Marc.

Ele queria falar, mas estava entubado, calma o médico já vem.  Olhou para a cama ao lado, viu que seu irmão estava como ele entubado.

Quando lhe tiraram o tubo, perguntou como estava o Marc.

Em estado de coma ainda, levou mais porradas que tu, teve um problema na cabeça, tiveram que raspar aqueles cabelos maravilhosos.

Nisso, viu que seu pai, entrava no quarto seguido da televisão, disse ao Brando, não permita isso, ele quer fazer propaganda à custa de nós como sempre fez.

Entraram dois homens do FBI, expulsando todo mundo.

O pai conseguiu entrar, mas nem olhou a cama do Marc, ele disse ao Brandon, tire esse serpente daqui, aonde toca vira merda, não é meu pai, sim um filho da puta.

Seu pai, quando os do FBI entraram outra vez, para retira-lo, soltou o famoso “sabem quem sou”, Jerry gritou, um bom filho da puta.

Viu que a televisão estava gravando, olhou ao Brandon dizendo, esse não aprende nunca, sempre nos usou. Viste que sequer olhou a cama do Marc.

Dois dias depois, quando ele já estava sentado, Marc despertou.

Brandon dormia numa cama ao seu lado, por se acaso ele desperta, estou aqui.

Tinha conversado esses dias.

Eu o procurei como um louco, estava no FBI, mas nunca o encontrei.

Ele usou o sobrenome de nossa avó, assim nem eu o encontrei.

Era o único amigo que tinha no campus, eu o adorava, me apaixonei, mas que futuro tem um negro que se apaixona por um companheiro, nenhum.

Pelo que sei ele também gostava de ti, me contou no dia que vi.  Me contou tudo, primeiro foi um choque, mas quando vi o que lhe faziam, me atirei lá de cima.  Não podia perder meu irmão outra vez.

Te vi voando, pensei, esse sujeito dever amar muito o Marc.  Não sabia que vocês eram irmãos.

Por que entraste para o FBI?

Porque me pareceu a solução mais logica, pelo menos ganharia experiencia.

Mas ver Marc outra vez, primeiro pensei que era um travesti, mas depois quando começou a falar da sua transformação, a saída do casulo.  Me lembrei de nossas largas conversas, ele sempre me dizia que se sentia preso num casulo, que esse o arranhava, que era muito difícil pensar numa saída.    Eu lhe dizia que o acompanharia nessa saída, pois era o único amigo que eu tinha.   Mas quando a mãe de vocês morreu, ele desapareceu.

Acabei o curso, fui fazer a parte do treinamento, me saio bem, nem sei por que me mandaram para cá.

Quantas pessoas mais ficaram feridas?

Muitas, dos dois lados, mas o melhor foi que como gravavam tudo, puderam prender o que os esfaqueou. 

O filho da puta, é meu companheiro de classe, vive na farra, é filho de um deputado, com certeza não lhe acontecera nada.

Está preso, pelo que soube, dois dias seguidos abusaram dele, para ele saber que é viado.

Pelo que levantaram a pouco tempo atrás atacou uma garota, porque não queria fazer sexo com ele.

Agora chovem denuncias contra todos eles. Não creio que o papai o consiga livrar, pois atacou um agente do FBI, meu companheiro, que quase morreu.

Quando Marc despertou, viu o Brandon perto dele, sorriu, os médicos tiraram os tubos, perguntou quantos dias estava ali.

Quase uma semana.

Preciso tomar meus remédios.

Não se preocupe, uma pessoa da tua associação, nos passou, o estamos administrando por via venosa.  Seguimos todo seu protocolo.  Viu que eu estava na outra cama, que te passou Jerry.

Nem falei nada, quem comentou foi o Brando, esse rapaz, simplesmente voou do andar de cima, através da aranha de iluminação para te defender no palco, o mesmo que te atacou, atacou a ele, bem com a mim, feriu também meu amigo.

Este ainda está em coma, pois tem uma ferida muito grave na cabeça, mas por sorte conseguimos chamar o xerife, que entrou na universidade com toda a força policial.

Depois Jerry lhe contou o de seu pai. 

Marc, soltou, filho da puta, não vai mudar nunca.  Mas desta vez, os dois vamos fuder com ele.

Já posso receber toda nossa herança, ele vai se ver mal.

Agora as duas camas estavam juntas, ficava segurando a mão do irmão. Não quero estar longe de ti, se ser assim te faz feliz, a mim também.

Brandon, agora passava uma parte do dia, no quarto do companheiro, tempos depois, se sentavam os quatro nas cadeiras de rodas numa sala.

Viram uma entrevista de seu pai, usando isso para fazer campanha, Brandon disse que conhecia a repórter.

Diga a ela, que venha aqui, que vamos acabar com esse filho da puta, telefonou para o advogado, esse veio com uma conversa mole, Brandon chamou um conhecido seu que era advogado, tinha estudado com eles.

Mandou recolher tudo do outro advogado, bem como pedir uma ordem para expulsar seu pai da mansão da sua mãe, bem como avaliar, colocar tudo a venda.  Que tudo fosse para a conta dos dois.

Na entrevistas, Marc, se maquilou bem, usou uma peruca que uma enfermeira lhe emprestou, estavam os dois lado a lado, a policia tinha descoberto, quem estava por detrás disso tudo, seu pai tinha incentivado, sem saber que era ele, para se apoiar nos direitos dos homens brancos.

Não sabia que quem fazia a palestra, era seu filho transexual.

A entrevista foi uma bomba, de estar por cima nas pesquisas, foi para o último lugar, tentou falar com eles, mas se negaram.

Dois dias depois viram pela televisão, a policia o expulsando da casa, ele reclamando como sempre.

Quando os dois ficaram bem, Jerry disse que ia trancar matricula na universidade, iria com ele para San Francisco, para estudar arte como queria.  Agora os dois tinham posse do dinheiro de sua mãe, bem como da venda da casa.

Descobriram que o velho tinha vendido alguns quadros de valor, entraram com uma ação contra ele.   Mas desapareceu do mapa, por dever dinheiro a muita gente.

Marc dizia que merecia isso, pelo que tinha feito com sua mãe, bem como com eles.

Brandon, disse que não queria perder contato.

Estiveram os dois conversando muitas vezes sozinhos.  Dizia que tinha que se acostumar a isso, saber que o homem que ele amava, agora era uma mulher, embora isso não importava muito. Por duas vezes, os pegou se beijando.

Ele agora tinha amizade com Mitsuo, o outro agente, lhe disse que tinha uma tia em San Francisco professora da escola de belas artes, que ensinava sumi-e.  Se despediu dizendo já nos veremos.

Pela primeira vez, Jerry se sentia atraído por uma pessoa tão diferente, as conversas deles era interessante, nada tinha a ver com seus companheiros de classe.

Marc lhe contou que tinha mudado de curso também, que tinha deixado direito, acabei fazendo psicologia, assim ajudo o pessoal.  Trabalho no consultório da associação.

Bem como atendo numa parte da minha casa.

Podes ficar lá comigo, uso o antigo escritório da mesma como consultório, no andar de cima tem dois quartos, um montei pesando em ti.

No avião, quando embarcaram, muita gente pensou que eram namorados, pois os dois iam sentados de mãos dadas.

Jerry adorou a casa, se instalou.  Foi procurar a professora, tia do Mitsuo, para lhe orientar, como agora era época de férias, começou a fazer aulas particulares com ela.

Pelo menos ainda não precisava de um studio.  Podia alugar, um espaço na casa ao lado que tinha uma extensão, ali tinha sido studio do pai da senhora que vivia ali.

Os cabelos de Marc, já estavam grandes outra vez.

Brandon tinha aparecido duas vezes, estava trabalhando em Los Angeles.

Marc contou para ele depois, o que tinha acontecido, depois de tanto tempo, pensei que tinha me esquecido.

A primeira noite, passamos os dois deitados lado a lado conversando, ele estranha que eu seja uma mulher, mas da segunda vez, eu já posso fazer sexo, então fizemos, foi fantástico.

Ele alucinou, bem como eu. Lhe ensinei como devia fazer para me dar prazer.

Ele tinha aproveitado para perguntar pelo seu amigo, diga a ele, que estou fazendo curso com sua tia, que quando apareça por aqui, venha nos visitar.

Brandon tinha conhecido o pessoal da associação, arrumou um emprego de advogado da mesma, saiu do FBI, agora vivia com eles, Marc era feliz,

Aquela coisa se a pessoa que adoras, é feliz, tu também é.

Já fazia aulas, pintava bem, estava colocando para fora tudo o que tinha guardado dentro de si.