Meu nome, não sei
por que é esse ALL, meu sobrenome White D’Ville, mas ninguém nunca diz meu
sobrenome, sempre me chamaram de All desde que nasci.
Sou filho de uma
negra, com olhos verdes, linda de morrer, tinha estudado música em Juilliard School,
cantava Jazz, mas também dava aulas, era uma mulher especial. Foi para Paris, para fazer uma série de
shows, foi ficando, conheceu meu pai, que era um dos músicos que a
acompanhavam, Jean D’Ville. Ele queria
fazer sexo com ela, mas ela tinha um apego incrível a sua religião. Era Judia, a primeira vez que entrou numa
sinagoga em Paris, todo mundo olhava achando estranho. Teve que explicar, que seu bisavô era um
escravo, seu patrão era judeu, lhe ensinou tudo sobre sua religião, inclusive
falar hebreu, a fé dele era tão grande, que o patrão lhe deu a liberdade, ele
ficou ali trabalhando, cuidando de seus irmãos.
Nenhum outro
descendente mudou de religião.
Portanto ela lhe
dizia que apesar de ser cantora, era virgem, que só teria relações depois que
se casasse. Ele estava tão louco por ela
que a pediu em casamento. O fez sentar-se,
lhe disse que se ele estava disposto a ter um filho mestiço, que as probabilidades
que eu nascesse negro eram muitas. Ele
disse que não se importava.
Ela ficou com uma
barriga imensa, nasci num dia nublado, com relâmpagos, trovões, um escândalo, o
mesmo fui ao nascer, era banco com os olhos, azuis quase transparente. O médico entendeu, eu era albino, meus poucos
cabelos eram brancos.
Meu pai levou um
susto, que aquele menino tivesse já os olhos definidos, que o olhavam com
curiosidade, isso lhe incomodava muito, além do tamanho, tiveram que fazer uma
cessaria, pois pesava quase cinco quilos, era muito grande.
Para surpresa de
todos, era um garoto calmo, quase não chorava, quando mamava, fazia carinho no
rosto de minha mãe, era como se quisesse transmitir consolação.
Me amou com todo
coração desde o momento que me viu. O
médico lhe alertou de mil coisas, que eu não devia nunca ficar exposto ao sol,
que me tapasse os olhos com uma tela muito fina.
Um belo dia meu,
pai que se sentia horrorizado, não sabia explicar por que, sentou-se ao meu
lado na cama, pensou esse garoto vai ser massacrado no mundo, tentou me matar,
quando colocou as mãos no meu pescoço, foi jogado ao outro lado do quarto,
aonde ficou chorando como um bezerro desmamado.
O susto foi tão
grande, que acabou confessando a minha mãe o que pretendia fazer, não quero que
seja o Alzheimer de todos, a mim já me fazem mil gozações. Minha mãe o colocou para fora de casa, como
podia pensar em matar seu filho.
Ela seguia as
ordens restritas do médico. Eu fui
precoce em tudo, comecei a andar, falar, nem tinha dois anos, mas nunca falei
como as outras crianças, tinha um vocabulário imenso, em inglês que ela falava
comigo, bem como em francês, que falava a minha avó, que ficou horrorizada com
o filho, foi viver com minha mãe, para que essa pudesse trabalhar.
Com quatro anos,
um dia minha mãe, chegou em casa, ficou rindo, me vendo conversar com minha
avó, argumentando com ele sobre um assunto.
Ela encarava isso
normalmente, pois como passava o dia inteiro comigo, falava o tempo todo.
Quando saia
comigo, eram sobre estritas proteção. Eu
adorava os dias nublados, pois ficava mais livre, mas claro as outras crianças
da minha idade não se aproximava, as mães tinham horror a mim, como se fosse
uma coisa contagiosa.
Eu devo ter
ficado a princípio desapontado, mas Nana, como a chamava, me explicava que eu
era especial, que tinham era inveja de mim.
Tinha sido
professora, me ensinou a ler, escrever antes do tempo. Quando fui para a escola, foi um horror, mas
para surpresa geral, me levava ao parque, me ensinava a me defender, quem olhava
pensava que estávamos fazendo ginastica, me mostrou como usar os punhos,
truques baixos, como ponta pé no saco, ou enfiar dedo nos olhos.
O diretor a
chamou um dia, saiu fudido do encontro, ela o desmoralizou na frente de todo
mundo, por não ter nenhum vigilante no pátio.
Eu tinha dado um ponta pé no saco de um idiota que me molestava. O obrigou a ter vigilante, se a chamasse
outra vez por alguma coisa, o ia denunciar.
Nunca mais aconteceu nada.
Mas claro, eu
sentava na primeira mesa da sala, sozinho, ninguém queria sentar comigo, como
se eu tivesse uma doença contagiosa.
Ela me explicou
de duas maneiras, uma porque eu era assim, outra cientificamente, não eres
diferente de ninguém, apenas te faltam melamina.
Talvez por isso,
fui o melhor aluno da escola, quando acabei, estava para entrar para a
universidade com 15 anos, me alertou, vais ter a inveja de muita gente, se as
crianças eram más, agora terás que saber te defender direito, me colocou numa
aula de Karatê.
No segundo dia de
aula, um idiota se atreveu, os amigos só o viram voando, mas eu não tinha feito
nada, tinha sido o negro que sempre estava comigo.
Me disse que
procurasse classe de Yoruba. Eu estava fazendo linguística, como falava dois
idiomas era fácil aprender outros, aprendi a melhorar meu Hebreu, agora na
sinagoga, falava melhor que os outros. Mas fiz o que o homem tinha dito, me
surpreendi, encontrei um professor desanimado, iam cancelar sua aula, mas no
momento que me inscrevi, sem saber como apareceram mais alunos.
De desanimado,
ficou como um louco, virou-se para mim, apontou para o meu lado, disse foi ele
com certeza. Me destaquei logo do
princípio. Era uma língua mais falada
que escrita, existiam mil mutações da mesma, quando explicou que era a língua
do IFA, a maioria nem sabia o que era.
Eu tinha uma
coisa que não entendia, bastava olhar uma pessoa, sabia que estava mentindo,
meu pai quando apareceu depois de tanto tempo, estava mais velho, mas ao me
ver, com óculos escuros, mesmo sendo noite, dentro de casa, minha mãe, lhe
explicou que era para me proteger.
Ele levou foi uma
bronca de sua mãe, que estava já com bastante idade. Foi ela que o escorraçou,
sai daqui filho e pai desnaturado, não precisamos de ti. Minha avó tinha sido funcionária pública,
tinha uma aposentadoria boa, era ela que ajudava em casa.
O foi empurrando
porta afora. Ele tinha ido para pedir
dinheiro emprestado. Ela soltou, que nunca devolves, porque acha que é meu
filho, fora daqui vagabundo.
Quando terminei o
curso, o professor, ia para a Nigeria, perguntou se queria ir junto.
Dormindo sonhei
com o homem negro, era um velho, mas muito velho, me disse que eu tinha que ir
para aprender tudo que necessitava para meu futuro. Mas que esperasse um pouco, pois minha avó
ia falecer, necessitava que alguém rezasse o Kadish para ela.
Dois dias depois
como não se levantava, minha mãe, a foi chamar, estava morta. A enterramos no rito judaico, ela tinha se
convertido, principalmente por minha causa.
Nunca tinha seguido religião nenhuma, mas adorava discutir comigo as
coisas em hebreu, que aprendeu para debatermos as coisas. Minha mãe tinha acabado a adorando, chorava
desconsolada, tinha perdido uma amiga, uma alma gêmea com a sua, me dizia,
devia ter-me casado com ela.
Quando falou com
meu pai, este estava na Alemanha outra vez, tinha outra família lá, disse que
não podia ir, pois tinha shows. Mas
para surpresa de minha mãe, a quantidade de gente que tinha no enterro era
imensa. Principalmente as amigas que tinha feito na sinagoga. Eu muito serio rezei o Kadish para ela.
O duro foi
convencer minha mãe, que iria para a Nigéria, ficou com muito medo, me alertou
para o fato de ser albino. Mas eu tinha
dois metros de altura, bem como era forte, as pessoas quando ia fazer
ginastica, ou correr, ficavam horrorizadas, eu era tão banco, que se viam todas
as veias do meu corpo. Além de correr como um médico me tinha ensinado, com uma
espécie de venda nos olhos, escura, mas que me deixava ver tudo.
Já não tinha
quase cabelos, então aprendi, a raspar minha cabeça com uma navalha. Me sentia
mais limpo assim. O resto do corpo era
igual, não tinha pelo nenhum, inclusive nas parte intimas como dizia minha avó.
Fui tirar o
passaporte além do visto correspondente, o professor foi junto, o adido
cultural, ficou me olhando, me disse, sabes do perigo que te enfrentas.
Sim eu tinha
consciência, sabia que em certos lugares, os meninos que eram albinos, eram
considerados como malditos, imaginem um homem de dois metros de altura.
Me fez comprar
dois trajes de roupas de linho branco, numa loja que le conhecia, assim estarás
melhor, saímos de Paris, nevava, lá fazia calor.
Me levou a sua
casa, que era humilde. No dia seguinte,
comecei a ir a reuniões, com eles, com pessoas que estudavam o Yoruba, primeiro
me olhava, depois se relaxavam quando eu começava a falar como eles.
Dois anos depois,
sonhei com o homem, me disse que me esperava, que tudo que eu precisava era um
taparabos, que tinha aprendido a usar, um cajado, nada mais. O professor me levou até uma parte do
caminho, a partir daí, me disse, aqui é perigoso, cuidado.
Mas desci do
carro, caminharia somente de noite, pois o sol era muito forte, imaginem um
homem de dois metros de altura, com um cajado, de taparabos, parecia um
fantasma, as poucas pessoas que encontrava, saiam correndo, levava um cantil,
para água, já estava acostumado as águas dos riachos, bem como a comida de
lá. Adorava algumas raízes, como o
pessoal costumava comer por lá.
Fui caminhando,
sentia a presença do velho me fazendo companhia, depois de muitos dias, em que
íamos rezando em Yoruba, chegamos a uma montanha. Agora te toca subir, aconselho a fazer de
dia.
Quando cheguei no
alto, lá estava ele me esperando. Não
saberia dizer sua idade, indefinida, uma vez lhe perguntei, me disse que não
sabia.
Me esperava com
um concha de água fresca na mão.
Nos sentamos numa
pedra, começou seus ensinamentos, achei estranho, a montanha tinha como umas
lombadas, que se viam que não eram naturais, me disse que tudo ao seu devido
momento.
Começou a me
ensinar um outro tipo de Yoruba, um ancestral.
Me lamentei, não ter trazido nenhum papel, nem lápis para escrever, me
disse que sem problemas, tudo ficaria na minha cabeça, a tens grande para
alguma coisa. Realmente me diziam que
tinha a cabeça muito grande, reparei que a sua também.
Perdi a noção do
tempo, não sei quantos anos se passaram, só iria descobrir quando fosse embora.
Comia como ele, ervas
que coletávamos, bem como raízes, cascaras de árvores, ele dizia que
antigamente se comia assim, nunca matava nenhum animal para aproveitar a carne,
ao contrário, os animais se aproximavam quando tinham alguma ferida, para que
ele curasse. Um dia estávamos sentados, apareceu um Leão, ele me disse, que me
concentrasse, que escutasse o animal, nunca poderei explicar isso, mas entrei
na cabeça do animal, que falava comigo, tinha pisado num terreno, aonde tinha
um espinheiro escondido baixo terra, tinha infeccionado a pata.
Com muito
cuidado, me ensinou a tirar os espinhos, a fazer um tratamento a base de ervas,
o leão ficou conosco semanas.
As vezes subia a
montanha alguma pessoa, principalmente os velhos em busca de uma cura, se
espantavam comigo, ele ria dizendo a pessoa, que eu era um fantasma, que tinha
vindo o ajudar, me fazia encostar a cabeça na da pessoa, ou segurar sua mão,
para assim percorrer o corpo da mesma, até encontrar aonde estava o mal, sem
falar comigo, ia me explicando aonde estava o problema. O que teria que fazer.
Acabei virando um
especialista, nisso, algumas já me procuravam a mim.
Ele ria, dizendo
que eu na verdade tinha mais poder do que ele, pois tinha no meu corpo, na
minha mente, várias gerações de homem dedicados a sanar.
Eu nunca discutia
com ele a respeito, apenas não entendia.
Um dia me disse que íamos nos retirar durante alguns dias, para meditar. Quase soltei, mas se vivemos fazendo isso.
Me fez aproximar
dos montes que eu sempre me perguntava o que eram. Me disse para bater com o
punho fechado, o som era oco.
Entramos pela
floresta afora, até alcançar o topo da montanha, isso para mim agora era fácil,
não tinha nem uma grama de gordura no corpo, era como um guru desses indianos,
pele e osso.
Quando chegamos
na parte alta, separou uma mata que cobria a entrada de uma gruta, ao contrário
agora, começamos a descer por dentro dela.
Chegamos a um
salão aonde caia água do alto, nos lavamos muito, nos sentamos ali,
concentrados, logo se junto a nós vários espíritos. Alguns levavam roupas que eu nunca tinha
visto, umas simples, outras de uma riqueza profunda.
Se não fosse que
não falávamos, eu poderia dizer que estava de boca aberta.
Fui então
convidado a acompanhar por épocas, eram todos os ancestrais de uma raça, que já
não existia a muito tempo, meu bisavô era considerado o último da linhagem,
pois a partir dele, só houve mulheres, até chegar a mim.
O primeiro, um
homem alto, com uma roupa simples de guerreiro, me disse que era o primeiro,
segurou minha mão, senti que meu corpo parecia entrar em pausa, que minha
respiração era mais leve, sai do meu corpo, acompanhei esse homem, junto com
meu mentor.
Levei muito tempo
com ele, me explicando coisas de sua época, foi assim com todos eles, não posso
explicar a noção de tempo, pois para eles, o tempo não existia.
O velho, era o
guardião de tudo isso, me disse que quando eu estivesse pronto, eu seria o
próximo guardião. Lhe disse que era uma
responsabilidade imensa.
Ele riu, voltaras
a civilização, mas cada dia do resto de tua vida, fora, sentiras necessidade de
voltar, apenas iras, cumprir algumas coisas, voltaras.
Tinha aprendido a
não discutir nada.
Antes de ir para
o interior, tinha me despedido de minha mãe, dizendo que não saberia quanto
tempo estaria fora.
Quando cheguei a
entrar na última tumba, era de uma riqueza impressionante, tudo era ouro,
pedras preciosas, seu tocado era ornamentado de plumas, ouro, rubis. Me disse que representava Olorum.
Com esse passei
mais tempo para entender que toda essa riqueza tinha terminado com nossa raça,
a ganancia, as brigas pelo poder, levaram a extinção da raça, que de
dominadores, passaram a serem escravos.
Quando isso
acabou, imaginei que tudo estava em minha cabeça, descansamos, só tinha tomado
um pouco de água, mas meu corpo estava tépido. Então como uma avalancha, fui desde
o primeiro ancestral meu, até chegar a mim, como uma história descomprimida, a
força.
O velho na
verdade era um parente meu. Ele nem
sabia quanto tempo estava ali.
Saímos, no
sentamos no alto da montanha que parecia ter sido cortada por uma faca de plana
que era, recolhemos, frutos, raízes, comemos, depois ficamos dormindo.
Sonhei o que
vinha pela frente, íamos ser atacados por um bando chefiado por um homem alto,
todos mulçumanos, que queria destruir, o que representávamos, para nos abolir
da face da terra. Em minha cabeça vinha
tudo como eu devia fazer.
Voltamos ao lugar
adonde vivíamos, a simples choupana, que na verdade só nos abrigava na época da
chuvas, aonde o velho guardava, uma bolsa de metal, com pequenas mostras de
ervas próprias para curar enfermidades.
Lhe perguntei
quanto tempo tinhas estado fora, ele sorriu, me disse na minha cabeça, pelo
menos um ano, do tempo dos mortais. Eu
tinha aprendido, a colocar o meu corpo em stand-by, com a pulsação mais lenta,
se alguém me examinasse, me daria por morto.
Um dia, escutamos
um ruido que me parecia impressionante, era como um batalhão imenso que subia a
montanha, seguidos por esse homem, ele ia a frente, com roupas largas de
árabes, mas era negro.
Nenhum dos dois
nos mexemos, estávamos na verdade com os olhos fechados, ele gritou que queria
saber aonde era entrada da gruta, pois queriam o ouro que estava ali, para
fazerem uma guerra santa.
Como não nos
mexíamos, avançou com um facão imenso, se via que estava muito afiado, pois
cortou a rama de árvore por cima das nossas cabeças, ele não esperava o que
aconteceu, sem mover-me entrei no seu corpo, fui tirando toda sua roupa,
mostrei aos homens, que ele não era negro, sim moreno, com o corpo muito peludo
de um árabe, passava uma tinta até os joelhos, bem como nos braços, na cara, o
resto era branco, os está ensinado o que ele quer, falava com os homens na sua
cabeça, alguns era o velho que falava, não viam nenhum dos dois se mexerem,
quando um deles levantou uma metralhadora que tinha, o velho entrou no seu
corpo, o fez, gastar todos os cartuxos, atirando para cima, os outros se
jogaram no chão, ele fez o mesmo, foi tirando a roupa do mesmo, para que vissem
que não era um negro como eles, a ideia deles, era fazer com que os negros
brigassem entre sim, para explorarem as riquezas da região, os fizemos todos se
sentarem, usamos sua voz, para os obrigarem a contar a verdade.
Quando saímos dos
corpos, caíram para o lado, me levantei em toda minha altura, os homens se
impressionavam pela minha brancura, em que as veias do corpo inteiro apareciam,
bem como a sensação que tinham, era que meu corpo estava cheio de serpentes.
Agora levem esses
dois, a cada vila, a cada lugar que estiveram antes, peçam desculpas pelo que
fizeram orientados pelos mesmo, os levem até a fronteira aonde está a tribo
deles, os coloquem empalados, de corpo inteiro, para saber que não devem entrar
na terra do IFA, aqui mandam os Orixás, não esses malditos.
Os dois tremiam
como vara verde. Tudo o que dizem do Coran, é mentira, Alah, nunca disse tal
coisa, de irmão matar irmão, por causa da religião, como se a sua fosse á
única. Pois eles também acreditavam no
messias que se chamava Jesus. Não os
deixem enganar, nem esses, ou nenhum outro que venha predicando que a sua é a
única.
Os homens se
prostaram, mas foi como se levassem um chute na bunda, jamais se prostem ante
nenhum homem. Somos todos iguais.
Desceram a
montanha com os dois homens, nus, aonde agora apareciam mais as partes negras
do corpo, jamais poderiam retirar isso.
O velho me olhou,
eres melhor do que eu poderia sequer imaginar.
Agora deves voltar ao teu mundo, escrever sobre isso, mas jamais
mencione as tumbas, pois em seguida viriam mercenários para saqueá-las.
Mesmo assim levei
um tempo, até que sonhei com minha mãe, que chorava pensando que eu tinha
morrido. Estava muito mais velha.
Concordei em me
colocar em marcha. Eu te aviso, quando
chegue meu tempo, para que voltes para ocupar meu lugar. Nos despedimos, numa noite em volta de uma
pequena fogueira, chorando, pois eu tinha encontrado meu lugar.
Recolhi a roupa
dos homens, para minha surpresa, enquanto os outros usavam farrapos, os dois
usavam roupas de linho boa, bem como uma capa de lã que os protegia do frio.
Isso me será
útil, para quando volte.
Deixei as roupas
de molho, no riacho que passava perto, até que estivesse retirado todo o
cheiro, a sujeira desses homens, eles cheiravam mal.
Nessa noite, de
novo o velho jogou umas pedras, me disse só para saber o que não podes ver.
Os homens já
tinha chegado à fronteira, vimos os dois árabes empalados, com as pernas, os
braços e a cabeça negra.
A raiva do que
comandava tudo, do meu corpo saiu o espirito, que voou até lá, entrei no corpo
desse homem, contei todas as mentiras que ele usava, para convence-los, os fiz
trazer um corão, fui mostrando aos seus seguidores, aonde estavam as mentiras
usadas.
Ele acabou
babando de ódio, ali empalado com seus dois homens.
Fiquei exausto
uns dois dias, use teu poder, para curar as pessoas, pois com isso, podes
chegar até aonde esta o mal, no corpo de outra pessoa, retirar o mesmo. Mas não deixe nunca que façam propaganda
desse teu poder, pois estarás preso a cobiça alheia.
Quando veja que
querem te explorar, desapareça, para que esse pessoa fique sendo chamada de
mentirosa.
Me limpei, vesti
as roupas limpas, as outras coloquei num pedaço de pano que fiz uma trouxa,
peguei o meu cajado, fui embora, sem olhar para trás, não precisava, uma parte
dele ia comigo.
Não sei quantos
dias andei, agora o fazia de dia, com uma faixa de pano escuro sobre os olhos,
nunca mais usaria óculos escuro, agora tinha o poder de controlar a luz perto
de mim.
A faixa era
somente para não me distrair com o que via pelo caminho.
Para muitos
passava por um cego.
Quando cheguei a
casa do professor, vi que tinha os cabelos brancos, me disse que tinha pensado
que eu tinha morrido.
Homem de pouca
fé, eu disse que voltava. Perguntei
quantos anos tinha estado ausente, riu me disse, 15 anos. Pois a mim me pareciam dias, quanto muito
meses.
Retirei o meu
dinheiro no banco, recuperei meu passaporte, ele me levou ao aeroporto, no
controle, quiseram reclamar que eu tinha passado mais tempo que me permitia o
meu visado, retirei a minha venda, olhei aos olhos do homem que reclamava,
engoliu em seco, só me disse boa viagem, volte em breve. Eu lhe respondi, visite um médico, tens um
problema nos rins.
O fiz sair de
aonde estava, coloquei a mão sobre ele, por dentro de sua calça começaram a
cair pequenas pedras negras, lhe disso, isto estava dentro de ti.
Virei as costas,
com as pessoas olhando espantadas, coloquei a venda outra vez.
Ao entrar no
avião, uma moça me disse que não poderia entrar com meu cajado, ao estender
para ela, ficou aterrada, disse que via uma serpente, me disse passe por favor.
Mais tarde veio
me dizer, como as pessoas olhavam muito, que eu passasse para primeira classe,
pois as estava assustando.
Fazia muito anos,
que não sentava em um lugar tão macio, lhe disse a ela que podia me acostumar.
Quando cheguei a
Paris, no controle, me disseram, deram o senhor como morto, sorri, lhe
respondi, estou mais velho, mas vivo.
Só levava comigo,
a mesma mochila com a que tinha embarcado, com roupas de linho branco, me
vestia com a roupa do árabe, com uma capa de lã, ia de sandálias que tinha
comprado no mercado, atravessada no meu corpo, a bolsa de metal que o velho
tinha feito para mim, cheia de desenhos ancestrais, com de pequenos troços de
ervas medicinais, nada mais.
Quando entrei num
taxi, dei a direção da casa de minha mãe, falar francês, para mim era como
recuperar uma coisa antiga. Quando
cheguei estendi ao motorista, que estranhava a faixa que usava sobre os olhos,
deve ter pensado ele é cego, a primeira tentativa de enrolar o caminho, lhe
perguntei se faria isso com seu pai, engana-lo com o caminho.
Ficou assustado,
tirei a venda, quando viu meus olhos brancos, sentiu um frio no corpo, fui
falando de toda sua vida passada, o que tinha feito, as coisas boas, erradas,
disse que tinha chegado o momento de se emendar, dar uma boa vida a sua família. Amanhã, o senhor vai trazer seu filho
pequeno até o endereço que vai me deixar, ele precisa de ajuda. Não se atreva a pensar que me engana, lhe
disse a direção aonde morava.
No final, só me
perguntou como sabia isso tudo dele.
Eu não sabia, foi
o senhor mesmo que me contou.
Minha mãe quando
me viu, se jogou com os braços em volta da minha cintura, parecia estar mais
pequena, pude sentir tudo o que tinha.
Queria sair para
comer, lhe disse que ficasse calma. Como
lhe explicar que eu já não comia inclusive comida kasher. Tomei sim o copo de água, vi que ela tinha
dores, coloquei uma pequena semente que tinha na minha bolsa que ela examinava sem
parar com curiosidade, rezei em cima do copo, a agua ficou negra, lhe dei para
tomar. Daqui a instantes a senhora vai
sentir necessidade de urinar, não se assuste, vai sair um sangue negro, que é
um dos males que aflige.
Veio depois o
mais depressa possível para a cozinha, pois se sentia melhor revigorada.
Perguntei se hoje
era o dia do mercado de Belleville, precisava comprar comida, abriu a
geladeira, só de sentir o cheiro da carne, me virou o estomago, disse que não
comia mais nada disso.
Quando me viu
colocar o troço de pano, nos olhos, me perguntou se a luz ainda me incomodava.
Eu já não tenho
esse problema, coloco para não ver a alma, nem os problemas, que não me tocam
resolver. Mostrei o dinheiro que tinha,
ela riu muito, disse que já não valiam nada, vou contigo, me sinto muito
melhor.
Achava interessante
que eu quando andava usava o cajado que parecia fazer parte do meu corpo.
Tomamos um taxi,
o homem olhava espantado para mim.
Descemos no
mercado, tinha nevado nessa parte da cidade, as pessoas me olhavam com as
sandálias, mas aonde pisava a neve derretia.
Fui as barracas
certas, comprando o que estava acostumado a comer, raízes, legumes antigos da
velha África, uma senhora que me atendia, me disse, como vais fazer meu pai,
agora que o cheiro da carne, do que se come aqui, lhe cheira mal, se o senhor
quiser, tenho tudo isso plantando nos fundos da minha casa.
Eu lhe disse, o
seu filho com a perna torcida, podia me levar, bem como venha com ele, que
precisas um pouco de paz. Quis beijar
minha mão, mas não permiti, minha mãe estava assustada. Depois comprei uma coisas, numa barrada de
um homem árabe, falei em sua língua com ele. Mais adiante topei com um homem hebreu, que
falava uma serie de asneiras com um livro na mão.
Parei ao seu
lado, disse baixinho para ele, nunca se deve falar o que não se entende, por
isso, estarás mudo, até que eu volte aqui.
Abriu seus olhos, como se estivesse vendo o demônio, mas de sua boca não
saia som nenhum. Leia atentamente esse
livro, vá a uma sinagoga, peça que lhe expliquem realmente o que quer dizer.
No taxi de volta,
minha mãe me disse que não podia ficar andando com essa roupa por aí, tampouco
de sandálias, pois fazia muito frio.
Lhe expliquei que
talvez tivesse razão, mas tinha andado tanto tempo descalço, que seria difícil
me acostumar com um sapato.
O motorista,
virou-se para trás, me disse, meu filho, fabrica sapatos especiais, para
retornados da guerra, quem sabe não pode fazer algo pelo senhor.
Ele precisa de
mais coisas do que eu, mande que me procure, sou All-Òsùmàrè.
Ele escreveu num
papel.
Minha mãe, me
perguntou quando descemos, que nome é esse?
Estás tão
diferente que nem sei o que pensar, meu filho se perdeu no mundo?
Não, me sentei
com ela na cozinha, enquanto preparava os legumes, lhe disse, seu filho agora,
tem todos seus ancestrais dentro dele.
Contei a história
anterior ao seu bisavô, de como ele tinha chegado a América, inclusive o nome
do barco, como ele tinha curado o capitão do navio, como tinha morrido,
convertido num rabino para sua raça, mas sem esquecer jamais de suas raízes.
Depois falei do
seu avô, de seu pai, todos eles descende de uma linha direta uns ancestrais
especiais, todos eles foram curandeiros, meu avô inclusive era médico.
Todos só tiveram
filhas, eu sou o primeiro homem dessa linhagem, portanto tenho minhas
obrigações com os ancestrais.
De tarde, a fiz
deitar, lhe dei um copo de água, vais sentires sensações estranhas, mas pense
que sou eu. Assim foi, fui retirando do
seu corpo todos os tumores que tinha, dois no peito, um no estomago.
O médico tinha
lhe dado poucos meses de vida, ela não queria morrer sem me ver mais uma vez.
Quando o médico
lhe perguntar, não diga nada, que apenas a senhora teve fé.
Depois dormiu a
noite inteira, no dia seguinte, mostrei para ela o que tinha dentro do corpo,
ficou horrorizada.
Me contou que meu
pai, agora vivia na cidade, que trouxe com ele, seus filhos, as vezes vem aqui
para me acompanhar ao médico. Hoje virá
pela tarde, tem um filho com problemas, o menino é autista, está sempre
agarrado com o pai, por causa da música, que é o único que lhe deixa relaxado.
Nesse dia, tomei
um banho de banheira que sempre tinha detestado, fiquei de molho na água me
repondo. Mesmo com tudo isso, sabia que
minha mãe, viveria somente mais alguns anos, que me tocaria a rezar o Kadish para
ela, me tocaria acertar a vida das pessoas que eu já tinha cruzando com alguém
da família, no caso os homens do taxi, bem como a mulher da feira.
Nessa tarde a
senhora da feira chamou, lhe disse que viesse no dia seguinte, que me
trouxesse, lhe dei uma lista de raízes que eu gostava de comer.
Minha mãe olhou o
que eu comia, até se atreveu a provar, não disse nada, nesse dia, distribuiu no
edifício o que tinha na geladeira.
De tarde quando
meu pai apareceu, com seu filho lhe segurando a mão, este quando me viu a soltou,
veio correndo me abraçar, começou a falar comigo.
Meu pai, não
entendia nada, ele nunca diz nenhuma palavra.
Porque talvez o
senhor não tenha ouvidos para escutar. O
menino falava comigo em Aramaico, minha mãe ria muito, cada dia me surpreende
mais.
Segurei sua
cabeça, entrei dentro dela, fui consertando tudo que estava emaranhado, dos
olhos do menino, corriam lagrimas de felicidade.
Lhe dei um copo
de água, lhe disse, quando chorares, há que tomar água para recompor teu
corpo.
Virou-se para
mim, pai te esperei tanto tempo, já tinha perdido as esperanças.
Virei para minha
mãe, lhe disse, esse é o teu bisavó.
Meu pai como
sempre, soltou, deixa de besteira, é o meu filho.
O Hans como se chamava,
lhe respondeu num francês perfeito, foste apenas o caminho mais curto para
chegar a ele, nada mais que isso.
Para quem nunca
falava, ele dizia o necessário. Esta
música que estas compondo, lhe falta vida, amor, compreensão. Meu pai sempre
andava com seu sax embaixo do braço, Hans, foi até a caixa, abriu, tocou a
música, o velho olhava de boca aberta.
Lhe disse
claramente, feche essa boca, jamais diga a ninguém o que viste, ou o que
aconteceu, nada de comentar com ninguém, porque no que o faças, ficaras mudo. Ia falar algo, mas fiz um movimento, ficou
mudo, tentava falar, mas não saia nada.
Minha mãe, bem
como o Hans riam muito, ele disse, fala demais, vive se vangloriando para os
outros, um mal pai para meus irmãos.
Lhe disse ao
Hans, teu irmão mais velho anda na droga, quando chegares em casa, segure a sua
mão, falei ao seu ouvido o que ele devia dizer, verás sair dele uma nuvem
negra, que é o que lhe atormenta.
Deverás vir todos os dias as seis da tarde, para conversar comigo. Ele fez que sim, agora, não preciso mais dele
para caminhar pela minha vida.
Meu pai,
continuava tentando falar, de castigo, ficarás uma semana, para aprender a
falar menos, fazer mais. Aprenda a música com teu filho.
Escreveu num
papel, como ele pode tocar, se nem chegou nunca perto do instrumento.
Lhe respondi,
porque está em sua alma.
Na casa da minha
mãe, tinha o velho piano de minha avó, ele foi até lá, antes sequer de colocar
a mão, disse que tinha uma nota desafinada.
Minha mãe, disse
que fazia dias que esperava o afinador, pois usava o piano para dar aulas.
Era um desses de
cola, tamanho médio, ele levantou a tampa, com um diapasão, foi afinando o
piano inteiro, se sentou, tocou toda a música de seu pai, que chorava como uma
criança. Me abraçou pela primeira vez na vida, depois correu ao filho, era o
que ele mais gostava.
Mal sabia que
iria embora comigo.
Na sua cabeça, já
imaginava, que o levaria a tocar com o seu grupo, que iria recuperar o sucesso
antigo. Coloquei a mão na sua cabeça,
lhe dizendo quem nem imaginasse isso.
Estas falando
dentro de mim, lhe balancei a cabeça que sim.
Me perguntou aonde estiveste esse tempo todo. Mandei que fechasse os
olhos, lhe mostrei como vivia, bem como aonde.
Tinha sua boca
aberta.
Cada vez que
tente falar sobre isso, ficaras sem voz, assim não tem perigo que fales demais.
Ficaram até tarde
da noite, ele escreveu num papel, que sua mulher não entenderia se ele chegasse
em casa com o filho falando normalmente.
Hans, sorriu, ela
tem menos fé do que tu, pode deixar comigo.
Amanhã a seis
estarei aqui, se inclinou para mim, dizendo All-Òsùmàrè.
Tive que explicar
a minha mãe nessa noite, tinha que tirar a cama do meu quarto, que eu dormia no
chão. Acabei tendo que concordar com
ela, que se preocupava, dormir em cima de um edredom, estranhou mais ainda que
eu dormia com um taparabos nada mais.
No dia seguinte
de manhã, apareceu o homem do taxi, com o filho que fazia sapatos. O rapaz lhe
faltava uma perna, que tinha perdido na guerra, usava uma prótese.
Sem que ninguém
me dissesse nada, mandei o rapaz tirar as calças, quis argumentar que tinha
vindo para tirar medidas para me fazer uns sapatos,
Eu estava
descalços, ele acabou me obedecendo. Estava de muletas, pois o que sobrava de
sua perna, estava dando problemas. O
levei para o meu quarto, nos sentamos no chão, eu coloquei a mão na sua perna,
dela começou a sair uma coisa negra, enquanto não purgou tudo, ficou ali
quieto. Fique aqui tranquilo, sai,
levando toda essa merda na mão, a joguei no cagador, lhe dei descarga. Quem tinha feito o mal para o rapaz,
receberia de volta.
Fui para a
cozinha aonde minha mãe tomava um chá com o pai dele.
Perguntou como
estava seu filho.
Não respondi,
tirei uma noz de dentro de minha bolsa, triturei uma parte, menos mal que a
senhora tinha me falado que tinha mais.
Coloquei dentro
de um copo com água, segurei com as duas mãos, começou a ferver, o homem ficou
me olhando espantado, a água ficou vermelha, com a textura de sangue.
Fizeram menção de
me acompanhar, fiz sinal que não.
Quando entrei no
quarto o rapaz estava deitado, chorando, tinha entendido o que lhe tinha
acontecido. Lhe dei a água para beber.
Porque tem que
ser assim, as pessoas nunca entendem, quando fazes voto de castidade, antes de
ir para o Mali, em missão especial, ele tinha um namorado, os dois se amavam
muito.
Ele voltou sem
uma perna, com outros problemas, o outro não entendia que não quisesse mais
fazer sexo.
A partir de hoje
eres meu discípulo, a primeira coisa, terás que aprender a nunca falar no que
vês, tampouco o que sentes, não comente nada com teu pai, fala muito.
Fui até a
cozinha, pedi que fosse ao carro buscar a prótese de seu filho. Quando esse saiu do quarto, andava
normalmente.
Ai sim tirou
medida dos meus pés, já sabia o que tinha que fazer, sem que eu lhe tivesse
dito nada.
O homem perguntou
quanto me devia.
Nada, sou eu quem
deve, de me trazer essa maravilha de pessoa que é seu filho.
Amanhã as seis,
verdade me disse, sim.
Coloquei as mãos
sobre seus ombros, depois fiz um gesto com o dedo para o silencio, quando eles
saiam chegou o primeiro motorista com um garoto, completamente vesgo.
Tinha ao lado da
têmpora, um pequeno tumor.
Lhe disse a minha
mãe, que fizesse um café, enquanto falava com Nestor.
O homem me disse,
como sabes o nome dele?
Ele acaba de
dizer.
Entramos os dois
no quarto rindo.
Lhe disse que
tirasse a roupa, que se sentasse cómodo, na minha frente.
Foi a coisa mais
fácil, lhe disse que não se assustasse, nunca comentes o que vou fazer ok.
Ele concordou,
soltou, quem fala muito é meu pai, diz que fala porque esta todo o dia no taxi,
senão fica aborrecido.
Por isso não diga
nada, ele falara do que não sabe, mas em breve vai se esquecer que eu existo.
Mas primeiro vai
me trazer uma pessoa que necessita de ajuda também.
Lhe disse fiquei
olhando para meus olhos, tirei a venda, ficou com a boca aberta, pois eram
brancos, coloquei a mão direita na sua testa, com a esquerda, fui como se
tivesse uma chave de fenda, fui regulando seus olhos, até que ficaram
perfeitos, com a mão que estava dentro, fiz força para fora, expulsando de seu
corpo o tumor que tinha na lateral da cabeça. Ele pensou nunca mais vou ter dor
de cabeça.
Fui falando com
ele, mas na sua cabeça, a partir de agora poderás estudar direito, sua função
no mundo é ensinar a estudar crianças com síndrome de Down, as ajude a sair de
dentro de si mesma, venha com meus outros alunos, todos os dias as seis da
tarde.
Quando ele saiu,
o pai, não viu mais o tumor, além de que seus olhos eram perfeitos, começou a
chorar, queria beijar minha mão, mas não permiti. Seu filho tem um função no mundo, nunca se
atreva a dizer o que ele tem que fazer, ele já sabe. Será um excelente estudante a partir de
agora.
Não comente nada
nunca com ninguém, só lhe permito falar quando receber um aviso.
Agora todos os
dias, no seu quarto sem nada mais que eles, ensinava primeiro a respirar, a se
concentrar, não era o lugar ideal, mais era o que tinha a mão, quando tinha um
dia especial, os levava para algum lugar que tivesse árvores, para que
conhecessem seu interior. Os começou a
ensinar a comer como antigamente, raízes, legumes que lhes davam força,
concentração.
Seu irmão,
conseguiu levar adiante o irmão viciado em drogas, se sentia bem fazendo algo.
Mas dizia que seu
pai não entendia, porque estava de lado em tudo isso.
Um dia foi lhe
tomar satisfação, o fez se sentar dentro de um círculo, sem que ninguém
dissesse nada, começou a ver todos seus erros desde o princípio, quando
jovem. As mulheres de quem tinha
menosprezado, os enganos todos que tinha feito em cima de outra pessoa.
O horror que
tinha do filho albino que não conseguia aceitar, como o tinha pagado
inicialmente com o Hans, enfim, quando se despertou, estava horrorizado consigo
mesmo, pois sempre se colocava no papel de vítima. A falta de respeito com sua mãe, que tinha
assumido uma postura que ele não entendia, ficando como guardiã do All. Ter se
negado a vir ao seu enterro, alegando uma mentira.
Agora na verdade
terás que rezar muitos Kadish, por tua família. Não se referia aos filhos, mas
das mulheres que tinha abusado de uma maneira sutil.
Seu cometido era
agora se reaproximar delas, conseguir seu perdão, as acompanhar até seu
derradeiro adeus.
Cinco anos depois
a sua mãe morreu, foi um Kadish doloroso, porque em todo momento sabia que ia
partir. Agora chegava a hora dele ir
embora também, em contra a corrente, ele tinha atendido muita gente, que
aparecia do nada, para serem ajudadas.
Alertava sempre
que eles tinham obrigações, nunca se neguem atender alguém, mas antes
verifiquem qual o real problema.
Pois as vezes o problema são as próprias pessoas que não sabem se ajudar
primeiro a si mesmas, depois criam problemas que não existem, explicava a
diferença de tudo. Quando os procurarem por alguma coisa que não é um problema
real, como preciso de um emprego.
Não significa o
mesmo, preciso de um trabalho. As
pessoas querem sempre desfrutar, não pegar duro na vida.
Tinha ensinado
Yoruba, todos os matizes para eles, para jogarem, poderem saber profundamente
os problemas das pessoas. Mas só Hans
tinha o mesmo dom que ele, talvez transmitido através de gerações, o de sanar.
Mas mesmo assim
os levou por uma temporada com ele, para junto do velho, ali despojados de todo
conforto possível, dormindo no chão, sem nada mais que um taparabos, aprenderam
o muito que precisavam de uma dose imensa de humildade. Não poderiam nunca viver de pedir dinheiro
para alguma coisa. Perderiam seus dotes.
Quando Hans se
despediu do pai, sabia que nunca mais o voltaria a ver. Ele agora ia de enterro
em enterro rezando o Kadish, tinha voltado ao seio da religião que tinha
renegado a vida inteira, frequentava a sinagoga, mas não como mais um fiel, mas
como um encontro consigo mesmo.
Se despediu dos
dois filhos, os abraçando ao mesmo tempo, sabendo que nunca mais voltaria a vê-los.
No final só ficou
o Hans, os outros voltaram para seguirem seu caminho, cada um tinha um destino,
se comunicavam agora com All, pela mente, não importava a distância.
Quando estavam a
sós com o mentor, este finalmente faleceu, idade, nem imaginavam. Mas o levaram
para a grande caverna, aonde estavam os ancestrais. Ali Hans completou seu treinamento como dizia
o All.
Ainda ficou
muitos anos por ali, depois saiu pelas de aldeia em aldeia da França, sanando
em segredo muita gente, quando All fez mais de 100 anos ele voltou, para ocupar
seu lugar.
Ficou surpreso
quando chegou, pois agora, os olhos dele, tinha desaparecido completamente, era
apenas uma membrana branca, sem uma íris, mas era capaz de ver profundamente a
alma das pessoas que chegavam até a parte alta da montanha, vivia ainda na
mesma choupana do velho.
Durante muito
tempo, pois para eles a noção do tempo, nada tinha a ver com o dia, a noite, os
dias da semana, os meses. Seu dever era
honrar os ancestrais, a tribo que tinha perdido tudo, por ter se desviado do
seu caminho.
Hans tinha se
despojado de tudo, dizia que para ele não tinha sido difícil, a partir de que
ele não tinha nada até encontrar com o irmão mais velho.
Antes, deveria,
ir pelo mundo, para encontrar seu futuro substituto, em algum lugar perdido da
América. Deveria ir para o Brasil,
procurar essas pessoas, com os dons adormecidos.
All ficaria ali,
até ele voltar, meu tempo ainda não acabou, não se preocupe por mim. Deves ir
cumprir sua missão.
O adeus entre
eles não significava nada, pois estavam unidos pela mente.
Levaria alguns
anos até ele voltar, mas nada disso importava.
Na caverna, ele sonhou com as pessoas que ia buscar, que atravessavam
nesse momento, um problema por não confiar em si mesmo.
Quando desceu do
avião vindo da Nigeria no Rio de Janeiro, um professor de Yoruba, um grande
leitor do Ifá, o foi buscar.
Tinha lido no
jogo o que deveria fazer, acompanhar esse mestre, até encontrar seu objetivo,
além de aprender, saber usar mais profundamente seus dotes.
Hans o ensinou,
enquanto chegava o momento de ir ao encontro do rapaz que deveria ajudar.
Nesse meio tempo
o professor, tinha com ajuda dele, localizado um advogado, para livrar o rapaz
da prisão, pois o mesmo tinha sido preso em lugar de outra pessoa.
Dentro da prisão,
tinha passado miséria, sido abusado sexualmente por vários companheiros, vivia
basicamente em um metro quadrado.
Lá começou a
sonhar, com esse homem sempre vestido de branco, com os cabelos brancos
largos. Lhe dizia sempre respire fundo,
teu momento vai chegar Alípio dos Prazeres.
Ele as vezes
pensava que estava louco, ali no meio daquela cela, com vários criminosos, o
homem estava com ele, podia vê-lo, até praticamente toca-lo, não entendia que
estava tocando um espirito.
Mas lhe
confortava. Quando o levaram para falar
com um advogado, ele que nem tinha tido um julgamento correto. Se surpreendeu,
mas o homem disse, vás escutar a boa notícia.
Quando saiu,
sabia que sua família tinha acreditado piamente que era o culpado. Só estavam
ali, no meio de uma chuva torrencial do Rio de Janeiro, dois homens, um vestido
normalmente de branco, outro o homem com que ele sonhava, ao que via sempre.
Ficou parado
embaixo da chuva. Dali foi levado por
eles a um sitio em Araras, Hans lhe explicou tudo. Não acreditava, somente, quando sentiu a mão
do mesmo dentro dele, o limpando de todas suas magoas, é que entendeu, tudo que
tinha acontecido, era o principio de sua nova missão na vida. Depois de muito tempo vivendo ali, no meio
da Mata Atlântica, aprendendo a se alimentar como devia, encontrar junto com o
professor, o tempo necessário de cura de sua alma. Foi que os dois entenderam que estavam
ligados.
Nessas alturas
entre eles só falavam o Yoruba que o Hans tinha lhe ensinado, com os detalhes
de estalos de língua, sonidos que pareciam vir do interior. Quando os três fizeram uma viagem astral, se
encontraram com All. Sabiam que em breve deveriam ir.
Os dois na
verdade pertenciam a um ramo da família de descendentes de um escravo da Nigeria,
que antes tinha sido escravo de outros africanos. Como os outros, eram
finalmente os descendentes masculinos, nenhum dos dois tinha irmãos, só irmãs.
Voltaram ao Rio
de Janeiro, que a eles lhes parecia uma colmeia. Tiraram não sem certa dificuldade mas
resolvendo tudo através da mão do Hans, que sempre conseguia o que queria, não
só os passaportes, mas como autorização por tempo ilimitado.
Pela primeira
vez, levava dois, que jamais retornariam ao lugar aonde tinham vivido tanto
tempo.
Quando chegaram,
se puseram a caminhar, cada um buscando um cajado pelo caminho, que os
acompanharia até aonde estava quem os esperava.
Com grande
alegria, All reencontrou seu irmão, os outros dois ficaram espantado, aquele
homem era quase transparente, se podia ver o sangue que corria lentamente pelas
suas veias aparentemente azuis. Os
olhos, era uma lamina de um filme transparente. Mas viu a alma dos dois, a
busca para entender o mundo.
Iniciaram a
segunda etapa de seu aprendizado, como Hans, saber se mover em espirito para
ajudar aos outros, curar, alentar aos que chegavam até ali.
Os que vinham,
era por uma necessidade muito forte, diziam que tinha sido guiados, por alguma
força muito grande.
Agora o mundo que
corria como um louco, buscava desesperadamente uma escapatória espiritual. Pois uma grande peste caia sobre o mundo,
literalmente o mundo inteiro estava à deriva.
Ao longo do
tempo, se prepararam, aprenderam a preparar medicina a partir do que tinham ali
no meio da floresta, para sanar.
Não existia uma romaria,
como se poderia imaginar, as pessoas que vinham, era porque estavam escolhidas
para isso, eram levada a uma grande caverna do outro lado da montanha, que nada
tinha a ver com a que estava os ancestrais, mas de uma maneira o outra, estavam
ligadas a eles, por um vinculo muito forte.
Alguns chegavam na cima da montanha, mal podendo caminhar, ou eram
levadas em um burro, para que chegassem ao seu destino.
Eram deixadas
ali, os que levavam, acreditavam que as estava deixando ali para morrer, mas
não era isso que acontecia, se encontravam com sua essência ancestral, para
formar de novo uma nova tribo no meio da desaparição de uma nova ordem no
mundo. Era o renascer de uma nação que
tinha esquecido dos mandamentos primordiais de viver em comunhão com a terra
que habitavam.
Em muitos lugares
do mundo 80% da população tinha se extinguido, só restavam os que seguiam algum
mensageiro das antigas nações Ancestrais.
Ninguém sabia a
verdadeira idade o All, mas ele estava em plena função de ensinar seus novos
aprendizes a viver em comunhão com a natureza.
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