lunes, 13 de junio de 2022

HELLER

 

                                                  

 

Raymond, arrumava a casa depois do jantar da noite anterior, depois de mais de quinze anos fora de San Francisco, retornava à cidade que ele tinha vivido sua infância, adolescência, a primeira juventude, com 25 anos tinha ido para NYC, estudar, nunca mais tinha voltado, tinha sido até a pouco tempo advogado das Nações Unidas, era uma vida estressante, pois sempre havia algum problema com algum membro de qualquer delegação.

Os últimos anos da vida de seu pai, o tinha levado para lá, escutado a mesma reclamação todos os dias, quero voltar para minha casa, mas claro ele não podia estar em dois lugares ao mesmo tempo sendo que era muito distante.

Depois tinha o fato de seu irmão gêmeo David, os dois tinha sido separados, quando fizeram cinco anos de idade, seus pais se divorciaram de mútuo acordo, cada um ficou com um dos filhos.  Uma decisão pensada em Salomão.   O juiz foi contra, mas era vontade dos progenitores. Ele era mais agarrado ao pai, David ao contrário era agarrado a mãe, para eles parecia perfeito.

Nunca mais soube da mãe, seu pai lhe deu o valor do patrimônio que tinha, a casa familiar a gerações, bem como o valor de seu negócio.   Durante muitos anos não souberam dos dois, desapareceram no mundo.

Quando ele começou a trabalhar, volta e meia surgiam problemas, usurpação de identidade, por parte do irmão.  Conseguiu com um juiz, depois de ter ficado com sua conta a zero no banco, que sua conta num único banco, fosse controlada por dígitos, que ele trocava todas as semanas.   Uma semana depois de ter levado seu pai, soube que seu irmão se fazendo passar por ele tinha esvaziado a casa inteira, a deixado nua.

O único que tinha descoberto depois de todos esses anos, era que tinha sido expulso do exército, por conduta inapropriada, a muito custo, pese o secretismo do exército, descobriu que estava num grupo que roubava coisas no Iraque, obras de arte, etc.

Depois disso era como se houvesse desaparecido da face da terra.

Ele cuidou de seu pai até morrer, no final ele o confundia com David, falava com ele, como não entendesse quem ele era, pedia perdão pelo que tinha feito, um dia gravou isso, para quem sabe se encontrava o irmão mostrar, seu pai falando com ele.

As coisas más, as vezes tem seu lado positivo, por causa da doenças de seu pai, conheceu o que hoje era seu marido.  Tinham se casado cinco anos depois de terem se conhecido na consulta deste, quando levou seu pai.  Se encantaram um com o outro.

Ontem o jantar com alguns poucos amigos, tinha sido isso, apresentar Laurie Stamp, que vinha viver com ele em San Francisco.  Tinha reformado a antiga casa familiar, modernizando tudo, tinha transformado o andar de baixo, em um grande salão, com uma cozinha americana incorporada, mantendo somente a velha biblioteca, que na verdade só sobravam os moveis, no momento que viu a mesma, pensou, pelo menos não roubou as estantes.

Tinha feito uma coisa, colocado nas três entradas da casa, câmeras de vigilância, pois assim podia controlar tudo. A da entrada, a garagem que ficava embaixo, bem como a da porta traseira, mesmo assim o resto todo era blindado, sendo necessário uma chave especial para abrir.

Tinha sonhado com seu pai, seus últimos dias, estava fechado no arrependimento, de um lado por ter separados os dois, de outro lado, dizia que David sempre lhe tinha caído mal, não sabia por quê.  Tinha nascido com 10 minutos de diferença, ele tinha nascido primeiro, David depois, era como se fosse o pequeno, pois teve que ficar na incubadora.

Talvez por isso, sua mãe sempre o tinha protegido.  Em casa não tinha nenhuma fotos dela, nem do David.   Seu pai, nunca tornou a se casar, se tinha aventuras, ele nunca tinha descoberto.

Mesmo na época que já estava fora dali, nunca soube de nada. 

Agora a casa, nem parecia a mesma, no andar de cima, tinham três quartos, dois banheiros, tinha transformado o quarto deles, num closet, com a banheiro incluído, os outros dois, tinham um banheiro no meio.

Tinha se levantado com uma certa ressaca, pois ele que nunca bebia, tinha tomado vinho, champagne, com os poucos amigos que mantinha contato todos esses anos, se fosse em NYC, a coisa seria diferente, pois conhecia muitíssima gente.

Era completamente feliz com o Laurie, era um homem feito a si mesmo, filho de uma família de seis irmãos, de descendência Irlandesa, era o último, também o único que tinha ido a universidade sempre com bolsa de estudos, tinha feito medicina, bem como especialização, quando apresentou seu curriculum para San Francisco, foi disputado por dois dos maiores hospitais.   Aceitou o fato de se mudar, pois queria colocar muitos quilômetros, entre ele e sua família.  Eram todos complicados.

Talvez por isso se entendiam, tinham se conhecido justamente num dos últimos golpes de seu irmão contra ele, tinha ficado sem um puto, mas desta vez tinha se saído bem, tinha recuperado o dinheiro, pois tinha feito um seguro, avisado ao banco, do que já tinha acontecido antes, mas claro depois foram descobrir, que ele tinha convencido uma mulher que era caixa, que tinha se apaixonado por ele, que fizesse tudo.   Quem pagou o pato foi ela, esse era seu modus operandi, as mulheres.

Estava colocando as ultimas taças de champagne na lavadora, Laurie ainda estava na cama, com preguiça segundo ele, acabava de passar um pano sobre a bancada, quando viu pela ampla janela parar um carro em frente da casa, com um logotipo na porta, alguma coisa do governo.

Estava ainda de pijama com um roupão por cima.

Abriu a porta usando o código, se aproximou uma senhora com o peso acima do normal, para não dizer gordinha, se apresentou, perguntou se ele era Raymond Heller, ele confirmou, viu uma mulata quem em seu tempo devia ser bonita.  Um garoto pequeno, devia ter uns 3 a quatro anos, era a cara deles quando criança.

Podíamos falar com o senhor?

Sim entrem sentem-se à vontade, vou trocar de roupa, bem como avisar meu marido que temos visitas, viu que a cara da senhora uma interrogação.

Ele nunca dava explicações, tinha se casado com um homem, ponto final.

Subiu a escada enquanto escutava a porta se fechar atrás dele, vestiu uma roupa que estava em cima de um banco no closet, calças jeans, camiseta de manga comprida, um mocassim, velho, avisou ao Laurie, temos visitas, creio que algo relacionado com meu irmão.

Desceu sorrindo, sua arma contra qualquer problema.  Perguntou se aceitavam um café, como a mulher concordou, separou canecas, colocou a cafeteira para muitos cafés, foi se sentar com elas. 

O garoto o olhava com os olhos arregalados.

É que o senhor se parece muito com o David.

Mais bem ele a mim, pois nasci dez minutos antes que ele.

A senhora tomou a palavra, seu irmão se casou com esta senhora, desapareceu fazem dois anos, o pior a contaminou com Aids, mas depois que o menino nasceu. A mesma está vivendo de favores, nunca soube mais nada dele, nossa agência também o procurou, mas foi impossível encontra-lo.

Pois eu nunca mais o vi, desde que nos separaram aos cinco anos de idade.

A mulher falando, era simpática, sim ele me contou isso, por isso quando fiquei gravida, queria que eu abortasse, só voltou depois que David nasceu, ele se chama David Raymond Heller, fez questão de o registra assim, dizia na minha cara que meu nome latino não era importante.

O último ano quando voltou, foi insuportável, principalmente quando descobriu que estava com Aids avançada, o pior tinha transmitido para mim.

Desapareceu, o fato que foi complicado, perdi meu emprego, bem como ninguém da minha família quer assumir cuidar do David, pensam que ele tem a doenças, mas os testes deram negativo.

Filhos da puta soltou.

Nisso entrava o Laurie, todos os olharam, era um tipo impressionante, tinha 1,90 de altura, olhos verdes transparentes, cabelos ruivos, a cara cheia de sardas, bem como seus braços.

Como um imã, foi direto ao garoto, o levantando do chão, que temos aqui, que menino grande, o levantou bem alto, pela primeira vez o David sorriu.

O apresentou, esse é o Doutor Laurie Stamp, meu marido, o conheci quando cuidava de meu pai, somos companheiros a seis anos.

Ele era realmente cativante, estendeu a mão a cada uma, desculpe, tive minha primeira semana no hospital, complicada, por isso ainda estava na cama.

O garoto, imediatamente, ficou ao lado dele.

O problema senhor Raymond, é que Gabrielle Heller, tem que entrar para ficar no hospital, não tem com quem deixar o garoto, ou ele terá que ir para o serviço social, que significa um orfanato.

Nem pensar, nem que não fosse da minha família eu ia permitir isso.  Nessa família basta de separações.

Se o senhor quiser fazer um teste de ADN, eu concordo, falou Gabrielle, pois assim terá certeza de que é filho do seu irmão.

Espere, correu a biblioteca, deixando a porta aberta, o menino foi atrás dele, mostrou primeiro para ele, era a única foto que tinha dos dois, veja, eu com teu pai, quando tínhamos cinco anos.

Realmente era a cara do garoto.

Mostrou para as duas, a foto, as duas balançaram a cabeça, Gabrielle soltou, ele me mostrou essa foto, não em tão bom estado como esta, estava dobrada em sua carteira.

Laurie era mais prático, perguntou em que hospital ela ia se internar?

Quando falou, era um hospital fraco, para pessoas pobres.

Tens todos os exames que necessitam para um ingresso?  O que já fizeste de tratamento.

Meu caso esta avançando rápido demais, já tenho os pulmões muito comprometidos, por isso minha voz ficou diferente.

Nada disso, a esperança sempre esta do nosso lado, se levantou, tirou do bolso traseiro da sua calças jeans um celular, chamou alguém, ficou falando, em alguns momentos se alterou, lhe passaram com outra pessoa, tudo que escutaram foi ele dizer, não façam com que me arrependa de ter escolhido vosso hospital, ainda posso mudar de ideia.

Depois se voltou sorrindo.  Pronto tudo resolvido.

Ficaras no hospital que trabalho, assim posso cuidar de ti. Tens a bagagem de vocês no carro.

Sim, não temos casa, estávamos vivendo num albergue, até a senhora descobrir que o senhor Raymond tinha voltado a viver na cidade.

Não me chame de senhor, por favor, somos família.

A mulher, viu que as coisas andavam rápido demais.  O senhor assinaria os papeis que assumiria a guarda do garoto.

Raymond, perguntou aonde tinha que assinar.  O fez em seguida, Laurie assinou como testemunha.

Vamos buscar suas coisas, em seguida, troco de roupa, vamos para o hospital.

A senhora entregou um cartão com seu nome, eles dois, um cada um, assim podemos manter contato, quisera eu que todos os casos que leve se resolvessem assim.   Depois se aproximou do Raymond, lhe dizendo baixinho, se alguma coisa acontecer, me procure para adotar o garoto.

Foram buscar as maletas, venha Gabrielle, aproveite tome um bom banho, mostrou o quarto que ela podia ficar, levaram o David ao outro, este será para ti, garoto.

Ele olhou o quarto que era novo, riu, um quarto para mim.  Era a primeira vez que falava.

Venha, qual é a tua bolsa, ele sinalizou a pequena, tiraram uma muda de roupa limpa, venha, o levou para o banheiro deles, sabes tomar banho sozinho?

Sim, sempre o faço, mamãe, nunca tem forças.

Mostrou aonde estava o champô, bem como sabonete.  Te esperamos embaixo, Laurie saiu para comprar alguma coisa para o café da manhã, enquanto ele preparava café, fervia leite.

Quando Gabrielle desceu, sorria em sua cara triste, fico mais tranquila, que ele tenha alguém, uma vez teu irmão me disse, Raymond deve ser um sujeito de bem, pois nunca colocou uma denuncia contra mim, eu o roubei várias vezes, esvaziei a casa, mesmo assim não me denunciou.

Não tens a menor ideia de aonde ele está?

Não, quando começaram a sair as feridas nele, ficou horrorizado, confesso que nunca soube com quem tinha andado. Para ele a conquista das mulheres era uma coisa importante.

Creio que fui a única com quem se casou, mas confesso que não tenho certeza de nada, com relação a ele.

Estava vestida corretamente, sem nada demais.  Vendi tudo que tinha para sustentar meu filho.

Hoje de manhã, a senhora veio me buscar, disse que tinha te localizado, então nos trouxe, vim rezando no carro, me perguntando como nos receberia.

Olhaste o David, soltaste um sorriso, sabia que estava bem.

Laurie chegava nesse momento, escutaram o David chamado lá de cima, ele subiu correndo, ele não sabia fechar o chuveiro.  O secou, esfregando bem sua cabeça, o garoto olhava para ele com adoração, claro era a cara de seu pai.

O ajudou a se vestir, depois vamos de compras, precisas de roupa de inverno, que está chegando.

Desceu de mãos dadas com ele, como fazia seu pai com ele.

Teu avô sempre estava de mãos dadas comigo.

Tomaram café, numa mesa redonda, que estava ao lado da bancada, pareciam uma família se alguém olhasse de fora.

O menino estava com fome, devorou o croissant que Laurie colocou na frente dele. Este colocou outro, mas antes ele olhou para a mãe.   Esta balançou a cabeça concordando.

Tomou seu café com leite.   Que gostas de comer de manhã David?

Ele respondeu, o que tiver, as vezes pão duro mesmo serve.

Ele vai a escola perguntou Ray, como gostava que lhe chamassem.

Deveria ir este ano, mas estamos sem casa, então não aceitaram a matricula.

Amanhã resolvemos isso, verdade garoto.  Ele balançava a cabeça.

Apontou com o dedo a biblioteca, vocês estuda muito. 

Nunca parei, sou advogado, um dia te vou explicar o que fazia.

Laurie tinha passado numa farmácia, comprado escovas de dente, uma infantil, que quando ele viu, ficou maravilhado.

Subiu com ele, ia lhe ensinar como escovar os dentes.

Laurie sempre quis ter filhos, estávamos pensando em adotar, mas para isso precisávamos primeiro nos assentar.

Podia ter vendido esta casa, ficado em NYC, mas queria voltar para cá.

Quando desceram, falaram entre eles qual era o melhor carro para irem.

O carro dos dois era pequeno, chamaram um Uber, dizendo quantas pessoas, eram, qual o hospital, o menino adorou, que quando ele acionou o fechamento da casa, toda a parte da frente que era de vidro se cobriu com uma grade de segurança.

Para que não a esvaziem outra vez.  Ficou parado rindo para a Gabrielle, ele me fez um favor, pois levou tudo, a casa era minha de herança, não se falava no recheio, tudo era velho na verdade.

Quando chegaram no hospital, Laurie deu entrada nela, que foi levada a um setor separado, eles levaram o David para fazer exames, lhe fez um check up total, bem como tiraram sangue dos dois para o teste de ADN.

Ele deixou que o Laurie o examinasse.

Depois lhe explicaram que sua mãe, nesse momento estava fazendo exames como ele.

Ele entendia, ela me explicou que tem uma doença incurável.

Se despediram, ele riu quando os dois se beijaram na boca, nos vemos mais tarde, vou ver se ela pode fazer o tratamento em casa, ou se tem que ficar internada.

Os dois saíram, Ray ia fazer compras para o David, o deixou escolher a roupa que queria, umas calças jeans compridas, sua mãe dizia que ele crescia muito, por isso só lhe comprava calças curtas, ele queria uma camiseta como a dele, de mangas compridas, compraram também um casaco de plumas, para o inverno, tênis novo dois, assim podes variar, depois ele ficou como louco quando passaram numa livraria, para buscar um livro pra o Ray, ele ficou como louco na parte infantil, nunca tive um livro, podes escolher o que queira, ele argumentou que na biblioteca tinha muitos livros.

Ray lhe explicou que eram livros para seu trabalho, livros de direito, não serviam ainda para ele.

Perguntou se sabia ler, ele disse que um pouco.

Levou o que ele gostava.

Foram ainda num supermercado aberto aos domingos, compraram leite, coisas que uma criança comia, ele ria muito.

Em casa, perguntou ao Ray como o devia chamar.

Podes me chamar de tio, de Ray do que queira.

Gosto mais de Ray, se sentaram no sofá para Ray ler o jornal, em breve estava dormindo em sua perna, ao mesmo tempo segurando sua mão.

Ele se perguntava como o irmão podia ter deixado um filho para trás.

Ia tentar usar todos os meios para encontrar o irmão se tinha AIDS, devia estar em algum hospital, ao mesmo tempo ia pedir a morgue um relatório das pessoas mortas sem serem reclamadas.

Nunca entenderia com podia ter-se desviado tanto assim na vida.

Quando tinha chegado em casa, tinham se encontrado com a vizinha, era uma senhora amiga da família, apresentou David como filho do seu irmão, que ela se lembrava de criança, realmente é a cara dele.

Perguntou se ela conhecia algum jardim da infância, por ali, para deixa-lo quando fosse trabalhar.   Espera disse ela, chamou sua filha, que trabalhavam em um.  A conhecia desde criança, nunca tinha se casado, já tinham se visto durante a reforma da casa.   Ela quando viu o David, disse que tinha brincado muito com os dois quando criança.

Lhe ensinou aonde era, amanhã o deixas lá comigo, agora estou com menos criança, pois são as que os pais trabalham agora na época das férias.

O leve com uma roupa de esporte, assim ficam mais à vontade, menos mal que tinham comprado uma.

Quando Laurie chegou para almoçar, tinha decidido comer pizza, pois ele nunca tinha comido uma.   Foram a um restaurante ali perto, que já tinham ido nesses dias.

Ele perguntou pela sua mãe, ainda está fazendo exames David, se for o caso ela estiver estável pode ficar em casa.

Mas depois quando chegaram, ele colocou o menino para fazer um cochilo.

O deitou, colocou uma manta sobre ele, mexeu nos seus cabelos, lhe deu um beijo na testa.

Desceu, Laurie estava fazendo café, disse que o caso era grave, não sei como essa mulher não fez nenhum tratamento ainda, o médico encarregado acha muito difícil ela se recuperar, consegui que ficasse num quarto, assim podemos levar o menino para visita-la.

Esse menino é um doce de criança, como meu irmão pode abandona-lo desse jeito, não posso acreditar.   Não sei o tipo de educação que minha mãe lhe deu.

A cabeça dos meus pais, era complicada, embora ele tenha me educado bem, não sei o que se passou com David.

Nunca me esqueci dele, realmente como diz a Gabrielle, nunca coloquei uma denúncia em cima dele, seja pelo roubo do meu dinheiro, seja por ter levado tudo dessa casa.

Eu queria era encontra-lo.

Disse o que ia fazer no dia seguinte, vou tentar descobrir, a partir do lugar que viviam, para ver se posso encontra-lo.

Foi até a biblioteca, falou com um juiz que conhecia, pediu desculpa por lhe incomodar em pleno domingo, lhe explicou o caso.

Este lhe indicou um velho policial, que era um excelente detetive.  Telefonou para o mesmo, marcou no dia seguinte no escritório.   Trabalhavam num escritório de advogados, cuidando da parte de direito internacional, era um experto na área.

Quando o menino desceu, se espreguiçou ao entrar na sala, disse que tinha dormido muito, foi correndo para o Laurie, para lhe dar um beijo, começou a contar tudo que tinha feito, amanhã vou a escola, aonde trabalha a senhora do lado.

Tinham trazido a pizza que tinha sobrado, que ele comeu, tomando um copo de leite, depois ficaram vendo o noticiário, com ele sentado no meio dos dois.

Agora em vez de um pai, vou ter dois não é?

Os dois riram com ele.

Eu não tinha nenhum, agora os outros vão ficar com inveja de mim.

Devia ter sido muito movimento para ele, pois dormiu em seguida outra vez.

Mais tarde os dois subiram, Laurie, fazia questão de o levar no colo, o colocaram na cama, lhe arrumaram para dormir.

Quando foram dormir, deixaram a porta do quarto aberta, para se escutar algum ruido, vamos ter que comprar um desses sistemas de escutar as crianças.

Riram ficaram de mãos dadas na cama conversando.  

Bom amanhã quando chegue nos hospital, vou vê-la antes de começar a trabalhar, creio que poderemos nos revezar algumas noites para estar com ele, como fazíamos com teu pai.

Ray, que tinha o sono mais leve, despertou com ruido, era o David tendo um pesadelo, se sentou ao seu lado na cama, ficou segurando sua mão, isso o fez dormir tranquilo, acabou deitando ao lado dele, pois cada vez que tentava tirar a mão, ele segurava mais forte.

Laurie despertou sem encontrar o Ray, o encontrou dormindo com o garoto.  Ficou na porta rindo, que pai será esse meu marido.  O amava com paixão, por isso tinham se casado.

O despertou, pois já era de manhã, em seguida despertaram o David, para que tomasse banho para ir à escola, não se esqueça de escovar os dentes.

Foram os três junto até a escola, o deixaram com Gisela, ele na hora olhou os dois, que lhe disseram que voltavam para lhe buscar.  Gisela se ofereceu, quando acabe o horário, o levo para casa, quando vocês cheguem, ele estará já pronto para dormir.

Ray foi trabalhar, Laurie para o hospital, queria chegar cedo, para ver a Gabrielle, de lá telefono.

Quando Ray chegou o detetive o estava esperando, o fez entrar na sua sala, comentou com ele que seu irmão levava desaparecido quase dois anos, tudo que sabia era que tinha AIDS, a zona que vivia na época, lhe deu uma foto sua, somos iguais, somos gêmeos.

Lhe deu a pouca informação que tinha.   Se esta morto, jogado num necrotério, quero enterrá-lo ou se está num hospital, quero ajudar no tratamento.

O homem disse seus honorários, ele pagou uma parte adiantado.

Depois começou a trabalhar, tinha entre suas mãos, um caso complicado, tinha expatriado os pais, deixado o filho para trás que estava num orfanato.

Foi visitar o garoto, para conversar com ele.   O caso era antigo, pois depois que expatriaram os pais, esses tinham sumido.  Lhe dava lástima, tinha a mesma idade do David, ficaram conversando, escutou uma voz atrás dele, que facilidade tens de se comunicar com as crianças, era a senhora do dia anterior.

Hermione, verdade, eu estou a cargo do caso, queria saber se o garoto por acaso tinha escutado o nome de alguma cidade, ou coisa similar.

Eu também levo esse caso, pelo visto vamos nos ver muito.  Perguntou pela Gabrielle, pelo David.    Ele esta numa escola, que tem minha vizinha, a Gabrielle no hospital, hoje tem o resultado dos exames, vamos ver se pode fazer o tratamento em casa ou mesmo no hospital.

Pelo que consultei ela tem pouco tempo de vida, se fosse o senhor, adotava o garoto imediatamente para evitar problemas.

Ele comentou que tinha contratado um detetive para encontrar o irmão.  Vamos ver se está vivo ou já passou desta para melhor.

Se despediu do garoto, uma lastima isso, tem coisas que vi ao longo dos anos do meu trabalho, que nunca entenderei as pessoas, como podem separar uma família.

Trocaram informações, a levou até o escritório que trabalhavam, mostrou os casos que estava trabalhando, ela anotou, para verificar se tocava a ela.

Justo nesse momento o Laurie telefonou, disse que ela tinha piorado durante a noite.

Vou para aí, queres vir junto Hermione, assim saberás como a estamos tratando. Se for o caso, prefiro que fales com ela da adoção.   Não penso deixar o menino abandonado jamais.

Pegaram um taxis, foram para o hospital.  Gabrielle sorriu quando viu os dois juntos, Laurie já tinha falado da escola para ela.

Ela disse que preferia que o Laurie falasse da sua saúde, na frente dela, pois tinha que tomar decisões.

Não está reagindo as medicações, pois esta começando o tratamento muito tarde.

Hermione falou que ela devia já pensar em assinar os papeis de adoção do menino, para os dois, pois se eles o queriam, era melhor cuidar disso, do que esperar.  Se melhoras, tudo bem, descartamos os papeis.

Não, prefiro deixar tudo preparado.

Enquanto elas conversavam, ele saiu com o Laurie, falou do orfanato, aonde estava o garoto, agora temos poucos dados sobre os pais, que voltaram para seu pais.  Mas para aonde, vamos tentar levar o caso juntos.

Os dados, davam como se eles fossem de Jalisco, México, mas até agora não tivemos sucesso, estou em contato com a policia de lá.   Tudo que sabem, é que eram um casal jovem que fugiu para cá, pois a família era contra o casamento.   Mas agora não encontram nenhum, nem o outro.

De tarde num momento de folga Laurie foi buscar o David para ver a mãe, ele contou tudo que tinha feito na escola para ela. Os tios me tratam super bem.

Ela avisou que as vezes ele tinha pesadelo de noite, desde que tinham perdido a casa.

Mas não havia jeito dela melhorar, os médicos estavam fazendo todo o possível.

Uma semana depois o detetive deu sinal de vida.  Quando chegou no escritório de manhã, ele já estava lá. 

Infelizmente tenho más notícias, acabei encontrado seu irmão na Morgue de San Diego, morreu ali, deu entrada no hospital sem documentos.  Mas quando mostrei a foto se lembraram dele.

O senhor tem que ir reconhecer o cadáver para dar uma sepultura.

Ele aproveitou o senhor, lhe perguntou que pelo nome ele se ele era descendente de mexicanos.

Quando ele concordou, lhe perguntou se podia trabalhar num outro caso, passou a ficha dos pais do garoto, tudo que sabemos, era que tinham sido devolvidos ao pais de origem, sabemos que a cidade deles, é Jalisco, mas nem o xerife de lá, nos falam deles.

Se o senhor quer trabalhar para mim, será um prazer. Falou com a secretária, para combinar com ele os honorários, lhe pagou o resto do seu caso pessoal, marcaram do dia seguinte ir a San Diego.

Comentou com o Laurie, este disse que ia buscar o David para ver a mãe, vens assim falamos com os dois juntos.

Avisou também a Hermione, que combinou de estar essa hora no hospital.

Quando ela chegou, comentou com ela que tinha contratado o mesmo detetive para ver se encontrava os pais do garoto do orfanato.

Que bom que você nesse caso disponha de dinheiro para essas coisas.

Sim é um departamento do governo, ligado ao de Direitos Humanos da ONU, aonde trabalhei tantos anos.

Dos casos que você me deu, tenho dois similares, são as mesmas pessoas, depois podemos trabalhar em conjunto para resolver.

Quando os dois chegaram, se reuniram no quarto, Gabrielle disse que sentia isso, que ele realmente desta vez tinha partido.  Explicou ao filho, os deixaram falando sozinhos, ela queria explicar a ele que os dava em adoção aos dois.

Ele saiu choroso do quarto, a primeira coisa que fez foi segurar a mão do Ray, você vai cuidar de mim.  Laurie pegou a outra mão, dizendo vamos ser uma família, serás nosso filho.

Duas semanas depois, eles estavam preocupados, pois o aspecto de Gabrielle era cada vez pior, agora usava quase o tempo todo a máscara de oxigênio, os dois sentaram com o David, lhe explicaram o que estava acontecendo, que iria agora a pior, se ele queria seguir vendo sua mãe?

Claro que sim, Tia Gisela, me explicou outro dia todo o processo, sei que ela irá para o céu, mas quero ver até o último momento.

Assim foi.

Uma tarde ao voltar do hospital, estava com um humor de lascar, quando chegou o detetive o estava esperando.

Primeiro perguntou se podia ajudar em alguma coisa.

Ele lhe explicou o que estava acontecendo, tinha mandado cremar o irmão, assim enterraria os dois ao mesmo tempo.

Lamento muito, mas tampouco tenho boas notícias.  Contou o que tinha descoberto, a menina era filha de uma família rica, o namorado de uma pobre, tinha estudado juntos, pois ele o fazia numa escola de ricos, com bolsa de estudos.

Quando ela ficou gravida, escapara para cá.  Tiveram o filho, foram na verdade separados, por causa do pai dela.

Este a recuperou, mas o rapaz está morto, com certeza por ordem dele.   Consegui falar com a mãe, ela diz que o medo dela, é que o menino seja raptado, pelo pai, assassinado.

Redigiu um documento, que o dava em adoção, consegui que o fizesse na frente do xerife, de um tabelião, que reconheceu as firmas inclusive.  Assim ele pode ser adotado aqui.

Falou com Hermione, esta comentou que estava justamente entrando no edifício.  A apresentou ao André Castanho, o investigador.

Contou o caso, ele passou o papel para eles.  Dá pena de ver a garota, pois tivemos que forçar para que o pai deixasse falar com ela.   Ele foi claro não quer o neto por lá, pelo que deduzi, ela vai se casar com um herdeiro de outra família, rica como eles.

Nessa noite comentava o caso com Laurie, que soltou, porque não adotamos também, se cuidamos de um, podemos cuidar de dois.

No dia seguinte primeiro foi como uma bomba, recebeu uma chamada do orfanato, tinham entrado dois homens mexicanos, perguntaram pelo garoto, lhe indicaram um, este levou um tiro na cabeça.

Chamou assustado a Hermione, está também tinha recebido a chamada, mas disse que estava com o garoto no médico, tinha problemas de ouvido, ela o tinha levado.

Tinham matado outro garoto com o mesmo nome.

Ele disse que ou o levava para sua casa, ou para a minha, a senhora decide.

Mas foi de qualquer maneira ao orfanato, a polícia estava ali.   Ele se identificou, contou a história da criança, que tinha separada dos pais, levou o documento que falava da história confirmada pela mãe da criança, devem ter sido os homens do avô, que não queria nenhum cabo solto.  Tinha feito um sinal para a cuidadora das crianças.

Ela concordou com a história.

Saiu, chamou a Hermione de novo, que o levasse para sua casa. Quando chegou ela estava no carro esperando com o garoto.  Entraram, conversaram, ele não sabem que o garoto está vivo, eu posso adota-lo ou o Laurie.  Senão corre o risco de voltarem matarem a este também.

Ela concordou, nisso o Laurie chegava com o David, este quando viu o garoto, correu para ele, ei amigo vamos jogar.

Disse que o levasse para jogar no seu quarto.

Laurie sentou-se lhe contou o sucedido, eles pensam que mataram o garoto, eu confirmei para a polícia, bem como os jornalistas que estavam ali, teríamos que fazer uma adoção na surdina, para ninguém descobrir, passar o nome dele diretamente para a pessoa.

Posso adotar eu, soltou o Laurie?

Claro, já sei que vocês são uma família estável.

Mais tarde depois que ela foi embora, eles perguntaram ao David, se tinha gostado do amigo, estaria na casa dela, até a adoção.

Sim, gostei, sempre quis um irmão para jogar.  Ele tem a mesma idade que eu, lhe perguntei.

Estamos pensando em adota-lo, o que achas.

Uau, vou ganhar um irmão, queria falar imediatamente com o garoto, foi duro convence-lo que podia fazer no dia seguinte.

As notícias no jornal da noite, falavam do crime, um pobre garoto, que estava jogando no jardim do orfanato, deixado para trás por seus pais extraditados ao México, tinha sido assassinado por sicários mexicanos.  Talvez uma longa história por detrás disso tudo, conforme a assistente social confirmou, os pais foram extraditados, no que procuraram por eles em Jalisco, descobriram que o rapaz, estava morto, a mãe prisioneira da família, foi como um ajuste de contas, para um cabo solto.

Dois dias depois o menino estava com eles, trocaram seu nome, entre os dois pequenos, escolheram seu nome, Ray Stamp, a família aumentava.

Semanas depois sua cunhada morreu, a enterraram junto as cinzas do seu irmão, para um descanso merecido.

O detetive, tinha procurado pelas raízes de seu irmão, era uma história complicada, sua mãe logo após o divórcio, se casou novamente, com outro homem, como seu pai, com uma posição social acomodada, teve outro filho, depois se divorciou, deixando o mesmo com seu pai, arrastou com ela David outra vez, anos depois se casou com outro, mas o tiro saiu pela culatra, esse era um bom filho da puta, colocou o David para trabalhar na sua fazenda, explorava o garoto, inclusive se descobriu depois que tinha abusado sexualmente dele.

Entrou para o exército, para escapar de uma condena, por ter quase matado esse homem.

Lá ele se uniu a um grupo de soldados que faziam roubos de armas, roubavam também antiguidades, que mandavam para um coronel nos Estados Unidos, que os vendia ao melhor postor.

Quando isso saiu a luz, foi expulso do exército.  Nas conversas que tinha tido com a Gabrielle, este lhe dizia que Ray tinha tido de tudo, uma vida confortável, boas escolas, universidade, um emprego fantástico, então era justo que ele também gozasse de seu dinheiro.

Ele não entendia por que não os tinha procurado a ele, nem ao seu pai.

Ele achava que teu pai não o queria.

Meu pai nunca se perdoou pelo fato dela o ter levado embora, achava que ela era desequilibrada, mas o juiz concordou com isso.  Além dele ser muito agarrado a ela.

Eu sempre senti falta do meu irmão, se ele tivesse me procurado, o ajudaria.

Gabrielle foi franca com ele, se o tivesse feito, ele teria te explorado sempre.  Te odiava, por ter tido sorte. 

Quando tive o David, ele disse que eu deveria ter tido dois, assim poderia seguir a saga familiar, por isso colocou o nome dele, bem como o teu no garoto.

Foram os quatro ao enterro, que foi muito simples, só estavam as vizinhas, Hermione, mais ninguém.  O enterraram no mausoléu da família, assim descansariam em Paz.

Ele de uma certa maneira passou os anos seguintes, vigiando os garotos, ao mesmo tempo que como casal educavam os meninos estupendamente.

Eram bons estudantes, inteligentes, obedientes.  Foram levando a vida, Ray se aposentou antes, pois tinha começado a escrever, podia passar um dia inteiro na biblioteca, escrevendo artigos para revistas, as quais interessava sobre os direitos humanos.

Escreveu um livro, falando que normalmente os países, assinavam os protocolos de respeito ao assunto, ao mesmo tempo que faziam tudo ao contrário.   A infância, bem como a juventude, nunca eram respeitadas, a educação nunca chegava a todos.

Ele deixava os garotos, agora dois adolescente lerem o que escrevia.  David dizia que ia ser como o pai, escritor.   Aliás ao contrário dos outros garotos, a alegria deles desde criança era ir à livraria para comprarem livros.   Quando os colegas caçoavam deles, ignoravam, diziam que quem fazia isso, eram os mais atrasados na escola.

Juntos foram a Universidade, nessa altura Laurie se aposentou também, compraram uma casa na praia, aonde passavam a maior parte do tempo.  Até se atreveram a aprender surf, apesar da idade. Os dois vinham passar o final de semana com eles, no princípio ao inverno, voltava para casa, mas com o tempo foram ficando.  Tinham uma bela lareira na sala, mas não fazia frio suficiente para isso.

Quando acabaram a universidade, tinham que resolver o que fazer. Ray tinha feito arquitetura, David literatura, línguas.

Este começou a escrever, publicar, na internet, até que foi descoberto por uma editora, os jovens adoravam o que escrevia.

Um dia sem querer tocaram no assunto, vocês nunca falam em namoradas, por quê?

Pai o senhor as vezes para ser tão inteligente as vezes é lento, nós amamos desde criança, mas nunca falamos em voz alta.  Menos mal que Ray foi adotado pelo tio Laurie, senão iam pensar que dois irmãos tudo seria mais raro.  Mas não, sempre vivemos o que queremos, como vocês dois.

Laurie ria, pois desconfiava, os dois estavam sempre conversando, trocando ideias, nunca se separavam, se faziam um programa, iam os dois.

Queriam ir de viagem juntos pelo mundo.

Sem querer eles tinham juntado duas almas gêmeas, nunca criticaram.

Anos depois finalmente se casaram, logo em seguida adotaram um casal de meninos, abandonados pela família.  Construíram na velha casa, um lugar perfeito para essas crianças, que iam visitar os avôs sempre.    Esses babavam nas crianças, a férias eram sempre lá.

Claro as vezes tinham problemas, como todos os velhos, mas iam tocando para frente.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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