lunes, 27 de junio de 2022

AJUSTE DE CONTAS - RECKONING

 

                                           

 

Esperava o momento, tinha a sensação de como que estava escondido na casa de seu pai, pelo menos no papel James Swift, na verdade estava com ele, nas férias quando vinha visitar sua mãe.

No último ano mais, porque ela já estava no seu final, tirou mais tempo livre para ir Vancouver aonde estava internada. Veio a contra gosto para esse hospital, mas no final, pediu para ficar na minha casa.   Eu tinha feito universidade em Vancouver, como me sai muito bem, logo me contrataram no escritório de advogados aonde tinha feito as práticas.

Meu pai o James queria que eu fosse para NYC, trabalhar no dele, mas eu não queria ficar longe dela.    Quando descobriu que tinha câncer, como já estava muito adiantado, perguntou quais as possibilidades de cura, com o tratamento.   O médico foi sincero, 20%, imediatamente ela disse que não ia fazer nenhum tratamento.

James veio, tampouco conseguiu convence-la, voltou para o pequeno povoado que viviam, seguiu sua vida como se nada estivesse acontecendo.  No verão quando foi passar uns dias com ela, tudo que pediu foi que fossem ao lugar preferido dos dois.

Era ao final da baia, aonde havia uma pequena praia, ele levou uma cadeira dessas de praia que encontrou num chines, mantas, comprou coisas para um pick nick, como ela gostava.

Mal se sentou, era como se tivesse ensaiado tudo, pediu que ele se sentasse ao seu lado.

Começou a contar sua história, a partir de um certo ponto era a história dos dois.

Contou que na verdade Swift não era seu sobrenome verdadeiro, tinha abdicado do outro, porque era mau para ela, sei que sabes que não sou tua mãe verdadeira, me perguntaste quanto tinhas 10 anos, na verdade sou tua irmã mais velha, quando você nasceu eu tinha 24 anos.  Eres só filho do meu pai.

Quando voltei da universidade, eu na verdade estudei fora, em Londres, minha mãe não me queria por perto, para me proteger de meu pai.

Descobriu quando eu era adolescente que ele estava tentando alguma coisa comigo, quando reclamei ela me mandou estudar interna em Londres.

Escutei uma discussão dos dois, a coisa desta vez parecia feia, ele tinha abusado de tua mãe verdadeira, mas tinha se apaixonado por ela, queria o divorcio para se casar.  Ela não podia permitir por isso, pois finalmente sua carreira política estava despegando.  Tinha sido fiscal muitos anos, agora estava no novo governo da cidade.  Era secretária de Justiça.

O ameaçou, dois dias depois ele ficou doente, teve um enfarte, ficou na cama.

A escutei falando por telefone com um homem que a acompanha até hoje, é um ex-policial, um tipo faz tudo, mandava encontrar uma maneira de colocar tua mãe na cadeia, que desse um fim em ti, tinhas nascido por esses dias.    Nesse dia, vi que minha vida, ia ser uma merda junto com ela.   Em seguida vi aonde guardava seus documentos particulares.  Quando saiu, fui dar uma olhada em tudo.  Consegui abrir o cofre, aonde vi muito dinheiro.

Não podia deixar que te matasse, eras meu irmão, não tinhas culpa nenhuma na história.

Passei a andar com uma pequena gravadora, a cada momento que a via falar alguma coisa comprometedora, eu gravava a conversa.   Conseguiram prender tua mãe, gravei a conversa dela com meu pai.   Dizia que por culpa dele, ela tinha que tomar medidas que afetavam a outras pessoas, ria na cara dele, ele não podia se mexer na cama.   Pediu agua com a boca torta, ela deixava a água cair em cima dele, de propósito.

Mais tarde a escutei falando com o seu cumplice, que tinham agora que se desfazer de ti, bem como de tua avó.

Eu já sabia o endereço, nem pensei muito, mal ela saiu, ia para uma viagem, entrei no seu escritório roubei todos os seus documentos, gravações.   Em seguida tirei o carro, fui até a casa da tua avó.    Vi que a estavam vigiando, mas enfrentei tudo assim mesmo, entrei num beco que havia ao lado da casa, entrei por detrás, contei tudo a ela, tinham prendido tua mãe com uma quantidade imensa de cocaína, a julgaram como se fosse uma adulta.  Tua avó era uma mulher experta, quando contei que pretendiam matar os dois, ela estava arrumando uma mala para irem embora dali.   Lhe mostrei através da cortina que não tinha tempo para isso, que sendo tu meu irmão eu cuidaria de ti como se fosse meu filho.

Ela saiu arrumou o carro como se fosse levar uma criança, saiu com um boneco que tinham de dado de presente, como se fosse tu.  Me disse para sair por aonde tinha entrado, te beijou.

Eu saí dali, fui direto atrás do meu amigo de infância James, lhe disse que pensava fazer, tinha que fugir, contigo, minha mãe nunca ia aceitar a ti.  Fiquei uns dias escondida na sua casa, quando soube que tinham matado tua avó.    O filho da puta deve ter ficado com a pulga atrás da orelha, pois a tinha visto sair contigo.

Me casei com o James, sabes bem que ele é gay, para poder tirar papeis novos, ter um documento para ti.   Fui para o mais longe que consegui.  Eu tinha acabado de receber o fideicomisso de meus avôs paternos, por isso tinha dinheiro retirei tudo.

Viemos parar aqui, comecei vida nova, o único que sabia aonde estávamos era o James, mas sempre tomou muito cuidado.    Para todos os efeitos, minha mãe, como nunca se interessou o que eu fazia, não sabia de sua existência.

Te quis sempre como o filho que nunca tive, te amei, cuidei.   Mas nunca tive coragem de me enfrentar a ela, se tornou poderosa, chegou aonde queria, a ser secretária do governo, mandar em todo mundo, os que eram seus inimigos se lascaram com ela.

Essas conversas que tenho com o James é sobre isso, agora ela é candidata a governadora de NY.   Tem uma fortuna imensa, nunca falou da minha desaparição.

Através do James, procurei livrar tua mãe, mas a coisa ficou feia, nesse meio tempo, imagina uma garota sem vivencia nenhuma no meio de ladronas, assassinas.   Não durou muito tempo, a mataram no presídio.    Creio que a única coisa boa é que te salvei.

Sempre quis ajustar contas com ela, por tudo que fez, mas claro tinha tu como a parte mais frágil, agora eres um homem, um advogado, tens nacionalidade americana e canadense.

Eu fiz cópia de tudo, tenho depositado em bancos de Vancouver, de San Francisco, bem como o James o tem numa caixa forte em NYC.   Agora tudo será como queiras.

Passei os últimos meses cuidando dela, podia ser minha irmã, mas a queria como minha mãe, sua última vontade, era ser cremada enterrada ali aonde fazíamos pick nick desde que eu me lembre.

James veio, riu muito porque talvez foi a primeira vez que o chamei de pai.

Disse que eu era o filho que ele gostaria de ter tido.

Tens direito a herança de tua mãe e de teu pai verdadeiro.   Mas o ajuste de contas, nem era pelo dinheiro, mais pelo que tinha feito com minha verdadeira mãe, bem como minha avó.

Como estava no meio de uma campanha, fui para NYC, James me esperava no aeroporto, fomos para seu novo apartamento, me disse que até se aposentar, ter vendido sua parte na empresa, tinha vivido sempre num pequeno apartamento.   Esse não era grande, mas confortável.

Ali montamos tudo, retiramos o originais da caixa forte aonde estava, fizemos cópias, ele trouxe um amigo tabelião, que reconheceu cada documento como sendo válido.  Escolhemos os meios que a atacavam, pois sempre tinha muitos inimigos pela sua prepotência.  Radio, televisão, dois jornais, mandamos para um juiz federal que não sabíamos por que a odiava.

No dia seguinte, tudo ia ser publicado, telefonei para sua casa, me identifiquei como seu neto, filho de sua filha desaparecida.   Me atendeu grosseiramente, que não tinha filha, nem netos.

Lhe expliquei que sua filha tinha morrido, que queria lhe entregar uma caixa que lhe tinha deixado, eram suas últimas vontades.

Nem se atreva aparecer aqui, foram suas palavras.   Eu lhe soltei, que estava gravando tudo isso que dizia, mas que ia entrar com um processo para pedir a parte de minha mãe, bem como a minha filho de quem era, seu finado marido.

Ficou uma fera.

Quando cheguei a entrada do edifício, James tinha chamado a televisão, vários canais, nisso apareceu o homem que tinha feito tudo para ela, quis arrancar a caixa que eu tinha nas mãos na frente de todos, lhe disse que não era o boneco que ele tinha matado, ficou me olhando espantado.

Nisso James se apresentou como meu advogado. Chegou também a polícia, que nós levou, quando iam iniciar meu interrogatório, chegou o FBI, que queria minha custódia.

James se negou, entregou a cada um copia de tudo que estava na caixa, quando souberam que seria publicado, o tele jornal já estava divulgando tudo, os jornais correram publicaram nos seus sites, tudo que estava na caixa.

Mostrando inclusive por ordem do Juiz Federal a prisão dela, bem como de seu ajudante.

O caso levou meses, mas finalmente foi a julgamento, o fiscal, não teve do nem piedade, tornou a divulgar não só meus documentos, bem como muitos outros que conseguiram descobrir.

Ela foi condenada a cadeia por 20 anos, bem como seu ajudante a cadeia perpétua, ainda tentou negar tudo, mas era tudo desmentido.   Uma empregada da casa, que ainda era viva, contou como ela tinha envenenado o marido, que não queria um lastre em sua vida.

Ela acabou soltando que ele era um lastre, pois era um pédofilo, ainda comentou, que nunca tinha visto um pédofilo se apaixonar pela vítima, no caso minha mãe.  Quando tentou jogar tudo em cima de seu ajudante, este tinha gravações das ordens dela de se livrar das pessoas, seja matando, ou através de chantagem.

Foi um escândalo impressionante.

A fortuna de meu pai, na verdade não era grande, mas fiz uma coisa, não a queria, conversei com James, doamos tudo a uma entidade que cuidava de jovens que tinham sofrido abusos.

Tínhamos falado da possibilidade de passar um tempo fora, mas alguma coisa me picava, para resolver coisas pendentes, voltei a Vancouver, coloquei a casa de minha mãe a venda, não pensava em voltar a viver lá.

Muitas coisas tinham ficado na minha cabeça.  Uma era o fato do seu ajudante ter ficado surpreso com o fato de dizerem que no carro com a minha avó, o que havia era um boneco.

Havia uma negação em seus olhos.  Depois no julgamento dela, a senhora que trabalhava na casa, me disse que sua irmã tinha cuidado de mim.  Mas imediatamente viu que tinha soltado alguma coisa que não devia.

Resolvi checar essas histórias, sem deixar que James interferisse, tinha sentido que todo esse tempo era como se tivesse me protegendo, ao mesmo tempo, como me querendo controlar.

Não gostava muito disso, sempre tinha tido uma cabeça privilegiada.  Deixei passar, por ser tratar de um momento muito confuso.

Quando estive no escritório que trabalhava, para pedir as contas, me disseram que lá o escândalo tinha chegado já muito diluído, que ninguém pensava que se referiam a mim no caso.

Que as portas estavam abertas para mim.

Cheguei a NYC, sem avisar, me hospedei num hotel, tinha o contato da senhora, o número do telefone, consegui o endereço, a queria pegar de surpresa, sem que ela pudesse comentar com o James.

Quando cheguei a sua casa no Bronx, ficou sem graça, me convidou a entrar, da cozinha saiu uma senhora muito parecida com ela, foi direta a mim, me abraçou, me beijou, o meu menino cresceu, ficou bonito.

A outra lhe fazia sinais, que vi por um espelho.

Me sentei de frente para as duas, disse que queria saber a história toda.

Acabou contando, que eu era realmente filho da minha mãe, que tinha sido abusada pelo pai, que sua avó a tinha mandado para casa dos avôs paternos, para que tivesse o filho, mas que ficasse por la.

Cuidei de ti, até os três, anos, quando voltamos para cá, ficamos na casa do senhor James, enquanto tua mãe, voltou para a casa de tua avó, dizendo que tinha, te dado em adoção.

Depois quando se casaram, só no civil, fizeram uma nova documentação para ti.

Agora entendia muitas coisas, na verdade era minha mãe, mas devia ter vergonha de que seu pai tinha abusado dela.

Consegui uma ordem para entrevistar o ajudante de minha avô.

Quando consegui a entrevista, fui a penitenciaria aonde cumpriria a condena, o que encontrei foi um farrapo de homem.  Me olhou sorriu, me disse, eres igual a ela.

Todo o tempo falava comigo me chamando de meu filho.  Quando toquei no assunto do bebê, sorriu, pelo menos não falaram muito no assunto.

Existia realmente um bebê no carro, não era um boneco, mas uma criança, a retirei, mas tinha um traumatismo na cabeça, não sobreviveu.

Lhe contei da história que sabia.

Nada disso, ela quando me mandou fazer o serviço, era porque já tinha tua mãe para dividir a fortuna, não queria mais ninguém.

Lhe comentei que pensava que minha mãe tinha vergonha do abuso de seu pai.

Concordo contigo do abuso, mas ele não era seu pai, ela era minha filha, quando a tua avó se casou, estava gravida de mim.

É uma larga história, eu a conheço desde garoto, éramos vizinhos, sua família era imensa, uma família disfuncional, cheia de problemas.  Os dois lutamos para sair dali, pois era um bairro marginal, viemos para NYC, quando tivemos idade, conseguimos um emprego cada um, logo consegui entrar para a polícia, vivíamos os dois juntos, batalhamos, ela entrou para a universidade com uma bolsa de estudos.  Essa história que ela sempre contou que vinha de uma família tradicional, é pura mentira.

Sempre fui cegamente apaixonado por ela, por isso fiz sempre tudo que me pedia. Éramos amantes, quando conheceu seu pai, no escritório que trabalhava, ele ficou apaixonado, pois tinha cara de garota, acabou se casando com ela, mas já estava grávida.  Quando tua mãe nasceu, descobriu ao mesmo tempo, que ele abusava de jovens adolescentes.

Quando ele abusou da minha filha, ela me ordenou ficar quieto, eu o queria matar, isso faremos com o tempo, me disse ela.

Tua mãe, foi para fora, quando voltou disse que tinhas sido adotado, fiquei furioso, mas já era tarde demais para emendar esse erro.  Por algum motivo que nunca soube, ela tinha horror a minha presença.   Pois basicamente vivia na casa.

Segui sendo amante de tua avó todos esses anos, fazendo tudo que ela dizia, sem reclamar, fiz muitas coisas erradas não nego, mas por ela inclusive morreria.

Até que me traiu, entendi então, como agora, que me enganei a vida inteira por ela, pensei que quando seu marido morreu, que se casaria finalmente por mim, mas estava já trabalhando para o governo, tinha um cargo excelente, me disse que era mais cômodo seguir como estávamos.

Eu sempre soube aonde vocês estavam, mas nunca disse a ela, queria proteger minha filha, meu neto.   Ela quando escutou você falando, ficou uma fera comigo, claro descobriu que eu também tinha segredos.  

Agora nada mais normal que pague pelos meus crimes, me passou um papel, quando olhei era uma autorização, para retirar dinheiro do banco, bem como abrir uma caixa secreta que ele tinha num dos bancos.   Se ela tentar alguma coisa contigo, tens aí, coisas que nunca foram ventiladas, o que ela fez para subir na vida, até chegar à candidata a governadora.

Pode usar o que queiras, porque eu sei que nunca sairei daqui.

Eres meu neto, não do que abusou da tua mãe, mas ficarei quieto como sempre, mas estás autorizado, a usar tudo que tens na caixa.

Me estendeu a mão, espero que me perdoe, porque eu mesmo não posso perdoar tudo que fiz, os fantasmas, me acompanharam até o final dos meus dias.

Voltei umas duas vezes mais para vê-lo, queria saber de toda história, os documentos eram terríveis, havia muito dinheiro nessa caixa, bem como depositado no banco.

Queria saber de aonde era esse dinheiro, antes de pensar em usar.

Foi honesto comigo, pois na segunda visita o abracei, errado ou não era meu avô, tinha nos protegido dela.

Me disse que o dinheiro era honesto, eu nunca gastava meu salário de polícia, vivia na casa dela, depois quando fomos para Washington, ganhei muito mais de dinheiro, pois tinha um salário altíssimo, como assessor de segurança, nunca toquei nesse dinheiro, pensando numa emergência de tua mãe, ou mesmo para ti.

Falei dos documentos, alguns eram terríveis, pois delatavam as manobras dela, para afastar alguém de algum cargo, como fazia chantagem para levar vantagem em tudo.

Use, pois se vou passar o resto da minha vida aqui, ou me matam antes, nunca se sabe, ela também deveria, pois era a mandante disso tudo.

Quando fui falar com ela, foi mais difícil conseguir uma entrevista, me olhou com desprezo, disse que sempre tinha pensado que tinha sido dado em adoção, uma a menos para limpar do meu passado.

Era uma mulher fria, me olhava com desprezo.

Quando disse que sabia de quem minha mãe era filha, riu, devia ter abortado, mas precisava dela para segurar meu casamento, o mesmo quando ele abusou dela, queria o divórcio, pois tinha descoberto o meu amante, mas isso serviu para manter a fachada do meu casamento perfeito.

Era uma mulher desprezível, quando lhe comentei da pessoas que tinha prejudicado, riu, eles estavam no meu caminho, eu tinha um objetivo.

No diário que existia na caixa de segurança de meu avô, ele contava como ela tinha ordenado fazer desaparecer toda sua família, na cidadezinha que tinham vivido, todos morreram num incêndio durante o inverno, a culpa foi de um calefator.  Eu fiz o serviço muito bem, dizia ao final da pagina que contava esse trabalho.

Todo esse tempo não fiz contato com o James, que me chamava a cada dois dias, mas não lhe disse que estava na cidade.

Um dia me chamou o encarregado da prisão.  Disse que meu avô tinha sido assassinado, que alguém de fora tinha dado essa ordem, era como apagar um cabo solto.

Me contou como tinha acontecido, iam vários detentos tomar banho, ele saia dos chuveiros, o cercaram, é um lugar que não tem câmera de vídeo, o esfaquearam com, o médico legista, disse que foi apunhalado pelo menos, 30 vezes.

Soubemos que tua avô, fez contato com alguém daqui.

Sem querer tinha provocado a morte dele, a única pessoa que interessava em apagar um cabo solto era ela.

Não sabia da caixa de documentos, nem do diário.  Sem o James saber, contratei um advogado, com o dinheiro que meu avô tinha me dado, apresentei os documentos todos ao juiz, ela foi levada outra vez a julgamento, não pelos problemas ou crimes de antes, mas pelos novos que não tinham aparecido no processo posterior.

James finalmente veio falar comigo, agora sabia que tinha conhecimento da história inteira, ele não sabia que minha mãe, era filha na realidade do suposto assessor da velha.

Ela foi condenada a mais trinta anos de prisão.  Segundo o pessoal do presidio, era uma presa conflitiva.

Pensava comigo mesmo, que os ajustes de contas, acabam assim, vais juntando cabos soltos que nunca tinhas imaginado existir, acabava descobrindo que te superam.

Era o que acontecia comigo, estava indo a um psicólogo, para entender toda essa trama louca em que tinha vivido.  Sentia falta da época tranquila que tinha vivido no Canadá.

James, tinha ficado furioso comigo, por não ter confiado nele.  Mas nesse momento não podia entender por que ela tinha me mentindo.                    Imaginava que não devia ser fácil, sentir-se usada pelo homem que acreditava ser seu pai, ela nunca tinha descoberto que seu pai verdadeiro era outro.   No diário deste, aludia as vezes que tinha ido nos observar, a vontade que tinha de falar com ela, comigo.    Mas sabia que no momento que fizesse isso, podia ser pior.

Afinal me dava pena, tinha sido um homem que amava a pessoa errada, que tinha se submetido a isso.

Quando James tocou no assunto da viagem, pedi desculpas, mas tinha outros planos.

Na surdina, me mudei para San Francisco, precisava de mudar de cidade, de conhecidos, dos mais próximos como ele, que tinha se mantido fechado no assunto. 

Arrumei um emprego, comecei uma nova vida, lia e relia o diário que ele tinha escrito durante todos esses anos, era difícil pensar que uma pessoa podia ter manobrado a outra a esse ponto, o que me intrigava eram sempre os comentários que ele fazia no final de cada coisa que tinha feito, como esperando que está vez fosse a última, mas nunca era, porque ela não permitia.

Numa férias fui até o lugar de aonde tinha saído, restava ali, ainda em pé o esqueleto da casa, da família dele, não se sabia muito, tinham se dispersados pelo pais.

Pelo que diziam era uma família complicada, alguns viviam nas drogas, outras roubavam, ou seja ela tinha isso no sangue.   Por mais que tentasse escapar disso, tinha acabado fazendo a mesma coisa, para ser alguém na vida.

Nas férias seguintes, resolvi fazer uma viagem mais longa.   Fui para a Alemanha, conhecer todo o sul do pais, aluguei um carro.

Já no final da viagem o James me localizou, para avisar que tinha morrido na prisão, ele não sabia ao certo, mas sim que ela tinha morrido.

Os jornais falavam nisso, da ascenção e queda de uma figura da política americana.

Tudo isso complicava minha vida, não era capaz de ter nenhum relacionamento, preocupado com tudo isso, imaginava que se tivesse um filho, teria genes de tudo isso, a mim mesmo me controlava para nunca fazer nada negativo, ou errado. Os anos passavam, fui me fechando cada vez mais, pois mesmo com a ajuda de psicólogos, ainda não me atrevia a ter relações, a não ser sexuais.

Quando me interessava por alguém ou sentia um interesse por mim, liquidava imediatamente o assunto.

Era um bom advogado sim, mas procurava não ter clientes que fossem ladrões, ou assassinos.

Chegou um momento, que resolvi deixar tudo, fui viver numa pequena vila, em frente ao mar, mais ao sul possível, já quase fronteira com México. 

Já estava com quase 45 anos, quando minha vida se transformou, despertei um dia com ruídos na varanda, quando abri a porta, vi uma mulher amamentando uma criança.  Ficou aterrorizada, mas lhe disse que não se preocupasse.  Vi que estava ferida, a fiz entrar, me disse que fugia de uns bandidos que a tinham ajudado a passar a fronteira.

Arrumei um quarto que tinha a mais na casa que era pequena, mas suficiente para mim, a deixei descansar.   Depois de tomar um banho, lhe fiz curativo no braço, disse que podia ficar o tempo que quisesse.

O garoto, estava com fome, ela disse que tinha pouco leite, lhe disse que ia a vila, buscar leite em pó.  Quando voltei preparei como se devia fazer para uma criança pequena, lhe dei a mamadeira, que tinha comprado.  Bebeu com muita fome.

Tinha ido a uma cidadezinha mais longe para não levantar suspeitas, tinha comprado tudo para uma criança, fraldas descartáveis, uns dois macacões, conforme o tamanho dele, uma banheira dessas pequenas, o lavei, enquanto ela olhava, le limpei bem, tirei a sujeira da poeira, coloquei as fraldas, bem como uma roupa nova.  Depois enquanto ela descansava, o fiquei embalando.

Ele acabou dormindo, eu também, num cadeirão.

Ela me perguntou se precisava de uma empregada, pois tinha saído do México para isso, dar uma vida melhor para seu filho.  Lhe mostrei a casa, mas que ela podia ficar o tempo que quisesse.

Como era advogado consegui papeis para ela, levou tempo, mas consegui, conhecia o pessoal da cidade perto.

Maria, Miguel, foram ficando, o coloquei na escola, embora, o ensinei desde pequeno a falar inglês. Como precisava de um registro, perguntei o nome do pai, ela disse que tinha morrido na travessia.    O registrei com meu sobrenome, depois que ela concordou.

O ver crescer me fez bem, os problemas todos que tinha foram ficando em segundo plano, chegou um momento que nem me lembrava deles.  Deixei de ter pesadelos.

Quando chegou o tempo de ir a universidade, eu tinha feito uma conta num banco aonde depositava os rendimentos do dinheiro da minha herança.  Era para ele ir à universidade com folga, Maria estava orgulhosa de seu filho.  Isso é tudo que sonhei para ele.

Nunca tivemos nada, ele sabia que não era meu filho, mas eu sentia como fosse.

Se formou, mas adorava o lugar que vivíamos, uma pequena enseada, com uma praia pequena, basicamente só existia minha casa, mais uma outra de um pescador que permiti que ficasse ali.

Saíamos com ele para pescar.   Miguel adorava nadar, mergulhar para buscar coisas no fundo do mar.

Agora vinha aos fins de semana, para fazer isso, eu gostava de estar na água, era um elemento que me relaxava.

Na sua formatura na universidade, fomos os dois, assistir, orgulhosos do filho que tínhamos, ela sabia que para mim era meu filho.

Ele aceitou uma oferta de ir estudar sua pós graduação no MIT, foi com muito orgulho que liberei todo seu dinheiro no banco.

Anos depois se casou, agora tenho a casa sempre cheia dos meus netos, desfruto tranquilo, me lembro do meu avô, que o único que pode foi se abraçar a mim, me pedindo perdão.

Imaginava minha mãe como estaria feliz com seus netos.  Tinha morrido tão jovem.

Os meninos desfrutava da praia, bem como do mar, como tinha feito seu pai. Embora a civilização tenha chegado muito perto, ainda estávamos tranquilo.

Deixei tudo que tinha para eles, no meu testamento.

Miguel era agora um professor respeitado em San Diego, todos seus momentos livres estava conosco.

Um dia me perguntou por que eu nunca tinha ninguém, como era um adulto fui contando toda a história para ele, o meu trauma, o medo de ter um filho, que tivesse os genes dos meus antepassados.

Mas eres diferente, nunca te vi fazer nada errado, lhe contei que sem querer tinha provocado a morte de meu avô, mas sentia principalmente porque, ele tinha se arrependido das coisas erradas que tinha feito, mas não tinha desfrutado da companhia dele.

James sabia aonde eu vivia, mas nunca mais se aproximou, não me perdoava não confiar nele.

Eu não me incomodava, pois na verdade ele não era meu pai.

Um dia sentado vendo as crianças, Maria me agradeceu mais uma vez pelas possibilidades que eu tinha dado a ela, ao seu filho.

Lhe respondi honestamente, que ela, bem como ele, tinham salvado a minha vida, me dado uma nova oportunidade.   Os meninos estariam garantidos por muito tempo, para estudarem, irem à universidade.   Um dos pequenos era o mais agarrado comigo.  Não dizia, mas era meu predileto, adorava um livro como eu, quando ainda era muito pequeno, eu estava lendo, ele via um livro no chão, começava a fingir que lia, com três anos, fui lhe ensinando a ler, escrever como tinha feito com seu pai.   Quando foi para a escola, o fazia perfeitamente, logo era um dos alunos mais adiantados.

Um dia lhe perguntei o que queria ser quando fosse adulto, me soltou dizendo que queria escrever histórias, deixei para ele, o diário que fazia, bem como o do meu avô.  Por causa dele eu tinha achado uma maneira de colocar para fora tudo que sentia, escrevendo o que tinha me acontecido, bem como depois que Miguel tinha entrado na minha vida.

Miguel dizia que eu teria sido um pai incrível, pela maneira como o tinha educado, como fazia agora com seus filhos.

Uma empresa queria comprar minhas terras, para fazer um resort, lhe disse que jamais venderia o meu pequeno paraíso.   Se um dia meus descendentes quisessem bem, mas eu não o faria.

Triplicaram o valor, segui dizendo que não, ainda falei com Miguel, ele ria, nosso paraíso, jamais.  Tinha certeza de que um dia ele manteria o lugar como estava, lhe pedi que quando morresse minhas cinzas ficasse, junto as pedras aonde costumávamos sentar para conversar.

Espero que ele cumpra, eu já estou no fim da vida, aproveito para me relaxar com as crianças, fico tranquilo pois sei que tem um futuro garantido, o dinheiro que recebi de minhas heranças, lhes permitia isso.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

lunes, 20 de junio de 2022

SHOULD

 

                                                  

 

Depois de mais de 20 anos retornava aos Estados Unidos, para quem tinha saído de casa uma noite escondido, tinha vencido na vida, era alguém respeitado, conhecido.

Tinha sido reconhecido na televisão pelo seu velho amigo de infância John, quando falou com ele, sentiu como se voltasse tudo outra vez.    Se abraçou ao seu filho, agora com a idade que ele tinha quando fugiu, lhe contou toda sua história verdadeira.

John lhe contou que sua mãe ainda era viva, que vivia numa residência, que tinha uma memória fantástica, as vezes vou visita-la para falar de ti.      Nunca fala mal de ti, nem de como escapaste, diz que tinha feito a mesma coisa na tua idade.

A história inicial que ele tinha acreditado durante anos, era que sua mãe trabalhava de garçonete num bar, perto de uma base do exército, perto de San Francisco, que ali conheceu meu pai, que o tinha esperado retornar da guerra do Vietnam, ele voltou com os últimos.

Mas a realidade era bem outra, nunca tinha entendido esse pai, que jamais chegava perto dele, nem para fazer uma foto, alias naquela casa só tinha uma foto, dos dois no dia de seu casamento.

Com ele nenhuma, sentia inveja quando ia a casa do John, ali tinham muitas fotos, deles três, dele com sua mãe, muitas, uma mesmo quando estava para morrer, depois muitas com seu pai.

Quando seu pai voltou da guerra, foram viver na cidadezinha da qual ele tinha saído para o exército, a casa de sua família, já não tinha parentes nenhum.

Entrou logo para a escola, aonde conheceu o John, eram completamente diferentes um do outro, ele era moreno, cabelos negros, olhos negros.   John ao contrário, era loiro, olhos azuis, cheio de sardas, seu pai era igual.   Ele ao contrário não podia ser mais diferente de seu pai, que também era loiro.

Quando chegou aos 8 anos, se percebia que seu pai não suportava sua presença, ele se escapava para a casa do John, nessa época sua mãe era viva, o abraçava, beijava, como fazia com seu filho.   Isso em casa ele não tinha, sua mãe quando muito passava a mão na sua cabeça.

Se aborrecia nas aulas, pois aprendia com facilidade, quando entraram no ciclo, antes da universidade, ele fez umas provas, falsificou a assinatura da sua mãe para fazer os testes, acabava o curso antes, com 16 anos.    A anos, acontecia uma coisa que era o grande segredo familiar, seu pai quando bebia um pouco demais, o queria fora de suas vistas, o fechava numa parte embaixo da escada, que seria antigamente o lugar para guardar lenha.  Tinha que dormir ali, no dia seguinte ele passava como se nada, abria o trinco, sua mãe, deixava ali sua roupa para ir à escola.  

Quando contou ao John, esse lhe deu um saco de dormir, negro, assim quando ele abrisse a portinha, não veria, pois ali não havia luz.   Com o tempo, foi juntando coisa, tinha uma lanterna, escondia ali o livro que estivesse lendo no momento.  Começou a trabalhar de tarde, na loja de ferragens do pai do John, conseguiu um imã com o qual abria a porta para se escapar para se encontrar com o John.    Iam os dois na caminhonete do pais deste até a beira do lago, nos dias de verão, para tomar banho, levavam o John uma manta, dormiam ali.   Mas ele colocava o despertador para chegarem antes que seu pai se levantasse.

Os dois tinha descoberto o sexo, juntos, apesar do John ser mais alto, mais forte, era além de amigo, o a única pessoa que o abraçava, beijava, fazia carinho.  Eles se matavam de rir, pois mesmo assim quem tinha o piru maior era ele.   Era ele que penetrava o John, não ao contrário, achava normal isso.

Mas claro um belo dia seu pai o pegou voltando para casa, foi a loja de ferragens, comprou um cadeado, assim ele não tinha como sair.  Mas claro, ele não era tonto, essa parte dava para a garagem, ele com um serrote, fez uma abertura, que estava escondida atrás de uma placa de madeira, que sempre esteve por ali.   Seguiu saindo.

Um dia escutou uma discussão entre seus pais, foi quando entendeu tudo.  Ele dizia que assim que ele fizesse 18 anos, o faria entrar para o exército, para aprender a atender ordens, obedecer.   Afinal não era filho dele, ele que se apanhasse.

Finalmente entendia tudo, nesse dia sua mãe chegou mais cedo do trabalho, sentou-se com ele, contou que realmente tinha conhecido seu marido, durante a guerra, quando trabalhava nesse bar, que estiveram juntos cinco noites, ela tinha sido a primeira mulher dele, prometeu voltar para se casar com ela.   Mas ela nunca lhe escondeu, que já tinha feito sexo com outros soldados a troco de dinheiro, sonhava em fazer teatro, poder ir para Los Angeles, ser atriz.

Depois que ele foi embora, ela seguiu com sua vida, não tinha ideia na verdade de quem era seu pai, eram muitos os rapazes que tinham passado pela sua cama, nunca perguntava os nomes.

Quando ele voltou, tu já tinhas três anos, veio me buscar, primeiro pensou que era seu filho, mas lhe contei a verdade.  Mesmo assim nos casamos, ele te adotou, por isso tens o nome dele na certidão de nascimento, tirou outra para ti, nada mais ao chegarmos aqui.

O levou a garagem, mostrou uma lata que estava em cima de outra igual, ali guardei todo o dinheiro que ganhei nessa época para um futuro melhor, tem também teus documentos.  Caso me aconteça alguma coisa, já sabes.

Nesse dia estava furioso, aguentar tanto desprezo do que pensava que era seu pai, afinal ele tinha razão, não era nada dele, apenas um recordatório dos erros de sua mãe.

Sempre tinha tido ciúmes, pois os dois sempre estavam de mãos dadas, saiam para jantar fora, ir dançar, mas ele ficava fechado embaixo da escada. 

Perguntou a ela, porque o deixava fazer isso, ela respondeu que era o melhor, assim ele não te pega, pois fica muito descontrolado quando bebe, tem pesadelos, sou a única que consegue acalma-lo.

Perguntou por que não o deixava, o sorriso dela, era triste, pois foi o único que me ofereceu uma vida honesta.

Seu pai, sempre guardava todos os dias o dinheiro da sua loja, num cofre que ficava à vista de todos na sala, ele dizia que era melhor que no banco, que não confiava.  De uma certa maneira sabia que ele não era muito esperto, pois nunca sabia direito o código do cofre, ele o memorizou, 48-33-75-58, dava para ver as pilhas de dinheiro, estavam em três pilhas, em cada espaço.

Ele se preparou a consciência, não iria para o exercito de maneira nenhuma, iria viver sua vida, tinha descoberto também, que não era uma caixa como ela dizia, eram duas, a de baixo tinha notas maiores.

Como era final de curso, os dois não sabiam que na verdade ele tinha terminado antes, no dia da formatura, se escapou, foi até ao colégio, ajudado pelo John, entrou na secretária no escuro, procurou seu expediente, bem com o diploma, mudou a data de nascimento, para que parecesse que tinha 18 anos, que era maior de idade, tirou uma cópia na maquina Xerox imensa que tinha ali naquela sala, saiu batido, ajudado pelo John, fez uma bolsa com tudo que tinha dentro das duas latas, a esconderam aonde iam sempre.

Na noite antes, percebeu que ele nunca olhava o fundo do cofre, quando saíram para tomar umas cervejas, ele abriu o cofre, usando uma luvas da cozinha, retirou o dinheiro debaixo da última fila, nem como algum de cima, colocou na sua mochila, colocou um casaco por cima.

Quando este chegou meio bêbado, sabia, que o fecharia ali embaixo da escada, a mochila já estava lá, tinha combinado como John, uma determinada hora.   O velho o fechou como sempre com o cadeado, o escutou rindo sozinho, comentando para si mesmo, logo me livro de ti.

Esperou o silencio da casa, saiu pelo lugar que tinha feito, agora que estava um pouco maior, era mais difícil, mas conseguia passar, saiu pela garagem, John o esperava mais embaixo, foram buscar a outra bolsa.

John queria ir com ele, o convenceu, teu pai te quer, vais querer voltar para cá, eu não nunca mais voltarei.

Fizeram pela última vez sexo, agora de uns tempos para cá permitia que John o penetrasse, gostava também, o que mais gostava na verdade era o carinho, os beijos que este lhe dava.

Depois o levou até a cidade seguinte, entrou ele na estação comprou um bilhete até a próxima cidade, de lá ele faria seu rumo, era melhor ele não saber.

Entregou o bilhete, se despediram com um forte abraço, quase se beijaram, mas tinha gente olhando.

Na cidade seguinte, olhou qual era o primeiro ônibus que saia, foi fazendo assim até chegar a Chicago.   Depois de tantos dias dormindo em ônibus, entrou num hotel pequeno, pediu um quarto, disse que estava muito cansado, que não o despertasse de manhã.

Dois dias depois tinha um emprego, ao contrário de seu quase pai, como ele dizia, abriu uma conta num banco, depositou metade do dinheiro das caixas, viu que era fácil, fez o mesmo num outro banco, lá viu que ofereciam caixas de segurança, perguntou se podia ter uma, pois tinha documentos de família para guardar.  Foi quando descobriu que tinha uma outra certidão de nascimento com o nome de outro homem.  Guardou tudo lá, bem como o resto do dinheiro, o do cofre, se o depositasse chamaria muita atenção.

Arrumou um emprego, começou a trabalhar, mas não se sentia seguro, um belo dia, viu um anuncio numa pagina de jornal velho deixado por algum cliente, no restaurante aonde trabalhava, vivia num quarto alugado na casa de uma viúva.

Era sobre cursos de teatro em Toronto, pensou muito, tirou um passaporte, comprou um carro de segunda mão em seu nome, foi para lá, arrumou um pequeno apartamento, se informou, conseguiu entrar para universidade, tinha dinheiro para se manter, mesmo assim arrumou um emprego de meio expediente numa loja.

Começou a fazer amigos.  Tinha uma facilidade incrível, para os textos, os decorava perfeitamente, era um apaixonado de Willian Shakespeare, sabia todos os textos do mesmo, logo conseguiu trabalhar numa obra na Universidade, quando esteve a primeira vez no palco, com público aplaudindo, se sentiu pela primeira vez feliz na vida, era isso que queria para ele.

Foi subindo, começou a atuar com uma companhia, de papeis secundários, foi passando para os melhores, fazia uma coisa que um professor tinha lhe ensinado, construir um personagem, era um professor que tinha fugido da Rússia, tinha um método de ensino próprio, dizia que ele era seu melhor aluno.   Um dia lhe disse, estás perdendo teu tempo aqui. Eu vou para Londres, porque não vens também.

Procurou um banco, aonde depositou todo o dinheiro que tinha guardado, disse que tinha acabado de receber uma herança, o banco era inglês, então não havia problema, era só chegar a Londres, pedir a transferência.

Primeiro ficou dividindo uma casa com o professor, mas quando ele quis algo mais, se mandou, não se sentia atraído por ele, se tinha mantido casto todo esse tempo, não era para isso.

Ia assistir todos os espetáculos clássicos do teatro inglês.  Fez um teste para entrar, com o tempo, no emprego que tinha num dos grandes armazéns, tinha aprendido a falar como sotaque dos seus clientes finos.

Logo estava fazendo pequenos papeis, arrumou uma casa, num subúrbio, como considerando o que ele podia pagar, viveu nessa casa uns cinco anos, também foi subindo de categoria, quando substituiu um dos galãs favoritos do teatro, no papel de Romeu, esse ia fazer um filme, ficaria ausente vários meses.  Ninguém esperava que o público adorasse sua interpretação.  Ficou com o papel por muito tempo, logo era o segundo da companhia.

Depois chegou a primeiro, mas as longas temporadas o cansavam, quando chamaram para fazer um filme, foi sua primeira e última experiência, não gostava, embora o vivessem chamando para outros papeis, não queria.

Começou a aceitar outros papeis, quando o chamaram para fazer “Esperando Godot” de Samuel Becket, foi a gloria, adorou fazer outras coisas, ficaram um ano em cartaz, ao final ele já inventava texto, para não ter que repetir o mesmo.

Nessa época tinha uns vizinhos na casa dos fundos, estavam sempre discutindo, passou a usar o quarto da frente, para não ser incomodado, um dia ao abrir a porta da cozinha para colocar o lixo fora, viu um garoto, ali sentado.  Este lhe fez sinal de silencio, com o dedo, estão discutindo.

Ficou com pena do garoto, perguntou se ele tinha tomado café, disse que não, venha, lhe colocou café com leite, pão com manteiga, ele devorou, perguntou se queria mais.  Lhe perguntou como chamava?

Samuel, educadamente lhe perguntou o seu, Albert Mark, o levou para a sala, o deixou vendo televisão, isso se tornou um hábito, cada vez que se discutia na casa dos fundos, ele aparecia, era pequeno, mas esperto.  Cada vez se soltava mais com ele.

As vezes ficava vendo desenho animado, passando a mão na sua cabeça.  Quando sua mãe o chamava, ia embora, mas sempre dizia obrigado.

Um dia conheceu a senhora, era ainda bonita, segurava uma menina nos braços, Samuel, lhe disse olá vizinho.   Ah então é na sua casa que ele se esconde.

Desculpe, meu marido voltou da guerra cheio de problemas, estamos sempre discutindo porque gasta todo seu dinheiro em bebida.

Por duas vezes viu que ela fazia compras, mas o dinheiro não chegava para tudo, ele se oferecia para pagar.

Agora tinha sempre em casa, biscoitos, coisas para o Samuel.

Um dia estava estudando um texto novo de Brecht, quando escutou tiros, desceu correndo, abriu a porta, o menino entrou como um foguete, o levou para o quarto da frente, escutou tiros que alcançavam sua janela dos fundos, bem como as da cozinha.  Chamou a polícia, está disse que os outros vizinhos já tinha chamado.

Levaram horas para tirar o homem da casa, ele tinha matado a mulher, bem como a filha, o Samuel, como sempre por instinto tinha escapado.

Quando a assistente social apareceu, o garoto estava agarrado com ele, disse que fazia muito tempo que o garoto vinha para sua casa escapando das discussões.

Lhe perguntou o que ia lhe acontecer?

Vai para um orfanato.   Como o pai com certeza terá cadeia perpetua, pois não é a primeira vez que sai dando tiros, tiveram que se mudar da casa anterior por isso.

Eu posso adota-lo, quando disse quem era, a mulher disse que já o tinha visto no teatro.

Ela perguntou ao Samuel, se queria ficar com o Albert, ele se abraçou a mim, já sabia que sua mãe, bem como sua irmã tinha morrido.

Não havia mais familiares.

Fazemos o seguinte, vamos conversar com um juiz de menores.

Foram os dois com ela, por curiosidade perguntou por que ele morava ali.

Respondeu que todo mundo o tratava bem, que vivia nessa casa desde que tinha vindo para Londres, podia viver num lugar melhor, mas aqui todos são família, me sinto em casa.

O juiz concordou em lhe dar primeiro a guarda, depois a senhora ia acompanhar como funcionária tudo.

Logo o colocou numa escola, contratou uma senhora para ficar com ele, nos dias que tinha teatro, esta acabou ficando definitivamente.  Acabou se mudando para uma casa num outro lugar, porque as crianças da escola apontavam para ele.   Era uma casa muito bonita em Portobello Road, a senhora Hilde, passou a viver com eles, tinha verdadeira paixão pelo Samuel, quando contou ao juiz por que tinha se mudado, não queria que o garoto fosse vitima da curiosidade alheia.  Este então autorizou sua adoção.  Um advogado falou com o pai, que assinou a autorização.

Passou a se chamar Samuel Mark.

Nunca tinha encontrado um amor por assim dizer, tinha algumas aventuras, mas romances nenhum, preferia ficar sozinho que ter aventuras, nunca tinha se esquecido do John.

Samuel tinha 18 anos quando lhe contou a verdade, quando John lhe chamou, estavam os dois em NYC, ele tinha aceitado fazer uma temporada com a peça que estava fazendo no momento, claro saiu na televisão do pais inteiro.

Disse ao John que lhe faltavam duas semanas ainda, que depois tomariam um avião, iriam a cidade mais perto com aeroporto.

Arrumas um lugar para me hospedar.

Claro ficas na minha casa.

Não tens família?

Nunca me casei, só amei uma vez na vida.  Nunca te esqueci.

Não disse nada, a não ser que ele tampouco o tinha esquecido.

Vou preparar tua mãe, dizendo que vens.

Quem estava ansioso era o Samuel, era um filho espetacular, já tinha feito pequenas aparições nos espetáculos que fazia, mas queria fazer belas Artes.

Tinha feito muitos anos de tratamento psicológico, principalmente depois que soube que seu pai verdadeiro tinha sido assassinado na prisão.  Nunca chegaria a entender por que ele era tão violento.

Nada realmente era perfeito na vida, lhe dizia a ele, tentou descobrir de aonde tinha saído, seus pais, vinha de um orfanato, depois os anos que ele esteve na guerra, alguma coisa se fudeu aí.

Tomaram o avião, não sabia como estaria o John, o imaginava como seu pai, que na época era gordo, mas para sua surpresa, encontrou com um homem forte, mais alto que ele, com um sorriso franco na boca, o beijou, apertou num abraço forte, meu amigo, abraçou o Samuel, que filho bonito tens amigo.

Venham tenho o carro fora.  Era um carro moderno.  No caminho para a cidadezinha, foi dizendo não mudou muito, cresceu um pouco, ainda vou no nosso lugar favorito muitas vezes, as vezes acampo ali, lembrando de nossa juventude.

Contou ao Samuel que ia a esse lago, que dormiam até uma determinada hora, imagina se alguém que vai acampar, leva relógio despertador, mas o fazíamos para que ele chegasse cedo para se esconder do pai dele.

Não era meu pai, nesse conceito nunca foi.  Não se preocupe, eu contei tudo para o Samuel, inclusive o que fazíamos os dois.

Tens alguém na tua vida?

Nunca tive.    Tive sim aventuras, nada demais, estava sempre muito ocupado, depois tinha Samuel para criar.

Ele sempre inventa esta desculpa para estar sozinho, quero ver como fará agora quando eu estiver na universidade, talvez estude em NYC.

Porque nunca fizeste cinema, como os outros atores Albert.

Porque gosto muito de estar num palco, de sentir quando acaba a função, o cinema é uma coisa de minutos, não é o que quero para mim.

Antes de vir, fiz uma série para a BBC, porque tinha feito esse personagem no palco. Mas sigo sem gostar.

Fale de minha mãe?

Parece que quando foste embora a vida deles se tranquilizou, ela seguiu vivendo para ele, não fizeram nenhuma denúncia, tampouco te procuraram.  Ele viveu mais dez anos, depois morreu de enfarte vendo um jogo de futebol americano, pela televisão no bar com uns amigos.

Ela seguiu vivendo sua vida, até ir a pouco tempo para essa casa de pessoas de idade, mas sempre ia conversar comigo, sobre ti, se arrependia de muitas coisas, achava que agora era tarde.  Quando te vi na televisão, consegui gravar o vídeo, levei para que ela vise, ria muito, dizendo que sem querer tinhas realizado o sonho dela.

Quando falei que tinhas um filho, ficou contente.  Tem uma saúde forte para sua idade, vai adorar ver-te.

Amanhã é dia de visita, podemos passar o dia inteiro lá.   Levaremos comida, fazermos um pic-nic no parque da residência.

Ele seguia vivendo na casa do pai.  Não cheguei a ir ao exército, pouco antes, meu pai teve um enfarte, ficou com dificuldades para falar, então assumi os negócios dele.

Nunca sai daqui.   Queria ir atrás de ti, mas não sabia aonde estavas.

Eu levei muito tempo para superar, ter que dormir naquele vão da escada, fechado, a primeira vez que tive um quarto só para mim, foi como ir a Disney.   Só tive uma casa grande quando o Samuel veio viver comigo.

Antes que ele perguntasse, o Samuel contou sua história, não tinha vergonha disso, tenho um pai impressionante.  O tinhas que ver no palco.  O papel que fazia nessa última peça de teatro, ele fica irreconhecível, faz um mendigo. Mas o publico vem abaixo quando descobre que é ele.

Mesmo já sabendo que ele faz esse papel, se esquecem no momento que ele entra em cena.

Nunca me cansei de ver meu pai no palco.  Isso que ensaiamos juntos os textos antes, ele discutia sempre comigo desde criança, para que eu entendesse o personagem.

Colocou a mão sobre o braço do pai.   Sempre foi honesto comigo.

Não me esqueço da primeira vez que busquei refugio na sua casa, era pequeno, estava sentado nos degraus da cozinha de sua casa, quando ele abriu a porta me viu, me sorriu, escutou o que se passava, perguntou se eu tinha tomado café.  Nos sentamos na cozinha, só perguntou meu nome, ficamos amigos nesse momento.  Depois cada vez que ia tinha biscoitos, bolos ele sempre foi um péssimo cozinheiro, Hilde a senhora que sempre cuidou de mim, ria muito dizendo que na cozinha ele era um desastre.

A contratou para ficar comigo, nos dias de espetáculos, acabou vivendo conosco, agora esta lá como grande senhora da casa, enquanto estamos aqui.

Ele quando eu era criança, me contava sempre as histórias da infâncias de vocês, eu as vezes pensavam que ele inventava um personagem.   Mas quando me contou a história de vocês, entendi que ele te amava.

Albert, cortou, já basta disso Samuel.

John ria, não te preocupe, ele era igual, quando nos encontrávamos para ir a escola, quem falava era ele, o livro que tinha lido essa noite no desván, ali embaixo da escada, depois me dizia que o saco de dormir que lhe emprestei, tinha meu cheiro, que isso o fazia se sentir acompanhado.   Íamos para escola, ele falando da personalidade do personagem da história, o analisava a fundo.   Dizia que nunca saberia analisar o que pensava que era seu pai, pois este nunca falava do seu passado.

Com o tempo basicamente morava nesse pequeno espaço, escuro, mas quando estávamos juntos nos divertíamos, dizia que eu era seu sol.

No verão, escapulíamos para ir nadar nesse pedaço do lago, que ninguém até hoje vai, tirávamos a roupas, ficávamos nus, nos divertíamos.

Samuel para provocar, soltou, faziam sexo que ele me contou.

Ficaram os três rindo muito.

A casa de meu pai é a mesma, mas a reformei depois que ele morreu, graças a deus morreu dormindo.   Foi um pai fantástico.

Mal entraram, não podia dizer que era como retornar ao passado, mas a casa parecia realmente um lar.

A pouco tempo, vendi a loja para um chinês, porque já estava farto, nunca foi meu sonho cuidar da mesma, meus sonhos ficaram para trás.

Venha mostrou os quartos preparados para eles.

Samuel que tinha um bom humor, soltou, ué, pensei que o ia arrastrar para teu quarto.

Se ele quiser, será bem-vindo, mas iremos devagar.

Foram almoçar no único restaurante da cidadezinha, agora pertencia a uma família que tinha vindo de fora.    Mas claro todos o reconheceram da televisão.

Afinal era um dos filhos da cidade.

No outro dia de manhã, saíram para visitar sua mãe.

Esta estava sentada numa cadeira de braços, fazendo tricô.   Riu de observar de longe, ele seguia bem cuidada, bonita como sempre tinha sido.

Quando o viu, se levantou, ele correu para ela, abriu seus braços, ah meu filho.

Quando viu o Samuel, o abraçou, beijou muito, tens sorte aprendi a abraçar, beijar os outros depois de velha, quando jovem era muito seca, com as pessoas, quando muito estendia a mão, talvez pela educação que tive.  Sentou-se no sofá, entre os dois, ah que bom te ver, realizaste meus sonhos de juventude, queria ser atriz, acabei aqui nessa cidade, mas fazer o que, eram coisas da época.

Depois os dois ficaram sozinhos, ela soltou, talvez foi a melhor coisa teres ido embora, ele nunca reclamou nem disse nada do dinheiro que levaste, me queria somente para ele.

Nos poucos anos que esteve vivo, a sua maneira foi feliz, deixou de beber tanto, mandou abrir aquele pedaço embaixo da escada, riu quando descobriu por aonde escapavas.   Me dizia ele vai sobreviver, pois é inteligente.  Foi quando descobrimos que estavas adiantado na escola.

Eu também fugi de casa, erámos muitos, nem sei hoje em dia aonde era o lugar que vivi minha infância, aprendi a ler direito a escrever, quando fui trabalhar nesse bar.

Se perguntas se eu o amei, não sei dizer, só sei que ele cumpriu o que prometeu, voltar para me buscar.  Apesar de não seres filho dele te adotou, embora não gostava de crianças, não sabia lidar com isso, depois me contou que tinha sido muito infeliz em criança, por causa de seus pais.

Tinha dificuldade em lidar com isso.

John tem sido um filho para mim, agora na minha velhice, vem sempre que pode conversar comigo, na verdade o assunto dele, eres tu, sempre te amou essa é a verdade, falam dele na cidade, mas não parece se importar de estar sempre sozinho.

Nessa noite, ficaram os dois sentados no sofá da casa do John, ele contou sua vida para ele, como tinha ido, até chegar a Toronto, do professor que o levou para Londres, seus começos, seus sonhos alcançados.

Podia vir conosco passar uma temporada, se gostas, pode ficar.

Eu agora dou mais espaço entre os espetáculos que participo, viajamos quando Samuel esta de férias, vou aonde ele queira.   Quero sempre ser para ele o pai que não tive, tinha inveja de ti com o teu.

Mas nunca ninguém me abraçou, me cuidou como tu.  Talvez por isso, fiquei sozinho, não gosto de sexo sem carinho, erámos como fazíamos.

Pela primeira vez, John segurou seu rosto, lhe deu um beijo terno, nunca me esqueci de ti. Tive também aventuras em outras cidades aqui perto, mas nunca quis ninguém.

Nessa noite dormiram juntos, foi como voltar ao tempo, se divertiram como faziam.

Se lembra, inventávamos maneiras de fazer sexo, sem saber direito como era.

No dia seguinte tiveram que aguentar Samuel, que ria dos dois.

Foram até o lago, o tempo estava bom, fazia calor, se jogaram na água, depois Samuel, foi fazer uma caminhada, os dois ficaram ali namorando, lembrando das coisas.

Uma coisa importante incutiste em mim, adoro ler por tua causa.

Dias depois quando analisava sua vida, o que deveria fazer, antes de conversar com o filho ou mesmo com John.  Recebeu uma chamada da casa de maiores aonde vivia sua mãe.   Esta tinha falecido durante a noite.

Procederam seu enterro ao lado do marido, bem como teve que ir a leitura do testamento, era muito dinheiro, decidiu que uma parte iria para o fideicomisso do filho, outra parte para a residência, para ajudar as pessoas que não podiam pagar, o resto ele doou a escola aonde tinha estudado, para que se modernizasse.

Feito isso se sentiu livre, foi quando se sentou com os dois para conversar.  Tinha que voltar para Londres, as férias tinham terminado.

Sentiu imediata repulsa do John que disse que nunca tinha pensado em sair dali, que não saberia viver numa cidade grande.  Que tinha pensado que ele tinha vindo para ficar ali definitivamente com ele.   Falou tanto que ficou olhando, desconhecia essa parte dele, o medo de sair para o mundo.  Tinha se acostumado a sua pequena vida, que não pensava mais além.

Estava feliz com ele ali, mas seguira estando se ele não estivesse.

Bem eu tenho compromissos, tenho que ir, afinal é a minha vida, tu vive de rendas, eu seguirei sempre trabalhando.

Samuel, ia experimentar estudar em NYC, caso contrário voltaria para Londres.

Quando chegou em casa, sentiu-se pela primeira vez sozinho.  Principalmente porque seu filho não estava ali.  Ficou imaginando John descobrindo a cidade, mas por sorte em seguida começou os ensaios, quando viu estava mergulhado na sua vida, a que amava.

Dois meses depois Samuel, voltou, não tinha gostado de estudar na América, para todos era um idiota Britânico.

Quando o espetáculo estreou, chamou o John, para saber se queria vir, ele respondeu numa conversa amistosa, que o retorno dele, os dias que estiveram juntos, o tinha liberado do passado, que estava tentando ter um relacionamento com um homem que conhecia de tempos atrás da outra cidade, agradecia o convite, mas que sua vida estava ali.

Samuel, pensava como ele, John sempre tinha sido uma pessoa acomodada, seus sonhos eram restritos a vida da cidade.

Ele seguiu em frente, a série tinha feito sucesso, principalmente pelo seu personagem, queriam que fizesse outra tanda de capítulos. Acabou aceitando, visto ser um trabalho continuado, que podia fazer durante o dia.

Durante a filmagem se reencontrou com um ator, com quem já tinha feito teatro, começaram a recordar os velhos tempos, o outro disse que tinha se divorciado finalmente, que sem filhos, tinha resolvido sair do armário, era muito pequeno dizia, pois eram um homem grande. Saiam para almoçar conversavam sobre o assunto do seu mundo o teatro. Os dois tinham um ponto em comum, amavam o que faziam.

Resolveram fazer uma peça juntos para relembrar os velhos tempos, foi um sucesso impressionante, ficaram meses em cartas, tinham pensado em três, acabaram ficando seis.

Um produtor queria fazer do espetáculo um filme.  Pela primeira vez analisava com outra pessoa se deviam ou não fazer o mesmo.

Um dia conversando sobre suas vidas particulares, os dois comentavam que sentiam falta disso alguém com quem compartir as coisas, que as aventuras eram como relâmpagos, pois na verdade sonhavam com outra coisa, sem querer acabaram experimentando fazer sexo, como diriam depois rindo um para o outro, que tinha sido muito, mas muito bom.  Eram iguais na cama, gostavam das mesmas coisas, aprenderam a se explorar.

Agora quando um estava fazendo um trabalho, o outro ajudava a preparar texto, personagem, debatiam o que entendiam.

Quando a segunda parte da série estreou nos Estados Unidos, John ligou, tinha se esquecido completamente dele.

Reclamou que o que tinha tentado com seu namorado, não tinha dado certo, pois o outro queria explorar o mundo, ele não.

Poderia lhe dizer como forma de vingança, agora tenho alguém, mas não o fez, escutou, disse ao amigo que ele devia revisar sua vida.

Ele, com Magnus, foram convidados para levar um espetáculo na Broadway, sentaram para conversar a respeito, justo nesse dia Samuel, trouxe sua namorada para conhecer os dois, uma garota agradável.   Estavam os dois fazendo parte de um espetáculo moderno do West End, com relativo sucesso, Samuel tinha desistido de Belas Artes, estava fazendo um curso de escenografia.

Estava coordenando o cenário que queriam para a peça que levariam para a NYC, queriam que fizessem uma turnê por várias cidades americanas.  Mas os dois não queriam. Era muito tempo fora de Londres.

Fizeram a temporada americana, voltaram para casa, agora tinha certeza de que seu lugar era em Londres, aonde na verdade tinha escolhido viver a tanto tempo.

Ele bem como o Magnus, viviam juntos a muito tempo, tinham o mesmo grupo de amigos, o que era interessante, os dois não gostavam de festas.

Quando Samuel se casou, os dois se sentiram felizes por ele, Magnus tinha aprendido a conviver com o filho dele.  

Samuel, lhes perguntou por que não se casavam, fariam uma cerimônia só.

Conversaram muito a respeito, depois se sentaram-se com os dois para debater o assunto.

Acabaram aceitando o convite, mas a festa era só do Samuel com a Noiva.

Quando nasceram os primeiros filhos do casal, eram os avôs perfeitos.

Muitos anos depois, recebeu uma carta do John, enviada pelo seu advogado, lamentava sua covardia, devia ter fugido contigo quando partiste, mas tinha medo, esse sempre foi meu problema, medo, não querer me arriscar, talvez a única coisa que eu tinha como suporte foste tu.  Te entendia, bem como invejava teus sonhos.  Conseguiste tudo que eu não fui capaz, viver, acabei numa residência como tua mãe, me sentindo um idiota, pois mesmo as pessoas que estava ali, tinham vivido, eu nunca tive nada para contar.

Mas segui o que fizeste com o dinheiro de tua mãe, doei para os que tinha sonhos.

Eu fio parco deles, o único que tinha era viver uma vida contigo, mas isso era impossível, pois querias mais.

Deu a carta para o Magnus ler, tinha contado toda sua vida para ele.

Quando os meninos do Samuel já eram grandes, este perguntou se não pensavam em parar. Os dois riram, queres é nos matar, somos da casta que quer morrer em cena.

Foi o que aconteceu com Magnus, estava fazendo um texto de Shakespeare, morreu no final do espetáculo, no camarim, quando trocava de roupa.  Um enfarte fulminante.

Seu enterro foi impressionante, na cerimônia ele falou, que não só perdia seu companheiro, mas também, um amigo, camarada, a pessoa com quem compartia um amor maior o Teatro.

Em seguida estava fazendo a primeira montagem do Samuel, de um texto que os dois desde que ele era criança debatiam “Rei Lear”, foi uma montagem premiadíssima.

Os garotos do Samuel, sempre iam ver o avô ensaiar.  Os dois tinham o teatro na veia também.

Ele seguiu em frente trabalhando, claro agora escolhia os papeis condizentes com sua idade, uma vez brincando disse ao Samuel, não vais querer que faça um Romeu e Julieta.

Meses depois, Samuel apareceu com um texto, lhe entregou para ler.  Quando leu o nome do autor, riu, era o primeiro texto que ele escrevia.

Uma adaptação de Romeu e Julieta aos tempos modernos.  Só que desta vez, era a paixão de dois homens que se reencontram depois de muitos anos, que as famílias separaram.

Foi um dos produtores do espetáculo, avisavam que só era uma adaptação, não o texto original.

O único que aceitou fazer o outro papel, foi um ator de sua mesma idade, que sempre disputava com ele os papeis.   Nunca se bicaram, mas ao primeiro beijo que tinham que trocar em cena, se apaixonaram.

Riam pela idade deles, Gregory, era viúvo como ele, tinha um casal de filhos, já com suas vidas feitas, um era advogado a filha era diretora de um banco.

Não se esconderam, riam muito do fato de terem idade avançada, mas se completavam, amavam estar no palco, bem como estar com suas famílias.

Gregory, ria dizendo que finalmente tinha se encontrado, sempre tinha tido medo da relação de dois homens, tinha tido muitas aventuras com mulheres, mas resolveram não se casar, viver juntos, sem problemas.