lunes, 11 de abril de 2022

LALO TITUS

 

                                        

 

Esse meu nome me deu muitos problemas ao longo da vida, tinha tudo a ver com meu pai, ele foi pai muito tarde, era policial, mas só depois que se aposentou precocemente por um tiro que levou, que lhe impediu de ter uma mobilidade a 100 %, se casou, sentou a cabeça como diziam suas irmãs, mas na época já tinha quase cinquenta anos, quando nasci.

Era uma apaixonado de uma série da época Mission Impossible, mas amava a música, que era de Lalo Schifrin, como descobriu através desta, Night in Tunísia, foi quando começou a gostar do Jazz.

Então quando nasci, me deu esse nome, bem como Titus porque gostava de Titus Andronicus, de Shakespeare, foi ao teatro para ver essa peça, quando era namorado de minha mãe, ela era louca por teatro, o arrastou, ele foi pensando em dormir, mas adorou a trama, leu depois tudo que tinha escrito Shakespeare.

Evidentemente me obrigou a ler todos, diziam que eram como novelas policiais, se aprendes a analisar cada personagem, o trazes para a atualidade, tens um caso de polícia.

Todos os casos de polícia estão baseados em alguma tragedia alheia a nossa vontade, se não tomamos cuidado a nossa própria é.

Quando entrei para a academia de polícia sofri muito bullying por causa disso, diziam que era um nome estranho, como a minha figura, imaginem um mulato, como meu pai, casado com uma porto riquenha, de olhos claros, para alguns eu podia ser um mulato sarará, mas tinha cabelos lisos castanhos, bem como claro os olhos dela.

Ele me adorava, foi meu pai, meu avô ao mesmo tempo, minha mãe reclamava muito disso, ela dizia não, mas qual ele já estava me satisfazendo dentro das possibilidades.   Se não podia, me explicava detalhadamente por que não podia.  

Usava tantos argumentos que eu acabava aceitando, segundo ela, era um jogo feroz de vontades contrárias uma a outra.  Mas ele sempre ganhava.

Isso era quase um exercício me dizia a ele de argumentos.  Quando interrogas a um criminoso ou culpado de algo, tens que observar bem a pessoa, argumentar de tal maneira que ela acabe confessando.   Nada de ir pela violência.

Fui aprendendo desde criança isso, por exemplo, analisávamos Hamlet ou Macbeth, me fazia enxergar cada nuance dos personagens, minha mãe, ficava sentada ao lado em sua poltrona preferida, fazendo tricô, crochê ou mesmo bordando, ou remendando umas calças velhas minhas, pois estava sempre raladas nos joelhos.

Podíamos discutir horas, uma página do livro, ele sabia o texto todo, argumentava comigo, não podes ir a cegas num interrogatório, ou senão uma coisa muito importante.

Embora eu soubesse da resposta, sabia que ele gostava de falar nisso, “intuição, observação”.

Tens que observar o comportamento do sujeito, se ele for violento, ele não controla as vezes seu próprio corpo, observe como imaginas que ele cometeu o crime, se estava controlado ou descontrolado.   Mesmo as pessoas frias, tem comportamentos que não percebem.

Isso para minha carreira serviu muito, mal sai da academia com as notas mais altas, fui trabalhar numa delegacia conflitiva, era calado, observava os comportamentos dos companheiros, os que falavam muito, dos que arrotavam que eram machos alfas, como se comportavam nos interrogatórios, muito colocavam tudo a perder nesse momento.

Quanto tocou a mim o primeiro interrogatório, era um caso complicado, um sargento quis me fuder, pois eu era para ele um tonto, pois não falava muito.

Simplesmente entrei na sala, já tinha visto o sujeito, o seu comportamento, me sentei em frente a ele, fiquei quieto, não disse uma palavra, até que ele ficou nervoso com isso, eu simplesmente o olhava nos olhos, quando ficou completamente desconcertado, pois esperava que eu lhe fizesse as acusações, sem querer, querendo, fui colocando na frente dele as fotos do crime que tinha acabado de cometer.

Eu seguia quieto, esperando o momento para atacar, quando escutou minha voz, que pensou agora vai gritar, falei calmamente com ele, o que tinha feito a garota para que ele fizesse isso.

Estranhou, ficou me olhando, olha a cara de anjo que a menina tem, ele ficou furioso, soltou tudo, que a tinha matado justamente por isso, por ter essa cara de menina boa, mas quando ele se aproximou dela, se assustou, me disse que via na minha cara sexo, asco, cuspiu nos meus olhos, deixei de ver qualquer coisa, quando a vi a tinha matado.

Nunca senti tanto prazer em minha vida como acabar com essa filha da puta que pensava que era uma santa, a penetrei mil vezes depois de morta, para ela saber quem mandava.

Todo mundo imaginava que em seguida ele pediria um advogado, o caso não tinha muita provas conclusivas, ele acabou dando o detalhe de tudo, como a tinha obrigado a subir no seu carro a força, aonde a tinha levado, como a tinha enterrado depois.

Quando sai da sala, todo mundo me elogiou, o puto sargento soltou, sorte de principiante.

Com o tempo todos me pediam ajudas nos interrogatórios.

Um daqueles famosos, que te perguntam primeiro “sabe quem sou”, eu desarmava, dizendo não tenho a menor ideia, deixava o cara dizer tudo que queria, ficava escutando em silencio, ao final lhe perguntava, isso tem alguma coisa a ver por que prenderam o senhor?

Como, ficavam intrigado, pois eu não acusava diretamente.

Veja bem soltava, lhe prenderam em fragrante, mas o senhor está dizendo que é uma pessoa importante, me explique o que estava fazendo nesse lugar, que não condiz com sua classe de pessoa, ia enrolando usando o argumento que ele dizia que era importante.

Até que tentava ele me convencer que tinha cometido o assassinato ou o que fosse.

Segundo meu chefe o que deixava as pessoas desarmadas, era que minha cara ficava imutável, nenhum musculo se mexia.

Isso foi um treinamento com meu pai, ele tinha que me fazer emocionar com alguma coisa, me provocava ao máximo, eu tinha que conseguir não mostrar se sentia raiva, ódio, tinha que ter uma cara sem movimento.

Depois de anos treinando com ele consegui.

Quando ele morreu, as pessoas me esperavam ver destroçado, ele tinha me dito dias antes no hospital, nunca mostre a estas pessoas o que sempre sentes por mim, nem o que eu sinto por ti, pois querem te ver arrasado para te consolar, pense bem meu filho, não podemos ser fracos, somos mais fortes que estas emoções.           Depois em particular, chore tudo o que queiras, mas no momento, não, de essa vantagem a ninguém.

No dia que morreu eu cheguei ao hospital, tinha sido promovido, fui correndo para contar para ele, já estava com quase 90 anos, nunca soube sua idade verdadeira.

Foi um choque tremendo, respirei fundo, em seguida fui tratar dos seus últimos desejos, queria ser enterrado ao lado da minha mãe, que não houvesse missas, nada disso, ele odiava a igreja, os padres, todas essas coisas.

Queria que somente fossem avisados seus poucos amigos, que ainda tivessem vivos, que o velório fosse muito rápido, pois tinha pressa de ir-se encontrar com minha mãe.  Fiz tudo como ele mandou, embora minhas tias que era carolas, ficaram furiosas, mostrei o papel de suas vontades.  Uma delas se atreveu a trazer um padre, o coloquei de porta para fora, como ele dizia.

Apesar disso, a polícia lhe rendeu uma homenagem, foi interessante, mas foi tudo no cemitério, nada de igrejas.

Quando voltei para casa, me sentei no salão, se alguém entrasse, iria dizer, coitado ficou louco, lhe contei mentalmente que tinha sido promovido.  Como ele iria reagir, que me abraçaria como um louco, me diria, eu te ensinei melhor que nessa porra de academia de polícia, não deixava de ser uma verdade.

Fui para um delegacia, de Hollywood, fui subindo, até a chegar a ser capitão, a inveja era muita, quando me chamaram para ser chefe de polícia, eu na verdade estava de saco cheio de tudo, como ele, estava seco.   Mal tinha uma vida particular, não podia ter relacionamentos, ele me dizia sempre não tenhas filhos, pois terás medo de te arriscar, por isso só te tive depois.

Quando eu tinha uns 15 anos, me apaixonei por um colega de turma, contei para ele, pois se minha mãe soubesse, iria logo dizer, aonde foi que eu errei.

Estávamos sentados no degraus em frente de casa, ele colocou a mão nos meus joelhos, me falou tudo que conhecia sobre isso, que eu tivesse certeza de que o outro também me queria, pois eu poderia ter entendido errado os sinais.   Analise como te ensinei, não te arrisque que façam de tua vida um inferno, sem ter certeza de que a outra pessoa te quer.

Não escutei nenhuma recriminação, nada como podia esperar, no final, me abraçou, me disse que me queria de qualquer maneira, que me amava.

Realmente fui observar os sinais, achei estranho pois o fulano, me olhava, lançava sinais, mas fiquei quieto, depois escutei ele falando com seus companheiros, creio que vocês estão errados ele não é gay, pois não entendeu os sinais de que vocês me disseram para fazer.

Queria comprovar se eu era gay ou não, pois era um dos únicos que não tinha namorada.

Anos depois o encontrei numa discoteca gay, aos beijos com um desses garotos de programas, lhe disse para ter cuidado, pois eram tipos de pessoas que podia ser perigosas.

Me olhou de cima a baixo, como dizendo, quem é você para me falar sobre isso.

Dias depois fui visita-lo num hospital, tinham lhe dado uma surra tremenda, além de roubarem tudo que tinha de valor na sua casa.

Ficamos amigos, ele sempre depois disso confiou em mim.  Lhe disse para não viver escondido que isso sempre atrairia pessoas como as que lhe tinha causado problemas.

Seja tu mesmo, não precisas levantar bandeiras, tampouco sair gritando aos 4 ventos que eres gay, a tua vida é só tua.

Eu não gostava dos ambientes de nenhuma classe, não gostava de guetos, nada do gênero, quando me perguntavam alguma coisa da minha vida pessoal, eu olhava a pessoa nos olhos, lhe respondia com outra pergunta, “eu pergunto sobre tua vida”.

Nunca mais me enchiam o saco. 

Tive um companheiro nessa delegacia, durante quase oito anos, um dia infelizmente levou um tiro que o deixou atirado em cima de uma cama para sempre como um vegetal, sua mulher, que era muito bonita, a princípio fez um drama impressionante, até ver a pensão que lhe tocava, quando ele se recuperou um pouco, o deixou numa dessas casas de repouso, que obrigou a polícia pagar, mas nunca ia até lá, quem ia era eu, pelo menos a cada 15 dias, as vezes me sentava conversava com ele, como fazíamos no carro, debatendo alguma coisa que tivéssemos investigando, ele tinha uma maneira de olhar o problema, eu outro, mas eu fazia um exercício, juntava sua opinião com a minha, encontrava um meio termo nisso tudo.

Sentia falta disso, o meu novo companheiro era um idiota renomado.  Um dia me enfureci pois estragou todo processo que estávamos levando, por querer parecer mais importante do que era.   Falei com o chefe, prefiro ir sozinho nisso, ele permitiu.

Um dia cheguei na clínica, ele tinha morrido durante a noite, sua viúva já estava vivendo com outro, mas sem casar-se para não perder a pensão.

Fui ao enterro porque tinha a pantomina da polícia, a salva de tiros, essas merdas todas.  Mas sai dali rapidamente com asco.

Dias depois levei um tiro, numa emergência que tinha ido atender com outros companheiros, me vi no meio de um fogo cruzado, só pude me deitar no chão, esperar que tudo acabasse, mas já era tarde, tinha levado um tiro, com a adrenalina, nem tinha sentido.

Tinham me destroçado o ombro inteiro, teriam que colocar uma prótese, já não poderia ser inspetor, me queriam de chefe em algum lugar, dando ordens, ou que eu me aposentasse.

Preferi a segunda, pois já estava farto.

Quando fiquei bom, reuni minhas poucas coisas na delegacia, coloquei numa caixa todas as cadernetas que usava para anotar os casos, para depois o passar para o computador.

Um dos motivos que todos riam de mim, era que eu ainda vivia na casa que tinha sido dos meus pais a vida inteira, não tinha sequer mudado os moveis de lugar, usava o mesmo quarto que tinha usado desde garoto.

Uma imobiliária, me ofereceu uma fortuna, pois, precisavam da casa, como tinha comprado as outras dos vizinhos, queria construir um enorme edifício residencial ali.

Nada mais era como no meu tempo de garoto, nem os amigos antigos, viviam mais por lá. Cheguei à conclusão que era hora de enfrentar uma vida nova.   Coloquei todo esse dinheiro num banco, bem como o que tinha recebido da polícia, teria a garantia de meu salário sempre.

Uma vez tinha ido atender junto com um grupo um caso em Venice Beach, me apaixonei pelas casas do canal.

Fui até lá dar uma olhada, por um acaso, vagabundeando por ali, vi justamente o momento que uma senhora, colocava uma placa de aluga-se numa casa.

Uau, soltou ela, mais rápido impossível, me disse o valor, me mostrou a casa toda, inclusive os problemas que tinha, tinha herdado de um irmão que tinha morrido na guerra do Golfo, os bens dele estavam enrolados num processo, pois tínhamos que dividir entre todos a herança de meus pais, a mim acabou me tocando essa casa.

Ficamos amigos rapidamente, Esther logo quando escutou meu nome, soltou, Jesus, não me diga que teus pais de deram esse nome por causa do Lalo Schifrin?

Eu balancei a cabeça concordando, falei de Shakespeare, ela riu muito, sempre fui muito fraca em dramaturgia.

Aluguei a casa, o duro foi desmontar a casa dos meus pais, acabei me enfurecendo, chamei uma empresa dessas que recolhem para a caridade, só levei minha roupa, nada mais.

Acabei comprando tudo novo, o que mais gostei da casa, era que tinha uma varanda, aonde podia me sentar, posteriormente, a fechei, para poder trabalhar, como ficava nos fundos era perfeita para isso.

Ia todos os dias a praia, logo tinha cor, comecei a conhecer o pessoal da praia, quando me chamava para jogar vôlei, ou basquete, tinha a desculpa que o ombro não me permitia, mas aprendi a fazer surf, pois via o pessoal fazendo, achava o máximo.

Era meu relax, me levantava cedo como sempre tinha feito na vida, ia fazer surf, com sol, chuva, tempo feio, frio, estava uma hora na água, estava pronto para o meu dia.

Primeiro como uma distração, comecei a analisar o meu primeiro caso, o do que o sujeito não esperava que eu ficasse quieto.

Analisei como tínhamos chegado até ele, inventei um personagem, pois na verdade se tratava de um caso, em que o bandido ainda estava vivo.  Consegui uma licença, fui falar com ele na cadeia.

A pose de abusador que tinha antes, tinha trocado, agora abusavam dele, fiquei num primeiro momento com pena.  Me contou sua vida antes de tudo que tinha acontecido, sempre tinha se sentido renegado, nem seus pais pareciam gostar dele, só na época do julgamento, tinha descoberto depois que o condenaram, que ele era na verdade filho de uma parente.

Nunca ninguém me quis, por isso quando as mulheres, as jovens se negavam a fazer sexo comigo, as matava, mas essa em particular, pela sua cara, seu jeito de anjo, de menina comportada, quando a abordei, vi que usava isso como uma desculpa para fazer o que queria, quando entrou no carro, embora eu a forçasse, ria, isso eu tinha visto no vídeo, mas não tinha explicação.   O primeiro que fiz foi lhe dar uma bofetada.

Virou uma fera, perdi a cabeça, o resto já sabes como foi.

Mas aqui dentro, imagine quando cheguei, carne fresca no pedaço, preso por ter abusado de uma ou mais garotas, virei pasto de todo mundo.

Agora, já não me querem, pois sempre chega carne fresca, comparto cela com um predicador que era pédofilo, esse diz que tem asco de mim.

Posso me oferecer para todo mundo, ninguém me quer, estou ficando velho, feio, quando saia daqui, se é que vou sair um dia, não saberei o que fazer da minha vida.

Contei que tinha saído da polícia, que não podia mais mover o braço com que atirava, que estava revendo meus casos, escrevendo uma história, queria saber se podia usar a dele, construiria um personagem em cima.

Assinou o papel me autorizando, mas me disse uma coisa que queria que eu incluise, queria que eu falasse também do que tinha acontecido com ele na prisão.   Vou escrever, te mandarei.

Realmente chegou, mas o tinham assassinado na prisão, o predicador o tinha assassinado por ser gay.

Como o que tinha escrito estava num envelope com meu nome, me mandaram.

Realmente usei, depois de ter o texto todo escrito, cheguei à conclusão que me faltava saber fazer melhor, descobri um curso de escritura na universidade, consegui me inscrever, fiz o curso, depois um seguinte, até me sentir capacitado para fazer bem.

Revisei o que tinha escrito inteiramente. Quando a primeira editora que tinha mandado aceitou me entrevistar, na semana seguinte me chamaram de mais duas, recebi o contrato de todas, fiquei confuso, o melhor foi procurar um advogado, para ler os mesmo, me dizer o que era melhor, me mostrou todas as letras pequenas.

A maioria queria o direito de vender o mesmo para fazer filmes, eu era um mero escritor os outros se lucravam.

Tinha mandado por mandar para uma grande em NYC, mas claro agora já tinha experiencia, fui até lá, nem conhecia a cidade. Aproveitei para passear, conhecer a mesma, fui a entrevista, com uma mulher que com os anos se tornou uma grande amiga, conselheira.

Antes de falar sequer em contrato, pegou o texto, com uma série de folhas marcadas.  Me disse olhando na cara, se queres podemos produzir como está, mas olhe estas sugestões que te faço.

Me deu o contrato para ler, disse, olhe tudo, depois marcamos de nos falarmos.

Fui para o hotel, tinham se acabado os passeios, li tudo que ela tinha anotado, tinha achado interessante que eu tinha escrito a máquina, me sugeriu escrever num laptop, que eu podia guardar melhor o que escrevia.

Fiz justamente todas as mudanças como tinha me pedido, li alguns detalhes para meu advogado do contrato que era diferente dos outros.   Mandei uma cópia para ele, me disse que só tinha que negociar a história do texto servir para filme.

Ela tinha sugerido, depois de saber da minha história, se vais continuar a escrever sobre todos esses casos, o mais interessante, crie um personagem, parecido contigo, construa uma história para ele.

Foi o que fiz, construí o personagem como uma homenagem ao meu pai, Franciskus Andronicus, que abreviei para Frank Andrus, ela gostou da ideia, revisamos juntos mais uma vez todas as modificações, negociei o contrato caso o cinema se interessasse.

Eles entraram em fase de produção, voltei para minha casa.  Estava já trabalhando o meu segundo texto, já conhecendo a cabeça dela, segui em frente com o personagem, a cada vez, aumentava um pouco a história de meu pai.

A maneira como ele pensava, depois como eu tinha usado para resolver os casos que trabalhei.

Agora quando levava o texto, me dizia rindo, já conheces um pouco a minha cabeça, minha maneira de pensar.

Saia para comer com ela, falávamos nesses momentos da vida em geral.

Eu tinha uma franca dificuldade de até ter uma pessoa para fazer sexo, pois num primeiro momento ficava observando como essa pessoa se comportava.

Um dia disse que queria que eu conhecesse uma pessoa, escreveu a história de sua vida, pensei em encontrar uma pessoa dramática.

Me dei de cara com um homem de quase 1,90 metro de altura, forte, cabelos compridos, tinha trabalhando muito tempo em shows noturnos, fazendo papel de travesti.

Quando resolveu por uma série de dúvidas em sua cabeça fazer uma operação de cambio se sexo, descobriu que por causa de uma série de problemas físico, tinha acabado agora de fazer uma tratamento contra um câncer de pulmão, já não poderia fazer nada.

Ficamos conversando, ela disse que tinha que voltar para o trabalho, ele me deu o texto para ler, anotou seu número de celular.  Lhe disse o hotel que estava hospedado.

A primeira coisa que fiz, foi ler o texto, o li de cabo a rabo, fazendo o que tinha aprendido, num caderno a parte, fui escrevendo todas as observações do que pensava.

Tinha é claro analisado a postura dele, que não era nada afeminada, não entendia certas coisas que falava, lhe chamei, marcamos de nos encontrar, ele vivia no Village.   Marcamos num bar, quando me viu chegar com tantas folhas de papel, riu.

Começamos a conversar, mas claro a cada instante éramos interrompidos, por alguém que vinha falar com ele.

 Lhe perguntei se não podíamos ir a outro lugar, pois ali era impossível conversar, na verdade morava relativamente perto, por isso as pessoas o conheciam.

Subimos a sua casa, eu esperava uma casa de bonecas, era tão limpa de tudo como a minha.

Ficamos falando horas, quando lhe disse que não entendia por que queria ser mulher.

Me contou sua história, que até ir para a escola, tinha pensado que era uma menina, pois sua mãe o vestia assim, ela queria uma filha, por isso o vestia de mulher.

Quando descobri que era um menino, que fisicamente era diferente de uma menina, meus problemas começaram, depois cresci muito, acabou que uma assistente social descobriu isso, pois eu quando escrevia, fazia os textos em feminino, uma professora a alertou.

Quando chegou em casa, deu com a minha mãe, me tratando de menina, foi uma merda total, eu fui tirado de casa, levado para outro lugar.

Descobri ao mesmo tempo que tinha sido adotado, então fui passando de casa de menores uma atrás de outro, o que me salvou, era que era grande, aprendi a me defender logo, pois senão teria sido vítima de abusos.   Mas claro tinha sempre o famoso bullying, pois eu era grande mais tinha um piru, o mais normal possível, com meu tamanho, sempre imaginam que o tenho imenso.

Mas ao mesmo tempo sempre me senti atraído por homens, me confundia, pois por causas de tantos romances que minha mãe me lia, esperava o príncipe encantado, me fudia direto, pois ninguém era.    Fiz uma experiencia de me apresentar num café concerto que tinha shows de travesti, me senti em casa, todos tinham essa coisa da mulher.

O mais interessante é que normalmente quase todos tinham piru grande, os homens queria isso deles, que fossem femininas, mas que ao final o possuíssem.

Comigo se decepcionavam, pois eu era como eles, normal, só era grande no tamanho, sabia conversar, tinha uma certa cultura que adquiri sozinho.   Mas claro não encaixava aí também.

Quando acabei a universidade, consegui um emprego numa biblioteca, pois era um mundo que me fascinava.

Nunca nenhum relacionamento meu deu certo, um dia um sujeito que acabou virando um quase amigo, pois desapareceu, me disse que eu errava ao final do primeiro encontro imaginar que estava apaixonado, que o romance entre os dois ia ser eterno.

Apertei sua mão, lhe dando força, olhe pelo que li do texto, acho que devias começar a partir de tua infância, se queres contar como chegaste aonde estas agora, tens que começar desse ponto, aonde te confundiram.

Me agradeceu muito, iria escrever novamente, eu tinha que ir embora, num rompante, lhe perguntei por que não vinha passar uns dias comigo, assim ele ia escrevendo, iriamos falando sobre o mesmo.

Ele aceitou, se encantou como nossas casas na verdade se pareciam.

Um dia na praia, notei que tinha ciúmes, como alguns se aproximavam dele, pelo seu físico, ele no fundo era muito atrativo.

Quando comentei com ele a respeito, riu, é porque não percebes como te olham, alguns te devoram com os olhos.

Sem querer um dia fizemos sexo, foi fantástico, nunca tinha me sentido a vontade, com ele era diferente, fomos procurando os pontos aonde o outro sentia maior prazer, encaixamos.

Eu tampouco tinha um piru fora do normal. Rimos com isso.

Todos os dias, um lia o que o outro tinha escrito, ele conhecia meu primeiro livro, contei que o personagem que tinha construído, estava em cima do meu pai.  Eu acho que como tu, minha primeira paixão foi meu pai, pois sempre procurei alguém que fosse como ele.

Mas claro tinha que voltar a NYC, seu trabalho lhe esperava.  Foi uma despedida boa, ficamos conversando até tarde, de como nós tínhamos liberado um com o outro.

Não sabia com certeza se era um relacionamento, nunca tinha tido nenhum.  Voltei me dedicar ao que fazia simplesmente bem.   O primeiro livro, depois do sucesso do primeiro, o queriam comprar para montar uma serie, me entrevistaram para saber se continuaria a usar o personagem, se fosse assim, me comprariam com a ideia da série, que era o que dava dinheiro atualmente.

Escutei falar de um curso de roteirista para cinema, serie, me informei, comecei a estudar, tinha facilidade, pois ao momento que pegava o bloco, tinha uma maneira de escrever muito típica.

O nome a frase que a pessoa que interrogava tinha dito, então ficava mais fácil.

O terceiro livro, foi sobre um crime que peguei o bonde andando, pois o detetive que acompanhava o mesmo, teve um enfarte justo no decimo dia de investigação, tive que me colocar ao dia, anotando tudo que ele tinha visto, interrogado, suas dúvidas, quando tentei falar com ele, a coisa se torceu, como não lhe caia bem, não gostou que me tivessem dado o caso, se negou a falar o que pensava.

Mas talvez tenha sido o melhor, pois tive que voltar ao ponto zero, examinar de novo a cena do crime, acabei descobrindo coisas que tinham passado por alto, chamei de novo a equipe de provas, para examinar o que tinha descoberto.   Tinha vistoriado a casa inteira, mas no corredor tinha um tapete ao longo do mesmo, ninguém levantou o dito cujo, no meio tinha uma tampa para um sótão que ninguém tinha visto, ali se descobriu muita coisa. Que o assassinado, usava o lugar para abusar de menores, tinha com certeza sido um deles que o tinha assassinado.

Numa estante, tinha como um registro de tudo, vídeos que tinha feito, o duro era descobrir se estes garotos ainda estavam vivos.   Alguns tinha uma anotação, que queria dizer, alugado pelos pais.  Eram muitas, coloquei o serviço de menores para ajudar, mas claro não funcionava, consegui uma ordem do juiz para levar gente treinada a este departamento, se descobriu muita merda.   Alguns estavam envolvidos com a rede de pederastas, por isso não cooperavam.

A maioria dos garotos tinham desaparecido no mapa.

Mas mesmo assim, consegui localizar uns quantos, eu que tinha sido amado pelo meu pai, quando conversava com esses hoje rapazes, ficava abalado, a cada entrevista, depois tinha que tomar um banho, como se essa sujeira que tinha escutado, ficasse pegada ao meu corpo.

Talvez tenha sido um dos trabalhos mais sujos, cruéis que tinha feito.

Me chamaram da morgue, um dos garotos que tinha sido abusado, tinha sido encontrado, como se tivesse cometido o suicídio, mas examinar seus pertences, vi que não, tinha sido barbaramente assassinado.   O tinham dopado antes, os exames confirmaram minha desconfiança, tinham feito uma coisa para incrimina-lo, colocado uma arma em sua mão, para que tivesse vestígio de pólvora.    Isso seria impossível, pois o assassinato tinha ocorrido a mais tempo.  Alguém queria jogar a culpa nele.   Levantar sua vida, foi como estar num labirinto.

Afinal descobri que um dos que tinham sido abusados, era agora um abusador, ele tinha feito tudo.

Era um tipo complicado, quando o olhava de uma determinada maneira, era quase um figura frágil, mas se o examinavas detalhadamente, por menos que não tivesse músculos, tinha os braços duros, como de exercícios, ele fazia uma coisa, atraia jovens para formar uma corte, ele organizava tudo, era como uma madame.   Todos de uma maneira ou outra tinham sido vítimas, agora abusava dos outros mentalmente, os manobrando para fazer o que queira.  Dizia a sua corte, se abusaram de nós grátis, agora tem que pagar.

Nas entrevistas, sem querer soltou uma observação, fui verificar nos vídeos da vítima, nos mais antigos, se via que tinha passado anos nas mãos desse pédofilo.   Tinha conseguido escapar, entre suas vítimas contavam seus próprios pais, que o tinham vendido ao pédofilo, os encontrou, lhes deu uma dose massiva de drogas, os atirou no meio de um lugar cheio de porcos para que se alimentassem.   Era um crime sem resolver, quando descobri a identidade dessas vítimas, liguei com seu nome original.   

Tentava ser o mais racional possível.

Vivia agora num hospital psiquiátrico, isolado dos outros pacientes, pois se o deixavam junto, tentava manipular as pessoas.

Conversei com seu psiquiatra, que disse que as seções com ele, era gravadas, pois ele sempre tentava manipular as pessoas.   Me mostrou os vídeos, a postura que se colocava era evidente, ainda era um tipo bonito, tentava primeiro o jogo de sedução, se esse falhava, passava para o de manobra com as palavras, se fazendo de vítima, sempre era o coitado.

Pedi ao psiquiatra que gravasse uma conversa minha com ele.   Quando me viu, levou um tempo para me reconhecer, mas quando isso aconteceu, mudou de comportamento totalmente, pois tinha tentando comigo todas suas manobras, não tinha funcionado.

Se tornou agressivo, me chamou de filho da puta para baixo.  Se levantou, com a força que tinha, de frágil que aparentava, levantou a mesa de aço a que estava preso, tentando me alcançar para me matar com suas próprias mãos, pois tinha interrompido sua vingança.

Na segunda entrevista, lhe disse que estava escrevendo um livro sobre ele, ficou lisonjeado, perguntou se eu compraria uma roupa nova para ele dar entrevistas para a televisão, eu lhe disse que isso nunca aconteceria, pois ele vivia uma cadeia perpetua, isolado dos outros.

Nada disso mudaria.  A cena era dantesca, se lamuriou, me chantageou, fez mil coisas todas gravadas, o que ele não sabia era isso que tudo era sempre gravado.

Mas em momento algum cedi, acabou me contando seriamente seu começo, como os pais jovens o tinham alugado com seis anos de idade, para comprar drogas, seu corpo tinha virado um comercio.

Como fazia para suplantar as dores, o depois, se escutava o nome da pessoa, depois anotava, já pensando numa vingança.    Acabou soltando aonde tinha algumas pessoas que não tinha confessado antes, matado, detalhe por detalhe, me dizia sorrindo, isso fará com que fique famoso, virão aqui pedir entrevistas.  Passei esses detalhes das pessoas que ele tinha falado, a localização, a polícia descobriu as vítimas, iam desde pédofilos, a garotos que depois ele mesmo tinha abusado, torturado, se a vítima não conseguia suportar as matava, com elas enterrava a arma do crime.

Escrever o livro, foi duro, acabou sendo um livro duplo, pois de uma lado analisei desde o ponto de vista do detetive que era, depois o segundo a vida do próprio.

Os diretores da série ficaram como loucos, queriam entrevista-lo, mas eu tinha trocado o nome do mesmo, bem como aonde estava.  Pelo menos não o acharam.

Fiz uma série de exigências com respeito a ceder os direitos desse livro, exigia acompanhar a filmagem, a montagem dos capítulos.  Claro queriam fazer de outra maneira, não aceitei, como tinha assinado um contrato, em que eu vendia o que queria, ficaram furiosos.

De uma certa maneira, tinha mais dinheiro que podia ter.

Resolvi, fiz uma viagem longa, pedi que retrasassem o lançamento do livro, os produtores da série, localizaram o detetive inicial, que inventou uma história sem pé nem cabeça.

A coisa não funcionou, quiseram me processar, mas eu sempre consultava os advogados antes de firmar qualquer coisa.  A clausula que dizia que eu só cederia os títulos que queria, funcionou, inclusive falei com o juiz o que queriam fazer.  No fundo era colocar o assassino como vitima todo o tempo, criticar o poder judicial, etc.

Nesse meio tempo, quando voltei, o psiquiatra me chamou, pediu se podia ir até lá, ele não sabia como, da minha negativa de vender os títulos, tinha tentado escapar, tinha matado dois guardas, acabou sendo eliminado por um deles em legitima defesa.

Tudo claro era gravado, o mais impressionante era sua máscara de ódio quando tentava matar o último guarda, depois quando morto, como se sua cara fosse se transformando numa mascara aonde só ficava a beleza, não o retorcido que era.

Eu tinha pesado muito o texto, pois saber da sua história, o quanto tinha fundo de verdade, o quanto era fantasia, o tirava por seu comportamento físico.   Acabou que desisti de editar o livro, guardei o mesmo num cofre, proibindo sua publicação.

Sabia que era como uma bomba de relógio, pois de um lado o apoiariam, por outro não passaria de um assassino normal, deixaria muitas frente abertas.

Fiquei meses sem escrever, matutando o que faria a seguir.  Tinha uma segurança financeira grande, por levar de uma certa maneira uma vida simples.  Mas claro ficar sem fazer nada era duro, examinei minha cadernetas todas para saltar para uma interessante, mas no fundo era como dizer, mas essa foi tão pesada como a outra.

Segui em frente escrevendo, mas já fazia o roteiro de serie junto, trocaram o produtor que tinha me enchido o saco por causa da anterior.   Ninguém me perguntava mais sobre o assunto, o enterrei.

A série apesar do tempo parado fazia sucesso, o ator que encarnava o personagem ia bem no papel.

Um dia lendo o jornal, vi uma notícia que me interessou, um ex-convicto, voltava a assustar as pessoas.  Eu tinha levado o primeiro caso desse rapaz, na época predisse como acabaria, tinha um ódio guardado dentro dele extremo, quando o prenderam consegui entrevistar.  Quando o prendi, se esqueceram de uma das provas básicas do caso, por isso teve uma pena leve, o juiz não aceitou depois mais a mesma.

A culpa tinha sido dos analistas de provas, deram como perdida a mesma, para depois descobrir que estava guardada errada.

Quando me viu riu, disse que eu como ele estávamos ficando velhos, não deixava de ser uma verdade.   Comentei com ele o que tinha visto quando o tinha interrogado a primeira vez.

Foste o único em todo esse tempo que viu quem eu era.  Tinha sido abandonado em pequeno, do orfanato passou por uma série de adoções com abusos, depois no reformatório, porque tinha matado um agressor, foi novamente vítima de abusos, até que conseguiu uma maneira de se defender, ameaçava todos que estavam em volta dele, se vingava na calada da noite, sem que ninguém o visse, nisso tinha matado dois agressores.

Quando o prendi, tinha escapado do reformatório, tinha uma maneira muito própria de caminhar, como quisesse afirmar, atreva-se a se aproximar que dou o cabo de ti.    Tinha conversado com ele muito a respeito, desse ódio visceral que tinha.

Me disse uma coisa que uma certa maneira me fez pensar, nunca ninguém chegou perto de mim para fazer um carinho, nem que fosse passar a mão sobre a minha, sempre tinha outra coisa por detrás.   Acabei me acostumando com os abusos, mas a cada um eu procurava me vingar.

Me perguntou se me lembrava da monja do orfanato que eu tinha entrevistado, eu não me lembrava o nome dela, mas como aparecia no caso, guardei, era ela quem me dava em adoção, a troco de dinheiro.  Quando sai a sequestrei, fiz com ele todos os tipos de abusos, ao final pedia mais. A enterrei bem enterrada, com tudo que usei, assim nunca mais faria isso.

Procurei saber do assunto, claro a igreja tinha colocado um véu sobre o assunto, mas conversando com alguém da congregação a que pertencia, me contou horrores sobre a mesma.

Voltei a conversar com ele, tinha levado uma surra de fazer gosto, tinha sido provocado por um dos guardas do presidio, tinha reagido.

Denunciei o fato ao advogado, fiz uma coisa que nunca tinha feito, lhe tocava um advogado de oficio, contratei um dos melhores, um com uma equipe, contei tudo que sabia, foram desentranhar tudo.  Sua pena seria capital, mas como não encontravam a freira, o único que sabia da história que a tinha assassinado era eu.

Mas quando soube que passaria o resto de seus dias na prisão, me mandou uma carta, quando eu a recebi, pois tinha estado viajando fazendo palestra, já era tarde, tinha se suicidado num descuido dos guardas.

Quando abri a carta, era uma letra de criança, miúda, como se quisesse economizar no papel, para me contar muitas coisas, realmente me contou aonde estava a freira do orfanato, bem como outros pédofilos que tinha assassinado.   Dois nem tinha sido com ele a história, tinham sido dois que tinham se livrado da justiça, ele dizia, eu fiz a justiça em nome dos garotos que eles tinham abusados, detalhava tudo.

O que me surpreendeu, foi ele confessar que morria de medo de se tornar um abusador, não queria fazer os outros passarem pelo que tinha passado.

Comecei o livro através de tudo que me falava na carta, quando a polícia desenterrou a freira, encontraram vários papeis que ele tinha roubado do orfanato, aonde ela anotava os negócios que tinha feito, as crianças com nome próprio, mas sem sobrenomes, a quem tinha alugado ou vendido.   Não se encontrou vestígio dessas crianças.

Os dois pédofilos que ele tinha mencionado, a mesma coisa, tinha descoberto que eles tinham anotações do que faziam, vídeos coisas no gênero.   Tudo estava enterrado junto com eles, protegidos, por se acaso o corpo fosse encontrado.

Mesmo vendo a cara dos garotos abusados, era difícil saber se seguiam vivos ou não, pois a maioria nem passava dos dez anos de idade.

Alguns, os mais bonitos tinha sido vendidos pela freira.  O que espantava era descobrir um comercio oculto de pessoas que eram passadas de um para o outro.

Pois entre esses dois, quando se comparava os vídeos, as vezes se via o mesmo garoto, em distintos lugares.

O departamento encarregado das adoções, sempre alegava que estava transbordados, que nunca fazia seguimento dos casos, faltava gente para isso.

Quando a série começou, porque tivemos muitos problemas com a justiça, que não queria que se levantasse esses assuntos, mas os advogados conseguira seguir em frente.

Os jornalistas assediaram o departamento, revelando quem eram as pessoas que trabalhavam ali.  Se eram corruptas ou não, o orfanato teve que fechar, pois as quantidades de adoções irregulares era imensa.   Sempre os responsáveis lavavam as mãos sobre o assunto.

O ator que fez o papel, ganhou um prêmio pela interpretação, eu ganhei pelo roteiro, mas aproveitei para reclamar do descaso da sociedade sobre o assunto.

Um dia conversando com uma pessoa numa entrevista, essa me disse que tinha visto a serie como uma história de terror, nada mais, comendo pipoca, tentando estar o mais afastada mentalmente de todo o relatado.  Só me preocupei em analisar a representação, como tinha sido filmada, nada mais.  Os fatos reais não deixei que me atingisse.   Me fez uma pergunta banal, me neguei a responder, soltei, por isso esse pais anda assim, soltei como uma ameaça que ia verificar sua vida, pois ele poderia ter tido um orgasmo com o que via.

Nunca mais se atreveram a me fazer perguntas idiotas.

Pensei inicialmente em doar todo dinheiro que tinha ganho com a série, para algum orfanato, foi difícil encontrar algum sério, um amigo advogado foi quem me alertou, tens que saber se o dinheiro está mesmo sendo usado, ou levado para a diocese.

O que fiz, foi falar com a superiora, que me agradeceu muito, mas todo o dinheiro, foi para comprar camas decentes, tudo o que eles precisavam, dinheiro vivo não dei nenhum.

Foi lá que conheci meu filho.   Um dos garotos, muito sério se aproximou, veio me agradecer, já não tinha que dormir no chão.   Perguntei seu nome, me disse que o chamavam de Tom, mas ele não sabia se era o verdadeiro.

Falei com a superiora, o adotei, a primeira coisa que fiz, foi leva-lo a um médico, para fazer um exame exaustivo, estava muito desnutrido, colocá-lo numa escola, aonde se revelou com uma surpreendente madures para tudo.  Não era um gênio, comecei a lhe ensinar as coisas que meu pai tinha me ensinado.   Me dizia sempre que o avô devia ter sido uma pessoa especial.

Sim meu filho, foi, me ensinou a ser como sou.  Pois quando te vi, soube que eras para ser meu filho.   Eu dava graças a deus dele nunca ter sofrido nenhum abuso.

O criei como meu pai tinha feito comigo, procurei escrever histórias sobre outros assuntos, coisas que tirava como um fio dos jornais, ia entrevistar as pessoas, levantar todo o passado da mesma, para poder criar uma história real.

Guardamos tantas coisas embaixo do tapete que as vezes é impossível saber depois o que foi real ou não, basta olhar, escutar a pessoa falando, para saber que está fantasiando em cima de uma realidade mais brutal.   Algumas encontram dessa maneira uma forma de melhorar suas vidas, tentando esquecer do passado.

Mas sempre uma caixa de segredo, num dado momento abre sem querer, por algo que a pessoa vê, ou lê.

Escrevi uma história sobre isso, que depois virou um filme.  Não estava baseada em nenhum fato real, mas sim num personagem que criei, que num dado momento uma das caixas abre, mostrando todo o horror do seu passado, destruindo o presente.

Tom já com mais idade, um dia me perguntou se eu nunca tinha amado ninguém.  Lhe contei a verdade, tinha tido um pai tão fantástico que queria que se alguém me amasse fosse como ele, mas isso nunca tinha encontrado.   Tinha amantes, que acabavam virando meus amigos, ou então nunca mais falando comigo, mas seguia em frente, agora tinha um filho.

Quando ele se formou na universidade, me agradeceu por tudo que eu tinha lhe ensinado, como o tinha amado como filho, graças ao meu avô, meu pai foi uma pessoa excepcional, acabou sendo se revelando um pai igual ou melhor que o seu.

Agora trabalha num dos melhores escritórios de advogados, é considerado o melhor, interrogando alguém, usa tudo que lhe ensinei.

Em breve se casa, com uma garota que conheceu na escola, sua melhor amiga, espero o dia de ser avô, serei aquele avô que velho demais, contara histórias para seus netos.  Mas nenhuma das quais tenha escrito, seria muita maldade.

Um dia antes que fosse tarde demais, retirei o texto, com todas as cópias que tinha do livro que só me tinha dado dor de cabeça, o queimei, assim depois que morresse, ninguém poderia cair na tentação de publicar.

 

 

 

 

 

 

 

 

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