YENIER
Meu nome é Yenier Shalan, mas todo mundo me conhece por Yen,
como o nome de uma moeda, pois no fundo é isso, como uma moeda tenho duas
caras.
Uma de um professor de universidade, competente, estudioso, educado,
muito inteligente, de outro lado sou adepto ao Leather, de noite gosto de sair,
para ir a ambientes pesados, todo mundo vestido de couro, sexo bruto.
Hoje antes de sair para a universidade, enquanto despedia na
porta, um cara forte, também da equipe como eu dizia, cabeça raspada, peito
imenso peludo, calças apertadas de couro, tínhamos tido uma seção em minha cama
muito pesada.
Meu irmão entrou apartamento adentro furioso, como eu podia
ser assim, o deixei falar como sempre, tipo “se nosso pai fosse vivo morreria
de desgosto”, para frente todo os tipos de chantagem.
O mesmo poderia eu fazer com ele, que nunca tinha tido
ambição nenhuma, a não ser levar o armazém de comidas árabes de nosso pai. Vivia na casa que tinha sido dos nossos pais,
em Belleville, tinha herdado tudo, o armazém o apartamento que tínhamos sido
criados em cima dele, agora vivia sozinho com dois filhos adolescentes que lhe
davam muitos problemas, sua mulher tinha se mandando com outro, pois dizia que
ele era um idiota. O desmoralizava na
frente de todo mundo. Ainda chorava por
ela.
Já sabia por que vinha visita-lo, precisava de dinheiro para
pagar suas contas.
Desta vez, resolveu ser filho da puta, pois ele não tinha aprendido
até hoje administrar as contas do armazém.
Sinto muito, estou sem banca, acabo de pagar a este chulo para me comer
o cu, então não sobrou nada. Sabia que
isso o escandalizaria, iria dali direto a sinagoga para rezar pelos pecados do
irmão.
Era descendentes de argelinos, mas só restavam os dois da
família. Contrate um administrador para
o armazém, ou venda o mesmo, tu não serves para isso.
Esperou que ele saísse, para mudar de roupa, se o visse
agora, talvez o trata-se melhor, um terno de linho azul celeste, camisa branca,
sem gola, mas antes tomou um banho, fez a barba, raspou a cabeça, fez todo um
procedimento que ele chamava sua preparação para enfrentar o mundo, colírio
pela limpar os olhos, creme para prevenir as arrugas, tinha uma pele fantástica,
ninguém diria que tinha já 45 anos. Dava
aulas a mais ou menos 20, tinha sido sempre o primeiro de sua promoção. Tinha se diplomado Cum Laude na Sorbonne,
ficando imediatamente como ajudante em línguas orientais. Falava perfeitamente o árabe, farsi, dialetos
diversos, além de grego, ídiche, e todos os derivados falados hoje em dia em
Israel.
Escrevia em todas elas, com facilidade, sempre tinha trabalho
extra para traduzir livros, isso o fazia em casa, em seu quarto especial de
trabalho, que nunca estava aberto, por causas dos loucos que levava até lá.
Gostaria de ter explicado ao irmão por que gostava esse tipo
de sexo. Tinha abusado dele em garoto
duas vezes, seu pai, fez como se não tivesse acontecido nada, passou a mão na
sua cabeça, lhe dizendo que Alah o protegeria sempre, mas nunca tinha protegido
porra nenhuma.
Da segunda vez gostou, quando ficou mais velho, sabia que
gostava de sexo duro, tinha experimentado esse de amor, coisas parecidas, mas
não lhe davam o prazer que gostava.
Deu as aulas correspondentes, conversou com dois alunos que
faziam doutoramento, hoje atenderia um que vinha dos Estados Unidos. Quando este entrou na sala, quase deu um
pulo na cadeira. Era o cara com quem
tinha dormido esta noite.
Que fazes aqui?
Ora tinha hora marcada com o senhor, estava fazendo como se
não o conhecesse. Sou Yuri Vaslau, seu
novo aluno de doutorado. Começou a rir,
na noite anterior, tinha mostrado muito humor ao conversar. Creio que nem vou precisar fazer aulas, falou
mais baixo, se o professor em ensinar tudo na cama.
tinha gostado de fazer sexo com ele, era agressivo, mas controlado,
tinham se permitido certas liberdades.
Acabou rindo também, dizem que sou tão mal dando aulas, como
fazendo outras coisas.
Queres almoçar, estou morto de fome, assim podemos ir
conversando ao mesmo tempo.
Foram almoçar ali perto mesmo, normalmente iria a um
restaurante, que estaria cheio de professores, enfurnado em trajes completos
com gravata, sapatos brilhantes, etc.
Ficaram conversando, sobre o que Yuri pretendia com o curso,
tinha se formado um pouco tarde reconhecia, tive que sair da cidade aonde
vivia, lá no cu do judas, no interior dos Estados Unidos, enquanto não cheguei
a NYC, não pude realizar meu sonho de estudar línguas.
Sou de uma família polonesa, que viveu baixo os pogroms dos
poloneses, depois dos russos, por assim dizer.
Quando chegaram a América, foram para a mais profunda, para se isolar do
mundo. Na escola eu era o diferente,
pois falava três línguas, eles muito mal falavam o inglês.
Por isso levava surras todos os dias, na adolescência,
abusavam de mim basicamente todos os dias, meu pai dizia que a culpa era minha
por ter uma cara de menina.
Mesmo depois que me começaram a nascer pelos pelo corpo, a
coisa continuou, pois eram mais altos do que eu.
O resto já imaginas.
Aonde estas vivendo aqui?
Vivo em um pequeno hotel de estudantes, enquanto meu dinheiro
aguente. Tenho que arrumar um emprego.
Consulte com a secretária, ela sempre sabe de empregos de
meio períodos para estudantes.
Mudando de assunto, fazia tempo que não tinha uma noite
assim, foi uma coisa completa, tinham feito sexo horas e horas. Tinham começado
vestindo seus arnês, mas depois ficaram sem roupa.
Os dois tinham o mesmo tipo de corpo, fortes, peludos, cabeça
raspada.
Posso te dizer que gosto como estas vestido, ficas diferente.
Coisas do trabalho, mas mesmo assim sou diferente dos outros
professores.
Quem era o homem furioso na saída da tua casa?
Meu irmão, para pedir dinheiro como sempre, não sabe
administrar sua vida.
Bom, não tenho que trabalhar agora a tarde, nos vemos quando
começarem as aulas.
Yuri soltou, podíamos seguir com o de ontem.
Ficou super excitado, venha vamos para minha casa.
Ele vivia em Marais, tinha aplicado o pouco de dinheiro que
seu pai tinha deixado para ele, bem como economizado do seu salário, tinha
acabado de pagar a última fase do empréstimo do apartamento. Agora era seu de direito. Na época que o tinha comprado Marais, estava
cheio de Judeus, o resto era viciados em drogas. Esse edifício aonde tinha comprado o
apartamento, estava em ruinas, quando foi adquirido por uma empresa, o
reformaram completamente, dividindo os apartamentos enormes, em mais pequenos. Tinha se apaixonado por ele, desde o momento
que o tinha visto. Conservava detalhes
do grande, a lareira no salão, o teto que era trabalhado, mas o resto todo era
moderno, cozinha, seu quarto era como uma suíte, com banheiro, com chuveiro,
sem banheira, tinha mais dois quartos, um aonde trabalhava, o outro ainda
estava vazio, nunca tinha tempo para fazer nada ali.
Foram tirando a roupa desde a porta, caíram na cama, os dois
tinham uma coisa em comum, eram bem dotados, iam se revezando em penetrações, quando acabaram estavam exausto,
ficaram ali atirados na cama. Caralho
soltou o Yuri, precisei vir para cá para encontrar alguém como eu.
Todos os dois tomavam cuidado, usando camisinha, mas estavam
exaustos, ficaram ao contrário de muitos, que gozavam, se levantavam iam
embora. Um passando a mão pelo peito
cabeludo do outro.
Daí foi um pulo para começarem outra vez, agora mais calmo, quando
se deram conta já era quase noite. Se
sentaram no salão conversando, Yenier queria saber o que ele pretendia depois
de acabar o curso.
Contou que tinha sido entrevistado pelo FBI bem como CIA, por
causa das línguas que estudava, mas não me atrai. Lhes disse que não, tentaram chantagear-me,
dizendo que sabia de minha faceta. Eu
perguntei qual, me falaram das minhas noites, o da CIA, era meio filhinho de
papai, não tive conversa, abri minhas calças coloquei o caralho em cima da
mesa, perguntei se queria, ficou horrorizado, mas não tirava o olho. Lhe disse que não estava preocupado com
isso.
Quando consegui a bolsa de estudos, pelos meus méritos,
aceitei de imediato, mas antes fui ver se não estavam por detrás da mesma. Um de meus professores, me informou que
fazia bem em aceitar, sair do pais, vieram falar comigo que frequentas bares Leather
pela noite, que gostas de sadomasoquismo.
Lhes disse que isso era um problema teu.
Que nunca tinha te visto em aula, fazendo sexo.
Por isso estou aqui, mal sabem que logo nos primeiros dias
encontrei um igual a mim. Riram os dois.
Melhor eu ir para o meu hotel, assim te deixo em paz, pois
sou capaz de querer voltar para a cama, nunca me senti tão bem com ninguém.
Acabaram dormindo juntos.
Semanas depois, basicamente, dormiam junto quase todos os dias,
o sexo para eles os alimentava. Nem
saiam mais de noite para buscar homens, se bastavam.
Três semanas depois, Yenier escutou baterem na porta,
estranhou.
Quando abriu estava dois inspetores de polícia. Primeiro pensou que era reclamação de algum
vizinho, mas perguntaram pelo seu irmão.
Pensei que estava no seu armazém.
Estamos aqui por uma série de denúncias, ele vendeu o
armazém, bem como o apartamento em cima, que já estava bloqueado por um empréstimo
de muito valor. Desapareceu.
Bom eu sabia que precisava de dinheiro, vinha sempre pedir
emprestado, mas nunca devolvia, como era da família, perdoava, mas a última vez
como era um valor muito alto, pensei bem, o mandei a merda, que aprendesse
administrar sua vida.
Então não sabes nada dele, nem de teus sobrinhos?
Nenhuma ideia, já verificaram se não estão com sua mãe, ela
vive e Marseille, espera devo ter o endereço dela.
Viu que um dos inspetores não parava de olhar para ele, em
seguida rebuscando em sua memória, se lembrou.
Tinha feito sexo com ele, numa ruela, numa noite de lua cheia.
Lhes entregou o endereço, o que parecia ser o chefe, lhe
apertou a mão, foi saindo, o outro lhe disse vou voltar.
Porra, Yuri estava no quarto, meia hora depois o outro estava
ali, acabou fazendo sexo com os dois.
Agora se encontravam os três, mas sabia que chegaria uma
hora, em que isso iria para a casa do caralho como ele bem dizia.
Não deu outra coisa, chegou um momento que viu que Yuri
queria sempre o outro junto, insistia nisso, embora ele explicasse que queria
trabalhar. Começou a desconfiar que se
encontravam em outra parte, pois o viu aparecer meio drogado. Daí foi um pulo para ter certeza. Pensou consigo mesmo, até aqui vou. Pediu que ele não viesse mais a sua casa,
por já não interessava essa situação.
Como era época de férias, fez uma coisa, viajou, pela
primeira vez foi a um lugar que imaginava que não existiam Leathers, foi genial
a viagem, queria usar a língua. O Irã o
surpreendeu pelas pessoas amistosas, conheceu gente, contratou um guia para
viajar, o rapaz tinha carro, fez todo o percurso que ele tinha imaginado,
conhecer as cidades antigas, hospedando em pequenos hotéis. O guia, conhecia bem a história de seu
pais. Isso ele valorizava, pois achava
que os ocidentais tinham o hábito de esquecerem seus erros muito rápido, os
cometendo uma e outra vez.
Comentou isso com o guia.
Num cento ponto da viagem, viu que numa aldeia os homens olhavam para
ele. Perguntou ao guia, por quê?
Aqui são radicais, não existe a prostituição, então é normal,
os homens transarem entre si, como você é de fora, acham que se fazem sexo
contigo, não comprometem suas vidas, porque vais embora. Ficou surpreso. Ainda pensou, algumas pessoas que conheço
fariam uma festa aqui.
Estas interessado em algum?
Nem pensar, sem querer se viu contado ao rapaz por que tinha
escapado de Paris, me vi num relacionamento a três, isso nunca funcionou. Então procurei criar distância. Vou mandar uns quantos conhecidos para cá,
eles só pensam em sexo.
O rapaz ria muito, é complicado, cada pais tem seus hábitos,
eu também a tempos me vi numa situação assim.
Tinha um relacionamento muito escondido com um amigo de infância, a
família o obrigou a se casar, pois desconfiavam dele. Mais por sua segurança. Eu não quis ficar no meio deles. Me escapei para Teerã, para estudar, tento
conjugar as viagens com meus estudos.
Quando lhe perguntou o que estudava, teve que rir.
Agora entendo por que sabes tanto de história. Estudava a matéria.
O problema é que a história moderna, foi varrida do
mapa. Hoje só interessa o
passado glorioso, mas o mundo não vivem sem ir em frente. Não que eu tivesse apoiado, pois nasci quase
depois da queda do Xá, mas nunca se fala no assunto, a não ser que seja para
assustar.
Lhe contou que era filho de Argelinos, veja, além de falar a
língua, não sei basicamente nada de sua história. A da França conheço bem, mas é o mesmo entre
o passado, contra o presente, existe o fio de uma navalha. Pois cultuamos toda a cultura antiga, o
novo, os jovens não se interessam, estão presos ao mundo da internet.
Na viagem estavam programadas acampadas no deserto, desta
vez, acabaram dormindo junto, foi diferente de tudo que ele tinha tido em
termos de sexo. Nem agressivo, tampouco
morno, apenas estava transando com outro homem igual a ele. Gostou da experiencia.
Quando voltou soube por um conhecido da noite, que Yuri tinha
voltado para os Estados Unidos, porque andava no meio da droga.
Nessa noite tomou uma decisão, separou tudo que usava para a
noite Leather, colocou numa caixa, jogou no lixo bem distante de sua casa. Continuaria a usar a cabeça raspada, pois
achava confortável, nunca tinha que se preocupar em pentear-se. Ria sempre dessa imagem.
Ficou sabendo através de uns conhecidos do bairro, que seu
irmão estava na Argélia, numa zona de difícil acesso. Pensou que talvez ele tivesse a razão, nunca
tinha se adaptado a vida em Paris. Se
lembrava que ele gostava mais de falar o árabe que o francês, por isso zombava
dele que falava línguas mortas. Se já
morreram a deixes em paz.
Se passaram meses, não procurou estar próximo de ninguém, precisava
de um afastamento de tudo referente a sexo, para poder centrar-se.
Um dia estava almoçando no restaurante da faculdade, quando
viu uma pessoa parada em frente a ele totalmente de branco, foi levantando a
cabeça, pois a figura era muito alta, estava com um terno branco de linho, mas
na cabeça levava um pano, que parecia ter estado sempre colocado. Era mais negro que a noite, uns olhos
imensos, quando abriu a boca, os dentes eram brancos como a neve. Estendeu a mão, professor, sou novo aqui na
universidade, vim dar aulas de Yoruba e Fula, Yoruba da Nigéria, Fula dos Peul,
da etnia Fulani.
Estava cansado de olhar para cima, o convidou para se sentar,
ficar em pé com essa bandeja, por favor.
Estendeu sua Manasa, de tão grande que era sua mão. Meu nome é Osiris Matumkumbe.
Sem querer riu, o outro perguntou por quê?
Como eres diferente, grande, com essa roupa, esse turbante na
cabeça, impressiona.
Ficaram conversando, me disseram que eres o professor que
mais fala línguas aqui na universidade.
Não antes de mim, justamente o professor que substitui, que
foi quem me ensinou muitas coisas, ele falava mais, pois falava perfeitamente o
Japonês, como o Mandarim.
Meu irmão diz que não vê utilidade nenhuma as línguas mortas,
mas acabo de voltar do Irã, saber farsi me foi útil. Pude ler coisas antigas, desfrutar conversando
com as pessoas de idade, que o falam perfeitamente. É como se fosse a primeira língua árabe
escrita, mas hoje tem várias adaptações.
Fizeste sozinho a viagem?
Sim, contratei em Teerã um guia, que me maravilhou com a história
do pais, depois descobri que era um estudante de história. Hoje em dia as pessoas preferem não saber de
aonde vem.
Eu por exemplo sou descendente de Argelino, falo árabe, mas
sequer conheço o pais, em casa falávamos árabe, mas na rua sempre francês.
Me interessa o Yorubá, me fale dele, quem sabe conforme o
horário, encontro uma maneira de ser teu aluno.
Yorubá, além de ser a língua tradicional de muitos países
africanos, principalmente da Nigéria, é a língua dos deuses. Que hoje se chocam com a invasão dos
muçulmanos, com sua religião tão estrita, eu de certa maneira, dava aula na
universidade, mas sou Babalorixá, estava sendo perseguido. Quando recebi o convite para vir, achei que
valia a pena.
Explicou para ele o que era ser Babalorixá. Por exemplo, percebo que estas em mudança
em tua vida particular, deixando coisas que antes talvez apreciasse, para
procurar novos sentimentos, foi falando, tudo que estava acontecendo com ele.
Ficou impressionado, teremos que conversar mais a respeito,
realmente estou passando por uma fase de mudança completa em minha vida. Mudando meus valores. Um dia te conto.
Osiris perguntou se ele gostava de sair para jantar, conheço
um lugar, que vou sempre, pois gosto de estar ali, vendo um retalho do Sena,
bem como observar as pessoas que passam.
Aonde vives perguntou?
Em Marais, tu?
Ele riu, estou vivendo num pequeno apartamento emprestado na
île de Saint Louis, de um conhecido da embaixada da Nigéria.
Mas tenho que procurar um lugar para viver, pois necessito de
coisas que não posso ter ali, por não ser minha casa.
Marcaram de se falar no dia seguinte ali, para combinar o
jantar.
Ficou com a figura em sua cabeça. Se lembrou que uma noite perto de Isfahán,
que deitado em seu saco de dormir olhava as estrelas, tinha visto o Osiris,
falando com ele.
No dia seguinte, quando o encontrou comentou.
Pois é eu já sabia de ti, também sonhei contigo antes de vir
para cá, você todo vestido de couro negro, atrás de sexo fácil.
Ficou de boca aberta, ninguém na universidade desconfiava
disso.
Não te condeno, sei o que te aconteceu quando jovem, acredito
que te deixou confuso sexualmente, mas agora estás procurando outra coisa. Te entendo, eu também me confundi a princípio
quando me descobri gostando de homens.
Mas graças aos Orixás, com o tempo entendi, aceitei.
Foram jantar nesse dia, lhe perguntou como sabia o que tinha
acontecido com ele.
Li no Ifá, quando comecei a sonhar contigo. Um dos motivos que vim para cá, fazes parte
do meu destino.
Ficou olhando para ele, que sorriu, com seus dentes brancos
iluminados pela luz da rua, não temos pressa nenhuma.
Passaram a se encontrar, para lhe mostrar a cidade, os
lugares que ele gostava mais, conversavam como seriam suas aulas.
A princípio, apareceram muitos alunos interessados,
principalmente por saberem a língua do Ifá, lhe explicou o que era.
Ele ficou fascinado, principalmente com o que veio depois.
Todo mundo pode aprender, mas na verdade, o fundamento, são
poucos os escolhidos que entendem realmente o que um Orixá quer dizer. Porque como tudo, tem duas explicações, nem
sempre todas as linhas são retas. As
pessoas anseiam pelas respostas mais imediatas, tens que saber o que elas na
verdade perguntam, bem como a resposta nem sempre é objetiva, pois as coisas
superficiais não funcionam com eles.
Um dia que estavam encostado na Pont Louis Philippe, lhe
soltou olhando as águas, deixaste atrás a parte negra de tua alma, agora estás
a caminho de outra parte de ti, que desconheces completamente.
Um único gesto pode responder a isso Yenier, colocou a mão
sobre a sua.
Sim estou encontrando a paz, dentro de mim, busquei isso em
outro lugar, mas me perdi, confundi as coisas, pensei que a brutalidade ia me
fazer compor minha cordura, minha cabeça, mas não era assim.
Um dia desses estaremos pronto para nosso real encontro lhe
disse Osiris.
Já conseguia falar alguma coisa em Yoruba, as palavras soavam
em sua cabeça, faziam sentido para ele, sem saber muito o porquê.
Os outros alunos diziam que como ele falava mais línguas,
ficava mais fácil, mas o que ele sentia era outra coisa.
Ficou sabendo que o irmão tinha se metido em mais confusões,
arrastando seus filhos, mas não tinha menor ideia aonde estava. Nunca tinham sido próximos um do outro,
inclusive os abusos que tinha sofrido, se deviam as brigas que ele arrumava com
os outros na escola. Descarregavam nele
que era mais frágil.
Desde pequeno tinha sido relegado pelo irmão, como se não
existisse, havia uma grande diferença de idade entre eles, anos mais tarde
antes de sua mãe morrer, no meio de uma discussão descobriu que o irmão era
filho do primeiro casamento de seu pai, na Argélia, mas sua mãe o tinha sempre
tratado como seu. Quando ele nasceu,
ficou com ciúmes, pois deixava de ter toda a atenção dela com ele. Mas já adulto, sempre estava disposto a
alguma maldade, quando sua mulher o deixou, primeiro o agrediu dizendo que o
deixava por ter descoberto que seu irmão era gay. Um dia antes dela partir para sua nova
vida em Marseille, lhe disse que ele era um incompetente, mesmo na cama. Tudo sempre era culpa dos outros, nunca dele,
que quando ficava assim a agredia fisicamente.
O advogado um dia apareceu com um documento, o irmão jamais
poderia ter colocado o edifico como garantia de um empréstimo, porque só
pertencia a ele 50%. Os bancos,
empresários que ele devia dinheiro, tinham visto aí uma oportunidade de
recuperar seu dinheiro. Mas resolveu
fincar pé, pelo menos os meninos poderiam quiça no futuro ter algo para eles. Todos pressionavam para que ele pagasse a
dívida do irmão.
A situação era difícil, pensou, a que deixar esse lastre para
trás, não posso sempre resolver os problemas dele, se ele mesmo cria mais.
Disse ao advogado que devia vender o edifício pagar as dívidas
e que se sobrasse alguma coisa, que ficasse com os garotos.
Um dia pediu ao Osiris que jogasse para ele, para saber como
andavam os garotos. Sua resposta o
deixou gelado.
Perdidos, o vendaval que causou o pai, na Argélia, os deixou
atirados, esses meninos estão na mão de traficantes de pessoas. Se queres recupera-los, tens que agir agora.
Moveu mundos e fundos, até conseguir localizar os garotos
numa pocilga estavam para serem vendidos como escravos no Sudan.
Quando os trouxe de volta, os entregou a mãe deles, que
prometeu cuidar dos dois, entregou a ela o dinheiro que sobrou do pagamento das
dívidas.
Dele não saberia nunca mais.
Ficou com pena dos filhos terem sido arrastado nisso tudo, mas claro com
ajuda de psicólogos, talvez encontrassem seus caminhos.
As vezes se despertava pensando nisso, dizia filho da puta,
como pode fazer isso com seus próprios filhos.
Se o encontrasse, o encheria de porradas.
Os anos passaram, escreveu dois livros, sobre línguas, a
mutação da mesma no mundo moderno, a confusão das mudanças de termos, que se
passava a utilizar para designar alguma coisa que não tinha as vezes
logicas. Mas a sociedade moderna
exigia isso.
Agora nas suas férias ia a Africa, ao Senegal, depois a
Nigéria para se aprofundar no uso do Yoruba, seus significados, suas várias
vertentes.
A princípio, tinha pensado que entre eles surgiria alguma
coisa, mas com o tempo entendeu o que Osiris dizia, era em outra direção.
Às vésperas de fazer cinquenta anos, tomou uma decisão,
comentou a mesma com Osiris, iria em busca de suas raízes.
Osiris aplaudiu sua decisão.
Tinha encontrado entre as coisas de sua mãe, fotos antigas de
quando era jovem, sentada na frente de uma casa, depois outra entre ovelhas,
uma parte deserta.
Descobriu a muito custo que se tratava de Marssa, hoje tinha
um complexo turístico, foi ao embaixada, se identificou, deu o nome de seus
pais, queria saber que poderia pedir cidadania, ou viajar com passaporte
francês, disse que ia em busca de suas raízes.
O funcionário, disse que a maioria que fazia isso voltava
decepcionado, teria que chegar a Orán, de lá alugar ou contratar um carro. Falou com um conhecido de seu pai, ele iria
pedir a um parente seu para localizar parentes, bem como o levar a vila de
aonde sua mãe tinha nascido.
Se programou bem, em sua bagagem só levava roupas de linho
branco, bem como uma chilaba que tinha encontrado a muitos anos no armário de
seu pai. Levou a lavanderia, pediu para
recuperarem a cor natural. De tanto
lavarem para tirar as manchas ficou quase branca. Um tecido muito suave.
Não esqueceu de seus turbantes, tinha um visado de um ano, o
funcionário na hora que ele buscar disse, espero que não fique por lá, agora
sabemos quem é o senhor.
Chegou a Orán, fazia um calor infernal, mas sua roupa era
própria para isso, já no inverno, era complicado. Ali estava um rapaz, com um cartaz com seu
nome, para variar escrito meio errado, lhe perguntou se era parente do
francês. Sim vim te buscar.
Quando saiu, tudo o que viu no estacionamento era um furgão
muito velho, cheio de ferrugens, dentro estava limpo, mas o rapaz fez questão
de colocar um pano.
Disse que só tinha encontrado seguindo as indicações de seu
parente, uma família que vivia perto da Plage de Rachegoun, viviam mais para o
interior, criando ovelhas. A viagem foi
longa, pararam duas vezes para beber água, comer.
Finalmente chegaram a Plage de Rachegoun, melhor que o senhor
fique no hotel da praia, que está meio vazio agora, fora de temporada explicou.
Lhe perguntou aonde ia dormir, ele disse que no furgão. Disse ao rapaz nem pensar, me fazes um favor,
ainda vais dormir no furgão. Alugou dois
quartos, por 4 dias. Perguntou se tinha
comida, apesar da hora, disseram que podiam preparar uma sopa, ou salada. Rashid, o rapaz, preferiu a sopa, ele a
salada.
Subiu rapidamente para tomar um banho, a água era um pouco
escura, mas logo ficou limpa, talvez sujeiras no cano. Desceu com as calças com a chilaba por cima.
O rapaz sorriu, nada mais confortável realmente.
Comeram, ele perguntou se ele vivia por ali.
Riu dizendo que na verdade era pastor de ovelhas, as terras
são do meu tio que está na França, vivo na casa que tem aqui.
Nunca pensaste ir para a França?
Já estive por lá, mas gosto mais daqui. Vivo numa pequena enseada em cima do mar, uma
mistura de verde com um pedaço de deserto.
No inverno não aparece ninguém na praia, então posso tomar banho
nu. Sorriu satisfeito.
Mas deves ter mulher, filhos?
Não, aconteceu algo na minha juventude, não quero família.
Dormiu com a porta da varanda aberta, escutando o ruído do
mar. Isso o relaxou, no dia seguinte,
foram a procura da família.
Era um casebre no meio do nada, viviam ali, uma mulher com
dois filhos na idade adulta, ela disse que a casa tinha pertencido ao avô dele,
que tinha dispersado todos os filhos pela França, com a tua mãe, fez um grande
negócio, um casamento arranjado, com um comerciante de Paris.
Ela não queria ir embora, mas tampouco depois mandou
notícias, nunca soubemos dela.
Ela já morreu quando eu era criança. Descobrir que era daqui, por uma fotografias
velhas, mostrou para a mulher.
Vê essa foi feita aqui, mostrou os degraus de uma casa em
ruinas, foi dizendo os lugares das outras.
Uma pergunta, vens reclamar as terras?
Não porque, só queria saber de aonde saiu minha mãe, nada
mais.
A mulher respirou aliviada, a casa por dentro era miserável,
muito mal cuidada.
Andou por ali, tudo cheirava a abandono, só para provocar,
perguntou se ela queria vender as terras.
Olhou para ele de cima a baixo, disse um preço soltou um valor.
Rashid riu, as terras são tuas, basta reclamar.
Mas ele olhou em volta, viu que não tinha nada.
Depois que foram embora, Rashid explicou que ele tinha
direitos.
Rashid, teria que construir tudo de novo, não penso viver
aqui, não vale a pena, para que, a casa esta para jogar fora, nada vale a pena. Nem sei se realmente essa mulher é minha
parente, pois seu nome é diferente de minha mãe. Não creio que valha a pena.
Se quiseres ficar aonde vivo, a casa não é minha, mas meu tio
disse que eu lhe oferecesse.
Concordou em ir no dia seguinte para conhecer. Era longe de aonde eles estavam umas duas
horas, já era mais mundo como ele pensou, uma pequena vila, que Rashid explicou
que viviam mais do verão pois a praia estaria cheia. Foram subindo para uma parte mais alta, antes
passaram por um portão que fechava a estrada, com um cadeado, ele abriu
seguiram subindo, aqui tem que fazer isso, para mostrar que tem um
proprietário.
Ficava na parte alta, muito verde, viu ovelhas entre as arvores,
quando parou o carro, um cachorro veio correndo fazendo festa para ele. Depois o cheirou, faz isso para saber se eres
de confiança. A casa era muito bonita,
ele explicou que tinha sido construída em cima da velha que tinha pertencido a
família, antes de emigrar para a França.
Dali se viam duas praias, a da vila, a esquerda uma minúscula
enseada, que ele disse que pertencia as terras do tio. Aqui gosto de tomar banho.
Deixaram as coisas dentro, depois preparo coisas para
comermos.
Vamos tomar um banho de mar.
Ele desceu com a Chilaba, pensava só em molhar os pés, mas quando
chegaram embaixo, viu que Rachid, tirava toda a roupa, ficando nu, se atirando
na água. Tinha um corpo espetacular.
Da água ficou chamando para que entrasse. Tirou a chilaba, entrando com a cueca que
estava vestido.
A água era realmente ótima, reconfortante, para um dia de
calor, ficou ali boiando, até que sentiu a presença do Rashid ao lado dele.
Venha vamos subir para comer.
Ao colocar a chilaba tirou a cueca molhada. Rashid disse que ali podia tomar banho nu,
nunca vinha ninguém.
Sem querer olhou em sua direção, estava meio excitado, mas
ficou surpreso por ele não ter ovos.
Que te aconteceu?
Esse é meu trauma, jamais poderei ter filhos. Abusaram de uma menina no prédio do meu tio,
ela disse que o agressor era um tal de Rashid.
Eu sempre que passava por ela, sorria, dizia bom dia. Acharam que era eu, me pegaram, me deram uma
surra, me cortaram os ovos fora. Por
pouco não morro, dois dias depois descobriram quem era o outro Rashid.
Mas já era tarde, não conseguiram implantar de novo em seu
lugar. Fiquei muitos tempo em coma,
depois a recuperação. Eu trabalhava
com meu tio, esse achou melhor eu voltar, eu concordei, aqui vivo tranquilo. As
vezes algum da praia sobre para dormir comigo, gosto de fazer sexo com homem.
Sorriu para ele, sinto muito garoto, merecias uma vida
melhor. Sabes ler, escrever?
Sim, fui a escola, gosto muito de escrever.
Nessa noite desceu com Rashid para um banho de mar, tirou a
chilaba, estava nu embaixo, entrou na agua, viu que na praia Rashid tinha ficado
olhando.
Deixou que ele se aproximasse, ficaram brincando com os
sexos. De noite ele veio para sua cama,
ele pensou que fosse impotente, mas nada, sabia fazer sexo como nunca tinha
experimentado.
Foi ficando, conseguiu na vila, um sistema de Hi-fi, se
dedicava a escrever coisas que pensava e sentia. Disse ao Rachid, que gostaria de ir para o
interior, se podiam comprar uma tenda, ir visitar os lugares do deserto.
Eu fui uma vez com uns amigos do meu tio, ele os trouxe para
férias, andamos bastante para o interior, mas este furgão não iria aguentar.
Custa caro alugar um?
Para ti, creio que não, mas vou saber. No dia seguinte desceram para a vila para
fazer compras, as pessoas se surpreendiam com ele, por falar tão bem, inclusive
com maneiras da terra. Tinha se
recordado como falava sua mãe, a cadência das palavras.
Sem querer começou anotar coisas que ia se lembrando dela.
Rachid, conseguiu uma de um dois anos atrás, disse que o
homem queria vender, pois ia embora para a França. Perguntou quanto ele queria, era um preço
irrisório, lhe deu o dinheiro, compre, assim temos um bom carro.
Rachid levou a um mecânico antes, que vistoriou tudo.
Se prepararam para a viagem, compraram o comida, que não se
estragava, se prepararam, na noite antes tomaram um bom banho de mar, fazendo
sexo na praia. Rachid, disse que gostava
de fazer sexo com ele. Não fazes
escândalo, aprecias fazer sexo, gosto disso.
Ele disse que gostava muito de fazer sexo com ele. Eu também gosto estar contigo.
Viajar pelo deserto, noites de lua cheia, vendo as montanhas,
as estrelas, lhe fizeram bem a alma, busca nos lugares que passa, livros sobre
Albert Camus, os tem em sua casa, mas urge poder ler esse grande escritor.
Numa das paradas numa vila, sentando num bar, escuta duas senhoras
tomando chá, na porta de uma casa, falando dos anos que viveram na França. Se acerca a elas, começa a fazer perguntas,
em sua memória prodigiosa, vai guardando retalhos.
As duas viveram em Paris, mas nunca conheceram nenhum lugar
famoso do turismo, viveram para sua família, até que ficaram viúvas, filhos
dispersos, com vergonha de serem argelinos, netos isso era outra história, as
reclamavam que nunca se aproximaram delas, que seus filhos se casaram com
francesas.
As duas tinha se casado sem conhecer seus maridos, eles
tinham emigrado antes, trabalhavam em alguma fábrica por lá. A elas, tocava tomar conta deles, criar os
filhos, mal aprenderam falar um francês como deus manda. Todas as duas foram mulheres de limpar
edifícios, de joelhos esfregando o chão, mas não sentiam vergonha disso, pois
ajudavam assim a pagar escolas que elas não puderam frequentar, para os
filhos.
A única coisa que tinham assimilado, era esse ato de tomar um
chá, conversando sobre a vida.
Pediu ao Rashid que lhe introduzisse justamente junto a esses
retornados.
Quando voltaram da viagem, de tanto falar em Camus a Rashid,
encontrou entre os seus, um “A Peste”,
Rashid leu, ele ficou surpreso com as anotações que ele tinha feito a respeito,
principalmente dos argumentos que não concordava.
Quando lhe disse que Albert Camus, era Argelino, passou a
idolatra-lo. Pediu a Paris que lhe
mandassem todos os livros. Agora pelas
noites se sentavam discutindo o que ele tinha lido nos momentos de paz do
pastoreio da ovelhas.
Lhe apresentou uma mulher que tinha conhecido no mercado, que
lhe comprava leite das ovelhas para fazer queijo.
Yenier, foi a sua casa, levou um bloco, lápis, começou a
conversar com ela. Essa mulher tinha a
mesma idade que hoje teria sua mãe. A
tinham casado com 14 anos, com um homem que nunca tinha visto na vida.
Tive a sorte de viajar num barco com outra garota na mesma
circunstância. Era muda, mas a entendia
perfeitamente, pois tinha paciência de tentar descobrir o que queria dizer.
Meu marido estava me esperando no porto de Marseille, ela
também viveria ali, mas o marido não a estava esperando, sim seus sogros. Não gostei da cara deles de imediato. Fiz com que meu marido escrevesse a direção
de aonde íamos viver, caso ela necessitasse.
Lhe enfiei no bolso do vestido, lhe expliquei que era aonde íamos morar,
caso ela necessitasse.
Passaram-se dois anos nunca soube dela. Um dia apareceu em minha casa, de noite,
acompanhada de um policial. Magra, mal
vestida, desnutrida diria eu. Tinha
escapado da casa que vivia com o marido.
Esse era funcionário de um banco.
Disse que a tinha fechada a chave em casa, que quando chegava de noite
acompanhado de outro homem, sempre a fechava no quarto. Escutava o ruído dos dois fazendo sexo. Quem fazia as compras era sua sogra, segundo
ela uma megera. Tinham escolhido como
esposa, justamente porque era muda.
Contei tudo ao meu marido, ele foi tomar satisfação da
família. Fizeram com que a polícia a
levasse de volta para casa. Sua vida
seguiu um inferno. Agora separado do
homem com quem fornicava, ele se dedicava a trazer marinheiros, homens que
encontrava nas ruas para fazer sexo.
Um dia, escutou muito ruído, depois um silencio total. No dia seguinte quando a sogra chegou,
encontrou o filho morto. Chamou a polícia, querendo incrimina-la. Mas foi tão idiota que ela a tinha deixado
como estava. Mostrou ao policial o meu
endereço, fui até lá para ajudar a se comunicar. Lhe contei ao mesmo tudo que tinha
acontecido da vez anterior.
Logo encontraram o assassino, porque tinha roubado um relógio
de grande valor do marido, ela acabou indo viver conosco, foi a tia querida dos
meus filhos, a entendiam perfeitamente.
Morreu com uns 35 anos, a enterramos ali em Marseille. Imagina as duas tínhamos saído daqui com 14
anos, dizia que os anos felizes tinha sido em minha companhia, de minha
família.
Quando morreu me senti terrivelmente só. Sabia da infidelidade de meu marido, com
outras mulheres. Antes não me
incomodava, pois assim não tinha que fazer sexo com ele.
Meus filhos apoiavam o pai, achava que estava no direito
dele. Fui me distanciando deles, até que
um dia um advogado me procurou, meus irmãos tinham morrido na guerra da
independência, me tocava como herança, um pouco de terra, a casa dos meus pais.
Tomei uma decisão, conversando mentalmente com minha amiga. Arrumei minha coisas, disse ao meu marido, tu
fica com tuas putas, eu volto para minha terra.
Aqui sou feliz, tenho um dos netos que não encaixava na
família lá, que veio morar comigo, cuidamos da terra, reergui minha casa.
Agora imagine o senhor, como nós duas, muitas mulheres saíram
daqui, foram para na França, Marseille, Paris, os lugares aonde tinham mais
emigrantes argelinos, por causa das fábricas, muitas delas, sequer conheceram
direito a cidade que viviam. Estavam
ali, para servir aos seus maridos, para parir, cuidar da casa, fazer pequenos
trabalhos que nos tocava por analfabetas como limpeza na casa dos mais ricos.
Sem dúvida enfrentei-me com meus filhos, que se casaram com
mulheres francesas sim, mas todas mais ou menos como nós, semi analfabetas,
vindas do campo, atrás de uma vida melhor numa cidade maior. A repetição do mesmo objetivo se
repetia. Mas a terceira geração foi além
nos estudos, não se adaptavam a essa vida, meu neto quando veio não sabia falar
árabe, aprendeu aqui na escola. O pai o
expulsou de casa, por ser gay. Aqui vive
feliz, principalmente no verão quando a praia está cheia de jovens da sua idade.
Ele tem amizade com Rashid, este agora lhe passa livros que o
senhor lhe dá.
Quando voltou para casa, perguntou ao Rashid, se fazia sexo
com o rapaz. Rindo me disse que não, ele
gosta de jovens como ele. Eu tenho a ti,
para que ia querer fazer sexo com ele. Apenas conversamos. Ele no inverno se sente perdido.
Com o relato da senhora, comecei a tentar me lembrar de tudo
o que tinha na memória da minha mãe, de vê-la chorar as escondidas, as vezes da
brutalidade de meu irmão, de meu pai, com ela, a quem chamavam de mulher
burra. Mas era ela quem via limpando as
escadas do pequeno edifício, esfregando o chão do armazém. Uma vez escondido, vi meu pai fazer uma
coisa que talvez tenha ficado na minha memória, ela estava ali de quatro
esfregando o chão, ele chegou por detrás, levantou sua saia, abaixou suas
roupas intimas, abriu sua braguilha, fez com que seu caralho ficasse duro,
enfiou sem contemplação, quando gozou, simplesmente colocou para dentro, seguiu
fazendo como se nada tivesse acontecido.
De aonde estava, vi que minha mãe chorava pela humilhação. Talvez tenha sido quando aprendi a odiar meu
pai.
Foi escrevendo tudo isso, criando um personagem.
Teria que voltar a Paris, disse a Rashid, que viesse comigo,
não queria me separar dele. Me disse que
fosse tranquilo, que me esperava.
Fui conversei com o dono da casa aonde estive hospedado, me
disse que estava velho demais para ir para lá.
Seus filhos odiavam ter que ir passar as férias por lá. Eram todos casado com francesas que não
gostavam de ter as pessoas em sua volta falando árabe.
Me vendeu a tudo por um bom preço. Fui a universidade, pelos anos que tinha
trabalhado, teria direito a uma excedência de quase 10 anos, depois a
aposentadoria.
Embalei todos meus livros, tudo que me era querido, fotos de
minha mãe, as do meu pai do meu irmão joguei no lixo.
Despachei tudo, avisei a Rashid que viesse me buscar em Orán.
Estava contente com minha volta, contei que a propriedade
agora era minha. Ficou feliz, quer dizer
que não vais mais embora.
Não, agora vou trabalhar desde aqui.
Arrumei um dos quartos que ficava no alto, com vista para o
mar para ser meu escritório. Agora
passava o dia ali, quando ele subia para me avisar que a comida estava pronta,
me abraçava por detrás.
Quando terminei totalmente o livro sobre as mulheres, um
capítulo quando tinha ido a Paris, tinha mostrado ao Editor, tinha gostado.
Agora mandava duas cópias.
Fiquei esperando que me chamasse.
Impressionante, se aquele capítulo gostei, imagina o resto do
livro, uma justa homenagem as mulheres que contribuíram para o crescimento
desse pais.
Quando o livro ficou pronto tive que ir a Paris, desta vez
consegui levar Rashid comigo, foi temeroso.
Desta vez gostou, estávamos num bom hotel, por conta da editora, fui a
entrevistas em canais de televisão, levei cópias das mesmas para ensinar as
mulheres da vila.
A primeira edição voou rapidamente, um produtor se interessou
pelo texto para fazer um filme, concordei fizemos um acordo, não deveriam fugir
do texto.
Quando voltamos, fui visitar a senhora da vila, estava muito
abalada, um grupo de jovens tinha dado uma surra em seu neto.
O levei para minha casa, queria que ele ficasse bem. Ela adorou o livro, bem como a reportagem.
Vieram filmar aonde vivia, uma reportagem, lhe perguntei se
queria participar. Ela riu dizendo que
os filhos, netos iam se surpreender com ela.
Aparecia sentada ao meu lado na entrevista, dizia seu nome. O meu bom amigo Yenier, um dia apareceu em
casa, conversamos, contei a minha história.
Sabia que ele escreveria sobre mim, sobre sua mãe, além das outras
mulheres como nós que nos casaram nada mais ter 14 a 16 anos. Fomos levadas para um pais diferentes para
constituir famílias, trabalhar como burras de carga, cuidar de um marido que
algumas vezes era bruto, filhos que queriam mais assimilar a outra realidade,
netos que ignoram quem fomos na verdade, de aonde saímos. Nossas história.
Eu ao final só falei da minha mãe, a perdi muito cedo,
algumas cenas que podem parecer brutais, como o abuso feito pelo meu pai, é
verdade, pois o presenciei escondido. Não
inventei nada em cima das histórias, procurei relatar o melhor possível.
Alguns homens Argelinos não gostaram muito, não os do pais,
mas os que viviam em Paris ou qualquer outra cidade. Quando fizeram críticas, lhes respondi que
somente estava falando das mulheres, que eles me interessavam uma merda. Se tivessem a consciência tranquila, não se
chateariam com o que contava.
O filme ficou pronto, foi filmado uma parte em vários lugares
da Argélia, de onde tinham saído essas mulheres, vilas pequenas, hoje algumas
cidade, sem instruções, sozinhas a sua sorte, esperando encontrar uma família
de apoio, o quem nem sempre existia.
Fez um sucesso, principalmente porque foi defendido por
associações de mulheres.
Fiquei tranquilo, tinha conseguido um objetivo, render uma
homenagem a minha mãe, bem como a essas mulheres.
Escrevi mais um dois livros, um sobre jovens que partiam para
serem mão de obra barata nas fabricas francesas. Sua adaptação, construção de famílias.
Uma entrevista que fiz, mexeu com minha cabeça, era um jovem
que tinha ido, com o intuito de escapar de sua família, da pobreza, também por
sentir uma forte atração por homens.
O entrevistei num hospital em Paris, durante dois dias, me
contou toda sua vida, desde o começo como prostituto, depois com um emprego
estável, a solidão, que ele pensava em preencher quando chegasse a grande
cidade. As frustrações de ser sempre um
cidadão de segunda. Lutava agora contra
um câncer, ajudei a pagar suas despesas no hospital, quando melhorou o levei
comigo para nossa casa, aonde ia crescendo de população.
Ele se recuperou, dizia que se não tivesse tido que escapar,
estaria feliz.
Houve duas invasões nas terras, avisei a polícia que na
próxima vez reagiria a força. Assim fiz,
quando começaram a provocações, apareci com todo meu tamanho, com uma
espingarda que comecei a disparar.
Os enfrentei, nunca mais voltaram.
Osiris foi a última pessoa a se unir a nossa comunidade. Estava cansado de suas andanças para cumprir
com suas obrigações.
Fico feliz em ver que entendeste teu caminho.
Rashid, ficou com um certo ciúmes do Osiris, mas lhe
tranquilizei, podes pensar o que quiser, mas quem dorme comigo todas as noites?
Riu, se agarrando a mim.
Agora dizia que entendia o que significava amor. As vezes ia dormir com ele no verão, no
campo, olhando as estrelas, rodeados de ovelhas.
No hay comentarios:
Publicar un comentario