lunes, 21 de febrero de 2022

WHIT OUT

 

                                                  WHIT  OUT

 

Outra vez, desta vez tinha perdido a paciência definitivamente, saiu do cenário, foi para seu camarim, sabia que a garota estava fudendo com o diretor, por isso a tinha escolhido para o papel, chegava todo os dias com cara de sono, sem saber o texto, a voz da mesma o irritava, menos mal que era o último filme do contrato, maldizia ter deixado nas mãos do seu agente assinar o contrato com a companhia.   Na noite anterior, retirou dele seu poder para isso, quando o mesmo lhe fez uma chantagem, lhe deu um murro na frente de todo mundo.

Esse disse que o ia processar, o pegou pelo colarinho, falou bem alto, esse senhor não é de confiança, isso num restaurante que estava lotado de jornalistas, começou a falar todos os podres que tinha o mesmo, quando se fartou dele, contratou um detetive.

O outro ficou branco, atreva-se a entrar com um processo contra mim, contarei mais coisas que sei sobre ti.

Fazia par romântico com a jovem atriz, quando o diretor veio falar com ele, soltou, se paras de fuder a noite inteira com ela, pode ser que consiga representar alguma coisa.  Ou trocas de atriz, prefiro filmar tudo já feito, mas com alguém que chegue aqui sabendo o texto, não uma que cada vez que diz uma frase olha para ti.    Podem me processar, me nego a filmar mais nenhuma cena, estou de saco cheio desse filme, uma merda.

Quem depois veio falar com ele foi um dos produtores, que tinha exigido que ele fizesse o filme.    

Isso é algum castigo, o diretor é uma merda, a garota outra, tudo bem tem o direito de sonhar com o estrelado, mas começa mal, dormindo com esse idiota.   Me nego a seguir filmando, o enredo podia ser interessante se não fosse esse idiota dirigindo.

Isso tudo tinha falado com a porta aberta, mal sabia que um dos jornalista do dia anterior estava do outro lado.

Se o roteirista pega o texto da uma volta por cima no mesmo, não me importo contracenar com uma atriz, mas que a mesma pelo menos tenha talento.   Sei que sou um cara que venceu no cinema pela estampa, pelo meu físico, mas fiz aulas, aprendi a falar, a me caracterizar, enfim já não sou o merda de um canastrão de como comecei, mas tem uma coisa, não fui para a cama com ninguém para subir na vida.

Quando tiverem isso resolvido, falem comigo, ah despedi ontem à noite o meu agente, por isso agora tudo é comigo.

Saiu batendo a porta deixando o produtor dentro, o jornalista o foi acompanhando, se dobrava de rir.

Jackson você é do caralho, quer me dar uma entrevista, público tudo o que você quiser.

Olhou de cima a baixo o sujeito, não era desagradável.  Soltou junte isso com o de ontem, publique, que será como jogar merda no ventilador.   Os atores deviam ter liberdade para poder escolher os seus trabalhos.  Não seus agentes fazerem negociatas com as grandes produtoras, para ganhar dinheiro.

E se não te aparece mais nenhum contrato?

Posso voltar ao meu antigo trabalho, voltarei a ser mecânico de carros como sempre fui desde jovem.

Que me ver trabalhando, siga-me, ele vivia talvez numa das casas mais modestas de Hollywood, odiava ostentação.    O levou até a garagem aonde tinha um carro que tinha comprado num ferro velho.  Lhe disse, esse carro, pertenceu a um ator, seu filho o destroçou, estou remontando o mesmo, pois amo os carros, mostrou o torno aonde refazia uma peça que não tinha encontrado, de fome meu querido não vou morrer.

Tirou a camisa, as calças, com o jornalista o fotografando, vestiu um macacão todo sujo de graxa seguiu trabalhando, na sua cara que até então estava de um homem furioso, surgiu um sorriso, tinha se relaxado.

Realmente foi como jogar merda num ventilador, o texto das duas coisas saia na primeira página do jornal, não parava de receber chamada de outros atores, que ele sequer conhecia, elogiando seu comportamento.   Achou melhor gravar uma mensagem, pois senão não poderia escrever.

Dias depois recebeu uma chamada do produtor, seria como ele quisesse, o diretor tinha sido despedido, bem como a atriz, começariam a rodar o filme outra vez, mudando o texto como ele dizia.

Ele tinha lido o livro antes, estava baseado numa história verdadeira, disse ao produtor, que perguntasse ao roteirista se tinha lido o livro, que ele sim.

Marcaram de se ver dois dias depois.   Nessa mesma noite, chegou o novo roteiro, estava melhorado, mas ainda não era bom.  No final, tinha um número de telefone, chamou, o roteirista se identificou.

Já sei, o que vais dizer, mas não me dão muita margem, fiz outro roteiro, mas acham que não é comercial.

Venha com ele até minha casa, lhe deu o endereço.

Quando esse chegou, ele estava terminando de colocar umas peças no motor.   Só um minuto que já te atendo.

O roteirista estava de boca aberta, pela simplicidade dele.

Colocou uma calças jeans, se limpou da sujeira que tinha, foram se sentar na cozinha da casa, fez um café, pegou o roteiro das mãos dele, um lápis que usava para anotar as compras, começou a ler, a fazer anotações na lateral.

Quando terminou, entregou o texto, se o melhoras nessas coisas até amanhã, faço filme.

O outro começou a ler, vão me matar se apresento isso.

Primeiro vamos comer.

Foi para a geladeira, começou a tirar coisas, preparou uma salada, perguntou se gostava de carne, como queria, preparou um prato para o outro, fez o mesmo para ele.  Sentou-se começou a comer, o outro quis argumentar, colocou um dedo na boca, fazendo silencio, coma.

Quando terminaram ele foi lavar a louça com o outro o olhando.

Só fez uma pergunta, tens algum texto teu bom?

Sim, tenho vários textos.

Pela reforma que fizeste nesse, se vê que sabes escrever, me mande dois que aches o melhor.

Nunca foram aprovados, os acham pesados para o cinema comercial.

Essa gente não sabe de nada.

O acompanhou até a porta.   Amanhã nos vemos.

Chegou ao studio no seu velho jeep como sempre, era outro que ele tinha reconstruído inteiramente, tinha ficado destroçado numa filmagem, ele viu, comprou a sucata.

Sentou-se na sala de reunião, numa ponta da mesa, que normalmente era do presidente da companhia, quando esse entrou, não se levantou, nem mudou de lugar, obrigando o mesmo a sentar-se na outra ponta.

O produtor, começou uma lenga, lenga cheio de palavras bonitas.

Ele se levantou, não vim aqui para escutar essas baboseiras, ontem vi outro roteiro, melhorado, falei como roteirista, se fazem as mudanças volto.

Até logo, da porta disse, podem me processar, alias meu advogado me disse que ganho fácil.

Foram eles que foram a sua casa, dizendo que estavam perdendo muito dinheiro por culpa dele.

Da próxima vez, contratem um iniciante para fazer essa merda, um coitado que ainda não tenha aprendido nada.

Bom vimos o novo roteiro, sabemos que você já leu, vamos fazer dessa maneira, falou quem seria a atriz.

Bom tudo bem, mas quero o roteirista acompanhando a filmagem.

Em dois meses acabaram o filme.   No dia seguinte despediram o roteirista, ele soube, não se preocupe, falou por telefone, aliás você me deve uma, cadê o texto que te pedi.

Te espero em casa, quero um parceiro para dar uma volta no meu carro novo.

Quando ele chegou disse, o carro ficou fantástico.

Deram uma volta, pararam num bar na praia para tomarem alguma coisa, não te preocupe, eu te ajudo.

Olhou diretamente na cara do Andrew, riu, mudaste, já não estás tenso como da primeira vez que te vi.

É que contigo é fácil falar, não ficas perdendo tempo.   Não sei se vais gostar do texto, o personagem principal é gay.

Me importa um caralho isso.

Voltaram para sua casa, ele tinha um pequeno escritório, abarrotado de livros, um dos meus passatempos, desde garoto.  Ler.

Indicou uma das poltronas, se sentou na outra, acendeu o abajur, colocou um óculos, começou a ler, com um lápis suspenso no ar.   Começou a anotar coisas nas laterais, depois pegou um bloco, seguiu fazendo, lhe pediu para se servir de whisky, disse aonde estava, seguiu lendo, as vezes parava para anotar coisas.

Andrew, me desculpe, mas é que andei fazendo um curso de literatura, depois um de escrita de roteiros.

Olha, sente-se aqui do meu lado, nesse pequeno escritório, tinha como mesa, uma que tinha encontrado no lixo, ele mesmo restaurou, devia ter sido uma mesa de cozinha de algum restaurante antigo, passou meses limpando, colocou depois de pronta um vidro por cima, assim protegia a madeira.

Veja, essa parte, falas de uma coisa dura, mas sem usar palavras como uma pessoa falaria, se fosse comigo, eu soltaria de imediato um “caralho”, parece que tens medo de usar palavras que as pessoas quando estão sobre pressão falam.

Veja nesse encontro do personagem, esta caramelizado, como se fosse um romance entre duas pessoas românticas, mas os dois não são, um é ladrão, o outro é um estafador, você acha que eles fariam isso, o mais fácil era que um lutasse contra o outro, para ver quem é o mais forte, quem come o cu de quem.

Andrew, se matava de rir, só podia esperar isso de ti.

Mas agora, nem pagar meu aluguel posso, não terei lugar para escrever.

Essa sala te basta, podes vir fazer isso aqui, porque irei montar esse filme, nem que gaste até o último tostão que tenho.

O levou para a parte de cima da casa, que era simples, mas os dois quartos era como suítes, com banheiros normais, nada de luxo.   Ele tinha comprado essa casa, reformado, com sua cabeça de homem.

Podes ficar aqui se quiseres, depois já veremos.

Venha vamos comer, porque fiz uma salada com peixes, mariscos, que encontrei hoje de madrugada no mercado.

Como de madrugada?

Tenho um problema para dormir, durmo o necessário, depois levanto muito cedo como fiz a minha vida inteira, tenho que trabalhar, fazer alguma coisa, só fico sentado aqui se estiver lendo um roteiro, ou um livro.

Ok, tenho que sair do apartamento que era do studio, até amanhã.

Depois de comermos, iremos até lá, trazes tuas coisas.

Por que fazes isso por mim?

Primeiro porque te meti no meio de uma briga minha, segundo porque gostei do texto.

Depois de comerem foram buscar as coisas do Andrew Nort, eram poucas coisas, para ele a mais importante era seu Laptop, além de uma velha impressora.

A principio pensou que Jackson quisesse alguma coisa com ele, mas viu que ele continuava seu trabalho como se nada tivesse acontecido, um dia lhe perguntou como conseguia tanta calma, respondeu que um dia tinha perdido tudo, por isso nada lhe preocupava.

Não entendeu muito a frase, pois o que sabia dele, era pouco, um ator com certa fama, não se falava de sua vida particular, tinham inventado uma história sobre seu passado, que numa recente entrevista ele tinha desmentido, isso tinha sido coisa do studio.

Agora estava livre para fazer o que quisesse.

Ao final do dia, vinha ver o que ele tinha escrito.  Tornava a fazer anotações que voltava a passar para ele.

Quando terminou o texto, disse, agora espere-me, no dia seguinte, tinha um envelope em cima do balcão da cozinha, para as despesas segundo ele.

Começou a trabalhar um segundo texto, já tinha agora uma linha de pensamento, quando volte vou lhe oferecer esse.

Voltou 15 depois, perguntou se podiam mudar a localização da história.

Claro que sim, isso podia ter acontecido em qualquer lugar.

Ok, vamos filmar em NYC, tens que rever o texto, adaptando para isso.

Tomaram um voo, para lá, ele tinha a chave de um apartamento, simples perto de Chinatown, se instalaram, o avisou que dentro de dois dias, tinham que falar com um diretor de cinema.

Esse quando leu o texto, ficou olhando seriamente a cara de Jackson, vais filmar isso?

Sim, mas tu serás o diretor.

Abaixou a cabeça, começou a ler atentamente o texto, quando acabou, perguntou qual o papel que ia fazer nisso?

Respondeu que o homem que abandona o outro, após um romance, era o segundo papel, não o primeiro.

Então quem vai fazer o papel principal?

Já verás.   Ele foi reunindo pessoas que sabiam que eram gays dentro do armário, que já não podiam mais.

Quando começaram a rodar o filme, na primeira reunião ele avisou que tinham menos de um mês para fazer, pois todos tinham compromissos.

O diretor se surpreendeu com Jackson filmado, metade de suas cenas, ele estava nu na cama, com outro homem, depois aparecia depois de alguns anos, mais gordo, meio calvo, arrependido da sua decisão, na verdade a parte romântica era só os primeiros 15 minutos do filme, depois era a derrocada de um homem que se achava atrativo, que conseguia levar qualquer um para a cama.     O homem pelo qual tinha sido apaixonado, a partir da mudança de época, era um professor da universidade, continuava tão sério como sempre.

Quando volta a aparecer, pois tudo na vida tinha lhe saído como uma merda, já não era a mesma pessoa.   O outro nem lhe reconhece quando o aborda na rua.  A partir desse momento o filme é ele contando para o outro sua degradação.  Um mal marido, homem perdido em si mesmo, que não para em emprego nenhum, pois no fundo nada lhe interessa.  Que tem encontros furtivos com outros homens, até que é rechaçado por já não ter o encanto que tinha antes.   A mulher o abandonou, levando seu filho, a única pessoa que ele no fundo ama.

O professor cuida dele, apesar de ter sida, até o final, tinha sido seu único amor na vida.

Quando viram o copião, o diretor disse, que ele acabava de ter-se construído como ator.

O filme antes passou em vários festivais, chamando muita atenção, conseguiram um distribuidor.   Numa entrevista, lhe perguntaram como tinham sido as cenas de sexo, ele muito sério, disse que reais, realmente tivemos sexo.

A cara do jornalista era de surpresa.

Vê querias que eu dissesse que era tudo uma mentira, cenas técnicas, etc.

Não seja preconceituoso, encare como um filme real, pois o personagem é quase verdadeiro, quantos não passaram por esta situação.

Embora os dois atores tivessem indicados para os Tony’s, ao Oscar, nenhum dos dois ganharam nada.

O Andrew vinha trabalhando sempre na segunda história, como se soubesse tudo que ele escreveria nas margens.   Quando lhe mostrou o texto, ele o leu inteiro, deu uma risada, filho da puta, me tirou o prazer de fazer qualquer comentário.

Já conheço tua cabeça com relação a isso.  O filme tinha dado lucros, ele deu a parte do Andrew, pegou o texto novo, analisou profundamente, as vezes meu amigo, acho que ficaria bem isso sim montar no teatro primeiro, porque todo o filme era simplesmente na mesma localização.  As poucas cenas que eram de exterior, podia ser gravadas passadas no fundo do palco segundo ele.

O mesmo diretor aceitou dirigir no teatro, que era sua formação original.  Alugaram primeiro uma sala para trabalhar o texto, o difícil estava ser conseguir um outro ator.

Tinha que ser uma pessoa mais velha do que ele, terem alguma coisa parecida.

Um dos que vieram fazer casting, era um ator caído em desgraça, tinha perdido toda sua carreira por causa das drogas.   Agora recuperado, queria voltar, mas fazendo teatro.

Os dois em cena, era difícil, ele mais jovem, um corpo fabuloso, o outro uma figura deprimente.

Era o famoso, olha como serás amanhã.

Ensaiaram dois meses, fizeram primeiro off-Broadway, era um tour de force entre os dois em interpretação, o público ao final, aplaudia de pé.

Quando estreou num teatro pequeno na Broadway, foi sucesso durante muitos meses.  Agora estamos prontos para transformar em filme.

O outro ator, pensava que escolheriam outro para fazer seu papel.    Acharam a localização, agora as cenas eram metade numa cidade pequena, a beira de um deserto, no meio do nada, resolveram filmar em branco e negro como antigamente, só no final, era como se a realidade fosse colocando cor nos personagens, tudo se passava num motel na beira de uma estrada que levava a lugar nenhum.

Um crítico dizia que no teatro, era fácil de aguentar, pois havia um distanciamento, não se vida perfeitamente as caras, mas ao ver os closes, era muito forte, recomendava que as pessoas tivessem estomago para ver.

Desta vez, ganharam dois prêmios, principalmente no texto. Os dois foram super aplaudidos no festival de Cannes, no de Berlin.

Ele já não era o ator que fazia filmes românticos.

Tinham estado discutindo vários textos, o Andrew, agora mais conhecido, lhe procuravam, ele foi honesto, se queres podes ir quando queiras.   Inclusive se falava que os dois tinham uma relação homossexual.    Nada mais longe da verdade.   Nunca tinham se tocado.

Quando numa entrevista na televisão, lhe fizeram essa pergunta, cortou o entrevistador, eu te pergunto como levas tua relação, falou o nome de um ator famoso.

Vê, se eu tivesse um relacionamento com ele, diria, mas é um dos meus melhores amigos, os dois fomos repudiados por Hollywood, unimos nossas forças para fazer bons filmes, podemos conversar de qualquer assunto, estudamos ideias, analisamos cada palavra de um texto.

Mas o dia que dormir com ele, vou te telefonar para dizer se foi bom ou não.

Agora uma pergunta, que tal é dormir com teu namorado.

No dia seguinte, as manchetes não eram se ele dormia ou não com o Andrew, mas com quem dormia o entrevistador.

Quase perdeu o programa, além que seu namorado, deu no pé, foi fazer um filme na França.

Discutindo com o Andrew, disse, é se fizéssemos um filme sobre isso, o quanto levar a vida tão escondida, pode afetar uma pessoa.

Estavam escrevendo juntos pela primeira vez, quando um belo dia, lhe chamaram por telefone, Andrew só o escutava dizendo sim, ok.  Vou, pode deixar.

Agora que confio em ti, venha comigo, verás de aonde sai, para ser como eu sou.

Tomaram um voo para Las Vegas, quando chegaram foram a um lugar de luxo, uma casa de prostitutas de luxo.

A cara do Andrew era de surpresa, pois Jackson não disse uma palavra durante o voo, apenas estava sentado com as duas mãos juntas, como se rezasse.

Quando os levaram para um quarto no último andar, tinha uma senhora deitada apoiada em muitos travesseiros, se via que tinha sido uma mulher linda, pois ainda conservava seus traços.

Jackson, correu até ele, perguntando o que tinha acontecido.

Quando a mulher abriu a boca, tiveram que rir.

Esse filho da puta do câncer teve que me pegar, mas o vencerei, nunca o deixarei que me mate, matarei eu a ele.

Era a mãe do Jackson, ele a tratou com todo carinho possível, perguntou se queria ir viver com ele.

Ela soltou uma risada com sua voz rouca, para que vou te dar trabalho, se nunca cuidei de ti.

Porque não vendes tudo isso, podes vir viver comigo em Los Angeles.

Mas filho, as pessoas vão falar.

Me importa uma merda, os dois tinham a mesma maneira de falar.

Ela concordou, vendeu tudo que tinha ali, a um grupo, foi de ambulância para a casa dele nas colinas de Hollywood. 

Era ele quem a levava ao hospital para a quimioterapia, os dois faziam com que se alimentasse direito.   Ela dizia que tinha recuperado dois filhos.

Mas seu corpo foi definhando, um dia sentou-se muito reta na cama, cantei vitória cedo demais, chegou a hora de acertar contas essa é a verdade.

Andrew, disse vou deixar vocês dois conversando.

Ela olhou para o Jackson, ele não sabe de nada?

Não, sempre achei que tinha que ser a senhora para contar.

No dia que disse que tinha recuperado dois filhos, era uma verdade, tu eres irmão do Jackson, de pais diferentes.   O pai do Jackson, conheci quando jovem, numa pequena cidade do interior, daquelas que o diabo esquece de passar.   Mas eu queria mais, era bonita, queria ser famosa, ser artista de cinema.   Um belo dia descobri que estava gravida, o tive, deixei com seu pai, que era o mecânico da cidade, roubei seu carro fui embora.

Oito anos depois te tive, mas não queria ser mãe, essa era a verdade, já sabia que seria uma péssima atriz, pois apesar de ser bonita, haviam mil outras como eu.

Me tornei uma prostituta de classe, sabia me comportar, escutar aos homens, até que resolvi montar um negócio.   Quando tu nasceste te dei em adoção a um casal que se parecia fisicamente com o homem com que tinha tido o relacionamento.

Depois fui para Las Vegas como sócia desse local, meu negócio era conseguir moças bonitas para acompanhar homens solitários, ou que necessitavam aparecer com uma mulher atraente, ou mesmo que fossem putas.

Foi ela quem financiou no nosso primeiro filme, me deu o dinheiro, porque sabia que eu tinha te encontrado.

Andrew tinha aprendido a querer essa mulher, foi franco, nesse momento, num filme trágico, o filho desprezado, sai batendo a porta, mas aprendi a te amar, conversar contigo.

Por isso achei estranho que tivesse perguntado se eu tinha alguma vez feito sexo com Jackson, nunca aconteceu nada entre a gente, ele me ajudou, agora entendo muitas coisas.

Os dois cuidaram dela, nos seus últimos dias, deixou todo o dinheiro que tinha para os dois, fazerem o que gostavam cinema, que ela nunca tinha podido fazer.

Depois do enterro, os dois se sentaram, falaram longamente sobre tudo, ele queria saber como o tinha encontrado.

Foi ela que me disse, teu nome, quem eram teus pais adotivos, nunca deixou de saber de nenhum dos dois.

Eu descobri, porque acabei sendo criado por sua irmã, quando esta morreu, descobrir as cartas que escrevia mandando dinheiro para me cuidar.

Meu pai, era um alcoólatra, eles nunca tinham sido casados, então se casou com uma mulher que apareceu pela cidade, tiveram vários filhos.

Minha tia tinha feito uma coisa, todo o dinheiro que ela mandava, guardava num banco, era uma mulher moralista.  Me deu acesso a esse dinheiro.  Esses anos todos trabalhei para meu pai, que me explorava, sempre me chamando de filho da puta.  Levei muitos anos para entender.

Quando estudava, me apaixonei por um companheiro de classe, sua família era a mais importante da cidade.   Quando ele foi embora para fazer universidade, um grupo de rapazes, me deu uma puta surra, pois eu era o mais bonito deles todos, mas eram muitos, acabaram me deixando desmaiado, então aproveitaram abusaram sexualmente de mim.

Passei vários dias no hospital da cidade ao lado, meu pai, disse que o melhor que eu fazia era ir embora, como minha mãe tinha feito, pois senão acabaria como ela, sendo uma puta.

Quando o advogado de minha tia me procurou, me deixava sua casa, bem como um pacote de cartas, dinheiro no banco.   Na carta me explicava, quem era minha mãe, aonde estava, claro estava nos envelopes, o dinheiro no banco.  Vendi sua casa, retirei o dinheiro do banco, como sabia quem eram os que tinha abusado de mim. Fui abusando de cada um, o que tinha sido o principal, quis me matar, mas eu o matei primeiro, fiz seu corpo desaparecer.

Para todos os efeitos eu já tinha ido embora da cidade, ninguém nunca suspeitou de mim.

Fui para Las Vegas, para conhecer minha mãe.   Você viu como ela era, fiquei deslumbrado com seu glamour, a maneira como tratava os homens que procuravam pelos serviços das mulheres que trabalhavam para ela, cuidava de cada uma como se fosse uma mãe.

Peguei o dinheiro vim para cá, comecei a estudar, a ler, fazer cursos de teatro, pois gostava, ao mesmo tempo trabalhava numa oficina de carros, um dia um desses caçadores de talentos me descobriu, aí foi fácil.

Quando te conheci, levei uma foto tua, para ela, me dizia que eres idêntico ao teu pai verdadeiro.   Foi quando te convidei para ficar aqui em casa.

Só voltei uma vez a cidade que tinha saído, foi para o enterro do meu pai, os caras que abusaram de mim, bem como os que eu abusei, tinham medo de se aproximar, a lastima foi encontrar o amor de minha juventude, casado, gordo, feio, decepcionado com sua própria vida, quando fizemos o nosso primeiro filme, me baseie nele para compor meu personagem.

Sei que ele viu o filme, porque me procurou, mas não representava mais nada para mim.

Se perguntas se tenho aventuras, te digo que não, mas simplesmente porque nunca encontrei uma pessoa que me apaixonasse.  Depois estava involucrado nisso, no nosso trabalho, para sermos respeitados.   Se quiseres agora desfrutar tua parte do dinheiro, escrevendo para outros atores, diretores, isso é contigo.    Por mim ficas aqui.

Estavam cansado dos últimos meses, resolveram fazer uma viagem.  Discutiram como sempre, tinham feito, analisado aonde gostariam de ir.

Acabaram indo para fazer uma grande viagem pelo Canadá, entraram por Vancouver, foram descendo até Toronto.

O diretor que tinha feito os dois filmes, os chamou, tinha comprado os direitos autorais de um livro, queria que eles dessem uma olhada.

Foram para NYC, os dois gostaram do texto.  Mas claro viram que era um livro póstumo, se surpreenderam, o autor do livro tinha morrido de aids a pouco tempo.

Os três começaram a trabalhar no texto, nesse tempo Marc Gregory, tinha deixado a tempo sua relação com um escritor.

Então passava o tempo todo com eles, quando lhe perguntou se queria fazer o papel do rapaz, disse que não tinha mais idade, mas foram conhecer o pai do mesmo James Jameson, que tinha acompanhado toda a doença do filho, era conhecido, por estar sempre presente no hospital aonde o filho tinha passado os últimos dias.

No livro, sempre mencionava o pai, mas ao conhece-lo pediram licença para incluir seu personagem com mais força.  Jackson, sempre se encontrava com ele para ir ao hospital, ou fazer alguma palestra, entre os dois nasceu um relacionamento.

Que ia pensar isso, lhe dizia, primeiro eu era homófono, quando soube que meu filho era gay, me revoltei, depois hoje penso que se o tivesse aceitado, orientado, hoje estaria aqui.

Mas ele me perdoou, pois sabia como tinha sido minha vida.   Agora estou contigo, penso que perdi tempo.

Ele decidiu fazer o papel do pai, o duro foi encontrar um ator que pudesse fazer o papel do filho, foi difícil, mas conseguiram.   

Notou que Marc se aproximava cada vez mais de seu irmão, quando reparou, os quatro era como dois casais.

O filme foi um sucesso, ele ganhou dois prêmios pelo papel de pai, bem como Andrew ganhou um Tony pelo texto.   Mas os Oscar continuavam fechados para esse tipo de filme, mesmo que fosse sério.

Como sempre pensava os relacionamentos era complicados, James um dia lhe soltou em plena cara que necessitava de espaço, voltou para sua antiga casa, para procurar um sentido para sua vida, aos poucos foi se afastando, Andrew lhe perguntou se não ia fazer nada para prendê-lo?

Nem pensar, uma pessoa estar contigo só por isso não vale a pena.

Estiveram os dois escrevendo, cada um, uma história diferente.

Jack escreveu basicamente sua história, desde jovem até que veio para Los Angeles, mas como sempre, depois foi mudando a história, retirando as partes que não interessavam, mas não queria falar do que tinha feito com os abusadores.

Justamente um dia, leu uma noticia nos jornais online, que um jovem tinha feito justamente isso, tinha se vingado dos seus abusadores, um a um, não tinha deixado pedra sobre pedra. Sua pena seria reduzida, pelo agravante do abuso, quando se descobriu que o mesmo grupo tinha feito isso mais vezes.

Conseguiu uma entrevista com ele.  Quando chegou ao presidio, encontrou um jovem extremamente musculoso, este lhe contou sua história, era fraco, um bom estudante, os mesmos, já o maltratavam a saída da escola.

Uma noite o cercaram quando voltava de seu trabalho num supermercado, entre todos abusaram dele, o deixaram pensando que estava morto, graças a uma vizinha, chegou ao hospital, seus pais tinham mais idade.  Tiveram que o operar por causa dos desgarros anal.

Seus pais se mudaram para outra cidade, mas seu ódio era tão grande, que nesse outra cidade, começou a ir ao ginásios a se preparar para sua vingança.    O fez um a um, ninguém conseguia descobrir quem era.  Pois já não vivia lá.  Matou a todos, cortava os genitais, o deixava enfiado na boca.

Um deles era filho do xerife, esse obrigou o filho a ficar na delegacia o dia inteiro, quando ele confessou ao pai, porque sabia que seus amigos estavam sendo assassinados, ficou horrorizado, pois pensava que o filho tinha sido bem educado.

No dia que este saiu para ir para casa de noite, o filho levou um tiro na cabeça.  Foi quando conseguiu capturar o jovem.

Esse confessou tudo, acabei com o último, minha vingança está feita.

Os dois escreveram o roteiro do filme, ele foi várias vezes levar o roteiro para o jovem ler. Quando este aprovou, Jack resolveu ele mesmo produzir, dirigir pela primeira vez um filme.

O duro foi encontrar o elenco, mas conseguiu, ao mesmo tempo o papel principal, era difícil, pois na primeira parte era uma pessoa frágil.

O filme foi considerado como cru demais, passou nos festivais, depois nos cinemas de arte, nenhum distribuidor se atrevia a exibi-lo nos cinemas.

Entrou depois em streaming num canal de televisão que sim atrevia a mostra-lo.  Com tudo isso, foi candidato a um Oscar, pela direção do filme, nem foi a gala, não lhe interessava, mas no último momento resolveu ir, pois o jovem tinha sido assassinado na prisão.  Pela primeira vez deu uma entrevista falando nisso.   Os abusos, os pais que pensavam que os jovens estavam bem educados.  a falta de perspectiva da vida numa cidade do interior, aonde muitos pensam nisso, o poder das classes dominantes.

Acabou ganhando o Oscar, que dedicou ao seu irmão, sua mãe que tinha acreditado nele, depois falou o tempo restante justamente nisso, dos abusos.

Quando o jovem reclama, ninguém o tinha escutado, nem o próprio xerife.  Há que escutar os jovens.

Recebeu uma carta de uma jovem que tinha sofrido coisa igual, agradecendo, finalmente me escutaram.

Receberam um texto de um jovem, que não colocava o nome, tinha deixado o texto na caixa do correio deles.

Quando leram, era estarrecedor, um jovem que tinha sido vendido pelos pais, para terem dinheiro para drogas, a pédofilos, o alugavam, quando chegou a uma idade que podia se defender, matou os pais, fugiu para o outro lado do pais, contava os detalhes de cada abuso, inclusive, quando aprendeu a ler, escrever, falava dos nomes dos homens que tinham abusado dele.   Consultaram um advogado para isso.

Quando consultaram a lista, viram que todas essas pessoas tinham sido assassinadas misteriosamente.   Junto com o texto, tinha uma nota, se puderem faça o filme, não me arrependo de nada.

Escreveram mil vezes o roteiro em parceria, a verdade era muito crua, pois ele descrevia os detalhes.   Um dia saíram para caminhar, para irem conversando.  Quando voltaram para casa, sentado no sofá encontraram um jovem.  Por um acaso era muito bonito.

Vi os textos em cima da mesa, li pelos menos os dois últimos, qual o problema?

Não estamos conseguindo jovens para fazer o papel, pois tudo é muito cru.

Se querem eu mesmo faço esse papel, mas o problema era encontrar um que fosse criança.

Como explicar isso a um ator criança?

Mas estamos batalhando. Só lhe perguntaram se tinha sido ele que tinha matado todos os pédofilos?

Sim, um a um, pois a partir de certa idade, memorizava o local, o endereço dos mesmos, nome tudo, anotava num papel, colocava escondido numa caixa, perto do lugar aonde vivíamos.

Meus pais, cheguei a denuncia-los, mas ninguém me fez caso.

Por isso num dia que estavam extremamente drogados, os enforquei, já tinha força suficiente para isso, depois desapareci.

As notícias estiveram uma semana nos jornais, depois ficou tudo por isso mesmo.

Foi quando comecei a me vingar, sempre era a mesma coisa, ninguém fazia nada.

Por isso escrevi a história.

Se levantou, se despediu, sumiu o mapa, eles começaram a buscar as notícias, conforme a época que ele tinha descrito, era uma verdade, foram entrevistar a polícia a respeito, o caso seguia em aberto, mas os pais eram drogados, nunca encontramos indicio que tinham um filho.

Quanto aos pédofilos, nos fez um favor.   Os policiais não sabiam que estavam sendo gravados.

Só um disse que a maioria dos pedófilos tinha sido denunciados, mas que sempre eram gente de dinheiro, que tinham advogados, que sempre conseguiam escapar.

Com o dinheiro que tinham começaram a preparar a produção.   Receberam um bilhete, indicando um jovem ator, quando falaram com este, disse que ele tinha passado pelo mesmo, que acabava de se livrar dos pais, que viviam as custas dele, desde jovem, explorando seu trabalho.  Queria fazer o filme.   Já tinha passado pelo escândalo, de ter que conseguir com 16 aos sua independência, ele mesmo tinha sido abusados várias vezes.

O problema continuava sendo a criança.  Nenhum juiz ia permitir um menor para fazer o papel, foi então que conheceram um desenhista, resolveram misturar ficção com a realidade, o ator falando dos primeiros abusos, imediatamente a cena passava a ser em desenho animado, mas totalmente cru, era como um choque entre a realidade, como imaginava a pessoa do abusos.

Foi um trabalho que era uma catarse.   Foi tremendo, meses de filmagem, em absoluto segredo.

Quando estreou no festival de Sundance, foi um impacto, porque os desenhos quando tomavam conta da tela, era impressionante sua crueza.

Rodou todos os festivais. Numa entrevista um jornalista perguntou por que se dedicava a fazer esse tipo de filme, porque nunca havia romance nos seus filmes.   Os outros jornalista começaram a rir do mesmo.

Não preciso responder verdade, se estão rindo da tua ingenuidade, é sinal de que não estás preparado para fazer perguntas.

Tinha acabado de lançar em circuito comercial o filme, foi um sucesso, mas talvez por ser tão cru, só o ator jovem foi indicado a concorrer, este deu uma entrevista, pedindo que seu trabalho não fosse premiado, pois se tornaria numa coisa banal.

Ganhou um prêmio, mas se negou a recebe-lo.

Ele com seu irmão, seguiram trabalhando, fazendo filmes que denunciavam alguma coisa. Não só a nível de sexo, mas de qualquer tipo de história que chegasse ao conhecimento deles.

Já tinham sua idade, quando leram nos jornais, a história de uma mulher policial, que durante anos tinha se drogado, feito misérias da sua vida pessoal, por não conseguir enfrentar o dia a dia de tanta miséria.

A entrevistaram numa clínica, esta contou como tinha começado, tinha sido ao trabalhar de infiltrada numa gang.  Que a policia depois simples mente bateram no seu ombro, ganhou uma medalha, ficou tudo por isso mesmo.

Mas era excelente no seu trabalho, cabeça dura, ia até resolver o caso.  Tinha visto tantos horrores que precisava de uma ajuda.

Conseguiram uma atriz que estava batalhando um papel interessante, depois de fazer mil vezes papeis românticos.  A transformação da mesma para fazer o papel foi impressionante.  Fez um sucesso absoluto no cinema, mas os críticos não gostavam do seu novo estilo de representar, tão cru.    Mas claro lhe choveram ofertas de trabalhos diferentes, agradeceu aos dois a oportunidade.

Seguiram suas vidas adiante, Jackson nunca mais manteve romances com ninguém, dizia que não se sentia bem, que a realidade sempre era outra.

Andrew depois que perdeu o Marc, para um câncer, que os dois tinham ajudado o outro até o final.  Sentia o mesmo, nunca mais estaria preparado para outro relacionamento.

Escreviam todos os dias, mas lhes faltava uma ponto de partida forte.

Algumas vezes entrevistaram alguém, motivo de alguma reportagem, mas essas pessoas não queriam ver suas vidas retratadas na tela.

Poderiam sim escrever uma história paralela, mas não era o que queriam.  Queriam retratar a realidade.

Foram se afastando disso tudo, Andrew escreveu um livro, contando desde sua infância, ao encontro com o irmão, foi um sucesso.  Depois outros dois.

Jackson, nunca esteve interessado em escrever livros.  Com quase 70 anos, disse que já tinha tido o suficiente.    Quando lhe perguntavam alguma coisa, dizia que estava fora de circuito.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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