BORIS
Boris era o nome
que o velho Nicolau tinha dado para ele, pois quando nasceu era loiro de olhos
azuis, muito branco. Tinha nascido no
ferro-velho do velho, perto da estrada de Seropédica, perto da estrada de Rio a
São Paulo.
Sua mãe, era
conhecida como à Loira, uma garota de idade indefinida, podia ter entre 16 e 18
anos, apareceu um dia por ali, ninguém sabe saída de onde, dormia nos carros
abandonados do ferro velho. A velha
Maria foi quem a descobriu, para ganhar dinheiro, uns trocados, se prostituia
num posto de gasolina que paravam caminhões para um café.
Foi ficando, o
velho lhe gostava que fizesse uma mamada, a velha deixava pois assim não tinha
trabalho, podia cuidar da contabilidade.
Quando alguém comentava, dizia, eu prefiro olhar papeis que olhar esse
piru velho, murcho que já não serve para nada.
A velha a deixava
tomar banho no banheiro que tinham ali, de vez em quando fazia uma ronda por
lugares, aonde sabiam que davam roupas velhas, as que encontrava, que pareciam
roupas de puta, levava para a garota.
Um dia chegou
vomitando muito, passou dias mal, vomitando sem parar, a velha com seu olho
clínico disse que estava gravida, te disse para pedir que usem camisinha, mas
não me escutas. Até que a garota não ficou com uma barriga imensa, não parou de
passar a noite na estrada, atendendo os homens a troco de alguns trocados, nem
sabia seu nome. A velha achava que tinha
escapado de algum orfanato, de Campo Grande, ou de Santa Cruz. Mas eles não se metiam em problemas, porque
de noite o velho que tinha insônia vendia drogas aos que apareciam por ali,
isso seria chamar a atenção da polícia, não interessava.
Vivam do justo,
comida a menor quantidade, quando serviam os pratos, o mais cheio era do velho
Nicolau, ela lhe dizia assim,” filho da puta, tá aqui teu prato”. Nem sabia quantos anos estava junto com ele.
Tinha chegado
como a Loira, só que ela sabia contas, ler, escrever, foi ficando, na época,
por uma foto dos dois se viam que eram duas pessoas interessantes.
Quando a Loira
pariu, dentro de um carro, ela correu para ajudar, pois tinha manha, quando
chegou perto a mesma já tinha parido, riu dizendo não custou nada. Saiu um bebê, pequeno, com muito cabelos,
loiro, cacheados, rindo, não chorava.
A velha se
encantou, dizia que ele parecia um bibelô, desses de anjo barrocos, se ela
tivesse peito o daria para ele, a Loira não tinha leite, mas a velha cuidou
dele.
O velho Nicolau
reclamou que era mais um para comer.
Ela soltou, para
de reclamar, se não comesse tanto, não terias essa barriga imensa de não fazer
porra nenhuma.
Na verdade, ali
viviam os dois, a Loira, o rapaz que manuseava a Máquina imensa que comprimia
os carros, para fazer um cubo, para venderem para as indústrias, atrás do
armazém, tinham uma quantidade imensa, de vez em quando aparecia um caminhão
que levava tudo.
O rapaz, não
vivia lá, vivia num barraco, depois do posto de gasolina com sua família, tava
sempre reclamando que ganhava pouco.
O velho Nicolau
era um muquirana de fazer gosto, quando o que lhe subministrava as drogas, já
tinha retirado sua parte, que escondia ninguém sabia aonde.
A velha cuidava
dele, tinha conseguido um carrinho desses de bebê, aonde ia buscar roupas, não
disse para quem era. A loira mal se
recuperou, voltou para seu trabalho.
Um dia meses
depois desapareceu, um dia a polícia apareceu por lá, perguntando se morava
ali, disseram que não, por quê?
Porque algum
tarado a matou, deve ter usado e abusado dela, a deixou jogada na beira da
estrada, quando a encontraram, já tinha dois urubus comendo a coitada.
Nenhum dos dois
fez nenhum comentário.
Mal começou a
andar, já estava trabalhando, trás isso para cá, leva isso para lá, com dez
anos, já tinha um corpo forte, não sabia nem ler, nem escrever. Tinha uns cabelos imensos loiros, cacheados, um
corpo forte, mas era a inocência personificada. O velho o ensinou a usar a máquina, para
mandar o empregado embora.
Mas ele
continuava sendo protegido pela velha, por duas vezes apareceram clientes,
quando viam aquele garoto com o corpo todo modelado como se fosse a uma
academia, perguntavam ao velho, quanto queria por ele, mas ele estava esperando
o mesmo crescer mais um pouco, para usar ele primeiro.
A velha Maria,
percebia tudo, um dia viu que o velho, passava a mão pelo corpo do garoto,
apertava sua bunda, cada vez que ele passava.
Fazia uma cara de velho safado.
Quando reclamou
com ele, soltou que ela estava velha, com tudo caído, que nem uma punheta sabia
bater direito. Começara os dois a
discutir, ali perto aonde se colocava os carros para compactar. Ele ficou furioso, lhe deu um empurrão, ela
caiu em cima do carro, um dos vidros já estava partido, lhe atravessou o
corpo. Deve ter morrido, em seguida.
O velho com
dificuldade, subiu até a parte de cima da máquina, a prensou junto com o mesmo,
ele viu tudo, ficou horrorizado, seu único pensamento foi, já não tenho quem
cuide de mim.
Para escapar do
velho, pois sabia que não o podia pegar, subia para dormir nas pilhas de carros
que estavam por ali, mas nunca no mesmo.
O velho nunca o achava. Para
comer, ia de noite atrás do posto de gasolina, comia resto de comida, do
restaurante, tudo lhe parecia uma maravilha, em comparação com a comida que a
velha fazia.
Pela primeira vez
comeu carne, apesar que já estava mastigada, ele gostou, comia com a mão,
arrumava um saco de plástico, se escondia, comia o que podia, até o estomago
estufar.
Mas durante o
dia, trabalhava, andava com um pé de cabra, agora sabia o que o velho queria,
quando ele aparecia, o ameaçava, faço meu trabalho, mas não se aproxime.
Com o tempo
passou a dormir lá em cima, pois sabia que o velho já não conseguia subir as
escadas, tinha tentado várias vezes, mas estava gordo demais, além de velho.
Um dia tinha
acabado de colocar um carro na prensa quando o velho o chamou, dizia que tinha
caído que o necessitava para se levantar.
Quando chegou
perto, o mesmo o agarrou, abaixou suas calças, a primeira coisa que fez, foi
enfiar seus dedos gordos no seu cu.
Gritou de dor.
Mas o velho só
queria passar a mão pelo seu corpo, na verdade o pau, já não funcionava, andava
usando as drogas que vendia para ver se acontecia alguma coisa, mas só piorava.
Ele conseguiu
escapar, queria ir embora dali, mas não sabia para aonde.
Um dia estava no
alto da máquina, viu que o velho negociava, com um homem, ria alto dizendo, que
este conseguia pega-lo podia levar.
Ele escapou, só
voltando de noite, sabia que o velho ia vende-lo, a velha Maria tinha lhe
explicado que o que iria acontecer se isso passasse.
Viu que o velho
nesse dia não tinha droga para vender, o chamou para fora.
Nicolau, saiu
agressivo, me fizeste perder um bom dinheiro, ia me aposentar em seguida com
isso. Estava justamente com a caixa de
metal que guardava dinheiro, saiu atrás dele, mas se escondeu. Quando ele
estava justo ao lado do poço aonde se colocava os carros para prensar, saiu
correndo lhe deu com o pé de cabra na cabeça umas quantas vezes, fez o que o
velho tinha feito com a velha Maria.
O jogou em cima
do carro, o prensou com o mesmo, com o imã, recolheu o cubo, o levou justo
aonde estava o da velha, mas levou cada um para junto dos outros, assim quando
viessem buscar, levariam os dois para muito longe.
Um negro alto,
que sempre aparecia nos seus sonhos, lhe disse, pegue o dinheiro, coloque num
saco com tua roupa, pé na tábua.
Saiu andando pela
estrada depois disso, não sabia ler as placas, sabia que tinha dois sentidos,
cada um ia para uma das cidades ali perto.
Passou um carro,
ele fez sinal, o carro parou, o homem que estava dentro lhe perguntou para
aonde ia, ele só fez sinal que ia para a cidade mais perto.
Mal o homem olhou
para ele, pensou, que puta preciosidade, passou a mão pela sua perna, apertou
seus peitos, o negro que estava sentado atrás, quando viu a proximidade de umas
mata, lhe disse solte o cinto de segurança, abra a porta, aperte contra ti o
saco, se jogue fora.
O homem, foi
olhar porque o mesmo olhava para trás, levou um puta susto, ali estava um negro
imenso, que abriu a boca, com uns dentes que não paravam de crescer, com isso
diminuiu a velocidade, ele abriu a porta se jogou. Mas teve azar, ao cair bateu
a cabeça numa pedra, ficou ali atontado.
O homem estava
cada vez mais assustado, pois o negro estava falando dentro da sua cabeça,
arrancou o carro com tudo.
Ainda viu o negro
gritando coisas que ele não entendia, mas cada vez que olhava o espelho
retrovisor, o negro estava ali, as gargalhadas.
Uns quilômetros
mais a frente, estava tão nervoso que não viu um caminhão imenso desses que
nunca param, pois pensam que são os donos da estrada, jogou seu carro do outro
lado da via, no sentido contrário, vinha outro, que acabou de fuder tudo. Não sobrou nada para contar história.
Ele estava tonto,
o negro disse, Boris, agora tens que ser forte, o ajudou a caminhar, mas estava
perdendo muito sangue pela cabeça. Foi seguindo com o negro, um caminho de
terra batida, que ia subindo, estava tonto, vomitou uma duas vezes, mas água
pura, não tinha nada no estomago para vomitar.
Se sentou ali,
colocou o saco no meio das pernas, apoiou a cabeça no joelho, dormiu, tinha
sido muito para ele. O negro ficou ali
de guarda.
Uns quantos
quilômetros mais abaixo Nestor de Oliveira, um delegado boa gente, como não era
desonesto, foi sendo transferido de delegacia em delegacia, ou melhor sendo
degradado, estava agora num posto policial ali na estrada, não acontecia muita
coisa por ali, a não ser algum acidente, como o do carro que tinha ficado
embaixo de um caminhão, o outro tinha seguido seu caminho, não ia perder tempo.
O motorista,
disse que um caminhão tinha atirado o carro do outro lado, mas que não tinha
visto se era de uma empresa, tinha ficado nervoso, pois era um desses caminhões
com ar refrigerado, ia levando carne para um supermercado do Rio de
Janeiro. Nesse momento chamava a
empresa que mandasse outro, para pegar o reboque, senão a carne ia se estragar.
Se fosse de dia,
ia aparecer gente para abrir o caminhão, roubar o que estava dentro.
Viu que não tinha
nada que fazer, ficaram vários policiais ali.
Teve uma sensação
rara, pensou comigo, vou conversar um pouco com meu velho pai de santo, ele
frequentava um terreiro de candomblé, de um senhor entrado nos anos, que vivia
numa estrada estreita, tinha o terreiro mais em cima.
Quando conheceu
Pai Ambrósio, ou Pai Brosio, como lhe chamava o pessoal, esse contou por que
tinha o terreiro ali. Disse que antes
tinha um em Santa Cruz, mas estava farto de dar consultas daqueles que vinham
para pedir uma matança contra alguém, ou queria saber o número da loteria, ou
então segurar um marido que estava com alguma serigaita, estava farto disso,
assim os filhos que realmente queriam fazer alguma coisa, ou se realmente a
pessoa tinha algum problema, para vir de longe, conseguir subir até aonde
estava o terreiro, tudo bem.
Ficaram amigos,
tinha longos bate papos.
Tinha feito
muitas obrigações ali, o Pai Brosio, lhe perguntava por que seguia na polícia,
se estava farto disso.
Tenho que pagar a
pensão do meu filho, o ano que vem termina a faculdade, estarei livre.
Mas se teu filho,
sequer fala contigo, cada vez que tentas se aproximar dele, te chama de filho
da puta, essas coisas todas.
Porque sua mãe o
tenha colocado contra mim, não significa que vou sacanear a vida dele, um dia
quem sabe, ele entenderá tudo.
Nem sabia por que
viviam juntos, se sentia sozinho na época, trabalhava numa delegacia no posto
11 em Copacabana, a conheceu ali, trabalhando de garçonete numa lanchonete,
começara a se falar. Nos dias de folga
ele ia busca-la para ir a um cinema, ou bater um papo em algum bar. Um dia acabaram na cama, mas não gostou
muito, ela era agressiva, ele queria outra coisa. Ainda soltou para ele, caramba, você é
difícil, para dar uma foda precisava de tudo isso, dois meses depois disse que
estava gravida. Ele a ajudou com tudo,
mas não queria se casar, pois a achava agressiva. Mas registrou o garoto com seu nome, Nestor
Oliveira. Pagava mensalmente uma pensão
que um juiz lhe disse para o garoto, mas fazia questão dele mesmo pagar um
colégio para o mesmo, porque sabia que ela ia se encostar na história, fez isso
duas vezes, mas ele descobriu. Então seu
filho, passou a comer na escola, ele mesmo ia com o garoto comprar roupas,
essas coisas, mas ela sempre falava mal dele para todo mundo.
Filho da puta era
o de menos, começava por esse palavrão, ia desfiando muitos, como um rosário,
até que arrumou um trouxa que casou com ela.
Ele queria adotar o garoto, mas ele nunca concordou. Um dia ela soltou na cara dele, que nem
sabia se ele era realmente seu filho.
Um dia fez um
teste de ADN, comprovou que o garoto era filho dele.
Pediu a guarda
mil vezes, mas não conseguia por causa do seu trabalho.
Agora ele estava
na universidade, mas cada vez que o pai chamava, nem dizia bom dia ou boa
noite, simplesmente perguntava o que ele queria.
Nestor nesse
ponto era franco, só saber como andam as coisas contigo, como estás.
Normalmente
levava pela cara um, a ti que importa.
Ia pensando nisso
tudo, quando entrou na estrada que levava ao terreiro do Pai Brosio, viu um
negro fazendo sinal para parar. Parou
perto dele, quando viu um rapaz, agarrado a uma bolsa, com sangue saindo da
cabeça.
Nestor, esse será
teu filho de verdade, o leve para Pai Brosio, que ele saberá que fazer, o que o
assustava, era que estava falando na sua cabeça. Pegou o rapaz, o colocou na parte traseira do
carro, seguiu subindo, o negro tinha desaparecido.
Quando chegou no
terreiro, deu as buzinadas, como fazia sempre, para dizer que era ele, pois o
Pai Brosio de vez em quando tinha a visita de algum drogado que errava o caminho. Foi assim que tinham se conhecido, um drogado
que chegou quase morto lá em cima, o Pai Brosio chamou a delegacia, ensinou
como ir até lá.
Quando ele abriu
a porta, pediu ajuda.
Retiraram Boris
do carro, o levaram para a parte que Pai Brosio vivia, o encontrei na estrada
subindo para cá, um negro, semi nu, me fez parar.
Nestor meu filho,
nunca vais aprender, um Exu, esse garoto, tem um Exu fortíssimo, estou
sentindo, o deitaram numa cama, que ele sempre tinha a mais, limparam a ferida,
pai Brosio tinha sido enfermeiro, costurou sua cabeça da pancada, os dois o
limparam puseram as calças de um pijama velho, o deitaram mas ele não soltava o
saco. O cobriram.
Mas o que vieste
fazer aqui, nisso Pai Brosio, começou a falar em yoruba com o exu do garoto, eu
trouxe meu menino para cá, pois ele precisa de proteção, hoje o quiseram vender
para um pédofilo, ele escapou, mas ia caindo nas garras de outro. Diga ao Nestor, que o outro do carro era um
pédofilo, que tirem impressões digitais do que sobrou, verá que era procurado.
O garoto saltou
do carro, bateu a cabeça, o ajudei a subir o caminho para tua casa, pois sei
que vais o ajudar.
Sim meu pai, vou
ajudar, mas me conte, de uma maneira muito sutil, o Exu, colocou na sua cabeça
tudo que podia.
Nestor só o viu balançando
a cabeça, dizendo sim várias vezes, pode deixar eu cuido.
Estava aqui
falando com o Exu do garoto, me contou por tudo que ele vinha passando.
Estavam os dois
sentados um de cada lado da cama, Pai Brosio, soltou, parece um santo assim dormindo. Mas já sofreu muito.
Ficou ali
rezando, viu que Nestor, dormia ali sentado, colocou uma manta nas suas pernas,
sempre era assim, vinha conversar com ele, acabava dormindo ali sentado.
Havia uma ligação
forte dele de outras vidas com o garoto.
Sabia que o Exu
dos dois era o mesmo, apenas Nestor não tinha a capacidade de ver os Orixás.
Ele dormia,
pouco, quando eles tinham chegado, estava terminando de colocar água nas
quartinhas dos santos, sempre tinha algum de seus filhos de santo que
esqueciam. Mas ele sempre verificava,
não gostava que os Orixás ficassem desatendidos.
Dormia pouco essa
era a verdade, deu uma duas cabeçadas, quando o garoto começou a se mover,
abriu os olhos, ele colocou a mão nos seus ombros, disse, descanse, estás entre
amigos, viu que o Exu estava do outro lado, que o garoto podia vê-lo, pois
olhou para ele, para ver se concordava.
Ele voltou a
dormir agarrado a bolsa, o cobriu outra vez, nunca tinha sido pai, mas sentia
por esse menino, este instinto.
Coitado, essa
primeira fase de sua vida, foi dura, mas sei que ajudado, o que vem pela frente
será duro, mas terá em quem se apoiar.
Nestor despertou
com o cheiro de café, Brosio disse que o menino, estava no banheiro, tinha ido
cagar no mato, pois devia fazer isso sempre.
Mas quando
voltou, se via que bolsa estava menor.
Tinha se lavado a
cara, era de uma beleza impressionante.
Nestor ainda pensou, esse vai arrasar muitos corações.
Ele olhou para o
Nestor, disse, vou não senhor, isso não se faz, arrasar corações.
Nestor levou um
susto. Mas viu que o garoto estava com
os olhos fechados, quem falava pela sua boca era outro.
Meu pai, deixa o
garoto tomar um café como deve, depois teremos tempo de com jeito ir arrumando
a situação.
Caramba, sabe
quem era esse?
Menor ideia
soltou o Nestor, que tinha ficado assustado.
Oxumaré, quando
despertei, andei jogando para ver quem eram seus protetores, pois passou muita
merda, mas se não fosse os Orixás teria sido pior.
Ele tem uma
conjunção forte, de cabeça tem Oxumaré, bem como seu protetor Exu Akesan, do
outro lado tem Nanã, Orumila, pois será um grande do Ifá, segurando o final
Xangó, com Exu Bara, para fechar.
Ele já está quase
pronto, verdade meu pai Oxumaré?
Sim, mas precisa
de outras coisas antes, vem comendo lixo, pode ter lombrigas, outras merdas, o
coitado vem se defendendo de tudo, de todos.
Virou-se para
Nestor, vou te contar na tua cabeça tudo, porque sei que não farás nada que
possa complicar mais a vida dele.
Mostrou na cabeça
do Nestor de aonde tinha vindo, viu o velho vendendo drogas, usando também, o
ferro velho, os dois cubos, um com a mulher dentro, outra com o velho
dentro. Ela o defendia, por isso o homem
a matou, para poder vender o menino para algum pédofilo, quando tentou o garoto
entendeu que tinha que escapar, por isso se defendeu.
A cara do Nestor,
era impressionante, quando tiver alguma coisa meu pai, pode falar na minha
cabeça, prometo não me assustar.
A cabeça do
Boris, foi abaixando, até encostar na mesa, deu um suspiro, viu na frente dele,
pão, o café, tomou com ânsia, espere disse o Nestor, sabia que atrás tinha um
galinheiro, foi até lá trouxe ovos, fez para eles todos tomarem com pão.
A fome do Boris
era imensa, comia com ganas. Pai Brosio,
colocou a mão no seu braço, disse, tranquilamente, meu filho, podes ficar
tranquilo, coma devagar, senão vais passar mal.
Quando acabou de
comer, ele se enroscou na mesa, começando a dormir outra vez, entre os dois o
levaram para cama, ele sorria.
O deixaram
dormindo.
Nestor colocou a
bolsa nos pés da cama, seu instinto dizia que não devia abrir.
Avisou a
delegacia, que hoje não ia trabalhar, que iria ao médico.
Pai o senhor
podia me preparar um banho daqueles que gosto tanto, com as ervas da floresta,
assim posso ir cuidar dos meus santos.
Claro meu filho,
tome um banho primeiro, depois te levo o banho que vou preparar.
Quando Boris, despertou,
saiu da casa, viu que os dois estavam prostado em frente a uma árvore imensa,
cheia de gente olhando. Os da árvore
falavam com ele, seja bem-vindo Boris, riu como sabiam seu nome.
Estavam ali
colocando algumas coisas, ele sem querer soltou, estão dizendo que depois isso
fica cheio de moscas, que não gostam disso, que deveriam simplesmente colocar
quartinhas com água, nada mais. Assim alimentam a árvore também.
Quem disse isso,
falou Pai Brosio se levantando?
Essa gente toda
que está aí, diz que seus filhos depois não retiram o que colocam, que o senhor
não tem mais idade, para ficar fazendo o serviço dos preguiçosos, que coloquem
só uma quartinha pequena, mas que rezem realmente, pois algum colocam isso,
ficam pensando no que pedir.
Ele se matava de
rir, eu também penso assim.
O homem negro,
está dizendo que ao mesmo tempo é meu protetor, como do Nestor, que menos mal
que tenho outro exu, para me cuidar.
Como sabes de
tudo isso?
Bom pelas noites,
como o velho queria ficar passando a mão em mim, me escapulia, ia dormir no
alto de alguma pilha de carro, ele, apontou para o Exu que estava ali, ficava
conversando comigo. Me protegia, pois
vinha muita gente comprar drogas, não queria que me vissem, pois poderiam
querer abusar de mim. Bastou a vez que
o velho, conseguiu me enganar, dizendo que estava passando mal, me agarrou,
enfiou aquele dedo enorme, sujo de graxa no meu cu.
Filho da puta,
menos mal que a velha Maria, foi me avisando disso, me dizia que eu era bonito,
por isso a gente ia querer se aproveitar de mim, mas que eu nunca
permitisse. Quando ele quis me vender da
primeira vez, brigou com ele, ele a atirou na prensa de carros, a deixando
presa no cubo, repetiu, filho da puta.
Eu vi tudo, mas ele me dizia fica em silencio, assim não te
descobre. Mas eu fiz o mesmo com ele.
Nestor nesse
momento pensava, não posso mandar prender esse garoto, pois ele seria pasto de
todos os homens aonde fosse.
Ele nesse momento
fez uma coisa, foi até a parte da mata, trouxe folhas grandes, fez como uma
vassoura, começou a retirar as comidas que estava ali, cheias de moscas, ia
limpando a parte de aonde tirava, levava tudo para um cubo de lixo grande que
estava encostado na casa. Depois levava o alguidar para um tanque desse antigos
de lavar roupa, ia lavando cada um, colocando de boca para baixo. Quando acabou, foi outra vez, buscar mais
folhas, foi limpando toda a sujeira que estava ali em volta da árvore.
Sorriu quando
acabou, assim eles não vão mais reclamar, verdade pai Ambrósio?
Como sabes meu
nome?
Ele me disse.
Olhou para o Iroco,
lá estava seu pai de cabeça, rindo, com os braços cruzados, precisas de mais de
filhos de santo como esse garoto.
Converse agora
com o Nestor, como ele pode fazer.
Nisso o celular
do Nestor começou a tocar, ele atendeu, na delegacia tinha recebido uma chamada
anônima, que o caminhão que ia buscar os cubos tinha encontrado, um com uma
pessoa em decomposição, no outro o velho.
Vou para lá, não se preocupem.
O Pai Ambrósio,
disse, o exu vai te acompanhar, preste atenção no que ele vai fazer, borre a presença
do garoto de lá. Assim não haverá
problemas, diga que como ele vendia drogas, que deve ter sido um ajuste de
contas.
Na verdade o
homem do caminhão nunca tinha visto ninguém por lá a não ser a velha, quando
ele era pequeno, era outro que vinha. Do
posto de gasolina, diziam que muitos carros durante a noite faziam manobra ali,
para irem ao ferro velho comprar drogas, era gente de Campo Grande, Santa Cruz,
Seropédica, dessa região toda.
Antes tinha a
Loira que dormia lá, mas a mataram, mas isso vocês já sabem.
Entendeu que a
Loira era a mãe do Boris.
Voltou só de
noite, Boris, estava todo vestido de branco, pai Ambrósio tinha arrumando
alguma roupa que algum filho de santo tinha deixado para trás para ele.
Achou estranho,
pois estava ensinando o alfabeto para ele.
Fez um sinal, para ficar quieto, espere vamos preparar algo para comer.
No almoço depois
ao lado do Nestor, tive que o controlar outra vez, pois tem uma fome
impressionante. Disse que depois que a
velha morreu, ele ia buscar comida na lixeira do posto de gasolina, que nunca
tinha comido carne, que algumas estavam mastigadas, mas que ele não se
importava, pois estavam bem. O posto
de gasolina tinha um pequeno restaurante, mas disse que ninguém o via, pois ia
bem tarde, algumas coisas guardava para comer de manhã, que o exu ficava
vigiando para ele fazer isso.
Nestor de
imaginar estava chorando.
Ele não sabe ler,
nem escrever, nunca lhe ensinaram, sabe sim os números porque a velha lhe
ensinou. Mas tem uma facilidade para
aprender incrível.
Veja, olharam
para a mesa, ele estava escrevendo várias vezes o alfabeto, segurando com
dificuldade um lápis que estava por ali.
Nestor perguntou
a ele, se sabia quem era a Loira?
Não me lembro
dela, mas a velha sempre falava nela, que era minha mãe, que a tinham matado, o
velho dizia que era uma puta. Por isso
não sabiam quem era meu pai.
Não sei se isso
tem importância, a velha dizia que isso não importava, pois se fosse outra
tinha me colocado fora do seu corpo rapidamente.
Na sua maneira de
entender, isso não importava.
Como vamos fazer
Nestor?
Estavam os dois
sentados na varanda atrás da casa que dava para a floresta.
Nada, ficar
quietos, vou conseguir documentos para ele, lhe darei o meu sobrenome, assim
quando o pessoal aparecer, dizemos que é meu filho. Ninguém sabe da minha vida mesmo.
Olha o que ele
está fazendo, nunca está parado, estava com uma vassoura de piaçava varrendo
todo o terreiro.
O chamaram, lhe
perguntaram se tinha documento de identidade?
O que é isso?
Nestor mostrou o
seu, vê aqui tem meu nome, o Oliveira é meu sobrenome.
Tenho nada disso
não, é importante?
Sim meu filho,
falava aqui com Pai Ambrósio, que vou fazer para ti, serás como meu filho,
ficarás com meu sobrenome.
Ele ficou olhando
para o Nestor, depois levantou os olhos, ele estava falando com Exu, ele disse
que posso confiar no senhor, que será como o pai que nunca tive.
Isso meu filho.
Ele estava
chorando, Nestor foi até ele o abraço, nada disso, sei que não vais me
decepcionar.
Dias depois
apareceu com os documentos.
Agora quando a
todo mundo que aparecer aqui, dirás que é meu filho ok.
Sim senhor.
Dois sábados
depois, os filhos de santo subiram deram com aquele garoto loiro, ficaram
impressionados, quando perguntavam quem era, ele respondia que era filho do
Nestor.
Ninguém se
atrevia a menor brincadeira pois sabiam que Nestor era delegado ali na região.
O que estranharam
foi de ver o terreiro super limpo, nenhuma oferenda embaixo do Iroco.
Alias ali estava
super limpo.
Um dos filhos de
santo disse ao Pai Ambrósio que queria fazer uma oferenda ao seu santo, queria
fazer uma comida.
Ele aproveitou
para dizer que os Orixás tinha reclamado que se colocava as oferendas, mas que
depois ninguém tirava, que ficavam cheio de porcarias em volta da árvore, agora
tocava, a quem colocasse, voltar três dias depois para retirar, ou simplesmente
colocar ali uma quartinha com água, rezando pelo seu santo, mas uma coisa
importante, nada de ficar pedindo besteira, tipo, me arruma uma namorada, ou
quero ganhar na loteria.
Sabem que não suporto
isso. Por isso vim para longe.
Já conhecem o
Boris, filho do Nestor, ele ficará um tempo aqui comigo, estamos preparando seu
bori, ele ficaram um tempo como uma espécie de Yao, para me ajudar, mas quando
acabem as férias terá que ir à escola.
Em um mês ele já
conseguia ler os jornais, Pai Ambrósio, tinha arrumado num dos quartos vazios
da casa um quarto para ele, Nestor tinha comprado cama, roupa de cama, roupas
normais, um tênis para ele.
Quando viu tudo
isso, deu um sorriso imenso, nunca tive nada disso, abraçou o Nestor, obrigado
pai.
A parte Nestor
contou que tudo no ferro velho tinha dado uma rebordosa desgraçada, pois o
velho era procurado a muito tempo pela polícia, bem como sua companheira,
faziam muitos trapicheiros, além de vender drogas pelas noites, já conseguiram
descobrir para quem ele vendia.
Nestor perguntou
se ele queria ir viver na sua casa, assim poderia ir à escola.
Mas já estou
aprendendo tudo com Pai Ambrósio, aqui eu estou bem, mas o senhor como meu pai,
deve saber o que é melhor para mim.
Vou arrumar uma
professora, para te ensinar, tem uma que me deve uma série de favores.
Ah aquela que o
marido tentou matar?
Essa, mas nunca
deve dizer as pessoas os que vês, pergunte para Pai Ambrósio, podes assustar as
pessoas, pergunte ao Akesan, ele te dirá quando falar alguma coisa, não soltes
por aí, tudo o que vejas ok.
O que o senhor
mandar.
Vou arrumar um
quarto na minha casa para ti, depois sempre dirás que é meu filho. Viremos aqui sempre que querias.
Fico com pena do
Pai Ambrósio ficar sozinho.
Eu também vou
sentir tua falta, mas poderás vir sempre que queira.
Temos que
encontrar uma maneira meu filho de tirar esse velho de vez em quando daqui.
No domingo como
estou livre, vamos todos comer em Barra de Guaratiba, mas primeiro vamos a
praia. O que achas.
Sempre tudo
estava bem para ele.
A professora
falou com Nestor, esse menino é uma esponja, já consegui situa-lo como que num
curso mais adiantado, é bom em matemática, gosta de ler, aliás tem ânsia disso,
lhe dei dois livros para ler, depois veio conversar comigo a respeito, lhe dei
um romance, disse que não gostou muito, pois não representa a vida real.
Gosta mais dos que
falam de coisas sérias. Acho que para
daqui alguém tempo podemos apresentar para ver se o colocamos na escola.
Ele confessou
tempos depois que já tinha lido todos os livros da casa do Nestor, como podia
conseguir mais. Fez um cartão para
ele, na biblioteca, assim podia levar para casa. Mas lhe disse, não escreva no livro ok. Lhe comprou uma cadernetas, escreva aqui as
perguntas que me queira fazer.
Dois anos depois,
ele se aborrecia na escola, pois diziam que os outros estava sempre de
brincadeira, que não aprendiam nada.
Ninguém se atrevia provocar briga com ele, pois ele tinha um corpo
forte, além de que agora estava realmente crescendo. O levava ao médico regularmente, tinha tomado
um remédio para vermes que lhe preparou Pai Ambrósio, que agora descia mais
vezes, para irem à praia, ou comer num restaurante.
Lhe ensinou como
entrar no mar, lhe falava dos orixás do mar, ele escutava com respeito.
Um dia seu filho
ligou, ele não estava em casa, quando perguntou quem era que atendia, ele disse
que Boris, filho do Nestor, mas falou isso, porque sabia o que ia acontecer.
No dia seguinte o
filho apareceu, furioso, ele tinha outro filho, como era isso.
Nestor lhe
explicou que o tinha adotado, seu filho olhava desconfiado.
Mas ao conversar
com Boris, ficava observando tudo, mas esse falava com calma com ele, que
Nestor era uma pessoa fantástica, perguntou gostas de ler.
Ficaram
conversando sobre livros, quando viu já era tarde, Nestor estava feliz, pois
seu filho nunca ficava mais que uma hora com ele, tinha passado o tempo todo
ali, Boris o incluía na conversa sobre livros.
Amanhã vamos a
praia, com o Pai Ambrósio, vens conosco.
Nas não trouxe
roupa de praia.
Eu te empresto
meu filho, soltou o Nestor, estava feliz do filho estar ali.
Depois saíram
para jantar numa pizzaria, deixou os dois discutirem o que queriam comer, voltaram
a falar de livros, do curso que ele tinha acabado de fazer na faculdade.
O pior Boris,
agora é descobrir que escolhi uma merda, só posso ser funcionário público, não
serve para muita coisa, meu pai me disse para não fazer, mas para contrariar o
fiz, agora tô fudido.
Sempre se pode
dar uma volta nisso tudo, verdade Nestor.
Ficaram
conversando o que realmente gostava o Antônio, esse se soltou, venho fazendo
cursos de desenho de informática, adoro isso, minha mãe, fica me enchendo o
saco, aonde quero chegar com isso, porque ela acha que devo fazer algum
concurso para ser funcionário público.
Seu marido é,
está louco para se aposentar, porque não aguenta mais, diz que eu não faça essa
besteira, ela odeia ser contrariada, o manda calar a boca, que o filho não é
dele.
Mas para fazer o
que quero, teria que sair de casa. Ir
para aonde, não tenho dinheiro, devia ter guardado uma parte do que meu pai me
dava, ela me botou na cabeça que devia gastar tudo, para ele aprender.
Hoje penso,
aprender o que, se ele sempre fez de boa vontade, num movimento, colocou a sua
mão sobre a do Nestor, obrigado pai.
Sei que aonde
vivo é longe, mas podes vir ficar aqui se quiser, temos mais um quarto, podes
montar teus computadores lá, assim ensina ao Boris.
Ficaram rindo.
Dois meses depois
ele já estava instalado lá, inclusive ia ao terreiro, pois tinha sido bem
recebido pelo Pai Ambrósio.
Um dia ele estava
chateado por alguma coisa, Boris, tinha aprendido com o Exu a ler as mãos das
pessoas, além de ler o Ifá.
Estas chateado,
porque a pessoas que esperavas que te chamasse, quando soube que vinhas viver
com teu pai, passou a te ignorar?
Esse rapaz pode
ser bom na cama contigo, mas gosta de boa vida, não trabalha, vive a custas dos
pais, crês que poderás construir alguma coisa com ele, que futuro espera de tua
vida.
Foi falando uma
porção de coisas que ele nunca tinha verbalizado com ninguém.
Como sabes tudo
isso?
Não sei nada,
quem está falando contigo não sou eu, é o Akesan, meu exu.
Foste criado, só
olhando para teu umbigo, desprezando teu pai, agora o vês como ele é, veja te
aceitou feliz da vida, não te cobra nada, agora chegou a hora de o incentivares
a se aposentar.
É verdade, ele
nunca reclamou de me depositar dinheiro, quando fiz quinze anos, porque sabia
que minha mãe usava o dinheiro que ele me dava, conseguiu com um juiz, que ele
pudesse dar diretamente a mim, nunca deixou de depositar religiosamente o valor
que o Juiz disse.
Tenho que encontrar
uma maneira de trabalhar rápido, para ser mais independente.
Boris, lhe
indicou um senhor que estava ali, acompanhando sua mulher que era filha de
Santo do pai Ambrósio, ele precisa de alguém de informática para seu
escritório, vais tirar de letra, ainda poderás usar tudo que sabes.
Nestor apresentou
seu outro filho ao senhor, dizendo ele é muito bom em informática.
O homem disse que
precisava de alguém no escritório, tenho uma fábrica aqui, agora tudo é
desenhado, preciso de alguém eu possa montar isso, queres vir a uma entrevista,
para conversarmos?
Antonio ria
feliz, puxa Boris, obrigada, eu nem mereço isso, depois que tratei tão mal meu
pai.
Tens razão,
quanto a esse namorado, ele que vá a merda, vou mais é cuidar da minha vida.
Tempos depois,
este senhor apareceu com a mulher no terreiro, ela estava muito mal, a levei
aos médicos, não sabem o que tem.
Pai Ambrósio a
colocou numa cama. Daqui vais a casa do Nestor, pede para o Boris vir contigo,
preciso da ajuda dele.
O homem foi numa
velocidade espantosa, sua esposa era sua companheira desde jovem, gostava de
aventuras, mas com ela vivia bem.
Quando Boris,
sentou-se no carro, alguns quilômetros depois disse para ele parar, pois
precisavam conversar.
Sabe essa
aventura que tens com tua secretária, a coisa começa por aí, ela é amante do
teu chefe de oficina, os dois tramam ficar com tudo que é teu. Pediu que você se divorciasse de tua mulher,
ele só balançava a cabeça, como não o fizeste, resolveu buscar outra saída, o
negocio era tirar tua mulher da frente casar contigo, depois te liquidar, ficar
com tudo que é teu.
Filha da puta.
Isso que dá um
velho não ter o piru dentro das calças, agora vamos resolver isso, quem faz
essas coisas não tem ideia de que tudo volta para ele.
Chegou lá em
cima, estava desesperado em perder sua companheira de toda a vida.
Boris, cobriu uma
mesa grande que tinha na cozinha, com um lençol branco, a deitaram ali, ele
colocou a mão sobre sua cabeça, ela dormiu. Os dois impuseram suas mãos em cima
do estomago dela, ele disse para o homem, segurar um saco de lixo, perto da
boca da senhora, começou a sair uma gosma negra, quando terminou, o cheiro era
horrível, ele deu um nó, esse coloque na mesa de tua secretária. Voltou-se para a senhor, lhe estendeu outro
saco de lixo, ela começou a soltar uma gosma cinzenta pela vagina. Ele fez a mesma coisa, esse entregue ao seu
ajudante, na hora que o despedir.
Despertou a
senhora, ficou sentada, tonta, pai Ambrósio, preparou um banho para ela, viu
que ela chorava mansinho, abraçada ao Boris.
Depois do banho, a mandou cuidar de suas quartinhas, que estavam negras
de queimadas, Boris a foi ajudar, conversou muito com ela.
Depois que
ficaram sozinho, disse ao Pai Ambrósio, quem fez isso tudo, foi um filho de
santo do senhor, que quando vieste para cá, montou uma casa de santo, mas só
faz merdas.
Disse o nome do
sujeito. Espera, tenho seu celular, o
chamou, pediu se podia subir.
Este chegou,
achou estranho o Iroco estar vazio.
Disse ao Ambrósio,
subi com uma sensação estranha, como se tivesse mais alguém no carro.
Boris, lhe disse,
teu exu, está furioso contigo, foi ele que subiu no carro contigo.
Vou te mostrar a
merda que fizeste. Colocou a mão na sua cabeça, ele via a cena toda de todas as
merdas que tinha feito.
Mas foi o Ifá que
me mandou fazer.
Mentira, pois nem
sabes entender o Ifá, viu que ele tinha amarado na cintura de qualquer maneira
suas coisas de jogo.
Lhe disse para
jogar, as pedras caiam todas juntas, grudadas umas a outras.
Se negam a dizer
alguma coisa para ti, pois não entende de nada, eres uma vergonha.
Pai Ambrósio,
falou com ele, te disse que era imaturo, abrires uma casa de santo, ainda não
estavas pronto.
O que o senhor
não queria era que eu ganhasse dinheiro.
Sim fazes tudo
por dinheiro, mas o melhor seria que virasse um bispo destes da Igreja do Reino
de Deus, assim roubavas tranquilamente aos teus fieis. Mas não fizeste todas essas merdas, elas
virão atrás de ti, pois mexeste com quem não devia, teus Orixás dizem eu não
farão nada, pois te avisaram, mas como não entendes de jogo, ficou por isso
mesmo, agora aguente.
O homem saiu
apavorado, dias depois souberam que estava no hospital, tinha tido um acidente,
bem como estava sendo considerado como louco, pois dizia que tinha gente atrás
dele para o matar.
O senhor,
procurou Boris em casa, disse que tinha feito o que ele tinha dito, deixei a
bolsa de lixo na mesa dela, curiosa abriu, a coisa negra entrou pelo nariz
dela.
A despedi, bem
como ao seu amante, esse ainda me disse que mais um pouco a fábrica seria
dele. Lhe dei seu saco, ele deu um
chute, tudo que estava ali, se colou nele, saiu gritando desesperado.
O senhor fica de
olho, vamos até o terreiro, que vou fazer um banho para o senhor, bem como uma
segurança.
Quando chegaram
lá, ele foi preparar um banho para o senhor, pai Ambrósio, não sei por que, mas
gostaria que o senhor estivesse junto na hora que for jogar para esse senhor,
pode ser.
Depois do banho
tomado, o homem se sentou em frente aos dois.
Imediatamente a
cabeça do Boris caiu para a frente. Exu Akesan, se incorporou, pela primeira vez
vou fazer com que meu menino não escute.
O senhor tinha
uma filha, verdade, quando olhas o meu menino, a vês verdade.
Ela saiu de casa,
porque gostava de estar com homens, era menor de idade, um dia desapareceu,
vocês procuraram mas não acharam. O nome dela era Jerusa.
A cara do homem
era espantosa.
Pois meu menino,
é filho dela, mas não devem falar nada com ele por enquanto, isso o deixaria
meio perdido. Faça a prova de ADN, mas
tudo com cuidado, conte a tua mulher, mas que ela se aproxime com cuidado,
perfeito.
O velho pediu se
podia pelo menos dar um abraço nele, passar as mãos pelos seus cabelos.
Pode, mas
lembre-se esse menino sofreu muito, sua vida é aqui, podem vir sempre para
estar com ele, mas ele nunca vai viver com vocês, pois já escolheu seu caminho.
Nunca soubemos por
que Jerusa saiu desse jeito, a levei a muitos médicos, mas diziam que ela tinha
um problema neurológico, depois um dia saiu de casa, nunca mais a encontramos,
um dia um homem que faz transporte da fábrica disse que a tinha visto se
prostituindo num posto de gasolina, fui até lá, mas não a encontrei, disse que
estava com uma barriga grande como se estivesse gravida, fui a hospitais, mas
nada.
Ela vivia no
ferro velho ali ao lado, foi por essa época que pariu o garoto.
Ele só sabia que
o nome dele era Boris, mas não porque o chamavam assim, nada mais, o Nestor o
adotou, agora é seu filho. Por isso
cuidado, não o desestabilizem.
Pai Ambrósio, o
que aconteceu, me senti mal, acho que desmaiei.
Espere vou tirar
um pouco de sangue o Senhor Manuel, vai levar para mandar fazer um exame para
saber se tens alguma coisa, o deitou.
Vou avisar ao teu
pai, que vais ficar aqui em cima uns dias ok.
O Manuel foi
embora, agradecendo, deu um abraço no Pai Ambrósio, mas um bem apertado no seu
neto.
Pai Ambrósio,
sinto falta de estar aqui o tempo todo, o Nestor quer que eu faça uma
faculdade, mas meu sonho é estar aqui, tenho paz, amo estar com os Orixás, eles
me protegem.
Venha vá dormir
um pouco, vou preparar um jantar, pois Nestor, bem como o Antonio sobem para te
ver.
De noite o Pai
Ambrósio falou com o Nestor, contou o que tinha acontecido, de quem ele era
neto, mas que ele queria ficar ali em cima. Ele é muito grato pelo que fizeste por ele,
mas sente que é aqui seu lugar, está mais a vontade. Graças a ti, aprendeu muita coisa.
Sabe Pai
Ambrósio, não sei se poderia me afastar dele, foi meu filho durante todo esse
tempo, eu aprendi mais com ele, que ele comigo.
Sabe essa parte
aqui ao lado que não se usa, se o senhor permite, gostaria de construir ai uma
casa, deixo a minha para o Antonio, assim não me afasto nem do senhor, nem do
Boris, o quero como se fosse meu filho.
Quando contaram
aos dois, Antonio soltou, então faça mais um quarto, que creio que venho viver
aqui, não quero ficar longe dos dois.
O casal vinha
sempre ao terreiro, se sentavam com o Boris, uma dia ele soltou ao Pai
Ambrósio, eles se comportam como se fossem meus avôs. O senhor acha isso possível.
Quem lhe explicou
foi o Nestor, pois estava por ali pintando a casa nova. Um dia reclamou que tudo era caro, que seu
dinheiro estava acabando.
Boris foi até o
fundo, entrou pela floresta, trouxe um saco.
Disse que tinha visto tudo isso em cima da mesa do velho Nicolau, mas
que nunca tinha usado nada.
Era muito
dinheiro, o senhor usa para o que for necessário, podíamos aproveitar esses
homens que estão aqui trabalhando, para melhorar o terreiro, que esse dinheiro
sirva para alguma coisa boa.
Nestor fez o que
ele tinha pedido, mas foi com ele a um banco, abriu uma conta para ele.
Ele só tocava
nesse dinheiro para ajudar alguma família que necessitava de alguma coisa.
Tinha arrumado
todo o terreiro, aumentara as casas dos Orixás, agora mais protegidas, pois a
maioria tinha goteiras.
Boris, só
aceitava sair dali, se era para ir a Praia, para um banho de mar, dizia sempre
ao Antonio, isso ajuda descarregar as coisa más que ficam aqui penduradas, ao
mesmo tempo carregar baterias.
A amizade dos
dois era impressionante. Um dia Boris falou com ele, porque não tinha ninguém
em sua vida.
Como não tenho
ninguém em minha vida, tenho a ti, tenho meu pai, Pai Ambrósio, que mais quero.
Quero dizer um
amigo íntimo.
Boris, segurou
sua mão, ficou rindo, viu que o irmão postiço era apaixonado por ele.
Vais por um
caminho errado, eu nunca terei sexo com ninguém, não me está permitido, nem eu
quero, posso me desestabilizar. Quando
me salvaram foi para servir aqui.
Acho que tem uma
pessoa que fica sempre trabalhando contigo na fábrica, que gosta muito de ti,
creio mesmo que serias feliz com ele.
Porque não o
convidas para vir aqui, assim posso conhece-lo, te direi se vai dar certo ou
não.
A casa ficou
pronta, Nestor aproveitou que assim podiam ficar todos lá, aumentaram com a
parte que o Pai Ambrósio usava, para aumentar o terreiro, pois vinha muita
gente nova.
Os mais jovens
tentavam seguir o exemplo do Boris.
Os avós do Boris,
sempre vinha, arrumavam um jeito de ficarem perto dele, o olhavam com
adoração. Quando chegou o Natal, vieram trazer
presentes para todos, Nestor lhes perguntou se iam passar o Natal com alguém.
Não sempre
passamos os dois sozinhos.
Não seja por
isso, venham passar o Natal, conosco, pois estaremos só nós, isso será como uma
família.
Sorriram para o
Nestor, obrigado, o senhor é muito gentil, mas ficar perto do Boris, é um
prazer.
Vieram a senhora
Maria, ajudou em tudo, na cozinha, foi um jantar simples, depois se sentaram na
varanda que o Nestor tinha mandado fazer, olhando as estrelas.
Nessa noite,
apareceu uma garota, com uma menina nos braços, estava ferida, disse que vivia
com um traficante, que tinha tido uma briga entre grupos diferentes, tinham
matado seu homem, não tinha para aonde ir.
Ambrósio, fez
tudo por ela, mas o jeito foi levar para um hospital. A criança ficou com a senhora Maria, está
encantada.
Mas a garota
morreu no hospital, Nestor conseguiu que os senhores adotassem a garota. Mas
ela não podia ver anos depois quando começou a andar e correr, mal via o Boris,
corria para ele, abraçava sua perna.
Ele sabia que era
sua mãe, por isso tinha dito ao Nestor para ajudar o casal.
A erguia no alto,
jogava com ele, fez coisas que não tinha feito em sua infância, brincar com
alguém.
Quando Pai
Ambrósio ficou doente, Boris cuidou dele, com todo o carinho, como o mesmo
tinha feito com ele.
Antonio tinha
trazido o rapaz com ele, bastava olhar ao rapaz para ver que adorava o outro, ele
disse, tente, acho que vai dar certo.
Antonio se
preocupava o que o pai ia dizer, mas isso não era um problema para o Nestor,
desde que seu filho estivesse perto dele, estava tudo bem.
A mãe do Antonio
apareceu umas duas vezes, acabou desistindo, porque viu que não podia mais
controlar o filho.
Pai Ambrósio se
restabeleceu, foi preparando Boris para ficar no lugar dele, embora dissesse
que ele era mais completo, pode ver tudo que vai acontecer em sua volta, toca a
pessoa que vem consultar, sabe tudo sobre a mesma. Contou ao Nestor, que tinha aparecido uma
mulher querendo prender o marido, ele se virou para ela, dizendo que se queria
prender o marido, porque o tratava mal, o que a senhora quer é mandar, fazer
chantagem, mas no fundo a senhora não ama seu marido, quer é a boa vida que ele
lhe dá. A senhora veio num lugar errado,
mas lhe aviso, se faz alguma coisa destas que está pensando, virara contra a
senhora, meu exu vai proteger seu marido, por isso cuidado.
Ela saiu
reclamando que casa de santo era esse, se os espíritos estavam ali, para fazer
essas coisas, Boris se virou para mim, me soltou, tem gente que não vai
aprender nunca. Tem que levar lambada nas
costas para aprender.
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