lunes, 14 de marzo de 2022

BORIS

 

                                               BORIS

 

Boris era o nome que o velho Nicolau tinha dado para ele, pois quando nasceu era loiro de olhos azuis, muito branco.  Tinha nascido no ferro-velho do velho, perto da estrada de Seropédica, perto da estrada de Rio a São Paulo.

Sua mãe, era conhecida como à Loira, uma garota de idade indefinida, podia ter entre 16 e 18 anos, apareceu um dia por ali, ninguém sabe saída de onde, dormia nos carros abandonados do ferro velho.    A velha Maria foi quem a descobriu, para ganhar dinheiro, uns trocados, se prostituia num posto de gasolina que paravam caminhões para um café.

Foi ficando, o velho lhe gostava que fizesse uma mamada, a velha deixava pois assim não tinha trabalho, podia cuidar da contabilidade.  Quando alguém comentava, dizia, eu prefiro olhar papeis que olhar esse piru velho, murcho que já não serve para nada.

A velha a deixava tomar banho no banheiro que tinham ali, de vez em quando fazia uma ronda por lugares, aonde sabiam que davam roupas velhas, as que encontrava, que pareciam roupas de puta, levava para a garota.

Um dia chegou vomitando muito, passou dias mal, vomitando sem parar, a velha com seu olho clínico disse que estava gravida, te disse para pedir que usem camisinha, mas não me escutas. Até que a garota não ficou com uma barriga imensa, não parou de passar a noite na estrada, atendendo os homens a troco de alguns trocados, nem sabia seu nome.  A velha achava que tinha escapado de algum orfanato, de Campo Grande, ou de Santa Cruz.   Mas eles não se metiam em problemas, porque de noite o velho que tinha insônia vendia drogas aos que apareciam por ali, isso seria chamar a atenção da polícia, não interessava.

Vivam do justo, comida a menor quantidade, quando serviam os pratos, o mais cheio era do velho Nicolau, ela lhe dizia assim,” filho da puta, tá aqui teu prato”.  Nem sabia quantos anos estava junto com ele.

Tinha chegado como a Loira, só que ela sabia contas, ler, escrever, foi ficando, na época, por uma foto dos dois se viam que eram duas pessoas interessantes.

Quando a Loira pariu, dentro de um carro, ela correu para ajudar, pois tinha manha, quando chegou perto a mesma já tinha parido, riu dizendo não custou nada.   Saiu um bebê, pequeno, com muito cabelos, loiro, cacheados, rindo, não chorava.

A velha se encantou, dizia que ele parecia um bibelô, desses de anjo barrocos, se ela tivesse peito o daria para ele, a Loira não tinha leite, mas a velha cuidou dele.

O velho Nicolau reclamou que era mais um para comer. 

Ela soltou, para de reclamar, se não comesse tanto, não terias essa barriga imensa de não fazer porra nenhuma.

Na verdade, ali viviam os dois, a Loira, o rapaz que manuseava a Máquina imensa que comprimia os carros, para fazer um cubo, para venderem para as indústrias, atrás do armazém, tinham uma quantidade imensa, de vez em quando aparecia um caminhão que levava tudo.

O rapaz, não vivia lá, vivia num barraco, depois do posto de gasolina com sua família, tava sempre reclamando que ganhava pouco.

O velho Nicolau era um muquirana de fazer gosto, quando o que lhe subministrava as drogas, já tinha retirado sua parte, que escondia ninguém sabia aonde.

A velha cuidava dele, tinha conseguido um carrinho desses de bebê, aonde ia buscar roupas, não disse para quem era.    A loira mal se recuperou, voltou para seu trabalho.

Um dia meses depois desapareceu, um dia a polícia apareceu por lá, perguntando se morava ali, disseram que não, por quê?

Porque algum tarado a matou, deve ter usado e abusado dela, a deixou jogada na beira da estrada, quando a encontraram, já tinha dois urubus comendo a coitada.

Nenhum dos dois fez nenhum comentário.

Mal começou a andar, já estava trabalhando, trás isso para cá, leva isso para lá, com dez anos, já tinha um corpo forte, não sabia nem ler, nem escrever.  Tinha uns cabelos imensos loiros, cacheados, um corpo forte, mas era a inocência personificada.   O velho o ensinou a usar a máquina, para mandar o empregado embora.

Mas ele continuava sendo protegido pela velha, por duas vezes apareceram clientes, quando viam aquele garoto com o corpo todo modelado como se fosse a uma academia, perguntavam ao velho, quanto queria por ele, mas ele estava esperando o mesmo crescer mais um pouco, para usar ele primeiro.

A velha Maria, percebia tudo, um dia viu que o velho, passava a mão pelo corpo do garoto, apertava sua bunda, cada vez que ele passava.  Fazia uma cara de velho safado.

Quando reclamou com ele, soltou que ela estava velha, com tudo caído, que nem uma punheta sabia bater direito.  Começara os dois a discutir, ali perto aonde se colocava os carros para compactar.   Ele ficou furioso, lhe deu um empurrão, ela caiu em cima do carro, um dos vidros já estava partido, lhe atravessou o corpo.  Deve ter morrido, em seguida.

O velho com dificuldade, subiu até a parte de cima da máquina, a prensou junto com o mesmo, ele viu tudo, ficou horrorizado, seu único pensamento foi, já não tenho quem cuide de mim.

Para escapar do velho, pois sabia que não o podia pegar, subia para dormir nas pilhas de carros que estavam por ali, mas nunca no mesmo.  O velho nunca o achava.  Para comer, ia de noite atrás do posto de gasolina, comia resto de comida, do restaurante, tudo lhe parecia uma maravilha, em comparação com a comida que a velha fazia.

Pela primeira vez comeu carne, apesar que já estava mastigada, ele gostou, comia com a mão, arrumava um saco de plástico, se escondia, comia o que podia, até o estomago estufar.

Mas durante o dia, trabalhava, andava com um pé de cabra, agora sabia o que o velho queria, quando ele aparecia, o ameaçava, faço meu trabalho, mas não se aproxime.

Com o tempo passou a dormir lá em cima, pois sabia que o velho já não conseguia subir as escadas, tinha tentado várias vezes, mas estava gordo demais, além de velho.

Um dia tinha acabado de colocar um carro na prensa quando o velho o chamou, dizia que tinha caído que o necessitava para se levantar.

Quando chegou perto, o mesmo o agarrou, abaixou suas calças, a primeira coisa que fez, foi enfiar seus dedos gordos no seu cu.  Gritou de dor.

Mas o velho só queria passar a mão pelo seu corpo, na verdade o pau, já não funcionava, andava usando as drogas que vendia para ver se acontecia alguma coisa, mas só piorava.

Ele conseguiu escapar, queria ir embora dali, mas não sabia para aonde.

Um dia estava no alto da máquina, viu que o velho negociava, com um homem, ria alto dizendo, que este conseguia pega-lo podia levar.

Ele escapou, só voltando de noite, sabia que o velho ia vende-lo, a velha Maria tinha lhe explicado que o que iria acontecer se isso passasse.

Viu que o velho nesse dia não tinha droga para vender, o chamou para fora.

Nicolau, saiu agressivo, me fizeste perder um bom dinheiro, ia me aposentar em seguida com isso.   Estava justamente com a caixa de metal que guardava dinheiro, saiu atrás dele, mas se escondeu. Quando ele estava justo ao lado do poço aonde se colocava os carros para prensar, saiu correndo lhe deu com o pé de cabra na cabeça umas quantas vezes, fez o que o velho tinha feito com a velha Maria.

O jogou em cima do carro, o prensou com o mesmo, com o imã, recolheu o cubo, o levou justo aonde estava o da velha, mas levou cada um para junto dos outros, assim quando viessem buscar, levariam os dois para muito longe.

Um negro alto, que sempre aparecia nos seus sonhos, lhe disse, pegue o dinheiro, coloque num saco com tua roupa, pé na tábua.

Saiu andando pela estrada depois disso, não sabia ler as placas, sabia que tinha dois sentidos, cada um ia para uma das cidades ali perto.

Passou um carro, ele fez sinal, o carro parou, o homem que estava dentro lhe perguntou para aonde ia, ele só fez sinal que ia para a cidade mais perto.

Mal o homem olhou para ele, pensou, que puta preciosidade, passou a mão pela sua perna, apertou seus peitos, o negro que estava sentado atrás, quando viu a proximidade de umas mata, lhe disse solte o cinto de segurança, abra a porta, aperte contra ti o saco, se jogue fora.

O homem, foi olhar porque o mesmo olhava para trás, levou um puta susto, ali estava um negro imenso, que abriu a boca, com uns dentes que não paravam de crescer, com isso diminuiu a velocidade, ele abriu a porta se jogou. Mas teve azar, ao cair bateu a cabeça numa pedra, ficou ali atontado.

O homem estava cada vez mais assustado, pois o negro estava falando dentro da sua cabeça, arrancou o carro com tudo.

Ainda viu o negro gritando coisas que ele não entendia, mas cada vez que olhava o espelho retrovisor, o negro estava ali, as gargalhadas.

Uns quilômetros mais a frente, estava tão nervoso que não viu um caminhão imenso desses que nunca param, pois pensam que são os donos da estrada, jogou seu carro do outro lado da via, no sentido contrário, vinha outro, que acabou de fuder tudo.  Não sobrou nada para contar história.

Ele estava tonto, o negro disse, Boris, agora tens que ser forte, o ajudou a caminhar, mas estava perdendo muito sangue pela cabeça. Foi seguindo com o negro, um caminho de terra batida, que ia subindo, estava tonto, vomitou uma duas vezes, mas água pura, não tinha nada no estomago para vomitar.

Se sentou ali, colocou o saco no meio das pernas, apoiou a cabeça no joelho, dormiu, tinha sido muito para ele.   O negro ficou ali de guarda.

Uns quantos quilômetros mais abaixo Nestor de Oliveira, um delegado boa gente, como não era desonesto, foi sendo transferido de delegacia em delegacia, ou melhor sendo degradado, estava agora num posto policial ali na estrada, não acontecia muita coisa por ali, a não ser algum acidente, como o do carro que tinha ficado embaixo de um caminhão, o outro tinha seguido seu caminho, não ia perder tempo.

O motorista, disse que um caminhão tinha atirado o carro do outro lado, mas que não tinha visto se era de uma empresa, tinha ficado nervoso, pois era um desses caminhões com ar refrigerado, ia levando carne para um supermercado do Rio de Janeiro.   Nesse momento chamava a empresa que mandasse outro, para pegar o reboque, senão a carne ia se estragar.

Se fosse de dia, ia aparecer gente para abrir o caminhão, roubar o que estava dentro.

Viu que não tinha nada que fazer, ficaram vários policiais ali.

Teve uma sensação rara, pensou comigo, vou conversar um pouco com meu velho pai de santo, ele frequentava um terreiro de candomblé, de um senhor entrado nos anos, que vivia numa estrada estreita, tinha o terreiro mais em cima.

Quando conheceu Pai Ambrósio, ou Pai Brosio, como lhe chamava o pessoal, esse contou por que tinha o terreiro ali.  Disse que antes tinha um em Santa Cruz, mas estava farto de dar consultas daqueles que vinham para pedir uma matança contra alguém, ou queria saber o número da loteria, ou então segurar um marido que estava com alguma serigaita, estava farto disso, assim os filhos que realmente queriam fazer alguma coisa, ou se realmente a pessoa tinha algum problema, para vir de longe, conseguir subir até aonde estava o terreiro, tudo bem.

Ficaram amigos, tinha longos bate papos. 

Tinha feito muitas obrigações ali, o Pai Brosio, lhe perguntava por que seguia na polícia, se estava farto disso.

Tenho que pagar a pensão do meu filho, o ano que vem termina a faculdade, estarei livre.

Mas se teu filho, sequer fala contigo, cada vez que tentas se aproximar dele, te chama de filho da puta, essas coisas todas.

Porque sua mãe o tenha colocado contra mim, não significa que vou sacanear a vida dele, um dia quem sabe, ele entenderá tudo.

Nem sabia por que viviam juntos, se sentia sozinho na época, trabalhava numa delegacia no posto 11 em Copacabana, a conheceu ali, trabalhando de garçonete numa lanchonete, começara a se falar.  Nos dias de folga ele ia busca-la para ir a um cinema, ou bater um papo em algum bar.   Um dia acabaram na cama, mas não gostou muito, ela era agressiva, ele queria outra coisa.  Ainda soltou para ele, caramba, você é difícil, para dar uma foda precisava de tudo isso, dois meses depois disse que estava gravida.  Ele a ajudou com tudo, mas não queria se casar, pois a achava agressiva.  Mas registrou o garoto com seu nome, Nestor Oliveira.  Pagava mensalmente uma pensão que um juiz lhe disse para o garoto, mas fazia questão dele mesmo pagar um colégio para o mesmo, porque sabia que ela ia se encostar na história, fez isso duas vezes, mas ele descobriu.  Então seu filho, passou a comer na escola, ele mesmo ia com o garoto comprar roupas, essas coisas, mas ela sempre falava mal dele para todo mundo.

Filho da puta era o de menos, começava por esse palavrão, ia desfiando muitos, como um rosário, até que arrumou um trouxa que casou com ela.  Ele queria adotar o garoto, mas ele nunca concordou.   Um dia ela soltou na cara dele, que nem sabia se ele era realmente seu filho.

Um dia fez um teste de ADN, comprovou que o garoto era filho dele.

Pediu a guarda mil vezes, mas não conseguia por causa do seu trabalho.

Agora ele estava na universidade, mas cada vez que o pai chamava, nem dizia bom dia ou boa noite, simplesmente perguntava o que ele queria.

Nestor nesse ponto era franco, só saber como andam as coisas contigo, como estás.

Normalmente levava pela cara um, a ti que importa.

Ia pensando nisso tudo, quando entrou na estrada que levava ao terreiro do Pai Brosio, viu um negro fazendo sinal para parar.  Parou perto dele, quando viu um rapaz, agarrado a uma bolsa, com sangue saindo da cabeça.

Nestor, esse será teu filho de verdade, o leve para Pai Brosio, que ele saberá que fazer, o que o assustava, era que estava falando na sua cabeça.  Pegou o rapaz, o colocou na parte traseira do carro, seguiu subindo, o negro tinha desaparecido.

Quando chegou no terreiro, deu as buzinadas, como fazia sempre, para dizer que era ele, pois o Pai Brosio de vez em quando tinha a visita de algum drogado que errava o caminho.  Foi assim que tinham se conhecido, um drogado que chegou quase morto lá em cima, o Pai Brosio chamou a delegacia, ensinou como ir até lá.

Quando ele abriu a porta, pediu ajuda.

Retiraram Boris do carro, o levaram para a parte que Pai Brosio vivia, o encontrei na estrada subindo para cá, um negro, semi nu, me fez parar.

Nestor meu filho, nunca vais aprender, um Exu, esse garoto, tem um Exu fortíssimo, estou sentindo, o deitaram numa cama, que ele sempre tinha a mais, limparam a ferida, pai Brosio tinha sido enfermeiro, costurou sua cabeça da pancada, os dois o limparam puseram as calças de um pijama velho, o deitaram mas ele não soltava o saco.  O cobriram.

Mas o que vieste fazer aqui, nisso Pai Brosio, começou a falar em yoruba com o exu do garoto, eu trouxe meu menino para cá, pois ele precisa de proteção, hoje o quiseram vender para um pédofilo, ele escapou, mas ia caindo nas garras de outro.  Diga ao Nestor, que o outro do carro era um pédofilo, que tirem impressões digitais do que sobrou, verá que era procurado.

O garoto saltou do carro, bateu a cabeça, o ajudei a subir o caminho para tua casa, pois sei que vais o ajudar.

Sim meu pai, vou ajudar, mas me conte, de uma maneira muito sutil, o Exu, colocou na sua cabeça tudo que podia.  

Nestor só o viu balançando a cabeça, dizendo sim várias vezes, pode deixar eu cuido.

Estava aqui falando com o Exu do garoto, me contou por tudo que ele vinha passando.

Estavam os dois sentados um de cada lado da cama, Pai Brosio, soltou, parece um santo assim dormindo.   Mas já sofreu muito.

Ficou ali rezando, viu que Nestor, dormia ali sentado, colocou uma manta nas suas pernas, sempre era assim, vinha conversar com ele, acabava dormindo ali sentado.

Havia uma ligação forte dele de outras vidas com o garoto.

Sabia que o Exu dos dois era o mesmo, apenas Nestor não tinha a capacidade de ver os Orixás.

Ele dormia, pouco, quando eles tinham chegado, estava terminando de colocar água nas quartinhas dos santos, sempre tinha algum de seus filhos de santo que esqueciam.  Mas ele sempre verificava, não gostava que os Orixás ficassem desatendidos.

Dormia pouco essa era a verdade, deu uma duas cabeçadas, quando o garoto começou a se mover, abriu os olhos, ele colocou a mão nos seus ombros, disse, descanse, estás entre amigos, viu que o Exu estava do outro lado, que o garoto podia vê-lo, pois olhou para ele, para ver se concordava.

Ele voltou a dormir agarrado a bolsa, o cobriu outra vez, nunca tinha sido pai, mas sentia por esse menino, este instinto.

Coitado, essa primeira fase de sua vida, foi dura, mas sei que ajudado, o que vem pela frente será duro, mas terá em quem se apoiar.

Nestor despertou com o cheiro de café, Brosio disse que o menino, estava no banheiro, tinha ido cagar no mato, pois devia fazer isso sempre.

Mas quando voltou, se via que bolsa estava menor.

Tinha se lavado a cara, era de uma beleza impressionante.  Nestor ainda pensou, esse vai arrasar muitos corações.

Ele olhou para o Nestor, disse, vou não senhor, isso não se faz, arrasar corações.

Nestor levou um susto.   Mas viu que o garoto estava com os olhos fechados, quem falava pela sua boca era outro.

Meu pai, deixa o garoto tomar um café como deve, depois teremos tempo de com jeito ir arrumando a situação.

Caramba, sabe quem era esse?

Menor ideia soltou o Nestor, que tinha ficado assustado.

Oxumaré, quando despertei, andei jogando para ver quem eram seus protetores, pois passou muita merda, mas se não fosse os Orixás teria sido pior.

Ele tem uma conjunção forte, de cabeça tem Oxumaré, bem como seu protetor Exu Akesan, do outro lado tem Nanã, Orumila, pois será um grande do Ifá, segurando o final Xangó, com Exu Bara, para fechar.

Ele já está quase pronto, verdade meu pai Oxumaré?

Sim, mas precisa de outras coisas antes, vem comendo lixo, pode ter lombrigas, outras merdas, o coitado vem se defendendo de tudo, de todos.

Virou-se para Nestor, vou te contar na tua cabeça tudo, porque sei que não farás nada que possa complicar mais a vida dele.

Mostrou na cabeça do Nestor de aonde tinha vindo, viu o velho vendendo drogas, usando também, o ferro velho, os dois cubos, um com a mulher dentro, outra com o velho dentro.  Ela o defendia, por isso o homem a matou, para poder vender o menino para algum pédofilo, quando tentou o garoto entendeu que tinha que escapar, por isso se defendeu.

A cara do Nestor, era impressionante, quando tiver alguma coisa meu pai, pode falar na minha cabeça, prometo não me assustar.

A cabeça do Boris, foi abaixando, até encostar na mesa, deu um suspiro, viu na frente dele, pão, o café, tomou com ânsia, espere disse o Nestor, sabia que atrás tinha um galinheiro, foi até lá trouxe ovos, fez para eles todos tomarem com pão.

A fome do Boris era imensa, comia com ganas.  Pai Brosio, colocou a mão no seu braço, disse, tranquilamente, meu filho, podes ficar tranquilo, coma devagar, senão vais passar mal.

Quando acabou de comer, ele se enroscou na mesa, começando a dormir outra vez, entre os dois o levaram para cama, ele sorria.

O deixaram dormindo.

Nestor colocou a bolsa nos pés da cama, seu instinto dizia que não devia abrir.

Avisou a delegacia, que hoje não ia trabalhar, que iria ao médico.

Pai o senhor podia me preparar um banho daqueles que gosto tanto, com as ervas da floresta, assim posso ir cuidar dos meus santos.

Claro meu filho, tome um banho primeiro, depois te levo o banho que vou preparar.

Quando Boris, despertou, saiu da casa, viu que os dois estavam prostado em frente a uma árvore imensa, cheia de gente olhando.  Os da árvore falavam com ele, seja bem-vindo Boris, riu como sabiam seu nome.

Estavam ali colocando algumas coisas, ele sem querer soltou, estão dizendo que depois isso fica cheio de moscas, que não gostam disso, que deveriam simplesmente colocar quartinhas com água, nada mais. Assim alimentam a árvore também.

Quem disse isso, falou Pai Brosio se levantando?

Essa gente toda que está aí, diz que seus filhos depois não retiram o que colocam, que o senhor não tem mais idade, para ficar fazendo o serviço dos preguiçosos, que coloquem só uma quartinha pequena, mas que rezem realmente, pois algum colocam isso, ficam pensando no que pedir.

Ele se matava de rir, eu também penso assim.

O homem negro, está dizendo que ao mesmo tempo é meu protetor, como do Nestor, que menos mal que tenho outro exu, para me cuidar.

Como sabes de tudo isso?

Bom pelas noites, como o velho queria ficar passando a mão em mim, me escapulia, ia dormir no alto de alguma pilha de carro, ele, apontou para o Exu que estava ali, ficava conversando comigo.    Me protegia, pois vinha muita gente comprar drogas, não queria que me vissem, pois poderiam querer abusar de mim.   Bastou a vez que o velho, conseguiu me enganar, dizendo que estava passando mal, me agarrou, enfiou aquele dedo enorme, sujo de graxa no meu cu.

Filho da puta, menos mal que a velha Maria, foi me avisando disso, me dizia que eu era bonito, por isso a gente ia querer se aproveitar de mim, mas que eu nunca permitisse.  Quando ele quis me vender da primeira vez, brigou com ele, ele a atirou na prensa de carros, a deixando presa no cubo, repetiu, filho da puta.   Eu vi tudo, mas ele me dizia fica em silencio, assim não te descobre.   Mas eu fiz o mesmo com ele.

Nestor nesse momento pensava, não posso mandar prender esse garoto, pois ele seria pasto de todos os homens aonde fosse.

Ele nesse momento fez uma coisa, foi até a parte da mata, trouxe folhas grandes, fez como uma vassoura, começou a retirar as comidas que estava ali, cheias de moscas, ia limpando a parte de aonde tirava, levava tudo para um cubo de lixo grande que estava encostado na casa. Depois levava o alguidar para um tanque desse antigos de lavar roupa, ia lavando cada um, colocando de boca para baixo.  Quando acabou, foi outra vez, buscar mais folhas, foi limpando toda a sujeira que estava ali em volta da árvore.

Sorriu quando acabou, assim eles não vão mais reclamar, verdade pai Ambrósio?

Como sabes meu nome?

Ele me disse.

Olhou para o Iroco, lá estava seu pai de cabeça, rindo, com os braços cruzados, precisas de mais de filhos de santo como esse garoto.

Converse agora com o Nestor, como ele pode fazer.

Nisso o celular do Nestor começou a tocar, ele atendeu, na delegacia tinha recebido uma chamada anônima, que o caminhão que ia buscar os cubos tinha encontrado, um com uma pessoa em decomposição, no outro o velho.   Vou para lá, não se preocupem.

O Pai Ambrósio, disse, o exu vai te acompanhar, preste atenção no que ele vai fazer, borre a presença do garoto de lá.  Assim não haverá problemas, diga que como ele vendia drogas, que deve ter sido um ajuste de contas.

Na verdade o homem do caminhão nunca tinha visto ninguém por lá a não ser a velha, quando ele era pequeno, era outro que vinha.    Do posto de gasolina, diziam que muitos carros durante a noite faziam manobra ali, para irem ao ferro velho comprar drogas, era gente de Campo Grande, Santa Cruz, Seropédica, dessa região toda.

Antes tinha a Loira que dormia lá, mas a mataram, mas isso vocês já sabem.

Entendeu que a Loira era a mãe do Boris.

Voltou só de noite, Boris, estava todo vestido de branco, pai Ambrósio tinha arrumando alguma roupa que algum filho de santo tinha deixado para trás para ele.

Achou estranho, pois estava ensinando o alfabeto para ele.  Fez um sinal, para ficar quieto, espere vamos preparar algo para comer.

No almoço depois ao lado do Nestor, tive que o controlar outra vez, pois tem uma fome impressionante.  Disse que depois que a velha morreu, ele ia buscar comida na lixeira do posto de gasolina, que nunca tinha comido carne, que algumas estavam mastigadas, mas que ele não se importava, pois estavam bem.    O posto de gasolina tinha um pequeno restaurante, mas disse que ninguém o via, pois ia bem tarde, algumas coisas guardava para comer de manhã, que o exu ficava vigiando para ele fazer isso.

Nestor de imaginar estava chorando.

Ele não sabe ler, nem escrever, nunca lhe ensinaram, sabe sim os números porque a velha lhe ensinou.   Mas tem uma facilidade para aprender incrível.

Veja, olharam para a mesa, ele estava escrevendo várias vezes o alfabeto, segurando com dificuldade um lápis que estava por ali.

Nestor perguntou a ele, se sabia quem era a Loira?

Não me lembro dela, mas a velha sempre falava nela, que era minha mãe, que a tinham matado, o velho dizia que era uma puta.  Por isso não sabiam quem era meu pai.

Não sei se isso tem importância, a velha dizia que isso não importava, pois se fosse outra tinha me colocado fora do seu corpo rapidamente.

Na sua maneira de entender, isso não importava.

Como vamos fazer Nestor?

Estavam os dois sentados na varanda atrás da casa que dava para a floresta.

Nada, ficar quietos, vou conseguir documentos para ele, lhe darei o meu sobrenome, assim quando o pessoal aparecer, dizemos que é meu filho.  Ninguém sabe da minha vida mesmo.

Olha o que ele está fazendo, nunca está parado, estava com uma vassoura de piaçava varrendo todo o terreiro.

O chamaram, lhe perguntaram se tinha documento de identidade?

O que é isso?

Nestor mostrou o seu, vê aqui tem meu nome, o Oliveira é meu sobrenome.

Tenho nada disso não, é importante?

Sim meu filho, falava aqui com Pai Ambrósio, que vou fazer para ti, serás como meu filho, ficarás com meu sobrenome.

Ele ficou olhando para o Nestor, depois levantou os olhos, ele estava falando com Exu, ele disse que posso confiar no senhor, que será como o pai que nunca tive.

Isso meu filho.

Ele estava chorando, Nestor foi até ele o abraço, nada disso, sei que não vais me decepcionar.

Dias depois apareceu com os documentos.

Agora quando a todo mundo que aparecer aqui, dirás que é meu filho ok.

Sim senhor.

Dois sábados depois, os filhos de santo subiram deram com aquele garoto loiro, ficaram impressionados, quando perguntavam quem era, ele respondia que era filho do Nestor.

Ninguém se atrevia a menor brincadeira pois sabiam que Nestor era delegado ali na região.

O que estranharam foi de ver o terreiro super limpo, nenhuma oferenda embaixo do Iroco.

Alias ali estava super limpo.

Um dos filhos de santo disse ao Pai Ambrósio que queria fazer uma oferenda ao seu santo, queria fazer uma comida.

Ele aproveitou para dizer que os Orixás tinha reclamado que se colocava as oferendas, mas que depois ninguém tirava, que ficavam cheio de porcarias em volta da árvore, agora tocava, a quem colocasse, voltar três dias depois para retirar, ou simplesmente colocar ali uma quartinha com água, rezando pelo seu santo, mas uma coisa importante, nada de ficar pedindo besteira, tipo, me arruma uma namorada, ou quero ganhar na loteria.

Sabem que não suporto isso. Por isso vim para longe.

Já conhecem o Boris, filho do Nestor, ele ficará um tempo aqui comigo, estamos preparando seu bori, ele ficaram um tempo como uma espécie de Yao, para me ajudar, mas quando acabem as férias terá que ir à escola.

Em um mês ele já conseguia ler os jornais, Pai Ambrósio, tinha arrumado num dos quartos vazios da casa um quarto para ele, Nestor tinha comprado cama, roupa de cama, roupas normais, um tênis para ele.

Quando viu tudo isso, deu um sorriso imenso, nunca tive nada disso, abraçou o Nestor, obrigado pai.

A parte Nestor contou que tudo no ferro velho tinha dado uma rebordosa desgraçada, pois o velho era procurado a muito tempo pela polícia, bem como sua companheira, faziam muitos trapicheiros, além de vender drogas pelas noites, já conseguiram descobrir para quem ele vendia.

Nestor perguntou se ele queria ir viver na sua casa, assim poderia ir à escola.

Mas já estou aprendendo tudo com Pai Ambrósio, aqui eu estou bem, mas o senhor como meu pai, deve saber o que é melhor para mim.

Vou arrumar uma professora, para te ensinar, tem uma que me deve uma série de favores.

Ah aquela que o marido tentou matar?

Essa, mas nunca deve dizer as pessoas os que vês, pergunte para Pai Ambrósio, podes assustar as pessoas, pergunte ao Akesan, ele te dirá quando falar alguma coisa, não soltes por aí, tudo o que vejas ok.

O que o senhor mandar.

Vou arrumar um quarto na minha casa para ti, depois sempre dirás que é meu filho.  Viremos aqui sempre que querias.

Fico com pena do Pai Ambrósio ficar sozinho.

Eu também vou sentir tua falta, mas poderás vir sempre que queira.

Temos que encontrar uma maneira meu filho de tirar esse velho de vez em quando daqui.

No domingo como estou livre, vamos todos comer em Barra de Guaratiba, mas primeiro vamos a praia. O que achas.

Sempre tudo estava bem para ele.

A professora falou com Nestor, esse menino é uma esponja, já consegui situa-lo como que num curso mais adiantado, é bom em matemática, gosta de ler, aliás tem ânsia disso, lhe dei dois livros para ler, depois veio conversar comigo a respeito, lhe dei um romance, disse que não gostou muito, pois não representa a vida real.

Gosta mais dos que falam de coisas sérias.   Acho que para daqui alguém tempo podemos apresentar para ver se o colocamos na escola.

Ele confessou tempos depois que já tinha lido todos os livros da casa do Nestor, como podia conseguir mais.    Fez um cartão para ele, na biblioteca, assim podia levar para casa.  Mas lhe disse, não escreva no livro ok.   Lhe comprou uma cadernetas, escreva aqui as perguntas que me queira fazer.

Dois anos depois, ele se aborrecia na escola, pois diziam que os outros estava sempre de brincadeira, que não aprendiam nada.  Ninguém se atrevia provocar briga com ele, pois ele tinha um corpo forte, além de que agora estava realmente crescendo.  O levava ao médico regularmente, tinha tomado um remédio para vermes que lhe preparou Pai Ambrósio, que agora descia mais vezes, para irem à praia, ou comer num restaurante.

Lhe ensinou como entrar no mar, lhe falava dos orixás do mar, ele escutava com respeito.

Um dia seu filho ligou, ele não estava em casa, quando perguntou quem era que atendia, ele disse que Boris, filho do Nestor, mas falou isso, porque sabia o que ia acontecer.

No dia seguinte o filho apareceu, furioso, ele tinha outro filho, como era isso.

Nestor lhe explicou que o tinha adotado, seu filho olhava desconfiado.

Mas ao conversar com Boris, ficava observando tudo, mas esse falava com calma com ele, que Nestor era uma pessoa fantástica, perguntou gostas de ler.

Ficaram conversando sobre livros, quando viu já era tarde, Nestor estava feliz, pois seu filho nunca ficava mais que uma hora com ele, tinha passado o tempo todo ali, Boris o incluía na conversa sobre livros.

Amanhã vamos a praia, com o Pai Ambrósio, vens conosco.

Nas não trouxe roupa de praia.

Eu te empresto meu filho, soltou o Nestor, estava feliz do filho estar ali.

Depois saíram para jantar numa pizzaria, deixou os dois discutirem o que queriam comer, voltaram a falar de livros, do curso que ele tinha acabado de fazer na faculdade.

O pior Boris, agora é descobrir que escolhi uma merda, só posso ser funcionário público, não serve para muita coisa, meu pai me disse para não fazer, mas para contrariar o fiz, agora tô fudido.

Sempre se pode dar uma volta nisso tudo, verdade Nestor.

Ficaram conversando o que realmente gostava o Antônio, esse se soltou, venho fazendo cursos de desenho de informática, adoro isso, minha mãe, fica me enchendo o saco, aonde quero chegar com isso, porque ela acha que devo fazer algum concurso para ser funcionário público.

Seu marido é, está louco para se aposentar, porque não aguenta mais, diz que eu não faça essa besteira, ela odeia ser contrariada, o manda calar a boca, que o filho não é dele.

Mas para fazer o que quero, teria que sair de casa.    Ir para aonde, não tenho dinheiro, devia ter guardado uma parte do que meu pai me dava, ela me botou na cabeça que devia gastar tudo, para ele aprender.

Hoje penso, aprender o que, se ele sempre fez de boa vontade, num movimento, colocou a sua mão sobre a do Nestor, obrigado pai.

Sei que aonde vivo é longe, mas podes vir ficar aqui se quiser, temos mais um quarto, podes montar teus computadores lá, assim ensina ao Boris.

Ficaram rindo.

Dois meses depois ele já estava instalado lá, inclusive ia ao terreiro, pois tinha sido bem recebido pelo Pai Ambrósio.

Um dia ele estava chateado por alguma coisa, Boris, tinha aprendido com o Exu a ler as mãos das pessoas, além de ler o Ifá.

Estas chateado, porque a pessoas que esperavas que te chamasse, quando soube que vinhas viver com teu pai, passou a te ignorar?

Esse rapaz pode ser bom na cama contigo, mas gosta de boa vida, não trabalha, vive a custas dos pais, crês que poderás construir alguma coisa com ele, que futuro espera de tua vida.

Foi falando uma porção de coisas que ele nunca tinha verbalizado com ninguém.

Como sabes tudo isso?

Não sei nada, quem está falando contigo não sou eu, é o Akesan, meu exu.

Foste criado, só olhando para teu umbigo, desprezando teu pai, agora o vês como ele é, veja te aceitou feliz da vida, não te cobra nada, agora chegou a hora de o incentivares a se aposentar.

É verdade, ele nunca reclamou de me depositar dinheiro, quando fiz quinze anos, porque sabia que minha mãe usava o dinheiro que ele me dava, conseguiu com um juiz, que ele pudesse dar diretamente a mim, nunca deixou de depositar religiosamente o valor que o Juiz disse.

Tenho que encontrar uma maneira de trabalhar rápido, para ser mais independente.

Boris, lhe indicou um senhor que estava ali, acompanhando sua mulher que era filha de Santo do pai Ambrósio, ele precisa de alguém de informática para seu escritório, vais tirar de letra, ainda poderás usar tudo que sabes.

Nestor apresentou seu outro filho ao senhor, dizendo ele é muito bom em informática. 

O homem disse que precisava de alguém no escritório, tenho uma fábrica aqui, agora tudo é desenhado, preciso de alguém eu possa montar isso, queres vir a uma entrevista, para conversarmos?

Antonio ria feliz, puxa Boris, obrigada, eu nem mereço isso, depois que tratei tão mal meu pai.

Tens razão, quanto a esse namorado, ele que vá a merda, vou mais é cuidar da minha vida.

Tempos depois, este senhor apareceu com a mulher no terreiro, ela estava muito mal, a levei aos médicos, não sabem o que tem.

Pai Ambrósio a colocou numa cama. Daqui vais a casa do Nestor, pede para o Boris vir contigo, preciso da ajuda dele.

O homem foi numa velocidade espantosa, sua esposa era sua companheira desde jovem, gostava de aventuras, mas com ela vivia bem.

Quando Boris, sentou-se no carro, alguns quilômetros depois disse para ele parar, pois precisavam conversar.

Sabe essa aventura que tens com tua secretária, a coisa começa por aí, ela é amante do teu chefe de oficina, os dois tramam ficar com tudo que é teu.  Pediu que você se divorciasse de tua mulher, ele só balançava a cabeça, como não o fizeste, resolveu buscar outra saída, o negocio era tirar tua mulher da frente casar contigo, depois te liquidar, ficar com tudo que é teu.

Filha da puta.

Isso que dá um velho não ter o piru dentro das calças, agora vamos resolver isso, quem faz essas coisas não tem ideia de que tudo volta para ele.

Chegou lá em cima, estava desesperado em perder sua companheira de toda a vida.

Boris, cobriu uma mesa grande que tinha na cozinha, com um lençol branco, a deitaram ali, ele colocou a mão sobre sua cabeça, ela dormiu. Os dois impuseram suas mãos em cima do estomago dela, ele disse para o homem, segurar um saco de lixo, perto da boca da senhora, começou a sair uma gosma negra, quando terminou, o cheiro era horrível, ele deu um nó, esse coloque na mesa de tua secretária.  Voltou-se para a senhor, lhe estendeu outro saco de lixo, ela começou a soltar uma gosma cinzenta pela vagina.  Ele fez a mesma coisa, esse entregue ao seu ajudante, na hora que o despedir.

Despertou a senhora, ficou sentada, tonta, pai Ambrósio, preparou um banho para ela, viu que ela chorava mansinho, abraçada ao Boris.   Depois do banho, a mandou cuidar de suas quartinhas, que estavam negras de queimadas, Boris a foi ajudar, conversou muito com ela.

Depois que ficaram sozinho, disse ao Pai Ambrósio, quem fez isso tudo, foi um filho de santo do senhor, que quando vieste para cá, montou uma casa de santo, mas só faz merdas.

Disse o nome do sujeito.  Espera, tenho seu celular, o chamou, pediu se podia subir.

Este chegou, achou estranho o Iroco estar vazio.

Disse ao Ambrósio, subi com uma sensação estranha, como se tivesse mais alguém no carro.

Boris, lhe disse, teu exu, está furioso contigo, foi ele que subiu no carro contigo.

Vou te mostrar a merda que fizeste. Colocou a mão na sua cabeça, ele via a cena toda de todas as merdas que tinha feito.

Mas foi o Ifá que me mandou fazer.

Mentira, pois nem sabes entender o Ifá, viu que ele tinha amarado na cintura de qualquer maneira suas coisas de jogo.

Lhe disse para jogar, as pedras caiam todas juntas, grudadas umas a outras. 

Se negam a dizer alguma coisa para ti, pois não entende de nada, eres uma vergonha.

Pai Ambrósio, falou com ele, te disse que era imaturo, abrires uma casa de santo, ainda não estavas pronto.

O que o senhor não queria era que eu ganhasse dinheiro.

Sim fazes tudo por dinheiro, mas o melhor seria que virasse um bispo destes da Igreja do Reino de Deus, assim roubavas tranquilamente aos teus fieis.   Mas não fizeste todas essas merdas, elas virão atrás de ti, pois mexeste com quem não devia, teus Orixás dizem eu não farão nada, pois te avisaram, mas como não entendes de jogo, ficou por isso mesmo, agora aguente.

O homem saiu apavorado, dias depois souberam que estava no hospital, tinha tido um acidente, bem como estava sendo considerado como louco, pois dizia que tinha gente atrás dele para o matar.

O senhor, procurou Boris em casa, disse que tinha feito o que ele tinha dito, deixei a bolsa de lixo na mesa dela, curiosa abriu, a coisa negra entrou pelo nariz dela.

A despedi, bem como ao seu amante, esse ainda me disse que mais um pouco a fábrica seria dele.  Lhe dei seu saco, ele deu um chute, tudo que estava ali, se colou nele, saiu gritando desesperado.

O senhor fica de olho, vamos até o terreiro, que vou fazer um banho para o senhor, bem como uma segurança.

Quando chegaram lá, ele foi preparar um banho para o senhor, pai Ambrósio, não sei por que, mas gostaria que o senhor estivesse junto na hora que for jogar para esse senhor, pode ser.

Depois do banho tomado, o homem se sentou em frente aos dois.

Imediatamente a cabeça do Boris caiu para a frente.    Exu Akesan, se incorporou, pela primeira vez vou fazer com que meu menino não escute.

O senhor tinha uma filha, verdade, quando olhas o meu menino, a vês verdade.

Ela saiu de casa, porque gostava de estar com homens, era menor de idade, um dia desapareceu, vocês procuraram mas não acharam. O nome dela era Jerusa.

A cara do homem era espantosa.

Pois meu menino, é filho dela, mas não devem falar nada com ele por enquanto, isso o deixaria meio perdido.   Faça a prova de ADN, mas tudo com cuidado, conte a tua mulher, mas que ela se aproxime com cuidado, perfeito.

O velho pediu se podia pelo menos dar um abraço nele, passar as mãos pelos seus cabelos.

Pode, mas lembre-se esse menino sofreu muito, sua vida é aqui, podem vir sempre para estar com ele, mas ele nunca vai viver com vocês, pois já escolheu seu caminho.

Nunca soubemos por que Jerusa saiu desse jeito, a levei a muitos médicos, mas diziam que ela tinha um problema neurológico, depois um dia saiu de casa, nunca mais a encontramos, um dia um homem que faz transporte da fábrica disse que a tinha visto se prostituindo num posto de gasolina, fui até lá, mas não a encontrei, disse que estava com uma barriga grande como se estivesse gravida, fui a hospitais, mas nada.

Ela vivia no ferro velho ali ao lado, foi por essa época que pariu o garoto.

Ele só sabia que o nome dele era Boris, mas não porque o chamavam assim, nada mais, o Nestor o adotou, agora é seu filho.  Por isso cuidado, não o desestabilizem.

Pai Ambrósio, o que aconteceu, me senti mal, acho que desmaiei.

Espere vou tirar um pouco de sangue o Senhor Manuel, vai levar para mandar fazer um exame para saber se tens alguma coisa, o deitou.

Vou avisar ao teu pai, que vais ficar aqui em cima uns dias ok.

O Manuel foi embora, agradecendo, deu um abraço no Pai Ambrósio, mas um bem apertado no seu neto.

Pai Ambrósio, sinto falta de estar aqui o tempo todo, o Nestor quer que eu faça uma faculdade, mas meu sonho é estar aqui, tenho paz, amo estar com os Orixás, eles me protegem.

Venha vá dormir um pouco, vou preparar um jantar, pois Nestor, bem como o Antonio sobem para te ver.

De noite o Pai Ambrósio falou com o Nestor, contou o que tinha acontecido, de quem ele era neto, mas que ele queria ficar ali em cima.  Ele é muito grato pelo que fizeste por ele, mas sente que é aqui seu lugar, está mais a vontade.  Graças a ti, aprendeu muita coisa.

Sabe Pai Ambrósio, não sei se poderia me afastar dele, foi meu filho durante todo esse tempo, eu aprendi mais com ele, que ele comigo.

Sabe essa parte aqui ao lado que não se usa, se o senhor permite, gostaria de construir ai uma casa, deixo a minha para o Antonio, assim não me afasto nem do senhor, nem do Boris, o quero como se fosse meu filho.

Quando contaram aos dois, Antonio soltou, então faça mais um quarto, que creio que venho viver aqui, não quero ficar longe dos dois.

O casal vinha sempre ao terreiro, se sentavam com o Boris, uma dia ele soltou ao Pai Ambrósio, eles se comportam como se fossem meus avôs.  O senhor acha isso possível.

Quem lhe explicou foi o Nestor, pois estava por ali pintando a casa nova.   Um dia reclamou que tudo era caro, que seu dinheiro estava acabando.

Boris foi até o fundo, entrou pela floresta, trouxe um saco.  Disse que tinha visto tudo isso em cima da mesa do velho Nicolau, mas que nunca tinha usado nada.

Era muito dinheiro, o senhor usa para o que for necessário, podíamos aproveitar esses homens que estão aqui trabalhando, para melhorar o terreiro, que esse dinheiro sirva para alguma coisa boa.

Nestor fez o que ele tinha pedido, mas foi com ele a um banco, abriu uma conta para ele.

Ele só tocava nesse dinheiro para ajudar alguma família que necessitava de alguma coisa.

Tinha arrumado todo o terreiro, aumentara as casas dos Orixás, agora mais protegidas, pois a maioria tinha goteiras.

Boris, só aceitava sair dali, se era para ir a Praia, para um banho de mar, dizia sempre ao Antonio, isso ajuda descarregar as coisa más que ficam aqui penduradas, ao mesmo tempo carregar baterias.

A amizade dos dois era impressionante. Um dia Boris falou com ele, porque não tinha ninguém em sua vida.

Como não tenho ninguém em minha vida, tenho a ti, tenho meu pai, Pai Ambrósio, que mais quero.

Quero dizer um amigo íntimo.

Boris, segurou sua mão, ficou rindo, viu que o irmão postiço era apaixonado por ele.

Vais por um caminho errado, eu nunca terei sexo com ninguém, não me está permitido, nem eu quero, posso me desestabilizar.    Quando me salvaram foi para servir aqui.

Acho que tem uma pessoa que fica sempre trabalhando contigo na fábrica, que gosta muito de ti, creio mesmo que serias feliz com ele.

Porque não o convidas para vir aqui, assim posso conhece-lo, te direi se vai dar certo ou não.

A casa ficou pronta, Nestor aproveitou que assim podiam ficar todos lá, aumentaram com a parte que o Pai Ambrósio usava, para aumentar o terreiro, pois vinha muita gente nova.

Os mais jovens tentavam seguir o exemplo do Boris.

Os avós do Boris, sempre vinha, arrumavam um jeito de ficarem perto dele, o olhavam com adoração.    Quando chegou o Natal, vieram trazer presentes para todos, Nestor lhes perguntou se iam passar o Natal com alguém.

Não sempre passamos os dois sozinhos.

Não seja por isso, venham passar o Natal, conosco, pois estaremos só nós, isso será como uma família.

Sorriram para o Nestor, obrigado, o senhor é muito gentil, mas ficar perto do Boris, é um prazer.

Vieram a senhora Maria, ajudou em tudo, na cozinha, foi um jantar simples, depois se sentaram na varanda que o Nestor tinha mandado fazer, olhando as estrelas.

Nessa noite, apareceu uma garota, com uma menina nos braços, estava ferida, disse que vivia com um traficante, que tinha tido uma briga entre grupos diferentes, tinham matado seu homem, não tinha para aonde ir.

Ambrósio, fez tudo por ela, mas o jeito foi levar para um hospital.   A criança ficou com a senhora Maria, está encantada.

Mas a garota morreu no hospital, Nestor conseguiu que os senhores adotassem a garota. Mas ela não podia ver anos depois quando começou a andar e correr, mal via o Boris, corria para ele, abraçava sua perna.

Ele sabia que era sua mãe, por isso tinha dito ao Nestor para ajudar o casal.

A erguia no alto, jogava com ele, fez coisas que não tinha feito em sua infância, brincar com alguém.

Quando Pai Ambrósio ficou doente, Boris cuidou dele, com todo o carinho, como o mesmo tinha feito com ele.

Antonio tinha trazido o rapaz com ele, bastava olhar ao rapaz para ver que adorava o outro, ele disse, tente, acho que vai dar certo.

Antonio se preocupava o que o pai ia dizer, mas isso não era um problema para o Nestor, desde que seu filho estivesse perto dele, estava tudo bem.

A mãe do Antonio apareceu umas duas vezes, acabou desistindo, porque viu que não podia mais controlar o filho.

Pai Ambrósio se restabeleceu, foi preparando Boris para ficar no lugar dele, embora dissesse que ele era mais completo, pode ver tudo que vai acontecer em sua volta, toca a pessoa que vem consultar, sabe tudo sobre a mesma.   Contou ao Nestor, que tinha aparecido uma mulher querendo prender o marido, ele se virou para ela, dizendo que se queria prender o marido, porque o tratava mal, o que a senhora quer é mandar, fazer chantagem, mas no fundo a senhora não ama seu marido, quer é a boa vida que ele lhe dá.  A senhora veio num lugar errado, mas lhe aviso, se faz alguma coisa destas que está pensando, virara contra a senhora, meu exu vai proteger seu marido, por isso cuidado.

Ela saiu reclamando que casa de santo era esse, se os espíritos estavam ali, para fazer essas coisas, Boris se virou para mim, me soltou, tem gente que não vai aprender nunca.  Tem que levar lambada nas costas para aprender.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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