lunes, 7 de febrero de 2022

MOSHÉ

 

                                          MOSHÉ

 

Sou Abe, Abraham Sian, meu pai, meu irmão mais velho se chamavam Moshé, era tal para qual, pois eram cabeças duras.  Adorava meu irmão, tínhamos uma diferença de idade, ele era quase quatro anos mais velho do que eu, só muito anos depois foi que descobri numa discussão dele com minha mãe, que não era seu filho, sim do primeiro casamento de meu pai, desses arranjados.

Meu pai era francês, minha mãe, alemã, mas os dois eram judeus.  Também foi um casamento arrumado pelo pais dos dois, ambos joalheiros de renome.

Estou escrevendo isso, por sentir que com a minha idade, em breve perderei as faculdades de me lembrar de tudo com detalhes.  Ou acredito que me é mais fácil me lembrar desse passado que do que comi de manhã, brincadeira, sei que foi um café forte como gosto, com croissant que são minha perdição.   Outro dia o médico disse que não deveria comer tantos, o mandei tomar no cu, o que me importa isso, já estou velho mesmo, para que ficar me privando de uma coisa que adoro.

Passamos muitos apertos, mas sobrevivemos, essa é a verdade.

Tinha verdadeira paixão, por duas pessoas que foram muito importantes em minha vida, meu irmão Moshé, bem como meu tio Henry, nunca soube por que tinha um nome que escapava a tudo que era judeu.

Ele como eu, era filho do segundo casamento de meu avô.  Era considerado o ovelha negra da família, segundo meu pai, meu avô acusava sua mulher de ter estragado o filho.  Meu pai dizia que um dia Henry quando fez 18 anos desapareceu, foi para a Palestina, segundo ele para aprender árabe.   Isso deixaria meu avô furioso.

Um dia, apareceu em Berlin, eu adorava abrir a porta de casa, quando chamaram a porta, fui correndo, meu pai gritando, devagar, queria chegar antes do Moshé a porta, sempre disputávamos, ele sempre ganhava, mas desta vez eu cheguei primeiro.

Me apaixonei por ele nesse momento, diante de mim, estava um homem completamente diferente de meu pai, alto, loiro, com imensos cabelos cacheados, não se usava assim naquela época, uma roupa completamente sui generis, nunca tinha visto nada igual.

Fiquei com a boca aberta, me pegou nos braços, dizendo, tu deves ser Abe, a partir desse momento sempre me chamaria assim.

Meu pai correu para ele ao escutar sua voz, se abraçaram, eu achava interessante, meu pai, repetia o abraço, segurava sua cara com as duas mãos, beijava seu rosto varias vezes, me disse, esse é meu irmão pequeno Henry, mas como pronunciava, parecia dizer Enry.

Minha mãe, veio correndo, se jogou nos seus braços.

Quando Moshé chegou da escola, o olhava com desconfiança, pela sua roupa.  Levei anos para descobrir por que se vestia assim, nada combinava com nada.   Quando lhe perguntei, me deu uma explicação que me pareceu logica com o passar dos anos, que ele era assim, não combinava com nada do pré estabelecido.

De noite depois de minha mãe ter posto para dormir os gêmeos, que eram os pequenos da casa, Roger e Rufus, nomes escolhidos por ela.

Fiquei sentado aos pés de meu tio, estava muito sério, irmão, tens que ir embora daqui, a coisa vai ficar feia.  Ou pelo menos mande sua família para Paris.

Meu pai argumentava sobre a loja, como ia fazer.

Henry era enfático, isso tudo vai desaparecer, esses nazistas acabaram com tudo, pode ter certeza do que falo, sabes que tenho minha fontes.

Meu pai não arredava o pé, minha mãe concordava com tio Henry.

Tanto falaram, que no dia seguinte ele tentou negociar a venda da loja para o vizinho, um bom filho da puta diga-se de passagem.

Henry convenceu minha mãe, uma bagagem para cada um para não chamar a atenção, era aquelas malas tipo papelão.

Moshé queria ficar com meu pai, mas esse disse que em breve quando vendesse tudo iria nos encontrar. Mas de qualquer maneira levava uma maleta na mão.   No ultimo momento decidiu ir, mas teria que ir em outro vagão, pois no nosso já não tinha lugar.

Na estação havia imensa confusão, meu tio Henry, levava os meninos nos braços, minha mãe a bagagem deles, além da sua, Moshé me empurrou para subir antes, eu fiquei ali olhando meu pai, lhe disse, te amo pai.  Ele olhou para trás, fez uma coisa que não entendi na hora, trocou minha bagagem pela sua, olhava para trás, o trem começou a se movimentar, ele correu para o vagão que lhe correspondia, eu corri para a janela para olhar, mas ele não subiu no trem, dois homens com o filho da puta do vizinho o pegaram, estava deitado no chão com uma arma na cabeça.

Falei com tio Henry, mas já era tarde o trem tinha saído da estação ganhava velocidade.

Ele foi correndo ao vagão aonde meu pai deveria estar, mas claro, nem tinha entrado no trem.

Quando chegamos a Berna, ele se reuniu com dois tipos estranhos, que ficaram de informar.

Ficamos dois dias esperando, um dia o vi chegar na porta do edifício, ficou parado, quando olhou para cima me viu, estava chorando, limpou a cara, se fechou com minha mãe, ouvi que soltava um grito.

Nesse dia reclamou porque não trocava de roupa, lhe disse que não podia, porque meu pai tinha minha maleta, quando abriu a que me tinha dado, tinha roupa por cima, mas por baixo era muitos saquinhos de diamantes.

Ela mostrou ao Tio Henry, esse me perguntou como meu pai tinha se comportado na plataforma, lhe disse que não parava de olhar para trás, foi quando trocou as maletas.

Ah, então foi por isso, segundo os informantes tinham destruído toda a loja, procurando os diamantes.

Nesse mesmo dia, meu tio saiu comigo, Moshé, para não chamarmos atenção, comprem roupas diferentes, nos deixou escolher.   Eu queria algo como ele, ria muito, escolhi coisas que não se combinavam entre si.   Minha mãe com os pequenos, entrou em outra loja, saiu vestindo calças compridas, nunca mais colocaria saias ou vestidos.  Era como se a partir de agora ela fosse o homem da família.    Me explicou nesse dia o que tinha acontecido.

Quando chegamos a Paris, fomos para o apartamento que era do nosso avô, nunca o tinha visto na vida, sabia que tinha morrido no ano anterior.  Por isso Henry tinha voltado da Palestina, para cuidar do pai.

Quem abriu a porta, foi um homem imenso, de uns dois metros de altura, negro, que levantou Henry nos braços, acabou sendo um homem importante em minha vida. Era músico de Jazz, tocava clarinete, seu nome era igual ao meu Abraham, talvez daí meu tio me chamar sempre Abe.

Ajudou minha mãe com as crianças, lhe deu as boas-vindas, creio que Henry a preparou para isso, viviam os dois juntos.

Eles ficariam nas dependências de empregados, nós como o resto da casa.  Fiquei num quarto com Moshé, o que era um inferno, pois ele não dizia palavra.

Estava furioso com o mundo.

Dias depois, fomos todos a uma sinagoga ali perto do apartamento, em Marais, um desses homens vestidos de negro, nos negou a entrada, ele pediu para falar com o Rabino, Michael, saiu um homem jovem que o abraçou.   Lhe explicou a situação, queriam rezar um Kadish por meu pai.  Mas os velhos não permitiam a entrada dele, nem de minha mãe, pela maneira como estavam vestidos.

Michael, disse, me espere um minuto, voltou com seus paramentos, fomos a Place Les Voges, rezamos ali, me tinha ensinado durante a noite.  Moshé não abriu a boca, mas as lagrimas corriam pela sua cara, minha mãe o abraçava.

Meses depois, tivemos outra reunião, Hitler se preparava para invadir Polônia, Henry dizia, ele não vai parar, nada aqui é seguro para a gente, devemos ir embora.  Lhe deu a opção de ir para NYC, mas ela não queria, vou contigo para Palestina, acho melhor.

Uma noite, ele saiu com Abraham, no dia seguinte tínhamos um carro na frente de casa, era grande, cabíamos todos.

Ele disse, como sempre, leve somente a maleta do Moshé, ele sabia o que fazia.

Fomos descendo a França inteira, mas quando chegamos a Marseille, não conseguíamos nenhum barco para nos levar para a Palestina.  O jeito foi ele convencer um pescador que tinha um barco grande, para nos levar, pagou um bom dinheiro para isso.

Moshé queria ficar para brigar com os alemães, se viessem por terem matado nosso pai.  Foi então que descobri que minha mãe, não era a sua.  Quando ela lhe deu uma ordem, ele não obedeceu dizendo que ela não era a mãe dele, que faria o que queria.

O jeito foi o Abraham, pega-lo, levantar do chão, colocar nos seus ombros, entrar no barco.

Quando ele se livrou, já estávamos longe, além dele não saber nadar.

Henry disse ao homem aonde devia nos deixar, tinha que ser de madrugada, por causa da vigilância britânica.

Desembarcamos numa praia, ele tirou nossos sapatos, meias, amarou os cordões, nos colocou pendurado no pescoço, a maleta tinha que ficar na cabeça.  James desceu com os meninos um em cada braço, Henry levava seu instrumento, de novo Moshé disse que voltava com o homem para a França, desta vez foi o homem que perdeu a paciência, o tirou pela borda, bem como sua maleta.  Merece uns cascudos.

Foi embora, no final o único que acabou molhado foi ele.   Estava furioso, quando ficava assim não falava nada.

Na praia tinham um amigo do Henry nos esperando com um velho ônibus escolar, nos levou a Tel Aviv, num apartamento que o Henry seguia pagando.

Vinham conversando em uma língua diferente, eu adorei ao instante, o homem segundo Abraham era um sabra, me explicou o que era.

O apartamento era menor, mas teríamos que nos apanhar, por enquanto iriamos dormir em dois quartos, eles em um, nos no outro, mas resolvi que podia muito bem dormir na sala, de noite arrumei uma manta, de madrugada me despertei, com Abraham indo ao banheiro nu, tinha uma pele incrível, mas o que me apaixonava nele, era quando ficava pela manhã, ensaiando com o clarinete, o som enchia minha alma.

As vezes saia com ele pelas ruas da cidade, ele parava numa esquina, ficava tocando para ganhar uns trocados, outras lhe chamavam para tocar com algum grupo.

Eu sempre tinha milhões de perguntas para ele. Me contou de aonde era, que lá matavam os negros.  Era do Mississipi, que tinha aprendido música com sua mãe, não sabia quem era seu pai.  Ele tinha conhecido Henry na França, aonde achou melhor viver.  Tocava Jazz nos clubes de Saint Germain de Prés.  Foi aonde se conheceram, ajudou Henry a cuidar do pai, o amava com loucura. 

Foi duro o Henry conseguir documentos, escolas para todos, por isso acabou trabalhando para os Ingleses, pois falava várias línguas, era uma espécie de secretário, que fazia as funções de filtro nas reclamações dos árabes, esses pensavam que ele era um deles, pois falava perfeitamente a língua.

Nos fomos para a escola, era complicado, pois o único lugar que nos aceitou, foi uma escola inglesa.   Os argumentos do Henry sempre batiam contra os de Moshé, assim vocês aprende outra língua, nunca sabemos o dia de amanhã, se vossa mãe tivesse resolvido ir para os Estados Unidos, teriam que aprender.   Moshé ao contrário, queria falar o ídiche, minha mãe o levou para falar com um rabino, era um velho simpático, esse acabou convencendo o Moshé que podia estudar inglês, de tarde ir conversar, estudar com o velho em ídiche.   Foi a solução, mas sempre estava metido em alguma confusão.

Eu ia a escola contente, tinham aulas de música, comecei a tocar piano.

Minha mãe conseguiu um apartamento só para nós, quando conseguiu um emprego, ela também falava várias línguas, então foi fácil.

Agora eu tinha meu quarto, às vezes, tentava entender o Moshé, mas ele sempre me rejeitava, mas quando tinha algum problema, vinha falar comigo.  Achava divertido, pois me contava coisas que lhe afligiam, que eu não entendia, mas escutava.

Um dia me soltou, que não suportava esse relacionamento do Henry com o Abraham, eles dormem juntos, como se fossem marido e mulher.

Não esperava minha resposta, o problema não é teu, é deles, depois uma coisa meu irmão eles se amam, nos ajudaram a escapar, agora com a França invadida, ficávamos sabendo que nos esperava se estivéssemos lá.

Ele queria voltar para lá, para entrar para os Partisans, sempre tinha isso na cabeça.

O amigo de tio Henry, nos levava para o campo para fazer exercícios, nos ensinava a atirar.  A primeira vez, cai sentado de bunda no chão, fazia os exercícios, apesar de não gostar.  Ao contrário Moshé, parece que encontrou seu mundo.

Com 16 anos se engajou num grupo clandestino, desaparecia semanas, minha mãe ficava aflita, mas tinha que cuidar além de trabalhar, dos pequenos, eu ajudava no que podia.

Fui crescendo, ao contrário do Moshé que eram mais moreno, com os cabelos negros, eu era como ela, loiro, olhos azuis, fui esticando.

Em 1947, passamos quase um ano sem ver o Moshé, quando apareceu, foi para avisar minha mãe, que ou ela ia para os Estados Unidos, ou teria que nos proteger direito, pois ia começar a guerra pela emancipação de Israel.   Ela começou a falar com ele, mas como sempre saiu com, você não é minha mãe.

A resposta dela, foi, mas sempre te amei como meu filho, quando teu pai chegou contigo na Alemanha, eu te aceitei como meu filho, sempre te quis assim.  Pare de colocar isso como defesa, para nunca escutar os demais, se teu pai tivesse escutado o Henry como devia, estaria aqui conosco, mas como ele és um cabeça dura.

Ele saiu batendo a porta.  A mim me disse, preciso de ti, não te metas nessa guerra, eres muito jovem.

Mas ela sim se meteu, ajudava nos hospitais, a mim me tocou cuidar dos meninos, que ficavam como loucos para saber de tudo.  Eu os ia levar na escola, tinha que tomar cuidado para não escaparem.   Abraham, com meu tio Henry se meteram direto nessa guerra, mas o pior parado foi Abraham que voltou com um braço a menos, minha mãe o levou para casa, para cuidar dele, as vezes o via chorando, pois nunca mais poderia tocar seu saxofone, sem querer, eu comecei a tocar todas as musicas que o tinha visto tocar, ficou com a boca aberta, com era que eu tinha aprendido.   Lhe disse que lhe ver tocar, começo a me ensinar, desde melhorar minha embocadura, como devia posicionar os braços, cantava uma música americana, eu tinha que conseguir tocar.   Os meninos ficavam sentados quietos escutando, isso os deixava relaxado, mas eu adorava aquele homem por causa disso, da sua música.  Depois começou comigo um outro aprendizado, a emoção, tens que pensar o que significa essa música, o que ela quer dizer, me fazia repetir um cem número de vezes a mesma.

Os meninos como eu, o adorávamos.  Quando Henry finalmente apareceu, tinha dois ferimentos graves, ficou entre a vida e morte muito tempo, quando saiu do hospital, minha mãe fez a mesma coisa, o levou para casa.  Nos dois cuidamos dele, os meninos os dois eram super agitados, mas Rufus tinha uma coisa, adorava ler, se sentava na cama do tio, contando o que estava lendo, inventava as histórias que ele achava que no livro não estavam bem, discutia com Henry os personagens, porque tinha feito, ou deixado de fazer.

Roger era ao contrário, com o rádio sempre pegado a orelha, para saber alguma coisa do que estava acontecendo.

Minha mãe quando chegava em casa morta de cansada, dizia que bem que vivia numa república de homens, pois os meninos lhe tiravam os sapatos, lhe faziam uma massagem nos pés, Abraham, saia da cozinha, com uma caneca de caldo que estivesse fazendo, tinha aprendido a cozinhar com um só braço, queria ser útil.  Ajudávamos meu tio se sentar na sala para conversar com minha mãe.   Quando esta perguntou de Moshé, ele não tinha ideia de aonde estava.

Quando Henry se recuperou, estava diferente, como ter visto a morte de perto o tivesse afetado, logo assumiu um cargo na Mossad, ai a relação com Abraham se foi ao caralho, simplesmente o abandonou, não podia ver o mesmo com um braço só por culpa sua, pois ele tinha insistido que luta-se do lado deles.

Ia fazer 17 anos, quando Abraham que seguia vivendo lá em casa, me perguntou se eu iria servir o exército ou queria ser um músico de verdade.  Viram outras guerras por aí, quero saber se estas disposto a perder como eu um braço, ficar sem poder fazer música.

Ele tinha recebido um convite para trabalhar com jovens músicos na Juilliard em NYC podes vir comigo se quiseres.   Minha mãe na surdina, preparou meus documentos, me emancipou, me deu dois diamantes dos que tinha guardado, deus sabe aonde.    Bem como um contato lá para que pudesse fazer dinheiro com os mesmo, anotou num papel, o peso, os colocou numa pequena bolsa, que eu levava presa nas minhas calças.  Comprou ela mesma o bilhete de avião, no mesmo voo do Abraham.

Minha mãe contou que quando o Henry descobriu, ficou uma fera, como ela podia fazer isso nas costas dele.  Não sabia o quanto ele queria o Abraham.

Se o querias porque o deixaste abandonado.  O teu irmão vivia dizendo que a família estava acima de tudo, mas se não fosse cabeça dura tinha saído com a gente muito antes.

Sempre é muito tarde para chorar o leite derramado.

Ela seguiu em frente com os dois, Rufus não dava problema, estava bem direcionado, queria ser escritor, mas Roger, ah esse era um caso a parte.   Seu deus era o Moshé, ninguém sabe como descobriu aonde estava, foi ficar com ele.

Henry contou a minha mãe, que ele era o braço pesado do Mossad, era como um agente especial encarregado de execuções, ela ficou horrorizada, tira teu sobrinho disse, não se referia ao Moshé, mas sim ao Roger.

Henry conseguiu traze-lo para trabalhar com ele, mas ele queria ação.

Na guerra do Yom Kippur, perdeu a vida de maneira bestial.   Logo em seguida, agora eu participava de atuações com um grupo de jazz, estava entrando em cena, quando me disseram que tinha uma chamada para mim.  Respondi, me que me chamassem dentro de uma hora.

Não suportava que me interrompessem antes de uma atuação, pois gostava de me concentrar, entrei em cena, no fundo do local, estava o Abraham com seu novo namorado, eu morria de ciúmes, pois o queria.  Toquei como se minha alma estivesse destroçada.

Quando acabamos o show, me avisaram da chamada outra vez, era minha mãe para dizer que o Roger estava morto, se arriscou numa batalha, por nada, morreu da maneira mais idiota possível.

Me perguntou se podia ir para rezar o Kadish, eu lhe respondi que pegaria o primeiro voo, falei como Abraham, ele disse que iria junto.

No voo me perguntou por que tinha tocado dessa maneira. 

Fui honesto, lhe disse que não podia suporta vê-lo com um novo namorado.  Que sempre tinha sido apaixonado por ele.

Colocou a mão que lhe sobrava em cima da minha, me disse que podia ser meu pai, que isso era uma honra para ele, mas eu tinha que pensar que entre nós dois isso era impossível, que eu devia procurar alguém que realmente merecesse isso.  Creio que confundes, que estou junto contigo desde criança, te ensinei a tocar, me vês como um pai que orienta um filho.

Talvez fosse isso, pois aquele desabafo me ajudou a encarar de outra maneira. Quando voltasse gravaria meu primeiro disco.  Estava muito nervoso com isso, mas ele estava sempre comigo.

Chegamos a Tel Aviv, fomos direto para o cemitério, rezei o Kadish por meu irmão, maldizendo ter herdado de meu pai, a cabeça dura.

Minha mãe, disse que pensava ir para NYC, por causa do Rufus, queria estudar lá, não quero que outro filho meu morra numa dessas guerras não vou aguentar.

Voltou conosco, foi viver com o Rufus, num pequeno apartamento perto do meu.  Para ele agora eu era seu referencial.  Era quem lia o que escrevia, com quem conversava.

Seu outro referencial era o Abraham, que estava sempre conosco, ele era a única família realmente que tínhamos agora.   Um dia Henry apareceu, tinha vindo a uma conferência na ONU, estava chateado, porque tínhamos vindo embora sem nos despedir dele.

Abraham, me ajudava num trabalho que estava preparando para meu segundo disco, o primeiro tinha ido bem, nesse agora, eu tocava uma música que amava, a Suíte Bergamasque de Debussy, a fazia com uma interpretação toda minha, quando saiu o disco com uma foto minha, Abe Sian, a primeira que recebeu foi minha mãe, me abraçou chorando.

Henry ainda estava por lá, foi assistir a apresentação, nos disse que era hora que voltássemos para lá.

Ficou furioso quando no dia seguinte numa entrevista na televisão, me perguntaram de aonde era, lhes disse que tinha nascido em Berlin, mas que tinha aprendido amar a Paris.

Não falei em momento algum em Tel Aviv, Israel, nada disso.  Sempre me tinha sentido como um estrangeiro por lá.

Me deu um sermão, dizendo que eu não podia renegar meus laços de sangue, soltei na sua cara que laços de sangue eu tinha com o Abraham que sempre tinha estado ao nosso lado quando necessitávamos, que ele só nos queria para dizer que tinha uma família.  Segundo minha mãe, ele foi ao enterro do Roger, porque não teve escapatória.

Tentou falar com o Abraham para convence-lo, este lhe soltou na cara, não sou judeu, perdi um braço lutando uma guerra que não era minha, esse menino, me salvou a vida, tocando meu instrumento, para me dizer que precisava de mim.   Estarei aonde este essa família que agora é minha.

Tínhamos deixado a muito de ir a sinagoga, ele ao contrário agora ia, dizia que precisava disso para poder respirar suas culpas.   Minha mãe perguntou pelo apartamento do meu avô, ele disse que estava alugado, mas o conseguiria para nós.

Quando acabou a temporada, fui chamado para tocar com a orquestra da Opera de Paris, todo meu repertório clássico.  América tampouco era meu lar, tinha sido um lugar de aprendizado.

Minha mãe fez uma reunião, os quatro nos sentamos, falamos no assunto.  Rufus foi o primeiro a dizer que queria ir estudar na Sorbonne, a duvida era o Abraham, ele soltou rindo, que aonde a família dele fosse ele iria.

Nos instalamos num outro apartamento primeiro, enquanto ele com minha mãe, reformavam o do meu avô, que segundo ela era muito escuro, arrancou todos os papeis de paredes, mandou pintar tudo de branco, reformou os banheiros, fez um apartamento para o Abraham, que ele podia entrar por outra porta, se trouxesse um namorado.

Enquanto faziam isso, eu ensaiava com a Orquestra, era um concerto fantástico, me apaixonei, ele me ajudou, ia para lá, anotava as coisas me dizia o que tinha que melhorar.

Na estreia foi um sucesso, tínhamos saído para jantar os quatro para comemorar, quando chegamos em casa, levamos um susto, lá estava Moshé, nos esperando, tinha ido ao concerto, pensou que viríamos diretos para casa.

Era uma outra pessoa, a cara tinha duas cicatrizes feias, de noite no meu quarto quando tirou a camisa, vi várias cicatrizes.

Fiquei olhando a cara dele, se irritou, que queres dizer, podes falar.

Não eu só estou procurando o irmão, que amava, que significava muito para mim, que o ódio, a vingança pelo que fizeram contra nosso pai, arrancou da minha vida.

Ficou me olhando demoradamente, como se estivesse pensando, virou-se de costa, deitou na cama, mas vi que chorava.   Me sentei ao seu lado, fiquei segurando sua mão, finalmente me disse uma coisa, que tinha se emocionado muito me vendo tocar, que pelo menos eu tinha defendido nossa família, mantinha o que sobrava junto, que ele nem sabia hoje em dia quem era, talvez eu seja um mero fantoche nas mãos da Mossad.

Ele ficou fechado em casa conosco, uns quinze dias, ninguém lhe cobrou que saísse, nem nada parecido, quem notou que algo estava errado foi o Abraham, pois tinha visto um carro parado ali perto, vigiando o apartamento.  No dia que a policia francesa, entrou procurando por ele, tinha passado para o pequeno apartamento do Abraham, tínhamos colocado um armário tapando a porta.

Não o encontraram.  Minha mãe, perguntou o que se passava.

Contaram que ele tinha assassinado um homem que pertencia a SS Nazista que estava escondido na França, como ele tinha descoberto não sabiam, pois eles mesmos não sabiam.

Por eles o agradeceriam, mas o governo não queria a Mossad operando em terras francesas sem autorização.

A Mossad disse que não tinha ordenado nada.   Ele foi ficando lá em casa, de vez em quando ficava ao meu lado, me abraçava, chorava como um condenado.

Fui de viagem para fazer uma série de concertos, pela Europa, me sentia seguido o tempo todo, mas ignorei.  Pensavam que de alguma maneira ele entraria em contato comigo.

Achava interessante, pois nas minhas conversas com Abraham, ele ia ao Bar de um amigo para falar comigo, me contava as novidades, mas nunca falava do Moshé, falava do Rufus, como ia na universidade, do Roger, que na verdade era o Moshé, que estava bem.

Quando voltei, os homens que me seguiam, no aeroporto me aproximei deles, muito obrigado por cuidarem de mim toda minha turnê, ficaram surpresos.

Lhes disse na cara que eles eram judeus demais para que eu não desconfiasse.

Mas que perdiam o tempo, eu não via meu irmão, desde que tinha ido de casa para ir lutar no Yom Kippur, portanto estavam perdendo o tempo.

Nunca perguntei como o Abraham conseguiu documentos franceses para ele, com o nome de Roger.   Ele agora usava cabelos muito curtos, óculos de graus, pois dizia que não via as coisas direito.   Uma das primeiras coisas que minha mãe, fez, era que ele sempre saísse com Rufus, tinham a mesma altura, o obrigou a treinar em casa, tinha os ombros muito caídos, ela o maquilava para sair, escondendo suas cicatrizes.

Mais tarde ele fez uma cirurgia estética retirando as mesmas.   Voltou a estudar ou melhor fazer classes de desenho, usava meu quarto como seu studio, nunca deixava ninguém ver o que fazia.

Voltou a ter largas conversas comigo, falava justamente isso, que se ele tivesse força, não tinha podido exigir isso de mim, teria puxado nosso pai para dentro do trem.

Eu lhe disse, que se fizéssemos isso, teriam entrado no trem, levado todo mundo.  Ele se sacrificou pela família, mas mamãe tem razão, foi preciso que Henry ficasse uma semana falando na cabeça dele, que tinha que ir embora, ele não queria se desfazer da loja.  Tua como ele sempre foram teimosos.

É verdade, tinha tanto ódio dentro de mim, queria ter ficado na França para matar os alemães quando chegaram, só matando era capaz de ir retirando a dor que sentia, mas quando passei a matar por matar, minha cabeça foi se enchendo de horror.   Já não suporto mais isso, afinal, se fossemos ter pátria, essa seria a Alemanha, pois nascemos lá.

Nem somos franceses, embora nosso pai fosse daqui, tampouco criamos raízes em Israel, não nos casamos lá, nunca fomos a sinagoga, o único que temos lá é Roger enterrado, nada mais.

Eu lhe passava a maquina na cabeça todas as semanas, o deixava falar tudo que queria, me soltou um dia, eres melhor que um psicólogo, sabes me escutar, não me recrimina, procura que eu veja algo mais à frente.  

Eu agora me apresentava com um grupo de noite nos sótãos do Rive Gauche, tocando jazz, as vezes Abraham o levava com ele, quando os via no fundos, tocava para os dois, tinham sido sempre as pessoas que eu admirava.

Um dia Abraham, me esperou na saída, fomos sentar num bistrô, que ainda estava aberto, chovia, fazia frio, comentou mais um inverno que chega.  Olhei para ele, tinha cabelos brancos começando a aparecer.  Institivamente passei a mão pela sua cabeça.  Apesar de tudo eu o seguia amando.  Tinha aventuras, mas nada era como eu queria.

Riu, sei que me amas de verdade, tive meu coração fechado a muito tempo, mas estou melhor.

Mas o que quero é falar do teu irmão, algo dentro dele se rompeu, está se desequilibrando, tenho medo de que faça alguma coisa contra ele mesmo.  Ele só escuta a ti.

Nessa noite ao chegarmos em casa, me perguntou se queria entrar no seu apartamento, nunca mais tínhamos retirado o armário que separava um do outro.  Sabia que ele nunca trazia ninguém, entrei, nos sentamos, ficamos escutando música, solos de clarinete, que ele tanto amava, um ao lado do outro, encostei minha cabeça no seu ombro, fiquei ali como me sentido num porto seguro.  Comentei das minhas conversas com o Moshé.

Também me preocupava por ele.

Tu estás sempre preocupado pelos outros, as vezes te esquece de ti mesmo.

Me beijou suavemente na boca, quando o vi nu, foi como o tinha visto quando andou naquela noite pela casa, comentei isso com ele.

Puxa faz muito tempo.

Pois eu já gostava de ti, nesse dia, não me pergunte por que me apaixonei.

Foi um sexo perfeito, eu era inexperiente, mas me ajudou.  Me perguntou por que nunca tinha feito sexo com outros.

Lhe disse que tinha tentado, mas que o tinha na minha cabeça.

Não comentamos com ninguém, acredito que minha mãe deve ter percebido.   Eu dava desculpa que como Moshé dormia no meu quarto, ali era seu studio, eu dormia na casa do Abraham para não incomodar.

Moshé foi cada vez se fechando mais, tinha dias que mal falava, passava o dia inteiro escrevendo ou desenhando.

Saia para comprar papel, lapises, voltava para casa, seguia trabalhando, comia mal, era preciso insistir com ele.    Um dia me disse, tens razão, teríamos acabados todos num campo de concentração.

Um dia, sentou-se ao meu lado, respirou fundo, me disse, coloquei tudo para fora, mas só posso mostrar a ti.

Entramos no quarto, me abraçou, me pediu perdão pelo que ia ver.  Ele tinha desenhado tudo que tinha passado com ele, começava conosco na estação de trem, com meu pai atirado ao chão enquanto íamos embora.

Seguia por Paris, nosso embarque clandestino, Israel, foi quando começou a trabalhar para a Mossad, depois de esta na guerra, contava detalhadamente cada pessoa que tinha matado, desenhava perfeitamente a cara da pessoa, ele era um franco atirador, sempre trabalhava sozinho em tudo.  Das famílias que tinha assassinado, sempre cumprindo ordens, as cara das pessoas morrendo, ele executando.  Até a última, que tinha feito sem autorização, um dos homens que prenderam nosso pai, ele descobriu quem era, era o único sobrevivente dos três, dois eram da SS, além do vizinho.   Contava que tinha liquidado todo o resto da família dele, não sobrava nenhum, o da SS que estava vivo, um dos filhos do homem contou que era seu tio, que vivia escondido numa vila na França.   Foi até lá o matou diante de toda sua família.

Tinha se vingado, mas claro tinha contrariado as ordens do Mossad, que queria prender esse homem fazer um julgamento.  Me olhou quando via o desenho, eles não julgaram nosso pai, simplesmente o mataram, porque não tinha mais os diamantes, tinha trocado de bagagem contigo.  Confiou em ti, não em mim, por isso as vezes te odiava.

Lhe disse, já tinhas entrado, quando ele viu alguma coisa, creio que foi um gesto instintivo, como de defesa de nossa família.  Ele não me escolheu por algum motivo, simplesmente estava ali, pois tinhas entrado primeiro.

Eu sei, agora entendo tudo isso.

Me entregou, um maço de papel, guarde bem isso, um dia quem sabe poderás escrever sobre mim.

Dois dias depois desapareceu, tinha se jogado no Sena, lhe enterramos com seu nome verdadeiro, eu rezei o Kadish por mais um.  Henry ficou sabendo, telefonou para minha mãe, mas ela lhe bateu como telefone na cara.

Eu tinha lido o que ele tinha escrito, contava que tinha sido Henry que quando voltou da trabalhar, que o tinha recrutado por saber que era excelente franco atirador, para fazer esses trabalhos.

Depois tentou falar comigo, me neguei, Abraham, tinha ficado horrorizado com o que tinha lido, se apareces por aqui, sou capaz de te matar.  Fique aí escondido porque se te encontro te mato.

Segui vivendo com ele, agora quando ia de viagem ele me acompanhava, trabalhava com vários músicos, os ensinando a colocar a alma na execução de uma peça, dizia a técnica é importante, mas a emoção é vital.  Trabalhava pelas manhãs no conservatório de Paris, pela tarde com a orquestra.

Muitos diretores de orquestra pediam auxilio a ele.  Reclamavam que eu nunca aceitava convites para fora da Europa, o que não deixava de ser uma verdade.

Quando Rufus lançou seu primeiro livro, foi um sucesso imenso.  Era a história de um garoto que inventava histórias para sobreviver ao horror de tudo que via em sua volta.  Era assim que ele tinha superado sua infância.   Na parte final, falava de Israel, nunca tinha se sentido lá como se fosse sua pátria, ao contrario do Roger que fazia tudo para ser aceito.

Lhe passei os desenhos de Moshé, o texto que ele tinha escrito, escreveu mudando os nomes das pessoas, para não ter problemas.  Na verdade Moshé só sabia que tinham jogado nosso pai no chão, para prendê-lo porque Henry tinha contado o que seus informantes disseram.

Ele não tinha visto nada, lhe contei que na hora de subir no trem, ele como sempre tinha que fazer tudo na minha frente, tinha subido, eu fiquei por último, contei como tinha sido a cena, pois as vezes tinha pesadelo com ela.  Meu pai olhando para trás, vendo algo que eu não via, o movimento rápido, trocando nossa bagagem, como eu tinha imaginado anos depois as duas noites que passou na joalheria, desmontando joias, retirando as pedras preciosas para nossa sobrevivência.  As bolsas que tínhamos encontrado, na bagagem que me tocou, que até hoje minha mãe, ainda tinha umas quantas, na caixa forte de um banco.  Vendia alguma quando precisava de dinheiro, podíamos viver anos com o lucro.

Rufus conheceu uma professora como ele, que dava aulas na mesma escola, ela era mulata, se apaixonaram, foi um casamento distinto, os dois não tinha religião, podiam ter se casado por qualquer ritual, mas não, se casaram no civil, depois fizemos uma festa, entre sua família e a nossa ou o que sobrava dela.

Eu oficialmente contei a minha mãe o que acontecia comigo, ela riu, sempre soube, pela maneira como o olhas.  Não se preocupe. 

Rufus veio morar com ela, a família não parava de crescer, pela casa sempre tinha uma criança correndo, o que provocava risadas altíssimas da minha mãe.   Ela ensinava as crianças a falar o ídiche como tinha ensinado para nós.

Há uns dez anos atrás, um dia Henry apareceu, velho, usando um bastão, num carro oficial, veio falar em particular com ela, lhe pediu perdão, mas pela cara que saiu, vi que não o tinha dado, tentou falar com Abraham, mas quando o viu com o braço no meu ombro, desistiu, desceu a escada mais curvado que tinha subido.

Depois ela conversou conosco, chamou o Rufus, sua mulher para escutar, não posso perdoar, ele arrebatou dois dos meus filhos, não eram dele.

Agora tem remorsos, quer se livrar disso tudo, lhe disse que não iria ter ninguém da família para rezar o Kadish pela sua morte, pedi que saísse de nossa casa.

Tempos depois nos informaram de sua morte, mandaram uma fotografia, um grupo de homens ali em pé, na traseira, da foto, ele pediu que ninguém rezasse o Kadish para ele.

Para mim a morte que mais me tocou foi a da minha mãe, um belo dia não se despertou, era interessante nunca se queixava de nada, como odiava ir aos médicos, o que veio testemunhar, disse que tinha tido um enfarte dormindo.

Eu rezei mais um Kadish, agora os meninos do Rufus tinham aprendido, pois eu os tinha ensinado, me acompanharam como num coro.  Mas no seu enterro só fomos nós como ela queria.  Nesse dia lhe disse ao Abraham como estamos ficando velhos.  Ele riu a bessa, nem sabia a idade real que tinha, me contou toda sua infância, até que fugiu das mãos de sua mãe, que era uma cantora de Jazz, para fazer o que queria da vida.  Tocar clarinete. Quando fui tirar documentos, me perguntaram quando tinha nascido, não sabia, porque nunca tinha comemorado nenhum aniversário.  Acreditava que tinha 18 anos, quando procurei por ela para perguntar, ninguém sabia, tinha desaparecido, quando sua carreira começou ir a pique por causa das drogas.

Então resolveram que eu tinha 18 anos, precisava de documentos para poder viajar como grupo que tocava.

Agora devo ter quase noventa anos, ou mais, mas não me importo, tenho alguém que me ama como sou.

Eu estou com quase 85, ele já passou dos 100, mas vivemos bem, no mesmo edifício, com a família imensa do Rufus, que para escrever, escapa para nossa casa.  O livro sobre o Moshé fez muito sucesso, mas impediram sua publicação em Israel, a nós nos dava igual.

Reservei uma bolsa de últimos diamantes para mim, entreguei o resto para ele, pois tinha os meninos para mandar para a universidade.

De qualquer maneira, quando eu morra, será deles da mesma maneira.

De ser músico, passei a professor de músicos, substituindo o Abraham, mas vi que não era o que gostava, passei a me reunir com colegas que gostavam das mesmas músicas, íamos tocar pelas arcadas de Paris, para simplesmente fazer música.

Fizemos um pacto, que queríamos morrer juntos.  Um dia desses terá que ser, pois já só podemos usar o elevador que puseram no edifício, porque subir e descer essas escadas, nem por deus.

Os meninos, agora estão sempre lá em casa, eu ensino o pequeno do Rufus que se chama Abraham ou pequeno Abe, como dizemos, a tocar o clarinete, como diz o Abraham esse tem mais estradas que muitos por esse mundo afora.

Eu concordo, por isso o pequeno é uma sumidade, creio que já nasceu com a alma de músico, pois entende de tudo, isso que é o menor, algumas vezes, vamos ver seus concertos, mas antes toca para os dois, para ver se encontramos algum defeito na sua maneira de tocar.

É como se fossemos seus avôs.  Pelo menos essa parte segue.

O mais velho tem o nome de Moshé, Rufus reclama, que é um cabeça dura, eu lhe digo que a culpa tem o nome, tivesse escolhido outro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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