PARAÍSO
Meu nome por si
só fazia confusão, um mulato, cabelos loiros, olhos verdes, com o nome de
Jacques Bradtrush, metade americano, francês nascido no Brasil, no Rio Grande
do Norte, em Genipabu, é pedir muito, como explicar isso as pessoas, que nem
sabem como é seu próprio pais.
Isso aconteceu
comigo, mas cortei pelo sano, quando perguntava, dizia que meus pais como
gostavam de surf, faziam uma homenagem a Jacques Cousteau, ficava tudo por isso
mesmo, achavam maravilhoso. Quando
perguntavam pela minha cor, dizia que do surf, para tudo tinha uma explicação
simples.
O mundo já era
complicado demais para ficar contando histórias que ninguém ia entender mesmo,
a maioria das pessoas eram analfabetas de geográfica, pensava, passo disso.
Meu pai era
surfista, americano, Brad, tinha terminado um campeonato, guardou seu dinheiro
como sempre, queria relaxar-se, escutou falar de Genipabu, pediu informação de
como ir.
Lhe recomendaram
a Pousada do Francês. Lá foi ele com
suas pranchas de surf, quando chegou a Natal, alugou um jeep, no qual podia levar
as pranchas.
Tudo que queria,
era não pensar em nada, cada vez que falava com seus pais, ficava com a cabeça
cheia, pois eram muito chantagista, queriam que voltasse, assumisse os negócios
familiares.
Tenho que colocar
minha cabeça no lugar, relaxar, não pensar em nada, já surgirão soluções.
Quando entrou na
pousada, viu uma garota de uma beleza impressionante, morena, cabelos negros, super
compridos, olhos verdes, estava enfurecida.
Resmungava em
francês, como sempre sobra para mim.
Quando o viu,
ficou de boca aberta, pois ele no fundo também era muito bonito, alto, cabelos
queimados do sol, olhos verdes como os dela.
Quando ele pediu
um quarto, ela respondeu que só lhe sobrava uma cabana, a mais perto da praia,
que o pessoal nunca queria, pois dizia que o vento de noite fazia muito ruído.
Lhe explicou
isso, em português, ele rapidamente corrigiu, pedindo que falasse inglês.
Repetiu tudo.
Não importa,
durmo como uma pedra, riu dizendo, quando durmo, durmo realmente.
Assim se
conheceram, ele foi para passar uma semana, nunca mais saiu, dizia que tinha
caído no conto da Ondina, a sereia do mar.
Meu avô Jacques
aproveitou para ir deixando cada vez mais os dois tomando conta da pousada, se
dedicou ao que amava, pintar, quando tinha uma boa coleção, mandava as fotos
para Paris, depois juntava tudo, pagava uma fortuna para levar tudo de
avião. Vendia, voltava para casa.
Nasci no meio
disso tudo, minha mãe, falava comigo em português, meu pai em inglês, meu avô
em francês. Os garotos que mal falavam
português, diziam que salada tens em casa.
Tenho até hoje na
minha mesa de cabeceira, uma foto, em que estamos os três num prancha Long
Board, eu devia ter uns três anos quando me levaram para fazer surf.
Estar dentro
d’água, sempre foi minha paixão. Meu pai
quando algum hóspede fazia comentário, dizia que queres, filho de uma ondina,
com um pobre surfista, tinha que sair isso.
Eu ia a escola
mais próxima com a molecada toda que vivia por ali, mas era o melhor, as
professoras, diziam aos meus pais, esse menino precisa ir a uma escola em
Natal, para ter melhor escolaridade.
Mas isso significava estudar interno.
O jeito era meu
pai me levar todos os dias até a melhor, que fosse mais próxima, o que lhe dava
trabalho, me dizia ao ouvido, te espero compadre para irmos fazer surf de
tarde. Nunca reclamava. Era feliz, mas nem tinha noção disso.
Para mim voltar
para casa, no Jeep, já com as pranchas de surf ali em cima, parávamos em alguma
praia que tinha boas ondas, mudava de roupa, caiamos n’água.
A cada dois anos,
apareciam seus pais, Jacques, aproveitava para desaparecer, dizia que eram
pessoas muito chatas. Ela nunca colocava
sequer os pés na praia, achava horrível conviver com toda essa gentalha.
Ele tentava se
enturmar com o pessoal do hotel, mas ficava era atrás de meu pai, para
abandonar tudo para voltar. Passavam 15
dias, iam embora, sem terem convencido meu pai, de mudar de ideia.
Quando tinha uns
13 anos os escutei conversando na surdina, tentavam encontrar uma solução, para
que eu pudesse seguir estudando. Jacques
dizia que podia conseguir um internato em Paris, minha mãe não concordava, meu
pai dizia nos Estados Unidos, dizia claramente, ali tenho os chatos dos velhos,
mas pelo menos, nas festas ele podia ficar com eles.
Entrei furioso,
dizendo, que ninguém ia me consultar.
Minha primeira
pergunta, era aonde tem praia, pois não pensava deixar de fazer surf.
Meu pai disse que
ia conversar com um amigo seu, que tinha o filho da mesma idade, para saber
como fazer.
Mas só de pensar
em aturar os velhos, isso me desanimava.
Sabia que tinham muito dinheiro, mas tinha sido educado a ter o básico.
Meu pai começou
um verdadeiro doutrinamento, pois sabia como eram seus pais. Falava de tudo claramente comigo. Te darão muitos presentes, vão te prometer
mundos e fundos, para que fiques por lá. Mas no fundo só vão te querer por isso,
deixar um legado que terás que carregar nas costas.
Nem aceitar que
te paguem a escola, aceitarei, quando muito que passes alguma festa com eles,
para que possas te distrair da escola.
Íamos, juntos a
uma classe de Karatê, com um japonês, que como ele, chegou para umas férias,
acabou ficando. Inclusive lutava já
com os maiores, Sakura, dizia que eu era bom, pois sabia me defender.
Meus pais foram
comigo, para ver as escolas que seu amigo tinha falado, ela ficou surpresa,
pois meu pai nunca falava muito de como viviam.
Viviam numa bela
mansão em Los Angeles, segundo meu pai tinha contado no voo, tinha terras no
Texas, ia toda a semana para uns quantos dias, em seu avião particular.
Ela já tinha
preparado uma lista de escolas, ao contrário das de meu pai, para garotos de
família rica.
Ele como sempre
cortou pela raiz, quem vai escolher seja o Jacques, como a vida é sua, escolhe
ele. Ficou furiosa, dizendo que tinha
perdido muito tempo, consultado com todas suas amigas do Bridge, que ele era um
ingrato. Ele a imitava na cara dela,
sentada numa mesa, com um copo de whisky na mão conversando com as amigas.
Vi uma foto, com
meu pai, com outro garoto, perguntei quem era?
A cara do meu pai
mudou, disse que era seu irmão, mas que basicamente vivia internado num
hospital. Eram muito parecidos.
Não se tocou mais
no assunto como se fosse tabu.
No dia seguinte,
acompanhados do seu amigo, que fez uma festa tremenda quando o viu, com seu
filho ao lado, fomos primeiro a escola que ele estudava, embora ele fosse todos
os dias para casa, passava o dia inteiro lá, uma parte era para alunos
internos, a primeira pergunta que me fez, foi se eu gostava de surf.
Lhe disse que era
minha vida. Fez um sinal, sinalizando
seu pai, bem como o meu, como esses dois.
Eu detesto, na
verdade, passo a tarde inteira, na escola de música, aonde minha mãe é
professora. Meu pai, passa o dia inteiro
no escritório, quando tem tempo, n’água.
Gostei da escola,
mas não da cara dos professores que vi.
Uma outra da
lista, creio que a terceira ou quarta, gostei mais, era mais longe, mas apesar
de ter internato, tinha uns cursos mais modernos. Olhamos os quartos, eram todos individuais,
os banheiros entre um e outro sim eram compartidos.
Olhei a piscina, por
instinto, tirei toda minha roupa, fiquei de cueca, me joguei na água, antes que
meus pais pudessem falar alguma coisa, atravessei a piscina que era olímpica,
umas três vezes. Quando sai o professor ria, será meu aluno preferido.
Fiquei nessa,
deram uma lista de roupas que tinha que comprar, o uniforme era mais relaxado,
de acordo com o clima, podia usar roupas por cima, sem distintivo do colégio.
O professor de
natação, disse que uma vez ou duas por semana levava os alunos que queriam a
fazer surf na praia mais próxima.
A coisa seria que
eu iria passar as férias no Brasil, todos os anos. Meu pai acabou discutindo com os seus, fomos
para um hotel, ele pagou pelo ano inteiro na escola, me disse se não gostas,
depois me fala, íamos nos escrever sempre.
Guardei todas
essas cartas durante toda a vida.
Quando começou o
ano letivo, minha avó me levou a contra gosto, falando mal de tudo, dessa
escola. Mas meu pai tinha me dado a
solução, fazes de conta que escuta, coloca tua cabeça em outro lugar, mas nunca
concorde com nada.
Nos primeiros
tempo, nos horários de visita aparecia, mas depois desapareceu, dizendo que era
longe, que as outras mães, não tinha classe nenhuma.
Mas talvez a
realidade fosse outra, a maioria eram mães, que eram executivas de alguma empresa,
que lhes sobrava pouco tempo para a família, tinha outro tipo de conversa, se
vestiam melhor que ela, eram mais modernas.
Depois quando estava comigo, não parava de resmungar.
Fui passar ação
de graça com eles, ela preparou uma grande festa, preparar o modo de dizer,
encomendou tudo. Nesse dia chegou meu
tio, vinha acompanhado de um enfermeiro.
Era um pouco mais alto que meu pai, se parecia com ela, tinha os olhos
como fora de orbita, ficou me olhando, me chamou de Brad. Por mais que ela explicasse, ele dizia Brad.
Me mantive o mais
afastado dele possível. Vi que o enfermeiro lhe fazia tomar comprimidos, do
outro lado da mesa me olhou, a menor distração dos outros, cuspiu as mesmas no
prato.
Nessa noite tive
a primeira experiência com um pédofilo.
Estava dormindo, quando senti um peso em cima de mim, era ele
completamente desnudo, lhe apliquei um golpe, o jogando contra o armário,
quando avançou enfurecido, lhe dei outro, que lhe deslocou o queixo, começou a
gritar, até que o enfermeiro chegou, bem como meus avôs.
Que lhe fizeste,
como se eu fosse o culpado de alguma coisa.
Ele tentou me
atacar, me defendi simplesmente.
Ela ficou
furiosa, será que eu não entendia que ele era doente.
Eu mais furioso,
lhe soltei na cara, por isso devia deixar que ele abusasse de mim?
Ela ficou sem
fala, ainda soltei um “vá tomar no cu” velha fedorenta.
Que disseste, eu
repeti em inglês, ainda lhe dizendo que devia tomar mais banhos, invés de usar
tanto perfume fedorento.
Ficou de boca
aberta, o meu avô ria muito.
Uma hora depois
chegou uma ambulância para o levarem para o hospital que vivia.
Agora entendia por
que o tema era tabu.
Também se
desfizeram de mim rapidamente, no dia seguinte um empregado me levou a escola,
quando falei com meu pai, lhe contei tudo.
Estava uma fúria,
como puderam fazer isso, ele não é uma pessoa normal, quase me matou quando eu
era criança.
Acabei passando
as féria na casa do seu amigo, um dia fui a escola que dava aulas sua mulher,
ela fazia de tudo para que eu me sentisse a vontade.
Estava andando
pelos corredores, escutei um som diferente, abri a porta, vi um senhor de uma
certa idade, concentrado em cima de um instrumento, que descobrir depois era o
Violoncelo, fiquei fascinado, era como estar em cima de uma prancha de surf,
cavalgando uma onda.
Devo sem querer
empurrado a porta, entrei me encostei na parede, fui deslizando para o chão,
ele parecia não me ver. Eu estava
embelezado.
Quando acabou,
estendeu o arco, me dizendo se eu queria experimentar?
A música
continuava na minha cabeça. A primeira
coisa que fiz, foi alisar o instrumento, como dizendo olha sou eu, fazia muito
isso com a prancha, depois passei a mão pelas cordas, explorando o som que
sentia baixo minha mão, foi como uma conversa muda com o instrumento. Senti como se uma lembrança muito antiga
voltasse a minha cabeça, era algo diferente.
Sem saber muito
por que comecei a tocar, fui saber depois que era uma música de Vivaldi. A cara
do velho era impressionante, quando terminei, dei um suspiro profundo.
Na sala além
dele, estavam Marie e Andrés, me olhando assustado.
Não sabia, que
tocavas violoncelo Jacques.
Lhe respondi normalmente,
mas não sei tocar, isso foi alguma lembrança que estava guardada na minha
cabeça.
A partir desse
dia, ia todos os dias aprender a ler partituras, aprender a tocar, mas ao final
ele deixava que eu tocasse o que quisesse.
Ruben o velho
professor, conversou com meu pai, ele vivia justo ao lado do internato, passou
a ir todos os dias me dar aulas. Mas me
dava um tempo depois para minha comunhão com o instrumento.
Meu pai me
escreveu, que ele soubesse na família dele, não tinha ninguém que tocasse
instrumento nenhum, da minha mãe igual.
Quando finalmente
fui de férias ao Brasil, um dia andando com meus velhos amigos, descalços
pelas, ruas, uma senhora me chamou pelo nome.
Avise a tua mãe,
para vir me visitar contigo. Alguns
diziam que era louca, para alguns era uma cartomante louca, pois usava umas
roupas muito raras.
Falei com minha
mãe, essa sim a conhecia, quando a vi pela primeira vez me disse, me falou do
teu pai, que eu o ia conhecer, que teria um filho especial.
Lá fomos os dois,
sua casa, era um lugar totalmente especial, ficava no meio de um pedaço da
floresta ainda existente. Cheirava a
incenso de canela, que foi o que senti.
A primeira coisa
que soltou, não te disse que ias ter um filho muito especial. Me fez sentar na
frente dela, me soltou mil coisas, que eu era a reencarnação de um músico que
todas as encarnações, voltava como musico, que tinha alma de cigano, que ali a
praia sempre seria meu paraíso, mas que eu andaria o mundo inteiro, fazendo
música.
Tirou de um
armário um violino, colocou em minhas mãos, fechei os olhos, comecei a tocar, quando
me dei conta, ela como minha mãe choravam, sabia que musica era, era alguma
coisa muito antiga.
Ela disse para
minha mãe, minha missão está cumprida, quando íamos embora, me deu a caixa do
violino, me dizendo, toma que é teu.
Semanas depois
fomos ao seu enterro, ninguém sabia, nem seu nome verdadeiro, apesar de estar
ali a muito tempo, a maioria das pessoas era mulheres. Tinha deixado um
bilhete, pedindo que eu tocasse no seu enterro. Nada de igreja, que a enrolassem num pano
que estava no armário, um sudário descobri depois que a enterrassem assim,
embaixo de alguma árvore.
Toquei é claro a
mesma música, nessa noite tinha sonhado com ela, me dizia, aconteça o que
acontecer, siga tua vida tocando música.
Quando voltei com
o violino embaixo do braço, o velho professor, riu, não me diga que sabes tocar
esse também. Toquei uma música, ele
estava chorando quando parei, eram uma czardas, muito antigas, como sabias que
eu gostava justo dessa. Não sabia
responder. Dias depois sentado esperando
por ele na sala de música, vi pela primeira vez o piano aberto, alguém tinha
usado antes. Fechei os olhos, me senti em outro lugar,
quando abri os olhos, ele estava me olhando com uns olhos brilhantes, meu
garoto, eres uma caixa de surpresa.
Na vez seguinte
de visitas, quem apareceu foi meu avô, dizendo que precisava falar comigo,
estava na época que eu devia escolher o que iria fazer em temos de
universidade.
Soltou uma
conversa larguíssima, que eu devia pensar na família, que devia estudar para
aprender administrar os bens que ele tinham.
Fiquei olhando
para ele, me deu pena, fiz uma coisa, que talvez meu pai devia ter feito a
muitos anos, coloquei a mão em cima da dele, falei baixinho, sinto muito
decepciona-lo, mas meu rumo é outro, acho que o melhor que o senhor faz, é
liquidar tudo, depositar um dinheiro para que seu filho que vive no hospital,
possa sempre ter cuidados, viver o resto da sua vida tranquilo.
Na verdade meu
filho, tudo isso é dela, mencionava minha avô, eu sou um mero brinquedo nas
mãos delas.
Ri, pois já tinha
percebido isso, pois volta e meia ela soltava alguma barbaridade.
Pois está na hora
do senhor seguir com sua própria vida.
Todo mundo ficou
surpreso, meu pai chegou a vir, para tentar acalmar a situação, pois ele tinha
pedido o divorcio dela. Ela embora
soubesse, tinha engolido tudo a muitos anos, com medo do que suas amigas iam
pensar.
Tinha outra
família, no Texas, por isso ia sempre para lá, dizia que pelo menos lá tinha
paz.
Nesse momento,
todo o podre da família veio à tona, o filho mais velho, que estava no
hospital, era só dela, quando se casaram ela já tinha esse filho, meu pai sim
era filho dele.
Meu pai tinha
sempre medo disso, que ele tivesse herdado os genes que tinha o outro. No meio de muito drama, contou que ele era
filho de um tio seu, que tinha abusado dela quando jovem.
Acabou tudo em
pizza, meu avô foi viver com sua outra família, aonde só tinham mulheres.
Ela ficou sozinha
na mansão, fez todas as chantagens possíveis para que meu pai voltasse, que eu
fosse viver com ela. Mas eu já tinha
resolvido minha vida.
Iria fazer provas
em dois lugares, na escola de música de San Francisco, bem como na Juilliard,
fui aceito nas duas.
O velho dizia que
eu não precisava de escolas, que já sabia tudo que necessitava. Mas meu pai queria que tivesse um diploma. Ainda na dúvida, um dia conhecendo a cidade,
com ele, minha mãe, vi uma escola de pintura.
Ela ria, temos um
filho artista não resta dúvida.
Mas fiz o curso
que tinha me proposto a fazer, que era de composição. Me saia bem, conseguia fazer alguns
trabalhos, que sabia que estavam em alguma caixa perdida da minha memória.
Quando apresentei
a primeira vez, junto com alguns companheiros da escola, a tinha transcrito
para piano, violoncelo e violino, pensaram esse garoto vai apresentar alguma
coisa chata, mas qual, tinha modernizado a música.
Fui descobrindo o
Jazz, depois alguns músicos contemporâneos, mas tinha um estilo completamente
próprio. Com se tivesse incorporado
todos os instrumentos em minha alma.
Fui passar as
férias, saindo do inverno de NYC, aonde vivia num pequeno apartamento no último
andar de um edifício, para poder tocar sem incomodar os vizinhos.
Quando cheguei a Genipabu,
não queria saber de nada, tudo que pensava era estar na água o dia inteiro, de
branco do inverno que estava, logo estava moreno como sempre, ficava o dia
inteiro na água, minha mãe reclamava um pouco, mas meu pai, dizia, deixa esse
menino relaxar.
Um dia que chovia
muito, sentia minha alma triste, peguei o violino, comecei a tocar a música que
o velho professor gostava, algum hóspede escutou, perguntou para minha mãe,
quem estava tocando.
Ela lhe explicou
que eu estava de férias, que estudava música em NYC, o pessoal que estava
tomando café pediu se podia tocar ali no salão, já que não podia sair por causa
da chuva.
Antes disse para
minha mãe, o velho morreu, sonhei com ele, veio se despedir de mim.
Mas atendi, fui
para o salão, comecei a tocar a música que estava fazendo, o violino, era como
uma caixa, tanto dedilhava, como batia na madeira, era como uma caixa a
explorar.
Quando terminei,
a mesma senhora perguntou a minha mãe, se podia me apresentar.
Veio falar comigo
em inglês, meio macarrônico, mas percebi que era francesa, lhe respondi em
francês. Ficou deliciada.
Era, agente de
grandes músicos na Europa, embora vivesse em Paris, terás o mundo aos teus
pés. Pediu se eu podia gravar essa
música, que eu devia sempre registrar as músicas.
Depois a vi
falando por telefone, com alguém que, discutia, como dizendo, não querias algo
novo para tua orquestra, creio que esse rapaz dará vida a tudo.
Ok, mandarei a
gravação.
Todos os dias,
conversávamos, lhe tocava alguma coisa que estivesse trabalhando. Antes de ir embora, suspirou, voltarei sempre
ao paraíso, fazendo um gesto por tudo em volta dela. Te espero em Paris, me deu seu cartão, se
quiseres, assina um contrato de representação comigo, tentarei colocar tua
música na orquestra de Paris.
Dois dias depois
ligou dizendo que tinha conseguido, mas que eu tinha que ir, para ajudar o
maestro a ensaiar com os integrantes da orquestra.
Meu avô tinha
muitas amizades em Paris, começou a telefonar, com minha mãe é claro reclamando
de tantas chamadas internacionais.
Afinal lhe mandaram umas fotos, me mandou escolher aonde ficar. Lhe disse novamente o que precisava.
Ficou rindo, eu
vivi quando jovem num apartamento que amava, contou que era da província, que
quando tinha chegado, indo estudar na École de Beaux Arts, tinha conseguido um
apartamento, era jovem, podia subir as escadas, é um 5º andar, além da vista,
não tens vizinho de nenhum lado, andava completamente nu. Isso ele fazia até hoje no seu studio,
quando aparecia alguém colocava um pareô, para enganar.
Buscou, até
encontrar o proprietário, para minha sorte estava vazio, o homem ficou de
pintar o mesmo, condicionar melhor.
Faria um preço mais barato, para seu antigo inquilino.
Madame Fleury,
foi me buscar no aeroporto, minha bagagem era pouca, minha caixa de violino, o
violoncelo, por último, um clarinete que tinha encontrado em Natal, numa loja
de antiguidade, sabia que o mesmo precisava de alguém o arrumasse, mas tinha me
apaixonado por ele.
Foi presente de
minha mãe, antes de me abraçar no aeroporto.
Eu pensando, como
subir tudo isso, mas para minha surpresa tinha agora um elevador, no meio da
escadas. O velho amigo de meu avô
esperava na porta. Apesar de ser
pequeno, fui subindo de escadas com o clarinete, parecia não se despegar da
minha mão.
Ele subiu
primeiro com o violoncelo, minha pouca bagagem, ela depois com o violino,
quando cheguei bem acima, fiquei deslumbrado com uma claraboia que tinha, com
motivos floridos, imediatamente na minha cabeça surgiu uma música para o
clarinete.
O apartamento era
pequeno, um quarto, um salão grande com cozinha americana, banheiro, mas tinha
uma varanda fechada, segundo ele a pouco tempo, mais ao fundo, como uma cabana,
disse que o anterior proprietário tinha construído sem ninguém saber, era de
madeira, dizia que o mesmo usava como studio.
De um lado, tinha o Cimetiére de Montmartre, o edifício, ficava numa
esquina, com a rue Des Abbesses, cheias de bistrôs, padarias, todo um comércio,
estarás bem servido aqui, me mostrou pela lateral do cemitério, eu tinha uma
parada de ônibus, se andasse pela rua De Abbesses tinha uma estação do Metro,
quase na porta, numa rua que descia tinha outra parada de ônibus. Me disse que tinha deixado um mapa da
cidade, bem como uma guia de metrô outra de ônibus, ele vivia no térreo. Quando lhe perguntei se iria incomodar os
outros com música?
Ele disse aqui se
fizeram muitas festas, os únicos incomodados, são os residentes no cemitério,
sinalizando o que tinha ao lado, riu muito, acabei entendendo.
Minha urgência na
verdade era conseguir um lugar para consertar o clarinete, Madame, ficou
surpresa, mais um instrumento.
Lhe disse que
tinha uma música na cabeça, precisava urgentemente consertar o mesmo.
Venha, vamos ao
trabalho, parou um taxi logo a saída do edifício, vinha um ônibus atrás, ele
serve disse eu, nos levará até a Ópera.
Não, é que vamos
para a Ópera da Bastilha, venha suba de uma vez, a caixa do clarinete, parecia
pegada a minha mão.
Foi me arrastando
pela entrada de funcionários, como se fosse mais um deles, quando perguntaram
por mim, disse que o diretor nos esperava.
Estava ensaiando
minha música, notei logo duas coisas erradas, falei com ele rapidamente, fui
até o rapaz que tocava violoncelo, disse três notas que estava tocando errada, me
olhou assustado, eu podia ser seu filho, mas era educado. Depois fui até o solista de violino, pedi
desculpas, mas ele não tinha entendido a música, pedi licença, peguei seu
violino, ele ficou com os olhos em pratos, quando eu falei com o violino,
perdão companheiro, me apossar assim de ti, mas quero que explicar o que quero
dizer.
Fechei os olhos
alisei o violino, todos olhavam com um sorriso na cara, segundo me contou
Madame. Comecei a tocar, quando acabei,
o senhor do violino, disse agora entendi.
Minha a resposta
o deixou desconcertado, devias falar mais com teu violino, pois ele entendeu,
agora te fará tocar direito.
O diretor me
perguntou se eu falava com todos os instrumentos?
Claro senhor,
eles tem alma, é necessário, entender os mesmos, faze-los sentir-se importante.
Ele ia dizer
alguma coisa, abri a caixa do clarinete, pedi ao rapaz que tinha um na mão,
podes olhar para mim, o que está errado no mesmo.
O desmontou em
seguida, uns segundos depois me devolveu.
Já vamos
trabalhar, disse a orquestra, mas isso é mais urgente, pois senão não sai da
minha cabeça. Comecei a tocar a música
que tinha na minha cabeça, desde que tinha a caixa na mão, a cara do pessoal
era ótima. Quando acabei, disse ao
rapaz, obrigado, quando coloque na partitura, te passo para tocares.
O maestro me
perguntou se eu tocava clarinete, lhe respondi que não, é a primeira vez que o
faço.
Me aplaudiram, eu
fiz um gesto de deixem disso, vamos trabalhar.
Tocaram o
primeiro movimento da minha composição, fui corrigindo os erros, com a
partitura na minha frente. Num pedaço
que todos erravam, vi que tinha um borrão, alguém tinha mexido na
partitura. Comentei com o maestro, por
isso soa tão mal, quem fez isso.
Ele levantou o
ombro dizendo que tinha sido ele. Não
tinha entendido o conceito.
Veja, disse eu,
me sentei no piano, toquei como tinha composto, o que falta aqui, é o piano,
não tens pianista?
Esta doente, não
poderá tocar na estreia, por isso eliminei essa parte.
Veja é fácil,
tornei a tocar outra vez, expliquei a parte que o pianista deveria fazer uma
improvisação, peguei um pedaço do começo, toquei, vê, essa é a lógica da música,
como nesse momento, se sentisse falta do motivo que começa a composição.
Já que estamos
ensaiando, podes tu ficar com o piano.
Tudo fluiu
naturalmente.
Saíram para
descansar, o rapaz do clarinete se aproximou, dizendo que tinha amado a música,
lhe expliquei o que queria dizer, veja bem, se significa alguma coisa de ritmo
brasileiro com algo muito francês, lhe disse um compositor que incluía sempre o
clarinete em suas composições. Ficamos
os dois tocando esse pedaço que lhe dizia, ele ria, é muito interessante.
Madame tinha
compromissos, te deixo nas mãos do pessoal, alguém vive para os lados de Les
Abbesses?
O do clarinete
disse que sim, depois lhe levo, antes se apresentou, Joubert, amaria tocar essa
música completa.
Passarei para
partitura, depois falamos. Voltamos a
ensaiar, novamente, agora funcionava pois o pessoal tinha entendido. Mesmo assim consertei duas coisas, de minha
parte, experimentamos, pedi desculpas, essa música surgiu no paraíso, por isso,
tudo está na minha cabeça.
Depois todos
queriam saber o que eu queria dizer com paraíso, contei que era o lugar que
tinha nascido.
Era uma homenagem
ao meu professor de violoncelo, violino e piano. Tocas tudo isso, comentaram.
Joubert tinha uma
vespa, depois me levou com ele, foi uma sensação maravilhosa, pensei, tenho que
ter uma para me locomover. Teria um
problema, em levar o violoncelo.
Lhe disse que
precisava comer, estava morto de fome, tinha tomado o café da manhã no avião,
depois mais nada.
Perfeito, venha,
vou te levar a um lugar especial, é o restaurante de meus pais. Era um pequeno bistrô, justo numa
esquina. Sua mãe, saiu da cozinha com um
avental, o beijou, me apresentou, dizendo quem eu era. O compositor da música que estava
ensaiando.
Muito jovem, me
beijou dizendo que tinha cara de fome.
Me comeria um
cavalo, lhe respondi, se matou de rir.
Nos fez sentar
numa pequena mesa, perto da porta da cozinha, em seguida, tínhamos comida, nem
sei como chamava o prato, pois o devorei.
Tomamos um copo de vinho, uma garçonete soltou, agora para pagar, deviam
tocar alguma coisa.
Os dois tiramos
os clarinetes, uma cliente pediu, Clair du Lune de Debussy, ele pediu
desculpas, mas tinha aprendido a tocar hoje, lhe disse que não me importava,
coloquei o clarinete na boca, falei baixinho com o mesmo o nome da música,
imediatamente me veio na cabeça como a tinha escutado, comecei a tocar, ele
junto, as pessoas paravam do lado de fora do bistrô para escutar.
Nos encaixávamos
perfeitamente combinando os sons. Ao
final o pessoal aplaudiu, rimos muito os dois.
Sua mãe, ria dizendo, ele fala com o instrumento.
Sim mamãe, toca,
violoncelo, violino, piano, agora clarinete, no final de sua vida tocara a
orquestra inteira. Hoje pela primeira
vez tocou uma música que estava na sua cabeça.
Contei que minha
mãe tinha me feito uma surpresa, tínhamos visto o clarinete numa loja de
antiguidades, mas estava fechada, ela foi lá comprou, me levou ao aeroporto, me
deu de presente, passei o voo inteiro com a mesma ao meu lado, falando sobre
essa música, por isso sabia.
Toque por favor, fechei
os olhos, atendi, saiu como uma torrente maior, do que tinha imaginado, agora
estava quase completa, sentia uma voz dizendo tens que melhorar essa parte, que
era como se fosse um bumba meu boi do folclore brasileiro.
Repeti esse
pedaço, até eu gostei do som.
Não precisa pagar
a comida verdade, falou com os clientes dali.
Fui mostrar minha
casa para o Joubert.
Ele pelo caminho
ia dizendo que eu tinha mudado um pedaço da música, lhe disse que tinha
incorporado uma ritmo do bumba meu boi, tive que lhe explicar o que era.
Nem tinha aberto
a maleta ainda.
Estava encantado
com o apartamento, eu quando tenho que ensaiar é um inferno, pois os vizinhos
reclamam.
Venha quando
quiseres, ele viu minha cara de cansado, se despediu, nos vemos depois.
Vi que descia
pela escada cantarolando a música nova.
Imediatamente surgiu na minha cabeça uma letra para a mesma.
Tomei um belo
banho, desmontei a maleta, sem roupa nenhuma, o tempo estava ótimo, em seguida
me joguei na cama, tive o sonho dos justos, mas umas horas depois comecei a
sonhar com o compositor que tinha morrido na desgraça.
Me falava da
letra, transformaste uma simples música de desengano, numa bela composição,
obrigado.
Me levantei,
comecei a colocar na partitura tudo, o ritmo do bumba meu boi, anotando ao
mesmo tempo a letra.
Peguei o
clarinete, toquei, ficava excelente, acertando o ritmo.
Depois
experimentei colocar no violoncelo funcionava, fui escrevendo as partituras,
tinha sempre que me controlar, pois essas coisas me absorviam, quando ia
experimentar piano, me dei conta que não tinha.
Teria que conseguir um desses tipo armário, pequenos, mas ali não
ocuparia espaço. Precisava fazer
compras antes que fosse tarde, desci, rindo a toa, pois estava num lugar que
era meu sonho desde garoto, Paris, escutava tanto meu avô falar da cidade que as
vezes me tinha imaginado andando por ela.
Entrei num
pequeno mercado, comprei o que tinha imaginado, precisava agora de pão, me
indicaram aonde podia comprar a estas horas, me topei com o Joubert, que tinha
cara de chateado. Que foi que te
aconteceu?
Nada demais, como
sempre querem mudar o rumo da minha vida.
Hoje meu pai me perguntou se era isso que eu queria, ficar tocando num
restaurante a troca de comida.
Eu o entendia,
lhe contei dos meus avôs americanos, mas aprendi com meu pai, que a vida é
minha que eu tenho que fazer o que gosto.
Lhe perguntei
aonde poderia nadar, pois tinha sempre muita necessidade de água.
Ficou rindo, tu
eres uma caixa de surpresa.
Me perguntou
pelos meus sonhos, se era tocar numa grande orquestra?
Não, meu sonho é
ter um pequeno grupo, para tocar as músicas que goste.
Eu também,
imagina na orquestra não tens muitas oportunidades, ainda bem que esse novo
maestro, gosta de composições modernas, senão se fica repetindo sempre o mesmo,
vou te apresentar outros como eu que sonham com isso.
Ficaram
conversando, lhe perguntou como poderia conseguir um piano tipo armário, o duro
será subir.
Amanhã te levou a
uma casa de instrumentos, vais jantar?
Comprei coisas
para um sanduiche, mas me esqueci de verificar se a geladeira está ligada.
Me arrastou, até
um bistrô numa praça, quase entrada do metro, pediu um vinho para os dois, além
de algumas coisas para comermos. A
comida aqui é super barata, é argelina.
Ficamos falando
sobre música, lhe contei aonde tinha estudado, esclareci que tinha estudado
composição, com bons professores.
Mostrei no
Youtube a apresentação com os amigos da escola, isso gostaria de ter.
Inclusive, se for
para pagar a comida, gosto de tocar na rua, por exemplo num lugar como esse,
com alguma coisas come, além de dar música a vida destas pessoas. Num rompante, se dirigiu ao senhor ao lado,
que tinha cara triste, lhe perguntou qual música gostava.
Ele respondeu uma
de Gilbert Becaud, Et Maintenant.
Tinha escutado
tantas vezes seu avô cantar, que soltou a voz, cantando para o homem, que
sorria, vês a música faz as pessoas felizes.
Joubert ria, mais
um pouco serás totalmente um deus em Montmartre, riram a bessa o senhor
agradeceu, fez um gesto ao garçom que pagava ele.
Saíram dali,
rindo, vê, pelo menos ganhamos a comida.
Como conhecia a
música, lhe explicou que escutava seu avô cantando músicas francesas no seu ateliê,
meu avô era daqui, se chama Jacques, dele herdei o nome. Aproveitei para comentar que me tinha surgido
uma letra para a música, queria saber se conhecia alguém que cantasse, para
experimentar.
Amanhã te
apresento uma amiga que é do coro, tem uma voz fantástica.
Chegaram mais
cedo, pois queria experimentar no piano como ficava a música, foi escrevendo a
partitura, não viu que o regente da orquestra estava na porta, escutando.
Paras em algum
momento?
As músicas que
tenho na cabeça não deixam, ontem já transcrevi para violoncelo, clarinete, mas
me faltava o piano, não tenho em casa, mais tarde faço para violino. Contou que tinha surgido na sua cabeça uma
letra para a música.
Passou a lhe chamar
de “boîte surprise”, caixa de surpresa, espero poder dirigir mais músicas tuas,
foram conversando indo em direção ao auditório.
Trabalharam
arduamente, depois perguntou se ele queria tocar o piano na apresentação,
aquela improvisação, fazes genial.
Não tenho roupa,
para estar com a orquestra.
Não se preocupe,
aqui tem um vestidor da ópera, podes conseguir.
No intervalo
pediu para ele mostrar de novo a música, com a parte cantada.
Ele o fez em
português. Mostrou como gostaria de apresentar.
Podia ser comigo
ao piano, Joubert no clarinete, uma pessoa no violoncelo, uma cantora.
Vamos ensaiar de
tarde, arrume a partitura no violino, fazemos como um bis, o que acha, mas
avise Madame, para poder cobrar.
Telefonou para
ela, que disse que com certeza estaria ali, me prepare uma cópia das partituras
para poder registar.
Ele queria
colocar o nome do compositor original.
Tinha que falar com ela, mas foi para uma sala fazer a partitura no
violino.
Joubert veio falar
com ele acompanhado de uma jovem, não era bonita, se via que tinha ascendência
árabe, Fethima.
Só um minuto,
para acabar de escrever a partitura do violino, não estava com o mesmo na mão,
Joubert perguntou como fazia?
O tenho na
cabeça.
Sentou-se ao piano,
tocou a peça inteira, agora vou cantar para ti.
Soltou sua voz, como na noite anterior.
Escreveu a
música, foi lhe ensinando a pronuncia, pois o ritmo ela pegou fácil.
Quando os
chamaram, foram para o palco, o diretor tinha escolhido, um para o violino,
para o violoncelo, Joubert para o clarinete.
Apresentou a moça, ele perguntou se ela era do coro.
Ela disse seu
nome, Fethima.
Cada um com a
partitura, começaram a ensaiar, virou-se, Jacques, qualquer coisa, me corrija
ok.
Ficava super
bonita para tocarem junto, faltava algo de percussão, foi até aonde estavam os
instrumentos, encontrou um triangulo, bem como um chocalho.
Joubert, correu
para ver se encontrava alguém de percussão por ali.
Trouxe um rapaz,
ele explicou o ritmo, demorou mas pegou.
Vamos outra
vez. Ficava mais completa.
Madame que
assistia tudo desde a plateia.
Bateu palmas no
final. De aonde saiu essa música.
Do clarinete.
Perguntou para
ela, se podia fazer uma coisa, essa música a base dela é de outra pessoa, está
morta, podíamos colocar o nome dele, com arranjo meu.
Se é assim o
dinheiro não tem para onde ir, faça o seguinte, em homenagem à fulano de tal.
Pensou, está bem.
Ela levou uma
cópia das partituras para registrar. Vou
ficar rica contigo “mon garçon” se despediu rindo.
Ele ia falar da
roupa, mas Rodrigo Hauser o diretor da orquestra apareceu com uma senhora, que
o arrastou para o guarda-roupa. Olhou
seu tamanho, o levou a parte, escolha.
Tudo era negro,
ufa, odiava se vestir de negro, comentou isso, tampouco usava branco.
Ela riu a bessa,
chamou uma outra senhora Carol, escute isso.
Mostrou uma roupa
usada numa ópera, era um traje marrom com a solapa em laranja, isso eu gosto
soltou ele.
O fizeram
vestir-se, mas lhe disseram, quieto, pois o pessoal não está acostumado a isso.
Mais dois dias de
ensaio, foi buscar o traje, guardou no camarim que lhe tinham dado.
Quando a senhora,
acompanhada com a Carol, apareceu, ele estava queimando canela, sentado na
frente do espelho.
Ficaram
surpresas. Para os espíritos disse ele.
Quando o diretor
da orquestra o viu, só pode rir, Mon Dieu, surprise.
A orquestra já
estava no palco. Tocaram primeiro uma
música de Mozart.
Quando terminaram
os aplausos, o diretor, anunciou, agora em estreia mundial, a obra de um jovem
compositor brasileiro, com sangue francês nas veias, “um Boîte du surprise”,
Jacques Bradtrush, ele hesitou, pensou, meus amigos, comigo. O diretor, foi até ele, para o apresentar, os
aplausos, entre surpresas pela sua roupa, foi bom. Se sentou no piano, colocou
as mãos sobre as teclas, meu amigo, me acompanhe por favor.
O diretor já
sabia o que ele fazia, esperou. Quando
ele inclinou a cabeça, começaram a tocar a música.
O público,
esperava uma composição contemporânea, dessas chatas, mas escutou uma melodia
totalmente particular, as partes do violoncelo surpreendiam, se ele estivesse
tocando, pensaria no professor.
Quando
terminaram, o público aplaudia de pé, viu Madame na primeira fila, com algumas
pessoas que deduziu que conhecia. Lhe fez um sinal positivo. Ele pediu um microfone, essa composição, foi
feita para meu professor, a pessoa que me descobriu Andrei Ivanovich.
O diretor, agora
como bis, vamos tocar uma composição, em homenagem a Vicente Domingo, um
compositor brasileiro.
A orquestra se
retirou, rapidamente arrumaram o cenário, ficaram só eles. Viu que Fethima,
estava nervosa, colocou a mão sobre a dela, relaxa, sorriu.
Desta vez tinha
um microfone em cima do Piano, essa música esta feita em cima do Bumba meu Boi,
uma festa tipicamente brasileira.
O diretor deu o
sinal, foi tudo de um fôlego só, quando terminaram o público estava em pé, ele
fez questão de apresentar cada um, deixou por último a Fethima. Como hoje é
minha estreia, também é a da minha querida Fethima.
Agora vou repetir
um trecho que me é querido, tinha ensaiado com ela, além do percursionista,
cantaram os dois dentro de um ritmo, o público se levantou outra vez, sem
querer olhou para a plateia, lá estava o homem dos seus sonhos, fazendo um
sinal afirmativo.
Quando saiu,
tinham vários jornalistas com Madame, querendo lhe entrevistar.
Iriam repetir o
recital, mas três vezes.
Ela estava super
feliz, foi apresentado aos jornalistas, um lhe perguntou, porque das cores, ele
sem pensar, respondeu, para mim as músicas têm cores.
Ela disse que no
dia seguinte teria que estar num programa famoso, por ser domingo, para tocar
alguma coisa, ele disse, só se for com meus companheiros, além do diretor.
A viu ficar
nervosa, discutindo com alguém, até que concordaram. Avisou a todos.
O diretor, disse
que a gloria era dele.
Mas se você não
tivesse aceitado a música, não estaria aqui.
Ela os convidou
para jantar. Antes, ele foi até a porta
aonde estavam as senhoras do Guarda-roupa, levando duas taças de champagne, as
fez entrar.
O diretor, ria, é
que expliquei que não gostava de roupa negra, nem branca, ela me arrumaram
essa.
Foram jantar, no
restaurante que ela tinha escolhido, as pessoas se levantaram para aplaudir,
pelo visto isso era como uma armadilha dela, para glorifica seu protegido.
Um homem falou
com ele em inglês, que gostaria de apresentar as duas músicas com a Orquestra
de Berlin. Ele indicou a ela. Pode
negociar.
Depois na mesa,
disse que a segunda música, só se fosse com o Joubert, como Fethima, eu se
fosse vocês os tinha como seus protegidos.
Realmente ela tem
uma voz linda, tens razão.
Viu que tinha um
piano, se levantou depois de comer, levou sua taça sem tocar de champagne,
saudou todo mundo, disse que tinha sentido falta de seu avô, ele ia adorar
estar ali, disse seu nome, um pintor francês que vive no Paraíso, Genipabu.
Colocou a mão
sobre o piano, pediu licença. Começou a tocar várias músicas que o escutava
escutar e cantar. Acabou com Et
Maintenant. Ainda escutou um dizendo, o
filho da puta também canta.
Quando chegou em
casa, estava morto, só pensou, já estou no mundo. Caiu redondo dormindo, despertou com alguém
batendo na porta.
Era o
proprietário com jornais, eu fui ao concerto ontem, achei o máximo.
Todos falam em
ti, apertou sua mão. Não sabia que tocas
piano, tenho um guardado no sótão, foi de um senhor que viveu no andar de
baixo, quando morreu, os sobrinhos não queriam, diziam que não valiam
nada. Se queres posso subir.
Agradeceu, ia
adorar.
Logo depois
chegou Madame, Joubert, o abraçaram.
Falavam de um
solo que ele tinha feito, minha mãe adorou, esfregou na cara do meu pai, o
jornal falando do seu filho.
Fethima, era elogiada
pelo seu tom.
Foram almoçar no
bistrô dos pais do Joubert, a mãe tinha ido ao concerto, tinha assistido desde
a galeria. Chorei muito vendo meu filho
fazendo o solo, sabia que ia ser bom.
Fethima, chegou
atrasada, minha família está como louca, nunca saímos no jornal, imagine.
Madame, virou-se
para os dois, tenho que falar com vocês, ele foi convidado para apresentar as
duas músicas em Berlin, mas disse que só vai se vocês forem.
Ficaram de boca
aberta.
Ele se desculpou,
dizendo que eles tinham entendido a música, imagina ensinar para um alemão.
Ficaram rindo.
A mãe do Joubert,
ficou repetindo, Berlin, imagine.
Madame tinha
mandado o vídeo para seus pais, falando inclusive de Berlin.
Queriam saber as
datas para poderem estar.
Nesse meio tempo,
lutava para encontrar uma pessoa para fazer os sons que tinha na sua cabeça,
sem achar. Tinha considerado o que
tinham apresentado um pouco nulo.
Se dedicava agora
que era verão, ir para um lugar que tinha descoberto um dia, voltando da Ópera,
uma acústica perfeita, a Place Les Voges, aonde nos dias de afluência de turistas,
artistas se apresentavam. Comprou um
traje moderno, ou levava o saxofone, tocava músicas que lhe vinham a cabeça, ou
o violino, um dia ia chegado, justo no lugar que estava sempre, tinha um homem
cheio de instrumentos, mais estapafúrdio possível. Primeiro ficou escutando, viu que ele no
fundo tocava uma música diferente, fez um sinal como dizendo posso tocar. Abriu sua caixa do clarinete, começou a tocar
a música que vinha do homem, esse ficou com os olhos abertos, seguiram tocando
juntos. A caixa do clarinete, logo
ficou cheia de notas de cinco e dez euros.
Quando pararam, ficaram rindo um para o outro.
Estenderam a mão
se apresentando Jacques.
Me chamo Aribô, sou
do Benin, ficaram conversando, nesse momento chegava o Joubert com quem tinha
combinado tocarem qualquer coisa.
Escute o que vou
tocar, comentou do bumba meu boi, fazendo a marcação na caixa do instrumento,
tocou o pedaço que ele queria. Em
seguida o outro acompanhou com a percussão.
Passaram o resto
do dia fazendo improvisações o três.
Quando iam embora, perguntou aonde morava, mas não esperava a resposta
do outro.
Na rua, aonde vai
ser, nem tenho documentos, não sei como vocês não reclamaram do meu cheiro, a
dias que não consigo tomar banho, nem trocar de roupas.
Venha comigo,
conseguiram distribuir entre eles os instrumentos, dentro de sacos, foram de
taxi, até sua casa. Reparou então que o
taxista sim sentia o cheiro do Aribô.
Mas ignorou.
Subiram cada um
de uma vez, com as bolsas que lhes tocava.
Lhe ofereceu o
banheiro para que ele tomasse um banho, se olharam, separou de suas roupas
calças, camisetas, cuecas, até um tênis que tinha comprado depois tinha lhe
ficado grande.
Dobrou tudo,
deixou na porta do banheiro.
Era outra pessoa
quando saiu, com seu cabelo Black Power imenso. Foi para o lado de fora,
sacudindo a cabeça.
Ufa, tirei um
peso de cima. Nenhum dos três tinham
comido direito, tinham compartido uns sanduiches que Joubert tinha ido comprar.
Quando se
sentaram no restaurante, sua mãe olhou o Aribô, menino como estas magro, já
começava a fazer frio pela noite. Serviu
uma boa sopa, que ele devorou, junto com pão, depois carne, comeram rindo,
quando lhe ofereceram vinho, disse que não bebia, sua religião não permitia
álcool. Pensaram que ele muçulmano.
Não, sou animista,
respondeu, respeito as religiões, mas a minha venera os deuses dos elementos.
Joubert, disse
que tinha em casa um saco de dormir, que tinha usado uma vez só, quando mais jovem,
creio que te servira.
Voltaram para
casa, ficaram falando dos instrumentos, podemos ir na loja olhar amanhã.
Mas não tenho
dinheiro para isso.
Falou com Madame,
precisava que ela conseguisse os documentos para um músico, que ele necessitava
para completar o grupo da Alemanha.
Disse que amanhã,
a veriam na Ópera, teriam que ver o que tinham lá, para anotar o nome para
comprar.
Logo cedo foram
os três cortar cabelo, o do Aribô, ficou bem baixinho, viu que ele andava
diferente, é que o sapato está apertado.
Pararam para lhe comprar outro.
Ele queria comprar um barato.
Ari, como
passaram a lhe chamar, o inverno vem aí, tens que comprar um que sirva para o
começo do inverno. Logo ganharas
dinheiro, poderás devolver tudo, não em dinheiro, mas entendendo a minha
música. Logo se juntou a eles Fethima, o diretor tinha
emprestado uma sala aonde podiam ensaiar. Ficaram um longo tempo procurando as
percussão, até que encontraram o que lhes servia.
Anotaram o nome
de tudo. Ele tinha recebido um bom dinheiro
não só das apresentações, bem como da música.
Teriam no final
de semana seguinte, uma nova apresentação das duas músicas, o diretor estava
contente, pois tinha sido a pedido do público.
Ari, escutou a
primeira música, pediu desculpas para usar os instrumentos que estava na parte
de percussão. Tocaram outra vez, com
ele participando. Ficava mais exótica,
como ele tinha imaginado. O diretor
tinha gostado, fizeram a segunda, também ficava diferente.
Antes da
apresentação fariam uma entrevista num programa cultural.
Concordou, se iam
os cinco. O diretor dizia que ele para ser um artista novo, era companheiro,
pois sempre tinha uma palavra de elogio a um companheiro. Outro já estaria se achando uma estrela.
Eu não sou uma
estrela, sou uma pessoa que está começando seu caminho para um futuro, não
estou preocupado com ser famoso.
Foram vestidos
todos simplesmente, Madame estava batalhando para conseguir os documentos, do
Ari, tinha conhecidos em altas esferas.
No dia antes, foi
com ele há documentos, conseguiu, voltou feliz da vida, já sou alguém.
No dia da
entrevista, o entrevistador, disse que não sabia que vinham todos, tinha
perguntas só para ti.
Não seja por
isso, eu os apresento, fazemos uma conversa informal.
Apresentou um a
um, disse que o Aribô, tinha sido a última aquisição deles, estou formando um
pequeno grupo, para trabalhar, isso é uma coisa que já conversei muito com o
Joubert, sonhamos com isso, fazer música boa, tocar em qualquer lugar que nos
queiram.
O Rodrigo Hauser
nos lançou ao mundo, espero que queira ir junto nessa jornada.
Perguntaram de
aonde ele era?
Nasci em
Genipabu, disse aonde era, um paraíso, meu pai é americano, minha mãe filha de
um francês, fantástico, tem muitas obras suas pela França, disse o nome do avô.
Tua música que
foi estreia mundial, o Rodrigo corrigiu, as duas que tocamos foram estreia
mundial, imagina que estamos sempre com problemas com os compositores
contemporâneos, pois o público normalmente não entende o que querem, já o
Jacques, tem um dom, de transformar a música em sinfônica, bem como moderna,
sem perder a essência de ser entendida, de chegar as pessoas.
Estudaste desde
jovem a música?
Não, sempre fui
bom estudante, mas não de música, amava fazer surf, aqui é a única coisa que
sinto falta, água. Necessito dela, quem souber de alguma piscina grande me
avise.
Um pequeno
público ali, riu.
Comecei aprender
música com o professor a quem dediquei essa música, pois ele me ensinou a escrever,
ler partituras, a entender a o instrumento.
Senti primeiro o violoncelo, depois o piano, agora por último o
clarinete.
Que quer dizer
com sentir?
Nunca estudei
nenhum instrumento, mas no momento que o toco, sinto sua presença, peço licença
para expressar o que ele quer de mim.
A cara do
apresentador, era ótima, mas ele desviou o assunto, falando da bela voz que
tinha a Fethima, tinha um piano ao lado do cenário, ele se sentou, tocou um dos
pedaços que ela cantava, quando se deram conta, estavam os quatro tocando.
Veja, dizia ele
do piano, a música aglutina as pessoas, faz as mesmas mais felizes, é isso que
eu quero.
A entrevista foi
um sucesso, seus pais, com o velho Jacques chegaram no dia anterior. Madame
Fleury conseguiu uns lugares excelentes para eles na plateia. Tinham desfrutado de uma noite super
agradável no bistrô dos pais do Joubert, seu avô, já os conhecia de jovem,
dizia, se não fosse esse sem vergonha que me roubou a namorada, tinha ficado
aqui, não tinhas nascido.
Mas era tudo
brincadeira.
Deu de presente
para sua mãe, um vestido fantástico, ficaram hospedados num hotel que seu avô
ficava sempre.
Com as novas
mudanças, a música ficava mais forte.
Na semana seguinte iria para Berlin, trabalhar com a orquestra. Ele já estava trabalhando uma música, que
tinha lhe surgido numa noite, pensando na vida.
Ari, tinha
conseguido um pequeno apartamento ali perto, iam os três juntos, Fethima os
chamava de três mosquiteiros.
Conseguiram uma
sala para continuar seus trabalhos, no pouco tempo que sobrava, andavam pelas
ruas, numa loja de antiguidade, encontrou um saxofone, o comprou, nada mais
tocar no mesmo. Era como uma relíquia,
a época que estava inscrita de sua fabricação, era muito antiga, sentiu que
dele saia uma música melancólica.
Nessa noite
sonhou com o proprietário origina, um judeu, o instrumento tinha passado de mão
em mão, mas ninguém o tinha sabido apreciar.
Se levantou de
madrugada para escrever a música. No dia
seguinte já estava trabalhando na mesma, era como uma sinfonia melancólica, ao
mesmo tempo alegre no final como um júbilo pôr o instrumento ter finalmente ter
encontrado um proprietário que sabia apreciar.
Madame Fleury
avisou que o público de Berlin, era mais fechado, que não esperasse que se
levantasse ao final para aplaudir.
Na noite anterior
a estreia, o diretor da ópera, disse que ainda sobravam entradas, isso antes
deles saírem para uma entrevista na televisão.
Deram a
entrevista, basicamente em francês, eles tocaram um trecho da obra, no dia
seguinte de manhã, já tinham vendido tudo, bem como a segunda apresentação do
domingo.
Estavam preparados
como dizia Madame, para um final tranquilo.
Mas se surpreenderam de terem muita gente em pé.
Na segunda
música, foram mais pessoas. Pediram
outro bis.
Vou tocar um
trecho de uma nova composição, inspirada num compositor de Berlin, dono do
saxofone que comprei essa semana.
Pegou o instrumento, passou a mão pelo mesmo, disse brilhe por tua
própria luz.
Começou a tocar, se
podia sentir as notas saindo do mesmo, viu que algumas senhoras, levavam um
lenço aos olhos, lhe tinha tocado a alma.
De novo um aplauso fantástico.
Estava passando
para os outros, as partes da música que já tinha trabalhado, o compositor lhe
tinha dado o caminho, ele ia percorrendo, transformando numa sinfonia.
De lá foram para
Estocolmo, como dizia o Joubert, estamos com o pé na estrada. Mas todos trabalhavam agora juntos, na
melodia completa, inclusive Fethima, cantava uma parte que parecia uma valsa
melancólica.
Madame foi
prontamente registrar a mesma. Semanas
depois, já tinha outros contratos, um que ele não queria aceitar de imediato,
que era para tocar em San Francisco.
Vou dizer uma
coisa, que fará pensar que sou um idiota, mas se tocamos antes em San
Francisco, parecera que somos músicos americanos, que tem que primeiro vencer
no interior, fazer uma turnê por todas as capitais dos Estados, para vencer
finalmente em NYC.
Temos que fazer
ao contrário, primeiro conseguir um convite para NYC, para depois irmos como personagens
importantes para as outras capitais.
Como estrelas de
rock, soltou Joubert.
Mais ou menos
isso.
Foram antes tocar
em Milão, Veneza, Roma, meses depois iam estrear mais uma vez a sinfonia nova
em Paris.
Madame Fleury
avisou que tinham dois diretores na plateia, da Orquestra de Boston, um do
Lincoln Center, vamos ver como me ajusto.
A primeira parte
seria uma música de Bela Bartók, uma hora antes o Rodrigo Hauser apareceu
nervoso, o solista tinha sofrido um acidente, teria que tocar uma das músicas
como solista.
Qual lhe
perguntou? Deu a chave do apartamento
pediu que Joubert fosse até lá buscar seu violino. Ele tinha assistido o ensaio, sabia a
música.
Lhe colocaram uma
partitura na frente, mas alisou antes seu violino, vamos meninos, a brilhar.
Segundo depois o
Rodrigo, tinha tocado melhor que o solista convidado.
Quando lhe
apresentaram, dizendo que na verdade ele substituía de última hora o solista,
escutou tipo pessoas reclamando.
Mas ao final fez
sucesso, quando chegou a parte deles, ao aparecer tocando um saxofone, pediu
licença, falou do compositor, esse saxofone pertencia a ele, essa musica foi
originalmente feita nele, mas eu a trabalhei, para transformar essa música não
numa música triste, mas sim numa história de que um instrumento pode sobreviver
muitos anos, guardando as lembranças das alegrias que deu.
O público ao
final aplaudia em pé, principalmente no movimento final, como se a temperatura
fosse subindo, em movimentos rápidos dos violinos, os acordes do saxofone
fossem mais vibrantes, foi um sucesso.
Durante a semana
iria gravar com a orquestra as duas primeiras composições, a gravadora, queria
incluir essa também, transformando num álbum.
Depois da
comemoração com os da orquestra, desta vez ele vestia uma roupa louca que tinha
visto numa loja. Não tinha resistido,
comprado, tinha tocado sem sapatos. O que chamou muita atenção.
Dizia cada vez
mais tenho que ter os pés no chão.
Foi convidado
para jantar pelos dos Estados Unidos, foi com Madame Fleury, a contra gosto,
pois queria que fossem todos.
Quando disseram
que só queriam a ele, declinou o convite, sinto muito, mas só toco com meu
grupo. Tinham visto que o grupo, ficava
como no centro da orquestra, sem eles não vou a nenhuma parte.
Não gostaram
muito, agradeceu muito o convite, o do Lincoln Center disse que o tinha visto
na sua apresentação com seus amigos em NYC. Sim a primeira música é justamente uma
homenagem ao meu professor inicial, que foi justamente em Los Angeles.
Se dedicaram
semanas a gravar o CD, ficou melhor que o concerto, porque puderam polir a
música, Rodrigo Hauser, o ajudava nisso.
Era quem mais lhe entendia a cabeça.
Afinal ele o tinha lançado.
Quando Madame
veio falar com ele, durante uma gravação, ficou pasma de como o trabalho estava
entrosado.
Agora entendo o
que queres dizer. Vou sugerir que
contratem o Rodrigo Hauser para te acompanhar toda a temporada americana.
Iniciaria em NYC,
depois iriam a Boston, San Francisco, Los Angeles, Toronto e Vancouver.
Meninos o que
acham.
Rodrigo Hauser,
estava em vias de renovar seu contrato, mas para ele, era mais importante fazer
nome nas América.
Falou com seus
pais por telefone, avisou, assim que acabe essa turnê, irei para o Paraíso.
Levaram meses
fazendo a Turnê, estava farto de entrevistas, com as mesmas perguntas, o mesmo
sentido. Finalmente em San Francisco,
tirou dois dias para ir fazer Surf, o pessoal ria dele. Um jornalista, fez uma reportagem, o primeiro
compositor surfista.
Quando lhe
perguntaram, ele dizia que fazia muito surf em Los Angeles, na escola que estudava. Falou com seu avô por telefone, o convidou
para vir com sua família ver o conserto.
Veio com suas
filhas, estava mais relaxado, esteve almoçando com ele, bendita hora que me
deste teu conselho. Estou mais
feliz. As filhas eram morenas, como sua esposa,
descendente de mexicanos.
Quando acabou
tudo, avisou ao pessoal, vou para o paraíso, alguém vem comigo?
Foram todos,
avisou seus pais, quantos iam ser.
Quando entrou no mar, sentiu como uma descarga, se dedicou a ensinar a
Ari, bem como a Joubert a fazer surf, Rodrigo disse que passava. Mas de tarde ensaiavam uma nova composição,
era um trabalho de grupo.
Seu avô, sempre
que podia estava agarrado com ele, sinto que meu tempo está terminando meu
neto. Quero que me prometa uma coisa, se
me morro, venha tocar no meu enterro.
Quando voltaram,
Rodrigo foi convidado para preparar duas apresentações da orquestra, Ari
resolveu ir ver sua família em Benin.
Já que conheceste
o paraíso, vou contigo nessa aventura.
Foram os três.
As vezes notava,
como se Joubert tivesse alguma coisa com Ari, mas não se dava por achado, pois
em sua cabeça o sexo parecia não existir.
Foram de viagem, desceram
em Cotonou, foram indo para o interior, num 4X4, quando já estavam chegando à
aldeia de aonde ele tinha saído, quase fronteira com Burkina Faso, viram uma
coisa insólita, um grupo de garotos armados com metralhadoras.
Viram dois
militares rebeldes de Burkina Faso atirados na estrada, pararam o carro,
levavam um segurança, que disse, fiquem quietos, o grupo já entra na floresta,
uma garota, com uma criança apoiada na cintura, voltou correndo, deixou a
criança na beira da estrada, lhe deu um beijo, saiu correndo.
Ele saiu do
carro, correu até a criança, que chorava desconsoladamente. Quando a pegou no colo, olhou para ele,
sorriu, olhou em direção aonde estava a menina, ela mandou um beijo.
A criança se
encostou no seu ombro, só então ele percebeu que cantava uma canção de ninar em
outra língua que não conhecia.
Quando entraram
na Aldeia, a família do Ari, veio correndo, comentou que os garotos soldados
estiveram aqui, procurando dois chefes deles, que os tinham maltratados,
procuravam vingança, a maioria nem sabe de aonde saiu. Essa criança estava com uma garota, que disse
que um deles tinha matado sua mãe.
Ele pediu uma
bacia, deu um banho na criança, tirou uma camisa sua da maleta, a envolveu com
ela. Parecia um encontro.
Cada vez que a
criança chorava, ele cantava a música que tinha na cabeça. Viu um homem velho, não sabia precisar sua
idade, disse para ele, vieste buscar teu filho.
Ficou confuso, o
velho ficou conversando com ele muito tempo.
Os dias todos que passaram ali, fizeram música. O velho sempre estava presente.
Apareceu uma
senhora na aldeia, o velho conversou com ela, esta conseguiu os papeis para a
criança, quando lhe perguntou o nome, ele soltou Jean Bradtrush, dias depois
apareceu com os papeis. Quando chegaram
a Paris, ele foi com Madame registrar a criança, no consulado brasileiro, bem
como nos serviços franceses.
Descobriu no seu
edifício um apartamento maior, mas ia a todo lado com o garoto a tiracolo, todo
mundo estranhava pois o mesmo não incomodava nada durante os ensaios, os
trabalhos de partitura.
Conversando com
Rodrigo, desabafou, em nunca amei ninguém, nem tenho muito sexo por aí, tem uma
pessoa que gosto desde sempre, mas nunca tive intimidade com ela.
Pensou que era
Fethima, que no momento cantava em Berlin uma Opera.
Não nada disso.
Rodrigo uma vez
tinha se insinuado para ele, mas nunca tinha tido nada. Na época tinha ficado com medo de estragar
tudo.
Este demorou a
entender que gostava dele.
Foram se
aproximando devagar. O garoto, adorava o Rodrigo, agora que andava corria para
ele.
Os dois
trabalhavam a música que tinha surgido em sua cabeça, Aribô tinha montado com
alguns percursionistas, uma parte da música.
Pela primeira vez seu trabalho não tinha conotação europeia, mas sim
africana.
A música
começava, com um tam, tam, atabaques de cada lado da orquestra, que como se
falassem entre eles, ele foi montando pacientemente o quebra cabeça com
Rodrigo, pois as vezes os pedaços de músicas apareciam justamente com ele
dormindo, ou cantando para o filho.
Rodrigo agora ficava para dormir, o romance deles era interessante, era
como iam se explorando, se conhecendo em outro âmbito.
Ele se levantava
de madrugada, quando se despertava com algum pedaço da música, para anotar com
medo de perder.
Talvez, era sua
obra mais complicada, pois incluía muitas coisas, que ele fazia por instinto,
era como se lembra-se de pedaços de conversa que tinha tido com o velho da aldeia.
Ari, o ajudava em
todo que era possível, pois as vezes surgiam em sua cabeça palavras que queriam
descrever alguma coisa, mas que ele não entendia.
Foram montando como um puzzle gigante musical.
Mas chegou um
momento, com o inverno em cima, que ele precisava relaxar, sentia que essa
música era diferente de todo o anterior.
Nesse momento que
estava cheio de dúvidas, apareceram coisas que mudaram radicalmente tudo.
Rodrigo Hauser,
recebeu um convite para dirigir a filarmônica de Boston, era um convite que ele
esperava a muito tempo, isso significaria, passar um ano ou dois por lá.
Fethima, estava
com uma ópera atrás da outra. Só
restavam Joubert, bem como Ari, notou algo diferente entre eles, Joubert agora
era conhecido, partiu para uma série de concertos pela temporada de inverno em
toda a Europa. Na verdade achava que no
fundo as coisas encaixavam, pois quem era vital para ele era Ari.
O convidou para
ir para Genipabu, para o paraíso, tinha chegado a hora dos pais conhecerem o
neto.
Mas quem
verdadeiramente ficou louco com a criança foi o velho Jacques, tinha um
bisneto, a ele a cor da criança lhe importava uma merda.
Os pais também
ficaram contentes, Jean era como a alegria da horta, como estava sempre
sorrindo, as pessoas ficavam loucas por ele.
Mas a surpresa,
foi o dia que o colocou em cima de uma prancha de surf, batia palmas como se
fosse uma festa. Adorava o mar.
Ele ao mesmo
tempo precisava trabalhar, um dia andando com Ari, viu a velha casa da
cartomante como diziam. Com um cartaz de
vende-se.
Foram se
informar, o preço era bom, tinha sido alugada através dos anos a muita gente,
mas conseguiu pessoas para tirarem tudo que estava dentro, limparem, pintarem, viram
que era maior do que parecia. Só lhe
faltava um piano, mas o conseguiu em Natal.
Retomaram o
trabalho, agora como se estivessem com os pés no chão a coisa funcionava.
Quando a primeira parte ficou pronta, mandou para Madame Fleury, ela avisou que
tinha registrado, mas que iria de férias, os veria em breve.
Os veria em
breve, era que estava chegando ao paraíso.
Tinha seu tempo de mar, mas pela tarde, ia
acompanhar o desenvolvimento da obra.
Surgiram duas
partes cantadas, idealizaram um coro para essas partes. Quando finalmente deram por satisfeitos, os
dois começaram a trabalhar detalhes.
Nesse meio tempo,
foram se conhecendo melhor, ao viver na mesma casa, surgiu algo entre eles, um
dia perguntou ao Ari, o que ele tinha com Joubert.
Pensei que ele
gostasse de mim. Mas era mais por
estarmos juntos, um sexo sem sentido de ser.
O que sinto por ti é diferente, era como se estivesse tudo predestinado.
Te encontrar, ir
contigo ao Benin, fazermos esse trabalho junto.
Realmente creio
que comigo passou o mesmo, com relação ao Rodrigo, se perguntas se o amei, não
sei dizer.
O velho Jacques
vinha as vezes escutar o trabalho deles, dizia que gostava muito de uma parte
que ele chamava de Kyrie, como um lamento, prefiro essa no meu enterro.
Dias depois
estava na varanda da pousada com o bisneto, sorriu, morreu.
O enterro foi
emotivo, pois todo dali o queriam, desde as pessoas mais simples, as mais
importantes, na verdade a maioria não sabia o seu nome, o chamava de francês,
ou pintor.
Os dois cantaram
a música no enterro, as pessoas não sabiam se aplaudir, mas todas vinham dizer
que era muito bonita.
Agora a dúvida
era, voltar para Paris, o pequeno Jean, estava crescendo, como iam fazer,
deixa-lo para trás, nem pensar. Tomaram
a decisão, agora faziam tudo junto, Madame Fleury que era mais prática, arrumas
alguém para cuidar dele.
Arrumaram sim uma
senhora negra que estava o tempo todo com ele, ia aos ensaios com a orquestra,
mais uma vez iam ser lançados pela Ópera.
Ele conseguiu um
homem que entendia de coros, ao mesmo tempo que Ari, trabalhava com alunos de
percussão da universidade de música, para poder compor o trabalho.
A orquestra desta
vez não ia usar a roupa tradicional, os trajes negros, falou com o cenógrafo da
Ópera, esse criou uma mistura de roupas africanas, sem estarem exageradamente
coloridas, a cor era o azafran.
Conseguiu uma
coisa inédita, com a diretoria, sempre contendo despesas, Que as entradas,
fossem como convites, que cheirassem a canela.
Quando as pessoas
entravam na plateia, o cheiro era esse que sentiam.
Jean sabia as
músicas inteiras, agora cantava com ele a canção, que ele tinha lhe cantado
quando o pegou na estrada.
Ele fez uma
coisa, gravou o menino cantando, em um dialeto Yoruba muito antigo segundo Ari,
as pessoas estavam acomodadas, escutavam aquela voz infantil, cantando a
canção.
Em seguida o coro
cantava a mesma desde as laterais do teatro, o que ninguém esperava, nesse
momento começava a função.
Conforme o ritmo
dos atabaques fosse aumentando, o coro ia entrando no palco, cantando, marcando
ritmo. Nas laterais e atrás, estava a percussão,
no centro os metais, ladeados pelas cordas.
Ele era o maestro, estavam no meio da função, já quase no intervalo,
quando jean, acompanhando a música entrou no palco para surpresa da plateia, se
sentou nos pés dele como fazia sempre, quando o coro começou a cantar o final
da primeira parte, se levantou começou a cantar junto, como se fosse a coisa
mais natural do mundo.
A plateia estava
deliciada.
Aplaudiram como
loucos, ele ainda não tinha visto, quando se virou, Jean agarrou suas pernas.
Pediu desculpas,
meu filho acompanhou todos os ensaios do palco, creio que pensa que está em
casa.
Estava
deslumbrado com os aplausos, sorria para todo mundo.
A segunda parte
começava justamente pelo que seu avô tinha chamado de Kyrie, com o coro
cantando, era emocionante.
Essa parte
voltava no final, mas num ritmo diferente.
Quando terminaram
o público vibrava, ele ia a frente com o Ari, os dois agradeciam, quando
novamente o Jean entrou correndo, queria agradecer também. Com ele no colo, foi
falando com os músicos, que estava contentes com o trabalho.
O coro era
aplaudido em pé, pelo seu trabalho. Não podia negar tinha feito um trabalho,
fantástico.
Fariam cinco dias
da semana seguinte, com entrevistas, agora pediam que levasse o Jean, sem
dúvida seria um artista no futuro.
No primeiro
programa que tinha ido, quando tudo começou, quando perguntaram para o menino
qual a parte que mais gostava, ele cantou a abertura.
Agora chegava a
época que tinha que ir à escola, ia ser um problema, pois tinham concertos em
vários lugares. Se lembrou que embora fosse maior, tinha ido
para o colégio interno, quando sugeriam isso, se negava a pensar nisso. O jeito foi contratar uma baba, que ao mesmo
tempo lhe ensinava as ler, escrever. Se
negava rotundamente se separar do menino.
Estava escrevendo
um trabalho novo, já tinha gravado em cd o concerto, bem como existia em
vídeo. O queriam nos Estados Unidos, mas disse que só
aceitaria para a temporada seguinte, ia passar uns meses em Genipabu.
Ari concordava
com ele, precisavam relaxar. Precisavam
de água.
Os meses fora
tinham sido produtivos, a obra dava dinheiro.
Tanto que quando soube que as terras em volta da casa iam ser vendidas,
para construírem mais, gastou dinheiro, comprou, para que não tirassem esse
pequeno mundo de floresta que restava.
Foram convidados
pela primeira vez para montarem esse trabalho no Rio de Janeiro, bem como São
Paulo, encontraram justamente o que necessitavam, modificaram algumas coisas,
as pessoas adoravam o trabalho.
O diretor do
Lincoln Center veio ver, foi um dos que aplaudiam em pé.
Quando um crítico
de arte, comentava querendo como que rotular o espetáculo, ele discordou
dizendo que nem pensar, que o trabalho do Jacques era universal, nada de
rótulos. Seus pais, estavam cansados do
trabalho da pousada, o que resolveu seu problema, foram com ele, assim Jean não
estava desatendido.
Nunca tinha
comentado com eles, o relacionamento que tinha com o Ari, só a primeira vez que
Jean chamou os dois de pai.
Fizeram NYC,
depois montaram em Boston, em seguida voltaram para a Europa, Berlin os
esperava. Lá foi mais difícil a
montagem, Ari dizia que tinha muita gente branca em cena.
A coisa melhorou,
quando lhe pediram para fazer a trilha sonora de um filme, tinha transformado o
apartamento de cima num studio de música.
Os dois encaixavam perfeitamente, conseguiam trabalhar em parceria,
discutindo a música que estivessem trabalhando.
Seus pais, fizeram amigos, Brad ia agora levar o neto todos os dias a
escola, depois ia buscar. Ele se rebelava, pois queria estar no studio,
tiveram os dois que falarem com ele, que ele precisava estudar, que teria uma
parte do dia que o deixariam entrar no studio.
Um dia o
surpreenderam tocando violino. Um
trecho da música que estavam trabalhando.
Era como Jacques,
tinha ouvido universal, aprendia tudo, escutando. O colocaram para estudar partituras, não
gostava muito mas aprendeu.
A música do filme
ganhou um César, como melhor trilha sonora, foi lançada a parte num cd, como o
filme foi candidato ao Oscar, foi indicada para o mesmo.
Lhe choveram
trabalhos, mas aceitavam o que lhes interessava.
Fazia muito tempo
que não sabiam de Joubert, que não parava, sabiam que estava nos Estados
Unidos, mas não aonde.
Quando o
encontraram, tinha vindo ao enterro do pai, levaram uma surpresa, estava
completamente diferente, se dedicava agora a tocar música clássica, jazz, o que
viesse pela frente. A primeira coisa
que disse foi que sentia falta do paraíso.
Ele já sabia dos dois, pois Jacques fazia questão de assinar as músicas
com o nome dos dois. Afinal trabalhavam
juntos, para ele era normal.
Foi visita-los
uma duas vezes, disse que já não encaixava mais em Paris, preferia viver em
NYC, aonde podia desfrutar de uma vida mais livre. Gravava discos acompanhando grandes cantores,
tinha se acomodado um pouco.
Quando o inverno
apertavam iam para Genipabu, para a casa deles, sua mãe dizia sempre ah que bom
voltar para casa. Seu pai nem se fala,
passava dias dentro da água, com o neto.
Tinham feito
quatro trilhas sonoras, seguidas, ganharam um bom dinheiro nisso. Resolveram ficar um tempo em Genipabu.
Afinal Jean,
estava naquela época que tudo queria saber.
Um dia virou-se para ele, perguntando quem era aquela garota que o tinha
deixado na estrada. Ele lhe contou o que
o velho tinha falado. O viram escrevendo,
até que mostrou para os dois o que tinha escrito.
Ficaram com a
boca aberta. Venho sonhando com ela a
tempo, me contou toda a história, de como minha mãe que era sua amiga, tinham
as duas sido raptadas, violadas, a outra nunca teve filhos, mas sua mãe,
ele. Quando um dos que os levava para
todos os lados, a mandou matar um xamã, ela se negou, a matou a sangue
frio. Os outros se revoltaram matando
os que os tinham sequestrado. Depois se
adentraram na floresta, voltando a viver como uma tribo.
Mas por medo, se
negavam a ter qualquer contato com os outros, viviam no mais profundo das
selvas.
Semanas depois,
saiu justamente essa notícia, que tinham encontrado um grupo imenso de homens
que diziam ter sido garotos soldados, que se rebelaram, que levavam muito tempo
escondidos na floresta.
Mas ela já tinha
morrido a tempos.
Jacques perguntou
o que ele queria fazer, voltar para procurar quem sabe seus avôs?
Não eu já tenho
minha família, não preciso de outra.
Jacques e Ari,
nunca se separaram, seguiam trabalhando música, ora na França, ou na temporada
em Genipabu. Jean quando ficou adulto,
escolheu estudar jornalismo, quando pensavam que se dedicaria a música, cantava
bem, sabia tocar mais de um instrumento.
Seus primeiros
trabalhos, foram escrever sobre a Africa, seus problemas. Era respeitado pelos editores, por escrever
tremendamente bem.
Mas sempre
voltava a Genipabu, aonde os dois tinham finalmente retirado para descansar de
tanto trabalho. Faziam música agora para
se divertirem.
Ele quando
estava, participava, cantava muitas músicas do pai.
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