lunes, 15 de noviembre de 2021

PARAÍSO

 

                                                    PARAÍSO

 

Meu nome por si só fazia confusão, um mulato, cabelos loiros, olhos verdes, com o nome de Jacques Bradtrush, metade americano, francês nascido no Brasil, no Rio Grande do Norte, em Genipabu, é pedir muito, como explicar isso as pessoas, que nem sabem como é seu próprio pais.

Isso aconteceu comigo, mas cortei pelo sano, quando perguntava, dizia que meus pais como gostavam de surf, faziam uma homenagem a Jacques Cousteau, ficava tudo por isso mesmo, achavam maravilhoso.  Quando perguntavam pela minha cor, dizia que do surf, para tudo tinha uma explicação simples.

O mundo já era complicado demais para ficar contando histórias que ninguém ia entender mesmo, a maioria das pessoas eram analfabetas de geográfica, pensava, passo disso.

Meu pai era surfista, americano, Brad, tinha terminado um campeonato, guardou seu dinheiro como sempre, queria relaxar-se, escutou falar de Genipabu, pediu informação de como ir.

Lhe recomendaram a Pousada do Francês.  Lá foi ele com suas pranchas de surf, quando chegou a Natal, alugou um jeep, no qual podia levar as pranchas.

Tudo que queria, era não pensar em nada, cada vez que falava com seus pais, ficava com a cabeça cheia, pois eram muito chantagista, queriam que voltasse, assumisse os negócios familiares.

Tenho que colocar minha cabeça no lugar, relaxar, não pensar em nada, já surgirão soluções.

Quando entrou na pousada, viu uma garota de uma beleza impressionante, morena, cabelos negros, super compridos, olhos verdes, estava enfurecida.  

Resmungava em francês, como sempre sobra para mim.

Quando o viu, ficou de boca aberta, pois ele no fundo também era muito bonito, alto, cabelos queimados do sol, olhos verdes como os dela. 

Quando ele pediu um quarto, ela respondeu que só lhe sobrava uma cabana, a mais perto da praia, que o pessoal nunca queria, pois dizia que o vento de noite fazia muito ruído.

Lhe explicou isso, em português, ele rapidamente corrigiu, pedindo que falasse inglês.

Repetiu tudo.

Não importa, durmo como uma pedra, riu dizendo, quando durmo, durmo realmente.

Assim se conheceram, ele foi para passar uma semana, nunca mais saiu, dizia que tinha caído no conto da Ondina, a sereia do mar.

Meu avô Jacques aproveitou para ir deixando cada vez mais os dois tomando conta da pousada, se dedicou ao que amava, pintar, quando tinha uma boa coleção, mandava as fotos para Paris, depois juntava tudo, pagava uma fortuna para levar tudo de avião.  Vendia, voltava para casa.

Nasci no meio disso tudo, minha mãe, falava comigo em português, meu pai em inglês, meu avô em francês.   Os garotos que mal falavam português, diziam que salada tens em casa.

Tenho até hoje na minha mesa de cabeceira, uma foto, em que estamos os três num prancha Long Board, eu devia ter uns três anos quando me levaram para fazer surf.

Estar dentro d’água, sempre foi minha paixão.  Meu pai quando algum hóspede fazia comentário, dizia que queres, filho de uma ondina, com um pobre surfista, tinha que sair isso.

Eu ia a escola mais próxima com a molecada toda que vivia por ali, mas era o melhor, as professoras, diziam aos meus pais, esse menino precisa ir a uma escola em Natal, para ter melhor escolaridade.   Mas isso significava estudar interno.

O jeito era meu pai me levar todos os dias até a melhor, que fosse mais próxima, o que lhe dava trabalho, me dizia ao ouvido, te espero compadre para irmos fazer surf de tarde.  Nunca reclamava.  Era feliz, mas nem tinha noção disso.

Para mim voltar para casa, no Jeep, já com as pranchas de surf ali em cima, parávamos em alguma praia que tinha boas ondas, mudava de roupa, caiamos n’água.

A cada dois anos, apareciam seus pais, Jacques, aproveitava para desaparecer, dizia que eram pessoas muito chatas.  Ela nunca colocava sequer os pés na praia, achava horrível conviver com toda essa gentalha.

Ele tentava se enturmar com o pessoal do hotel, mas ficava era atrás de meu pai, para abandonar tudo para voltar.   Passavam 15 dias, iam embora, sem terem convencido meu pai, de mudar de ideia.

Quando tinha uns 13 anos os escutei conversando na surdina, tentavam encontrar uma solução, para que eu pudesse seguir estudando.  Jacques dizia que podia conseguir um internato em Paris, minha mãe não concordava, meu pai dizia nos Estados Unidos, dizia claramente, ali tenho os chatos dos velhos, mas pelo menos, nas festas ele podia ficar com eles.

Entrei furioso, dizendo, que ninguém ia me consultar.

Minha primeira pergunta, era aonde tem praia, pois não pensava deixar de fazer surf.

Meu pai disse que ia conversar com um amigo seu, que tinha o filho da mesma idade, para saber como fazer.

Mas só de pensar em aturar os velhos, isso me desanimava.   Sabia que tinham muito dinheiro, mas tinha sido educado a ter o básico.

Meu pai começou um verdadeiro doutrinamento, pois sabia como eram seus pais.  Falava de tudo claramente comigo.  Te darão muitos presentes, vão te prometer mundos e fundos, para que fiques por lá.   Mas no fundo só vão te querer por isso, deixar um legado que terás que carregar nas costas.

Nem aceitar que te paguem a escola, aceitarei, quando muito que passes alguma festa com eles, para que possas te distrair da escola.

Íamos, juntos a uma classe de Karatê, com um japonês, que como ele, chegou para umas férias, acabou ficando.     Inclusive lutava já com os maiores, Sakura, dizia que eu era bom, pois sabia me defender.

Meus pais foram comigo, para ver as escolas que seu amigo tinha falado, ela ficou surpresa, pois meu pai nunca falava muito de como viviam.

Viviam numa bela mansão em Los Angeles, segundo meu pai tinha contado no voo, tinha terras no Texas, ia toda a semana para uns quantos dias, em seu avião particular.

Ela já tinha preparado uma lista de escolas, ao contrário das de meu pai, para garotos de família rica. 

Ele como sempre cortou pela raiz, quem vai escolher seja o Jacques, como a vida é sua, escolhe ele.   Ficou furiosa, dizendo que tinha perdido muito tempo, consultado com todas suas amigas do Bridge, que ele era um ingrato.   Ele a imitava na cara dela, sentada numa mesa, com um copo de whisky na mão conversando com as amigas.

Vi uma foto, com meu pai, com outro garoto, perguntei quem era?

A cara do meu pai mudou, disse que era seu irmão, mas que basicamente vivia internado num hospital.   Eram muito parecidos.

Não se tocou mais no assunto como se fosse tabu.

No dia seguinte, acompanhados do seu amigo, que fez uma festa tremenda quando o viu, com seu filho ao lado, fomos primeiro a escola que ele estudava, embora ele fosse todos os dias para casa, passava o dia inteiro lá, uma parte era para alunos internos, a primeira pergunta que me fez, foi se eu gostava de surf.

Lhe disse que era minha vida.  Fez um sinal, sinalizando seu pai, bem como o meu, como esses dois.

Eu detesto, na verdade, passo a tarde inteira, na escola de música, aonde minha mãe é professora.  Meu pai, passa o dia inteiro no escritório, quando tem tempo, n’água.

Gostei da escola, mas não da cara dos professores que vi.

Uma outra da lista, creio que a terceira ou quarta, gostei mais, era mais longe, mas apesar de ter internato, tinha uns cursos mais modernos.  Olhamos os quartos, eram todos individuais, os banheiros entre um e outro sim eram compartidos.

Olhei a piscina, por instinto, tirei toda minha roupa, fiquei de cueca, me joguei na água, antes que meus pais pudessem falar alguma coisa, atravessei a piscina que era olímpica, umas três vezes. Quando sai o professor ria, será meu aluno preferido.

Fiquei nessa, deram uma lista de roupas que tinha que comprar, o uniforme era mais relaxado, de acordo com o clima, podia usar roupas por cima, sem distintivo do colégio.

O professor de natação, disse que uma vez ou duas por semana levava os alunos que queriam a fazer surf na praia mais próxima.

A coisa seria que eu iria passar as férias no Brasil, todos os anos.  Meu pai acabou discutindo com os seus, fomos para um hotel, ele pagou pelo ano inteiro na escola, me disse se não gostas, depois me fala, íamos nos escrever sempre.

Guardei todas essas cartas durante toda a vida.

Quando começou o ano letivo, minha avó me levou a contra gosto, falando mal de tudo, dessa escola.   Mas meu pai tinha me dado a solução, fazes de conta que escuta, coloca tua cabeça em outro lugar, mas nunca concorde com nada.

Nos primeiros tempo, nos horários de visita aparecia, mas depois desapareceu, dizendo que era longe, que as outras mães, não tinha classe nenhuma.

Mas talvez a realidade fosse outra, a maioria eram mães, que eram executivas de alguma empresa, que lhes sobrava pouco tempo para a família, tinha outro tipo de conversa, se vestiam melhor que ela, eram mais modernas.   Depois quando estava comigo, não parava de resmungar.

Fui passar ação de graça com eles, ela preparou uma grande festa, preparar o modo de dizer, encomendou tudo.  Nesse dia chegou meu tio, vinha acompanhado de um enfermeiro.  Era um pouco mais alto que meu pai, se parecia com ela, tinha os olhos como fora de orbita, ficou me olhando, me chamou de Brad.   Por mais que ela explicasse, ele dizia Brad.

Me mantive o mais afastado dele possível. Vi que o enfermeiro lhe fazia tomar comprimidos, do outro lado da mesa me olhou, a menor distração dos outros, cuspiu as mesmas no prato.

Nessa noite tive a primeira experiência com um pédofilo.   Estava dormindo, quando senti um peso em cima de mim, era ele completamente desnudo, lhe apliquei um golpe, o jogando contra o armário, quando avançou enfurecido, lhe dei outro, que lhe deslocou o queixo, começou a gritar, até que o enfermeiro chegou, bem como meus avôs.

Que lhe fizeste, como se eu fosse o culpado de alguma coisa. 

Ele tentou me atacar, me defendi simplesmente.

Ela ficou furiosa, será que eu não entendia que ele era doente.

Eu mais furioso, lhe soltei na cara, por isso devia deixar que ele abusasse de mim?

Ela ficou sem fala, ainda soltei um “vá tomar no cu” velha fedorenta.

Que disseste, eu repeti em inglês, ainda lhe dizendo que devia tomar mais banhos, invés de usar tanto perfume fedorento.

Ficou de boca aberta, o meu avô ria muito.

Uma hora depois chegou uma ambulância para o levarem para o hospital que vivia.

Agora entendia por que o tema era tabu.

Também se desfizeram de mim rapidamente, no dia seguinte um empregado me levou a escola, quando falei com meu pai, lhe contei tudo.

Estava uma fúria, como puderam fazer isso, ele não é uma pessoa normal, quase me matou quando eu era criança.

Acabei passando as féria na casa do seu amigo, um dia fui a escola que dava aulas sua mulher, ela fazia de tudo para que eu me sentisse a vontade.

Estava andando pelos corredores, escutei um som diferente, abri a porta, vi um senhor de uma certa idade, concentrado em cima de um instrumento, que descobrir depois era o Violoncelo, fiquei fascinado, era como estar em cima de uma prancha de surf, cavalgando uma onda.

Devo sem querer empurrado a porta, entrei me encostei na parede, fui deslizando para o chão, ele parecia não me ver.   Eu estava embelezado.

Quando acabou, estendeu o arco, me dizendo se eu queria experimentar?

A música continuava na minha cabeça.  A primeira coisa que fiz, foi alisar o instrumento, como dizendo olha sou eu, fazia muito isso com a prancha, depois passei a mão pelas cordas, explorando o som que sentia baixo minha mão, foi como uma conversa muda com o instrumento.    Senti como se uma lembrança muito antiga voltasse a minha cabeça, era algo diferente.

Sem saber muito por que comecei a tocar, fui saber depois que era uma música de Vivaldi. A cara do velho era impressionante, quando terminei, dei um suspiro profundo.

Na sala além dele, estavam Marie e Andrés, me olhando assustado.

Não sabia, que tocavas violoncelo Jacques.

Lhe respondi normalmente, mas não sei tocar, isso foi alguma lembrança que estava guardada na minha cabeça.

A partir desse dia, ia todos os dias aprender a ler partituras, aprender a tocar, mas ao final ele deixava que eu tocasse o que quisesse.

Ruben o velho professor, conversou com meu pai, ele vivia justo ao lado do internato, passou a ir todos os dias me dar aulas.  Mas me dava um tempo depois para minha comunhão com o instrumento.

Meu pai me escreveu, que ele soubesse na família dele, não tinha ninguém que tocasse instrumento nenhum, da minha mãe igual.

Quando finalmente fui de férias ao Brasil, um dia andando com meus velhos amigos, descalços pelas, ruas, uma senhora me chamou pelo nome.

Avise a tua mãe, para vir me visitar contigo.   Alguns diziam que era louca, para alguns era uma cartomante louca, pois usava umas roupas muito raras.

Falei com minha mãe, essa sim a conhecia, quando a vi pela primeira vez me disse, me falou do teu pai, que eu o ia conhecer, que teria um filho especial.

Lá fomos os dois, sua casa, era um lugar totalmente especial, ficava no meio de um pedaço da floresta ainda existente.  Cheirava a incenso de canela, que foi o que senti.

A primeira coisa que soltou, não te disse que ias ter um filho muito especial. Me fez sentar na frente dela, me soltou mil coisas, que eu era a reencarnação de um músico que todas as encarnações, voltava como musico, que tinha alma de cigano, que ali a praia sempre seria meu paraíso, mas que eu andaria o mundo inteiro, fazendo música.

Tirou de um armário um violino, colocou em minhas mãos, fechei os olhos, comecei a tocar, quando me dei conta, ela como minha mãe choravam, sabia que musica era, era alguma coisa muito antiga.

Ela disse para minha mãe, minha missão está cumprida, quando íamos embora, me deu a caixa do violino, me dizendo, toma que é teu.

Semanas depois fomos ao seu enterro, ninguém sabia, nem seu nome verdadeiro, apesar de estar ali a muito tempo, a maioria das pessoas era mulheres. Tinha deixado um bilhete, pedindo que eu tocasse no seu enterro.   Nada de igreja, que a enrolassem num pano que estava no armário, um sudário descobri depois que a enterrassem assim, embaixo de alguma árvore.

Toquei é claro a mesma música, nessa noite tinha sonhado com ela, me dizia, aconteça o que acontecer, siga tua vida tocando música.

Quando voltei com o violino embaixo do braço, o velho professor, riu, não me diga que sabes tocar esse também.   Toquei uma música, ele estava chorando quando parei, eram uma czardas, muito antigas, como sabias que eu gostava justo dessa.   Não sabia responder.  Dias depois sentado esperando por ele na sala de música, vi pela primeira vez o piano aberto, alguém tinha usado antes.    Fechei os olhos, me senti em outro lugar, quando abri os olhos, ele estava me olhando com uns olhos brilhantes, meu garoto, eres uma caixa de surpresa.

Na vez seguinte de visitas, quem apareceu foi meu avô, dizendo que precisava falar comigo, estava na época que eu devia escolher o que iria fazer em temos de universidade.

Soltou uma conversa larguíssima, que eu devia pensar na família, que devia estudar para aprender administrar os bens que ele tinham.

Fiquei olhando para ele, me deu pena, fiz uma coisa, que talvez meu pai devia ter feito a muitos anos, coloquei a mão em cima da dele, falei baixinho, sinto muito decepciona-lo, mas meu rumo é outro, acho que o melhor que o senhor faz, é liquidar tudo, depositar um dinheiro para que seu filho que vive no hospital, possa sempre ter cuidados, viver o resto da sua vida tranquilo.

Na verdade meu filho, tudo isso é dela, mencionava minha avô, eu sou um mero brinquedo nas mãos delas.

Ri, pois já tinha percebido isso, pois volta e meia ela soltava alguma barbaridade.

Pois está na hora do senhor seguir com sua própria vida.

Todo mundo ficou surpreso, meu pai chegou a vir, para tentar acalmar a situação, pois ele tinha pedido o divorcio dela.   Ela embora soubesse, tinha engolido tudo a muitos anos, com medo do que suas amigas iam pensar.

Tinha outra família, no Texas, por isso ia sempre para lá, dizia que pelo menos lá tinha paz.

Nesse momento, todo o podre da família veio à tona, o filho mais velho, que estava no hospital, era só dela, quando se casaram ela já tinha esse filho, meu pai sim era filho dele.

Meu pai tinha sempre medo disso, que ele tivesse herdado os genes que tinha o outro.  No meio de muito drama, contou que ele era filho de um tio seu, que tinha abusado dela quando jovem.

Acabou tudo em pizza, meu avô foi viver com sua outra família, aonde só tinham mulheres.

Ela ficou sozinha na mansão, fez todas as chantagens possíveis para que meu pai voltasse, que eu fosse viver com ela.   Mas eu já tinha resolvido minha vida.

Iria fazer provas em dois lugares, na escola de música de San Francisco, bem como na Juilliard, fui aceito nas duas.

O velho dizia que eu não precisava de escolas, que já sabia tudo que necessitava.  Mas meu pai queria que tivesse um diploma.  Ainda na dúvida, um dia conhecendo a cidade, com ele, minha mãe, vi uma escola de pintura.

Ela ria, temos um filho artista não resta dúvida.

Mas fiz o curso que tinha me proposto a fazer, que era de composição.  Me saia bem, conseguia fazer alguns trabalhos, que sabia que estavam em alguma caixa perdida da minha memória.

Quando apresentei a primeira vez, junto com alguns companheiros da escola, a tinha transcrito para piano, violoncelo e violino, pensaram esse garoto vai apresentar alguma coisa chata, mas qual, tinha modernizado a música.

Fui descobrindo o Jazz, depois alguns músicos contemporâneos, mas tinha um estilo completamente próprio.  Com se tivesse incorporado todos os instrumentos em minha alma.

Fui passar as férias, saindo do inverno de NYC, aonde vivia num pequeno apartamento no último andar de um edifício, para poder tocar sem incomodar os vizinhos.

Quando cheguei a Genipabu, não queria saber de nada, tudo que pensava era estar na água o dia inteiro, de branco do inverno que estava, logo estava moreno como sempre, ficava o dia inteiro na água, minha mãe reclamava um pouco, mas meu pai, dizia, deixa esse menino relaxar.

Um dia que chovia muito, sentia minha alma triste, peguei o violino, comecei a tocar a música que o velho professor gostava, algum hóspede escutou, perguntou para minha mãe, quem estava tocando.

Ela lhe explicou que eu estava de férias, que estudava música em NYC, o pessoal que estava tomando café pediu se podia tocar ali no salão, já que não podia sair por causa da chuva.

Antes disse para minha mãe, o velho morreu, sonhei com ele, veio se despedir de mim.

Mas atendi, fui para o salão, comecei a tocar a música que estava fazendo, o violino, era como uma caixa, tanto dedilhava, como batia na madeira, era como uma caixa a explorar.

Quando terminei, a mesma senhora perguntou a minha mãe, se podia me apresentar.

Veio falar comigo em inglês, meio macarrônico, mas percebi que era francesa, lhe respondi em francês.  Ficou deliciada.

Era, agente de grandes músicos na Europa, embora vivesse em Paris, terás o mundo aos teus pés.   Pediu se eu podia gravar essa música, que eu devia sempre registrar as músicas.

Depois a vi falando por telefone, com alguém que, discutia, como dizendo, não querias algo novo para tua orquestra, creio que esse rapaz dará vida a tudo.

Ok, mandarei a gravação.

Todos os dias, conversávamos, lhe tocava alguma coisa que estivesse trabalhando.  Antes de ir embora, suspirou, voltarei sempre ao paraíso, fazendo um gesto por tudo em volta dela.  Te espero em Paris, me deu seu cartão, se quiseres, assina um contrato de representação comigo, tentarei colocar tua música na orquestra de Paris.

Dois dias depois ligou dizendo que tinha conseguido, mas que eu tinha que ir, para ajudar o maestro a ensaiar com os integrantes da orquestra.

Meu avô tinha muitas amizades em Paris, começou a telefonar, com minha mãe é claro reclamando de tantas chamadas internacionais.  Afinal lhe mandaram umas fotos, me mandou escolher aonde ficar.  Lhe disse novamente o que precisava.

Ficou rindo, eu vivi quando jovem num apartamento que amava, contou que era da província, que quando tinha chegado, indo estudar na École de Beaux Arts, tinha conseguido um apartamento, era jovem, podia subir as escadas, é um 5º andar, além da vista, não tens vizinho de nenhum lado, andava completamente nu.   Isso ele fazia até hoje no seu studio, quando aparecia alguém colocava um pareô, para enganar.

Buscou, até encontrar o proprietário, para minha sorte estava vazio, o homem ficou de pintar o mesmo, condicionar melhor.  Faria um preço mais barato, para seu antigo inquilino.

Madame Fleury, foi me buscar no aeroporto, minha bagagem era pouca, minha caixa de violino, o violoncelo, por último, um clarinete que tinha encontrado em Natal, numa loja de antiguidade, sabia que o mesmo precisava de alguém o arrumasse, mas tinha me apaixonado por ele.

Foi presente de minha mãe, antes de me abraçar no aeroporto.

Eu pensando, como subir tudo isso, mas para minha surpresa tinha agora um elevador, no meio da escadas.  O velho amigo de meu avô esperava na porta.  Apesar de ser pequeno, fui subindo de escadas com o clarinete, parecia não se despegar da minha mão.

Ele subiu primeiro com o violoncelo, minha pouca bagagem, ela depois com o violino, quando cheguei bem acima, fiquei deslumbrado com uma claraboia que tinha, com motivos floridos, imediatamente na minha cabeça surgiu uma música para o clarinete.

O apartamento era pequeno, um quarto, um salão grande com cozinha americana, banheiro, mas tinha uma varanda fechada, segundo ele a pouco tempo, mais ao fundo, como uma cabana, disse que o anterior proprietário tinha construído sem ninguém saber, era de madeira, dizia que o mesmo usava como studio.  De um lado, tinha o Cimetiére de Montmartre, o edifício, ficava numa esquina, com a rue Des Abbesses, cheias de bistrôs, padarias, todo um comércio, estarás bem servido aqui, me mostrou pela lateral do cemitério, eu tinha uma parada de ônibus, se andasse pela rua De Abbesses tinha uma estação do Metro, quase na porta, numa rua que descia tinha outra parada de ônibus.   Me disse que tinha deixado um mapa da cidade, bem como uma guia de metrô outra de ônibus, ele vivia no térreo.  Quando lhe perguntei se iria incomodar os outros com música?

Ele disse aqui se fizeram muitas festas, os únicos incomodados, são os residentes no cemitério, sinalizando o que tinha ao lado, riu muito, acabei entendendo.

Minha urgência na verdade era conseguir um lugar para consertar o clarinete, Madame, ficou surpresa, mais um instrumento.

Lhe disse que tinha uma música na cabeça, precisava urgentemente consertar o mesmo.

Venha, vamos ao trabalho, parou um taxi logo a saída do edifício, vinha um ônibus atrás, ele serve disse eu, nos levará até a Ópera.

Não, é que vamos para a Ópera da Bastilha, venha suba de uma vez, a caixa do clarinete, parecia pegada a minha mão.

Foi me arrastando pela entrada de funcionários, como se fosse mais um deles, quando perguntaram por mim, disse que o diretor nos esperava.

Estava ensaiando minha música, notei logo duas coisas erradas, falei com ele rapidamente, fui até o rapaz que tocava violoncelo, disse três notas que estava tocando errada, me olhou assustado, eu podia ser seu filho, mas era educado.  Depois fui até o solista de violino, pedi desculpas, mas ele não tinha entendido a música, pedi licença, peguei seu violino, ele ficou com os olhos em pratos, quando eu falei com o violino, perdão companheiro, me apossar assim de ti, mas quero que explicar o que quero dizer.

Fechei os olhos alisei o violino, todos olhavam com um sorriso na cara, segundo me contou Madame.  Comecei a tocar, quando acabei, o senhor do violino, disse agora entendi.

Minha a resposta o deixou desconcertado, devias falar mais com teu violino, pois ele entendeu, agora te fará tocar direito.

O diretor me perguntou se eu falava com todos os instrumentos?

Claro senhor, eles tem alma, é necessário, entender os mesmos, faze-los sentir-se importante.

Ele ia dizer alguma coisa, abri a caixa do clarinete, pedi ao rapaz que tinha um na mão, podes olhar para mim, o que está errado no mesmo.

O desmontou em seguida, uns segundos depois me devolveu.

Já vamos trabalhar, disse a orquestra, mas isso é mais urgente, pois senão não sai da minha cabeça.   Comecei a tocar a música que tinha na minha cabeça, desde que tinha a caixa na mão, a cara do pessoal era ótima.  Quando acabei, disse ao rapaz, obrigado, quando coloque na partitura, te passo para tocares.

O maestro me perguntou se eu tocava clarinete, lhe respondi que não, é a primeira vez que o faço.

Me aplaudiram, eu fiz um gesto de deixem disso, vamos trabalhar.

Tocaram o primeiro movimento da minha composição, fui corrigindo os erros, com a partitura na minha frente.  Num pedaço que todos erravam, vi que tinha um borrão, alguém tinha mexido na partitura.   Comentei com o maestro, por isso soa tão mal, quem fez isso.

Ele levantou o ombro dizendo que tinha sido ele.  Não tinha entendido o conceito.

Veja, disse eu, me sentei no piano, toquei como tinha composto, o que falta aqui, é o piano, não tens pianista?

Esta doente, não poderá tocar na estreia, por isso eliminei essa parte.

Veja é fácil, tornei a tocar outra vez, expliquei a parte que o pianista deveria fazer uma improvisação, peguei um pedaço do começo, toquei, vê, essa é a lógica da música, como nesse momento, se sentisse falta do motivo que começa a composição.

Já que estamos ensaiando, podes tu ficar com o piano.

Tudo fluiu naturalmente.

Saíram para descansar, o rapaz do clarinete se aproximou, dizendo que tinha amado a música, lhe expliquei o que queria dizer, veja bem, se significa alguma coisa de ritmo brasileiro com algo muito francês, lhe disse um compositor que incluía sempre o clarinete em suas composições.   Ficamos os dois tocando esse pedaço que lhe dizia, ele ria, é muito interessante.

Madame tinha compromissos, te deixo nas mãos do pessoal, alguém vive para os lados de Les Abbesses?

O do clarinete disse que sim, depois lhe levo, antes se apresentou, Joubert, amaria tocar essa música completa.

Passarei para partitura, depois falamos.   Voltamos a ensaiar, novamente, agora funcionava pois o pessoal tinha entendido.   Mesmo assim consertei duas coisas, de minha parte, experimentamos, pedi desculpas, essa música surgiu no paraíso, por isso, tudo está na minha cabeça.

Depois todos queriam saber o que eu queria dizer com paraíso, contei que era o lugar que tinha nascido.

Era uma homenagem ao meu professor de violoncelo, violino e piano.  Tocas tudo isso, comentaram.

Joubert tinha uma vespa, depois me levou com ele, foi uma sensação maravilhosa, pensei, tenho que ter uma para me locomover.  Teria um problema, em levar o violoncelo.

Lhe disse que precisava comer, estava morto de fome, tinha tomado o café da manhã no avião, depois mais nada.  

Perfeito, venha, vou te levar a um lugar especial, é o restaurante de meus pais.  Era um pequeno bistrô, justo numa esquina.  Sua mãe, saiu da cozinha com um avental, o beijou, me apresentou, dizendo quem eu era.  O compositor da música que estava ensaiando. 

Muito jovem, me beijou dizendo que tinha cara de fome.

Me comeria um cavalo, lhe respondi, se matou de rir.

Nos fez sentar numa pequena mesa, perto da porta da cozinha, em seguida, tínhamos comida, nem sei como chamava o prato, pois o devorei.  Tomamos um copo de vinho, uma garçonete soltou, agora para pagar, deviam tocar alguma coisa.

Os dois tiramos os clarinetes, uma cliente pediu, Clair du Lune de Debussy, ele pediu desculpas, mas tinha aprendido a tocar hoje, lhe disse que não me importava, coloquei o clarinete na boca, falei baixinho com o mesmo o nome da música, imediatamente me veio na cabeça como a tinha escutado, comecei a tocar, ele junto, as pessoas paravam do lado de fora do bistrô para escutar.

Nos encaixávamos perfeitamente combinando os sons.  Ao final o pessoal aplaudiu, rimos muito os dois.   Sua mãe, ria dizendo, ele fala com o instrumento.

Sim mamãe, toca, violoncelo, violino, piano, agora clarinete, no final de sua vida tocara a orquestra inteira.   Hoje pela primeira vez tocou uma música que estava na sua cabeça.

Contei que minha mãe tinha me feito uma surpresa, tínhamos visto o clarinete numa loja de antiguidades, mas estava fechada, ela foi lá comprou, me levou ao aeroporto, me deu de presente, passei o voo inteiro com a mesma ao meu lado, falando sobre essa música, por isso sabia.

Toque por favor, fechei os olhos, atendi, saiu como uma torrente maior, do que tinha imaginado, agora estava quase completa, sentia uma voz dizendo tens que melhorar essa parte, que era como se fosse um bumba meu boi do folclore brasileiro.

Repeti esse pedaço, até eu gostei do som.

Não precisa pagar a comida verdade, falou com os clientes dali.

Fui mostrar minha casa para o Joubert.

Ele pelo caminho ia dizendo que eu tinha mudado um pedaço da música, lhe disse que tinha incorporado uma ritmo do bumba meu boi, tive que lhe explicar o que era.

Nem tinha aberto a maleta ainda.

Estava encantado com o apartamento, eu quando tenho que ensaiar é um inferno, pois os vizinhos reclamam.

Venha quando quiseres, ele viu minha cara de cansado, se despediu, nos vemos depois.

Vi que descia pela escada cantarolando a música nova.   Imediatamente surgiu na minha cabeça uma letra para a mesma.

Tomei um belo banho, desmontei a maleta, sem roupa nenhuma, o tempo estava ótimo, em seguida me joguei na cama, tive o sonho dos justos, mas umas horas depois comecei a sonhar com o compositor que tinha morrido na desgraça.

Me falava da letra, transformaste uma simples música de desengano, numa bela composição, obrigado.

Me levantei, comecei a colocar na partitura tudo, o ritmo do bumba meu boi, anotando ao mesmo tempo a letra.

Peguei o clarinete, toquei, ficava excelente, acertando o ritmo.

Depois experimentei colocar no violoncelo funcionava, fui escrevendo as partituras, tinha sempre que me controlar, pois essas coisas me absorviam, quando ia experimentar piano, me dei conta que não tinha.  Teria que conseguir um desses tipo armário, pequenos, mas ali não ocuparia espaço.    Precisava fazer compras antes que fosse tarde, desci, rindo a toa, pois estava num lugar que era meu sonho desde garoto, Paris, escutava tanto meu avô falar da cidade que as vezes me tinha imaginado andando por ela.

Entrei num pequeno mercado, comprei o que tinha imaginado, precisava agora de pão, me indicaram aonde podia comprar a estas horas, me topei com o Joubert, que tinha cara de chateado.  Que foi que te aconteceu?

Nada demais, como sempre querem mudar o rumo da minha vida.  Hoje meu pai me perguntou se era isso que eu queria, ficar tocando num restaurante a troca de comida.

Eu o entendia, lhe contei dos meus avôs americanos, mas aprendi com meu pai, que a vida é minha que eu tenho que fazer o que gosto.

Lhe perguntei aonde poderia nadar, pois tinha sempre muita necessidade de água.

Ficou rindo, tu eres uma caixa de surpresa.

Me perguntou pelos meus sonhos, se era tocar numa grande orquestra?

Não, meu sonho é ter um pequeno grupo, para tocar as músicas que goste.

Eu também, imagina na orquestra não tens muitas oportunidades, ainda bem que esse novo maestro, gosta de composições modernas, senão se fica repetindo sempre o mesmo, vou te apresentar outros como eu que sonham com isso.

Ficaram conversando, lhe perguntou como poderia conseguir um piano tipo armário, o duro será subir.

Amanhã te levou a uma casa de instrumentos, vais jantar?

Comprei coisas para um sanduiche, mas me esqueci de verificar se a geladeira está ligada.

Me arrastou, até um bistrô numa praça, quase entrada do metro, pediu um vinho para os dois, além de algumas coisas para comermos.   A comida aqui é super barata, é argelina.

Ficamos falando sobre música, lhe contei aonde tinha estudado, esclareci que tinha estudado composição, com bons professores.

Mostrei no Youtube a apresentação com os amigos da escola, isso gostaria de ter.

Inclusive, se for para pagar a comida, gosto de tocar na rua, por exemplo num lugar como esse, com alguma coisas come, além de dar música a vida destas pessoas.  Num rompante, se dirigiu ao senhor ao lado, que tinha cara triste, lhe perguntou qual música gostava.

Ele respondeu uma de Gilbert Becaud, Et Maintenant.

Tinha escutado tantas vezes seu avô cantar, que soltou a voz, cantando para o homem, que sorria, vês a música faz as pessoas felizes.

Joubert ria, mais um pouco serás totalmente um deus em Montmartre, riram a bessa o senhor agradeceu, fez um gesto ao garçom que pagava ele.

Saíram dali, rindo, vê, pelo menos ganhamos a comida.

Como conhecia a música, lhe explicou que escutava seu avô cantando músicas francesas no seu ateliê, meu avô era daqui, se chama Jacques, dele herdei o nome.  Aproveitei para comentar que me tinha surgido uma letra para a música, queria saber se conhecia alguém que cantasse, para experimentar.

Amanhã te apresento uma amiga que é do coro, tem uma voz fantástica.

Chegaram mais cedo, pois queria experimentar no piano como ficava a música, foi escrevendo a partitura, não viu que o regente da orquestra estava na porta, escutando.

Paras em algum momento?

As músicas que tenho na cabeça não deixam, ontem já transcrevi para violoncelo, clarinete, mas me faltava o piano, não tenho em casa, mais tarde faço para violino.  Contou que tinha surgido na sua cabeça uma letra para a música.

Passou a lhe chamar de “boîte surprise”, caixa de surpresa, espero poder dirigir mais músicas tuas, foram conversando indo em direção ao auditório.

Trabalharam arduamente, depois perguntou se ele queria tocar o piano na apresentação, aquela improvisação, fazes genial.

Não tenho roupa, para estar com a orquestra.

Não se preocupe, aqui tem um vestidor da ópera, podes conseguir.

No intervalo pediu para ele mostrar de novo a música, com a parte cantada.

Ele o fez em português. Mostrou como gostaria de apresentar.

Podia ser comigo ao piano, Joubert no clarinete, uma pessoa no violoncelo, uma cantora.

Vamos ensaiar de tarde, arrume a partitura no violino, fazemos como um bis, o que acha, mas avise Madame, para poder cobrar.

Telefonou para ela, que disse que com certeza estaria ali, me prepare uma cópia das partituras para poder registar.

Ele queria colocar o nome do compositor original.  Tinha que falar com ela, mas foi para uma sala fazer a partitura no violino.

Joubert veio falar com ele acompanhado de uma jovem, não era bonita, se via que tinha ascendência árabe, Fethima.

Só um minuto, para acabar de escrever a partitura do violino, não estava com o mesmo na mão, Joubert perguntou como fazia?

O tenho na cabeça.

Sentou-se ao piano, tocou a peça inteira, agora vou cantar para ti.  Soltou sua voz, como na noite anterior.

Escreveu a música, foi lhe ensinando a pronuncia, pois o ritmo ela pegou fácil.

Quando os chamaram, foram para o palco, o diretor tinha escolhido, um para o violino, para o violoncelo, Joubert para o clarinete.  Apresentou a moça, ele perguntou se ela era do coro.

Ela disse seu nome, Fethima.

Cada um com a partitura, começaram a ensaiar, virou-se, Jacques, qualquer coisa, me corrija ok.

Ficava super bonita para tocarem junto, faltava algo de percussão, foi até aonde estavam os instrumentos, encontrou um triangulo, bem como um chocalho.

Joubert, correu para ver se encontrava alguém de percussão por ali.

Trouxe um rapaz, ele explicou o ritmo, demorou mas pegou.

Vamos outra vez.  Ficava mais completa.

Madame que assistia tudo desde a plateia.

Bateu palmas no final.  De aonde saiu essa música.

Do clarinete.

Perguntou para ela, se podia fazer uma coisa, essa música a base dela é de outra pessoa, está morta, podíamos colocar o nome dele, com arranjo meu.

Se é assim o dinheiro não tem para onde ir, faça o seguinte, em homenagem à fulano de tal.

Pensou, está bem.

Ela levou uma cópia das partituras para registrar.  Vou ficar rica contigo “mon garçon” se despediu rindo.

Ele ia falar da roupa, mas Rodrigo Hauser o diretor da orquestra apareceu com uma senhora, que o arrastou para o guarda-roupa.  Olhou seu tamanho, o levou a parte, escolha.

Tudo era negro, ufa, odiava se vestir de negro, comentou isso, tampouco usava branco.

Ela riu a bessa, chamou uma outra senhora Carol, escute isso.

Mostrou uma roupa usada numa ópera, era um traje marrom com a solapa em laranja, isso eu gosto soltou ele.

O fizeram vestir-se, mas lhe disseram, quieto, pois o pessoal não está acostumado a isso.

Mais dois dias de ensaio, foi buscar o traje, guardou no camarim que lhe tinham dado.

Quando a senhora, acompanhada com a Carol, apareceu, ele estava queimando canela, sentado na frente do espelho.

Ficaram surpresas.   Para os espíritos disse ele.

Quando o diretor da orquestra o viu, só pode rir, Mon Dieu, surprise.

A orquestra já estava no palco.   Tocaram primeiro uma música de Mozart.

Quando terminaram os aplausos, o diretor, anunciou, agora em estreia mundial, a obra de um jovem compositor brasileiro, com sangue francês nas veias, “um Boîte du surprise”, Jacques Bradtrush, ele hesitou, pensou, meus amigos, comigo.  O diretor, foi até ele, para o apresentar, os aplausos, entre surpresas pela sua roupa, foi bom. Se sentou no piano, colocou as mãos sobre as teclas, meu amigo, me acompanhe por favor.

O diretor já sabia o que ele fazia, esperou.  Quando ele inclinou a cabeça, começaram a tocar a música.

O público, esperava uma composição contemporânea, dessas chatas, mas escutou uma melodia totalmente particular, as partes do violoncelo surpreendiam, se ele estivesse tocando, pensaria no professor.

Quando terminaram, o público aplaudia de pé, viu Madame na primeira fila, com algumas pessoas que deduziu que conhecia. Lhe fez um sinal positivo.  Ele pediu um microfone, essa composição, foi feita para meu professor, a pessoa que me descobriu Andrei Ivanovich.

O diretor, agora como bis, vamos tocar uma composição, em homenagem a Vicente Domingo, um compositor brasileiro.

A orquestra se retirou, rapidamente arrumaram o cenário, ficaram só eles. Viu que Fethima, estava nervosa, colocou a mão sobre a dela, relaxa, sorriu.

Desta vez tinha um microfone em cima do Piano, essa música esta feita em cima do Bumba meu Boi, uma festa tipicamente brasileira.

O diretor deu o sinal, foi tudo de um fôlego só, quando terminaram o público estava em pé, ele fez questão de apresentar cada um, deixou por último a Fethima. Como hoje é minha estreia, também é a da minha querida Fethima.

Agora vou repetir um trecho que me é querido, tinha ensaiado com ela, além do percursionista, cantaram os dois dentro de um ritmo, o público se levantou outra vez, sem querer olhou para a plateia, lá estava o homem dos seus sonhos, fazendo um sinal afirmativo.

Quando saiu, tinham vários jornalistas com Madame, querendo lhe entrevistar.

Iriam repetir o recital, mas três vezes.

Ela estava super feliz, foi apresentado aos jornalistas, um lhe perguntou, porque das cores, ele sem pensar, respondeu, para mim as músicas têm cores.

Ela disse que no dia seguinte teria que estar num programa famoso, por ser domingo, para tocar alguma coisa, ele disse, só se for com meus companheiros, além do diretor.

A viu ficar nervosa, discutindo com alguém, até que concordaram.  Avisou a todos.

O diretor, disse que a gloria era dele.

Mas se você não tivesse aceitado a música, não estaria aqui.

Ela os convidou para jantar.   Antes, ele foi até a porta aonde estavam as senhoras do Guarda-roupa, levando duas taças de champagne, as fez entrar.

O diretor, ria, é que expliquei que não gostava de roupa negra, nem branca, ela me arrumaram essa.

Foram jantar, no restaurante que ela tinha escolhido, as pessoas se levantaram para aplaudir, pelo visto isso era como uma armadilha dela, para glorifica seu protegido.

Um homem falou com ele em inglês, que gostaria de apresentar as duas músicas com a Orquestra de Berlin.  Ele indicou a ela. Pode negociar.

Depois na mesa, disse que a segunda música, só se fosse com o Joubert, como Fethima, eu se fosse vocês os tinha como seus protegidos. 

Realmente ela tem uma voz linda, tens razão.

Viu que tinha um piano, se levantou depois de comer, levou sua taça sem tocar de champagne, saudou todo mundo, disse que tinha sentido falta de seu avô, ele ia adorar estar ali, disse seu nome, um pintor francês que vive no Paraíso, Genipabu.

Colocou a mão sobre o piano, pediu licença. Começou a tocar várias músicas que o escutava escutar e cantar.  Acabou com Et Maintenant.  Ainda escutou um dizendo, o filho da puta também canta.

Quando chegou em casa, estava morto, só pensou, já estou no mundo.  Caiu redondo dormindo, despertou com alguém batendo na porta.

Era o proprietário com jornais, eu fui ao concerto ontem, achei o máximo.

Todos falam em ti, apertou sua mão.  Não sabia que tocas piano, tenho um guardado no sótão, foi de um senhor que viveu no andar de baixo, quando morreu, os sobrinhos não queriam, diziam que não valiam nada.  Se queres posso subir.

Agradeceu, ia adorar.

Logo depois chegou Madame, Joubert, o abraçaram.

Falavam de um solo que ele tinha feito, minha mãe adorou, esfregou na cara do meu pai, o jornal falando do seu filho.

Fethima, era elogiada pelo seu tom.

Foram almoçar no bistrô dos pais do Joubert, a mãe tinha ido ao concerto, tinha assistido desde a galeria.   Chorei muito vendo meu filho fazendo o solo, sabia que ia ser bom.

Fethima, chegou atrasada, minha família está como louca, nunca saímos no jornal, imagine.

Madame, virou-se para os dois, tenho que falar com vocês, ele foi convidado para apresentar as duas músicas em Berlin, mas disse que só vai se vocês forem.

Ficaram de boca aberta.

Ele se desculpou, dizendo que eles tinham entendido a música, imagina ensinar para um alemão.

Ficaram rindo.

A mãe do Joubert, ficou repetindo, Berlin, imagine.

Madame tinha mandado o vídeo para seus pais, falando inclusive de Berlin.

Queriam saber as datas para poderem estar.

Nesse meio tempo, lutava para encontrar uma pessoa para fazer os sons que tinha na sua cabeça, sem achar.  Tinha considerado o que tinham apresentado um pouco nulo.

Se dedicava agora que era verão, ir para um lugar que tinha descoberto um dia, voltando da Ópera, uma acústica perfeita, a Place Les Voges, aonde nos dias de afluência de turistas, artistas se apresentavam.  Comprou um traje moderno, ou levava o saxofone, tocava músicas que lhe vinham a cabeça, ou o violino, um dia ia chegado, justo no lugar que estava sempre, tinha um homem cheio de instrumentos, mais estapafúrdio possível.   Primeiro ficou escutando, viu que ele no fundo tocava uma música diferente, fez um sinal como dizendo posso tocar.  Abriu sua caixa do clarinete, começou a tocar a música que vinha do homem, esse ficou com os olhos abertos, seguiram tocando juntos.   A caixa do clarinete, logo ficou cheia de notas de cinco e dez euros.    Quando pararam, ficaram rindo um para o outro.

Estenderam a mão se apresentando Jacques.

Me chamo Aribô, sou do Benin, ficaram conversando, nesse momento chegava o Joubert com quem tinha combinado tocarem qualquer coisa.

Escute o que vou tocar, comentou do bumba meu boi, fazendo a marcação na caixa do instrumento, tocou o pedaço que ele queria.   Em seguida o outro acompanhou com a percussão.

Passaram o resto do dia fazendo improvisações o três.  Quando iam embora, perguntou aonde morava, mas não esperava a resposta do outro.

Na rua, aonde vai ser, nem tenho documentos, não sei como vocês não reclamaram do meu cheiro, a dias que não consigo tomar banho, nem trocar de roupas.

Venha comigo, conseguiram distribuir entre eles os instrumentos, dentro de sacos, foram de taxi, até sua casa.  Reparou então que o taxista sim sentia o cheiro do Aribô.  Mas ignorou.

Subiram cada um de uma vez, com as bolsas que lhes tocava.

Lhe ofereceu o banheiro para que ele tomasse um banho, se olharam, separou de suas roupas calças, camisetas, cuecas, até um tênis que tinha comprado depois tinha lhe ficado grande.

Dobrou tudo, deixou na porta do banheiro.

Era outra pessoa quando saiu, com seu cabelo Black Power imenso. Foi para o lado de fora, sacudindo a cabeça.

Ufa, tirei um peso de cima.   Nenhum dos três tinham comido direito, tinham compartido uns sanduiches que Joubert tinha ido comprar.

Quando se sentaram no restaurante, sua mãe olhou o Aribô, menino como estas magro, já começava a fazer frio pela noite.  Serviu uma boa sopa, que ele devorou, junto com pão, depois carne, comeram rindo, quando lhe ofereceram vinho, disse que não bebia, sua religião não permitia álcool.  Pensaram que ele muçulmano.

Não, sou animista, respondeu, respeito as religiões, mas a minha venera os deuses dos elementos.

Joubert, disse que tinha em casa um saco de dormir, que tinha usado uma vez só, quando mais jovem, creio que te servira.

Voltaram para casa, ficaram falando dos instrumentos, podemos ir na loja olhar amanhã.

Mas não tenho dinheiro para isso.

Falou com Madame, precisava que ela conseguisse os documentos para um músico, que ele necessitava para completar o grupo da Alemanha.

Disse que amanhã, a veriam na Ópera, teriam que ver o que tinham lá, para anotar o nome para comprar.

Logo cedo foram os três cortar cabelo, o do Aribô, ficou bem baixinho, viu que ele andava diferente, é que o sapato está apertado.   Pararam para lhe comprar outro.  Ele queria comprar um barato. 

Ari, como passaram a lhe chamar, o inverno vem aí, tens que comprar um que sirva para o começo do inverno.    Logo ganharas dinheiro, poderás devolver tudo, não em dinheiro, mas entendendo a minha música.   Logo se juntou a eles Fethima, o diretor tinha emprestado uma sala aonde podiam ensaiar.  Ficaram um longo tempo procurando as percussão, até que encontraram o que lhes servia.

Anotaram o nome de tudo.  Ele tinha recebido um bom dinheiro não só das apresentações, bem como da música.

Teriam no final de semana seguinte, uma nova apresentação das duas músicas, o diretor estava contente, pois tinha sido a pedido do público.

Ari, escutou a primeira música, pediu desculpas para usar os instrumentos que estava na parte de percussão.   Tocaram outra vez, com ele participando.   Ficava mais exótica, como ele tinha imaginado.    O diretor tinha gostado, fizeram a segunda, também ficava diferente.

Antes da apresentação fariam uma entrevista num programa cultural.

Concordou, se iam os cinco. O diretor dizia que ele para ser um artista novo, era companheiro, pois sempre tinha uma palavra de elogio a um companheiro.   Outro já estaria se achando uma estrela.

Eu não sou uma estrela, sou uma pessoa que está começando seu caminho para um futuro, não estou preocupado com ser famoso.

Foram vestidos todos simplesmente, Madame estava batalhando para conseguir os documentos, do Ari, tinha conhecidos em altas esferas.

No dia antes, foi com ele há documentos, conseguiu, voltou feliz da vida, já sou alguém.

No dia da entrevista, o entrevistador, disse que não sabia que vinham todos, tinha perguntas só para ti.

Não seja por isso, eu os apresento, fazemos uma conversa informal.

Apresentou um a um, disse que o Aribô, tinha sido a última aquisição deles, estou formando um pequeno grupo, para trabalhar, isso é uma coisa que já conversei muito com o Joubert, sonhamos com isso, fazer música boa, tocar em qualquer lugar que nos queiram.

O Rodrigo Hauser nos lançou ao mundo, espero que queira ir junto nessa jornada.

Perguntaram de aonde ele era?

Nasci em Genipabu, disse aonde era, um paraíso, meu pai é americano, minha mãe filha de um francês, fantástico, tem muitas obras suas pela França, disse o nome do avô.

Tua música que foi estreia mundial, o Rodrigo corrigiu, as duas que tocamos foram estreia mundial, imagina que estamos sempre com problemas com os compositores contemporâneos, pois o público normalmente não entende o que querem, já o Jacques, tem um dom, de transformar a música em sinfônica, bem como moderna, sem perder a essência de ser entendida, de chegar as pessoas.

Estudaste desde jovem a música?

Não, sempre fui bom estudante, mas não de música, amava fazer surf, aqui é a única coisa que sinto falta, água. Necessito dela, quem souber de alguma piscina grande me avise.

Um pequeno público ali, riu.

Comecei aprender música com o professor a quem dediquei essa música, pois ele me ensinou a escrever, ler partituras, a entender a o instrumento.   Senti primeiro o violoncelo, depois o piano, agora por último o clarinete.

Que quer dizer com sentir?

Nunca estudei nenhum instrumento, mas no momento que o toco, sinto sua presença, peço licença para expressar o que ele quer de mim.

A cara do apresentador, era ótima, mas ele desviou o assunto, falando da bela voz que tinha a Fethima, tinha um piano ao lado do cenário, ele se sentou, tocou um dos pedaços que ela cantava, quando se deram conta, estavam os quatro tocando.

Veja, dizia ele do piano, a música aglutina as pessoas, faz as mesmas mais felizes, é isso que eu quero.

A entrevista foi um sucesso, seus pais, com o velho Jacques chegaram no dia anterior. Madame Fleury conseguiu uns lugares excelentes para eles na plateia.  Tinham desfrutado de uma noite super agradável no bistrô dos pais do Joubert, seu avô, já os conhecia de jovem, dizia, se não fosse esse sem vergonha que me roubou a namorada, tinha ficado aqui, não tinhas nascido.

Mas era tudo brincadeira.

Deu de presente para sua mãe, um vestido fantástico, ficaram hospedados num hotel que seu avô ficava sempre.

Com as novas mudanças, a música ficava mais forte.   Na semana seguinte iria para Berlin, trabalhar com a orquestra.   Ele já estava trabalhando uma música, que tinha lhe surgido numa noite, pensando na vida.

Ari, tinha conseguido um pequeno apartamento ali perto, iam os três juntos, Fethima os chamava de três mosquiteiros.

Conseguiram uma sala para continuar seus trabalhos, no pouco tempo que sobrava, andavam pelas ruas, numa loja de antiguidade, encontrou um saxofone, o comprou, nada mais tocar no mesmo.   Era como uma relíquia, a época que estava inscrita de sua fabricação, era muito antiga, sentiu que dele saia uma música melancólica.

Nessa noite sonhou com o proprietário origina, um judeu, o instrumento tinha passado de mão em mão, mas ninguém o tinha sabido apreciar.

Se levantou de madrugada para escrever a música.  No dia seguinte já estava trabalhando na mesma, era como uma sinfonia melancólica, ao mesmo tempo alegre no final como um júbilo pôr o instrumento ter finalmente ter encontrado um proprietário que sabia apreciar.

Madame Fleury avisou que o público de Berlin, era mais fechado, que não esperasse que se levantasse ao final para aplaudir.

Na noite anterior a estreia, o diretor da ópera, disse que ainda sobravam entradas, isso antes deles saírem para uma entrevista na televisão.

Deram a entrevista, basicamente em francês, eles tocaram um trecho da obra, no dia seguinte de manhã, já tinham vendido tudo, bem como a segunda apresentação do domingo.

Estavam preparados como dizia Madame, para um final tranquilo.  Mas se surpreenderam de terem muita gente em pé.

Na segunda música, foram mais pessoas.  Pediram outro bis.

Vou tocar um trecho de uma nova composição, inspirada num compositor de Berlin, dono do saxofone que comprei essa semana.    Pegou o instrumento, passou a mão pelo mesmo, disse brilhe por tua própria luz.

Começou a tocar, se podia sentir as notas saindo do mesmo, viu que algumas senhoras, levavam um lenço aos olhos, lhe tinha tocado a alma.   De novo um aplauso fantástico.

Estava passando para os outros, as partes da música que já tinha trabalhado, o compositor lhe tinha dado o caminho, ele ia percorrendo, transformando numa sinfonia.

De lá foram para Estocolmo, como dizia o Joubert, estamos com o pé na estrada.  Mas todos trabalhavam agora juntos, na melodia completa, inclusive Fethima, cantava uma parte que parecia uma valsa melancólica.

Madame foi prontamente registrar a mesma.  Semanas depois, já tinha outros contratos, um que ele não queria aceitar de imediato, que era para tocar em San Francisco. 

Vou dizer uma coisa, que fará pensar que sou um idiota, mas se tocamos antes em San Francisco, parecera que somos músicos americanos, que tem que primeiro vencer no interior, fazer uma turnê por todas as capitais dos Estados, para vencer finalmente em NYC.

Temos que fazer ao contrário, primeiro conseguir um convite para NYC, para depois irmos como personagens importantes para as outras capitais.

Como estrelas de rock, soltou Joubert.

Mais ou menos isso.

Foram antes tocar em Milão, Veneza, Roma, meses depois iam estrear mais uma vez a sinfonia nova em Paris.

Madame Fleury avisou que tinham dois diretores na plateia, da Orquestra de Boston, um do Lincoln Center, vamos ver como me ajusto.

A primeira parte seria uma música de Bela Bartók, uma hora antes o Rodrigo Hauser apareceu nervoso, o solista tinha sofrido um acidente, teria que tocar uma das músicas como solista.

Qual lhe perguntou?  Deu a chave do apartamento pediu que Joubert fosse até lá buscar seu violino.  Ele tinha assistido o ensaio, sabia a música. 

Lhe colocaram uma partitura na frente, mas alisou antes seu violino, vamos meninos, a brilhar.

Segundo depois o Rodrigo, tinha tocado melhor que o solista convidado.

Quando lhe apresentaram, dizendo que na verdade ele substituía de última hora o solista, escutou tipo pessoas reclamando.

Mas ao final fez sucesso, quando chegou a parte deles, ao aparecer tocando um saxofone, pediu licença, falou do compositor, esse saxofone pertencia a ele, essa musica foi originalmente feita nele, mas eu a trabalhei, para transformar essa música não numa música triste, mas sim numa história de que um instrumento pode sobreviver muitos anos, guardando as lembranças das alegrias que deu.

O público ao final aplaudia em pé, principalmente no movimento final, como se a temperatura fosse subindo, em movimentos rápidos dos violinos, os acordes do saxofone fossem mais vibrantes, foi um sucesso.

Durante a semana iria gravar com a orquestra as duas primeiras composições, a gravadora, queria incluir essa também, transformando num álbum.

Depois da comemoração com os da orquestra, desta vez ele vestia uma roupa louca que tinha visto numa loja.  Não tinha resistido, comprado, tinha tocado sem sapatos. O que chamou muita atenção.

Dizia cada vez mais tenho que ter os pés no chão.

Foi convidado para jantar pelos dos Estados Unidos, foi com Madame Fleury, a contra gosto, pois queria que fossem todos.

Quando disseram que só queriam a ele, declinou o convite, sinto muito, mas só toco com meu grupo.  Tinham visto que o grupo, ficava como no centro da orquestra, sem eles não vou a nenhuma parte.

Não gostaram muito, agradeceu muito o convite, o do Lincoln Center disse que o tinha visto na sua apresentação com seus amigos em NYC.               Sim a primeira música é justamente uma homenagem ao meu professor inicial, que foi justamente em Los Angeles.

Se dedicaram semanas a gravar o CD, ficou melhor que o concerto, porque puderam polir a música, Rodrigo Hauser, o ajudava nisso.  Era quem mais lhe entendia a cabeça.  Afinal ele o tinha lançado.

Quando Madame veio falar com ele, durante uma gravação, ficou pasma de como o trabalho estava entrosado.  

Agora entendo o que queres dizer.  Vou sugerir que contratem o Rodrigo Hauser para te acompanhar toda a temporada americana.

Iniciaria em NYC, depois iriam a Boston, San Francisco, Los Angeles, Toronto e Vancouver.

Meninos o que acham.

Rodrigo Hauser, estava em vias de renovar seu contrato, mas para ele, era mais importante fazer nome nas América.

Falou com seus pais por telefone, avisou, assim que acabe essa turnê, irei para o Paraíso.

Levaram meses fazendo a Turnê, estava farto de entrevistas, com as mesmas perguntas, o mesmo sentido.  Finalmente em San Francisco, tirou dois dias para ir fazer Surf, o pessoal ria dele.  Um jornalista, fez uma reportagem, o primeiro compositor surfista.

Quando lhe perguntaram, ele dizia que fazia muito surf em Los Angeles, na escola que estudava.   Falou com seu avô por telefone, o convidou para vir com sua família ver o conserto.

Veio com suas filhas, estava mais relaxado, esteve almoçando com ele, bendita hora que me deste teu conselho.  Estou mais feliz.  As filhas eram morenas, como sua esposa, descendente de mexicanos.

Quando acabou tudo, avisou ao pessoal, vou para o paraíso, alguém vem comigo?

Foram todos, avisou seus pais, quantos iam ser.  Quando entrou no mar, sentiu como uma descarga, se dedicou a ensinar a Ari, bem como a Joubert a fazer surf, Rodrigo disse que passava.  Mas de tarde ensaiavam uma nova composição, era um trabalho de grupo.

Seu avô, sempre que podia estava agarrado com ele, sinto que meu tempo está terminando meu neto.  Quero que me prometa uma coisa, se me morro, venha tocar no meu enterro.

Quando voltaram, Rodrigo foi convidado para preparar duas apresentações da orquestra, Ari resolveu ir ver sua família em Benin.

Já que conheceste o paraíso, vou contigo nessa aventura.  Foram os três.

As vezes notava, como se Joubert tivesse alguma coisa com Ari, mas não se dava por achado, pois em sua cabeça o sexo parecia não existir.

Foram de viagem, desceram em Cotonou, foram indo para o interior, num 4X4, quando já estavam chegando à aldeia de aonde ele tinha saído, quase fronteira com Burkina Faso, viram uma coisa insólita, um grupo de garotos armados com metralhadoras.

Viram dois militares rebeldes de Burkina Faso atirados na estrada, pararam o carro, levavam um segurança, que disse, fiquem quietos, o grupo já entra na floresta, uma garota, com uma criança apoiada na cintura, voltou correndo, deixou a criança na beira da estrada, lhe deu um beijo, saiu correndo.

Ele saiu do carro, correu até a criança, que chorava desconsoladamente.   Quando a pegou no colo, olhou para ele, sorriu, olhou em direção aonde estava a menina, ela mandou um beijo.

A criança se encostou no seu ombro, só então ele percebeu que cantava uma canção de ninar em outra língua que não conhecia.

Quando entraram na Aldeia, a família do Ari, veio correndo, comentou que os garotos soldados estiveram aqui, procurando dois chefes deles, que os tinham maltratados, procuravam vingança, a maioria nem sabe de aonde saiu.  Essa criança estava com uma garota, que disse que um deles tinha matado sua mãe.

Ele pediu uma bacia, deu um banho na criança, tirou uma camisa sua da maleta, a envolveu com ela.   Parecia um encontro.

Cada vez que a criança chorava, ele cantava a música que tinha na cabeça.  Viu um homem velho, não sabia precisar sua idade, disse para ele, vieste buscar teu filho.

Ficou confuso, o velho ficou conversando com ele muito tempo.  Os dias todos que passaram ali, fizeram música.  O velho sempre estava presente.

Apareceu uma senhora na aldeia, o velho conversou com ela, esta conseguiu os papeis para a criança, quando lhe perguntou o nome, ele soltou Jean Bradtrush, dias depois apareceu com os papeis.  Quando chegaram a Paris, ele foi com Madame registrar a criança, no consulado brasileiro, bem como nos serviços franceses.

Descobriu no seu edifício um apartamento maior, mas ia a todo lado com o garoto a tiracolo, todo mundo estranhava pois o mesmo não incomodava nada durante os ensaios, os trabalhos de partitura.

Conversando com Rodrigo, desabafou, em nunca amei ninguém, nem tenho muito sexo por aí, tem uma pessoa que gosto desde sempre, mas nunca tive intimidade com ela.

Pensou que era Fethima, que no momento cantava em Berlin uma Opera.

Não nada disso.

Rodrigo uma vez tinha se insinuado para ele, mas nunca tinha tido nada.  Na época tinha ficado com medo de estragar tudo.

Este demorou a entender que gostava dele.

Foram se aproximando devagar. O garoto, adorava o Rodrigo, agora que andava corria para ele.

Os dois trabalhavam a música que tinha surgido em sua cabeça, Aribô tinha montado com alguns percursionistas, uma parte da música.  Pela primeira vez seu trabalho não tinha conotação europeia, mas sim africana.

A música começava, com um tam, tam, atabaques de cada lado da orquestra, que como se falassem entre eles, ele foi montando pacientemente o quebra cabeça com Rodrigo, pois as vezes os pedaços de músicas apareciam justamente com ele dormindo, ou cantando para o filho.    Rodrigo agora ficava para dormir, o romance deles era interessante, era como iam se explorando, se conhecendo em outro âmbito.

Ele se levantava de madrugada, quando se despertava com algum pedaço da música, para anotar com medo de perder.

Talvez, era sua obra mais complicada, pois incluía muitas coisas, que ele fazia por instinto, era como se lembra-se de pedaços de conversa que tinha tido com o velho da aldeia.

Ari, o ajudava em todo que era possível, pois as vezes surgiam em sua cabeça palavras que queriam descrever alguma coisa, mas que ele não entendia.

Foram montando como um puzzle gigante musical.

Mas chegou um momento, com o inverno em cima, que ele precisava relaxar, sentia que essa música era diferente de todo o anterior.

Nesse momento que estava cheio de dúvidas, apareceram coisas que mudaram radicalmente tudo.

Rodrigo Hauser, recebeu um convite para dirigir a filarmônica de Boston, era um convite que ele esperava a muito tempo, isso significaria, passar um ano ou dois por lá.

Fethima, estava com uma ópera atrás da outra.  Só restavam Joubert, bem como Ari, notou algo diferente entre eles, Joubert agora era conhecido, partiu para uma série de concertos pela temporada de inverno em toda a Europa.   Na verdade achava que no fundo as coisas encaixavam, pois quem era vital para ele era Ari.

O convidou para ir para Genipabu, para o paraíso, tinha chegado a hora dos pais conhecerem o neto.

Mas quem verdadeiramente ficou louco com a criança foi o velho Jacques, tinha um bisneto, a ele a cor da criança lhe importava uma merda.

Os pais também ficaram contentes, Jean era como a alegria da horta, como estava sempre sorrindo, as pessoas ficavam loucas por ele.

Mas a surpresa, foi o dia que o colocou em cima de uma prancha de surf, batia palmas como se fosse uma festa.  Adorava o mar.

Ele ao mesmo tempo precisava trabalhar, um dia andando com Ari, viu a velha casa da cartomante como diziam.  Com um cartaz de vende-se.

Foram se informar, o preço era bom, tinha sido alugada através dos anos a muita gente, mas conseguiu pessoas para tirarem tudo que estava dentro, limparem, pintarem, viram que era maior do que parecia.  Só lhe faltava um piano, mas o conseguiu em Natal.

Retomaram o trabalho, agora como se estivessem com os pés no chão a coisa funcionava. Quando a primeira parte ficou pronta, mandou para Madame Fleury, ela avisou que tinha registrado, mas que iria de férias, os veria em breve.

Os veria em breve, era que estava chegando ao paraíso.

 Tinha seu tempo de mar, mas pela tarde, ia acompanhar o desenvolvimento da obra.

Surgiram duas partes cantadas, idealizaram um coro para essas partes.  Quando finalmente deram por satisfeitos, os dois começaram a trabalhar detalhes.

Nesse meio tempo, foram se conhecendo melhor, ao viver na mesma casa, surgiu algo entre eles, um dia perguntou ao Ari, o que ele tinha com Joubert.

Pensei que ele gostasse de mim.  Mas era mais por estarmos juntos, um sexo sem sentido de ser.   O que sinto por ti é diferente, era como se estivesse tudo predestinado.

Te encontrar, ir contigo ao Benin, fazermos esse trabalho junto.

Realmente creio que comigo passou o mesmo, com relação ao Rodrigo, se perguntas se o amei, não sei dizer.

O velho Jacques vinha as vezes escutar o trabalho deles, dizia que gostava muito de uma parte que ele chamava de Kyrie, como um lamento, prefiro essa no meu enterro.

Dias depois estava na varanda da pousada com o bisneto, sorriu, morreu.

O enterro foi emotivo, pois todo dali o queriam, desde as pessoas mais simples, as mais importantes, na verdade a maioria não sabia o seu nome, o chamava de francês, ou pintor.

Os dois cantaram a música no enterro, as pessoas não sabiam se aplaudir, mas todas vinham dizer que era muito bonita.

Agora a dúvida era, voltar para Paris, o pequeno Jean, estava crescendo, como iam fazer, deixa-lo para trás, nem pensar.  Tomaram a decisão, agora faziam tudo junto, Madame Fleury que era mais prática, arrumas alguém para cuidar dele.

Arrumaram sim uma senhora negra que estava o tempo todo com ele, ia aos ensaios com a orquestra, mais uma vez iam ser lançados pela Ópera.

Ele conseguiu um homem que entendia de coros, ao mesmo tempo que Ari, trabalhava com alunos de percussão da universidade de música, para poder compor o trabalho.

A orquestra desta vez não ia usar a roupa tradicional, os trajes negros, falou com o cenógrafo da Ópera, esse criou uma mistura de roupas africanas, sem estarem exageradamente coloridas, a cor era o azafran.

Conseguiu uma coisa inédita, com a diretoria, sempre contendo despesas, Que as entradas, fossem como convites, que cheirassem a canela.

Quando as pessoas entravam na plateia, o cheiro era esse que sentiam.

Jean sabia as músicas inteiras, agora cantava com ele a canção, que ele tinha lhe cantado quando o pegou na estrada.

Ele fez uma coisa, gravou o menino cantando, em um dialeto Yoruba muito antigo segundo Ari, as pessoas estavam acomodadas, escutavam aquela voz infantil, cantando a canção.

Em seguida o coro cantava a mesma desde as laterais do teatro, o que ninguém esperava, nesse momento começava a função.

Conforme o ritmo dos atabaques fosse aumentando, o coro ia entrando no palco, cantando, marcando ritmo.  Nas laterais e atrás, estava a percussão, no centro os metais, ladeados pelas cordas.  Ele era o maestro, estavam no meio da função, já quase no intervalo, quando jean, acompanhando a música entrou no palco para surpresa da plateia, se sentou nos pés dele como fazia sempre, quando o coro começou a cantar o final da primeira parte, se levantou começou a cantar junto, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

A plateia estava deliciada.

Aplaudiram como loucos, ele ainda não tinha visto, quando se virou, Jean agarrou suas pernas.

Pediu desculpas, meu filho acompanhou todos os ensaios do palco, creio que pensa que está em casa.

Estava deslumbrado com os aplausos, sorria para todo mundo.

A segunda parte começava justamente pelo que seu avô tinha chamado de Kyrie, com o coro cantando, era emocionante.

Essa parte voltava no final, mas num ritmo diferente.

Quando terminaram o público vibrava, ele ia a frente com o Ari, os dois agradeciam, quando novamente o Jean entrou correndo, queria agradecer também. Com ele no colo, foi falando com os músicos, que estava contentes com o trabalho.

O coro era aplaudido em pé, pelo seu trabalho. Não podia negar tinha feito um trabalho, fantástico.

Fariam cinco dias da semana seguinte, com entrevistas, agora pediam que levasse o Jean, sem dúvida seria um artista no futuro.

No primeiro programa que tinha ido, quando tudo começou, quando perguntaram para o menino qual a parte que mais gostava, ele cantou a abertura.

Agora chegava a época que tinha que ir à escola, ia ser um problema, pois tinham concertos em vários lugares.   Se lembrou que embora fosse maior, tinha ido para o colégio interno, quando sugeriam isso, se negava a pensar nisso.   O jeito foi contratar uma baba, que ao mesmo tempo lhe ensinava as ler, escrever.   Se negava rotundamente se separar do menino.

Estava escrevendo um trabalho novo, já tinha gravado em cd o concerto, bem como existia em vídeo.     O queriam nos Estados Unidos, mas disse que só aceitaria para a temporada seguinte, ia passar uns meses em Genipabu.

Ari concordava com ele, precisavam relaxar.  Precisavam de água.

Os meses fora tinham sido produtivos, a obra dava dinheiro.  Tanto que quando soube que as terras em volta da casa iam ser vendidas, para construírem mais, gastou dinheiro, comprou, para que não tirassem esse pequeno mundo de floresta que restava.

Foram convidados pela primeira vez para montarem esse trabalho no Rio de Janeiro, bem como São Paulo, encontraram justamente o que necessitavam, modificaram algumas coisas, as pessoas adoravam o trabalho.

O diretor do Lincoln Center veio ver, foi um dos que aplaudiam em pé.

Quando um crítico de arte, comentava querendo como que rotular o espetáculo, ele discordou dizendo que nem pensar, que o trabalho do Jacques era universal, nada de rótulos.  Seus pais, estavam cansados do trabalho da pousada, o que resolveu seu problema, foram com ele, assim Jean não estava desatendido.

Nunca tinha comentado com eles, o relacionamento que tinha com o Ari, só a primeira vez que Jean chamou os dois de pai.

Fizeram NYC, depois montaram em Boston, em seguida voltaram para a Europa, Berlin os esperava.   Lá foi mais difícil a montagem, Ari dizia que tinha muita gente branca em cena.

A coisa melhorou, quando lhe pediram para fazer a trilha sonora de um filme, tinha transformado o apartamento de cima num studio de música.   Os dois encaixavam perfeitamente, conseguiam trabalhar em parceria, discutindo a música que estivessem trabalhando.  Seus pais, fizeram amigos, Brad ia agora levar o neto todos os dias a escola, depois ia buscar.    Ele se rebelava, pois queria estar no studio, tiveram os dois que falarem com ele, que ele precisava estudar, que teria uma parte do dia que o deixariam entrar no studio.

Um dia o surpreenderam tocando violino.   Um trecho da música que estavam trabalhando.

Era como Jacques, tinha ouvido universal, aprendia tudo, escutando.  O colocaram para estudar partituras, não gostava muito mas aprendeu.

A música do filme ganhou um César, como melhor trilha sonora, foi lançada a parte num cd, como o filme foi candidato ao Oscar, foi indicada para o mesmo.

Lhe choveram trabalhos, mas aceitavam o que lhes interessava.

Fazia muito tempo que não sabiam de Joubert, que não parava, sabiam que estava nos Estados Unidos, mas não aonde.

Quando o encontraram, tinha vindo ao enterro do pai, levaram uma surpresa, estava completamente diferente, se dedicava agora a tocar música clássica, jazz, o que viesse pela frente.   A primeira coisa que disse foi que sentia falta do paraíso.  Ele já sabia dos dois, pois Jacques fazia questão de assinar as músicas com o nome dos dois.  Afinal trabalhavam juntos, para ele era normal.

Foi visita-los uma duas vezes, disse que já não encaixava mais em Paris, preferia viver em NYC, aonde podia desfrutar de uma vida mais livre.              Gravava discos acompanhando grandes cantores, tinha se acomodado um pouco.

Quando o inverno apertavam iam para Genipabu, para a casa deles, sua mãe dizia sempre ah que bom voltar para casa.   Seu pai nem se fala, passava dias dentro da água, com o neto.

Tinham feito quatro trilhas sonoras, seguidas, ganharam um bom dinheiro nisso.  Resolveram ficar um tempo em Genipabu.

Afinal Jean, estava naquela época que tudo queria saber.  Um dia virou-se para ele, perguntando quem era aquela garota que o tinha deixado na estrada.  Ele lhe contou o que o velho tinha falado.   O viram escrevendo, até que mostrou para os dois o que tinha escrito.

Ficaram com a boca aberta.  Venho sonhando com ela a tempo, me contou toda a história, de como minha mãe que era sua amiga, tinham as duas sido raptadas, violadas, a outra nunca teve filhos, mas sua mãe, ele.   Quando um dos que os levava para todos os lados, a mandou matar um xamã, ela se negou, a matou a sangue frio.   Os outros se revoltaram matando os que os tinham sequestrado.   Depois se adentraram na floresta, voltando a viver como uma tribo.

Mas por medo, se negavam a ter qualquer contato com os outros, viviam no mais profundo das selvas.

Semanas depois, saiu justamente essa notícia, que tinham encontrado um grupo imenso de homens que diziam ter sido garotos soldados, que se rebelaram, que levavam muito tempo escondidos na floresta.

Mas ela já tinha morrido a tempos.

Jacques perguntou o que ele queria fazer, voltar para procurar quem sabe seus avôs?

Não eu já tenho minha família, não preciso de outra.

Jacques e Ari, nunca se separaram, seguiam trabalhando música, ora na França, ou na temporada em Genipabu.  Jean quando ficou adulto, escolheu estudar jornalismo, quando pensavam que se dedicaria a música, cantava bem, sabia tocar mais de um instrumento.

Seus primeiros trabalhos, foram escrever sobre a Africa, seus problemas.  Era respeitado pelos editores, por escrever tremendamente bem.

Mas sempre voltava a Genipabu, aonde os dois tinham finalmente retirado para descansar de tanto trabalho.  Faziam música agora para se divertirem.

Ele quando estava, participava, cantava muitas músicas do pai.

 

 

 

 

 

 

   

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

 

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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