lunes, 9 de agosto de 2021

WRONG

 

                                       WRONG

 

Era seu primeiro dia na nova delegacia, tinha vindo do Harlem, depois de estar pelo menos cinco anos por lá.   Anteriormente tinha estado 6 anos no exército, dois na frente de batalha, outros 4 em Washington na Polícia especial da presidência, aonde se fartou de ver merdas.

Quando conseguiu sua transferência para NYC, como que quiseram se vingar dele, afinal tinha um aspecto como dizia um companheiro, mais complicado impossível.   Sua mãe era Porto-riquenha, seu pai descendentes de Italianos, por isso seu nome era complicado Xavier Bosco, além de ser moreno, cabelos negros crespos que usava muito curto. Mas tinha um físico invejável.

Seus pais tinham se separado jovens, cada um foi para um lado, ele ficou com sua avó, bem com uma tia que era solteirona.   Ele estudava, trabalhava no que podia, precisavam de dinheiro em casa, pois só entrava do salário da tia.  Universidade nem pensar, apesar de bom aluno, mal tinha tempo para estudar, portanto suas notas eram boas, mas não para conseguir uma bolsa de estudos, era bom nos esportes, mas não lhe sobrava tempo para ficar treinando.  Enquanto seus companheiros de turma, se divertiam em discotecas, ele estava desmaiado de cansado em casa. Nos últimos anos, trabalhava num armazém, de um grupo chinês, seu trabalho, era descarregar, carregar caminhões, preparar notas de repartição de mercadorias, tudo o que fosse mandado fazer.

Um dia ia chegando em casa, quando encontrou carro de polícia, ambulância, na frente da mesma, correu, nem teve tempo de pensar o pior.

Tinha um corpo coberto com uma manta, retiravam agora da casa sua avô, cheia de tubos.  Se identificou, queria saber o que tinha acontecido.   Uns traficantes, tinham abordado sua tia, ela com o mal gênio que tinha, os tinha tratado mal, sua avó tinha visto tudo desde a janela da sala, teve um enfarte por não poder salvar a filha.

Fechou a casa, acompanhou a avó ao hospital, ao mesmo tempo que avisava sua mãe, com esta só falava a muitos anos por telefone, tinha uma nova família em Boston.  Avisou o hospital que estavam.

Esta apareceu, como para ir a uma festa, lhe deu dois beijos, o resto foi conversa fora.

Quando uma médica apareceu para dizer que tinham feito todo o possível, ele escutava isso, como se fosse longe.

Só escutou sua mãe reclamando, como iam fazer dois funerais, não tinha dinheiro para isso, lá se foi todas suas economias.

Estava com 17 anos, buscou pela casa, algo de dinheiro, sabia aonde sua avó, guardava as economias.  Mesmo assim, mal dava para o enterro de uma.

Mas foi ajudado pelo pastor da igreja, que ia sempre com sua avó, esta faria cargo de tudo, tinham feito uma coleta na vizinhança, como sempre, pobre sempre ajuda o outro.

Mal acabou o enterro, sua mãe se despediu, sem perguntar se precisava de alguma coisa, preocupada com seus compromissos.

Ficou sentado na frente da casa, sem saber muito o que fazer.  Seu vizinho que era militar, lhe disse que no seu caso a solução era entrar para o exército, com o corpo que tens, logo te colocaram na Polícia Militar.   Lhe ajudou, bem como sua mulher, ainda acharam um pouco de dinheiro numa caixa de sapatos, mas não dava para nada.

O exército passou a ser sua casa, foi sendo transferido de base em base, até que embarcou para a primeira missão em Islamabad, dois anos depois salvou um general de morrer num ataque surpresa, esse o levou consigo para Washington.  Foram quatro anos, fazendo que não escutava nada, tampouco via nada.  Muita merda, pensava, depois a polícia só pensa que os pobres roubam.    Em comparação com estes, estão é sobrevivendo.

Quando foi para NYC, lhe tocou o Harlem, nada complicado, tinha sido criado ali, perto da antiga casa, encontrou um apartamento em cima de um velho armazém, o bairro tinha mudado muito, os negros pobres estavam sendo expulsos dali, para outros lugares, pois agora a cidade se expandia para esse lado.  Gente que vinha do Village, Soho, pois esta região quando ficou de moda, claro os preços subiram.

Ele mesmo tinha reformado o apartamento, estava uma merda quando o alugou, conhecia o proprietário desde criança.  Esse achava que com um policial, vivendo em cima da sua loja, teria segurança.

Primeiro, fez uma limpeza profunda no lugar, raspando as muitas capas de papel de parede barato colocados ali.  O banheiro, conseguiu que um conhecido resolvesse o problema, fez como um novo.   Ele na verdade não tinha nada, a não ser um saco desses do exército, com suas poucas coisas.

Enquanto fazia as obras se hospedou na casa do seu antigo vizinho, este o queria como um filho, pois seu único filho, tinha muito jovem entrado para as gangs que na época infestavam as ruas, tinha morrido numa briga que nem era sua.

Aonde vivia era dois passos da casa deles.

Nesses anos ali, por ser um policial reto, resolveu muitos casos, tinha fama de não sorrir, mas tampouco descuidar de nada.

Quando foi promovido, lhe mandaram para Little Italy, para ocupar o posto de um investigador, que se aposentava.    Tinha passado basicamente o dia inteiro com ele, passando papeis.

Quando o viu, achou que não tinha idade para se aposentar, mas logo entendeu por que, o mesmo tinha levado um tiro, no que lhe operavam encontraram um tumor, teria que usar uma bolsa de colostomia, para o resto de sua vida.

Nesse final de dia, teriam um jantar num restaurante frequentado pelos policiais.  Sentou-se ao lado dele, para continuarem falando, dos casos por resolver.

Na hora do brindes, estava a maior confusão, viu que estacionavam um carro, justo em frente a grande vidraça, tinha achado estranho isso, o lugar aonde tinham se sentado.

O companheiro lhe tocou o braço dizendo tem algo errado, melhor o pessoal se jogar embaixo da mesa.  Ele se levantou dizendo com sua voz potente de mando, todo mundo para baixo da mesa, temos problemas.

Depois se lembraria das coisas como um flashback, o policial, fazendo com os dedos, como se tivesse um revolver, ele caindo para trás pela força da explosão, a garçonete, tendo a cabeça cortada por um vidro grande, tudo que sentiu foi uma pancada na cara, como um murro, depois tudo negro.

Depois se lembraria o quanto tinha sido difícil, convencer o pessoal para se colocar embaixo da mesa, pois o olhavam surpreso.   O policial, em pé, com os dedos como um revolver, apontando para o sujeito que tinha saído do carro, esse tinha um sorriso sarcástico, estava parado com a porta aberta, olhando fixamente o policial.  Depois na sua cabeça se repetia esse movimento para trás, algo o tinha atingido na cara.  Sentia que batia a cabeça na parede atrás dele.

Ao mesmo tempo se repetia a parte que tinha visto ao cair, a garçonete com a bandeja no ar, um vidro lhe cortando o pescoço, o policial, com um vidro imenso no peito, caindo sentado na cadeira, com a cabeça pendurada para frente.

Quando voltou a si, estava na urgência de um hospital, estavam tentando retirar o vidro que tinha na cara, mas este estava preso em um osso.  O sedaram, levando para sala de operações, nem pode perguntar pelas outras pessoas.

Só viu uma imensa confusão, com uma multidão de policiais que como sempre corriam para ajudar, pois se alguém precisava de sangue etc.

Despertou num quarto imenso, aonde estavam os que se recuperavam de alguma operação. Sentiu a cara repuxada, colocou a mão, mas tinha uma venda tapando algo.   Os outros que estavam ali, era da delegacia também.

Só mais tarde num quarto particular, apareceu o chefe, com um braço num cabresto, com um pequeno corte na cara.

Comentou que as vítimas mortais tinha sido o policial que se aposentava, a garçonete, uma secretária que um pedaço de vidro tinha lhe entrado pela nuca, na hora que tentava se colocar embaixo da mesa.

Feridos muitos, quase o departamento inteiro.   Se você não grita várias vezes, tínhamos morrido todos.  Lhe apertou a mão dizendo obrigado.  Depois tens que me contar como sabias que estava acontecendo algo.

Não fui eu, foi o inspetor que se aposentava, ele me avisou sinalando que algo estranho passava, mas ele mesmo ficou em pé, com os dedos fazendo a vez de um revólver, acredito que sabia quem era o sujeito do carro.

Este também morreu na explosão.   Talvez se não tivesse ficado parado olhando para o inspetor teria se salvado.

A explosão lhe separou a cabeça do corpo.   Era um dos muitos pistoleiros da Família Zocco, o inspetor o mandou para prisão muitas vezes, o tiro que levou na última vez, tinha sido de um irmão da vítima, mas teve tempo de acertar um tiro no meio da cabeça.

Uma semana depois voltou ao trabalho, teve que ir a um dentista, pois o vidro tinha entrado no osso da parte de cima da dentadura, afetando o nervo.    O jeito, depois de tomar anti-inflamatórios, foi matar o nervo.    A cicatriz tinha sido fechada por um jovem cirurgião plástico, com o tempo seria uma linha.

Ficou procurando entre os casos do inspetor, algum que se referisse a família Zocco, nada.

O jeito foi falar com o chefe.

Este explicou que tinha o mesmo tinha colocado na prisão o filho preferido do velho.

Quando pediu um informe a prisão, soube que o mesmo, tinha sofrido a pouco tempo um abuso por membros de outra família, talvez o motivo fosse esse, para uma vingança tão bruta.

O chefe continuou, primeiro tentaram mata-lo, mas sobreviveu, inclusive ao câncer, o segundo foi o do carro.

Revisou tudo, nada, abriu o armário que ele usava na delegacia, encontrou duas chaves, uma marcava casa, foi até lá com uma equipe.

A casa estava inteira revirada, deixou uma equipe tomando impressões digitais.  A outra chave devia ser de algum banco.

Foi aonde recebiam o salário, não era de lá, mas um empregado reconheceu a mesma, pois já tinha trabalhado no outro banco, disse aonde era.

Foi até lá com uma ordem do juiz, se identificou, era uma caixa normal, cheia de pastas, tudo sobre a família Zocco.

Pior foi descobrir que ele tinha falsificado as acusações contra o jovem, colocando uma bolsa de cocaína no seu carro.

Este estudava arquitetura, não tinha nada a ver com os negócios da família, somente porque era o preferido do velho.

Montou uma reunião com o chefe e o fiscal.

Por culpa dele, explicou, morreram duas pessoas, três com ele, além de quase todo mundo daqui feridos.

Isso de montar provas, está errado, claro agora seria como sujar seu nome, mas não podemos deixar ficar como está.

Finalmente o chefe abriu o jogo, o motivo pelo qual ia pela família Zocco, era que tinha perdido a mulher, o filho, mais duas pessoas que estavam numa rua, quando houve um confronto de duas famílias.   Achava que esse confronto tinha sido armado pelos Zocco, motivo pelo qual montou uma vingança, como seu filho era jovem, escolheu também o mais jovem para colocar na cadeia, sabia que seria abusado na mesma.

O fiscal, ficou de falar com o Juiz, responsável do caso.

Ele foi a prisão falar com o jovem.

Entendeu, nada mais ao vê-lo, era muito bonito, moreno, olhos verdes, boca carnuda.

Estava num estado deplorável, desanimado, parecia terrivelmente deprimido.

Soube por ele que depois do abuso, a família passou a ignorar, como se ele fosse o culpado.

Perguntou se tinha aonde ir, se saísse dali.

Não posso voltar para casa, me matarão, sou como o alzaimer da família.

Para todos os efeitos, meus irmãos que tomam conta dos negócios da família, já me odiavam, pois, sou filho do segundo casamento do meu pai, isso piora as coisas.  Nunca vivemos com eles, o velho passava mais tempo no apartamento de minha mãe, que em sua casa.

Ficou um minuto em silêncio, pensando, tinha que tentar, soltou ao rapaz, preciso conseguir falar com teu pai a sós.

O rapaz, ficou olhando diretamente nos seus olhos.

Por que fazes isso?  Nunca ninguém me ajudou.

Te trataram, como um saco de batata, você foi um bode expiatório, isso foi um erro, não suporto essas coisas.  Creio na honestidade.

Sorriu, ele vai todos os dia numa igreja, assiste a missa, depois se confessa, em seguida, vai para a sacristia tomar café com o padre que é seu irmão.    Acredita que isso limpa sua alma dos pecados.

Me dê um papel, lhe faço um bilhete para meu tio.

Dobrou o bilhete, colocou no bolso.    Vou resolver isso o mais rápido possível, para te tirar daqui.

Foi direto a tal igreja, entrou, ficou rezando, a muito tempo não fazia isso, entrar num lugar de culto para rezar.

Viu o padre, como o rapaz tinha descrito.   Falou com ele discretamente na sacristia, mostrou o bilhete, me disse se volta para casa o mataram, pois seus irmãos pensam que desonrou a família.    Preciso falar urgente com seu pai, mas tem que ser urgente.

No dia seguinte, depois de passar pelo escritório do Juiz, teve que explicar outra vez o que tinha acontecido.    

Sim vi todos esses papeis, pensei que fosse um policial honrado, imagine me contou uma história de drogas, eu acreditei.

Saiu dali com a ordem para soltarem o rapaz.      Antes passou pela igreja, ia com uma roupa normal para não chamar atenção, viu uma forte proteção para o velho.

O velho rezava no primeiro banco, sozinho.   Como combinado, entrou para a sacristia, ficou esperando.

O padre entrou de braço com o velho Zocco, os apresentou, mostrou novamente o bilhete do filho.  Se sentaram, o padre colocou um café na frente de cada um saiu dali.

Foi franco, descobri que o inspetor fez, tenho aqui no bolso a ordem para soltar seu filho, mas me disse que se vai para casa o mataram.

Sim, venho falando com meus filhos, mas são cabeças duras.   O melhor seria que ele fosse passar um tempo fora do pais.

Vou fazer algo que não deveria, o senhor pode me ajudar, conseguir novos papeis para ele. Não deveria, porque sei que serão falsos, talvez com o sobrenome da mãe dele.  Pode fazer isso.

Sim, mas porque fazes isso?

Estou de saco cheio dessas merdas, mentiras, vinganças, venho vendo isso a anos, já não posso mais.

Seu filho não é culpado de nada, vou ajuda-lo.

O senhor faz a sua parte, eu cuidarei que esteja protegido até sair do pais.    Quando tiver os mesmo, mande o padre me avisar.

Dali foi para a prisão, entregou a ordem, teve que esperar mais de uma hora, o mesmo estava aturdido, quando saiu fora.

No dia anterior tinha falado com seu velho amigo Lukas, se podia hospedar o rapaz.   Este concordou quando soube tudo que tinha acontecido, sempre tinha sido um homem justo.

Contou ao Remo Zocco, como iam fazer, não posso te levar para meu apartamento, pois sabem que fui eu que te liberei.

Vais ficar na casa de um casal amigo, ele sempre foi como um pai para mim, do meu não sei nada desde meus seis anos de idade.

Em vez de parar na sua casa, deu muitas voltas, até entrar pelo beco por detrás da casa.

Os dois o receberam como um filho, o levaram para tomar um banho, a senhora lhe deu as roupas de seu filho morto, ficaria no seu quarto.   Lhe disse não desperdice essa oportunidade que o Xavier está lhe dando.

Depois comentou com ele, sobre os papeis que tinha pedido ao pai.

Quando falou no sobrenome da mãe, ele soltou, isso eu tenho, fizemos uma viagem a Itália, se fossemos com documentos com no sobrenome do meu pai, teríamos problemas, o jeito foi fazer só com o dela.

Se me levas até o apartamento, podemos entrar pela garagem, depois da morte da minha mãe, o velho ficou definitivamente vivendo com os outros filhos.

Assim posso pegar também um pouco de roupa.

Foram de noite, estava fechada sem lua nenhuma no céu.   Remo o avisou que só o salão dava para a avenida.   Depois de duas voltas no quarteirão, tinham dois carros suspeitos parados a pouca distância da porta de entrada.    Remo tinha no seu chaveiro o mando a distância para abrir a porta da garagem.   O elevador era o mesmo, era necessário uma chave especial para funcionar. 

Entraram, passaram pela cozinha, foram diretos ao seu quarto, a primeira coisa que tocou foi um porta retrato de sua mãe, o retirou da moldura, abriu um grande armário, retirou uma bolsa, colocou algo de roupa.   Agora temos que ir ao seu quarto, pois o passaporte esta num cofre secreto que ela tinha, ela sempre foi muito desconfiada com relação aos meus irmãos.

O outro quarto estava tudo revirado, filhos da puta, vieram pelas joias, a maioria das roupas estavam no chão.   O joalheiro estava quebrado no chão.   Deu um sorriso amargo, as mulheres tinham inveja das joias que o velho lhe dava.   Muito astuta, mandava fazer uma cópia em bijuteria, guardava as verdadeiras, usava as falsas.  Para uma necessidade.

Tinham arrebentado todo o fundo dos armários, quadros jogados no chão, deviam estar procurando o cofre.

Idiotas, são antigos, foi até um rodapé, tinha uma tomada elétrica, uma pequena chave que tinha no seu chaveiro, resolveu o problema, se abriu, tirou um cofre de metal, foi até uma outra aos pés da cama, fez a mesma coisa.   Já podemos ir.

Depois na casa do casal, mostrou o que tinha dentro, num tinha joias, dois sacos de diamantes, além de dinheiro, no outro só notas grandes.   Ela adorava isso, notas grandes, além do passaporte e documentos dos dois.

Com isso posso me virar até arrumar um emprego.

Para aonde queres ir?

Irei para Berlin, tenho um conhecido da universidade, que era de lá, fez o curso aqui, pois o achava mais moderno, sei que abriu um escritório, pode ser que me dê trabalho.

Acho que o melhor, era ir no primeiro voo da manhã, pois assim vocês correm menos riscos. Só não sei como passar com os diamantes.   O velho muito esperto, buscou no quarto do filho, um caleidoscópio, retirou a tampa de um lado, se olham, viram muitos reflexos, nada mais.

Couberam todos dentro. Abraçou o velho, quem diria meu amigo, tens cabeça de maleante, vou te prender.   Agora a dormir, foi para sua casa, mas a encontrou toda revirada, desceu pelas escadas de incêndio, voltou para a casa do amigo, dormiu no sofá.

De manhã tomou um banho, levou o Remo para o aeroporto no jeep do amigo.  Estava perfeito, ele cuida desse jeep que comprou numa subasta do exército, como se fosse uma criança.

Foram até um balcão, procuraram saber de um voo direto a Berlin, assim que conseguiu, ele tinha pouco mais de 45 minutos para embarcar.

Abraçou o Xavier, agradeço muito, te comunico quando chegue.   Usarei o celular que compre por lá.

Ele voltou para casa, só ia relaxar quando realmente soubesse que estava a salvo.

O padre só fez contato dois dias depois, lhe disse que já não era necessário pois Remo já estava fora do pais.

Nesse meio tempo, viu que tinha se metido numa enrascada, pois apareceu o FBI, o agente estava furioso, pois só ficaram sabendo que Remo não estava mais na cadeia, quando ele já estava fora.   Pensávamos fazer que denunciasse a família.

O ameaçaram, entendeu que tinham sido eles que tinham entrado na sua casa, bem como na do inspetor.   Depois comentou com o chefe.

De qualquer maneira, agiste errado se envolvendo dessa maneira.   Podia te cair uma suspensão.

Nesse dia foi para casa, pensando, como estou farto de tudo isso.

No que chegava, encontrou o proprietário do edifício, queria se aposentar, passar para frente a pequena livraria que tinha embaixo.   Entrou com ele, precisava ser modernizada.   Pensou muito durante a noite, tinha dinheiro guardado, podia ser um novo enfoque em sua vida, sempre tinha sido um apaixonado por livros, mas como sempre tinha poucos, usava sempre os da biblioteca.

Conversou com seus amigos, os dois riam, eu sabia que esse dia chegaria, comentou Lukas, sei que estavas farto de tudo isso.

Vamos falar com o proprietário, ele é meu amigo.  Negociaram da seguinte maneira, ele ficaria dois meses ensinando tudo sobre como comprar, promover, vender etc.

Com o negócio fechado, entregou sua placa, pediu demissão. Muita gente ficou falando, depois ficou sabendo, que ele tinha sido subornado pela família Zocco.

Nada mais longe da verdade.  Remo ainda tinha lhe oferecido um diamante, mas se negou em aceitar.   Nunca tinha feito nada por dinheiro.

Aos poucos foi reformando a livraria, ficou mais moderna, conseguiu uma licença, para colocar do lado de fora duas bancas de livros antigos, para limpar o estoque, tinha descoberto na parte detrás, uma quantidade imensa desses livros.

O velho, finalmente foi embora, reformou também o apartamento que tinha atrás, com um empréstimo do amigo, reformou o mesmo, alugou o de cima, agora vivia embaixo, com uma saída particular, direto ao seu carro.

Continuava falando com o Remo, pelo menos duas vezes por semana.

O padre o dia o procurou, disse que o velho estava mal, quer falar contigo, trouxe uma roupa de cura para ti, assim os filhos não vão desconfiar, pois tem seu quarto no hospital, totalmente vigiado.

Realmente era verdade.   O velho, apertou sua mão, obrigado por ter ajudado meu filho, demorei, porque os outros estavam em vigiando.  Por sorte ele já estava fora.

Me de notícias dele, para morrer tranquilo.  

Está bem, tem um emprego no que gosta, nos falamos todas as semanas.

Não lhe conte que estou mal, os irmãos iriam se aproveitar disso, com muito cuidado, lhe passou uma chave, o puxou para si, disse o nome do banco, lá ele tem dinheiro para futuramente montar um negócio para ele.  Espere pelo menos um ou dois anos para lhe mandar.

Só lhe avise que morri, daqui alguns dias, não o quero aqui, mas diga que sempre o amei, que a mim me importava uma merda tudo que aconteceu.

Obrigado mais uma vez por cuidar do meu filho.

O padre começou a extrema unção, ele fez que seguia a oração, embora não soubesse como era isso, pois não era católico.

No dia seguinte, por uma pequena televisão que tinha na cozinha do apartamento, soube da morte do velho.   Um dos comentarista dizia que tinha morrido sem revelar aonde estava o filho pequeno.   Faziam conjunturas que estava, como o filho de Don Corleone, na Itália, guardado por algum mafioso.

Foi ao enterro, mas o assistiu a distância, como se estivesse rezando em um túmulo, viu que havia uma forte proteção policial, bem como de mafiosos.  Os dois outros filhos, estavam bem separados um do outro.   Agora começara a briga entre eles, pensou, vão disputar o poder.

Com a desculpa de ir a feira do livro em Frankfurt, pediu ao Lukas, para tomar conta da livraria, assim ficaria tranquilo.

Antes foi ao banco para ver o que tinha ali, fotografou tudo, levou com ele, papeis em nome do Remo, de uma conta na Suiça.  Na caixa que era das grandes tinha dinheiro também, bem como mais sacos de diamantes.   Se lembrou como ele tinha passado da outra vez, só por isso teria perdido o emprego.   Colocou tudo no lugar outra vez, só saiu com os papeis, da suíça.

Tomou muito cuidado, esses dias antes de partir, tinha a sensação de que estava sendo seguido.

Mas tinha visto que a conta do banco estava em outro nome.   Mesmo assim todo cuidado era pouco.

Como tinha por hábito, saiu pela porta detrás da livraria, a do apartamento, fechou com todos os fechos que o velho tinha, mas deixou o carro, andou uns dois quarteirões, até estar longe dali, pegou um ônibus para o aeroporto.  Tinha comprado o bilhete para Frankfurt, um dia ou dois na feira, achava o suficiente.   Só quando chegou lá que avisou ao Remo que estava na Alemanha, ficarei dois dias aqui, depois vou a Berlin, queria te ver.

Nada disso, ficas no meu apartamento, me diga só o horário do voo, que irei te buscar.

Comprou livros de arte, muitos livros de arte africana, dois catálogos que um cliente tinha pedido, levava um papel, cheio de pedidos de coisas que só tinham nessas feiras.

Dois dias tinham sido suficientes, para estar cansado, tinha a cabeça como um bombo, pelo ruído da feira.    Na livraria, a música que se escutava era suave, nunca falava alto com os clientes, agora com essa nova leva de artistas vivendo por ali, tinha uns clientes especiais, alguns lhe passavam cantadas, convidando para tomar uma cerveja ou sair para jantar.  Mas sempre teve medo de relacionamentos.   Se baseava pelo dos seus pais, dos companheiros do exército, dos da polícia, nunca via nada dando certo.    Era mais de uma noite só, quando muito ficava até a pessoa sugerir um relacionamento mais sério.   Caia fora imediatamente, na verdade não tinha ideia o que era o amor.

Quando chegou a Berlin, ficou de boca aberta com a transformação do Remo, podia dizer que estava belíssimo, tinha os cabelos crespos imensos, amarados num rabo de cavalo, usava roupas modernas.  Teve vontade de lhe dar um beijo na boca, quando o abraçou se afastou em seguida, tinha ficado excitado.

Foram conversando como tinham ido as coisas com ele por lá. Que trabalhar no início com seu amigo foi importante, bem como aprender realmente a falar alemão.     Tinha estudado antes de ir à universidade.   A família de minha mãe era daqui.

Antes que pense qualquer coisa, divido apartamento com um amigo, somos mais camaradas, antes tivemos um relacionamento que não deu certo, mas ficamos amigos.

Ficarás no meu quarto, dividirei quarto com ele enquanto estejas.

Teremos muitas coisas para falar, suponho.    Tudo que lhe contou no caminho foi da morte de seu pai.   Esperava um mar de lagrimas, mas não soltou nem uma gota, tampouco notou na voz alguma rancor.     Nos últimos tempos tenho mantido contato com meu tio, me contou coisas não muito agradáveis, já sabia por ele, da morte de meu pai.  Nunca tinha me sentido como me senti, ao mesmo tempo raiva por não ter podido dizer-lhe na cara o que pensava, tampouco brigar pelo que deixou.   Não creio que tenhas entendido, que era ele que estava por detrás de tudo.   Dizia ao meu tio que me perdoava, por ser gay, ao mesmo tempo, o abuso que achava que tinha permitido, que manchava seu nome.

Eu imagino que agora, o que sempre fez, de provocar a rivalidade de meus irmãos, se realizará, queria que eu me preparasse, para no futuro, tomar conta de negócios que ele considerava legais, mas que serviriam de fachada para lavar dinheiro do outro lado.   Quem faz isso hoje é a filha do meu irmão mais velho.

Seguiram falando, quando entrou no apartamento em Mitte, ficou surpreso, tinha um certo requinte, de alguém que tem dinheiro.  É alugado, eu só usei o dinheiro para montar minha empresa.     Meu sócio justamente é Alan de quem te falei, as vezes discutimos, por causa de clientes que não quero aceitar, pois estão envolvidos em algum negócio sujo.

Quando conheceu o Alan ficou surpreso, era um homem impressionante, talvez em outros tempos iria com ele para a cama imediatamente.    Mas conversando, se via que era formal, o tratou bem, logo os deixou para ir resolver algum negócio, assim poderiam conversar.

Sentados, falou do que tinha ido fazer no hospital com seu tio, a chave que seu pai tinha lhe dado, da caixa de documentos, mostrou as fotos de tudo que continha, lhe deu os papeis da Suiça.     Ele soltou, filho da puta, mesmo morto quer me comprar.

Você errou numa coisa Xavier, devia ter pesquisado quem era minha mãe, para entender tudo isso, tenho que remontar a ela.

Quando conheceu meu pai, já era uma advogada com nome, como profissional, sempre usou seu nome, nunca o dele.  Se casaram pelo civil, quando a família não a aceitou, foi fácil, ela mantinha seu escritório funcionando, o tinha conhecido, defendendo uma acusação contra ele.

Sabia que ele era o culpado, mas era seu cliente, como dizia, tinha que acreditar nas mentiras que me contava.

Com o tempo, ele passou a usar o apartamento dela, nunca foi dele, tampouco tinha dinheiro dele ali.  Lhe comprava joias caras, pois a queria exibir como uma conquista, você viu o retrato dela, foi uma mulher lindíssima.   Depois usava o argumento, de ir para casa, quando na verdade ia ver suas amantes.

Ela nunca o deixou participar da minha educação, isso era um trato que tinham feito, com papel passado quando se casaram.   Eles eram católicos, ela protestante, então fui educado sem religião em colégios caros, laicos.

Quando era pequeno, me levava para passar alguns dias na casa aonde viviam todos, era um verdadeiro inferno, cada um que passava por mim, ou me empurrava, me chamavam de bastardo, essas coisas de jovens maus.

Mas isso com o tempo, me neguei a seguir. O que ele não sabia, que os negócios que ele fazia no apartamento, ela os gravava, escrevia os detalhes numa livreta, guardava naqueles cofres que você viu.    Quando fiquei maior, ela me ensinou tudo, inclusive me deu a cópia da chaves do cofre.   Esses diamantes, foram de um colar que ele deu para ela, mandou desmontar o mesmo, colocou imitações iguais as do original.  De tonta não tinha nada, mesmo de longe tenho manuseado a sua conta particular no banco.  Isso ninguém sabia, sempre procuraram uma conta com o sobrenome dele.   Me deixou além do apartamento, o andar aonde tinha seu escritório, quem leva tudo é um grande amigo dela, foi apaixonado por ela, quase foi a pique quando se casou com meu pai, nunca entendeu por quê.

Fiz arquitetura, o velho cada vez que estávamos juntos me doutrinava para fazer o que já te disse, mas minha mãe a parte dizia que se lhe acontecesse alguma coisa, eu teria ferramentas para não aceitar, me perguntava olhando nos olhos, se  eu queria ser um bandido como ele.

Quando ficou doente, tudo que ele fez, foi colocar uma enfermeira que devia a vigiar, mas antes disso ela já tinha me falado tudo.

Quando ela morreu, fiquei vivendo sozinho no apartamento, com a senhora que foi minha babá, até que fui para a prisão.

Tudo que ele sabia era que tinha um cofre, mas aonde não.  Depois que ela morreu um dia o vi, levantando quadros, quando lhe perguntei o que fazia, me disse que procurava o cofre particular dela.

Seguindo sua orientação, lhe disse que estava no escritório de advocacia, que nunca tinha visto nenhum lá em casa.   Inclusive sem acreditar, olhou meu quarto.

Depois desapareceu, dias depois soube que tinham entrado no escritório, destruindo quase tudo, que tinham levado o cofre que existia lá.

Veio aqui em casa, andou pelo salão, procurando algum dispositivo de gravação, ele mais dois homens, que soube depois que eram da polícia.           Um deles trabalhava com o inspetor, pois depois o vi no meu interrogatório.     Eu sabia que a cocaína tinha sido colocado, pois nunca tomei drogas, quanto muito bebia uma cerveja, coisa que faço até hoje.

Quando fui para a prisão, ao princípio dois homens dele que estavam lá me protegiam, depois no dia do abuso, me perguntaram se tinha alguma coisa que podia ajudar meu pai.  Na hora não entendi, lhes disse que não, durante o abuso, fizeram um verdadeiro interrogatório.

Mas me neguei a falar qualquer coisa.   Aparentemente eram homens do outro grupo, mas depois descobri que não, eram amigos dos meus protetores.

No dia anterior ao que você apareceu, para dizer que tudo tinha sido uma montagem, fui interrogado pelo FBI, por isso tinha que desaparecer rápido, se me pegam, eu iria ficar preso a eles, sendo interrogado para dizer alguma coisa sobre meu pai.

Quando estivemos no apartamento, fui rápido, peguei as duas cadernetas que tinha tudo anotado, meti na minha maleta.   Era minha segurança.

Ali esta escrito, tudo que ele negociou, dinheiro que mandou para a Suiça, ilhas Caimãs, esse policial sempre estava presente.   Sei que as gravações ela borrava, para usar as fitas outra vez.

Mal cheguei aqui, aluguei um cofre para guardar isso.

Isso que ele me mandou, dinheiro da Suiça, ele te usou, acha que irei até lá, para buscar, meus irmãos devem ter vigias lá.   Veja esses outros documentos, são negociações, dinheiro em outros lugares, no momento que eu faça qualquer movimento nessa direção, me eliminaram. Mas o que eles queriam, bem como o FBI, eram as cadernetas.  Isso jamais, é como posso me manter vivo.   Tenho um advogado aqui, se me passa alguma coisa, devem mandar para o FBI.

Por isso levo uma vida tranquila. 

Creio que nunca entendeste por que sai correndo no dia seguinte, com os documentos, pois se ficasse mais um dia, me descobririam, fariam mal aos teus amigos.   Isso eu não podia permitir, quando voltaste dizendo que tinham entrado na tua casa, entendi.

Vamos imaginar, que só ele sabia quem iria me buscar na cadeia.  Portanto te tinha localizado, mas precisava saber se podia confiar no meu pai.   Vi que não.  Meu tio, me contou coisas horríveis.  Venha, lhe levou ao quarto aonde ia ficar, parecia um quarto de monge.

E como o meu quarto na prisão, o necessário, só me sentia relativamente protegido quando estava fechado dentro.  Isso virou uma paranoia.

Mostrou a carta do tio, falava tudo que ele tinha imaginado, os tais três dias dos documentos, como ele ficou furioso, porque me deste a fuga antes.  Andou te vigiando até que deixaste a polícia.   Durante um tempo, pensou que eu te tinha dado dinheiro, mandou o tal policial expandir esse boato na delegacia.

Mas depois verificou que não era verdade, inclusive falou com o homem de quem compraste o local.   De como tinha ficado apertado ao início.  Volta e meia mandava alguém te vigiar.

Só não atreveu colocar escutas no teu apartamento, quando viu que tinhas câmeras de vigilância na frente, nos fundos da livraria, bem como na escada de incêndio.

Que cabeça retorcida, pensei que estava sempre te ajudando.

Sim, mas só a mim.  Lembra-se quando te perguntei, porque o fazias, eu desconfiava de ti, afinal eras da polícia.  Mas nunca notei nada, poderias ter tirado algum diamante na hora que colocaste para mim no caleidoscópio, mas não estavam todos lá.

Tampouco me pediste nada, a maneira como me levaste para o aeroporto, com segurança, me apaixonei por ti.   Não tinha escapatória, mas não podia me arriscar.

Lhe entregou a chave do cofre, com os documentos, agora tudo isso é contigo, se queres o dinheiro da suíça ou qualquer outra coisa, é contigo.

Estava cansado de escutar tanta coisa retorcida, lhe comentou que tinha saído justamente da polícia por isso.   Que voltaria no dia seguinte a Frankfurt, para ir embora, só queria saber se estavas bem, chego à conclusão de que de alguma maneira sabes te defender.   Jantaram só os dois, o silêncio era impressionante, tinha se sentido usado, não pelo Remo, mas pelo velho.

Lhe perguntou se podia lembrar do nome do homem da polícia que estava com seu pai.

Vou tentar?  

Sabia que no dia da comemoração, tinha faltado um dos agentes, depois tinha estranhado que a mesa ficasse logo na entrada do restaurante, quando normalmente, seria ao final do mesmo, isso sempre tinha lhe intrigado, quem tinha feito essa reserva.

De noite, Remo entrou no quarto, tirou toda sua roupa, deitou ao seu lado.

Remo não posso fazer sexo contigo, vou me apaixonar, isso vai ser uma merda, nunca poderemos estar juntos.  Ele se vestiu, mas ficou deitado abraçado com ele, apesar de estar louco de vontade, se conteve.

No dia seguinte de manhã, lhe disse irei ao banco, tenho certeza de que na caderneta menciona o nome do policial.   Voltou sorrindo, aproveitei para deixar tudo no cofre, assim não terei problemas.  Lhe passou um pedaço de papel com um nome.   Ficou gelado, era o infeliz que o tinha ajudado nas pesquisas.  Hoje em dia era ajudante do chefe.

Estas fudido comigo, do velho não posso fazer nada, mas tu, não sabes o que espera, pensava durante o voo, chegou a tempo de pegar um voo para NYC, chegou de manhã.

Foi direto para casa, entrou pelos fundos como tinha saído, tomou um banho, se preparou com esmero para mais um dia de trabalho, estava com saudade disso.

Seu velho amigo Lukas, ficou de boca aberta com tudo que tinha descoberto. Como vais agir?

Primeiro vou seguir esse sujeito, me documentar sobre ele, se servia ao pai, deve estar servindo aos dois irmãos.  Vou descobrir aonde vive, tudo sobre ele, então agirei.

No fundo se fez isso mesmo, ele é tão culpado, como o velho, do atentado, duas pessoas morreram sem ter culpa no cartório, muitos ficaram feridos.   O filho da puta ainda chegou a me visitar no hospital.

Vamos ver se não tem mais gente envolvida nisso.   Eu sempre me perguntei o que queria dizer o que o aposentado fez, se levantar, ficar em pé como se tivesse uma arma na mão, com certeza como o outro parou, não foi ele quem acionou o dispositivo, nunca se encontrou nada.  Então foi outra pessoa.

Com todas essas perguntas, abriu um livreto com o nome do suspeitoso, até nisso o cara era duvidoso.  Antônio Loreto, dividia o dia com o Lukas, mas foi ele quem fez as grandes descobertas, colocaram um gps para seguir o mesmo.  Descobriram que tinha uma casa, que nunca poderia pagar com seu salário.   Dois filhos na melhor universidade de NYC, sem bolsas de estudos.  Seu gps, o levava sempre a frente de um restaurante italiano, de propriedade dos Zocco.  Foi levantando a lebre, conseguiu a muito custo, colocar um micro na mesa que se sentava sempre o chefe, aonde dava ordens a Antônio.

Estavam incomodados com o FBI, ninguém tinha encontrado nenhuma anotação importante nos arquivos do pai.   O filho da puta devia o ter em algum banco, o Genaro que era seu chofer, se aposentou, desapareceu no mapa.   Temos que encontra-lo para saber em que banco ele ia.

Passou só esse pedaço de gravação para o FBI, esses ficaram nervosos, começaram a seguir o Antônio.   Mas ele queria o pegar sozinho.

Uma das conversas ele argumentava, será que o Xavier Bosco, realmente não sabe nada, ele foi a Alemanha recentemente, pode ser que teu irmão esteja por lá.  

Se meu irmão tivesse estas cadernetas, já teria feito uso delas.   Melhor deixa-lo em paz, se ele não quis o dinheiro da Suiça, nem o que deixamos no banco, como mandou fazer o velho, sinal que não está interessado no negócio.

Remo tinha toda a razão, era uma armadilha do pai, em conclui-o com os outros, filhos, inclusive com seu irmão padre.

Avisou ao Remo, seria interessante, se me pudesse passar uma cópia da caderneta, um só caso, o FBI, já esta atrás deles, precisa só de um ponto de apoio.  Tudo do banco era uma armadilha do teu pai, para te pegar.  Tinhas razão, foi ele que organizou tudo, nunca pensou em te deixar partir.  Cuide-se, tenha cuidado por Berlin, desconfiam da minha viagem a Alemanha, perdão por te colocar em perigo.

Estava uma noite em casa, quando o sistema de alarma, acendeu a luz, alguém entrava pelo beco, viu logo que era o Antônio Loreto.  Viu que ele subia a escada de incêndio, o inquilino estava viajando, tinha deixado as janelas totalmente trancadas, ele teria que romper um vidro para abrir.      Desistiu, desceu, quando deu de cara com Xavier, com um revolver apontado para sua cabeça, suspirou, o fez entrar em sua cozinha, o prendeu numa cadeira, com fitas de embalar.   Primeiro colocou uma mordaça, depois desceu ao armazém, voltou com uma granada, que tinha de estimação, não estava carregada, mas o outro não sabia.

Vou fazer umas perguntas, você responde, se me mentes, tiro o que prende a granada, explosão, sua cabeça vai a merda.

Desde quando trabalhas, para a família Zocco, sem que o outro soubesse, estava gravando tudo.

Desde que era garoto, me fizeram entrar para a polícia pois queriam ter uma pessoa dentro.

No restaurante, o que levava o carro, morreu, porque não foi ele que detonou, quem foi?

Não vou responder a isso.   Tens certeza, colocou a granada em sua boca, ele começou a suar frio, acabou concordando em falar, me mandaram que reservasse a mesa mais próxima da rua, quem detonou fui eu.   O filho da puta não saia do lugar, tinha ordem de executar o máximo possível de gente.

O filho da puta do velho, ficou como um idiota apontando para o outro.  Isso significava que tinha matado seu irmão, que mataria a ele também.   Porque foram eles que começaram o tiroteio que matou a mulher, filho dele.

Agora uma última pergunta, quem foi que ordenou abusarem do Remo no presídio?

Isso não posso responder, seria homem morto.

Tu podes morrer de qualquer jeito.

Foi seu irmão mais velho, porque não encontravam as cadernetas, sabia que o garoto tinha ideia de aonde estavam.

Como fazes para que ninguém suspeite de ti, com essa casa que vive tua família, bem como dois filhos na universidade, são eles que pagam.

Sim, mas só uma pessoa sabe disso.

Quem? Quero o nome inteiro, porque imaginas vais te fuder sozinho.

O chefe sempre soube de tudo, os originais do velho, ele queimou, mas encontrastes as copias redigidas a mão.  Ai fudeu tudo.  Era para o garoto ter morrido na prisão, vais o soltas.  O velho ficou furioso, pensamos que o tinhas trazido para tua casa, nem para o apartamento dele, ninguém sabe aonde está, tampouco interessa muito.   O poder agora está com o irmão mais velho, melhor que fique bem escondido.

Primeiro o colocou dentro de um carro que roubou no bairro, trocou de placas com por uma que já tinha conseguido da outra família de mafiosos.

No seu armazém, tinha bastante material para fazer uma explosão, levou o carro até a frente da mansão da família Zocco, o deixou sentado na direção, antes lhe deu um tranquilizante.

Quando alguém percebeu o carro parado no portão, foram até lá, no que tentaram abrir a porta, o carro explodiu como tinha sido no restaurante, os vidros da casa, foram todos para a merda.

O chefe saiu com um bando de homens, eles de longe fotografaram tudo, Lukas o tinha ajudado.

Passou ao Remo tudo que dizia respeito a ele, no dia seguinte tinha as cópias que tinha pedido.

Justamente incriminava o irmão mais velho.

Mandou todo o resto para o FBI, ficou do outro lado da rua escondido numa entrada do edifício para ver o chefe de polícia sair algemado, tinha denunciado o fiscal, a quem molhavam as mãos também.   Esse era candidato ao ser fiscal chefe, era como jogar merda no ventilador.

Os Zocco estavam nervosos, tinham descoberto que o carro era dos rivais, achavam que eles tinham feito o atentado sobre sua família.

O puto Antônio Loreto, foi despojado de tudo, inclusive sua família perdia o direito a pensão, pois era um corrupto.  A mulher e os filhos venderam tudo, sumiram do mapa.

Mas ainda faltava o final.  Quando o FBI, recebeu as notas da caderneta, levou os dois irmãos presos, a família ficou descabeçada.  A outra família invadiu o seu pedaço, provocando uma guerra entre das duas famílias.   O irmão que não estava na historia da caderneta, saiu da prisão, chefiou a guerra contra a outra família, acabou matando, o rival, bem como morreu depois assassinado.

As duas famílias estavam descabeçadas.  Remo poderia voltar, mas não o fez, levou muito tempo para dizer, que já não estava na Alemanha, que tinha se mudado a outro pais, com outro nome.  Logo faria contato.

As famílias levaram anos para se recompor, com mil brigas pelo poder, o irmão mais velho dos Zocco, acabou assassinado no presidio.

Ele seguiu sua vida, agora Lukas viúvo, vivia no apartamento de cima, era sua única família.

Um dia apareceu na livraria, um homem dizendo que era seu irmão por parte de mãe, apenas lhe entregou uma cartão fúnebre, a mãe tinha morrido a meses, de um câncer fulminante, nenhum de nós estávamos com ela.  Morreu sozinha num hospital, tenho mais dois irmãos, os dois estão no exército, entraram para escapar dela.  Eu escapei de casa cedo, sou advogado.

Só vim te conhecer, bem como te avisar disso.  Tiveste sorte dela ter te abandonado.  Nos fez a vida um inferno.   No final se prostituia, trazendo homens para casa.   Por isso todos fugimos.

Que lastima comentou depois o Lukas, foi uma mulher bonita, mas nem de longe era como tua avó, ou tua tia, que dava um duro para sustentar a mãe, bem como tu, que começaste a trabalhar cedo.

Cada um escolhe seu caminho Lukas.  Eu estou contente de ter ajudado o Remo, embora tenha me sentido usado as vezes nisso tudo.  Mas resolvi o problema.

Se passaram quase dez anos, vinha do enterro do Lukas, chateado, perdia um amigo querido, quando viu Remo parado na frente da livraria.  Seu coração disparou.  Na porta tinha um cartaz dizendo que estava fechado por motivos fúnebres.  O viu perguntando se sabiam de quem era, viu que uma vizinha dizia, do senhor Lukas, o pai do Xavier.

Viu que ele ficava ali parado, esperando, trocando o peso do corpo em cima das pernas.  O viu atravessar a rua, se sentar no bar, tomar um café.  Deu a volta, entrou pelo beco, o viu voltar, várias vezes, estava envelhecido, mas nem por isso menos bonito.

Ficou tentado a abrir a porta, mas não o fez.

Ao final, viu que escrevia um bilhete, que passava por baixo da porta, tentou escutar se alguém o pegava do outro lado, mas ele não se moveu.  As vezes o telefone tocava, ficava um tempo, mas ele não atendia.  Era como se não estivesse ali realmente.

Não queria de maneira nenhuma ter nada mais a ver com ele, nem tampouco com sua família, tinha conversado muitas vezes com o Lukas sobre isso.  Será que teriam sido felizes juntos, Lukas dizia que Remo sem querer atraia complicações, sempre estarias no meio de coisas que nada tem a ver contigo, como já aconteceu.  Deixe estar, deixe estar que é melhor.

Atendeu a voz que dizia isso em sua cabeça.

Muito tempo depois, pegou o bilhete.

“primeiro sinto muito a morte do Lukas.   Espero que estejas bem, vim a NYC, buscar o resto do que era meu, no banco da minha mãe.  Quero desfrutar o resto da minha vida, depois de tanto pesadelos.   Sinto não poder te ver, mas parto outra vez para outro destino.  Cuide-se como sempre dizes a mim.  Teu amigo Remo”

Com isso na mão, se lembrou da conversa que ele nunca tocaria no dinheiro que era da família, ele tinha uma cópia da chave do Banco.   Tinha certeza de que tinha retirado tudo que o velho tinha deixado.

Com muita cautela foi ao Banco, conseguiu o acesso, apresentando sua documentação de policial, nem precisou ir muito além, o gerente do banco, disse que o herdeiro, tinha retirado tudo, bem como devolveu a caixa ao banco.  Já não tem nada aqui.

Remo tinha sido esperto, tinha esperado tudo passar, para se apossar do dinheiro todo, bem como dos diamantes.  Depois se soube que o FBI, tinha recebido toda a documentação contra a família que já nem funcionava direito, tinha perdido sua credibilidade.   Essa tinha sido sua vingança final.

Só ficaria com uma pergunta na cabeça, será que veio para me convidar para ir com ele, para alguma ilha maravilhosa, para disfrutarmos do final dos nossos dias.

Nisso escutou a porta detrás se abrir, foi rapidamente, era seu namorado de anos, que voltava de uma viagem.   Lástima não estar ao teu lado para o enterro do Lukas, mas não consegui bilhete de avião a tempo.

Que bom estar em casa novamente, se beijaram.  Eram completamente diferentes em tudo, mas se entendiam.   Na primeira noite que estiveram juntos, ficou para dormir, depois foi ficando cada vez mais, nunca fez a pergunta que atormentava o Xavier.   Somos alguma coisa, ou temos um compromisso.   Dava por sentado que tinham.   Por isso durava.

Contou tudo para ele, afinal sabia toda a história, tinha lhe contado tudo com o tempo, os dois não tinham segredos um para o outro.

Agora seria a hora de escrever, viveram felizes para sempre, mas é melhor dizer que foram lutando com a vida para seguir em frente.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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