ALGO NOVO
Estava com os
braços caídos ao braços caídos ao longo do corpo, esperando sua sentença, em
sua cabeça não tinha feito nada incorreto.
Mas todas as provas apontavam para ele, tinha sim durante muitos anos
trabalhado com quem não devia. A merda é
que essas pessoas já não estavam vivas para dizer que não tinha culpa no
cartório.
Sabia que tudo
não passava de uma vingança orquestrada por várias pessoas. Nesse momento depois de dias de julgamento,
seu advogado de ofício não tinha resolvido grande coisa, tampouco tinha feito
nenhum esforço para isso.
O juiz se virou
para ele, perguntou se queria falar alguma coisa, visto teu advogado, não ser
muito claro.
Como num estalo
sua cabeça começou a funcionar. Diziam
que quando acontecia isso, saíssem da frente porque ele era como uma metralha
com os dados que podia armazenar na mesma, era mais fiável que um computador.
Sim senhoria,
quero. Mal pude ler as acusações que
esses senhores fizeram contra mim. Em primeiro lugar, todo mundo espera que eu
diga que nunca trabalhei para esses senhores da Máfia, seria uma inverdade.
Durante muitos
anos, devi favores por causa da minha família aos da Máfia. Mas veja bem os atendi como qualquer pessoa
que me procura. Exijo que tenham uma
conta no banco, que o dinheiro a ser aplicado venha através desses canais. Trabalho justamente com gente de pouco
rendimento, procuro colocar em suas cabeças que comprar, vender ações não é
como um jogo, sugiro sempre, se olham as folhas iniciais de informações, que aplique
um valor inicial, quando esse valor dobrar, que retirem o aplicado, o
devolvendo outra vez a sua conta no banco, para seguirem garantido a segurança
da pessoa. Cada vez que reaplica o
dinheiro, que uma parte deve ir ao banco.
Sou uma empresa pequena, portanto posso vigiar tudo isso, os senhores
citados já morreram, não eram chefões da máfia, mas sim pessoas que conhecia
desde criança. Se verificam suas
contas, verão como era o procedimento.
Quanto ao outros
procedimentos que tem minha assinatura, eu duvido muito, pedi que o advogado
conseguisse um grafólogo, não sou um idiota, minha assinatura é muito
particular, além de ter por capricho, ler atentamente tudo que assino, se me
podem mostrar a assinatura no quadro.
Ah obrigado, me permite senhor juiz, gostaria de ter uma caneta para
mostrar aonde estão os erros. Foi
apontando no quadro os erros na assinatura.
Quem fez isso tentou, mas devagar, tirou a tampa da caneta, fez a sua
assinatura rapidamente no quadro, agora olhem a diferença. Se escutou vários ohs, do jurado.
Para terminar,
este senhor que faz essa reclamação, nunca foi meu cliente, basta olhar a
listagem de clientes que tenho, era um cliente particular de um empregado, que
fazia suas transações desde casa. Nos
nossos computadores, não tem pelo que já declararam, nada desse senhor.
Por quê? Quando me procurou, mandei analisar sua
ficha, eu sempre faço isso, este homem foi condenado duas vezes por estafas, o
que está tentado fazer agora, é justamente isso. Mas se fosse realmente esperto, teria
verificado minha maneira de trabalhar.
Eu me neguei
fazer aplicações para ele, em nome segundo ele de alguns clientes. Primeiro porque queria investir em empresas
que estão em perigo no mercado. Eu só
faria isso se fosse um idiota rematado.
Ainda não como merda, pensando que é caviar.
Perdão senhor
juiz pelos termos.
O advogado que o
acompanha, bem como o senhor fiscal, já estiveram metidos em casos similares,
ou será que esperavam que eu não os mandaria investigar. Citou uma série de casos, inclusive dois foi
vossa senhoria que despachou. Creio que
o enganaram de alguma maneira, pois isso sujaria vosso nome.
Já tinha ganho
uma parte, os dois na mesa de acusação estavam nervosos, bem como o fiscal.
É sabido que o
fiscal, se candidata a fiscal do supremo, para isso necessita de dinheiro, o
mesmo tem a casa empenhada, os dois carros que tem, pertencem a bancos, os
mesmo segundo meu sonde-o, se negam a lhe emprestar dinheiro, pelo que sei com ameaças.
O Fiscal tentava
fazer com que parasse, mas os juiz mandou prosseguir.
Por último senhor
fiscal, se querem embargar minha empresa bem como minhas contas, estas estão
asseguradas, eles teriam um lucro neto de 50 milhões de dólares.
Isso é ganância
pura. Mas se fossem expertos, que não
são, todo esse dinheiro está num fideicomisso, destinado a educação dos meus
sobrinhos, nem eu, nem o senhor podemos mover esse dinheiro. Como são crianças, só terão acesso a ele,
quando tiverem idade para ir a universidade.
Eu vivo numa casa
modesta, minha irmã é viúva, acreditou em mim, para aplicar o dinheiro que
herdou, a orientei justamente para isso.
Apenas sou o administrador desse dinheiro, nada mais.
Agora se me acham
culpado de alguma coisa, não terei medo de ir para a cadeia. Mas que esses senhores merecem mais do que
eu, isso tenho certeza.
O jurado saiu,
voltou em dez minutos, ele estava sentado tranquilamente, entregaram o papel
para o juiz. Este leu, sorriu. Acho que o senhor devia ter outra profissão,
ser advogado. O jurado o declara inocente.
Quer dizer mais alguma coisa.
Sim nesse
momento, um auxiliar, está entrando com uma ação, contra esses senhores, bem
como contra o fiscal. Gostaria que o
senhor se antecipasse, lhes desse ordem de prisão, para não nos fazer perder
tempo. Principalmente o senhor a quem
tentavam fazer de tolo outra vez.
O juiz fez um
gesto, ninguém tinha visto, mas no final do lugar, estavam vários policiais.
O fiscal o olhava
furibundo, ao passar por ele, lhe disse vou por você, bem como por tua família
inteira.
Saiu do tribunal
seguido por muitos jornalistas, mas se recusou a falar.
Tinha pedido a
prisão do funcionário que também tinha traído sua confiança.
Dentro do carro
que lhe esperava, seu braço direito, os jornalistas tentavam entrar ou fazer
com que ele respondesse alguma coisa, sorriu dizendo, desculpe, mas se fecho a
porta posso ferir seu braço, gentilmente retirou a o braço do que tentava
impedir de fechar a porta.
Quando o carro
conseguiu arrancar, disse filhos da puta, não sabem quem provocaram.
Riu pensando, nem
sequer sabem que eu sou.
Estaria agora
devendo favores ao seu irmão, esse sim um mafioso total, sem querer o mesmo o
tinha metido nessa confusão.
Ele como sua
única irmã, eram filhos do segundo casamento de sua mãe, com um chefão da Máfia,
mas ela nunca foi uma loira burra, os tinha mandado para serem criados pela sua
avó, bem longe daqui, bem como ficou pé, os fazendo registrar somente com seu
sobrenome. Seu pai que ele viu em
contadas ocasiões, não podia resistir aos encantos dela. Sabia como manobrar o homem.
Imagina um
italiano, manobrado por uma mulher irlandesa de pura cepa, que não se dobrava
de maneira nenhuma a ninguém. Para ir
para cama com ela teve que se casar.
Ao mesmo tempo,
quando ele morreu, a deixou rica, mas com dinheiro limpo, nada de dinheiro da
máfia. Além de uma quantidade de joias
impressionante.
Em seguida se
casou com um homem do sul, imensamente rico, vivia numa grande fazenda no
interior do Texas. Foi lá que sua irmã
tinha se casado com um milionário do petróleo, que morreu num acidente de
carro, saindo de um prostibulo.
Foi quando ela
lhe pediu auxílio, fez o que fazia com qualquer cliente, ele na verdade só
usava o fundo dos garotos, para os protegerem.
A anos tinha
reencontrado numa festa, ele que odiava qualquer uma, na casa de um cliente,
tiveram uma conversa durante instantes em particular, quando ele pediu se podia
aplicar dinheiro para ele. Fazer uma
espécie de lavagem de dinheiro, lhe disse na cara, como tu imaginas não, mas
terei um plano para ti.
Desenhou o
seguinte, os empregados de uma fábrica que ele tinha, lhes dava dinheiro como
se fossem suas economias, depositavam num banco, ele aplicava esse dinheiro, o
seguia aplicando sempre, mas tinha um inconveniente para o irmão, uma parte
realmente tocava essas pessoas carentes.
Mas o lucro eram bons.
O irmão aceitou,
por isso, mandou seu braço direito falar com ele, para conseguir informação
sobre o fiscal, bem como os outros. O
advogado de ofício, era só uma tapadera. O juiz sim sabia que ele antes de tudo
era um advogado, por isso perguntou se queria falar.
Um mês depois,
apareceu com mais dados sobre os que tinham movido uma ação contra ele, mas o
melhor tinha contratado um advogado que era inimigo ferrenho do fiscal, para o
julgamento dele a parte. Tinha revisado
todo seu trabalho ao longo dos anos que estava como fiscal, levantavam muita
coisa suja.
Esse quando viu o
advogado do lado dele, institivamente secou o suor da frente. Lhe caiu uma pena de 15 anos, por usar mal
um trabalho público. Em consequência sua
mulher lhe pediu o divórcio, mudando inclusive de cidade. Sorte que não tinham filhos, mas salpicou
toda a família dele, que tinha muito dinheiro.
Dias depois,
recebeu de noite em casa, seu irmão chefe da máfia, que entrou pelo beco detrás
de sua casa.
Foi direto ao
assunto como sempre ia, acredito que devas sair da cidade, a família do fiscal,
colocou tua cabeça a prêmio, posso te proteger mais isso, chamará atenção. Ou fazemos uma coisa rocambolesca.
Organizo um
atentado contra ti, antes passas o teu escritório para teu sócio, consigo
documentos falsos, para ti. Desapareces por um bom tempo.
Tens dinheiro?
Para estar fora muito tempo?
Sim, tenho
dinheiro fora do pais, mas esses idiotas nunca imaginaram usar isso contra mim.
Me dê uma semana.
Não, te dou dois
dias, para fazeres isso, não temos tempo a perder, essa gente é do pior.
Dois dias depois
ia tranquilamente para casa, ou isso aparentava, tinha pedido segurança a
polícia, pois temia por sua vida. Quando um caro fechou o que ia. Ele se jogou no chão imediatamente, os dois
homens que iam na frente saíram para responder ao fogo, era um fogo cruzado, a
porta do lado que estava protegido, estava encostada a uma dessa lixeiras
imensas, abriram uma lateral, tiraram uma pessoa morta, igual a ele, colocaram
no seu lugar, empurraram a lixeira para longe, se afastaram do carro que
explodiu.
Restou pouca
coisa do corpo dentro do carro, levaram depois dias para recuperarem tudo, era
impossível saber se era ele.
Sua irmã mandou
fazer o enterro, com o caixão fechado.
A polícia conseguiu pegar os que estavam atirando, acabaram dizendo quem
tinha encomendado a sua morte. O pai do
fiscal. A coisa ficou preta, ele assistiu tudo de longe. No dia seguinte embarcou, com um passaporte
com novo nome, em direção a Europa.
Agora se chamaria
Egberto Holt, gostava inclusive de seu novo vestuário, que o rejuvenescia.
Tinha seus
contatos, seu irmão tinha lhe dado uma documentação, com nome italiano, ele
aceitou, mas no aeroporto no momento que foi ao banheiro, seu sócio lhe
entregou essa nova documentação, bem como outro bilhete de avião, para o irmão
ele ia rumo a Berlin, com a nova foi para Helsinki.
Nada de hotéis
cinco estrelas, tinha alugado um apartamento com esse nome, com cartão de
credito incluído por Airbnb, foi super fácil, tinha conseguido nesse tempo,
mover todo seu dinheiro para uma nova conta, usava agora cabelos mais curtos,
mais claros, óculos sem grau, que se colocava uma parte em cima, virava óculos
escuros. Como fazia frio, agasalhos
modernos que lhe escondiam bem a cara. Quase o tempo todo, usava gorros de lã.
O que fez a
seguir, foi embarcar num cruzeiro que ia em direção ao mediterrâneo, cheio de
turistas de uma certa idade, alugou um camarote individual, dizendo que
roncava.
Não tinha
comentado seus planos, nem para seu sócio.
Desceu em Lisboa, como qualquer turista, só com uma mochila, aliás era
tudo que ele precisava.
Já tinha
reservado uma Airbnb, na zona de praia em Cascais, ficou uma semana por lá,
alugou um carro, saiu em direção ao sul, no caminho, viu muitas motorhome, com
placas francesa, alemãs, pensou, perfeito para se mover.
Consultou por
internet no hotel que estava hospedado, viu que podia comprar ou alugar,
entregar em outro lugar, se comprava, podia vender depois, assim poderia fazer
o roteiro que quisesse.
Foi o que fez,
mas acrescentou uma coisa, comprou uma moto, que levava na traseira, percorreu
toda a costa sul de Portugal, bem como Espanha, quando entrou na França, tomou
mais cuidado, atravessou no sentido de ir a Luxemburgo, aonde tinha transferido
o dinheiro, deixou a motorhome numa cidade perto, foi de moto.
Se hospedou num
hotel pequeno, ficou vigiando o banco dois dias, mudava de posição, falou com a
pessoa que lhe movia dinheiro, disse que necessitava aceder a sua conta.
Marcaram uma hora.
Lhe atendeu uma
senhora de uma certa idade, ela riu, pensando o que está fazendo essa senhora
aqui, verdade?
Sim, devia estar
aposentada.
Odeio estar em
casa, fazer qualquer coisa relativa a casa, preciso disso, de trabalho,
adrenalina.
Mais um pouco, me
atreveria a conseguir um trabalho aqui.
Não seja por
isso, dois companheiros acabam de se aposentar, venha comigo, o apresentou ao
diretor. Começaram a falar de ações, ele
desde que estava pela Europa, se informava pelos jornais, mesmo pela televisão
que tinha na Motorhome, dos movimentos das bolsas.
Convenceu o
homem, disse que tinha alugado uma casa em Thionville.
Sem, problemas,
basta vir aqui, quando algum cliente que lhe passem peça, uma presença física,
de resto podes atender a pessoa, através de um telefone que lhe cedemos, um
computador, para olhar suas contas, faras um treinamento técnico, durante duas
semanas, vamos ver quantos clientes deixas satisfeito.
Isso era com ele,
mostrou nessas duas semanas do que era capaz, ia e vinha de Thionville de moto,
a motorhome estava num camping.
Fazia uma coisa
que o banco as vezes não, fazia, a cada cliente que lhe tocava, buscava algo
sobre sua vida através da rede negra da internet que tinha aprendido a usar,
isso lhe dava segurança.
Não fazia contato
com sua família, aliás nunca tinha sido apegado a ela, sua mãe basicamente
nunca deu muita atenção a eles, depois de se casar novamente, tinha uma nova
família.
Seu sócio tinha
sido seu amigo, desde a universidade, ele tentou alguma coisa com ele, mas se
mantiveram como amigos, era mais fácil.
Observou que
parecia que a cidade estava cheia de espias, foi até uma cidade maior, comprou
um carro, vendeu a motorhome, alugou uma casa, nas montanhas, quase fronteira
com Luxemburgo, mas fez a mesma coisa, do lado Belga, bem como do Alemão, assim
era fácil, eram casas pequenas manejáveis, se fazia conhecer na vila mais
próxima, aonde ia de compras, se dizia um escritor, a procura de inspiração, em
cada lugar usava um nome diferente.
Se divertia, tinha
encontro com homens nesses lugares todos, mas dizia que estava de passagem, que
tinham que ter uma casa para fazerem sexo, depois desaparecia. Nada de compromissos.
8 anos depois, um
dia recebeu uma chamada para atender uma pessoa, logo descobriu que era o braço
direito de seu irmão. Disse que não
poderia atender, visto ter uma bateria de exames médicos marcados com
antecedência, se livrou de todas as residências, rapidamente. Sabia por aonde
ele entraria. Ficou observando, vinha junto com seu irmão, na mesma hora,
desapareceu. Mandou uma caixa para o Banco, entregado o laptop, celular que
usava, tudo muito limpo de impressões digitais, nunca o tinha usado para coisas
particulares, nada podia denunciar.
Em uma carta
alegava motivos pessoais.
Foi para Paris,
passar uma temporada, gostava dessa vida, em que não precisava de muita roupa,
casas que estavam condicionadas para ele, tinha conseguido várias identidades,
assim nunca era a mesma pessoa que alugava.
Viveu 10 anos em
Paris, sabia que as estas alturas, seus sobrinhos já estavam de pose do
fideicomisso. Tinha uma clave especial
para poder olhar. Viu que sim, que
estavam em pleno uso dos mesmos.
O que lhe pesava
as vezes era a solidão, porque não criava raízes em nenhum lugar, os romances
era de só uma noite, até que em Paris, conheceu um turista como ele, do Brasil,
estava andando na rua, passou por um café, viu aquele homem sentado, tomando um
vinho calmamente, fumando um cigarro. De
uma certa maneira se parecia com ele. Todos seus movimentos eram calmos, subiu
a rua outra vez, seguia no mesmo lugar, se espantou quando ele levantou a taça
de vinho, o convidando para tomar um com ele.
Tomou coragem,
entrou no bar. Foi um encontro elétrico, foram para seu apartamento no momento,
um studio justo as margens do Sena, mas afastado do centro. Houve entre eles um contato impressionante,
passaram dois dias na cama.
Quando não fazia
sexo, Dov Blinger, era uma pessoa tranquila, tinha vindo a França fazer um
filme, as rodagens tinha acabado no dia que tinham se conhecido.
No terceiro dia,
disse que tinha que voltar ao seu hotel, pois podiam ter feito contato com ele,
foi com ele até lá. Tinha que repetir
algumas cenas, bem como fazer dublagem de algumas partes. Viu que um carro
vinha busca-lo para levar aonde seriam as cenas.
Quando viu de
longe o que lhe cercava, se assustou, muitos jornalistas, fazendo fotos, câmeras
de vídeo o tempo todo em ação.
No mesmo dia
montou sua mochila, se mandou do apartamento. Com sua moto, foi em direção ao
sul, afinal o verão estava chegando. Ao
mesmo tempo ao fazer isso, se deu conta que estaria sempre assim, em
movimento. Nunca teria pouso. Seguia aplicando seu dinheiro através do
banco de Luxemburgo. Quando falou uma
vez com sua velha companheira, soltou.
Me deixaste uma
bela banana estragada, os tais sujeitos eram da máfia, queriam lavar dinheiro
aqui, mas ostentosamente, sabes que o banco não faz isso. Não gostaram muito, do que lhes disse,
pediram para falar contigo, mas lhe disse que estavas fora fazendo exames
médicos, lhes passei ao chefe que os tirou de letra, não gostaram muito,
disseram que iriam tentar em Andorra.
Se apaixonou por
Aix en Provence, alugou um apartamento, num edifício que viviam estudantes, começou
a ir a Cassis, até que descobriu Beach Portissol, uma pequena praia, que lhe
encantou, mesmo no verão a frequência era pequena, alugou de uma senhora uma
casa que ficava numa parte mais alta, com vista de toda a praia, tinha uma
visão se alguma pessoa se aproximava.
Era seu paraíso,
fez amizades, na pequena vila, nem ia as grandes cidades para se abastecer.
Seguia movendo sempre seu dinheiro.
Até que sofreu um
acidente de moto, nas montanhas foi levado de helicóptero, para um hospital em Nice,
quando se deu conta ficou uma fera, mas tinha que ser operado de emergência,
conseguiu avisar a senhora, aonde estava.
Pediu um quarto
particular, quando fez novos exames, o médico disse que não devia mais andar de
moto, tinha um problema sério de ossos, um câncer sem muitos tratamentos, se
tivesse acontecido antes, tudo bem, mas atualmente, não haveria recuperações.
Devia se
preparar. Por enquanto poderia andar,
mas com o tempo isso já não seria possível.
Parou para
pensar, seriamente, voltar, imaginou chegando de repente na casa de sua irmã,
dizendo estou vivo, vim morrer aqui, ou mesmo na mansão de sua mãe, nem pensar.
Muito menos com
seu irmão mafioso que o devia estar buscando a anos, pôr o ter ofendido
escapando de suas garras. Assim que
pode andar, levou os resultados dos exames a Paris, consultou os melhores
oncologos, que trabalhavam nessa área. Só um deles lhe deu esperança, retirar esses
troços de ossos já contaminados, colocar próteses de platino no lugar, fazer um
tratamento com relação ao resto, mas só saberemos se conseguimos contornar a
coisa dentro de um ano.
Nada de casa ou
apartamento com escada. Correr nem pensar. Andar sempre comum bastão para
equilibrar o peso.
Resolveu se
arriscar, pagou pela operação, sabia que a reabilitação seria cruel, alugou um
apartamento quase ao lado do hospital, assim se movia pouco. Foram quase um ano fazendo reabilitação, os
últimos exames, lhe deram esperança.
Mas o médico o
avisou, vida tranquila.
Andando na rua,
um dia encontrou o brasileiro, tinha ficado na França, estou te procurando a
anos.
Estudei cinema
aqui, agora dirijo séries para televisão, levo uma vida mais cômoda, contou o
que lhe tinha passado. Fique na minha
casa, vivo perto também do hospital. O cuidado que tinha com ele, era
impressionante, me apaixonei por ti naquela época, fiquei te buscando, fui ao
apartamento, pensei, assustei a ele.
Lhe contou o que tinha lhe assustado.
Bom te manterei a
margem.
Seguia fazendo
reabilitação, exames pesados a cada x tempo, para ver se tinham novidades. Os
ciclos foram diminuindo. Era feliz com Dov,
mas o seu subconsciente tinha medo. Num
período que ele foi ao Brasil visitar a família, ele ficou só. A desculpa tinha revisão. A notícia não era boa, voltavam a aparecer
zonas nos ossos com câncer. Agora já
não posso fazer muito.
Quando Dov
voltou, contou tudo, sinto muito, mas isso será uma batalha perdida desta vez,
não posso ficar dando trabalho a ti. Dov
estava tentando levantar dinheiro a muito tempo, para fazer um filme. Lhe disse, eu te financio, mas não me
pergunte sobre o dinheiro.
Tu levas uma vida
tão simples, como pode ter todo esse dinheiro, te disse para não perguntar,
começava a sentir-se mal. Falou com um
advogado, o orientou, deixou todo o dinheiro que tinha ao Dov pelos anos de
felicidades juntos.
Se internou em
cuidados paliativos, não aguentou muito tempo.
Contou toda sua vida ao Dov, sabia que quando muito ele escreveria uma história
com isso, mas já não lhe importava.
Enquanto estava bem, foram passar um tempo final na Beach Portissol,
aonde pediu que colocasse suas cinzas de uma maneira que olhasse o mar, como
última vontade, comprou a casa para Dov.
Disse aonde queria que ele colocasse as cinzas dentro de um vidro, para
ver sempre o mar. Antes de voltarem a
Paris, entregou uma bolsa de moto cheia de cadernos de anotações, me
perguntaste o que fiz com tanto dinheiro, está tudo aqui, as pessoas que pude
ajudar, para que pudessem fazer “algo novo” com suas vidas. Mas só abra tudo depois da minha morte.
Morreu com ele
segurando sua mão. Tinha vivido uma
grande aventura, isso bastava.
Dov o mandou
cremar, fez o que ele tinha pedido, conseguiu um pedreiro, explicou o que
queria, ali estaria no seu pouso final.
Da praia muita gente as vezes olhava, pois o sol batia no vidro aonde
estavam suas cinzas, refletindo na praia.
Dov as vezes
passava por ali, colocava a mão em cima.
Quando começou a
ler o primeiro bloco, ali estava toda sua história inicial, riu, eu preciso
fazer um exercício mental assim, quem sou eu, de donde sai, meus antepassados.
Mas primeiro leu
esse caderno inteiro, um dia e uma noite inteira, sem parar, só parou para tomar café para se manter desperto.
Meu amigo,
pensou, a história que eu queria filmar, é uma merda em comparação com a sua,
foi a Paris, falar com produtores, iria escrever a história como se fosse uma
série de televisão, pois seria muito comprida para o cinema. Ele mesmo seria um dos produtores que
entraria com dinheiro, tinha aprendido com Egberto como fazer. Com a ressalva que ele devia sempre ajudar
alguém quando aparecesse, tinha lhe explicado como fazia, observar, ver se a
pessoa é realmente o que demonstra, só então ajudar.
Sentou-se de uma
tacada só escreveu a primeira parte, o final do julgamento, seriam dois
capítulos. Apresentou o roteiro para os
outros produtores, Netflix logo se interessou, devia depois ser dublada em
inglês. O duro foi encontrar um ator
que pudesse fazer, mais é claro um papel em que o personagem, não é nenhum
herói, mas sim um homem com todos os problemas que envolve alguém que foge o
tempo todo. As filmagens seriam nas
cidades que ele tinha vivido.
Já estava lendo,
para ir pensando nas seguintes temporadas, quando Egberto apareceu em sonhos,
agora sei de tua vida. Lhe foi
mostrando tudo que tinha guardado dentro de sua cabeça.
Como não estava
filmando, os roteiros seguintes estavam prontos. Resolveu olhar para si mesmo.
A história de sua
família, podia remontar, durante e depois do final da primeira guerra.
Seu avô tinha
sido prisioneiro dos alemães, alimentaria toda vida um horror impressionante
contra eles. Quando voltou para Paris, como
tinha sido dado por morto, sua mulher tinha se casado com outro. Sem querer se livrava de um lastre, pois
tinha sido um casamento combinado, nunca a tinha amado, seus pais tinha
contratado uma casamenteira judia, para isso.
Livre, apesar do
complicado que foi reaver o que era seu, que o novo marido tinha se apossado,
vendeu tudo, além, de uma parte que seu pai lhe adiantou da herança, pois
tinham deixado se convencer.
Embarcou num navio
que saia de Marseille em direção ao Rio de Janeiro, um lugar mítico em sua
cabeça. Tinha como única recomendação
procurar um primo de seu pai que tinha uma loja na rua do Catete.
Quando o navio
foi entrando na baia da Guanabara, foi se deslumbrando com a paisagem, era
bonito demais pensou, quero andar tudo isso, depois de dias pensando no que
poderia fazer na cidade, já a amava só de visualizar tudo.
Desceu na Praça Mauá,
viu um homem que parecia um leão, com uma juba branca, como seu nome
escrito. Contaria essa história mil
vezes depois para ele.
Era seu tio
Joseph, disse que o levaria a uma pensão, pois minha casa é um inferno, minha
mulher é uma jararaca, explicou o que era a analogia, tenho três filhas feias
solteironas, vou para casa quando tenho sono, assim não me enchem o saco.
O levou para uma
pensão muito limpa que ficava na frente do Palácio do Catete, que era a
residência do presidente da república, pelo menos temos uma segurança completa.
Depois o levou
para conhecer sua loja, era uma loja de moveis , entre antigos, novos, os
velhos, eu verifico se vale a pena comprar, esse pais, as pessoas sobem na
mesma velocidade que descem, então na subida acumulam bens que depois na
descida tem que se livrar, se vale a pena compro.
Isso ele gostava,
na loja do pai, algumas vezes tinha restaurado moveis. Sabia como dar uma patina de luxo nos
mesmos. Veja essa cômoda tio, com
cuidado, posso lhe colocar uma lateral feita por mim, bem como uns pés de leão,
aprendi a fazer isso, na escola de artes e ofícios de Paris. Teu pai já me contou essa coisa tua.
Mas o primeiro
que fez, foi com um abajur, que estava meio capenga, alguém atirou isso na
cabeça de alguém. O restaurou, completamente,
encontrou jogada pela oficina uma cúpula imitando art decô, juntou um no outro,
ficou estupendo, colocou na vitrine, com uma etiqueta em francês, dizendo, Art
Decô, colocou a época que representava, bem como o preço, recém chegado de
Paris.
Dez minutos
depois o tio entrou na oficina rindo, a cliente pagou sem pechinchar como fazem
os daqui. Isso terás que aprender,
aumentar o preço, para depois abaixar ao preço real.
Já tinha comprado
um pequeno apartamento ali mesmo na rua do Catete, logo em seguida ao hotel, o
dinheiro que tinha valia mais, além de que o Joseph investiu com ele no mesmo, comprou
dois para ir alugando, quando ficou pronto, escolheu algumas peça da loja, para
decora-lo.
Começou a se
mover pelo bairro, foi conhecendo gente, logo os amigos da cerveja o arrastaram
para ir ao samba na Mangueira, foi outra paixão à primeira vista. Nesse dia conheceu a que futuramente seria
minha avô. Uma mulata recém chegada da
Bahia, com uma ginga como ele dizia de enlouquecer qualquer homem. Teve que dar um duro desgraçado, segundo me
contava uma e outra vez, para ela cair na minha lábia. Um dia a trouxe na loja, quando viu o Joseph,
o chamou em seguida Senhor Leão. Ele se
rendeu aos seus pés, disse ao sobrinho, ou te casas com ela, ou caso eu.
Acabou se
casando, com o compromisso de a deixar ser quem era. Era uma mãe de Santo, seguiu ele com sua
tradição, ela com a sua. Ali num canto
da oficina, montou um lugar para atender a seus clientes, que vinha para a
leitura de búzios. Ele continuou indo a
sinagoga ali perto, Beit-Aron, existe até hoje.
Quando meu pai
nasceu, foi uma confusão, ela primeiro, o batizou no candomblé, mas depois
deixou que meu pai, seu Joseph, fizessem todo o ritual judaico. Meu pai era isso, uma mistura entre judiamos e
candomblé, tanto ia à como no outro, falava francês, bem como tinha aprendido
Yoruba, ninguém sabia com quem. Tanto
podia aconselhar um judeu, usando os santos livros, como podia jogar os búzios,
para deleite de sua mãe.
Quando tio Joseph
decidiu que meu avô devia ficar com a loja, tinha a muito custo conseguido
casar duas filhas com judeus, mas a terceira que era a menos feia, foi um dia
ao samba, se apaixonou por um mulato sarará, então tudo mudou, o tipo queria a
loja, mais para se encostar, mas o velho era experto, fez um documento como se
tivesse vendido a loja ao sobrinho, assim não tinha que aguentar esse sem
vergonha como ele dizia.
Mesmo fora do
negócio, ia todos os dias, acabou morrendo sentado ali num cadeirão que sempre
tinha usado, num dia de calor infernal no Rio de Janeiro. Foi enterrado no cemitério do caju. Quando as filhas vieram procurar meu pai,
mostrou o documento, de compra e venda da loja, foi um jarro de água fria nos
genros que já pensavam no que fazer com o dinheiro.
Foi um golpe
maestro, contava rindo, a cara que puseram, minhas primas graças a deus nunca
mais falaram comigo.
Meu pai, seguindo
a tradição, era louco por samba, ao mesmo tempo que pai de santo, por pouco não
vira rabino também. Mas claro os outros
da congregação quando descobriram que andava em outras coisas, disseram que
não, mas ia todos os sábados, fazia dois preceitos, um judaico, outro no
candomblé.
Minha avó que não
era muito de lero-lero, lhe perguntou quando ia assentar a cabeça, pois ele era
como um beija-flor, sempre com uma namorada nova, não fazia distinção de cor,
imaginem um mulato, com olhos azuis, lábios carnudos, cabelos crespos, negros
como a asa da graúna, caiam rendida aos seus pés. Até que não falassem em viver junto, tudo
bem, quando tocavam nesse assunto, a coisa ficava preta.
Mas trabalhava
todos os dias com o pai, tinha aprendido com ele, a restaurar móveis, a mudar
sua procedência. Meu avô tinha um
amigo, em Paris, que lhe mandava moveis.
Com a aproximação da segunda-guerra então, mandou muitos containers, nos
últimos navios que saíram de Marseille rumo ao Rio de Janeiro, teve que alugar
o armazém da loja do lado, para guardar tantos móveis, foi restaurando devagar,
para que sempre tivessem novidades.
Era conhecida
como a loja do judeu francês. As
clientes era o mais divertido, entravam para comprar alguma coisa, atraída pelo
cartaz que ele colocava em cada objeto, francês, século XIV, ou XV, e por ai
via, isso durou anos, depois ficou mais difícil, pois o seu amigo, foi parar
num campo de concentração, nunca mais soube dele. Como morreram todos da sua família, nunca
mais conseguiu localizar ninguém.
Quando acabou a guerra
começaram a chegar navios com muitos emigrantes, principalmente mulheres. Num dos navios que chegou, vinha um grupo de
monjas franciscanas, entre elas a que seria minha mãe. Era judia, tinha ficado escondida num convento
se fazendo passar por monja. Embarcou
com um grupo que vinha para ir para o sul do Brasil, mas como meu pai, se
deslumbrou com a cidade. Tirou sua roupa
de monja, soltou seus cabelos compridos vermelhos, tinha só uma direção, a
sinagoga do Catete. Por um acaso meu
pai estava lá, quando a viu ficou loucamente apaixonado. Ela
foi viver na casa de uma família que a acolheu, mas só concordou como minha avô
tinha ensinado, para cama, só casando.
Ele sentou o
facho, babava por ela, era capaz de beijar o chão que ela pisava, logo ficou
gravida, nasci uma mistura dos dois, cabelos vermelhos escuro, olhos azuis,
boca carnuda, nariz um tanto chato.
Fui a grande
paixão do meu avô, que falava comigo o tempo todo em francês. A primeira palavra que aprendi a dizer foi
seu nome. Me mostrava para todo mundo,
as clientes riam dele, o chamavam de avô coruja. Vai ser conhecido no mundo inteiro dizia.
Minha mãe
conseguiu um emprego na Maison de France, aonde funcionava o consulado, bem
como escola de francês, com um teatro embaixo o Maison de France. Uma vez lhe pediram se podia fazer um papel,
numa peça francesa, seria para convidados especiais. Para que, foi seu lançamento, imaginem uma
atriz que falava português, algumas palavras com acento francês, que podia
fazer papel de madame, e outros bichos.
Cada vez mais eu ficava com meu avô, com minha querida avô, me sentava
no seu colo, ia aprendendo o IFA, falava o Yoruba melhor que o português. Acabei começando cedo no cinema, ela
precisava de um garoto para fazer papel de filho num filme, me levou, me
mandaram ler o texto, entendi imediatamente o mesmo, acabei fazendo o
papel. Foi nessa época que começaram a
pegar forte as novelas da Globo, normalmente fazia o papel de seu filho, ou
outro qualquer. Um dia reclamei que um
diretor de atores, estava me passando a mão, fez sinal de silêncio, me
perguntou quem era. O filho da puta era
importante. Me arrastou com ele a uma
sala, fez um escândalo tão grande que até um diretor da empresa apareceu. Com isso ela conseguiu um contrato vitalício
na mesma. Só sairia de lá por vontade própria, podia inclusive eleger papeis,
novelas.
De tonta não
tinha um pelo, em sua cabeça não podia apresentar aquele marido, sempre com pó
de madeira na cabeça, mãos calejadas de trabalho duro.
Se enrolou com um
dos diretores da empresa, logo, pediu o divórcio que tinha sido aprovado
recentemente. Foi como jogarem um jarro
de aceite fervendo na cabeça do meu pai, passava horas dizendo o que foi que eu
fiz.
Meu avô dizia,
foi o que não fizeste, aqui todo mundo valoriza isso, subir na vida, ela
aprendeu rápido a malandragem brasileira, se defendeu, arrumou um rico, tem
contrato vitalício, tu não passas de um carpinteiro metido a besta, porque sabe
francês, além de ser judeu, macumbeiro.
Nada mais além disso.
Mas ele conseguiu
ficar com a minha guarda até maior idade.
Logo lendo notícias sobre Israel, meteu na cabeça que tinha que ir para
lá. Não houve jeito de convencer ao
contrário, queria me levar, mas imagine se meu avô ia deixar. Lhe disse que quando ele se estabelecesse
lá, viesse me buscar, nunca mais soubemos dele.
Eu continuei
fazendo teatro, cinema, televisão, mas nunca mais contracenei com minha mãe,
não nos dávamos bem, pois sabia que tinha me usado para conseguir o que
queria. Isso com o tempo seria uma
cicatriz entre nós dois.
Chegou a um ponto
de passarmos um pelo outro, sem olhar na mesma direção, quando ia fazer um
filme perguntava se trabalhava, só aceitava se me diziam que não. Ela logo se cansou do seu marido, o trocou
por um milionário, passou a viver viajando pelo mundo.
O meu querido avô
um dia me chamou para uma reunião, estávamos os três sentados, ele comentou,
uma empresa me ofereceu um absurdo de dinheiro pelo edifício, já compraram o do
lado, querem este, além do seguinte.
Estou cansado, queria aproveitar meus últimos anos ao lado da minha
cabrocha, queria comprar uma casa, aonde ela frequentava o terreiro, ficava
mais fácil para ela se mover por ali, bem como ele, foram os dois viver em
Madureira, ele conseguiu na venda, que eu ficasse com um apartamento no
edifício.
Prossegui minha
carreira, mas estava cansado, me sentia repetindo os papeis, durante esses anos
todos, tinha seguido o conselho dele.
Tens casa, comes sempre fora, guarde o dinheiro, pois nesse pais tudo
que sobe desce, um dia desse se cansaram da tua cara, já não te darão papeis
que te interesse. Tinha razão. Voltei a estudar, fui fazer cinema, ali
perto mesmo, aonde funcionava a escola de teatro, hoje nem existe mais o prédio
que era mítico.
Fui conhecendo o
pessoal, logo além de fazer alguns filmes quando me interessava, trabalhava de ajudante
do diretor, meu nome já não aparecia entre os primeiros.
Me chamaram para
fazer um filme sobre Luiz Carlos Prestes, todo rodado no nordeste, depois na caatinga. Foram meses difíceis, mas amei esse
papel. O filme foi para o Festival de
Cannes, lá fui eu pela primeira vez a Europa, minha avó quando fui a Madureira,
me disse, logo ficaras por lá, voltarás, mas tua vida, além de quem será teu
grande amor, será lá.
Dito e feito, se
encantaram comigo, como falava francês, sem sotaque nenhum, quando comentei que
meu avô era de lá, melhorou, fiz meu primeiro filme por lá, foi um bom papel,
não era o principal, mas foi excelente, ganhei o prêmio de Coadjuvante, o
César, o máximo em cinema. Quando
acabei o segundo, em que fazia um filme de época, estava hospedado pela
produção, num hotel no Boulevard Saint-Michel, na esquina mais abaixo, tinha um
café, que as mesas estavam colocadas como numa vitrine, adorava sentar-me ali,
tomando um taça de vinho branco, meu preferido, observando as pessoas
caminharem, quando passou um homem que não sei porque meu coração
disparou. Vinha caminhando devagar,
observando as pessoas, ele era diferente. Me olhou, parou um instante, não
sabia o que fazer, desceu mais um pouco a rua, voltou como se estivesse subindo
a mesma outra vez. Quando vi, já tinha
feito um gesto o convidando para um vinho.
Quando me dei
conta, estava na cama com ele, foi assim que conheci Egberto Holt, levaria anos
para descobrir que esse era um dos seus muitos nomes. Ficamos dois dias juntos, nunca tinha me
sentido assim com ninguém. Tinha
encontrado meu porto, pensei.
Mas tinha que ir
ao hotel, pois se por acaso tinham me deixado algum recado, afinal minha
participação tinha terminado, mas faltava algo de dublagem em cenas no
campo. Expliquei a situação para ele,
lhe disse que assim que terminasse, no dia seguinte iria até sua casa.
Só soube depois
que tinha me seguido, viu o lugar cheio de fotógrafos, gente gravando vídeos,
ali na margem do Sena. Quando me livrei
de tudo, corri a sua casa, tinha ido embora me disse o porteiro, saiu com a
mesma mochila que chegou, colocou tudo na sua moto, foi embora sem dizer para
aonde.
Fiquei como louco
o procurando, pelo nome que tinha me dado, ninguém sabia dele, não constava nem
na polícia, pois fui pedir ajuda.
Em seguida voltei
ao Brasil, pois meu avô estava mal, nem uma semana depois morreu dormindo, teve
duas cerimônias, uma no candomblé, pela minha avó, outra numa sinagoga que
tinha descoberto lá por estes lados.
Rezei o Kadish para ele, como me tinha ensinado em garoto. Minha avó, decidiu ir viver no terreiro que
frequentava, mas antes me disse, volte porque ele vai reaparecer, aproveite os
anos que puder com ele, serão mágicos.
Voltei com um
novo contrato, aproveitei dinheiro da herança do meu avó para fazer um curso de
cinema com realmente devia ser, perto dele o que tinha feito no Brasil era
besteira.
Mas claro, havia
uma imensa quantidade de pseudo intelectuais, que era sempre aclamados pela
crítica, mas descobri depois, que o povo mesmo cagava para eles.
Me surgiu a
oportunidade de fazer, bem como dirigir uma série, sabiam que eu tinha prática
das novelas no Brasil, aí foi fácil.
Anos depois o
encontrei, como da vez anterior, andando na rua. Vinha de cabeça baixa, pois tinha feito
exames no hospital que estava quase ao lado da minha casa. Tinha câncer de ossos, os dois já não éramos
tão jovens assim. Tomei a decisão que
não o deixaria escapar, os anos que passamos juntos, depois de sua operação, do
tratamento, nunca reclamava de nada, aguentava.
Eu o achava uma pessoa simples, me preocupava, pois seu tratamento era
caro, ele entendia minhas ausências, para filmar, entrevistas que ele nunca ia,
me contou por que, foi me contando sua vida.
Quando estava
livre, ia escrevendo um roteiro de filme que pretendia contar a história do meu
avô. Sabia que seria difícil conseguir
dinheiro. Ele me disse que me
financiava, na hora pensei que estava brincando comigo. Mas me mostrou que podia. Fiquei tonto, ele nunca gastava dinheiro em
besteira, roupas de luxo nada disso, sempre o tinha visto com o mesmo casaco de
couro, que quando chegava o verão mandava limpar, calças jeans, camisetas que
quando acabavam comprava outras, nada de camisas, usava um pano no pescoço, que
eu tinha lhe dado. Quando os exames
voltaram a mostrar que tinha câncer outra vez, o resto dos exames diziam que
impossível, fazer o que tinha feito antes, colocar próteses no lugar.
Fiquei arrasado, fomos
passar um final de semana em seu lugar favorito no mediterrâneo, me apaixonei
pelo lugar, pela casa que alugava. A
senhora, a ia colocar a venda, a comprou para mim. Para teres aonde sentar a cabeça, escrever
teus roteiros. Só me pediu uma coisa,
ele adorava ficar olhando o sol nascer na água, depois como batia em
determinada parede da casa. Pediu que suas cinzas fossem colocadas nessa
parede, medimos a altura, me disse, dentro da garrafa do nosso vinho favorito.
Me deixe ver o mar, esse sol que representam minha vida.
Depois foram
meses e meses, perto dele, conversando, só pedia alguma coisa, quando a dor se
tornava insuportável, tinha me dado a bolsa que usava na moto, que estava cheia
de cadernetas que usava para anotar suas andanças, bem como pessoas que tinha
ajudado com seu dinheiro, me ensinou a fazer isso, que o dinheiro nunca
secasse. Uma vez vendo um filme judeu, viu um ator recitando o Kadish,
perguntou se eu sabia, lhe disse que sim.
Então, depois que me cremem, quando forem colocar a garrafa aonde te
disse, o diga para mim.
Morreu segurando
minha mão, dizendo que eu era o grande amor de sua vida. Nunca tinha chorado tanto assim na minha vida,
dois dias antes tinham me avisado que minha avó tinha sido enterrada ao lado do
meu avô. Já não tinha motivos para ir
ao Brasil.
Fiz tudo como ele
queria, levei minhas coisas para essa casa, como ele dizia era como estar no paraíso,
me levantava cedo para me sentar vendo o sol nascer, mandei fazer um banco
justo embaixo do lugar que estava, assim podia conversar com ele.
Com a primeira
caderneta, escrevi o roteiro do primeiro capítulo do que seria a séria de
sucesso durante anos. A primeira
temporada, começa com sua infância, quando ele entende que o pai é um mafioso, até
quando enfrenta quem vai contra ele. Finalizava essa temporada ele em
Helsinki. A seguinte começava, quando
embarcava para Lisboa.
Os produtores, o
dinheiro era meu, com ajuda da Netflix, exigiram que fosse dublada em
inglês. Como começava em NYC, fui a
estreia, na saída, na festa fui abordado por um senhor já com uma certa idade,
que pediu se eu podia conversar com ele.
Sou irmão do Egberto, mas disse seu nome verdadeiro que eu sabia, mas
não usava na série porque sabia que ele não ia gostar.
Amanhã mandarei
te recolher no hotel, ok.
Concordei,
imaginava que tinha curiosidade.
Foi um encontro
ao mesmo tempo emotivo, divertido, duro, enfim muito esclarecedor.
Concordei com
ele, que tudo que estava na série era verdade, pois tinha seguido o que ele
tinha escrito.
Esse filho da
puta me colocou como uma pessoa má. Mas
eu o ajudei, sabia que era esperto, consegui documentos para ele, que nunca
usou, assim não o descobriria, entendia que queria passar desapercebido. Quando ouvi falar de um homem que atendia
clientes de um banco em Luxemburgo, orientando como deviam investir, entendi
que era ele, mas quando cheguei tinha desaparecido, nunca mais o encontrei.
Depois me
apresentou a família, estavam ali, sua irmã, seus dois filhos, os dois eram
advogados, frequentavam a família, mas não trabalhavam para o tio. Mal se lembravam do Egberto.
A irmã me contou
que sua mãe, tinha lhe soltado quando soube do atentado, isso tem dedo do teu
irmão mafioso, esse que morreu não é teu irmão, ele não é tão tonto assim. Ela morreu anos depois, acabamos como belos
desconhecidos para ela, pois tinha alzaimer. Se nos tinha esquecido antes,
imagina depois.
Sempre esperei
que um dia ele me telefonasse, ou dissesse estou vivo. Mas quando vi o primeiro capítulo da série,
sabia que era sobre ele. Falei com meu
irmão, este soltou, como sempre um filho da puta, que é sua frase preferida.
Contou o que
tinha passado com ele, vivemos sete anos juntos, que foram o melhor da minha
vida, vivo na casa que ele chamava de meu paraíso, contei o das cinzas. Ela e o irmão riram, gostaram da ideia, isso
tinha que ser da cabeça dele.
Contei que tinha
todas as cadernetas, contando a quem tinha ajudado é porque, se nessa primeira
parte parece que foge, a segunda ele começa a ajudar as pessoa com o dinheiro
que tem, nunca deixou de trabalhar o mesmo.
Me dizia que tinha que aprender, gasta, investe, recuperas me dizia.
Tempos depois ela
veio me visitar, ficou um tempo ali, se sentava embaixo da garrafa com as
cinzas, tirava um terço da bolsa, rezava.
Depois a levei a
Paris, para ir embora, me abraçou, agradeceu muito, meu irmão diz que se
puderes evite o capítulo de Luxemburgo.
Pensei muito a respeito, mas ainda levaria dois anos para chegar aí. Pois fui construindo a história devagar. O mais difícil foi contar o nosso encontro,
mas o contei com detalhes. Algumas
pessoas diziam que eu tinha me desnudado.
Ao mesmo tempo,
fui escrevendo a história do meu avô. Me
deu na louca, um dia, tomei uma decisão, fui a Israel, sabia a data que meu pai
tinha chegado. Comecei a procurar,
encontrei uma família, ele tinha se casado outra vez, tinha um filho, uns dez
anos mais jovem do que eu que fazia cinema também, ficamos amigos. Ele era realmente a cara do meu pai. Contei
para ele tudo sobre o avô, como meu pai tinha desaparecido. Nunca soubemos nada dele, nunca falava no seu
passado, isso era tema tabu em casa.
Obrigado, me ajudas a encontrar um elo que faltava.
Lhe perguntei se
falava francês, me disse que sim, lhe perguntei se queria fazer o papel do
nosso avô no cinema, estava começando a produção, uma parte seria filmada no
Brasil, a ida dele para lá, até conhecer minha avó.
Aceitou, muita
gente não entendia que éramos irmãos, mas nunca nos preocupou, pensavam que
tínhamos algo mais.
Anos depois,
encontrei uma pessoa, na praia, um homem que veio bater em minha porta, porque
pensava que ali passava alguma coisa, estava na praia, fui marinheiro, conheço
o código Morse, a mensagem dizia, venha até aqui. Acabei vindo, lhe mostrei o
que era, ele riu, será que nos está reunindo.
Fomos nos conhecendo, agora vivemos juntos.
O filme sobre meu
avô ganhou um César, bem como representou a França nos Oscar, meu irmão foi
candidato a melhor ator, claro que não ganhou, pois isso sabemos como é, mas
lhe abriu a porta do mercado americano.
Agora monto um
roteiro, com a história da minha avó, sua vida antes na Bahia, de como recebeu
a ordem de ir para o Rio de Janeiro, ser mãe de Santo por lá, além do homem que
seria seu a vida inteira. Meu irmão fez
outra vez o papel dele, ali conheceu a atriz que fazia o papel da minha avó,
acabou se casando com ela. O
interessante era que era do Rio, mas tinha raízes judias também. Agora os dois vivem a cavalo, entre Hollywood,
filmes na Europa, levando a tiracolo um bando de garotos, de vez em quando vem
passar um tempo comigo aqui na praia.