lunes, 14 de junio de 2021

HOOP VAN VALK

 

                                                HOOP  VAN  VALK

Como podia um índio americano, ter um nome como esse, se ria sempre quando comentavam isso, mas entendia a confusão, pois era diferente dos demais.   A um ponto que seu avô que era um homem sábio o mandou estudar fora para escapar do bullying da reserva indígena.

Sentou-se com ele nos joelhos, era um homem imenso, de quase dois metros de altura, forte como um touro.  Sorriu triste, sinto que me arrancam o coração, mas para teu bem, quero que sejas forte, iras para Saint Paul, na casa de uns holandeses, vais estudar lá.  Aqui nunca te deixaram em paz.

Lhe contou por quê.  Teu pai era um tonto, desde criança, quis ser cowboy, estar nos rodeios, como isso fosse a coisa mais importante do mundo.  Era alto como eu, como um dia serás tu, moreno do sol, com uns cabelos negros como de uma águia.  Seus olhos fascinavam as garotas desprevenidas.    Conheceu tua mãe, justamente em Saint Paul, numa feira agrícola aonde se apresentava com um grupo de rodeio.   Ele fazia a cavalo, o que faziam os antigos índios, saltando de um lado a outro.   Uma jovem holandesa que estava aqui estudando, ficou fascinada com ele, caiu na conversa dele.    Um dia apareceu aqui contigo, não podia voltar a Holanda, com uma criança nos braços, já que a esperavam para um casamento combinado de duas famílias ricas.

Me pareceu uma jovem fria, pois te colocou nos meus braços, sequer sorriu ou te fez um afago, virou as costas se foi.  Tampouco perguntou pelo teu pai, que no momento estava no Texas, eu ao contrário me apaixonei por ti no mesmo momento.  Já tinha te visto nos meus sonhos.

Teu pai como apareceu, sorriu, te pegou nos braços, fez um afago, em seguida passou para os braços da senhora que te amamentava, no dia seguinte desapareceu novamente.  Nunca mais o vi.

Eres diferente dos demais, tens os olhos azuis, teus cabelos são castanhos, quase loiros, então para os outros garotos não eres daqui.

Seu avô vinha vê-lo toda semana, enquanto teve saúde, quando fez 20 anos, teve um derrame, agora era ele quem ia visita-lo.  Sem se importar com o que diziam os demais.  Assumia que era diferente, mas também agora tinha dois metros de altura, os cabelos cortados rente a cabeça, estudava direito, com uma bolsa de estudos de atletismo, bem como por suas boas notas.

Acabou a universidade, semanas depois seu avô já muito frágil morreu, mas ele estava ali ao seu lado segurando sua mão.   Lhe disse baixinho, nunca deixe teu filho desatendido.

Na hora pensou que o avô estava delirando, pois era assumidamente gay.  Acompanhou todo o ritual de seu enterramento, foi como ele queria.  Muitos cânticos na língua ancestral.  Ele se comoveu muito com isso.

Mas tinha um problema com empregos, primeiro olhavam o seu nome, tão holandês, depois viam que só constava o nome do seu pai no registro, nunca o de sua mãe, que nem ele sabia como chamava.

Ficava um tempo, como ajudante, logo encontravam uma maneira de o colocarem na rua, o jeito foi entrar para a polícia.  Tinha corpo, falava línguas, inclusive a de sua tribo, isso lhe facilitava, logo era inspetor, tinha um excelente raciocínio, bem como sentido de observação.  As vezes saia para beber, caiu na mesma esparrela de seu pai, conheceu uma garota linda, loira, fez sexo com ela uma só vez.   Em seguida apareceu grávida.  Ficou vivendo com ele, mas sentia falta da Holanda.  Quando seu filho nasceu, lhe deu o mesmo nome, mas desta vez a criança tinha o nome do pai e da mãe.   Nunca se casaram, mas ela não perdoava seus deslizes com outros homens.    Um dia anunciou que tinha falado com um advogado, tinha direito a ir embora com seu filho.  Ele não teve jeito, adorava o garoto, mas abriu mão.   Agora todas as férias ia até lá para ver, passar uns dias com ele.    Ela se casou com um homem rico, que queria adotar seu filho, isso ele se recusou.

Agora trabalhava com o Governador, que tinha sido um companheiro de universidade.  Quando esse fez uma viagem a Holanda, ele foi junto, assim poderia ver seu filho.  Se escreviam sempre, nada de e-mails, o Hope, não Hoop, como lhe chamava, era muito inteligente.  Faria agora 15 anos.   Quando o viu, quase de seu tamanho, tinha esticado muito no último ano, ficou emocionado.  O apertou contra o peito, era muito parecido com ele, a grande diferença era, que tinha os cabelos loiros.

De noite no hotel numa conversa franca, perguntou ao pai, porque não ficava, queria viver com ele, o conhecer.   Estava farto da vida que levava com sua mãe, o marido desta era o mais superficial possível.  Viviam de festa em festa, o queriam mandar para um internato.

Falou com seu chefe o governador de Minnesota que acompanhava, esse lhe conseguiu que como a mãe holandesa, além de seu filho, um emprego como policial, mas logo se destacou, o duro foi conseguir que seu filho viesse viver com ele.  Mas o garoto falou seriamente com o juiz, estava farto da vida que levava, tudo é supérfluo, quero ter os pés na terra, como meus ancestrais índios.      O juiz lhe concedeu a custódia do garoto, mas teriam que se apresentar a cada seis meses, com as notas do colégio.

Hope, não só teve que se adaptar ao novo colégio, bem como ao apartamento que iriam viver, era pequeno em comparação com a casa que vivia antes, ria dizendo aos seus colegas que o apartamento inteiro, cabia no seu antigo quarto.   Mas estava feliz.  Seu pai lhe ensinava a língua da tribo a qual pertencia.

Os dois juntos na rua chamavam atenção, eram super parecidos, altura, maneira de andar, de sorrir.  Um dia foram parados na rua, queriam que posassem para uma revista de moda, Hoop disse que era policial, tinha que pedir licença, falou com os superiores, lhe permitiram, comentou com o juiz, esse riu, realmente juntos vocês formam um par incrível.

Os dois posaram lado a lado, para uma coleção.  Hoop não aparentava a idade que tinha, logo foram chamados para fazer um filme, Hope fazendo de jovem ele de mais velho.   Logo apareceu outro contrato, para um filme aonde faziam pai e filho.  A mãe não gostou muito, no fundo tinha ciúmes, pois eram mais conhecidos do que ela.

Se o filho estava junto, pediam autógrafos a ele, ela deixava de existir, apesar de estar na moda, ser bonita.   Um dia uma garota que pedia autógrafo a ele, disse que poderia ter uma namorada mais jovem, que esta estava velha.  Ficou furiosa, primeiro porque disse que era sua mãe, isso a fazia aparecer mais velha ainda.

Quando foram chamados para um filme no Canadá, precisavam de sua autorização, se negou, apesar do Hope estar de férias.  Quem deu a licença foi o Juiz.  Depois da filmagem, foram a Minnesota, passar uns dias com a tribo.  Tinham visto os filmes que tinham feito.

Dali foi um pulo para fazerem um filme em NYC, mas antes, respeitando a lei, foram a Amsterdam pedir autorização ao Juiz.   Seria a última vez, pois meses depois Hope faria 18 anos.

Hoop fez seu primeiro filme sozinho, pois seu filho tinha entrado na universidade, disse que seu pai tinha direito a voar só.

O filme foi um sucesso, fazia o papel de um detective baseado num livro de um escritor, era um personagem que tinha a ver com ele, pois era rejeitado pela sua família, bem como pela comunidade indígena, nada mais perfeito em sua vida.

O filme fez tanto sucesso, que imaginaram transformar em série.  Com o filho vivendo com ele, seus romances era de beija flor como ele dizia, de aventuras de uma noite.  Até o dia que Hope, apareceu com um namorado.   Ficou surpreso.   Pois era um rapaz com antepassados índios também.   Estudavam juntos, tinham planos de abrirem um escritório de designer.   

Hoop, vinha economizando dinheiro de todos os filmes, para o futuro de seu filho, não queria que ele passasse pelo que tinha passado.   Admirava o talento do filho, para o desenho, era um rapaz criativo, sabia se mover nos meios de comunicação, falava várias línguas.

Quando expuseram seu primeiro trabalho, conseguiu que saísse publicado no Vogue, porque conhecia o pessoal da redação, tinha posado para eles no passado.   Lhes davam força, pois não tinha ficado preso ao peso da fama de manequim, tampouco de ator.

Se viravam em vários meios, tanto podiam fazer um cenário, como compor um figurino de um espetáculo.   Hoop estava sempre atento, falava sempre com ele, que tivesse cuidado com as drogas.

Um dia apareceu chorando em casa, seu namorado, estava preso, por porte de drogas, nunca suspeitei, embora ultimamente o visse agitado demais.  Não sei o que fazer?

Primeiro vamos o ajudar a sair dessa, se podemos, segundo fale seriamente com ele.  Se não consegue viver sem isso, acho melhor voltares para casa.  Até agora vocês não abriram oficialmente uma agência.  Podes fazer isso sozinho.

O rapaz como todos, prometeu se comportar, mas um mês depois de Hope ter voltado a viver com o pai, apareceu morto numa sarjeta, com uma over dose.

Ele não deixou o filho um instante sequer, aceitou fazer um filme em Paris, o levou com ele, logo eram requisitados para trabalhar juntos.  Mas Hope não queria, conseguiu um contrato para fazer justamente o figurino do filme que o pai fazia.

As revistas comentavam que era impressionante, como Hoop se mantinha jovem, ele sem pensar, tirava uma foto do avô, com 90 anos, com pouquíssimas arrugas na cara, bem como um corpo fantástico.   Na foto estava sem camisa numa cerimônia.   Ele agora contracenava com companheiras que podiam ser sua filha.

Mas voltaram para NYC, Hope, abriu seu escritório, seu pai fez questão de ajudar, venho economizando a muitos anos para isso. Siga seu caminho, já sabes o que acontece se te desvia para as drogas.    Ele tinha visto a caída do homem que tinha amado, passou a ter horror a qualquer contato com pessoas que usavam drogas.

Hoop, conheceu um diretor de cinema, o queria contratar para fazer um filme de conotação gay, um professor de universidade que se apaixona por um aluno.   Ele se apaixonou foi pelo diretor do filme.  Começaram uma relação, nunca tinha tido nenhuma, mas avisou, meu filho está em primeiro lugar.

Geoffrey, ou Geo Turner, respeitava isso, em seguida rodaram um filme pesado, no meio da neve, foi um sucesso incrível.   Quando o chamaram para dirigir um filme de cowboys, índios, ele aceitou, desde que Hoop fizesse o papel principal.   Deixou os cabelos crescerem, brincando o chamavam de centauro, pois parecia fazer parte do cavalo.  Ao fazer esse filme, sentiu que a partir do momento que o avô o tinha mandado estudar em Saint Paul, perdido o elo com sua cultura.   Tinha dinheiro suficiente, comprou umas terras ao lado da reserva.  A casa caia de podre, trouxe o filho para ver como arrumar tudo.

Quando Geo Turner foi para Hollywood fazer um filme, ele desta vez ficou, disse ao filho, creio que ele deve seguir seu caminho, eu já percorri o meu, é hora que me reconcilie com meu passado.   As terras tinha umas montanhas no fundo, estava pensando em criar cavalos, foi até lá, encontrou gente de sua tribo colocando numa caverna, um morto, se lembrou que tinha vindo trazendo seu avô.   Concordou com a tribo que podiam seguir seus ritos.

Um dia foi lá com Hope, explicando que tinha permitido, apesar da montanha estar em suas terras que continuassem usando para os ritos.

Ele agora tinha o hábito de ir até lá, voltava diferente, mas não comentava com o pai o que era, um dia foi a reserva falar com o xamã, voltou alterado.

O senhor sabia que seu avô era xamã?

Acho que sim, nos separamos eu era um garoto, pois ele não queria que eu sofresse o bullying dos outros meninos da reserva.   Antes de morrer, me disse uma coisa que me impressionou, que eu cuidasse de meu filho, coisa que não tinham feito meus pais.

Pois cada vez que vou a caverna, os espíritos vem falar comigo, o senhor me ensinou a língua de nossa tribo, mas a língua que falam comigo é mais antiga, como falam em minha cabeça, entendo tudo.

Um deles que é alto, descreveu o bisavô, sempre fica sentado ao meu lado, sou capaz de sentir a mão dele em cima da minha.  Diz que lamenta não ter podido me esperar, mas que era muito velho.   Que eu sou a reencarnação, do único xamã da tribo, que era um garoto loiro, que tinha sido raptado dos homens brancos.   Nessa noite sonhei com ele, quando os homens brancos o recuperaram, ele não se adaptou a viver com eles, sentia que os espíritos o chamava, veio para estas terras, se escondeu nessa caverna, até que desistiram de procura-lo.

Aqui se assentou depois com sua tribo.  Fala em minha cabeça, essa língua tão antiga, por exemplo está dizendo agora que não deves misturar essa raça de cavalo, que deves procurar depois das montanhas em tuas terras, que existem um grupo de Mustang, que deves trazer para cá, éguas, uns quantos potros, criar uma manada tua com eles.   Te farão famosos, em especial um malhado que corre como o vento. 

Reuniram mais dois cowboys índios, sabiam aonde estava essa manada, os encurralaram numa ravina, conseguiram fazer o que ele dizia, mas o Mustang que os velhos tinham falado, sequer deixavam chegar perto.  Hope desceu do cavalo, deixou que a voz que falava em sua cabeça, fosse falando com o animal, este se tornou dócil ao momento, foi seguindo Hope em seu cavalo, até a fazenda.    Tinham montado um espaço muito grande para eles, ele primeiro o acostumou que se aproximasse para passar uma escova, pois tinha o pelo mais largo que os outros, parecia um gato quando ele fazia isso.   Um dia Hope de um salto, subiu ao mesmo, não precisou ser domado.   Mas nenhum dos cowboys se atrevia, sequer se aproximar, pois ele investia.   Um dia um desses índios, trouxe seu filho, um garoto de uns 12 anos, que todos diziam que era retrasado mental.   Quando viram ele estava no cercado com o Mustang com a cabeça apoiada no seu ombro.   Deram o nome do Mustang de Happy, o garoto ficou na fazenda, no primeiro dia queria dormir na varanda.  Com muito custo Hope o convenceu a dormir num sofá de couro do salão ao lado da lareira.   Quando o inverno chegou, tinha um celeiro grande para os Mustang, outro mais afastado para os outros cavalos.   Não houve jeito, o garoto levava uma manta, dormia ao lado do animal, quando viam pela manhã, metade da manta estava em cima do mesmo.  O pai estranhava pois o garoto nunca tinha falado uma palavra em sua vida, agora falava a língua ancestral com o mesmo.   Hope um dia o levou a caverna.   Ele foi direto a uns desenhos na parede, disse que tinham sido feitos por ele. Que era filho do índio branco.

Nunca mais voltou para a reserva.  Quando lhe perguntavam o nome, ele dizia o que tinha antes, que era difícil de falar.  Acabou ficando com o nome de Appaloosa. 

Depois que Hope fez instalar uma antena, podia trabalhar desde ali, com internet, porque volta e meia aparecia alguém com uma criança para ele olhar.

Começou a cultivar com Appaloosa uma horta de ervas, que ele mesmo preparava coisas.

Foram a uma encontro de tribos, levando alguns cavalos Mustang já domados para vender, pois se reproduziam bem.  Foi difícil convencer o Appaloosa de ir, queria ficar ali com seu companheiro.   Dava gosto ver os dois cavalgando pelos campos.

O encontro foi produtivo, mas era interessante ver o Hope, com uns cabelos imensos loiros, presos numa trança ou duas, conversando sentados com os velhos. A maioria eram xamã de suas tribos.   Uma noite um grupo de jovens com tapa rabos, dançavam em volta da fogueira, sem se dar conta Hope tirou a roupa, agarrou um tapa rabos que estava por ali, soltou os cabelos, começou a dançar, cantar com uma voz impressionante, com a cabeça jogada para trás, os velhos diziam que ele estava falando com a lua que estava cheia.   Os outros jovens primeiro ficaram parados, mas depois se incorporaram.

Hoop já estava novamente também com os cabelos largos, mas completamente brancos, de um canal de televisão vieram gravar um vídeo de notícias, saiu em muitos tele jornais.

Dias depois, recebeu uma chamada do Geoffrey, perguntando se podia ir até lá.

Aparentemente estava mais velho do que ele.  Mas foi como reencontrar com um velho amigo.

Este pensava que o encontro seria como reencontrar um velho amante, mas se deu mal, pois encontrou só um amigo.  Hoop já não estava interessado.

Tinha uma espécie de relacionamento com o pai do Appaloosa, coisas sem compromissos, principalmente quando acampavam no campo.   Foram ficando cada vez mais próximos, até que o mesmo veio viver ali, com a desculpa de estar perto do filho.

Os dois amavam ficarem sentados de noite, na varanda da casa, falavam sobre cavalos, sobre as éguas que estavam para parir, quem as apontava era Appaloosa, os cavalos vinha comer em sua mão, os potros o seguiam como se fosse seus companheiros de jogos.

Ficaram sabendo quem era sua mãe, uma mulher que o pai tinha conhecido de outra tribo, que viveu só para que ele nascesse, não chorou após o parto, só foi falar quando veio para ficar ali.

O romance dos dois era impressionante, quando Hoop comentou com o pai, este respondeu honestamente, o conheci quando era garoto, era um bom estudante, mas não teve oportunidades, já amava os cavalos, como o filho.  Fazer sexo com ele, é uma coisa impressionante, pois me sinto realizado, já não posso despertar de manhã, se ele não está na cama, nunca pensei em querer uma pessoa assim.  Agora na minha velhice, tenho um companheiro que conheci em garoto, acho isso fantástico, perguntou isso ao filho, pois sempre o via sozinho.

Pai, pouco me sobra de tempo, os do clã querem que eu participe das reuniões, já não me veem como um estranho.  Pois falo a língua ancestral com os velhos, se esses me aceitam, os outros se calam.  Mas a verdade nem sei por que não sinto necessidade de ter alguém, um dia isso acontecera, já veremos.

Ele vinha ensinando ao Appaloosa a estudar, começou quando o viu com um livro na mão olhando os desenhos, perguntou se queria saber o que dizia as palavras.  O ensinou a ler e escrever, descobriu que tinha uma inteligência superior.   O convenceu de fazer uma prova para o situar na escola.    Na escola indígena ele superava a todos. O jeito era o levar todos os dias a Saint Paul, para ir à escola, nunca tentaram fazer bullying com ele, por seu tamanho, sua força.  Acabou indo fazer veterinária, todo mundo ria, porque os cachorros, gatos, animais de estimação, quando o viam, corriam para ele, como se soubesse, ele vai nos entender.

Raros era os animais que tocava que não se curavam.   Os cavalos, isso já era normal.  Um dia um proprietário pediu que fosse ver seu cavalo.   Era um negro imenso, estava deitado no chão se negava a se levantar.  Ele se deitou ao lado do cavalo, começou a falar com ele.

Quando se levantou, disse ao proprietário, o senhor o tem para procriar, pois foi um cavalo de corrida, não o deixa correr livremente, seu semem pela idade já não funciona direito, já não te dá lucros.

Então não me serve mais.

Acabou o vendendo, o levou para a fazenda, o soltou com o Happy, esses pareciam correr como loucos, estavam sempre juntos.  Quando os colocavam com as éguas, as montavam como numa disputa, de quem fazia mais.   Logo a reprodução dos dois era impressionante.

Black como o chamava Appaloosa, voltava a se sentir vivo.

Seu antigo dono quando soube ficou uma fera, se sentia ludibriado.  Mas ele não permitia que o cavalo montasse as éguas, simplesmente sacava seu semem.

Um dia apareceu com uma escopeta lhe deu um tiro na cabeça, Happy reagiu lhe dando um coice na cabeça, foi uma confusão geral.   Appaloosa, nada pode fazer pelo Black, ficou ali com a cabeça do cavalo no seu colo.  O xerife quando os herdeiros reclamaram, disse que o culpado era seu pai, pois tinha vendido o cavalo de papel passado, então não tinha direito a mata-lo.

Se o outro cavalo tinha reagido, era porque estava no lugar errado.

Happy agora andava triste, até que os potros, nasceram, corriam livres com ele, todos ou eram malhados como ele, ou meio negros como o Black.

Os velhos escolheram Hope para ser o xamã da tribo, a partir do que lhe ensinava as coisas, disse que não tinha mais idade.  Era ele agora que tentava segurar os jovens, orienta-los para estudarem, que não bebesse, falava com eles sobre as drogas, que não eram outros que traziam, mas sim alguns da tribos que iam para a cidade, se perdiam.

Quando voltaram a reunião das tribos, pediram ao Hope para conversar com um rapaz, de outra tribo, estava destinado a ser um xamã.  Hoop quando viu o rapaz, pensou que era uma mulher, voltou com eles no carro sem dizer nenhuma palavra.  Depois em casa, Hope conversou com o pai, o caso era complicado, normalmente as tribos escolhiam como chamam, um índio que não iria se casar, para dedicar-se completamente a tribo.   No caso do rapaz, ele era hermafrodita, se conhecia muitos casos nas tribos, por os casamentos consanguíneos, na atualidade, se tratavam, escolhiam o que gostaria de ser, mas nesse caso a complicação era que o rapaz, dizia que tinha dias que se levantava se sentindo homem, outros dias se sentia mulher.  Não queria se operar, mas sim seguir a tradição, ser xamã.

Hope o levou a caverna, para ver se ele podia ver os espíritos.   Nada, esses ao contrário falaram com ele, que o levasse até uma parte aonde se via um outro enterramento, coberto com barro.   Bata no barro foi o que lhe disseram para fazer.

O rapaz o fez, esse se rompeu, apareceu uma figura coberta de barro, como mumificada, era o próprio.   Era hermafrodita, também, este imediatamente pode finalmente ver espíritos.  Ficou dois dias ali acompanhado do Hope, somente bebendo água.

Agradeceu muito a ajuda, mas tinha decidido ficar como estava, embora sofresse de vez em quando bullying dos outros.  Ficou na fazenda, apesar do inverno, dormia no celeiro, junto com Appaloosa, no meio dos cavalos, montava como ele a pelo, nunca usando cela.

Conversava com Appaloosa, sobre sua situação, este disse ao Hoop, que tinha até uma certa inveja, pois o via como uma pessoa completa, um homem e mulher ao mesmo tempo.

Agora os acompanhava a caverna para a iniciação, quando Hope lhe perguntou, ele quis fazer a iniciação junto.    Um dia caminhando por ali, encontrou uma entrada de outra caverna, escondida por espinheiros.   Era como se ali tivesse vivido alguém escondido muito tempo ou mesmo numa iniciação.  Os desenhos na parede contavam uma história.  Hope fotografou tudo para poder analisar com calma.  Descobriu que se tratava justamente da figura da múmia, contando sua história.    Ao parecer, vinha fugindo de outra tribo, ficou escondido anos ali na gruta, até que a tribo voltou para esse lugar, foi durante muitos anos xamã da tribo.

Tinha morrido justamente nessa gruta, depois levado para a outra.

O mais interessante é que entre Appaloosa e Yupi, como se chamava o outro índio, nasceu um relacionamento, os dois eram loucos por cavalos.  Hoop nunca perguntou como faziam sexo, os dois construíram entre eles, numa parte que lhes deu, uma casa, passaram a viver no meio do campo, com os cavalos soltos em volta.   Eram como seus guias, aonde iam, os cavalos acompanhavam.    Os da reserva, quando tinham problemas com qualquer animal, trazia até os dois.

Hoop já estava com quase 85 anos, quando começou a sentir os achaques da velhice, embora ainda montasse.   Agora entendia o avô, quando o visitava na reserva.   Já queria passar mais tempo sentado da varanda, observando os outros trabalhando.  Hope passava com o pai, todo tempo possível, tinha agora como ele, seus cabelos compridos, cinzentos, o branco misturado com o loiro.   Continuava indo as reuniões dos índios, era respeitado como um xamã especial.

Hoop morreu sentado na varanda, vendo os cavalos correrem livremente no pasto, tinha realizado muitas coisas na vida, se sentia tranquilo.   Como tinha pedido, o ritual foi todo na caverna, envolveram seu corpo nu em um pano fino, depois foi coberto do barro que existia ali, vestido, deixado numa espécie de lugar cerimonial.  Appaloosa com Yupi, desenharam na parede a história de sua vida, para ser perpetuado.

Hope, anos depois voltou a vê-lo em espírito, ficava feliz em poder falar com o pai que tanto amava.

Seguia cuidado dos índios da reserva, ao mesmo tempo que ajudado por Appaloosa, cuidava da fazenda.     Anos depois adotou duas crianças gêmeas, que a mãe tinha morrido no parto, ninguém sabia quem era o pai.  Como ninguém os queria, assumiu ele a educação dos meninos.

Um tinha o nome de seu pai, Hoop, outro o seu Hope. Se divertiam confundindo as pessoas, mas não enganavam Appaloosa, nem ao pai.

O rebanho de Mustang agora era grande, a grande maioria eram descendentes de Happy, bem como de Black, até que nasceu um que era como o brinquedo dos meninos, era tão especial como eles, tinha a metade do corpo para a cabeça branco, do meio do corpo para traz negro, os olhos azuis quase brancos.   Aonde os meninos iam, ele ia atrás.

A Hope parecia como uma continuidade de tudo que tinha visto com os cavalos.

 

 

 

 

 

 

 

 

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